A trama de Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars começa em Husavik, na Islândia, no ano de 1974, onde uma família celebra alegremente uma reunião familiar, enquanto o pequeno Lars se sente sozinho, por conta da ausência de sua mãe. Aos poucos é mostrado que ele é um sujeito menosprezado pelos seus, exceção feita a jovem Sigrit. Aqui, se percebem rusgas com Erick Ericksson (Pierce Brosnan), seu pai, além do desejo de ser levado a sério e vencer a competição Eurovision Song Contest.
O longa de David Dobkin é mais uma produção onde Will Ferrell vive seu personagem clássico, o homem ingênuo e subestimado que tenta ganhar notoriedade. Com menos de dez minutos se estabelecem os sonhos de grandeza e glamour do protagonista, além de uma parceria (e amor platônico) junto a bela e talentosa Sigrit, de Rachel McAdams, e como de costume, somos apresentados ao fracasso que ele é.
O choque geracional é muito presente, Lars e Erick seguem tendo atritos quando adultos, muito por conta da natureza turrona da figura paterna, um homem simples, pescador, que tira seu sustento do trabalho duro, enquanto seu filho é mole e tenta seguir o sonho artístico juvenil que jamais foi rentável. A chance que a banda de Lars tem seria vencer o festival para que seu país fosse sede no ano seguinte.
Dobkin junta sua experiência em conduzir comédias como Bater ou Correr Em Londres e Penetras Bons de Bico, além da tradição que tem como realizador de videoclipes para empregar um humor pastelão, preocupado em dar voz às minorias unido a elementos típico dos musicais.
Toda a trajetória da dupla de protagonistas passa por percalços, desde o receio em ser encarados como piada, até a escolha de Lars pelo celibato por conta da dedicação à música. Mesmo que o filme não se leve a sério existe um número considerável de mensagens de aceitação e tolerância que não soam deslocadas do resto da obra.
Há no filme um caráter semelhante a Zoolander, em especial no que toca a sexualidade de alguns personagens, como o Alexander Lemtov (Dan Stevens), o cantor russo que atravessa o caminho do quase casal Lars e Sigrit. Toda a cor, o glamour e as luzes denotam o quanto a dupla estava certa em insistir no sonho que nutriam ao longo da vida, apesar de todas as circunstâncias e bom gosto bradarem contra isso. Ferrell normalmente faz filmes bobos e toscos, e esse é mais um deles, mas ainda assim possui um diferencial, algo mais lúdico e mágico. O roteiro de Ferrell e Andrew Steele consegue variar bem entre a comédia rasgada e os momentos de celebração e aceitação soando como uma celebração dos frágeis e excluídos.
Apesar do nome diferente, Um Duende em Nova York trata de elfos, e começa com uma apresentação do Papai Elfo, interpretado por Bob Newhart, falando a respeito dos três trabalhos que cabem aos seres dessa raça, que vem a ser: fazer sapatos a noite enquanto o sapateiro dorme, fazer biscoitos em árvores, e o emprego das elites, fabricar brinquedos no ateliê do Papai Noel. O especial infantil com roteiro de David Berenbaum tem uma apresentação animada, que mostra vários desses seres lidando com as festividades de natal.
No Brasil, convenciona chamar os seres pequenos de duendes ou gnomos, até para diferenciar o “elf” dos elfos de J.R.R. Tolkien em Senhor dos Anéis, seres poderosos e imortais, diferente dos quase pigmeus das fábricas do Papai Noel. Logo, aparece Buddy, um humano que nasce no Polo Norte e que é adotado por Noel logo cedo, e que é treinado para ser um elfo. Ele cresce e se torna o astro de comédia pastelão Will Ferrell, cujo humor escatológico o faz um não candidato a contos infantis, naturalmente, mas curiosamente, ele casa bem, principalmente por conta do dueto que faz com o narrador Papa.
Logo o paradigma do filme muda, quando Buddy é incumbido de procurar seu pai, Walter (James Caan), na cidade de Nova York, um homem de negócios importante que não tem tempo para ele e nem para ninguém. Nesse meio tempo, ele trata de andar pela metrópole, interpretando o perfeito idiota que normalmente faz, e o palco de seu novo emprego é perfeito cenário para esse teatro dele.
O fato de Buddy ser completamente alheio a tudo o faz parecer uma criança, sua alienação não o faz estranhar, por exemplo, o fato de andar com roupas élficas o tempo todo. As loucuras como as guerrs de bola de neve não o fazem estranhar, ao contrário, ele é especialista nesse tipo de conflitos. Por não entende ironia, sarcasmo ou qualquer coisa que o valha, o elfo simplesmente não tem capacidade de compreensão para perceber como funciona o rito do natal ensaiado nos shoppings, quando se fala que haverá um Papai Noel ele acredita que é O Original, e toda essa literalidade gera ótimos momentos no filme. A aproximação que o personagem central tem dos seus rivaliza com a magia da fantasia realista que se estabelece em torno dos personagens natalinos, e o modo como Favreau apresenta esses aspectos lúdicos são muito bonitos, contendo tudo o que Meu Papai é Noel tentou estabelecer ao longo dos seus múltiplos filmes, com pouquíssimo tempo de tela.
