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  • Crítica | Os Aloprados

    Crítica | Os Aloprados

    Filme de 2008, protagonizado por Will Ferrell e dirigido por Kent Alterman, Os Aloprados se passa em 1976 em Flint, cidade do estado de Michigan, focado no famoso e decadente cantor Jackie Moon, que após o grande sucesso de um hit seu, comete uma extravagância enorme, que é comprar seu próprio time de basquete, o Flint Tropics, se tornando o técnico da franquia, além de jogador.  Já no início há uma apresentação dos Tropis com uma musica do mestre de cerimônias, onde ele desdenha de cada um dos membros do seu time, para logo depois começar o vergonhoso certame.

    Os Tropics fazem parte de ligas amadoras, que servem basicamente para chacotas, e para o protagonista vivido por Ferrell tentar brilhar, ainda que seja um dos piores entre os nada habilidosos jogadores de seu time. Aqui, se percebe que o time semi profissional (o nome original é Semi Pro) é feito para vaidade de seu dono, para sofrer chacota dos narradores e comentarista, Dick Pepperfield (Andrew Daly) e Lou Redwood (Will Arnett), e para de vez em quando o comerciante Clarence Downtown Malone (Andre 3000 Benjamin) brilhar, já que quando era novo já havia jogado.

    Os comentários dos especialistas são ácidos, e o humor do filme passa por comentários pejorativos  respeito da elite financeira dos Estados Unidos. O papel do perfeito idiota que Ferrell sempre faz serve para desconstruir a ideia de que os empresários endinheirados são pessoas inteligentes e com a cabeça no lugar, nesse caso, é um velho entediado, impotente, casado com uma mulher que não o ama e que o trai o tempo todo, ou seja, um pastiche dos homens brancos poderosos dos EUA que se julgam superior a todos por ter algum dinheiro.

    Uma nova regra é estabelecida, a liga ABA – onde os Spirits jogam – será incorporada a NBA, e quatro franquias irão para o campeonato nacional, enquanto as outras serão extintas, e isso faz com que o time de Jackie corra risco de extinção, fato que o deixa triste. Todas as cenas de reunião para se decidir o destino dessas quatro vagas é extravagante ao extremo, não só pelo estouro emocional de Moon, mas também pela participação de outros comediantes, como David Koechner .

    O roteiro de Scot Armstrong não guarda surpresas, os fatos se desenrolam rapidamente, e o treinador Monix é contratado, sendo feito por Woody Harrelson (que aliás, faz uso de uma peruca terrível), é impressionante como o script dá vazão a momentos grotescos e engraçados, seja nas brigas vaidosas entre os integrantes dos Spits, ou no fato deles se utilizarem de todo tipo de tática para vencer, seja entrando na mão, ou utilizando rímel nos olhos para assustar os outros times, fato é que Jackie é querido por todos, mesmo quando age de maneira infantil, ou quando é contrariado e ameaça a família do juiz. Há qualquer coisa em seu carisma que o faz ser amado pela maioria das pessoas, mesmo que sua música seja terrível, mesmo que seus métodos também não sejam grandes coisas.

    Mesmo sendo uma comédia escrachada, há pontos bem maduros no filme, com direito a lições de moral e desconstrução de mitos a respeito de ex campeões da NBA. Por mais grotesco que seja assistir humoristas e atores veteranos usando camisa regata e shorts curtos, é impossível não achar genial toda a besteirada apresentada ali, principalmente por representar a maioria das presepadas feitas por treinadores e dirigentes, ainda que de forma mega exagerada e irrealista. Ainda assim, boa parte dos treinos táticos apresentados na metade final do filme correspondem a realidade, e o fato dos Spirits mal sobreviverem com a implementação desses momentos impressiona.

    A fotografia de Shane Hurlbut garante momentos de beleza ímpar, ressaltando as cores aqui, que nessa abordagem ficam muito bonitas. Até o uso de tons pastéis e de tonalidades pouco utilizadas tanto em filmes blockbusters quanto em times de basquete, já que laranja e azul quase não funcionam juntos, ainda assim, aqui há um certo charme, fazendo  com que os excluídos e ignorantes ganhem os holofotes de alguma forma, nem que seja para demarcar o quão são derrotados e o quanto podem crescer, dentro do pensamento motivador e positivista que Monix impõe.

    Tal qual ocorre com Escorregando Para Gloria e Ricky Bobby – A Toda Velocidade, Aloprados se destaca por apelar para um humor auto depreciativo bizarro. As piadas com infidelidade conjugal e com o fetiche do corno em compartilhar suas senhoras se expande para mais de um personagem. Em alguns pontos não se sabe minimamente qual estranheza aparecerá em tela, e isso não ocorre só com Jackie, mas com quaisquer outros personagens. Até luta com animais selvagens ocorre, sabe-se lá porque razão.

    A versão Unrated faz o filme soar ainda mais estranho e sem freios, e é uma pena que ele seja tão subestimado e tão pouco lembrado. As tomadas e ângulos escolhidas por Alterman são curiosas, mostram uma Michigan bela e inspiradora, apesar de não ter a mesma pompa. Os momentos finais tratam de demonstrar de maneira categórica o motivo pelo qual a cidade de Flint e seus cidadãos amam tanto Jackie, pois ninguém se esforçou tanto para fazer a cidade entrar no mapa do basquete norte-americano.

    Dentro da loucura que é o jogo final, contra o San Antonio Spurs, Moon acaba inventando a ponte aérea, o famigerado chute da vovó (grandma shoot) que Jackie faz, acompanhando do ângulo completamente constrangedor de sua virilha suada é um bom resumo do que Aloprados oferece ao seu espectador, escondendo uma historia de desajustados carentes com um visual e abordagem arrojada demais para as comédias pastelão típicas de Will Ferrell, além é claro de valorizar demais o esporte que é o basquete, mostrando ele como o principal objeto de adulação do país norte americano, além de ser o catalisador de oportunidade de pessoas comuns brilharem como ídolos nacionais.

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  • Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 2)

    Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 2)

    Após a péssima recepção de primeira parte da 5ª Temporada de Arrested Development pela crítica e pública, havia uma pequena esperança de quem acompanhou a série em seus áureos tempos de que Michel Hurwitz retornaria em grande estilo, no entanto, a sensação deste tomo é muito semelhante ao primeiro, com um roteiro e desempenho do elenco fraco e entediante.

    A série retornou pela Netflix em sua quarta temporada, em duas versões, uma com cada personagem tendo sua versão contada da história e outra reeditada, que causou muita confusão nos bastidores, por conta de problemas com os direitos de imagens dos atores, além de ter causado inúmeros furos de roteiro para quem não assistiu a versão original, e ainda nesta época, se notou que talvez retomar o seriado fosse um erro, tendo como único ponto positivo tangível, o fato da fase clássica ser revisitada e voltar aos holofotes, mas nem o arco dos Bluth é bem finalizado, e a química entre personagens vai muito mal.

    Praticamente nada funciona neste quinto ano, o programa continua com a exploração do mistério da morte de Lucille 2, mas há muito enrolação, com tramas paralelas terríveis que não capturam a atenção do espectador de modo algum. O casamento de Lucille e George Sênior está em crise, e o fato de seus intérpretes Jessica Walter e Jeffrey Tambor terem brigado nos bastidores faz com que esse núcleo ter muitos problemas, soando quase metalinguístico o que se vê em tela. O personagem de Michael (Jason Bateman) também não sai do lugar, continua fazendo trapalhadas ao tentar pôr as contas do clã em dia, e mesmo seu filho, George Michael (Michael Cera) está apagado. Até David Kross  está sem graça, com o arco mais chato de todos, onde Tobias tenta retomar seu papel como parte importante dos Bluth, mas sempre sem conseguir. É tudo tão óbvio que irrita demais.

    Os outros personagens tem participações mais longas, no entanto, são tão pífias e repetitivas que faz perguntar o porquê de retomar tais histórias. Claramente os atores não estão à vontade, e isso se reflete na participação de Portia de Rossi, que só aparece no final e ninguém sente muita falta disso, com pouquíssimas citações a Lindsay, sua personagem. Repetir o fato de os Bluth falirem poderia gerar novas aventuras e desventuras, mas claramente a fórmula está esticada, funcionando como um trunfo repetitivo. Um dos poucos momentos realmente inteligentes é a brincadeira que o roteiro faz com o discurso empreendedor e a mentalidade de coaching que invadiu o modo de trabalho atual, em especial no programa bobo que George Michael faz em Fakeblock.

