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  • Crítica | Capone

    Crítica | Capone

    Capone é mais uma das (muitas) adaptações para o audiovisual sobre o icônico mafioso ítalo-americano Al Capone, interpretado por Tom Hardy, e dirigida pelo controverso diretor Josh Trank. A história começa misteriosa e singela, com o sujeito andando por sua casa, como se estivesse caçando algo. E de fato está, embora não seja nenhuma situação perigosa. É estranho como esse período antes da trama se desenrolar visa humanizar a figura do personagem-título, embora na primeira vez em que ele troca olhares francos com alguém pareça frio demais, e estereotipado como todo monstro é.

    Hardy tenta desempenhar um papel diferenciado, mas incrivelmente repete a mesma situação de outro filme recente seu, Venom. No caso do anti herói da Marvel/Sony, o roteiro não permite nada vultuoso, mas ainda houveram méritos lá, pois ele fazia um Eddie Brock complexo demais para um produto feito meramente para vender bonecos. Aqui, o Scarface é um sujeito duro, sem tato, de poucas palavras e voz caricatural.

    Mesmo em uma reunião familiar ele parece estar tenso e prestes a receber um tiro, como se a traição o espreitasse o tempo todo. Alphonse não era o exemplo de comportamento ou recato, longe disso, a versão que Robert DeNiro interpretou em Os Intocáveis mostra o quão ignorante e violento ele era, mas outra comparação também com personagem da cultura pop é valida. Em O Poderoso Chefão, Don Vito jamais transparece a face de quando trabalha para seus familiares. Ele é tão decidido nesse quesito que, mesmo em sua ausência, os homens da família não falam de negócios a mesa. Aqui, mesmo já muito rico e experiente, Capone não consegue deixar de passar para seus parentes a tensão pela qual passa todos os dias, e isso soa incongruente.

    Um papel importante é a do par do mafioso, Mae, vivida Linda Cardellini que, inclusive, já havia feito pouco tempo atrás um papel semelhante em Green Book. O modo como ela age com seu marido dá um pouco da dimensão combalida mentalmente que o personagem principal está. A atuação de Hardy aliás é o suficiente para perceber que ele está doente, a maquiagem forte, o uso de lentes de contato, as perucas e já citada voz empostada fazem o quadro piorar muito. É como se um dos maiores vilões do crime organizado no continente americano fosse um pastiche, um retrato desenhado bem mal feito, tratado de forma tosca unicamente para chocar quem vê o longa.

    De fato a abordagem é chocante, e a premissa do roteiro que Trank planeja dar vazão é ótima. Mostra Alphonse aos 47 anos, após sair da prisão, com a demência atacando sua mente graças a complicação da sífilis. Aos olhos da justiça ele é inofensivo, por isso pode ter com os seus, pode ficar com sua família. A insanidade é mostrada de uma maneira incômoda, tanto para os que estão dentro da trama quanto para quem a assiste. É tudo muito grotesco, não há nada de prazeroso em assistir a intimidade do caricato carcamano.

    Os conflitos familiares em alguns momentos soam como números humorísticos, de tão mal pensados e toscos que são. Uma das reações da esposa a uma grosseria dele é tão desmedida e mal enquadrada que parece retirada de um teatro amador infantil, daqueles de igrejas sem orçamento para tal. Quando o filme tenta soar sério, então, piora. O modo como a problemática do nome Al, por exemplo, é mostrada de modo sensacionalista e bobo.

    O filme não se decide se focará nos devaneios de Capone, se permitirá viver pelas montanhas de loucura que são seus últimos dias, ou se dará vazão a investigadores que cercam o sujeito, grampeiam seu telefone a troco de saber se ele ainda movimenta algum nível de criminalidade. É tudo muito estranho. Os fantasmas do passado do antigo chefão já seriam o suficiente para deixá-lo louco, mas o texto parece não saber o momento de parar de colocar clichês no caminhar trôpego do homem. Não há limites para a pretensão, e o fato de querer parecer um produto artístico fora da curva coloca este Capone em uma posição ainda mais ingrata, de parecer pedante.