Tudo que envolve os momentos finais é bem bonito e grotesco em simultâneo, a variação entre o mágico e o escrachado funciona de maneira singular. Buddy alcançar seu intento, de ser um bom auxiliar da festa natalina, a sociedade lida bem com a realidade de que o Papai Noel existem e até os números musicais fazem sentido. Há alguns problemas com a computação gráfica, principalmente nas renas que fazem o trenó voar pela cidade símbolo dos EUA, mas o filme sabiamente não foca muito nelas, deixando com que Ferrell e seus colegas de elenco capturem a atenção das crianças e dos demais espectadores.
Um Duende em Nova York é quase como um anti Grinch, e curiosamente guarda bastante semelhanças com o humor ácido dos livretos do Dr. Seuss, embora seja mais para o público geral que os livros infantis do autor citado, e tenha um caráter mais generalista, mas ainda assim contém uma mensagem otimista bem bonita e que foge da ideia materialista do natal, mesmo com os presentes sendo um objeto bem importante de sua trama, mesmo sendo uma ode a glutonaria tipica das festas de fim de ano, mesmo sendo focado num personagem que claramente sofre de retardos mentais.
Filme de 2008, protagonizado por Will Ferrell e dirigido por Kent Alterman, Os Aloprados se passa em 1976 em Flint, cidade do estado de Michigan, focado no famoso e decadente cantor Jackie Moon, que após o grande sucesso de um hit seu, comete uma extravagância enorme, que é comprar seu próprio time de basquete, o Flint Tropics, se tornando o técnico da franquia, além de jogador. Já no início há uma apresentação dos Tropis com uma musica do mestre de cerimônias, onde ele desdenha de cada um dos membros do seu time, para logo depois começar o vergonhoso certame.
Os Tropics fazem parte de ligas amadoras, que servem basicamente para chacotas, e para o protagonista vivido por Ferrell tentar brilhar, ainda que seja um dos piores entre os nada habilidosos jogadores de seu time. Aqui, se percebe que o time semi profissional (o nome original é Semi Pro) é feito para vaidade de seu dono, para sofrer chacota dos narradores e comentarista, Dick Pepperfield (Andrew Daly) e Lou Redwood (Will Arnett), e para de vez em quando o comerciante Clarence Downtown Malone (Andre 3000 Benjamin) brilhar, já que quando era novo já havia jogado.
Os comentários dos especialistas são ácidos, e o humor do filme passa por comentários pejorativos respeito da elite financeira dos Estados Unidos. O papel do perfeito idiota que Ferrell sempre faz serve para desconstruir a ideia de que os empresários endinheirados são pessoas inteligentes e com a cabeça no lugar, nesse caso, é um velho entediado, impotente, casado com uma mulher que não o ama e que o trai o tempo todo, ou seja, um pastiche dos homens brancos poderosos dos EUA que se julgam superior a todos por ter algum dinheiro.
Uma nova regra é estabelecida, a liga ABA – onde os Spirits jogam – será incorporada a NBA, e quatro franquias irão para o campeonato nacional, enquanto as outras serão extintas, e isso faz com que o time de Jackie corra risco de extinção, fato que o deixa triste. Todas as cenas de reunião para se decidir o destino dessas quatro vagas é extravagante ao extremo, não só pelo estouro emocional de Moon, mas também pela participação de outros comediantes, como David Koechner .
O roteiro de Scot Armstrong não guarda surpresas, os fatos se desenrolam rapidamente, e o treinador Monix é contratado, sendo feito por Woody Harrelson (que aliás, faz uso de uma peruca terrível), é impressionante como o script dá vazão a momentos grotescos e engraçados, seja nas brigas vaidosas entre os integrantes dos Spits, ou no fato deles se utilizarem de todo tipo de tática para vencer, seja entrando na mão, ou utilizando rímel nos olhos para assustar os outros times, fato é que Jackie é querido por todos, mesmo quando age de maneira infantil, ou quando é contrariado e ameaça a família do juiz. Há qualquer coisa em seu carisma que o faz ser amado pela maioria das pessoas, mesmo que sua música seja terrível, mesmo que seus métodos também não sejam grandes coisas.
Mesmo sendo uma comédia escrachada, há pontos bem maduros no filme, com direito a lições de moral e desconstrução de mitos a respeito de ex campeões da NBA. Por mais grotesco que seja assistir humoristas e atores veteranos usando camisa regata e shorts curtos, é impossível não achar genial toda a besteirada apresentada ali, principalmente por representar a maioria das presepadas feitas por treinadores e dirigentes, ainda que de forma mega exagerada e irrealista. Ainda assim, boa parte dos treinos táticos apresentados na metade final do filme correspondem a realidade, e o fato dos Spirits mal sobreviverem com a implementação desses momentos impressiona.
A fotografia de Shane Hurlbut garante momentos de beleza ímpar, ressaltando as cores aqui, que nessa abordagem ficam muito bonitas. Até o uso de tons pastéis e de tonalidades pouco utilizadas tanto em filmes blockbusters quanto em times de basquete, já que laranja e azul quase não funcionam juntos, ainda assim, aqui há um certo charme, fazendo com que os excluídos e ignorantes ganhem os holofotes de alguma forma, nem que seja para demarcar o quão são derrotados e o quanto podem crescer, dentro do pensamento motivador e positivista que Monix impõe.
