Tag: Jason Bateman

  • Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 2)

    Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 2)

    Após a péssima recepção de primeira parte da 5ª Temporada de Arrested Development pela crítica e pública, havia uma pequena esperança de quem acompanhou a série em seus áureos tempos de que Michel Hurwitz retornaria em grande estilo, no entanto, a sensação deste tomo é muito semelhante ao primeiro, com um roteiro e desempenho do elenco fraco e entediante.

    A série retornou pela Netflix em sua quarta temporada, em duas versões, uma com cada personagem tendo sua versão contada da história e outra reeditada, que causou muita confusão nos bastidores, por conta de problemas com os direitos de imagens dos atores, além de ter causado inúmeros furos de roteiro para quem não assistiu a versão original, e ainda nesta época, se notou que talvez retomar o seriado fosse um erro, tendo como único ponto positivo tangível, o fato da fase clássica ser revisitada e voltar aos holofotes, mas nem o arco dos Bluth é bem finalizado, e a química entre personagens vai muito mal.

    Praticamente nada funciona neste quinto ano, o programa continua com a exploração do mistério da morte de Lucille 2, mas há muito enrolação, com tramas paralelas terríveis que não capturam a atenção do espectador de modo algum. O casamento de Lucille e George Sênior está em crise, e o fato de seus intérpretes Jessica Walter e Jeffrey Tambor terem brigado nos bastidores faz com que esse núcleo ter muitos problemas, soando quase metalinguístico o que se vê em tela. O personagem de Michael (Jason Bateman) também não sai do lugar, continua fazendo trapalhadas ao tentar pôr as contas do clã em dia, e mesmo seu filho, George Michael (Michael Cera) está apagado. Até David Kross  está sem graça, com o arco mais chato de todos, onde Tobias tenta retomar seu papel como parte importante dos Bluth, mas sempre sem conseguir. É tudo tão óbvio que irrita demais.

    Os outros personagens tem participações mais longas, no entanto, são tão pífias e repetitivas que faz perguntar o porquê de retomar tais histórias. Claramente os atores não estão à vontade, e isso se reflete na participação de Portia de Rossi, que só aparece no final e ninguém sente muita falta disso, com pouquíssimas citações a Lindsay, sua personagem. Repetir o fato de os Bluth falirem poderia gerar novas aventuras e desventuras, mas claramente a fórmula está esticada, funcionando como um trunfo repetitivo. Um dos poucos momentos realmente inteligentes é a brincadeira que o roteiro faz com o discurso empreendedor e a mentalidade de coaching que invadiu o modo de trabalho atual, em especial no programa bobo que George Michael faz em Fakeblock.

    As melhores tiradas continuam no humor de constrangimento, sobretudo com Will Arnett e seu GOB, que apesar de ter um arco que discute sua sexualidade de modo cansativo, ainda continua engraçado e louco, e os poucos momentos onde Buster (Tony Hale) soa engraçado, é com seu irmão mais velho. Outro momento interessante são os flashbacks, que mostram a família lidando com a infância de Lindsay, Gob, Michael e Buster, com os pais sendo feitos por Cobie Smulders e Taran Killam, brilhantes nas imitações que fazem de Walter e Tambor. Quando se mostra as crianças competindo, repara-se que desde cedo elas eram egoístas e o quanto Lucille estragou seus filhos, deixando que George Sr. os transformasse em rivais entre si.

    Fora isso, há uma boa piada envolvendo os super advogados com os Guilty Guys, que apesar de não ser muito importante para o roteiro, soa engraçada por brincar com séries de advogados, e como o roteiro aqui é péssimo, fugir de um texto que não funciona dentro da trama principal acaba sendo um evento feliz. É triste notar como Hurwitz não consegue manter o interesse nos personagens que foram criados, e mais lamentável ainda perceber o gancho para outros acontecimentos envolvendo a família, ensaiando uma sexta temporada. É até natural que se espere um desfecho digno para eles, mas caso não haja inspiração do corpo de roteiristas, é melhor deixar como está, para não invalidar ainda mais a jornada dos Bluth, tão maltratada em todas essas tentativas de retorno, mesmo com anos entre esses marcos. É preciso maturidade até para saber a hora de parar de contar uma história.

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  • Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 1)

    Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 1)

    A quinta temporada de Arrested Development quase não aconteceu. Em 2013 foi lançada a quarta temporada, muito criticada por quase não colocar os personagens da família Bluth juntos em tela, e posteriormente, lançaram Fateful Consequences, um remix desses mesmos episódios. Agora, para tentar concorrer ao Emmy, Mitchell Hurwitz lança a quinta (e provavelmente última) temporada, dividida em duas partes. Após muitas polêmicas, envolvendo acusações a Jeffrey Tambor de comportamento abusivo na série e em Transparent, finalmente vem a luz a quinta temporada, com cinco anos de hiato.

    O primeiro de oito episódios começa mostrando Michael (Jason Bateman), com seu destino bem encaminhado, trabalhando longe da sua família, e para variar, ele tem de voltar a casa modelo, onde encontra Buster (Tony Hale), com uma mão mecânica no lugar do cotoco, e misteriosamente, depois da sua ultima participação na temporada passada, onde estava sendo preso.

    O imbróglio com seu filho, George Michael (Michael Cera) é resolvido de uma maneira engraçada, que se choca cronologicamente com o mostrado na quarta temporada, já que o visual de Cera e Bateman claramente é de 2018, e não de 2013. As cenas com fundo falso e tela verde deixaram de ser algo vergonhoso para o programa e se tornaram parte das piadas, especialmente quando se mostra Tobias (David Cross) lidando com sua paciente, Lucille (Jessica Walter), em uma casa de praia cuja vista é tão artificial quanto os Sharknados, do canal Syfy.

    Após os acontecimentos do Cinco de Quatro passados, Lindsay (Portia de Rossi) entra para a vida política, e para melhorar sua reputação, os Bluth seriam premiados como família do ano. Basicamente isso é um pretexto para reunir todos juntos, e mostrar Tobias tentando interpretar Michael, que claramente quer se distanciar dos demais parentes, exceção é claro de seu filho, que tem uma rusga claramente não bem resolvida entre eles.