    O sujeito que definha durante o filme não provoca nenhuma emoção ou sensação digna no público, nem de pena, nem de receio. A vontade de mostrar um ícone em decadência esbarra na completa inabilidade de Trank  em produzir complexidade na pessoa que ele investiga. A palidez pela qual passa Hardy e os olhos com lentes artificiais afastam o sujeito da humanidade, mas também não o tornam animalesco por completo. Se o objetivo era mostrar uma besta enjaulada, tentando conviver com a insanidade e com breves momentos de lucidez, certamente a produção se equivocou, pois o espectador claramente sente pena de Hardy, de Trank, não de Al Capone.

    Ao longo dos 103 minutos de duração, o protagonista volta a encarnar o demônio engarrafado, no couro de um homem em decadência. Há uma sequência até bem filmada em termos de ação, mas esvaziada de significado, que mostra o homem que está claramente se despedindo da vida graças a sífilis fazendo uma justiça poética com suas mãos e com o aço das balas, numa demonstração grotesca dos seus últimos atos como refém de uma possessão demoníaca. Talvez Capone soasse mais honesto se se assumisse como um filme de terror, ou uma comédia em tom de paródia, mas ter a ambição de mostrar o final da vida de um dos criminosos mais notórios da história, mesmo sem qualquer registro do que ocorreu ou não, é um esforço tolo, ainda mais no modo grotesco como se mostra.

  • TOP 10 | Diretores Pé Frio ou que acabaram na geladeira

    TOP 10 | Diretores Pé Frio ou que acabaram na geladeira

    Você provavelmente já ouviu antes o termo “na geladeira”. Se refere a diretores ou produtores que cairam num ostracismo coletivo na indústria do cinema. Geralmente eles também conseguiram trabalhos muito bem recebidos pela crítica mas que o público ignorou nas bilheterias, e as vezes até pior, desastres de público que os deixaram mal vistos pelos estúdios. E o mais frustante sobre diretores que acabam virando pé frios ou acabam na geladeira é que na maioria dos casos todos são realizadores muito mais talentosos do que a produção que acabou amaldiçoando suas carreiras. Estranhamente, existem também talentosos diretores que apesar da crítica conseguem com filmes pequenos de baixo orçamento marcar sua presença na indústria e quando conseguem um trabalho num grande estúdio parece que o talento desaparece.

    O Diretor M. Night Shayamalan novamente retorna a direção com um thriller estrelando James McAvoy e esse foi o estopim para essa lista. Segue o Trailer de seu mais novo filme, The Split:

    Então apesar dos pesares dessa indústria, segue a lista aqui a lista de diretores pé frio ou que entraram na geladeira.

    1 – Todd Field

    Maior Realização: Entre Quatro Paredes (2001)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Pecados Íntimos (2006)

    O que aconteceu: Após um relativo sucesso como ator na Tv e no Cinema, ele conseguiu respaldo na cena como roteirista e diretor de Entre Quatro Paredes que conseguiu 5 indicações ao Oscar incluindo melhor filme. A bilheteria rendeu consideravelmente bem totalizando 42 milhões nos EUA, sendo uma produção de apenas $1.7. Field seguiu essa mesma pretensão em Pecados Íntimos, outra produção aclamada pela crítica que rendeu três indicações ao Oscar incluindo seu segundo em roteiro adaptado. Infelizmente esse último não rendeu um bom retorno para sua produtora, a New Line, conseguindo apenas 14 milhões, sendo que custou $26. Diretores muito piores já perderam muito mais dinheiro em Hollywood e já estavam com outro projeto logo em seguida para dirigir mas não foi o caso de Field, que passou os 10 anos seguintes procurando desenvolver seu próximo projeto, só que na televisão. O canal Showtime bancou a adaptação de 20 horas do romance Purity, de Jonathan Frazen estrelando Daniel Craig. Field está dirigindo pelo menos 2 episódios.

    2 – Julian Schnabel

    Maior Realização: O Escafandro e a Borboleta (2007)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Miral (2011)

    O que aconteceu:  Reconhecido como pintor, Schnabel fez três grandes filmes: Basquiat (1996), Antes do Anoitecer (2000) e o Escafandro e a Borboleta. Antes do Anoitecer foi um dos mais aclamados filmes daquele ano e concedeu a Javier Bardem sua primeira indicação ao Oscar. Escafandro conseguiu quatro indicações incluindo melhor diretor para Schnabel. O drama quase alcançou a premiação de melhor filme e mesmo assim quase que nem se pagou mesmo com os lucros de mídia física. Seu filme seguinte, Miral, não foi muito bem recebido e financeiramente foi pior ainda. Em teoria Schnabel pode estar pesquisando para seu próximo filme, mas ele também pode estar na geladeira do cinema por falta de financiamento pelos seus últimos dois trabalhos.