Tal qual ocorre com Escorregando Para Gloria e Ricky Bobby – A Toda Velocidade, Aloprados se destaca por apelar para um humor auto depreciativo bizarro. As piadas com infidelidade conjugal e com o fetiche do corno em compartilhar suas senhoras se expande para mais de um personagem. Em alguns pontos não se sabe minimamente qual estranheza aparecerá em tela, e isso não ocorre só com Jackie, mas com quaisquer outros personagens. Até luta com animais selvagens ocorre, sabe-se lá porque razão.
A versão Unrated faz o filme soar ainda mais estranho e sem freios, e é uma pena que ele seja tão subestimado e tão pouco lembrado. As tomadas e ângulos escolhidas por Alterman são curiosas, mostram uma Michigan bela e inspiradora, apesar de não ter a mesma pompa. Os momentos finais tratam de demonstrar de maneira categórica o motivo pelo qual a cidade de Flint e seus cidadãos amam tanto Jackie, pois ninguém se esforçou tanto para fazer a cidade entrar no mapa do basquete norte-americano.
Dentro da loucura que é o jogo final, contra o San Antonio Spurs, Moon acaba inventando a ponte aérea, o famigerado chute da vovó (grandma shoot) que Jackie faz, acompanhando do ângulo completamente constrangedor de sua virilha suada é um bom resumo do que Aloprados oferece ao seu espectador, escondendo uma historia de desajustados carentes com um visual e abordagem arrojada demais para as comédias pastelão típicas de Will Ferrell, além é claro de valorizar demais o esporte que é o basquete, mostrando ele como o principal objeto de adulação do país norte americano, além de ser o catalisador de oportunidade de pessoas comuns brilharem como ídolos nacionais.
Comédia de Liz Feldman, a primeira temporada de Disque Amiga Para Matar começa mostrando a personagem Jen Harding (Christina Applegate) recebendo apoio de uma vizinha e sendo bem grossa com a mesma, ao falar de seu luto, pois acabou de perder seu esposo, atropelado. O luto e a perda são tratados de uma maneira semelhante ao que se viu na 1ª Temporada de After Life, ainda que a identidade seja completamente diferente do que Ricky Gervais faz, até por conta do escopo em que se baseia, voltada par uma amizade feminina.
Jen tem verdadeira obsessão com carros batidos, ela tenta a todo custo encontrar por si mesma a identidade de quem matou seu esposo, e entre os afazeres de mãe e corretora de imóveis, ela encontra com Judy Hale (Linda Cardellini), outra maníaca depressiva que afirma ser viúva e que a faz ir a um grupo de apoio e reabilitação. A amizade entre as duas não demora a de desenrolar, e isso causa suspeitas, que são desbaratadas ainda no piloto, aliás, fato que faz a série parecer madura. Elas descobrem hobbies e gostos em comum, se decepcionam entre si, e percebem as mentiras e engôdos que cada uma das duas carrega, incluindo segredos bem sórdidos.
A estranheza no comportamento das duas mulheres é evidente, nenhuma amizade se torna tão forte e intensa sem motivos, e já no piloto se revela porque uma se aproximou da outra. Neste momento, impressiona bastante o quão complexada é Judy, ela se vê como alguém inferior, principalmente por conta de sua antiga relação com Steve (James Marsden), e é bizarro como o tom de humor negro funciona de maneira fluída, mérito é claro de Feldman, que escreveu algumas séries entre elas sendo 2 Brooke Girls a mais famosa, e claro, os produtores associados Will Ferrell e Adam McKay, que mesmo interferindo pouco na boa historia que Feldman conta, emprestaram seu prestígio para um comédia bem mais dedo na ferida do que a filmografia compartilhada dos dois normalmente traz.
O sorriso que Cardellini coloca em tela faz com que pareça insana sua insegurança. Isso casa bem com as mentiras frágeis que ela dá e claro, com o comportamento resoluto da personagem de Applegate. Mesmo com poucos capítulos (10, com duração em torno de 30 minutos) o elenco tem tempo para desenvolver suas pequenas características e a identidade própria de cada um. O toma lá da cá sentimental envolve as esferas profissionais das mulheres, e o cuidado para revelar bem aos poucos os segredos dessa primeira temporada faz com que o seriado soe como um belo pastiche de thrillers.
O caso da morte do marido de Jen deixa claro a dúvida das mulheres, se ele não é resolvido por conta da morosidade das autoridades, por conta da falta de provas, ou culpa da postura da vingadora de Jen, ou mesmo por uma soma dos dois fatores, e essa dúvida faz a temporada soar ainda mais charmosa. Os episódios mostram as garotas evoluindo seus quadros emocionais, aprendendo a liberar seu espírito livre e até sua libido. Aos poucos elas se envolvem amorosamente com outras pessoas e vão chegando perto da verdade a respeito do trauma.