    Talvez seja o fato dessa ser uma temporada exibida pela metade, mas a sensação de que o humor que Mitchell Hurwitz impõe ficou menos afiado é nítida, enquanto a carga emocional em direção a depressão é bem maior, em especial pelo papel de George Sênior. Claramente as interações entre os personagens não é como era antes, mesmo Will Arnett e Bateman não parecem mais tão entrosados, o mesmo para Bateman e Cera.

    Se perde um tempo enorme em torno da tentativa de liberar Buster, assim como na extensão da farsa do Fakeblock, esperava-se que Arrested Development abordasse algum tema mais atual, como o uso das redes sociais e dos celulares como método de contato entre as pessoas, mas não. O único ponto que parece ter algum laço com a realidade tangível, é um pequeno comentário de Lucille a um discurso de Donald Trump, a respeito do muro entre os territórios americanos e mexicanos, mas até isso soa atrasado demais, e já bastante óbvio dentro do universo de séries e filmes americanos.

    Não é só a temporada que está inacabada, mas a maior parte das piadas também parece, e nem é pela questão dos destinos não estarem em vias de ser selados, mas porque a maioria das partes cômicas ou não são tão inspiradas, ou simplesmente não casam com os personagens que as proferem. O episódio derradeiro tem mais de trinta minutos, e é um pouco mais engraçado do que o restante da temporada. Os números em preto e branco, imitando o cinema mudo são bem divertidos, assim como a rivalidade revivida entre Tony Wong (Ben Stiller) e Gob (Arnett), mas ainda assim, é pouco. O mote do mistério relacionado ao paradeiro de Lucille 2 se arrasta e claramente só será explorado na segunda parte da série, assim como a estranha ausência de Lindsay, que faz perguntar se o fato da eleição e da campanha que fez será mais explorada, ou se Portia de Rossi está brigada com a produção e com o restante do elenco, no entanto, mesmo excluindo especulações e possíveis escândalos extra-filmagens, o resultado desta parte de Arrested Development é um produto sem fundamento e sem um mínimo desfecho. Se a ideia é tentar concorrer a premiações, certamente elas não virão, pois não está engraçada, bem atuada ou com roteiros minimamente bem escritos.

    https://www.youtube.com/watch?v=gXg2_yExgVY

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  • Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Após sete anos sem as aventuras dos Bluth, a Netflix assume a responsabilidade de tentar contar a história da família de desequilibrados, com um formato ainda menos usual do que o mockumentary apresentando a partir de 2003, a desunião familiar que sempre se anunciava como recurso narrativo para driblar a dificuldade de juntar o elenco, cuja agenda geral quase nunca batia entre si. O drama de Michael (Jason Bateman) começa por não ter mais capacidade de se manter financeiramente, colhendo os frutos dos desmandos de seu pai a frente da Bluth Company.

    Recentemente, o criador da série Mitchell Hurwitz remixou a quarta temporada, então há duas versões do mesmo programa, e ambas serão analisadas aqui. Essa postura inclusive sofreu com algumas polêmicas, já que o elenco não gostou de ter recebido apenas por quinze episódios, quando a versão nova tem vinte e dois.

    Temporada Quatro Original.

    Antes de mais nada, é mostrado um flashback mostrando Lucille e George Sênior novos, não interpretados por Jessica Walter e Jeffrey Tambor, e sim por Kristen Wiig e Seth Rogen (com uma peruca horrorosa). Boa parte dos famosos que fizeram participações especiais no seriado voltam aqui, inclusive, Liza Minelli, que faz Lucille 2 (ou Lucille Austero).  A situação do “protagonista” – essa condição sempre foi discutível, uma vez que cada Bluth tem um bom tempo de tela na série, dividindo assim os holofotes – é muito dificultada ao se deparar com a rejeição por parte do seu filho, que quer se mantar longe do pai, para não repetir os erros dele em não cortar a excessiva intimidade com a própria parentela.

    O formato da retomada se passa inteiro no primeiro episódio, que conta a tentativa de Michael em fundar a própria companhia, cujo fracasso ocorre pelo azar tradicional dele, talvez uma expiação pelos pecados familiares, visto no decorrer dos outros anos. Um dos pontos altos é a participação de Ron Howard, produtor-executivo e narrador do seriado, que se insere na trama como uma visão em meio a realidade, fazendo um papel auto-caricatural que desafia até os limites metalinguísticos da série. O motivo seria a feitoria de um filme sobre os Bluth, o que iria de encontro a realidade, já que a ideia de Hurwitz seria fazer um longa, que acabou transformando-se no seriado da Netflix.

    Em paralelo, George Sr. e Lucille resolvem se divorciar, forçando o último bastião familiar, fato que se torna ainda mais evidente ante a situação legal da matriarca, que será julgada segundo as esdrúxulas leis marítimas. Para variar, o momento mais constrangedor do  programa envolve Tobias, que mistura suas duas profissões, de terapeuta e ator para tentar ajudar Brie (Maria Bamford), uma ex-atriz falida que havia trabalhado em uma produção barata do Quarteto Fantástico, e que o conheceu por acaso. Para tentar ajudá-la a ganhar dinheiro, ele começou a posar como os personagens da Marvel, e foi impedido pelos advogados de Stan Lee, essa trama evolui com ele sendo preso, e depois trabalhando em um musical, na clínica de reabilitação de Lucille Austero, fato que ajuda a mostrar o quão degradante é a vida de Brie e o quão vergonhoso pode ser a de Tobias e dos demais Bluth.

    Os últimos dez episódios acontecem sob um mergulho profundo na melancolia, seja na versão tosca de Entourage que Gob (Will Arnett) vive, assim como sua reaproximação inoportuna de Steve Holt (Justin Grant Wade). É nesse pedaço também que Lindsay (Portia de Rossi) lida com o candidato Love (Terry Crews) um político direitista que quer erguer um muro para deixar os mexicanos longe do território americano, se envolvendo como prostituta de fato. Nessa parte, a personagem confronta sua hipocrisia, e motivação política torpe, se assumindo como uma patricinha que jamais trabalhou para conquistar nenhuma das posses que tem, mas obviamente que o roteiro não seria moralista, e trataria isso de maneira engraçada, como o é.