    3 – Frank Darabont

    Maior Realização: Sonho de Liberdade (1994)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Cine Majestic (2001)

    O que aconteceu: A vida de Darabont em Hollywood vai piorando a cada filme que o diretor lançou. O outrora roteirista do Jovem Indiana Jones alavancou sua carreira como diretor em 1994 com o que hoje é indiscutivelmente considerado um clássico, Um Sonho de Liberdade. Na época o filme foi um grande sucesso, sua segunda produção, A Espera de um milagre, o colocou na lista” A” de diretores da época. Ele não foi apenas um sucesso de critica como de público ($286 milhões mundialmente) além de ter rendido quatro Oscars incluindo melhor filme.

    Infelizmente, Darabont foi quase ridicularizado pelo seu projeto seguinte, Cine Majestic, com Jim Carrey e Laurie Holden. O Filme realmente não é bom, mas a péssima bilheteria foi motivo para colocar Darabont na geladeira. Na verdade, seu próximo filme foi lançado apenas 6 anos depois, novamente uma adaptação de Stephen King, O Nevoeiro, filme que o diretor já tinha interesse de produzir por décadas, com um orçamento ridiculamente pequeno em relação aos seus trabalhos anteriores. E felizmente, O Nevoeiro na verdade fez dinheiro, mas Darabont mesmo assim não saiu da geladeira. Seu próximo projeto foi The Walking Dead, que acabou com a emissora o demitindo durante a pré-produção da segunda temporada (e só fica pior quando você percebe que logo nesse ano a série se tornou a segunda série mais popular no mundo). Ele contribuiu para o roteiro de Godzilla, e largou alguns projetos como Código de Conduta e O Caçador e a Rainha do Gelo por divergências criativas.

    4 – Tamara Jenkins

    Maior Realização: A Família Savage (2007)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: A Família Savage (2007)

    O que aconteceu:  O que teria acontecido com Tamara Jenkins? A diretora/roteirista que tinha dois impressionantes filmes no currículo: O Outro Lado de Beverly Hills e A Família Savage. O ultimo conseguiu duas indicações ao Oscar incluindo melhor roteiro original para a própria Jenkins. Desde de então ele ficou fora dos holofotes. E não é como se ela tivesse saído de hollywood; Seu marido é Jim Taylor, produtor ganhador do Oscar (Sideways). Ela recentemente escreveu o roteiro do filme Juliet Naked, projeto feito com seu marido para Jesse Peretz dirigir. Mas o filme não parece estar nem em fase de produção. Considerando a falta de espaço de mulheres por trás das câmeras e o talento da diretora, não é ao menos curioso sua situação atual!?

    5 – Debra Granik

    Maior Realização: Inverno da Alma (2010)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Não é claro.

    O que aconteceu:  Assim como Jenkins é no minimo muito estranho que não tenhamos ouvido nada sobre Granik desde Inverno da Alma. A sensação do festival de Sundance que mostrou o rosto de Jennifer Lawrence pro mundo e entregou duas indicações para mulheres no Oscar daquele ano torna a história muito curiosa. Vale lembrar que o filme custou apenas 2 milhões, rendendo $13.7 e foi o longa responsável por colocar a distribuidora Roadside Attractions no mapa. Em 2014, Granik lançou seu documentário Stray Dogs e esta rodando mais um drama chamado My Abandonment que tem lançamento previsto para o próximo ano. Dito tudo isso, como ela não conseguiu mais atenção dos grandes estúdios? Em 2012 ela desenvolveu uma série piloto para HBO que não saiu do papel em 6 anos.

    6 – Walter Salles

    Maior Realização: Diários de Motocicleta (2004)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Na Estrada (2012)