    As melhores tiradas continuam no humor de constrangimento, sobretudo com Will Arnett e seu GOB, que apesar de ter um arco que discute sua sexualidade de modo cansativo, ainda continua engraçado e louco, e os poucos momentos onde Buster (Tony Hale) soa engraçado, é com seu irmão mais velho. Outro momento interessante são os flashbacks, que mostram a família lidando com a infância de Lindsay, Gob, Michael e Buster, com os pais sendo feitos por Cobie Smulders e Taran Killam, brilhantes nas imitações que fazem de Walter e Tambor. Quando se mostra as crianças competindo, repara-se que desde cedo elas eram egoístas e o quanto Lucille estragou seus filhos, deixando que George Sr. os transformasse em rivais entre si.

    Fora isso, há uma boa piada envolvendo os super advogados com os Guilty Guys, que apesar de não ser muito importante para o roteiro, soa engraçada por brincar com séries de advogados, e como o roteiro aqui é péssimo, fugir de um texto que não funciona dentro da trama principal acaba sendo um evento feliz. É triste notar como Hurwitz não consegue manter o interesse nos personagens que foram criados, e mais lamentável ainda perceber o gancho para outros acontecimentos envolvendo a família, ensaiando uma sexta temporada. É até natural que se espere um desfecho digno para eles, mas caso não haja inspiração do corpo de roteiristas, é melhor deixar como está, para não invalidar ainda mais a jornada dos Bluth, tão maltratada em todas essas tentativas de retorno, mesmo com anos entre esses marcos. É preciso maturidade até para saber a hora de parar de contar uma história.

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  • Review | Bojack Horseman – 5ª Temporada

    Review | Bojack Horseman – 5ª Temporada

    Quem diria que a série do homem-cavalo iria tão longe? Em seu quinto ano de exibição, Bojack Horseman vem se mostrando um excelente produto voltado ao público adulto. Todas as temporadas até aqui tiveram seus altos e baixos, alguns problemas de ritmo, mas o saldo final sempre é positivo. Aqui não foi diferente.

    Bojack é um personagem que, a todo momento, é destruído e reconstruído. Ele alterna entre o céu e inferno de maneira corriqueira, mas todos os revezes não calejaram nosso protagonista. Pelo contrário, o torna ainda mais vulnerável.

    Após reviver seu infeliz passado com os pais, Bojack será o protagonista de uma nova série que se mostra um grande sucesso. Apesar de ter alavancado novamente sua carreira e estar cercado de admiradores,  o cavalo não se mostra feliz. Seu relacionamento com Gina é morno e um tanto indiferente, apesar de alguns lampejos de amor. Em outro plano, Diane e Sr. Peanutbutter se divorciam. Enquanto Diane tenta se mostrar mais forte, corta o cabelo em sinal de mudança e adota uma postura mais forte e feminista, o cachorro começa a namorar mas não rejeita seus sentimentos pela ex-esposa.

    Um ponto interessante é a amizade entre Bojack e Diane. Mesmo que em alguns momentos apareçam brechas para que os dois se envolvam, mesmo que casualmente, isso não acontece. Pelo contrário, Diane dá alguns tapas de realidade do focinho do cavalo e o ajuda nos piores momentos. Hollyhock reaparece e será crucial para que Bojack entenda o quão fundo ele chegou no vício por calmantes. Sim, esta é a droga da vez. Pobre Bojack…

    Tive a impressão de que esta foi a temporada que menos deu vontade de assistir. Não pela ausência de qualidade, mas pelo fator entretenimento. E não entendam errado, a questão aqui não é se divertir com a desgraça alheia, mas apenas ficar preso em acompanhar cada episódio. Apesar de manter a qualidade, dá a impressão de que a série começou a se desgastar, e talvez uma extensão demasiada não seja uma boa ideia.

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  • Crítica | Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas

    Crítica | Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas

    Quando LEGO Batman: O Filme foi lançado, alguns fãs do universo DC (em especial os que tem senso crítico) brincavam dizendo que o que vale dentro das histórias de Batman, Superman e cia está nas animações. Desde que Bruce Timm e Paul Dini fizeram Batman: A Série Animada a Warner tem dedicado um bom esforço a fazer desenhos animados para a televisão e algumas em longa-metragem lançadas para home video de qualidade indiscutível, mas no filão do cinema isso parecia não ser tão prolífico, até agora…

    O longa de Aaron Horvath e Peter Rida Michail é oriundo da série homônima, que basicamente pegou o outro sucesso Teen Titans e transformou-o em um produto para um público ainda mais jovem, mudando o estilo e o tom da animação de uma maneira bastante divertida, e  jeito bem divertido, e com algumas sacadas para o público mais adulto. No roteiro de Michael Jelenic e Horvath isso se torna ainda mais presente, com uma harmonia de temas muito diferentes, como as famigeradas piadas com flatulência unidas a discussões mais sérias sobre o que faz de um vigilante um herói. Há uma dedicação à desconstrução do ideal heroico através do deboche aos erros constantes dos filmes que a Warner produz, servindo assim de certa forma como um mea culpa do estúdio, embora em uma escala não tão grandiosa quanto em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, Mulher-Maravilha ou Liga da Justiça.

    Desde o começo Robin, Cyborg, Estelar, Ravena e Mutano têm de lidar  com o fato de serem subestimados o tempo todo. O fato de não serem levados a sério curiosamente têm muito a ver com os motivos que fizeram o grupo de sidekicks formarem a primeira Turma Titã nos primórdios do grupo nos quadrinhos, mas aqui ela é apenas uma das muitas referências do filme.

    O foco narrativo é muito maior em Robin  e isso já é esperado uma vez que ele é o personagem mais conhecido e sempre foi o líder ou um dos personagens principais de quase todas as encarnações do grupo. Apesar de obviamente ter uma veia humorística muito forte, o roteiro foca em um aspecto muito caro a vida humana, o sentimento da vaidade. Robin e os outros se sentem menosprezados por absolutamente todos os heróis terem destaque e protagonizarem seus filmes. Nesse ponto outra característica forte do roteiro sobressai, o comentário metalinguístico e a conseqüente quebra da quarta parede, e por mais engraçado e infantil que soe, não há forçação nesse caso, toda a desconstrução é bastante fluida e natural, palatável para crianças e adultos.

    Uma das riquezas do roteiro é a construção gradual da rivalidade de Robin e de seu amigos com o Exterminador – Slade Wilson – fato que é natural uma vez que ele sempre foi o principal vilão do grupo de heróis. Apesar das piadas muito primárias que acompanham o mercenário dublado no original por Will Arnet, a demonstração do quanto ele é manipulador e ardiloso é eficaz ao extremo. Ao final da apreciação há uma sensação semelhante a que se tinha ao analisar profundamente a série do Batman de 1966, protagonizada por Adam West, pois ambas, aos seus modos, eram bem fiéis a essência das historias de seus protagonista, sendo esse Jovens Titãs reverencial à obra de Marv Wolfman e George Perez.

    Curiosamente todas essas qualidades positivas lembrar de LEGO Batman: O Filme, mas a toada aqui é completamente diferente e original, conseguindo traduzir para plateias diversas um estilo de animação que está muito em voga hoje com Adventure Time, Apenas um ShowSteven Universe e outros produtos, sem abrir mão de um nonsense que faz bastante sentido para quem acompanhou por anos os quadrinhos da DC Comics.

    Os Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas não tem vergonha de assumir sua identidade e caráter jocoso, absolutamente tudo vira piada, há muitos números musicais – muito bem traduzidos na versão dublada – e não há pudor algum em referenciar diversos clássicos, inclusive da Disney. O longa não tem vergonha em se assumir como entretenimento, divertido e escapista, sendo uma bela repaginação de vários elementos de literatura pulp e da era de ouro dos quadrinhos, sem descuidar do visual hiper colorido e de um humor que entretêm demais o publico infantil.

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  • Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 1)

    Review | Arrested Development – 5ª Temporada (Parte 1)

    A quinta temporada de Arrested Development quase não aconteceu. Em 2013 foi lançada a quarta temporada, muito criticada por quase não colocar os personagens da família Bluth juntos em tela, e posteriormente, lançaram Fateful Consequences, um remix desses mesmos episódios. Agora, para tentar concorrer ao Emmy, Mitchell Hurwitz lança a quinta (e provavelmente última) temporada, dividida em duas partes. Após muitas polêmicas, envolvendo acusações a Jeffrey Tambor de comportamento abusivo na série e em Transparent, finalmente vem a luz a quinta temporada, com cinco anos de hiato.