A forma que as duas lidam com novos sentimentos, como repulsa ou culpa é impressionante. A série fala principalmente sobre a dificuldade de lidar com a rejeição, e mesmo quando soa óbvio, há um cuidado para não deixar o roteiro soar artificial. O final varia bem entre o melodrama e o agridoce, é uma pena que haja uma prévia do destino dos personagens no titulo do seriado (chama Dead To Me no original), mas seus perto do fim há muito surpresas e um baita gancho, que faz essa Disque Amiga Para Matar um programa divertido, carismático e que casa bem com as famigeradas maratonas dos serviços de streaming.
Paródia escrachadíssima sobre o universo fashion dos super-modelos, Zoolander é um filme dirigido, estrelado e produzido por Ben Stiller. Os primeiros minutos apresentam um complicado cenário político baseado na paranoia típica das histórias de espionagem, escondendo os personagens poderosos sob cenários sombrios e silhuetas que discutem o futuro da humanidade, que, por sua vez, jaz na futilidade.
A figura ideal para se infiltrar na misteriosa questão deveria ser alguém poderoso, chamativo e igualmente ignorante, é neste ponto que entra a figura de Derek Zoolander (Stiller), que faz um modelo no auge de sua carreira, que basicamente, se prepara para uma nova pose, chamada de Magnum, tão importante que é guardada a sete chaves, longe da espreita dos tabloides. A surpresa ocorre pela perda do título de maior top model, sofrendo, a partir daí, uma intensa crise de identidade, sem caminhos para traçar. A dor da substituição é tão grande que o artista aparenta não ter mais um rumo para seguir, destacando-se o grande vazio existencial que já o consumia, mas que não era perceptível graças à fama infinita que o rodeava.
Na tentativa de se reconstruir, Derek procura seu pai, Larry (John Voight), trabalhando junto com ele como minerador, apesar de sua incrível incapacidade de carregar peso ou de realizar qualquer trabalho que demande esforço manual. O choque ocorrido com ele faz ele se enxergar como um pária em ambos os ambientes familiares que conhece, o que o torna alvo fácil para propostas indecentes, vindas da figura que mais se aproxima de um vilão nesse jocoso e debochado cenário, com o estilista Mugatau, interpretado por um Will Ferrell que varia entre o exagero extremo canastrão e afetação ponderada, em uma caricatura de uma rainha má e megera dos clássicos contos de fada de Disney. A trama em si envolve um terrível caso político, com a possibilidade de assassinato de um diplomata estrangeiro.
Toda a graça do filme está nas palhaçadas interpretadas por Derek – que sequer sabe quantas sílabas possui seu nome e sobrenome – e seus rivais, Hansel (Owen Wilson), seu principal antagonista no mundo fashion, igualmente encantador, ao menos de acordo com os padrões imbecis e banais estabelecidos pelo roteiro de Stiller, Drake Sahter e John Hamburg além, claro, da figura de Mugatu e seus sidekicks. As piadas funcionam basicamente por fazer troça com um ambiente onde a idolatria é o lugar comum, levando em conta piadas que remetem a um nível de pensamento bastante baixo, desconstruindo o objeto de adulação de uma indústria que lucra bilhões de unidades monetárias, usando de gags cômicas das mais bobas para mostrar um argumento inteligente, apesar da fala simplória.
A cena de disputa entre Zoolander e Hansel rivaliza com a lavagem cerebral que o protagonista sofre, para se tornar alvo fácil da estranha missão que lhe é incumbida. A quantidade de participações especiais é enorme, indo desde David Duchovny, como um ex-modelo de mão tão paranoico e ansioso quanto seu Fox Mulder, e David Bowie, que faz a si mesmo como juiz da disputa entre os dois astros. O papel mais significante entre as pessoas ditas normais é da repórter Matilda Jefferies (Christine Taylor), que evidentemente tem problemas com sua aparência, por ter sido uma pessoa obesa no passado e ter sofrido com bulimia.
Zoolander consegue reunir pastiche com um estilo de vida extravagante e extremamente sexual, sem apelar para nudez ou para qualquer proximidade da dita “vulgaridade”. O filme desconstrói a superioridade normalmente atribuída aos mais belos homens do planeta, mostrando-os como bárbaros incapazes de tarefas simples, como ligar um computador desktop. Stiller consegue elevar um personagem, que não tinha ido além de dois curtas bastante tímidos, ao patamar de herói de um filme que trata com esperteza um mundo repleto de conceitos e certezas superficiais, através de uma mensagem simples e não panfletária, mesmo com toda a acidez eufemística presente no argumento.
Lançado quinze anos após o sucesso do primeiro filme, Ben Stiller resgata Derek Zoolander do ostracismo, começando seu Zoolander 2 com a mesma cena que abre o trailer que fez sucesso internet à dentro, mostrando o assassinato do astro Justin Bieber, postando sua foto póstuma no Instagram. É neste aspecto que mora um dos piores defeitos do longa, já que grande parte das boas piadas são entregues no material de divulgação, e não são bem desenvolvidas no decorrer da exibição.