    Ainda assim, essa versão parece diferente demais da fase clássica. Há muita repetição de cenário e situações, e o fato das agendas dos atores não baterem fez com que a sensação de que esse ano foi feito unicamente por obrigação seja ainda mais grafado, tanto que boa parte das cenas foi feita com fundo verde, e isso faz perder demais a interação e química que fez de Arrested Development um objeto raro.

    Remix – The Fateful Consequences

    Pouco se mudou nas participações dos atores principais, que inclusive reclamaram por terem suas imagens exibidas em mais episódios – que curiosamente tem menos tempo de exibição que a quarta temporada original – e ainda estariam em regime de sindicato, que é um modo de exibição muito particular dos Estados Unidos. Quem teve que realmente trabalhar mais foi o narrador Ron Howard, que praticamente redublou tudo.

    Essa versão chama-se Fateful Consequences e tem 22 episódios, com um pouco mais de vinte minutos cada. Há cenas inéditas, e já no primeiro episódio dessa versão se estabelece um novo misterio, envolvendo uma morte inesperada. Seu formato lembra o vai e vem típico das temporadas anteriores, ainda que hajam diferenças drásticas na história, é como se fosse um gigantesco retcon (continuidade retroativa, em tradução livre), implantado

    As cenas inéditas certamente foram retiradas do material cortado da versão original, e esses acréscimos ajudam a amplificar a sensação de irregularidade do show, uma vez que em alguns momentos ele se torna mais confuso que a quarta temporada comum e em outros, explicita mais os fatos, com explicações bastante expositivas.

    Neste recorte, a questão da festa do Cinco de Quatro é ainda mais grafada. A vingança de Lucille Bluth sobre o feriado mexicano não serve apenas para sustentar a questão de segregação do muro que Love queria levantar, mas também a propagação do aplicativo antissocial Fakeblock, de George Michael, e claro, o terrível destino de Lucille Austero.

    E desse jeito, parecido demais com a terceira temporada, termina Fateful Consequences. Mais irregular que a outra, envolta na tentativa de emular o formato dos episódios antigos, pavimentando também o futuro da saga, mas seu resultado é discutível, apesar de ligeiramente mais positivo que a versão falada por cada personagem. A sensação de comida requentada não sai do paladar do espectador, o que é uma pena, pois qualquer que seja a versão desta quarta temporada, soa melancólica.

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  • Review | Arrested Development – 1ª a 3ª Temporada

    Review | Arrested Development – 1ª a 3ª Temporada

    A sufocante rotina familiar e necessidade de fuga deste paradigma é o principal mote de Arrested Development, que usa Michael Bluth (Jason Bateman) como avatar dessa sensação incômoda. O clã dos Bluth é uma desajustada família que faz questão de tornar a existência do protagonista algo desgraçado. A engraçadíssima narração (de Ron Howard, produtor do programa) exibe uma miséria existencial, de um homem entorpecido pelos que lhe são próximos e que tem poucos objetivos edificantes, além de ter na presença de seus parente a garantia de infelicidade.

    Para o espectador não familiarizado com o todo de AR – lançado no Brasil como Caindo na Real em suas primeiras temporadas –  as situações cômicas demoram a engrenar, porque as disfunções são mostradas aos poucos, bem como as fobias e situações tragicômicas. O que é evidente já nos primeiros episódios da primeira temporada é a briga de ego de pessoas absolutamente medíocres e preguiçosas, mostrada de um modo charmoso e capaz de gerar empatia por cada um dos estranhos personagens.

    Michael por exemplo é inábil com as mulheres, ainda em luto por conta de sua esposa falecida. Já Lindsay Bluth (Portia de Rossi) e Tobias Funke (David Cross) claramente vêem um divórcio que em breve deverá acontecer, ainda que se arraste por muito mais tempo, entre os motivos, a possibilidade de Tobias ser um homossexual que não se percebe como tal. Eles tem uma filha, Mae “Maeby” (Alia Shawkat) que por sua vez causa os instintos mais primitivos em seu primo, George Michael (Michael Cera), fazendo-o ter um desejo incestuoso. Lucille (Jessica Walter) é a mãe mesquinha da família, ela se sente desamparada por seu esposo, George Sr. (Jeffrey Tambor) quando o mesmo é preso. O filho mais próxima dela é o desfalcado mentalmente Buster (Tony Hale) e ainda há o primogênito aficionado por mágica e ilusionista GOB (Will Arnett). Depois de toda a crise, todo esse núcleo – com exceção de Lucille e Buster – vão morar no mesmo lugar, a casa modelo — um lar fake que serve como exemplo para outras obras imobiliárias da Bluth Company, tão falso quanto a unidade desses e o sucesso da empresa.

    Michael é o mais trabalhador do grupo, na verdade é o único que tem uma vida normal. Ele espera a promoção a presidente da Bluth Company mas antes de ser pego seu pai dá o posto de CEO a Lucille. A acusação de fraude recai sobre a empresa e revela de modo categórico a ganância da família, que não valoriza o irmão tanto quanto merece, nem mesmo na iminência da miséria.

    A única alternativa que os estúpidos parentes tem é de implorar ajuda ao homem justo, o mesmo que foi rejeitado por seu pai e desprezado por seus irmãos, fato que o faz parecer como o mito bíblico de José do Egito. Diante dessa situação, Michael quer obviamente uma bela compensação por ter de aguentar tanta idiotice acumulada, para logo depois perceber que a sua não-nomeação como sucessor de seu pai foi uma ação estratégica, para que ele não fosse preso também, o que até faz balançar seu coração, já que ele decidiu mudar seus planos de ir para Chicago seguir em frente abandonando tudo e todos, levando consigo seu filho. Por ser um sujeito de bom coração ele obviamente freia esses planos e tenta arrumar a confusão da companhia, e claro, de seus parentes.

    Os primeiros anos se focam na convivência nada sadia dentro da família, com competições imbecis dos filhos GOB, Buster e até de Michael por atenção dos pais – num comentário pseudo-freudiano ímpar, que envolve não só Complexo de Édipo mas tantas outras síndromes mais complexas – e claro, ganância, debochando da incessante busca  dos americanos por tentarem alcançar o American Dream, ainda que claramente sejam todos os personagens comuns.