    O primeiro de oito episódios começa mostrando Michael (Jason Bateman), com seu destino bem encaminhado, trabalhando longe da sua família, e para variar, ele tem de voltar a casa modelo, onde encontra Buster (Tony Hale), com uma mão mecânica no lugar do cotoco, e misteriosamente, depois da sua ultima participação na temporada passada, onde estava sendo preso.

    O imbróglio com seu filho, George Michael (Michael Cera) é resolvido de uma maneira engraçada, que se choca cronologicamente com o mostrado na quarta temporada, já que o visual de Cera e Bateman claramente é de 2018, e não de 2013. As cenas com fundo falso e tela verde deixaram de ser algo vergonhoso para o programa e se tornaram parte das piadas, especialmente quando se mostra Tobias (David Cross) lidando com sua paciente, Lucille (Jessica Walter), em uma casa de praia cuja vista é tão artificial quanto os Sharknados, do canal Syfy.

    Após os acontecimentos do Cinco de Quatro passados, Lindsay (Portia de Rossi) entra para a vida política, e para melhorar sua reputação, os Bluth seriam premiados como família do ano. Basicamente isso é um pretexto para reunir todos juntos, e mostrar Tobias tentando interpretar Michael, que claramente quer se distanciar dos demais parentes, exceção é claro de seu filho, que tem uma rusga claramente não bem resolvida entre eles.

    Talvez seja o fato dessa ser uma temporada exibida pela metade, mas a sensação de que o humor que Mitchell Hurwitz impõe ficou menos afiado é nítida, enquanto a carga emocional em direção a depressão é bem maior, em especial pelo papel de George Sênior. Claramente as interações entre os personagens não é como era antes, mesmo Will Arnett e Bateman não parecem mais tão entrosados, o mesmo para Bateman e Cera.

    Se perde um tempo enorme em torno da tentativa de liberar Buster, assim como na extensão da farsa do Fakeblock, esperava-se que Arrested Development abordasse algum tema mais atual, como o uso das redes sociais e dos celulares como método de contato entre as pessoas, mas não. O único ponto que parece ter algum laço com a realidade tangível, é um pequeno comentário de Lucille a um discurso de Donald Trump, a respeito do muro entre os territórios americanos e mexicanos, mas até isso soa atrasado demais, e já bastante óbvio dentro do universo de séries e filmes americanos.

    Não é só a temporada que está inacabada, mas a maior parte das piadas também parece, e nem é pela questão dos destinos não estarem em vias de ser selados, mas porque a maioria das partes cômicas ou não são tão inspiradas, ou simplesmente não casam com os personagens que as proferem. O episódio derradeiro tem mais de trinta minutos, e é um pouco mais engraçado do que o restante da temporada. Os números em preto e branco, imitando o cinema mudo são bem divertidos, assim como a rivalidade revivida entre Tony Wong (Ben Stiller) e Gob (Arnett), mas ainda assim, é pouco. O mote do mistério relacionado ao paradeiro de Lucille 2 se arrasta e claramente só será explorado na segunda parte da série, assim como a estranha ausência de Lindsay, que faz perguntar se o fato da eleição e da campanha que fez será mais explorada, ou se Portia de Rossi está brigada com a produção e com o restante do elenco, no entanto, mesmo excluindo especulações e possíveis escândalos extra-filmagens, o resultado desta parte de Arrested Development é um produto sem fundamento e sem um mínimo desfecho. Se a ideia é tentar concorrer a premiações, certamente elas não virão, pois não está engraçada, bem atuada ou com roteiros minimamente bem escritos.

    https://www.youtube.com/watch?v=gXg2_yExgVY

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  • Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Review | Arrested Development – 4ª Temporada

    Após sete anos sem as aventuras dos Bluth, a Netflix assume a responsabilidade de tentar contar a história da família de desequilibrados, com um formato ainda menos usual do que o mockumentary apresentando a partir de 2003, a desunião familiar que sempre se anunciava como recurso narrativo para driblar a dificuldade de juntar o elenco, cuja agenda geral quase nunca batia entre si. O drama de Michael (Jason Bateman) começa por não ter mais capacidade de se manter financeiramente, colhendo os frutos dos desmandos de seu pai a frente da Bluth Company.

    Recentemente, o criador da série Mitchell Hurwitz remixou a quarta temporada, então há duas versões do mesmo programa, e ambas serão analisadas aqui. Essa postura inclusive sofreu com algumas polêmicas, já que o elenco não gostou de ter recebido apenas por quinze episódios, quando a versão nova tem vinte e dois.

    Temporada Quatro Original.

    Antes de mais nada, é mostrado um flashback mostrando Lucille e George Sênior novos, não interpretados por Jessica Walter e Jeffrey Tambor, e sim por Kristen Wiig e Seth Rogen (com uma peruca horrorosa). Boa parte dos famosos que fizeram participações especiais no seriado voltam aqui, inclusive, Liza Minelli, que faz Lucille 2 (ou Lucille Austero).  A situação do “protagonista” – essa condição sempre foi discutível, uma vez que cada Bluth tem um bom tempo de tela na série, dividindo assim os holofotes – é muito dificultada ao se deparar com a rejeição por parte do seu filho, que quer se mantar longe do pai, para não repetir os erros dele em não cortar a excessiva intimidade com a própria parentela.

    O formato da retomada se passa inteiro no primeiro episódio, que conta a tentativa de Michael em fundar a própria companhia, cujo fracasso ocorre pelo azar tradicional dele, talvez uma expiação pelos pecados familiares, visto no decorrer dos outros anos. Um dos pontos altos é a participação de Ron Howard, produtor-executivo e narrador do seriado, que se insere na trama como uma visão em meio a realidade, fazendo um papel auto-caricatural que desafia até os limites metalinguísticos da série. O motivo seria a feitoria de um filme sobre os Bluth, o que iria de encontro a realidade, já que a ideia de Hurwitz seria fazer um longa, que acabou transformando-se no seriado da Netflix.

    Em paralelo, George Sr. e Lucille resolvem se divorciar, forçando o último bastião familiar, fato que se torna ainda mais evidente ante a situação legal da matriarca, que será julgada segundo as esdrúxulas leis marítimas. Para variar, o momento mais constrangedor do  programa envolve Tobias, que mistura suas duas profissões, de terapeuta e ator para tentar ajudar Brie (Maria Bamford), uma ex-atriz falida que havia trabalhado em uma produção barata do Quarteto Fantástico, e que o conheceu por acaso. Para tentar ajudá-la a ganhar dinheiro, ele começou a posar como os personagens da Marvel, e foi impedido pelos advogados de Stan Lee, essa trama evolui com ele sendo preso, e depois trabalhando em um musical, na clínica de reabilitação de Lucille Austero, fato que ajuda a mostrar o quão degradante é a vida de Brie e o quão vergonhoso pode ser a de Tobias e dos demais Bluth.

    Os últimos dez episódios acontecem sob um mergulho profundo na melancolia, seja na versão tosca de Entourage que Gob (Will Arnett) vive, assim como sua reaproximação inoportuna de Steve Holt (Justin Grant Wade). É nesse pedaço também que Lindsay (Portia de Rossi) lida com o candidato Love (Terry Crews) um político direitista que quer erguer um muro para deixar os mexicanos longe do território americano, se envolvendo como prostituta de fato. Nessa parte, a personagem confronta sua hipocrisia, e motivação política torpe, se assumindo como uma patricinha que jamais trabalhou para conquistar nenhuma das posses que tem, mas obviamente que o roteiro não seria moralista, e trataria isso de maneira engraçada, como o é.

    Ainda assim, essa versão parece diferente demais da fase clássica. Há muita repetição de cenário e situações, e o fato das agendas dos atores não baterem fez com que a sensação de que esse ano foi feito unicamente por obrigação seja ainda mais grafado, tanto que boa parte das cenas foi feita com fundo verde, e isso faz perder demais a interação e química que fez de Arrested Development um objeto raro.

    Remix – The Fateful Consequences

    Pouco se mudou nas participações dos atores principais, que inclusive reclamaram por terem suas imagens exibidas em mais episódios – que curiosamente tem menos tempo de exibição que a quarta temporada original – e ainda estariam em regime de sindicato, que é um modo de exibição muito particular dos Estados Unidos. Quem teve que realmente trabalhar mais foi o narrador Ron Howard, que praticamente redublou tudo.