    O que aconteceu:  Salles, que se tornou o proeminente diretor do conhecido mundialmente Central do Brasil (1998). Um incrível drama com a talentosa Fernanda Montenegro, foi indicado ao Oscar em melhor filme estrangeiro, além de ter rendido cinco milhões apenas nos EUA. Sua produção seguinte, Diarios de Motocicleta é talvez seu melhor longa e ganhou melhor canção original em 2005. Porém o problema de Salles com Hollywood começou com a refilmagem do horror japonês, Água Negra, estrelado por Jennifer Connelly. O filme teria caido na onda de refilmagens de terror asiático como O Chamado e O Grito. O filme não foi apenas ruim mas péssimo em bilheteria,  não conseguindo nem pagar seus 30 milhões de orçamento. Salles não fez outro filme em inglês até a adaptação da obra máxima de Jack KerouacNa Estrada. Com um elenco estelar incluindo Kristen Stewart, Amy Adams, Viggo Mortensen, Kristen Dunst e Elisabeth Moss (Aquela que estava em Mad Men, uma das maiores produções de TV da década). Infelizmente o filme não foi um sucesso, dividindo a crítica e rendendo apenas 8 milhões de uma produção com custo em $25. Até esse ponto,  Salles provavelmente vai precisar de mais um novo pequeno filme que vai tira-lo da geladeira novamente.

    7 – Marc Foster

    Maior Realização: Em Busca da Terra do Nunca (2004)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Quantum of Solace (2007), Redenção (2011), Guerra mundial Z (2013)

    O que aconteceu: Diretor superestimado ou autor subestimado? Ou os dois? Essa é a maior questão nas discussões sobre a carreira desse diretor. Que entregou obras muito interessantes como Em Busca da Terra do Nunca e a Última Ceia mas também parecia muito fora da sua qualidade quando trabalhou em grandes franquias como 007 – Quantum of Solace (considerando também que o derrame do roteirista na época também não favoreceu em nada na produção) e Guerra Mundial Z (Um filme que foi um desastre homérico dentro dos bastidores e até hoje não é claro a quem culpar) Forster tentou voltar as suas rotas independentes com o lançamento desse ano All I See Is You, que foi premiado no festival de Toronto desse ano, mas também dividiu a crítica além de não ter conseguido um distribuidor oficial nos EUA. Existem incontaveis exemplos de diretores que assim que entraram num grande estúdio simplesmente não conseguem fazer nada dar certo. Infelizmente Foster aparentemente está nesse balaio.

    8 – Josh Trank

    Maior Realização: Poder Sem Limites (2012)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Quarteto Fantástico (2015)

    O que aconteceu: O que dizer que já não foi dito ainda? Ele demonstrou um enorme talento no seu Found Footage, mas se tornou o motivo de tudo ter se tornado um desastre na refilmagem do reboot do Quarteto Fantástico. Pior ainda que isso, Trank se tornou persona non grata por seus tweets culpando os problemas da produção por interferência do próprio estúdio. Isso não vai queimar sua reputação em todos os estúdio de Hollywood, mas a situação parece mais feia quando ele recentemente foi descartado de um spin-of de Star Wars em pré produção meses antes do lançamento do filme do Quarteto. O Comportamento do diretor no set e 100 mil dólares numa casa alugada durante a produção do Quarteto Fantástico fizeram sua fama de diretor prepotente e completamente impaciente. Ninguém esta dizendo que ele não é talentoso, a questão é que mesmo que ele encontre novamente um produtor que banque um novo projeto, é dificil pensar o que pode vir após seu último trabalho. Apesar de que ele já tem um filme do Al Capone em produção com o nome de Tom Hardy confirmado.

    9 – Richard Kelly

    Maior Realização: Donnie Darko (2001)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria:  Southland Tales (2006)

    O que aconteceu: Richard E. Kelly é muito talentoso. Muitos cinéfilos estão convencidos disso. Mesmo que não tenha um segundo grande filme, Donnie Darko é um filme criticado e discutido até hoje pela sua incrível capacidade de instigar dúvidas a cada transição de capitulo. Fez a primeira grande interpretação de Jake Gyllenhaal. Seu próximo filme Southland Tales, foi um desastre de proporções épicas. Lucrando miseros $374,743 mil dólares nos EUA mas custou $17 milhões para ser feito. De alguma maneira Kelly conseguiu outra chance com a Warner para dirigir um longa baseado no curta de Richard Mattheson “Button, Button”, mais conhecido no Brasil como A Caixa. Esse foi tudo o que Southland não foi: Bem dirigido, bem atuado e intrigante. Os críticos apesar de tudo não viram isso e o longa nunca recuperou seus 30 milhões de produção. Além disso Kelly tem essa má sorte; Ele perdeu a chance de fazer seu filme Amicus, que o protagonista seria o já falecido James Gandolfini,  e até então não escreveu ou dirigiu nada em sete anos.