A intenção de Stiller é em reverenciar seu colega Drake Sahter, morto em 2004, ressuscitando sua co-criação em mais uma tentativa de revival esbarra em uma inspiração bastante fraca. O ex-modelo está no ostracismo, tendo todo seu hiato explicado através de um flashback curto, que visa atualizar o público e inserir o personagem em uma outra época. O anacronismo dos habitantes daquele antigo micro verso até funciona como piada, ainda que não sustente todo um filme sozinho. O chamado à aventura, ocorrido através de uma participação bastante engraçada de Billy Zane faz encontrar Derek e Hansel (Owen Wilson), que não se encontravam desde o acidente que mudou por completo a vida de ambos.
O conflito de inimizade entre os dois fashionistas, visto no primeiro capítulo, é substituído por uma mágoa profunda, que faz ate perguntar qual era a intenção do texto de Stiller, John Hamburg, Nicholas Stoller e Justin Theroux, já que as melhores sacadas ocorre com Hansel, e não com o personagem titulo. O roteiro é confuso, escrito a oito mãos, fator que ajuda inclusive a explicar a demora em lançar em circuito comercial, gerando até a ácida comparação metalinguística, quanto a dificuldade de Zoolander em se adaptar aos novos tempos.
A tentativa de fazer o drama engraçado ir para outro nível, atingindo camadas de evolução à vida adulta, com responsabilidades familiares esbarra em um texto muito confuso, que não consegue harmonizar sequer as participações especiais, ponto alto da outra versão. Sequer as personagens Valentina Valencia (Penelope Cruz) e Alexania Atoz (Kristen Wiig) conseguem fugir da mediocridade ultrapassada, com poucos momentos de um humor que supere os defeitos de mediocridade. A maioria das surpresas positivas, inclusive dessas personagens, já foram utilizadas nos ultimos trailers, fator que quebra o impacto destes momentos, claramente em uma tentativa desesperadas dos produtores em resumir tudo que havia de bom no filme nos teasers.
A franquia deixa o arquétipo de comedia histericamente risível para se tornar uma auto parodia, uma escolha que tenciona ser corajosa, mas que resulta em um produto pífio. Ao mesmo tempo em que Stiller é generoso com seus colegas, em especial com Wilson e com o antagonista Jacobim Mogatu de Will Ferrell, falta uma direção mais ativa, fator que faz perguntar inclusive o motivo de Stoller não ter o feito, já que escreveu parte do roteiro e vinha de boas empreitadas, com Vizinhose Cinco Anos de Noivado, explicado somente pelas dificuldades de agenda e talvez pela insistência de Stiller.
Não há reprise dos momentos que fizeram do primeiro filme uma diversão descompromissada que surpreendia por um sub texto sagaz e debochado, o que é uma pena, já que Zoolander 2 não convenceu o público, mesmo com a onda nostálgica que afetou Hollywood recentemente, aproximando este muito mais do pouco elogiado Debi e Loide 2 do que há Tudo Por Um Furo, que conseguiu reverenciar e apresentar algo novo. A partir destes defeitos, é natural entender a baixa bilheteria, que reflete a falta de sincronia com a atualidade.
O novo filme de Will Ferrell se baseia na diferença etimológica entre o pai e o papai (father e dad, no original), basicamente estabelecendo a distância entre a maneira formal e carinhosa de se tratar a figura paterna. Ferrell faz o papel de Brad Whitaker, um homem que, após um acidente, perde a capacidade de ser fértil, e para compensar tal condição assume o papel de chefe familiar dos Mayron, ao casar-se com Sara (Linda Cardellini), tentando a duras penas criar os dois filhos do antigo casamento de sua amada do modo mais inofensivo possível.
O chamado à aventura acontece quando no caminho do narrador aparece o carismático Dust (Mark Whalberg), como a epítome do homem perfeito: belo, esperto, de personalidade magnética e aventureiro. É através da disputa entre o pacato sujeito e o claro macho alfa que ocorre todo o simples plot de Pai em Dose Dupla, com Ferrell mais uma vez se valendo de seu estereótipo de homem bobo, ingênuo e extremamente crédulo na boa fé das pessoas.
O humor do roteiro de Brian Burns, Sean Anders e John Morris utiliza-se da acidez típica das crianças para tratar da estranha relação do padrasto com seus enteados, bem como a valorização do bom mocismo, ainda que esse comportamento moralista seja absurdamente debochado pelos chistes apresentadas nas gags humorísticas. Os paralelos com lições básicas de comportamento ultrapassam alguns tabus, como questões raciais, de preconceito sexual etc, ainda que não engrosse qualquer coro de opressão, apelando quase sempre para o irreal e nonsense ao invés de fazer troça gratuita com minorias.
A comédia presente no filme de Anders é tipicamente masculina, e funciona de modo muito mais fluído se comparado com seu filme anterior, Quero Matar Meu Chefe 2, e essa característica certamente se deve a química entre Whalberg e Ferrell, reprisando Os Outros Caras. A discrepância física entre os dois é explorada como ponto de partida de uma rivalidade de arquétipos. A tradicional batalha entre dois machos pelo mesmo espaço é transportada para um cenário moderno, onde condições financeiras e sexualidade são postas em lados opostos, servindo como novo parâmetro para medir a qualidade dos homens.