    Essa versão chama-se Fateful Consequences e tem 22 episódios, com um pouco mais de vinte minutos cada. Há cenas inéditas, e já no primeiro episódio dessa versão se estabelece um novo misterio, envolvendo uma morte inesperada. Seu formato lembra o vai e vem típico das temporadas anteriores, ainda que hajam diferenças drásticas na história, é como se fosse um gigantesco retcon (continuidade retroativa, em tradução livre), implantado

    As cenas inéditas certamente foram retiradas do material cortado da versão original, e esses acréscimos ajudam a amplificar a sensação de irregularidade do show, uma vez que em alguns momentos ele se torna mais confuso que a quarta temporada comum e em outros, explicita mais os fatos, com explicações bastante expositivas.

    Neste recorte, a questão da festa do Cinco de Quatro é ainda mais grafada. A vingança de Lucille Bluth sobre o feriado mexicano não serve apenas para sustentar a questão de segregação do muro que Love queria levantar, mas também a propagação do aplicativo antissocial Fakeblock, de George Michael, e claro, o terrível destino de Lucille Austero.

    E desse jeito, parecido demais com a terceira temporada, termina Fateful Consequences. Mais irregular que a outra, envolta na tentativa de emular o formato dos episódios antigos, pavimentando também o futuro da saga, mas seu resultado é discutível, apesar de ligeiramente mais positivo que a versão falada por cada personagem. A sensação de comida requentada não sai do paladar do espectador, o que é uma pena, pois qualquer que seja a versão desta quarta temporada, soa melancólica.

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  • Review | Arrested Development – 1ª a 3ª Temporada

    Review | Arrested Development – 1ª a 3ª Temporada

    A sufocante rotina familiar e necessidade de fuga deste paradigma é o principal mote de Arrested Development, que usa Michael Bluth (Jason Bateman) como avatar dessa sensação incômoda. O clã dos Bluth é uma desajustada família que faz questão de tornar a existência do protagonista algo desgraçado. A engraçadíssima narração (de Ron Howard, produtor do programa) exibe uma miséria existencial, de um homem entorpecido pelos que lhe são próximos e que tem poucos objetivos edificantes, além de ter na presença de seus parente a garantia de infelicidade.

    Para o espectador não familiarizado com o todo de AR – lançado no Brasil como Caindo na Real em suas primeiras temporadas –  as situações cômicas demoram a engrenar, porque as disfunções são mostradas aos poucos, bem como as fobias e situações tragicômicas. O que é evidente já nos primeiros episódios da primeira temporada é a briga de ego de pessoas absolutamente medíocres e preguiçosas, mostrada de um modo charmoso e capaz de gerar empatia por cada um dos estranhos personagens.

    Michael por exemplo é inábil com as mulheres, ainda em luto por conta de sua esposa falecida. Já Lindsay Bluth (Portia de Rossi) e Tobias Funke (David Cross) claramente vêem um divórcio que em breve deverá acontecer, ainda que se arraste por muito mais tempo, entre os motivos, a possibilidade de Tobias ser um homossexual que não se percebe como tal. Eles tem uma filha, Mae “Maeby” (Alia Shawkat) que por sua vez causa os instintos mais primitivos em seu primo, George Michael (Michael Cera), fazendo-o ter um desejo incestuoso. Lucille (Jessica Walter) é a mãe mesquinha da família, ela se sente desamparada por seu esposo, George Sr. (Jeffrey Tambor) quando o mesmo é preso. O filho mais próxima dela é o desfalcado mentalmente Buster (Tony Hale) e ainda há o primogênito aficionado por mágica e ilusionista GOB (Will Arnett). Depois de toda a crise, todo esse núcleo – com exceção de Lucille e Buster – vão morar no mesmo lugar, a casa modelo — um lar fake que serve como exemplo para outras obras imobiliárias da Bluth Company, tão falso quanto a unidade desses e o sucesso da empresa.

    Michael é o mais trabalhador do grupo, na verdade é o único que tem uma vida normal. Ele espera a promoção a presidente da Bluth Company mas antes de ser pego seu pai dá o posto de CEO a Lucille. A acusação de fraude recai sobre a empresa e revela de modo categórico a ganância da família, que não valoriza o irmão tanto quanto merece, nem mesmo na iminência da miséria.

    A única alternativa que os estúpidos parentes tem é de implorar ajuda ao homem justo, o mesmo que foi rejeitado por seu pai e desprezado por seus irmãos, fato que o faz parecer como o mito bíblico de José do Egito. Diante dessa situação, Michael quer obviamente uma bela compensação por ter de aguentar tanta idiotice acumulada, para logo depois perceber que a sua não-nomeação como sucessor de seu pai foi uma ação estratégica, para que ele não fosse preso também, o que até faz balançar seu coração, já que ele decidiu mudar seus planos de ir para Chicago seguir em frente abandonando tudo e todos, levando consigo seu filho. Por ser um sujeito de bom coração ele obviamente freia esses planos e tenta arrumar a confusão da companhia, e claro, de seus parentes.

    Os primeiros anos se focam na convivência nada sadia dentro da família, com competições imbecis dos filhos GOB, Buster e até de Michael por atenção dos pais – num comentário pseudo-freudiano ímpar, que envolve não só Complexo de Édipo mas tantas outras síndromes mais complexas – e claro, ganância, debochando da incessante busca  dos americanos por tentarem alcançar o American Dream, ainda que claramente sejam todos os personagens comuns.

    Parte do sucesso de Arrested Development é a persona de Bateman, e seu recorrente papel do homem normal, esforçado e de caráter ilibado que têm de lidar com as loucuras alheias, como foi em quase todos seus papéis posteriores ao seriado. Cada uma das situações esdrúxulas e nonsenses tornam-se mais interessantes por ter um forte pé na realidade, fazendo lembrar a todo momento o quanto os distúrbios comportamentais do grupo são perturbadores ante a ótica normativa dos outros homens. A tenacidade de Michael apesar de ser uma bela qualidade, se confunde com um defeito, por grafar ainda mais sua condescendência e complacência com os erros dos que o cercam.

    O final do primeiro ano um ocorre com mais uma tentativa de Michael em sair do seio familiar, para viver uma vida distante daqueles que fazem de si um ser miserável. Após o julgamento de seu pai, ele é mais uma vez, por força das circunstâncias, proibido de seguir seu caminho. O começo da segunda temporada prossegue em mais uma tentativa fracassada de retiro, para mostrar uma predileção pelo drama e pelos anúncios de saída, o que faz com que seus parentes narcisistas não acreditem em sua saída, tampouco sentindo sua falta como pacificador dentro do clã.

    A situação piora, quando George Sênior consegue enfim fugir da prisão, para então ser indiciado, fazendo daí algumas piadas com foragidos famosos, em especial o caso de Saddam Hussein, no ano de 2003 (aqui há até uma desconfiança de traição à pátria). Depois de ser encontrado em um túnel subterrâneo, Michael o abriga no sótão da casa modelo, para que ele esteja minimamente sob seu controle. Nesse momento também há a inserção do irmão gêmeo do patriarca, Oscar, que por sua vez abre a possibilidade de mais uma quantidade exorbitante de piadas, pondo os dois personagens em perspectivas bem diferentes, tendo ambos como amantes de Lucille.

    Uma das melhores coisas no segundo ano certamente é a imitação de Uma Babá Quase Perfeita que Tobias faz e todos fingem não saber quem ele é, para que permaneça sem incomodar ninguém. A relação estremecida entre ele e sua esposa parece realmente resultar em nada mais que o fracasso total, já que ela só o quer quando ele parece um fruto proibido, e quando ambos estão juntos, não conseguem ser felizes. Essa questão é obviamente hilária, mas esconde um comentário óbvio e sério, acusando uma hipocrisia comum a muitos casais, que só se mantém juntos por conta de convenções, e claro, por comodidade.

    O final da segunda temporada mostra George Sênior se entregando de bom grado, obviamente em um movimento mentiroso, já que o que ele tentou fazer foi mandar seu gêmeo Oscar em seu lugar para o cárcere, ao mesmo tempo em que consegue proferir um discurso hipócrita e moralista para GOB e Michael, dizendo que pelo fato de compartilharem do mesmo sangue, não deveriam brigar. A duplicidade de vida e discurso é só mais uma mostra do quão canalha o patriarca pode ser, dado a quantidade de prejuízos que causou a sua família, ou seja, seu sangue.

    A sensação de que a série de Mitchell Hurwitz é uma comédia de erros dos Bluth é na verdade um pretexto para contar uma história de constrangimento sobre a vergonha que a existência humana pode proporcionar, e isso fica ainda mais evidente e nítida ao se aproximar de 2005, o ano da terceira (e última até então) temporada comum de Arrested Development. As falcatruas que todos os parentes cometem fazem o (a princípio) ingênuo Michael ser mais cínico e capaz de, pelo menos, entender como eles funcionam, mas sem conseguir retribuir.