    Parte do sucesso de Arrested Development é a persona de Bateman, e seu recorrente papel do homem normal, esforçado e de caráter ilibado que têm de lidar com as loucuras alheias, como foi em quase todos seus papéis posteriores ao seriado. Cada uma das situações esdrúxulas e nonsenses tornam-se mais interessantes por ter um forte pé na realidade, fazendo lembrar a todo momento o quanto os distúrbios comportamentais do grupo são perturbadores ante a ótica normativa dos outros homens. A tenacidade de Michael apesar de ser uma bela qualidade, se confunde com um defeito, por grafar ainda mais sua condescendência e complacência com os erros dos que o cercam.

    O final do primeiro ano um ocorre com mais uma tentativa de Michael em sair do seio familiar, para viver uma vida distante daqueles que fazem de si um ser miserável. Após o julgamento de seu pai, ele é mais uma vez, por força das circunstâncias, proibido de seguir seu caminho. O começo da segunda temporada prossegue em mais uma tentativa fracassada de retiro, para mostrar uma predileção pelo drama e pelos anúncios de saída, o que faz com que seus parentes narcisistas não acreditem em sua saída, tampouco sentindo sua falta como pacificador dentro do clã.

    A situação piora, quando George Sênior consegue enfim fugir da prisão, para então ser indiciado, fazendo daí algumas piadas com foragidos famosos, em especial o caso de Saddam Hussein, no ano de 2003 (aqui há até uma desconfiança de traição à pátria). Depois de ser encontrado em um túnel subterrâneo, Michael o abriga no sótão da casa modelo, para que ele esteja minimamente sob seu controle. Nesse momento também há a inserção do irmão gêmeo do patriarca, Oscar, que por sua vez abre a possibilidade de mais uma quantidade exorbitante de piadas, pondo os dois personagens em perspectivas bem diferentes, tendo ambos como amantes de Lucille.

    Uma das melhores coisas no segundo ano certamente é a imitação de Uma Babá Quase Perfeita que Tobias faz e todos fingem não saber quem ele é, para que permaneça sem incomodar ninguém. A relação estremecida entre ele e sua esposa parece realmente resultar em nada mais que o fracasso total, já que ela só o quer quando ele parece um fruto proibido, e quando ambos estão juntos, não conseguem ser felizes. Essa questão é obviamente hilária, mas esconde um comentário óbvio e sério, acusando uma hipocrisia comum a muitos casais, que só se mantém juntos por conta de convenções, e claro, por comodidade.

    O final da segunda temporada mostra George Sênior se entregando de bom grado, obviamente em um movimento mentiroso, já que o que ele tentou fazer foi mandar seu gêmeo Oscar em seu lugar para o cárcere, ao mesmo tempo em que consegue proferir um discurso hipócrita e moralista para GOB e Michael, dizendo que pelo fato de compartilharem do mesmo sangue, não deveriam brigar. A duplicidade de vida e discurso é só mais uma mostra do quão canalha o patriarca pode ser, dado a quantidade de prejuízos que causou a sua família, ou seja, seu sangue.

    A sensação de que a série de Mitchell Hurwitz é uma comédia de erros dos Bluth é na verdade um pretexto para contar uma história de constrangimento sobre a vergonha que a existência humana pode proporcionar, e isso fica ainda mais evidente e nítida ao se aproximar de 2005, o ano da terceira (e última até então) temporada comum de Arrested Development. As falcatruas que todos os parentes cometem fazem o (a princípio) ingênuo Michael ser mais cínico e capaz de, pelo menos, entender como eles funcionam, mas sem conseguir retribuir.

    Quando é posto a prova, Michael nega que tem uma família, finalmente verbalizando de modo categórico o desejo reprimido que sempre lhe tomou, e a vontade de se ver livre disso o torna cego até para coisas óbvias, mesmo quando ele se aproxima de uma linda mulher que na verdade esconde um segredo – que nem é tão secreto assim. O personagem claramente está anestesiado demais para entender sequer as coisas óbvias.

    É nesse momento do seriado que Tobias acredita que ganhará mais chances de interpretar bons papéis se tiver mais cabelo, tendo fracassos óbvios nisso. A deterioração dele deixa de ser apenas mental e sentimental, para ser também física. O implante alem de dar errado no início, fazendo seu coro cabeludo sangrar, causando um choque visual no espectador e até em personagens periféricos. Ele ao lado de GOB formam um dueto de idiotas carismáticos, que a princípio causariam ódio por suas inabilidades, mas compensam com um carisma absurdo. A personalidade do personagem de Arnet é ainda mais chamativa e magnética, e faz um enorme sentido no universo caótico que o programa estabelece. A inabilidade de GOB é mais discutida ainda nesse ano, graças a aproximação dele com Steve Holt (Justin Grant Wade), seu filho não reconhecido.

    O roteiro é tão mergulhado em metalinguagem, que pede aos seus espectadores e fãs que contem aos seus conhecidos sobre este show, através de mais uma ação arrecadação de fundos organizada pelos Bluth, ainda que Lucille e outros parentes sejam orgulhosos e arrogantes demais para receber ajuda externa. Os Bluth realmente não precisam de ninguém para sabotá-los, já que eles são especialistas nisso, um bom exemplo disso é Boys in Fight (ou no mercado mexicano Luchas y Muchachos), uma série de vídeos onde a competição entre GOB e Michael era incentivada por George Sênior, basicamente para tentar ter algum lucro, de maneira bem desonesta.

    George Michael finalmente tem coragem de assumir perante seu pai o desejo reprimido que tinha por sua prima, após descobrir que ela realmente era filha de Lindsay – somente para, após mais uma reviravolta, descobrir que Lindsay era na verdade adotada. O programa de TV recorre a sua fórmula, com a capacidade incrível de não desgastá-lo apesar da recorrência enorme de reviravoltas e autorreferências.

    Após três anos de exibição, a audiência baixa fez com que a Fox decidisse por encerrar as atividades de seus personagens, para um futuro sem certeza e com um desfecho abrupto. De certa forma, percebendo que o fim se aproximava, Hurwitz conseguiu amarrar bem até a desolação pelo fim de seu show, e um dos últimos momentos mostra uma intervenção de Ron Roward (em pessoa, e não só em narração), dizendo que a história da família não daria uma série, talvez um filme, provavelmente na tentativa de cavar uma oportunidade para isso. E dessa forma cara de pau, termina Arrested Development, mostrando uma família se decompondo, no auge de sua qualidade humorística, interrompida de maneira precoce por conta do público pequeno de telespectadores. O fato dela nunca ter sido tão popular quanto merecia passa por muitos motivos, entre elas, o fato de mais da metade das suas piadas só fazerem sentido para quem já é aficionado pelo programa, o que obriga seu espectador a entender profundamente sua mitologia, e outro fato é que, para quem abraça o programa, a sensação ao final é extremamente prazerosa, de tão reais que seus personagens parecem.