    10 – Mimi Leder

    Maior Realização: Impacto Profundo (1998)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Corrente do Bem (2000)

    O que aconteceu: Um dos mais claros exemplos da maneira como Hollywood trata suas diretoras mulheres é o caso de Mimi Leder. Ela fez seu nome primeramente dirigindo E.R, e ganhando um Emmy por essa direção.  Após tal realização a pressão dos estúdios foi consideravelmente substancial: O Pacificador, com George Clooney e Nicole Kidman recebeu críticas sólidas e conseguiu de volta seus 50 milhões de dólares que gastou durante a produção. Depois disso a Paramount e DreamWorks a contrataram para dirigir Impacto Profundo, o filme em contrapartida ao anteriormente lançado Armageddon de Michael Bay. Infelizmente o filme não fez tanto sucesso quanto o já citado, mas conseguiu um retorno muito mais positvo em críticas e foi um Blockbuster de $348 milhões no mundo inteiro. A verdade é que Leder fez história sendo a primeira diretora mulher a realizar um legitimo Blockbuster de Hollywood. Depois disso a diretora trabalhou num pequeno projeto no ano 2000 com  Kevin Spacey e Helen Hunt, Corrente do Bem. Infelizmente, o filme só conseguiu críticas negativas, mas recebeu retorno do público. Leder entrou na geladeira mas o seu Corrente do Bem conseguiu se pagar e render algum dinheiro numa produção de 40 milhões que rendeu 55. Hoje Leder voltou para a TV, trabalhando e tendo seu trabalho reconhecido dirigindo episódios de The West Wing e The Leftovers, e outras séries.

    O Guillermo Del Toro poderia ter entrado nessa lista, pelo menos pé frio ele é…

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Quarteto Fantástico

    Crítica | Quarteto Fantástico

    quarteto fantastico - poster brasileiro

    Há um boom de filmes baseados em histórias em quadrinhos desde o renascimento da espécie como gênero, que se iniciou lá com X-Men. A ideia era excelente: tratar o filme de super-heróis como um gênero dentro do outro, e assim haveria abertura para que Bryan Singer fizesse uma bela Sci Fi com elementos de ação, necessária ao desenvolvimento da linguagem cinematográfica deste tipo de filme. Na mesma época, Homem-Aranha de Sam Raimi trouxe uma certa pureza aos super-heróis ao trabalhar temas típicos dos personagens de quadrinhos como responsabilidade, caráter, bondade e sacrifício — abordagem que se repetiu poucas vezes, como em Homem de Ferro, Vingadores e nas continuações de Homem-Aranha. Porém não era possível fazer isso com todo e qualquer material, e estabelecer gêneros maiores e então encaixar a mitologia do super-herói parecia uma decisão mais bem acertada. Christopher Nolan fez seu suspense policial numa Gotham City sem a aura mágica a qual normalmente se observa na cidade, e deu certo elevando o nível dos filmes de super-heróis para patamares mais ousados. Com os direitos de diversos personagens da editora Marvel nas mãos, a Fox buscou completar sua fatia do bolo com Demolidor – O Homem sem Medo e Quarteto Fantástico, ambos nada bem-sucedidos.

    Eis que aparentando novos rumos e visões depois do excelente X-Men: Primeira Classe, o estúdio enfim encontrou sentido para seus personagens. Precisando fazer algo para não perder os direitos sobre eles, resolveu que era hora de reiniciar o Quarteto Fantástico nos cinemas. Para a missão contratou o promissor Josh Trank (Poder Sem Limites) que, após este filme, estaria à frente de um dos filmes do universo Star Wars da Disney, e faria segundo suas palavras, um Sci Fi com referências de David Cronenberg, pitadas de horror e algo totalmente diferente do usual. Como parte de suas decisões artísticas o elenco seria formado por talentos inquestionáveis de uma nova geração que conta com Miles Teller (Whiplash – Em Busca da Perfeição), Michael B. Jordan (Fruitvale Station) nos papéis de Senhor Fantástico e Tocha Humana, e trataria de uma nova geração de também cientistas que estão agora no mundo com a missão de consertar as gerações passadas que destruíram ou renegaram. A genialidade de Reed Richards/Senhor Fantástico contrasta com sua inexperiência e cria um interessante personagem que nunca conseguiu se impor corretamente, mas que tem em si a sede por compreender o mundo à sua volta e que assim segue com a resiliência devida. Após ser descoberto pelo cientista Storm em uma feira de ciências, Richards tem a chance de fazer a diferença no mundo.