    Quando é posto a prova, Michael nega que tem uma família, finalmente verbalizando de modo categórico o desejo reprimido que sempre lhe tomou, e a vontade de se ver livre disso o torna cego até para coisas óbvias, mesmo quando ele se aproxima de uma linda mulher que na verdade esconde um segredo – que nem é tão secreto assim. O personagem claramente está anestesiado demais para entender sequer as coisas óbvias.

    É nesse momento do seriado que Tobias acredita que ganhará mais chances de interpretar bons papéis se tiver mais cabelo, tendo fracassos óbvios nisso. A deterioração dele deixa de ser apenas mental e sentimental, para ser também física. O implante alem de dar errado no início, fazendo seu coro cabeludo sangrar, causando um choque visual no espectador e até em personagens periféricos. Ele ao lado de GOB formam um dueto de idiotas carismáticos, que a princípio causariam ódio por suas inabilidades, mas compensam com um carisma absurdo. A personalidade do personagem de Arnet é ainda mais chamativa e magnética, e faz um enorme sentido no universo caótico que o programa estabelece. A inabilidade de GOB é mais discutida ainda nesse ano, graças a aproximação dele com Steve Holt (Justin Grant Wade), seu filho não reconhecido.

    O roteiro é tão mergulhado em metalinguagem, que pede aos seus espectadores e fãs que contem aos seus conhecidos sobre este show, através de mais uma ação arrecadação de fundos organizada pelos Bluth, ainda que Lucille e outros parentes sejam orgulhosos e arrogantes demais para receber ajuda externa. Os Bluth realmente não precisam de ninguém para sabotá-los, já que eles são especialistas nisso, um bom exemplo disso é Boys in Fight (ou no mercado mexicano Luchas y Muchachos), uma série de vídeos onde a competição entre GOB e Michael era incentivada por George Sênior, basicamente para tentar ter algum lucro, de maneira bem desonesta.

    George Michael finalmente tem coragem de assumir perante seu pai o desejo reprimido que tinha por sua prima, após descobrir que ela realmente era filha de Lindsay – somente para, após mais uma reviravolta, descobrir que Lindsay era na verdade adotada. O programa de TV recorre a sua fórmula, com a capacidade incrível de não desgastá-lo apesar da recorrência enorme de reviravoltas e autorreferências.

    Após três anos de exibição, a audiência baixa fez com que a Fox decidisse por encerrar as atividades de seus personagens, para um futuro sem certeza e com um desfecho abrupto. De certa forma, percebendo que o fim se aproximava, Hurwitz conseguiu amarrar bem até a desolação pelo fim de seu show, e um dos últimos momentos mostra uma intervenção de Ron Roward (em pessoa, e não só em narração), dizendo que a história da família não daria uma série, talvez um filme, provavelmente na tentativa de cavar uma oportunidade para isso. E dessa forma cara de pau, termina Arrested Development, mostrando uma família se decompondo, no auge de sua qualidade humorística, interrompida de maneira precoce por conta do público pequeno de telespectadores. O fato dela nunca ter sido tão popular quanto merecia passa por muitos motivos, entre elas, o fato de mais da metade das suas piadas só fazerem sentido para quem já é aficionado pelo programa, o que obriga seu espectador a entender profundamente sua mitologia, e outro fato é que, para quem abraça o programa, a sensação ao final é extremamente prazerosa, de tão reais que seus personagens parecem.

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  • Review | Bojack Horseman – 4ª Temporada

    Review | Bojack Horseman – 4ª Temporada

    É estranho pensar que uma das séries mais adultas dos últimos tempos é uma animação protagonizada por um homem-cavalo. A ideia parecia esdrúxula, mas felizmente se mostrou algo de muita qualidade e que, na medida do possível, foge do óbvio.

    Se você está lendo este review, provavelmente assistiu às temporadas anteriores, então vamos pular a apresentação dos personagens centrais. Aproveite e leia os reviews da primeira, segunda e terceira temporadas.

    A Netflix vinha mantendo uma boa qualidade da série, apesar de alguns deslizes no ritmo. Esta quarta temporada não foi muito diferente. Temos o Sr. Peanutbutter (Paul F. Tompkins) concorrendo ao cargo de governador da California, mostrando uma campanha bem “atrapalhada”. É a parte menos interessante da temporada, porém teve seu valor em satirizar as campanhas políticas e, principalmente, os eleitores que valorizam coisas bizarras. Todo esse envolvimento na política serviu, de forma inteligente, para desenvolver a relação de Peanutbutter e Diane (Alison Brie).

    Curioso notar que Bojack (Will Arnett) simplesmente não aparece no primeiro episódio, deixando dúvidas se o cavalo perderia o foco nesta temporada. Pelo contrário, tivemos revelações importantes sobre o passado de Horseman.

    O ponto central é a chegada de uma garota chamada Hollyhock (Aparna Nancherla) dizendo ser, talvez, filha de Bojack. Se no início o ex-astro de Horsin’ Around tem a postura babaca e indiferente de sempre, aos poucos ele se vê mudando seus pensamentos e se importando com a garota. O melhor de tudo é o desfecho dessa questão, algo até inusitado, um dos pontos mais fortes dessa temporada.

    Outra questão é o passado familiar de Bojack, especialmente sua mãe (Wendie Malick), que tem uma história pesada. A relação de Bojack com sua mãe terá um espaço importante na história, e a série acertou em abordar certas coisas.

    Em paralelo, Princess Carolyn (Amy Sedaris) parece conseguir um relacionamento sólido depois de muito tempo, e podemos acompanhar as inseguranças e questionamentos de uma mulher mais velha que permanece(ia) solteira. Os personagens da série são muito humanos, mesmo sendo animais antropomorfizados, algo irônico e genial.

    Vale destacar a aparição de algumas vozes conhecidas, como Jessica Biel e Matthew Broderick.

    Bojack Horseman é uma série fácil de recomendar. Se você gostou das temporadas anteriores, não pense duas vezes, assista à quarta. É uma série consistente que já ganhou seu espaço dentre as produções de qualidade da Netflix.

    https://www.youtube.com/watch?v=v9yQv9YWFw4&t=9s

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  • Crítica | LEGO Batman: O Filme

    Crítica | LEGO Batman: O Filme

    O spin-off de Uma Aventura Lego começa com um Batman convencido que sua luta solitária contra ao crime é a única maneira de lidar com o manto de super-herói. Com muitas citações as aventuras do Homem-Morcego no cinema e a outros produtos da cultura pop, o roteiro de Seth Grahame-SmithChris McKennaErik SommersJared Stern e John Whittington apoia seu humor nessas referências e consegue divertir adultos e crianças. O texto tem também nos seus momentos emotivos, em que o Batman lida com a solidão do manto de herói e a falta que sente de uma família, alias, os melhores momentos do filme, já que as cenas de ação deixam um pouco a desejar.

    No começo da aventura, a aposentadoria do lendário Comissário Gordon abre caminho para Bárbara Gordon implementar uma nova política na polícia da violenta Gotham City: ela está decidida a não mais depender apenas do Batman, mas apoiar a luta contra o crime na união entre cada um de seus cidadãos e homens da lei. É claro que Bruce Wayne tem dificuldades em contar com a ajuda de nossa heroína, assim como teme a proximidade de um novo membro em sua família: Dick Grayson, um órfão que ele adota, meio sem perceber, após uma festa. Com a ajuda de Alfred, o fiel mordomo, que parece sempre ser o esteio do atormentado Bruce, Dick tenta participar ativamente da vida secreta de seu benfeitor, mesmo não conhecendo a identidade real do Batman.

    Mas nem só os heróis reconhecem o mérito da união de forças para otimizar seu poder, o Coringa, que clama seu lugar como arqui-inimigo do  morcego, também busca reforços para provar ao Batman que ele não é só mais um malfeitor em Gotham e, quando não consegue coordenar um ataque somente com os vilões do universo do Cavaleiro das Trevas, busca ajuda de outros grandes vilões que se encontravam presos na zona –fantasma : Voldemort, os Daleks, Godzilla são apenas alguns dos nomes de peso trazidos para ajudar no seu plano para dominar a sombria cidade.

    A já muito explorada relação de identificação e alteridade entre o Coringa e Batman rende boas sequências em que Bruce parece ter uma espécie de discussão de relacionamento com o palhaço do crime, culminando no momento onde ele declara apaixonado: “Eu te odeio!” a um Coringa que aparece a beira das lágrimas de emoção. Um pouco longa, a animação dirigida por Chris McKay perde o fôlego em alguns momentos, mas não deixa de nos fazer sorrir mesmo em suas sequências menos inspiradas.

