Tag: Linda Cardellini

  • Crítica | Capone

    Crítica | Capone

    Capone é mais uma das (muitas) adaptações para o audiovisual sobre o icônico mafioso ítalo-americano Al Capone, interpretado por Tom Hardy, e dirigida pelo controverso diretor Josh Trank. A história começa misteriosa e singela, com o sujeito andando por sua casa, como se estivesse caçando algo. E de fato está, embora não seja nenhuma situação perigosa. É estranho como esse período antes da trama se desenrolar visa humanizar a figura do personagem-título, embora na primeira vez em que ele troca olhares francos com alguém pareça frio demais, e estereotipado como todo monstro é.

    Hardy tenta desempenhar um papel diferenciado, mas incrivelmente repete a mesma situação de outro filme recente seu, Venom. No caso do anti herói da Marvel/Sony, o roteiro não permite nada vultuoso, mas ainda houveram méritos lá, pois ele fazia um Eddie Brock complexo demais para um produto feito meramente para vender bonecos. Aqui, o Scarface é um sujeito duro, sem tato, de poucas palavras e voz caricatural.

    Mesmo em uma reunião familiar ele parece estar tenso e prestes a receber um tiro, como se a traição o espreitasse o tempo todo. Alphonse não era o exemplo de comportamento ou recato, longe disso, a versão que Robert DeNiro interpretou em Os Intocáveis mostra o quão ignorante e violento ele era, mas outra comparação também com personagem da cultura pop é valida. Em O Poderoso Chefão, Don Vito jamais transparece a face de quando trabalha para seus familiares. Ele é tão decidido nesse quesito que, mesmo em sua ausência, os homens da família não falam de negócios a mesa. Aqui, mesmo já muito rico e experiente, Capone não consegue deixar de passar para seus parentes a tensão pela qual passa todos os dias, e isso soa incongruente.

    Um papel importante é a do par do mafioso, Mae, vivida Linda Cardellini que, inclusive, já havia feito pouco tempo atrás um papel semelhante em Green Book. O modo como ela age com seu marido dá um pouco da dimensão combalida mentalmente que o personagem principal está. A atuação de Hardy aliás é o suficiente para perceber que ele está doente, a maquiagem forte, o uso de lentes de contato, as perucas e já citada voz empostada fazem o quadro piorar muito. É como se um dos maiores vilões do crime organizado no continente americano fosse um pastiche, um retrato desenhado bem mal feito, tratado de forma tosca unicamente para chocar quem vê o longa.

    De fato a abordagem é chocante, e a premissa do roteiro que Trank planeja dar vazão é ótima. Mostra Alphonse aos 47 anos, após sair da prisão, com a demência atacando sua mente graças a complicação da sífilis. Aos olhos da justiça ele é inofensivo, por isso pode ter com os seus, pode ficar com sua família. A insanidade é mostrada de uma maneira incômoda, tanto para os que estão dentro da trama quanto para quem a assiste. É tudo muito grotesco, não há nada de prazeroso em assistir a intimidade do caricato carcamano.

    Os conflitos familiares em alguns momentos soam como números humorísticos, de tão mal pensados e toscos que são. Uma das reações da esposa a uma grosseria dele é tão desmedida e mal enquadrada que parece retirada de um teatro amador infantil, daqueles de igrejas sem orçamento para tal. Quando o filme tenta soar sério, então, piora. O modo como a problemática do nome Al, por exemplo, é mostrada de modo sensacionalista e bobo.

    O filme não se decide se focará nos devaneios de Capone, se permitirá viver pelas montanhas de loucura que são seus últimos dias, ou se dará vazão a investigadores que cercam o sujeito, grampeiam seu telefone a troco de saber se ele ainda movimenta algum nível de criminalidade. É tudo muito estranho. Os fantasmas do passado do antigo chefão já seriam o suficiente para deixá-lo louco, mas o texto parece não saber o momento de parar de colocar clichês no caminhar trôpego do homem. Não há limites para a pretensão, e o fato de querer parecer um produto artístico fora da curva coloca este Capone em uma posição ainda mais ingrata, de parecer pedante.

    O sujeito que definha durante o filme não provoca nenhuma emoção ou sensação digna no público, nem de pena, nem de receio. A vontade de mostrar um ícone em decadência esbarra na completa inabilidade de Trank  em produzir complexidade na pessoa que ele investiga. A palidez pela qual passa Hardy e os olhos com lentes artificiais afastam o sujeito da humanidade, mas também não o tornam animalesco por completo. Se o objetivo era mostrar uma besta enjaulada, tentando conviver com a insanidade e com breves momentos de lucidez, certamente a produção se equivocou, pois o espectador claramente sente pena de Hardy, de Trank, não de Al Capone.