    Quando quase nada poderia dar errado, boatos sobre brigas no estúdio e a sorrateira substituição de Trank por Mathew Vaugh (X-Men: Primeira Classe) para “consertar” o filme surgiram por toda a internet, denunciando que ou o resultado teria ficado ruim, ou o estúdio queria na verdade uma outra coisa. O resultado das possíveis confusões se vê na tela em um filme sem foco, estrutura ou originalidade, e que de tão genérico é possível ter vislumbre de praticamente qualquer filme de super-herói recente, desde o recente Homem-Formiga, até O Homem de Aço. Não haveria muitos problemas caso esses vislumbres tivessem relação com os pontos fortes dos filmes citados, porém se percebe apenas a soma dos mais variados clichês recentes do cinema, como a ação artificial baseada em efeitos visuais fosforescentes. Está tudo lá como uma espécie de mapa mental das convenções de gênero que poderiam ser inseridas no filme, mas sem o filtro de qual combinação fazer.

    Embora o terceiro ato seja terrivelmente problemático, os dois primeiros têm dificuldades de conectar e trazer seus protagonistas para o centro da história e da ação, pois não consegue localizar a importância dos personagens à trama. Quem sofre particularmente com isso são os personagens Ben Grimm/Coisa (Jamie Bell) e Sue Storm (Kate Mara), que não podem contar nem mesmo com a grande qualidade de seus intérpretes, já que eles não têm espaço para atuar e são sufocados por exigências meramente performáticas e banais, além de inseridos na obra como pura convenção.  Para resolver este deslocamento, boa parte das soluções são apressadas e amadoras. A solução para dar alguma substância aos personagens é fazendo deles contrapontos das intenções do governo para o uso de suas habilidades, o que seria ótimo caso isso representasse alguma consequência para a trama, o que não foi possível, em muito pela metragem do filme – apenas 100 minutos. Aos demais personagens, resta como motivação para a maior parte de suas ações a necessidade de reconhecimento parental, porém este recurso perde-se em sua frivolidade por ser aplicada a praticamente todos os personagens, mesmo àqueles cujo desenvolvimento não ressoa.

    A falta de perigo, urgência ou gravidade é outro ponto fraco deste filme. Nem mesmo mortes recebem o impacto que merecem, como se o filme se apressasse para uma resolução numa tentativa de subir o ritmo rapidamente e assim criar o clímax. Ao perder-se sobre o que gostaria de mostrar, cria um segundo filme ao iniciar o terceiro ato e isso deixa óbvio que decisões foram tomadas no decorrer da produção e que essas decisões alteraram o material e ideia inicial, levando do Sci Fi com toques de terror prometido (e parcialmente entregue até então) a uma aventura boba de resolução fácil como nos filmes anteriores e alguns pares recentes do cinema de super-herói. Tal desconexão se vê inclusive na edição, que insere e retira personagens de lugares quase que teletransportando o elenco em cortes tão secos que chegam a perder o espectador por um segundo até que este se localize novamente, além de utilizar os recursos mais primários de passagem de tempo que poderiam existir.

    As boas interações do início do filme são desconsideradas com seu decorrer, dissolvendo os laços criados sem reconectá-los ao final, demonstrando uma certa falta de empatia com aqueles personagens. Neste ponto, é difícil de entender o porquê do espaço em tela para Victor Von Doom (Toby Kebbell), se sua participação efetiva como vilão seria apenas burocrática, desperdiçando um visual interessante e cenas de demonstração de poder corajosas. Ao fim, pela falta de sua presença, Doom não exerce o papel de vilão, ou seja, aquele que incita a situação para que o herói haja. Aqui, nenhum papel é bem definido com relação a uma estrutura usual de vilão e herói, adquirindo-a apenas ao final, quando o resultado destoa do desenvolvimento.

    Se o clima e personalidade são muito bons e as pequenas ousadias do roteiro têm capacidade de aliviar a tensão quando surgem, as dificuldades de relacionar suas qualidades ou de lidar com o número de personagens ressaltam sobre seus pontos positivos gerando uma obra no mínimo desconjuntada (que não chega a ser sempre terrível). Quando somada ao complicado terceiro ato, que além de curto e apressado representa uma outra estética e dinâmica de todo o resto, torna-se complicado olhar com mais afeto as licenças tomadas por personagens e trama.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.