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  • Crítica | A Noite do Jogo

    Crítica | A Noite do Jogo

    Se há um gênero capaz de gerar discussão no cinema, esse gênero é a comédia. Humor é algo complicadíssimo de ser feito. O que é engraçado pra um, é chato para outro. Faça uma reflexão: quantas vezes você já contou uma piada que parecia ser engraçadíssima, mas que ninguém acabou rindo? Pois é. Agora aplique essa reflexão para o cinema. Pois é justamente no mais melindroso dos gêneros que A Noite do Jogo se aventura. E verdade seja dita: o resultado dessa viagem é dos mais divertidos.

    No filme escrito por Mark Perez e dirigido pela dupla de John Francis Daley e Jonathan Goldstein (roteiristas do ótimo Quero Matar Meu Chefe e do péssimo reboot de Férias Frustradas), somos apresentados ao casal Max (Jason Bateman) e Annie (Rachel McAdams). Extremamente competitivos, os dois se conhecem durante um quiz em um bar e se apaixonam perdidamente. Após se casarem, Max e Annie se tornam anfitriões de noites semanais de jogos onde reúnem os amigos para se divertirem e competirem entre si. Porém, numa dessas noites de jogos, o irmão mais velho (e babaca) de Max aparece repentinamente e as coisas já começam a desandar. Após tirar muita onda com a cara do caçula, Brooks (vivido por Kyle Chandler) desafia os amigos para uma noite de jogos definitiva: reunidos em sua mansão, terão que resolver um mistério que envolve um sequestro e um assassinato, tudo orquestrado por uma empresa de jogos, tal e qual o ótimo suspense Vidas em Jogo (dirigido por David Fincher e estrelado por Michael Douglas e Sean Penn). Porém, as coisas não vão ser tão simples assim.

    Qualquer coisa que eu disser a mais sobre a trama pode vir a estragar alguma surpresa ou circunstância engraçada do filme. O roteiro de Mark Perez é muito bem amarrado e equilibra suspense, comédia e ação nas doses corretas. É muito interessante observar que o humor negro que permeia a trama não parece forçado em nenhum momento. Outro ponto interessante é a forma como o filme arranca boas risadas de algumas situações bem peculiares, tais como remoção de uma bala do braço de um personagem e os constrangedores diálogos entre o casal de protagonistas e o sinistro vizinho policial vivido por Jesse Plemons. Aliás, é na casa desse vizinho uma das sequências mais engraçadas envolvendo Max, um cachorro e um memorial para uma pessoa falecida. Entretanto, o roteiro não é tão simples como pode parecer. Pelo contrário, a trama vai se desdobrando e apresentando novas e mirabolantes situações que poderiam tornar o filme confuso à medida que fosse avançando. O que ocorre aqui é exatamente o oposto. Tudo é solucionado de forma natural, ainda que de forma mais ou menos mirabolante.

    A direção inspirada de John Francis Daley e Jonathan Goldstein ajuda na fluidez do desenrolar da trama. Geralmente, um roteiro com tantos desdobramentos como o de A Noite do Jogo acaba sendo nocivo até mesmo para um diretor experiente. No caso da dupla, esse é apenas o segundo longa metragem que dirigem, mas Daley e Goldstein mostram maturidade de veteranos. O ritmo frenético que imprimem prega o espectador na poltrona, pois as sequências de ação muito bem orquestradas, com destaque especial para um jogo de “bobinho” que ocorre dentro de uma mansão e com um Ovo Fabergé. Destaca-se ainda, algumas transições de cenas que são feitas de forma a emular um jogo de tabuleiro. Já na parte cômica, o timing dos diretores é certeiro em vários momentos. A dupla ainda consegue arrancar atuações inspiradíssimas do elenco, com um destaque todo especial para Jesse Plemons (de Black Mirror). Sua interpretação para o vizinho policial viúvo atormentado é ao mesmo tempo engraçadíssima e perturbadora.

    Grata surpresa de 2018 até o momento, A Noite do Jogo acerta em cheio ao equilibrar na dose certa humor negro, suspense e ação. Indo mais adiante, creio que já temos um forte candidato ao melhor filme de comédia do ano.

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  • Crítica | Zootopia: Essa Cidade é o Bicho

    Crítica | Zootopia: Essa Cidade é o Bicho

    Zootopia - poster

    “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar opressor”. Esta frase do educador Paulo Freire rege boa parte do contexto de Zootopia, novo filme da Disney Studios. Adaptada ao contexto do mundo governado por animais da bela animação, é dito: “O sonho da presa é se tornar predador”. Isso dá a dimensão das ousadias tomadas pelo estúdio na concepção de seu novo filme, ao falar sobre as relações entre pessoas de origens diferentes, sobre o não determinismo genético, anti-especismo e a necessidade de cooperação entre seres distintos. Tudo isso com a clara intenção de fugir do clichê básico de que é possível ser tudo aquilo que se quer ser. Não é, a vida traz reviravoltas, mas é possível tomar seu destino nas mãos quando a a oportunidade surge.

    Na animação, a empolgada coelhinha Judy Hopps (Muito bem dublada por Mônica Iozzi) sonha em ser a primeira policial coelha da linda e cosmopolita Zootopia, uma cidade onde seus sonhos podem se realizar. Lá sofre com o preconceito contra sua espécie, oprimida pelo sistema que insiste em rebaixá-la independente de seus méritos. Na cidade ela conhece a raposa Nick Wilde (Muito bem dublado por Rodrigo Lombardi), um típico representante daquele personagem que apresenta um potencial imenso, mas acaba frustrando suas oportunidades por conta de uma visão confusa da vida. Eles se veem unidos para a resolução de uma série de crimes de desaparecimento, e a partir disso criam laços de amizade e troca de experiências.