    Ao longo dos 103 minutos de duração, o protagonista volta a encarnar o demônio engarrafado, no couro de um homem em decadência. Há uma sequência até bem filmada em termos de ação, mas esvaziada de significado, que mostra o homem que está claramente se despedindo da vida graças a sífilis fazendo uma justiça poética com suas mãos e com o aço das balas, numa demonstração grotesca dos seus últimos atos como refém de uma possessão demoníaca. Talvez Capone soasse mais honesto se se assumisse como um filme de terror, ou uma comédia em tom de paródia, mas ter a ambição de mostrar o final da vida de um dos criminosos mais notórios da história, mesmo sem qualquer registro do que ocorreu ou não, é um esforço tolo, ainda mais no modo grotesco como se mostra.

  • Review | Disque Amiga Para Matar – 1ª Temporada

    Review | Disque Amiga Para Matar – 1ª Temporada

    Comédia de Liz Feldman, a primeira temporada de Disque Amiga Para Matar começa mostrando a personagem Jen Harding (Christina Applegate) recebendo apoio de uma vizinha e sendo bem grossa com a mesma, ao falar de seu luto, pois acabou de perder seu esposo, atropelado. O luto e a perda são tratados de uma maneira semelhante ao que se viu na 1ª Temporada de After Life, ainda que a identidade seja completamente diferente do que Ricky Gervais faz, até por conta do escopo em que se baseia, voltada par uma amizade feminina.

    Jen tem verdadeira obsessão com carros batidos, ela tenta a todo custo encontrar por si mesma a identidade de quem matou seu esposo, e entre os afazeres de mãe e corretora de imóveis, ela encontra com Judy Hale (Linda Cardellini), outra maníaca depressiva que afirma ser viúva e que a faz ir a um grupo de apoio e reabilitação. A amizade entre as duas não demora a de desenrolar, e isso causa suspeitas, que são desbaratadas ainda no piloto, aliás, fato que faz a série parecer madura. Elas descobrem hobbies e gostos em comum, se decepcionam entre si, e percebem as mentiras e engôdos que cada uma das duas carrega, incluindo segredos bem sórdidos.

    A estranheza no comportamento das duas mulheres é evidente, nenhuma amizade se torna tão forte e intensa sem motivos, e já no piloto se revela porque uma se aproximou da outra. Neste momento, impressiona bastante o quão complexada é Judy, ela se vê como alguém inferior, principalmente por conta de sua antiga relação com Steve (James Marsden), e é bizarro como o tom de humor negro funciona de maneira fluída, mérito é claro de Feldman, que escreveu algumas séries entre elas sendo 2 Brooke Girls a mais famosa, e claro, os produtores associados Will Ferrell e Adam McKay, que mesmo interferindo pouco na boa historia que Feldman conta, emprestaram seu prestígio para um comédia bem mais dedo na ferida do que a filmografia compartilhada dos dois normalmente traz.

    O sorriso que Cardellini coloca em tela faz com que pareça insana sua insegurança.  Isso casa bem com as mentiras frágeis que ela dá e claro, com o comportamento resoluto da personagem de Applegate. Mesmo com poucos capítulos (10, com duração em torno de 30 minutos) o elenco tem tempo para desenvolver suas pequenas características e a identidade própria de cada um. O toma lá da cá sentimental envolve as esferas profissionais das mulheres, e o cuidado para revelar bem aos poucos os segredos dessa primeira temporada faz com que o seriado soe como um belo pastiche de thrillers.

    O caso da morte do marido de Jen deixa claro a dúvida das mulheres, se ele não é resolvido por conta da morosidade das autoridades, por conta da falta de provas, ou culpa da postura da vingadora de Jen, ou mesmo por uma soma dos dois fatores, e essa dúvida faz a temporada soar ainda mais charmosa. Os episódios mostram as garotas evoluindo seus quadros emocionais, aprendendo a liberar seu espírito livre e até sua libido. Aos poucos elas se envolvem amorosamente com outras pessoas e vão chegando perto da verdade a respeito do trauma.

    A forma que as duas lidam com novos sentimentos, como repulsa ou culpa é impressionante. A série fala principalmente sobre a dificuldade de lidar com a rejeição, e mesmo quando soa óbvio, há um cuidado para não deixar o roteiro soar artificial. O final varia bem entre o melodrama e o agridoce, é uma pena que haja uma prévia do destino dos personagens no titulo do seriado (chama Dead To Me no original), mas seus perto do fim há muito surpresas e um baita gancho, que faz essa Disque Amiga Para Matar um programa divertido, carismático e que casa bem com as famigeradas maratonas dos serviços de streaming.

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