O desfecho contém a mesma redenção infantil dos últimos produtos do ator principal, ainda que o filme termine bem mais agradável do queOs Candidatos, por exemplo. No entanto, a condução é realizada de um modo tão escrachado que até a pieguice é driblada, com uma apresentação ainda bastante irônica da resolução de conflitos sem o despejar de testosterona típico de uma briga de rua. Pai em Dose Dupla passa muito longe de ser um filme cerebral e repleto de discussões, mas garante ao espectador uma série de risos descompromissados, que ao menos desconstrói o mito do super macho, fazendo pouco do homem que precisa urinar em tudo para demarcar seu território, apresentando um sistema de predação em que sempre haverá um oponente maior e mais preparado.
Executado de maneira próxima ao formato de telefilme, Deadly Adoption é dirigido por Rachel Goldenberg (do jocoso Z Nation) com texto de Andrew Steele, que já havia trabalhado com Will Ferrell em Casa de Mi Padre. A premissa do filme é “séria”, apesar do protagonismo dos ex-astros do Saturday Night Live; na verdade tem o tom e paródia dos grandes dramas do próprio Lifetime.
Sarah (Kristen Wiig) e Robert Benson (Ferrell) são um casal feliz no começo da fita, que vivem dos louros do marido best-seller, mas que se veem em um trauma enorme: um acidente caseiro que os faz perderem seu bebê ainda em gestação. A partir dali, dramas cotidianos seriam retratados sob cenas em ambientes abertos e de luz predominante, como nas novelas dos Estados Unidos, além de mostrar um script cheio de falas toscas que explicitam de modo óbvio a vida comum do subúrbio.
A busca de um novo filho ocorre cinco anos após o fatídico acontecimento, e Robert se torna muito desconfiado, mesmo ao tentar adotar uma criança, somente melhorando sua visão a respeito ao conhecer Bridgette (Jessica Lowndes), uma linda moça grávida, que aos poucos passa a habitar o cotidiano da família, inclusive abraçando de modo terno a pequena Sully (Alyvia Alyn Lind ), filha do casal que é superprotegida pelo patriarca graças aos seus problemas com glicemia.
Aos poucos, se desenvolve uma estranha relação da moça, a qual se dizia leitora de Benson e que tenta se aproximar lascivamente do pai da família, semelhante ao visto em A Mão Que Balança o Berço, ainda que de modo suave e pasteurizado, e supostamente sem ideais de assassinato – ao menos não tão escancarado quanto a versão com a babá. De maneira bem óbvia, há uma exploração do passado do escritor, explicitando de modo imbecil suas indiscrições no passado. Ainda que o tom de humor seja sutil demais em comparação com os demais filmes de Ferrell, é praticamente impossível não notar que os dramas apresentados possuem um tom de pastiche, mesmo para os desavisados.
Uma trama de rapto logo se desenvolve, do modo mais sensacionalista e pífio possível, com um protagonista completamente engessado e sem capacidade de sentir qualquer coisa que não esteja previamente programado em sua rotina. As cenas que exigem maior talento dramatúrgico são feitas com coreografias e rotinas bastante patéticas, pois os criminosos são estúpidos, só perdendo em burrice para os personagens que fazem parte da mentalidade média americana.
A irrealidade de Deadly Adoption se aproxima de ser engraçada, mas o tom ainda não vence. Claro como os olhos azuis de Ferrell, o filme guarda suas besteiras para um final em que o comediante banca Chuck Norris, pegando emprestado sua barba, sua pose de herói falido e uma trilha sonora tosca, que tenta ser edificante, tudo isso para remir seus pecados, traumas e afins, ao tentar achar sua filha e claro, exibir seu dublê – que nada tem a ver com o ator original.
Os atos de bravura maniqueístas ganham ações de praticamente todos os membros do principal núcleo familiar, aumentando o nível de cafonice a camadas estratosféricas, que automaticamente tratam de fazer o clã vencer seus medos. Tudo a ponto de terminar o longa fazendo passinhos de dança, que explicitam o caráter de deboche que a obra teimava em não imprimir em toda sua extensão, o que faz causar lamentos, já que ela poderia ser bastante engraçada e apenas arranhar a superfície.
Adam McKay é responsável por dirigir alguns dos filmes mais hilários da carreira de Will Ferrell, como Ricky Bob: A Toda Velocidade, Quase Irmãos, Os Outros Caras e, claro, Âncora – A Lenda de Ron Burgundy. A esperada continuação do filme mais notável da parceria entre McKay e Ferrell começa tão estúpida e boba quanto o primeiro episódio, com toda a gritaria típica dos filmes do ator e a estupidez de Ron, mostrando a perfeita caricatura do jornalista televisivo moderno.
A trajetória de Burgundy é interrompida com poucos minutos de exibição. Seu status quo é quebrado e a lenda é contestada, sendo logo mandado embora. A sequência de eventos que ocorre após a fatídica notícia é absolutamente hilária, sendo praticamente impossível para o espectador não rir. O renascer deste como jornalista após a humilhante constatação de sua incompetência é reunir a sua trupe novamente – nada mais clichê e certamente não poderia ser menos engraçado do que foi, pois cada um dos seus coadjuvantes está em uma situação das mais curiosas e absurdas: Champ Kind (David Koechner) tornou-se dono um restaurante fast-food que serve asinha de morcego empanada; Brian Fantana (Paul Rudd) faz ensaios fotográficos com pequenos gatos e se excita deveras com isto; enquanto Brick Stamland (Steve Carrell) acredita estar morto e é tão burro que vai ao próprio enterro. Toda a ironia da antiga rotina deles, ao invés de se repetir, é substituída por cenas ainda mais “babacas” que as anteriores.