    A animação sofre com algumas pressas na resolução de alguns conflitos menores, mas tem uma coragem que a coloca como superior: ter uma trama realmente importante, e não apenas a burocracia das histórias típicas que servem apenas como escada para as lições do filme. O mistério do filme é realmente um mistério, te leva a desconfiar de vários personagens passearem por dentro da trama de maneira natural.

    A profundidade dos personagens é realmente o ponto alto de Zootopia. Indo além do bom mocismo típico, diversas cenas são montadas de forma a mostrar que uma boa pessoa ou animal, de mente recheada com boas intenções, pode também ser a cara do preconceito, e que o segredo pra modificar um pouco o mundo é apontar o dedo pra si antes de tudo, pois o verdadeiro rosto do fascismo cotidiano não é uma caricatura de ditador, mas as diversas pequenas ações que fomentam a opressão no outro. Não é fácil, e muitas vezes confuso, afinal “um coelho pode chamar o outro de fofinho, outros animais não”.

    As lições aqui não são morais, mas sim éticas. A moral, algo amplamente distribuído pelos contos de fadas e fábulas, é algo muito mais dogmático e que te obriga a ser de uma tal forma através do castigo e da punição, numa espécie de karma ideológico. Ética, por outro lado, trabalha o tipo de mundo em que se escolhe viver; trabalha convivência e constante diálogo, bem como cotidianas modificações sobre o que é a realidade que nos cerca.

    Mais divertido que o enfadonho Frozen – Uma Aventura Congelante, e conceitualmente mais interessante e profundo que Operação Big Hero ou Detona Ralph, Zootopia estabelece-se como o melhor filme da recente safra de animações 3D da Disney ao ocupar-se de temas relevantes, evitando o antropomorfismo carente de significado que ocorre em animações recentes como em Madagascar, olhando para o racismo e demais formas de preconceito com um olhar otimista e palatável para o público infantil, mas sem diminuir a complexidade do tema.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | O Presente

    Crítica | O Presente

    O Presente - Poster

    Mesmo com a diluição de gêneros cinematográficos, o Terror continua se mantendo firme dentro de sua esfera narrativa e, anualmente, é responsável por diversas produções lançadas em nossos cinemas. Distribuído pela Playarte Pictures, O Presente marca a estreia do ator e roteirista Joel Edgerton na direção. Responsável pela adaptação do roteiro de The Rover – A Caçada, a produção dirigida, roteirizada e estrelada pelo australiano, ao lado de Jason Bateman e Rebeca Hall, segue a fórmula de um estilo característico do Terror: a presença incômoda de um estranho que modifica a rotina familiar.

    Na trama, Simon (Bateman) e Robyn (Hall) se mudam recentemente para Chicago a fim de um recomeço e reencontram um antigo colega da escola de Simon, Gordo (Edgerton). Após um contato inicial amigável, a personagem se torna presença constante na vida do casal, mas é vista como um incômodo. Após pedidos de que se afaste, o conflito se intensifica e um segredo do passado corrompe a relação harmônica do casal.

    Diante de um cenário cuja temática é comum e repetida ao extremo em outras produções, Edgerton tenta contornar a situação modificando o vilão aparente. A primeira hora de produção se desenvolve no conflito entre a família e o estranho que se torna cada vez mais inoportuno. Gordo é representado como a figura parcialmente carismática e irritante que incomoda o casal por se sentir solitário ao mesmo tempo que tem admiração genuína pela relação. O terror, então, cede espaço para um drama que reflete a condição do estranho e o segredo compartilhado entre Simon e ele, analisando a relação de colégio das personagens, onde o bullying foi parte fundamental.

    Este recurso ocupa parte da história e, mesmo gerando um conflito no casal, quebra a barreira plana do terror desenvolvido até então. A personagem de Simon adquire contornos vilanescos e parece evidente a intenção de explorar o efeito dramático da relação anterior das personagens, mesmo que a história seja voltada ao terror com vícios narrativos comuns ao gênero.

    Como um suspense, o roteiro se mantém até esta modificação na história, quando o impacto da personagem se perde e o drama serve somente como conflito entre o casal para uma reviravolta artificial e chocar o público. Sem nenhuma sutileza, o desfecho parece uma obrigação do roteiro, como um pré-requisito para um suspense psicológico, uma história que o espectador assistiu anteriormente em outras versões melhores.

  • Crítica | Mansome

    Crítica | Mansome

    Mansome 1

    Mansome é um filme cuja produção executiva estava a cabo dos atores protagonistas em Arrested Devolopment, Jason Bateman e Will Arnet. Grande parte do humor presente no seriado retorna ao documentário de Morgan Spurlock, que investiga jocosamente a aparência e comportamento masculino, analisando elementos genéricos, a partir de barba, cabelo e bigode. Depois de fazer um trabalho controverso, acusativo e de denúncia em Super Size Me – A Dieta do Palhaço, o alvo seria uma faceta mais leve da humanidade, tratado com normalmente com uma severidade desnecessária.

    O entrevistado que primeiro dedica um tempo minimamente exigido para Spurlock é o diretor John Waters, um homossexual assumido conhecido por seu bigode fino a la Clark Gable. Curioso é que o estereótipo de homem que cuida de sua aparência com tratamentos especiais e afins é ocasionado por espécimes teatrais, por Arnet e Bateman, que interpretam a si mesmos, homens heterossexuais, longe de qualquer estereotipo prévio e preconceituoso que associa o homem cuidadoso com sua estética com um efeminado.

    Paralelo a isto, exibe-se um estilo de vida totalmente baseado em pelos faciais, com sujeitos que cuidam de suas barbas como muitas mulheres costumam cuidar de seus cabelos, cultivando-as para entrar em competições ao redor do globo. Os Estados Unidos começariam a se valer de conceitos comuns a África, de que o homem não “deixaria de ser” homem por começar a decorar a si mesmo, com sprays, tintas, spas, tratamentos de pele, com o uso contínuo além do mainstream do showbusiness. As razões são diversas, desde medo de envelhecer até queda de cabelos e receio de ser menos atraente em relação a caça do belo sexo.

    A busca por entender a mente repleta de testosterona passa por conceitos conservadores e regulares, até a mentalidade puramente misógina, que impede muitos homens de se cuidar mesmo que queiram, por medo de serem associados ao “ser inferior feminino”, resultado da perseguição propagada secularmente e reforçada pelo mercado de trabalho e pelas parcelas mais antigas da sociedade medíocre ao redor do globo.