    Texto de autoria de Mariana Guarilha, autora do blog Miss Bennet. Devota de George R. R. Martin, assiste a séries e filmes de maneira ininterrupta e vive entre o subconsciente e o real.

  • Review | Bojack Horseman – 3ª Temporada

    Review | Bojack Horseman – 3ª Temporada

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    O filme Secretariat foi um grande sucesso, e Bojack retorna aos holofotes. Convites para novos filmes e séries aparecem, a mídia volta a falar dele… mas o cavalo continua vazio. O que Bojack procura?

    A terceira temporada mostra uma aparente transição na vida do cavalo. Na primeira, vimos um ator tentando vencer a enorme montanha do ostracismo – e conseguiu. Na segunda, Bojack estava em dúvidas sobre o que queria fazer de sua vida, e de certa forma conseguiu entrar nos trilhos para isso. Notem que não há certeza de nada. Bojack é o tipo de pessoa que se perde em si mesmo, tem personalidade autodestrutiva e acaba voltando pro buraco. E, cada vez mais, o personagem vai sendo dilacerado, dando um tom extremamente melancólico à série.

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    Não houve mudanças no formato narrativo, o tipo de humor continua, temas pesados aparecendo e as toneladas de referências em segundo plano estão mais fortes do que nunca. Aliás, nesta temporada houve um pequeno excesso dessas referências, nada que comprometa a qualidade, mas que poderá saturar em alguns poucos momentos. Talvez a quantidade de referências nem tenha aumentado, o problema é que já vimos isso em outras duas temporadas. De qualquer forma, na grande maioria dos casos, tais referências são bem utilizadas, às vezes surpreendem pelo cuidado que tiveram em colocar elementos que passarão batidos pela maioria dos espectadores (seja pela referência sutil ou simplesmente por estarem no fundo do cenário em local pouco visível).

    Talvez esta temporada seja a mais ácida e pesada de todas. Temas como o aborto são tratados no limite do sarcasmo, e de forma até corajosa, soando agressiva quase no limite do mau gosto. É algo a ser aplaudido, a série consegue fazer isso muito bem. O ritmo se mantém em todos os episódios, diferente da temporada passada, que na primeira metade foi um pouco travada.

    Um episódio em especial chama a atenção por ser 99% sem falas. As situações psicodélicas e bem intimistas, além de surpreenderem pela qualidade narrativa com excelente utilização dos cenários e linguagem corporal, acabam tirando sarro de si mesmas ao final, dando uma quebra interessantíssima. Foi o episódio mais criativo de toda a série até o momento.

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    O elenco principal de vozes continua o mesmo: Will Arnett, Amy Sedaris, Alison Brie, Paul F. Thompkins e Aaron Paul. Vale elogiar novamente a dublagem brasileira, que manteve quase todas as vozes das temporadas anteriores e trouxe uma qualidade grande nas atuações e adaptações de termos e piadas, mais uma vez não poupando palavrões e termos chulos.

    Bojack Horseman está conseguindo manter a boa qualidade ao longo das temporadas. O cavalo tem comportamentos imprevisíveis que causa muita curiosidade: aonde ele vai parar agindo assim? O final deixou espaço para uma nova temporada, e, pelo andar da carruagem, ainda tem muito material para desenvolver o personagem. Parabéns à Netflix por manter a qualidade.

    https://www.youtube.com/watch?v=VESKjoxAmZg

  • Crítica | Mansome

    Crítica | Mansome

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    Mansome é um filme cuja produção executiva estava a cabo dos atores protagonistas em Arrested Devolopment, Jason Bateman e Will Arnet. Grande parte do humor presente no seriado retorna ao documentário de Morgan Spurlock, que investiga jocosamente a aparência e comportamento masculino, analisando elementos genéricos, a partir de barba, cabelo e bigode. Depois de fazer um trabalho controverso, acusativo e de denúncia em Super Size Me – A Dieta do Palhaço, o alvo seria uma faceta mais leve da humanidade, tratado com normalmente com uma severidade desnecessária.

    O entrevistado que primeiro dedica um tempo minimamente exigido para Spurlock é o diretor John Waters, um homossexual assumido conhecido por seu bigode fino a la Clark Gable. Curioso é que o estereótipo de homem que cuida de sua aparência com tratamentos especiais e afins é ocasionado por espécimes teatrais, por Arnet e Bateman, que interpretam a si mesmos, homens heterossexuais, longe de qualquer estereotipo prévio e preconceituoso que associa o homem cuidadoso com sua estética com um efeminado.

    Paralelo a isto, exibe-se um estilo de vida totalmente baseado em pelos faciais, com sujeitos que cuidam de suas barbas como muitas mulheres costumam cuidar de seus cabelos, cultivando-as para entrar em competições ao redor do globo. Os Estados Unidos começariam a se valer de conceitos comuns a África, de que o homem não “deixaria de ser” homem por começar a decorar a si mesmo, com sprays, tintas, spas, tratamentos de pele, com o uso contínuo além do mainstream do showbusiness. As razões são diversas, desde medo de envelhecer até queda de cabelos e receio de ser menos atraente em relação a caça do belo sexo.

    A busca por entender a mente repleta de testosterona passa por conceitos conservadores e regulares, até a mentalidade puramente misógina, que impede muitos homens de se cuidar mesmo que queiram, por medo de serem associados ao “ser inferior feminino”, resultado da perseguição propagada secularmente e reforçada pelo mercado de trabalho e pelas parcelas mais antigas da sociedade medíocre ao redor do globo.

    Os closes rápidos projetam opiniões diversificadas, de pessoas cujo repertório é completamente diferente, onde o conjunto de impressões visa representar a opinião publica e relacioná-la as práticas de auto-cuidado, feitas pelos homens, desde as mais comuns até as mais esmeradas. A miscelânea de falas distintas exibe uma multiplicidade de pensar e julgar, tanto o homem quanto as mulheres que os desejariam, no caso do heterossexual, sem abandonar o quanto a aparência influencia no cotidiano humano, sejam quais esferas seriam.

    A proposta de Spurlock investiga a superfície do comportamento masculino, não se aprofunda, até por ter na estética seu alicerce, a camada menos profunda da pele e do corpo humano é o alvo. No entanto, os panoramas e assuntos discutidos de modo leve servem bem ao entretenimento e promovem uma discussão, que por sua vez faz o espectador refletir sobre suas próprias ações, além de promover uma avalição de como o público enxerga o papel do homem na comunidade, o que faz colaborar para a análise mundana, especialmente ao focar

  • Review | Bojack Horseman – 2ª Temporada

    Review | Bojack Horseman – 2ª Temporada

    bojack-2-seasonNa primeira temporada, vimos um Bojack Horseman decadente, no ostracismo, querendo reerguer sua carreira e voltar aos holofotes. Para isso, contratou uma escritora-fantasma, Diane, para escrever sua autobiografia. Entre problemas de relacionamento e drogas, Bojack finalmente vê seu livro publicado, que faz grande sucesso. Isso trouxe notoriedade ao cavalo, que já foi escalado para fazer um filme. A partir daí, começa a segunda temporada.

    Esta animação original da Netflix foi uma grande surpresa do ano passado e consegue se manter em bom nível de qualidade. Enquanto que na temporada anterior vimos um Bojack autodestrutivo, nesta teremos um Bojack tentando ser mais humano, repensando sua vida e fazendo o possível para andar na linha. O ator se esforça para buscar aquilo que falta em sua vida, mas que ele mesmo não sabe ao certo o que é.

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    Bojack será o protagonista de um filme sobre Secretariat, um famoso cavalo de corrida. No início, tem dificuldades para encontrar o tom do personagem e chega a questionar suas próprias capacidades de atuar. Será que os nove anos à frente do seriado Horsin’ Around o manteve na mediocridade da atuação?

    O estilo de humor se mantém firme e forte, talvez um pouco mais ácido. As toneladas de referências continuam a pipocar na tela, em sua maioria de forma sutil, em segundo plano nas cenas, uma sacada muito boa que não se torna cansativa. A série não tenta forçar referências bobas para que o espectador médio se sinta inteligente. Ele simplesmente joga a referência. Quem pegar, pegou. Fique de olho no cenário, nos personagens ao fundo, nos acontecimentos ao redor. Verá que a construção das cenas é muito rica, às vezes chega a ser assustadora a quantidade de detalhes que passará batido pela maioria dos espectadores. Isso mostra a qualidade na produção.