Tudo dentro do roteiro faz parecer um teatro dos absurdos. O machismo e racismo de Burgundy parecem não ter diminuído nada com o passar dos anos. Associados à intelectualidade média de norte-americano, esses preconceitos fazem da comédia algo sem muito compromisso com o politicamente correto, o que é muito raro, principalmente com o fato de não ser associada somente a jocosidades sexuais por necessidade. Todos os grupos secularmente excluídos recebem sua dose de gracejos: negros, gays, mentalmente prejudicados, latinos e mulheres.
Seu retorno obviamente não é fácil, e ele tem de enfrentar novas rivalidades dentro da emissora, que só circula notícias, e na casa de sua esposa e atual ex, Veronica Corningstone, a ainda bela Christina Applegate. O método antiquado como Ron vê o mundo cobra o seu preço. Há necessidade de se reinventar como profissional da informação e como figura masculina, e sua saída é usar um discurso ufanista e sensacionalista voltado para o público que está dentro do maior denominador comum. Sua seleção de matérias visa reforçar a ideia de que a América é o melhor lugar do mundo para se viver, ignorando tudo o que aconteça à volta do mundo e que seja relevante. A falta de noção impera no modo de operar do laureado e premiado jornalista, e a ausência de limites faz com que todos não achem estranho ensinar o público a enrolar e fumar cachimbos de crack na televisão ao vivo. Tudo é tão absolutamente louco que, por mais nonsense que seja o cenário, o circo midiático maluco torna-se lógico e faz total sentido dentro daquele universo tão estapafúrdio.
Uma boa novidade é o romance em que se metem Brick Tamland e Chani Lastname (Kristen Wiig), uma personagem desequilibrada mentalmente com direito a alguns distúrbios e transtorno obsessivo-compulsivo, inclusive com o mesmo background de origem militar para tais demências. Quando este tem de ir ao seu encontro, é apresentada a ela uma miscelânea enorme de variações de preservativos, inclusive os que não funcionam na prevenção de gravidez. A primeira interação do responsável pela previsão do tempo na tela verde é tão incrivelmente idiota que se torna uma das cenas que mais causaram gargalhadas nos últimos tempos.
A falta de tato social de Ron continua intacta, se não aumentada. O affair que tem com Meagan Good (Linda Jackson) o faz exagerar ainda mais com os estereótipos raciais. Até na mesa da família da moça utiliza-se de todo tipo de insinuação sexual, especialmente das mais sujas, com o que ele acha ser natural, unicamente pelo fato dos presentes serem negros, o que, em sua cabeça, os faz mais liberais nos assuntos relacionados ao coito poli e monogâmico. Um drama dos mais trágicos acontece com ele, e Burgundy se enfia numa luta contra o vício em crack que o faz agir como um pai ausente e irresponsável seletor de notícias. Quando cobre uma aleatória perseguição de carros, consegue uma entrevista de Veronica com Yaser Arafat, que vem a falar de sua tentativa de pacifismo com Israel. Seus índices de audiência atingem picos estratosféricos, mas sua fama é interrompida por um acidente que tira a sua visão, e consequentemente a capacidade de comunicar notícias via teleprompter.
Depois da volta por cima e reinvenção enquanto cego, Ron Burgundy tem à sua frente um dilema moral: continuar a carreira cobrindo fatos sem importância ou ir ver o seu filho homenageá-lo em um recital. Sua escolha é a moralmente correta e ele se alinha com as coisas que o fazem bem, reatando as suas amizades e retornando ao seu verdadeiro amor, como na maioria dos último bons filmes de Ferrell. Ficaria um gosto de decepção se não fosse pela ótima cena repaginada da batalha entre jornalistas que reúnem ainda mais cenas de notícias, com participações especiais das mais diversas, entre humoristas e atores consagrados. Uma épica batalha contendo muita violência e referências das menos cabíveis possíveis, num dos exercícios de Deus Ex Machina com justificativa das melhores possíveis e um argumento providencial muito bem encaixado.
O humor de Tudo por um Furo é universal, mas o roteiro faz ainda mais sentido para quem é comunicólogo. Todas as sandices mostradas em tela fazem da obra algo difícil de se levar a sério, obviamente não fazendo uso de humor inteligente ou cerebral. Por isto mesmo é uma obra única, por ser pensada e feita como uma troça de uma indústria que se leva demasiado a sério pela responsabilidade de informar. O filmeé corretissimamente pensado e acerta muito dentro de sua proposta. Analisar algo fora desse escopo é total perda de tempo.
Mesmo depois da tragédia de Os Candidatos, resolvi ver outro filme do Will Ferrell. Dessa vez, O Âncora, que não poucas pessoas disseram que era bom. Realmente, é melhor que Os Candidatos, mas se só isso não diz muito, O Âncora falha em ter exatamente muitos dos elementos de que não gostei no anterior.