    Os closes rápidos projetam opiniões diversificadas, de pessoas cujo repertório é completamente diferente, onde o conjunto de impressões visa representar a opinião publica e relacioná-la as práticas de auto-cuidado, feitas pelos homens, desde as mais comuns até as mais esmeradas. A miscelânea de falas distintas exibe uma multiplicidade de pensar e julgar, tanto o homem quanto as mulheres que os desejariam, no caso do heterossexual, sem abandonar o quanto a aparência influencia no cotidiano humano, sejam quais esferas seriam.

    A proposta de Spurlock investiga a superfície do comportamento masculino, não se aprofunda, até por ter na estética seu alicerce, a camada menos profunda da pele e do corpo humano é o alvo. No entanto, os panoramas e assuntos discutidos de modo leve servem bem ao entretenimento e promovem uma discussão, que por sua vez faz o espectador refletir sobre suas próprias ações, além de promover uma avalição de como o público enxerga o papel do homem na comunidade, o que faz colaborar para a análise mundana, especialmente ao focar

  • Crítica | Sete Dias Sem Fim

    Crítica | Sete Dias Sem Fim

    sete dias sem fim

    A tradição encerrada na entidade familiar comumente produz relações distantes, e o tempo se encarrega de engrossar ainda mais seus pontos diferenciais. Manter amizades já é um esforço demasiado, estreitar laços com pessoas as quais não se escolheu ter relação torna-se ainda mais difícil. É sob uma ótica de vidas cuja razão se perdeu através do desprezo humano geral que Sete Dias Sem Fim é narrado, primeiro mostrando a derrocada de Judd Altman (Jason Bateman), de dedicado marido a divorciado deprimido, para logo depois mostrar de forma agridoce o falecimento de seu pai, o que o obrigaria a sair de sua caverna pessoal para prestar condolências aos seus outros entes queridos.

    Nos momentos iniciais, apesar das gags cômicas, a sensação que predomina é a melancolia, assinalada pela trilha sonora, levada pelo piano clássico. No enterro, reencontros ocorrem, a maioria bastante atabalhoados, o primeiro deles com Wendy (Tina Fey), a irmã desbocada que cuidava do patriarca. O segundo ocorre após a chegada de Philp (Adam Driver), em seu carro de luxo, cujo som alto, tocando rap ostentativo quebra o clima de luto.

    Com poucos minutos de exibição nota-se a maioria dos problemas existentes na interação de todo o clã, o quanto cada um deles tem dificuldade em viver em comunidade e conviver consigo mesmo.  O constrangedor silêncio é finalmente quebrado pela matriarca Hillary (Jane Fonda), que clama para que a família converse entre si, especialmente para incluir as conversas disfuncionais dos presentes em seu próximo best-seller, mostrando que a exploração do grotesco vai além dos ângulos escolhidos por Shawn Levy.

    Logo as garras são expostas numa intensa briga por um dos patrimônios do pai, e no qual Paul (Corey Stoll) tem sua única fonte de renda, enquanto Philip quer fazer parte das decisões financeiras, mesmo sem ter qualquer jeito para isto. Após o embate físico, os familiares são obrigados a conversar sobre as memórias do falecido, numa tentativa de unir quem não quer ficar perto, quem não quer ter unidade. Lá, as mentiras e indiscrições ficam mais evidentes, como feridas que pedem para serem estancadas.

    Os bate-bocas e intrigas evoluem e tornam-se cada vez mais verborrágicos, exibindo uma violência reprimida por anos e que somente piorou com o acúmulo de hostilidade e guardadas em virtude do afastamento entre os entes. O roteiro se encarrega de mostrar que, apesar do claro incômodo presente na intimidade entre eles, ainda há espaço para a solidariedade e companheirismo, especialmente nos momentos de crise, quando a miséria da alma de Judd consegue se aprofundar ainda mais.

    Apesar de cada um dos personagens viver o seu pequeno inferno pessoal, o modo como a película conduz é leve, numa alegoria a um estilo de vida em que pouco se preocupa com as questões de resolução difícil e as as trata de modo amistoso, uma vez que são inevitáveis no padecimento de existir.

    Quanto mais os filhos tentam se afastar da casa matriarcal, mais e mais segredos são trazidos à luz, com fatos assustadores para a mente dos herdeiros. Encarar a realidade e a complexidade de ter de conviver com o luto e seguir em frente não são tarefas fáceis para nenhum dos personagens. O otimista “ensinamento” presente no roteiro é de que os esqueletos guardados dentro do armário podem até fazer a vida parecer pesada, mas não devem impedir o prosseguimento da existência, tampouco permitir que a tristeza tome conta do espírito, de assalto. A moral presente em Sete Dias Sem Fim mira o alto, fugindo da obviedade, tratando de modo leve as questões pesadas da vida.

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  • Crítica | Quero Matar Meu Chefe 2

    Crítica | Quero Matar Meu Chefe 2

    Quero Matar Meu Chefe 2 - Poster BR

    Após os acontecimentos de Quero Matar Meu Chefe, o trio protagonista torna-se famoso ao participar de um programa de entretenimento matinal para falar sobre a sensação de ser seu próprio chefe, invertendo o paradigma do episódio original. A direção de Sean Anders diferencia-se demais da do anterior, Seth Gordon, por ter uma linguagem bem mais popular, a começar pelo fracasso de inserir uma tentativa de empreendedorismo de Nick, Dale e Kurt (Jason Bateman, Charlie Day e Jason Sudeikis respectivamente), transformando os três no centro da patetice da fita.

    O novo algoz do grupo é o magnata Bert Hanson (Christoph Waltz), um alto investidor que tem a chave para o sucesso dos protagonistas, podendo alavancar o produto que eles inventaram para, enfim, tirá-los do fardo de ter de trabalhar com patrões. A recusa inicial de seu filho, o jovial Rex Hanson (Chris Pine) é devido ao investimento considerado de alto risco. Logo, a persona de Bert se mostra tão controversa quanto a de seus antigos patrões, emulando a personalidade imbecil e incluindo um golpe financeiro.