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    A temporada se arrasta um pouco na primeira metade. Os pontos desenvolvidos são interessantes, o problema é a falta de ritmo. Porém, a segunda metade engrena de uma forma absurda.

    Grande parte do elenco da primeira temporada retorna. Will Arnnet (Bojack), Aaron Paul (Todd), Amy Sedaris (Princesa Carolyn), Alison Brie (Diane), Paul F. Tompkins (Sr. Peanutbutter), e todos estão muito bem. Alguns nomes conhecidos aparecem, como Lisa Kudrow fazendo a voz da nova personagem Wanda, e uma aparição inusitada e divertida de Daniel Redcliffe interpretando ele mesmo (e tirando um sarro da própria cara). Importante dizer que a dublagem brasileira continua excelente, mantendo o espírito adulto da série, não poupando palavrões e termos grosseiros.

    Bojack Horseman é um favor à cultura pop. Uma animação adulta, repleta de referências que não subestimam o espectador. Nem tudo é extremamente inovador e genial, mas o conjunto da obra é maravilhoso. Quem gostou da primeira temporada pode assistir à segunda sem medo.

  • Review | Bojack Horseman – 1ª Temporada

    Review | Bojack Horseman – 1ª Temporada

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    Em meio a tantas sitcom, a TV americana é brindada, no ano de 1987, com a série Horsin’ Around, protagonizada por Bojack Horseman. O trocadilho infame entre o título da série e o ator principal, aliado à fórmula das comédias da época, garantiu um estrondoso sucesso a Horsin’ Around. E, como é de praxe, após o término do seriado, Bojack caiu no ostracismo.

    Na tentativa de reerguer sua falida carreira, o ex-astro irá publicar uma autobiografia. Para isso, contrata uma “escritora-fantasma”, que irá redigir o livro e dará os créditos de autoria ao próprio Bojack. Esta é a base para a história aparentemente simples desta nova série da Netflix.

    Bojack é um completo idiota. Uma pessoa/cavalo ruim. Odioso. Só faz merda. Vive em escândalos. Trata mal as pessoas. Tem uma vida desvairada regada a sexo e drogas. E o incrível disso tudo: ele tem carisma suficiente para que o espectador goste dele.

    As temáticas adultas se mesclam à estética aparentemente infantil de animais antropomorfizados, criando um paradoxo interessante. Diversos elementos da cultura pop foram parodiados em referência a animais, muitas vezes de forma sutil. Isso prova que a série não quer simplesmente vomitar referências para cativar espectadores.

    O dia a dia de Bojack, acompanhado de sua escritora-fantasma Diane, mostra o quão lixo este astro decadente é. Sua empresária e ex-namorada, Princess Carolyn (sim, este é o nome desta personagem mulher-gato-rosa), faz o possível para tentar reerguer a fama de Bojack, mas não abandona seu lado mercenário. O amigo (?) Todd Chavez, com sua ingenuidade, é um bom contraste para a personalidade arrogante de Bojack. E todos os personagens são muito bem trabalhados e com características particulares.

    Will Arnett (Arrested Development) e Aaron Paul (Breaking Bad), além de produtores da série, dão as vozes a Bojack e Todd. Dentre o elenco de dublagem, temos diversas figuras já conhecidas, como Alisson Brie (Community) e Stanley Tucci (O Terminal). A dublagem brasileira também possui muita qualidade, sendo uma boa opção para quem não quer encarar as legendas.

    Bojack Horseman foi uma grata surpresa. Apesar de alguns clichês, o roteiro é muito bom e tenta fugir do óbvio, inclusive com situações pouco puritanas. Bojack é um ótimo anti-herói e, apesar dos pesares, causa empatia suficiente para que o espectador torça por seu sucesso. Esta primeira temporada criou um belo pano de fundo para desenvolver ainda mais a história. Uma animação para adultos altamente recomendada.

  • Crítica | As Tartarugas Ninja (2014)

    Crítica | As Tartarugas Ninja (2014)

    Desde que saíram as primeiras notícias sobre o reboot da franquia de As Tartarugas Ninja no cinema, muito se falou sobre as possíveis alterações que os personagens sofreriam de acordo com sua origem nos quadrinhos, em possibilidades que passaram até tratando os protagonistas como sendo alienígenas. Porém, o medo de muita gente foi simplesmente ver associado ao projeto, como produtor, o famoso e explosivo Michael Bay. Para o bem ou para o mal, características marcantes de sua criação estão nessa nova adaptação das Tartarugas para o cinema, dirigida pelo sul-africano Jonathan Liebesman (Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles e Fúria de Titãs 2).

    O filme começa contando a história da jovem repórter do canal 6, April O’Neil (Megan Fox) e seu companheiro de trabalho Vernon Fenwick (Will Arnett). Ela é responsável somente por reportagens fúteis sobre beleza e saúde, mas luta para ser levada a sério como jornalista, enquanto ele quer aprofundar sua relação com April, tentando fazer com que ela se sinta melhor sobre o que faz. Enquanto isso, a cidade de Nova Iorque é assolada por ataques de bandidos do chamado “Clã do Pé”, no que o megaempresário Eric Sacks (o eterno coadjuvante William Fichtner) se compromete a ajudar. April presencia um roubo do Clã que é interrompido por criaturas fortes e velozes, que se assemelham a tartarugas. Após mostrar sua teoria para a chefa do jornal (em uma interpretação de Whoopi Goldberg em piloto automático), é ridicularizada e por isso decide conseguir provas da existência dos heróis misteriosos. Para isso, vai até uma estação do metrô que está sendo atacada pelo Clã (e que estava convenientemente perto) e lá consegue registrar os heróis que se apresentam como Rafael (Alan Ritchson), Michelangelo (Noel Fisher), Leonardo (Pete Ploszek com voz de Johnny Knoxville) e Donatello (Jeremy Howard).

    Tecnicamente, a captura de movimentos aperfeiçoada pela IL&M é bastante competente em criar os movimentos das tartarugas e os fazerem parecer reais a todo o tempo, assim como suas expressões faciais. Nas cenas de ação a naturalidade dos movimentos também dá um salto em relação a outras produções semelhantes. Essa tecnologia de captura de movimento tem tudo para pautar a indústria no futuro.

    Porém, somente a competência da tecnologia não sustenta um filme. Se os movimentos das tartarugas são naturais, da trama não se pode dizer o mesmo. Um vício muito comum no cinema atualmente, em especial nas produções de Michael Bay, é, além da infinidade de cortes secos e rápidos, as várias sequências de ação, cada uma com um clímax próprio, o que tem o objetivo de mantê-lo ligado 100% no filme sem pausa para respirar, mas acaba na verdade anestesiando e tornando-o insensível a outras camadas possivelmente existentes na trama.

    Mas, se em outros filmes isso é um problema, em As Tartarugas Ninja não é, simplesmente porque não existe nenhuma outra camada além da principal, que é a mais simplificada e direta possível, na cara do espectador. Se tanto nas HQs originais quanto nos filmes antigos as mutações que deram origem aos protagonistas eram meros acidentes sem ligação entre os diferentes núcleos de personagens, na nova adaptação ela é fruto de pesquisas genéticas onde o pai de April O’Neil era um dos encarregados, e ela ganha uma importância maior, porém artificial e desnecessária, ao ser a responsável por salvar as cobaias e salvá-las… jogando-as no esgoto de Nova Iorque (!). E tudo isso é explicado em uma narração pelo Mestre Splinter (Danny Woodburn com voz de Tony Shalhoub).

    A protagonista, aliás, é um dos principais problemas do filme. Megan Fox não é uma boa atriz. Não é nem uma atriz mediana. Se em outras produções ela não comprometia por fazer o papel de “sexy”, sua atuação é deplorável e a câmera parece sempre estar mais preocupada em pegar seu melhor ângulo (em seu cabelo que nunca desarruma e maquiagem que nunca borra) do que com o filme. Dito isso, a mistura da motivação de April com a das Tartarugas, de todos terem uma origem em comum em suas infâncias ao invés de serem estranhos que se conhecem e evoluem em uma relação juntos, não garante absolutamente nada a mais na trama. Pelo contrário, exige uma crença muito grande do espectador para que todos eles se encontrassem no futuro daquela forma, quase sobrenatural.

    A ameaça principal, o Clã do Pé, possui em seu líder, Destruidor (Tohoru Masamune), seu principal agente. Em uma virada nada surpreendente, ficamos sabendo que Sacks na verdade é discípulo do Destruidor, que quer espalhar pela cidade um composto em forma de gás que irá causar doenças em toda a cidade, e eles precisam do sangue das tartarugas ninja para sintetizar o antídoto, e assim vender a cura para a doença e se tornarem líderes mundiais.