A ideia é excelente. Ferrell interpreta Ron Burgundy, um jornalista local de San Diego, famoso na cidade, juntamente com sua equipe, por comandar o jornal de liderança no horário, durante a machista década de 70, quando o movimento feminista começava a sair das universidades e dos protestos nas ruas para engrossar a luta diária das mulheres no dia a dia por melhores condições, igualdade e, principalmente, respeito e reconhecimento no ambiente de trabalho e na sociedade. Nesse aspecto o filme é primoroso, pois, se as mulheres reclamam de como são tratadas hoje, nessa época era absurdamente pior, e soa ridículo vermos hoje como os personagens da época as tratavam – mas não soa de modo algum irreal, o que transforma algumas situações engraçadas, mas aquele engraçado que incomoda, no bom sentido.
Também há a boa ridicularização do papel da mídia na sociedade, que sempre se desvia de histórias relevantes, mas que poderia desestabilizar o status quo para cobrir eventos com gatos fantasiados e partos de animais em zoológicos que são tratados como a maior notícia do mundo, sem a menor cerimônia. Além, é claro, de tirar um sarro do ego enorme de jornalistas da TV que se acham o centro do universo por terem 30 minutos diários de aparição.
No entanto, o outro lado, o do riso forçado, das esquetes fora de contexto e dos exageros, não me pegam. Ainda não entendo porque Steve Carrell é tratado a toda hora como gênio do humor, já que parece interpretar o mesmo personagem, do mesmo jeito, em todo filme, com as mesmas caras, bocas, frases e trejeitos. Sua única exceção parece ter sido no excelente Pequena Miss Sunshine, quando justamente saiu do seu estereótipo.
Do final não daria para esperarmos muito, nem sei se o filme deveria tentar algo além do desfecho onde inimigos fazem as pazes e resolve os conflitos nesse tipo de filme justamente pela proposta de satirizar o gênero, mas seria interessante ver uma elaboração mais inteligente do que essa.
Como resumo da obra, O Âncora é um filme redondo, que funciona para a plateia certa, mas cansa o espectador que exija algo a mais. Possui bons momentos, e deixa a profundidade que poderia alcançar ser atrapalhada pelo humor raso que tenta forçar a todo instante.
Não é de hoje que a política do planeta, em particular a das grandes democracias, precisa de críticas de humor afiadas e precisas para demonstrar seus vícios, fraturas e incongruências. Aí que está o erro de Os Candidatos, pois não é um filme de humor, não é afiado (às vezes beira a grosseria) e passa longe de qualquer tipo de conscientização. Fui ver esse filme já sabendo mais ou menos o que esperar, e infelizmente minhas expectativas foram atendidas.
Will Ferrell interpreta o congressista Cam Brady, que está concorrendo sozinho a mais uma reeleição em seu condado e é apoiado e financiado por lobistas inescrupulosos com planos cada vez mais ardilosos para aumentarem seus lucros às custas da democracia. Zach Galifianakis interpreta Marty Huggins, o filho gordinho, desajeitado, com trejeitos femininos e que usa roupas justas (lembram-se de Se Beber não Case 1 e 2 e Um Parto de Viagem? Então…) de um milionário local que decide bancar sua campanha contra Brady, já que Marty é de fácil manipulação.
O filme ainda tenta dar um ar de seriedade, colocando como trama a influência de lobistas em cima do processo eleitoral e como eles escolhem os políticos para depois terem projetos que os beneficiem aprovados, coisa que acontece no mundo todo e que, nos EUA, é algo regulamentado. O plot exagerado (os lobistas querem trazer o regime de trabalho desregulamentado da China para o condado, que seria independente das leis americanas) não ajuda, transformando os vilões em algo cartunesco, sem profundidade, que lembra mais Pica-Pau do que uma crítica mais séria. Dá muito bem para se fazer comédia com profundidade e crítica política. Qualquer pessoa que já tenha visto os dois filmes da excelente dupla The Yes Men sabe disso.
A partir de estabelecidas as personagens e suas motivações, o filme se repete em um tipo de humor muito comum nos EUA atualmente: o de situações que causam riso no espectador pela vergonha experimentada pelo personagem. Não há absolutamente nada de novo na proposta de humor do filme, que repete o formato das piadas durante todo o longa, em que apenas algumas cenas (e boa parte delas estão no trailer, como a cena em que Brady, bêbado, tenta escapar de um policial durante uma abordagem) conseguem tirar mais do que um sorriso envergonhado do espectador. A escalada da violência física, a perda da ingenuidade de Marty, as constantes mudanças de pensamento e comportamento dos personagens no final, tudo funciona para tornar a narrativa bastante confusa. Apesar de o ritmo se manter constante, a atenção do espectador a cada ato é sacrificada.
Não sei o que se passa com Ferrell, mas tem escolhido produções cada vez piores para fazer e daqui a pouco estará perto de Nick Cage e Liam Neeson no quesito “perda de credibilidade”.
Resumindo: Os Candidatos é uma tentativa fracassada de dar conteúdo a um filme de comédia, mas esqueceram de que um filme de comédia, em primeiro lugar, precisa ter graça, e falha miseravelmente nisso.