    Após uma reunião sem qualquer apelo à realidade, os personagens decidem se vingar de Hanson, pensando em assassinato – artifício impossível para eles, inaptos – ou um sequestro do filho do milionário. Para prosseguir no plano, eles decidem pedir conselho ao único assassino que conhecem, Dave Harken (Kevin Spacey), o qual está preso e faz questão de humilhá-los, tratando-os como os idiotas, o que realmente são, ao agirem de modo tão infantil na parte 2. O comportamento do grupo era o mesmo de pessoas normais, que agem imbecilmente perante as situações nas quais não estão acostumados, como americanos medianos com o objetivo de assassinar pessoas próximas. O que antes era reação normal torna-se um comportamento padrão, o que é claramente desagradável e demasiado óbvio.

    A edição do filme, com narração e destaques dos defeitos dos personagens, é abandonada, fato utilizado principalmente para diferenciar o trabalho de Anders ao de Gordon. Com isso, um dos pontos mais charmosos do primeiro filme se perde, com o formato voltado para uma comédia de erros pura e simples, uma fórmula que lembra muito a de Se Beber, Não Case! Parte II, obra que explora personagens conhecidos do público em situações ainda mais controversas do que as vistas anteriormente.

    Apesar da tentativa de explorar outra vertente, não há nada de inovador na produção, pelo contrário. Quase todas as situações são repetidas, desde o já comum comportamento de Jason Bateman, que faz de Nick ainda mais parecido com o inseguro protagonista de Arrested Development, Michael Bluth, até os absurdos mostrados em tela. Mesmos as reviravoltas, que visam perverter os arquétipos de vilões e mocinhos, soam bastante forçadas. Sequer a pseudo-mudança de gênero para um filme de assalto, debochando de filmes recentes, como Truque de Mestre, salva o roteiro da mediocridade em que estacionou.

    O último dos plot twists até chega a surpreender, uma vez que os elementos antes mostrados não faziam desta reviravolta algo plenamente previsível. Alguns dos dramas vividos no final de Quero Matar Meu Chefe são reativados, com direito à repetição de papéis de Jamie Foxx como Motherfucker Jones, e Jennifer Aniston como a ninfomaníaca Julia Harris. Apesar deste ser o momento mais engraçado e nonsense do filme, não chega ao ápice de justificar os excessos dos quase 110 minutos de exibição, que, retirada a quantidade exorbitante de excedentes, mal completaria uma hora de exibição.

    Quero Matar Meu Chefe 2 é bastante inferior ao seu antecessor, como já de esperar, mas falha demais ao tentar fugir de um estereótipo para se prender em um ainda mais vexatório e repetitivo, em que até a química dos três interpretes é decrescida apenas para fortalecer o estabelecimento de uma franquia, isentando o produto final de qualquer substância e conteúdo relevante.

  • Crítica | Quero Matar Meu Chefe

    Crítica | Quero Matar Meu Chefe

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    A tônica do discurso de Nick Hendricks (Jason Bateman) reprisa-se na “fatalidade” dos outros dois protagonistas, cuja única diferença é na dor causada por seus “superiores”. O foco da edição modernosa, cuja narração muito acrescenta ao conteúdo, é uma ode ao desconforto, um conformismo moderado, mas incomodado com algo básico: os desmandos de seu chefe, o autoritário Steve Wibie (Kevin Spacey). A causa do infortúnio de Dale Arbus (Charlie Day) é sua consultora, uma dentista fogosa chamada Julia Harris, vivida por Jennifer Aniston, exalando sexualidade para o pobre rapaz que quer manter-se fiel ao seu compromisso. As agruras de Kurt Buckman (Jason Sudeikis) não são exatamente relacionadas ao seu chefe, mas ao filho mimado e megalomaníaco deste, Bobby Pellitt (um Colin Farrell fazendo o melhor papel de sua vida), que repentinamente torna-se o responsável pela empresa em razão da doença de seu pai.

    O trio de atraentes homens de meia-idade tem uma autêntica encruzilhada dramática: trabalhar em suas respectivas carreiras em ambientes hostis, cujas oportunidades de crescimento são escassas, não importando seu alto nível de comprometimento e esforço em realizar um bom trabalho.

    Apesar dos múltiplos repertórios e das diferenças de personalidade que incorrem a cada um deles, na essência, o mesmo destino catastrófico recai sobre a existência deles. Dos sacripantas que ordenam a miséria na vida dos funcionários exemplares. A escolha básica deveria ser entre manter suas dignidades intactas, saindo do serviço e da miséria financeira, mais calamitosa ainda em tempos de crise, o que inviabiliza qualquer chance de saírem de seus postos. A única alternativa é fugir completamente da norma padrão, contratando um assassino de aluguel para se desfazer do incômodo que os acomete.

    Claro que, em se tratando de três espécimes sem qualquer experiência, o simples ato de procurar alguém para fazer o trabalho sujo teria que ser aventuresco, repleto de situações nonsenses. Após fracassar algumas vezes em arranjar um assassino, o trio é orientado a verificar os hábitos de seus mandantes para eles mesmos cometerem homicídio, com a responsabilidade trocada de acordo com o vínculo empregatício dos homens. Todo o estratagema é uma desculpa para se inserirem na intimidade completamente louca dos excêntricos próceres.

    As referências farsescas a filmes clássicos são diversas, desde Pulp Fiction até a despretensiosa comédia Trovão Tropical. A histeria causada pela falta de traquejo de Nick, Dale e Kurt só não é mais engraçada que todo o entorno de Bobby Pellitt. Nenhum aspecto de sua desfaçatez é minimamente aceitável para uma pessoa adulta. Todo o conjunto de ações de Bobby revela uma personalidade machista e fajuta, caricata ao extremo, tão ignóbil que ele se torna extremamente engraçado.

    O carisma dos “vilões”, tal como a completa falta de confiança que Harken sente de si mesmo e da esposa, faz de Quero Matar Meu Chefe um filme diferenciado. A experiência de Seth Gordon em comandar comédias televisivas faz com que ele seja a escolha perfeita para fazer transitarem suas piadas em núcleos diferentes, dando o mesmo nível de importância para cada uma das causas. O carisma, roteiro e loucuras da trama fazem com que a obra seja muito superior às comédias que percorreram os cinemas em 2011.