    Mas, para dois terroristas que agem nas sombras, a escolha da antena do próprio prédio dos laboratórios Sacks para dispersar o composto químico parece no mínimo estranha (além de lembrar muito a trama de O Espetacular Homem-Aranha). A caracterização da armadura do Destruidor (que também lembra demais o Samurai de Prata de Wolverine: Imortal) o torna uma ameaça robótica um tanto quanto artificial, que enfraquece o fato de o Destruidor ser o mestre de artes marciais estabelecido em uma cena anterior. Somente um ser humano usando uma vestimenta caracterizada talvez funcionasse melhor. Essa e outras falhas do roteiro (April só consegue tirar uma foto das Tartarugas enquanto fogem porque elas devolvem seu celular e apagam todas as fotos que tinham tirado antes, tendo assim “resolvido o problema”…) acabam sendo irritantes para qualquer pessoa que preste atenção e se importe com a história.

    Mas, por se direcionar a um público infanto-juvenil, As Tartarugas Ninja decide focar mais nas piadas e referências à cultura pop, o que garante risadas em diversas situações, o que sempre foi uma característica marcante dos personagens. Porém, dificilmente uma criança ou adolescente irá conhecer coisas citadas, como Lost. Outro fator que interfere na própria proposta humorística do filme é a inserção de uma temática “dark” e realista na hora de expor alguns elementos da história, tornando o ritmo do filme confuso.

    As Tartarugas Ninja funciona muito bem para um determinado tipo de público, pois oferece duas horas de diversão literalmente explosiva e simples (para não dizer simplista). Não ofende a memória dos personagens e cumpre o que se propõe, especialmente no quesito “ganhar dinheiro”, mas todas as suas qualidades acabam ficando por aí. Uma pena, pois Donatello, Leonardo, Rafael e Michelangelo mereciam coisa melhor.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | As Tartarugas Ninja (2014)

    Crítica | As Tartarugas Ninja (2014)

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    As Tartarugas Ninja fazem parte da cultura pop há, pelo menos, 20 anos. Criadas nos quadrinhos em 1984 por Kevin Eastman e Peter Laird, as quatro simpáticas tartarugas ganharam mais notoriedade no final dos anos 80 com um desenho animado que perdurou por nove anos, só perdendo em longevidade para Os Simpsons. O sucesso cartunesco rendeu três adaptações para o cinema, sendo que o primeiro filme de 1990 foi a película independente de maior sucesso na história, na época. Também foram responsáveis não só pelo sucesso na tela, mas também em outros segmentos, como o de brinquedos e o de jogos de videogame. Quem não se lembra do clássico jogo de fliperama?

    Após o sucesso na década de 90 e com o encerramento do desenho animado, a franquia nunca saiu dos holofotes e mesmo após o fracasso do seriado em live action, que buscava emular o ambiente apresentado nos filmes, ainda buscou fôlego num novo desenho animado que foi ao ar por mais seis anos. Mas as tartarugas só voltaram ao mainstream em 2012, quando a rede Nickelodeon investiu pesado na franquia com uma nova animação, buscando o sucesso do desenho da década de 90.

    Se aproveitando disso e explorando a fase de remakes e reboots no cinema, o diretor Michael Bay, por meio de sua produtora Platinum Dunes, em parceria com a própria Nickelodeon, decidiu trazer As Tartarugas Ninja mais uma vez ao cinema. De início, foi uma notícia que agradou a todos os fãs da franquia. “De início”, porque, durante a produção do filme, percebia-se que Bay tinha sua própria visão a respeito de como seriam as tartarugas, cometendo a heresia de anunciar que elas, na verdade, seriam alienígenas em vez de mutantes. Tal notícia causou tanta histeria na internet que houve ameaças de morte e petições.

    Bay é um dos poucos diretores que mantêm contato direto com seus fãs e também é um dos poucos que ouvem as reclamações. Mas sem deixar o orgulho de lado, optou por se afastar da direção e trazer um diretor de sua confiança, Jonathan Liebesman, que entregou um filme que os fãs queriam, ou quase isso. Pelo menos chegou perto disso, ou não. Talvez…

    O motivo de tanta confusão (proposital) ao final do parágrafo acima é que As Tartarugas Ninja consegue ser um ótimo filme em certos quesitos e um péssimo filme em outros. Os pontos negativos são sempre os mesmos: o péssimo hábito que Hollywood adquiriu em explicar suas tramas detalhe por detalhe, além de atribuir conexões ridículas aos personagens.

    Dito isso, o filme é sobre a história da jovem repórter do Canal 6, April O’Neil (Megan Fox, de jaqueta amarela), que tem a ambição de se tornar uma repórter investigativa  em vez de ficar fazendo insignificantes matérias de fitness , juntamente com seu câmera, Vernon Fenwick, vivido por Will Arnet, um dos destaques do filme. April é uma jovem xereta que busca a todo custo descobrir quem está por trás do combate ao Clã do Pé, uma organização criminosa que assola os nova-iorquinos e que é comandada pelo Destruidor (Tohoru Masamune). O objetivo da moça é provar à sua chefe, Bernadette Thompson (participação especialíssima de Whoopi Goldberg), que um vigilante está atuando na cidade e combatendo o Clã do Pé sozinho.

    Uma dessas investigações de April a coloca frente a frente com Leonardo (Pete Ploszek, dublado por Johnny Knoxville), Raphael (Alan Ritchson), Michelangelo (Noel Fischer) e Donatello (Jeremy Howard), numa cena muito divertida. Porém, ninguém acredita que o combatente do Clã do Pé é, na verdade, quatro tartarugas que são adolescentes, mutantes e ninjas. Tamanho absurdo resulta na demissão de April, que acredita que os mutantes são resultado do Projeto Renascença, algo que seu pai – que está morto – desenvolvia juntamente com Eric Sacks (William Fichtner). A demissão da jovem repórter faz com que a personagem vá atrás atrás de Sacks para revelar que o projeto, de alguma forma, deu certo.

    O problema é que, quando as tartarugas não estão em cena, o filme não rende nem um pouco. Não há nenhum atrativo, nada que prenda o espectador, e você chega até a rezar pra que elas apareçam.

    E quando elas aparecem, dão show. Muito show. Não há uma cena chata sequer. O bacana é que, como dito no início do texto, elas fizeram e ainda fazem parte da cultura pop e, no filme, elas vivem isso. Michelangelo ama os virais da internet, indo à loucura ao ver o vídeo daquele gato tocando piano. Raphael, ao abordar April pela primeira vez, busca imitar o Batman de Christian Bale e é zoado pelos outros.

    Pouco foi mexido no intelecto das tartarugas, mas muito foi mexido no visual, que é espetacular. Créditos pela captura de movimentos desenvolvida em Avatar. Leonardo continua sendo o líder sereno que sempre foi. Raphael é o esquentado da turma, não gosta da liderança de Leonardo e de longe é o maior e mais forte do bando. Donatello, possivelmente, é o que sofreu mais alterações. Sendo o nerd/geek da turma, ele usa óculos de grau e uma mochila, parecida com a dos Caça-Fantasmas, com alguns aparatos tecnológicos. Além de conhecimentos de informática, ele também entende bastante de Medicina. Contrastando com os outros, ele é o mais magro. Já Michelangelo é aquele brincalhão que todos nós conhecemos. Não se leva a sério, é apaixonado por April e se acha lindo. E o último, não menos importante, é lindamente asqueroso. O Mestre Splinter é feio, mas tão feio que provavelmente alguma criança terá pesadelos na hora de dormir. Com a captura de movimentos feita por Danny Woodburn, Splinter – dublado por Tony Shalhoub, o Monk , apesar de já possuir certa idade, é muito habilidoso e talvez lute até melhor que seus discípulos. Sim, no filme ele vai pra guerra quando necessário e não tem como não lembrarmos do Mestre Yoda.

    Uma pena o Destruidor ser mal trabalhado. Sua única ameaça é a armadura que usa, a qual pode colocá-lo facilmente como um vilão do Homem de Ferro. Contudo, faz sentido, porque as tartarugas são muito fortes, sendo necessário um vilão que demonstre certa imponência, e a armadura causa esse efeito.

    Enfim, é um filme que possui erros preguiçosos (o que é comum), mas não decepciona nas piadas e nas cenas de ação. De qualquer forma, prepara terreno para uma continuação que poderá ser mais completa e elaborada, já que não vimos nenhum personagem secundário e querido pelos fãs, como é o caso de Casey Jones.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.