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  • Crítica | Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível

    Crítica | Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível

    Não é de agora que  a Disney resolveu fazer remakes ou releituras de suas obras clássicas com atores reais. Nos anos 90, tivemos 101 Dálmatas e um filme obscuro de O Livro da Selva, do qual ninguém se lembra (nem a Disney faz questão). Mas desde o lançamento de Malévola, o estúdio do camundongo tem se empenhado para trazer versões realistas de seus personagens, seja na forma de uma refilmagem quase quadro a quadro (como A Bela e a Fera), seja em reinterpretações (como Alice Através do Espelho). Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível entra nessa segunda categoria. O filme do diretor Marc Foster não é sobre as aventuras do Ursinho Pooh e sua turma no Bosque dos Cem Acres, tampouco uma cinebiografia do verdadeiro Christopher Robin (filho do autor A. A. Miles, criador dos personagens). O que vemos na tela é uma história sobre amadurecimento e as preocupações da vida adulta do personagem-título, forçado a deixar sua infância cedo demais e incapaz de enxergar um mundo mais feliz ao seu redor, em consequência de seus traumas e contexto histórico das grandes guerras do início do século XX.

    No início somos apresentados ao “Menino Cristóvão” (ou “Paulo Roberto”, em dublagens mais antigas) que já conhecemos de produções anteriores da Disney. Christopher Robin (Ewan McGregor, na versão adulta) vive feliz em suas brincadeiras com seus bichinhos de pelúcia nos arredores do condado de Sussex, Inglaterra, quando precisa se despedir dos brinquedos para estudar em um colégio interno. O clima de melancolia já começa a se desdobrar a partir de então, quando acompanhamos o crescimento do garoto e sua difícil vida que segue, com a perda do pai e os horrores da guerra. Os primeiros 12 minutos do longa já nos mostra que o garoto imaginativo de então não seria mais o mesmo ao encarar a dura realidade da vida.

    Já como adulto, as preocupações com o trabalho o afastam de sua vida familiar. A relação com sua esposa e filha (que nasceu enquanto ele estava na guerra) é bastante fria, e ao deixar de passar um fim de semana na casa de campo com elas para resolver problemas do trabalho, seu antigo urso de pelúcia surge para lembrá-lo de uma vida mais amena e feliz. Não existe nenhuma explicação para o fato de Pooh ser um ursinho de pelúcia falante, ou de como se chega ao mundo bucólico do Bosque dos Cem Acres, e isso não é um defeito do filme. Pooh apenas aparece, e isso faz com que Christopher reviva momentos de sua infância com Leitão, Tigrão, Coelho, Ió, Corujão, Dona Can e Guru, reencontrando a criança perdida dentro de si e criando novos laços com sua esposa e filha mais tarde.

    A produção acerta em cheio em basear o design dos personagens do Bosque dos Cem Acres em bichos de pelúcia reais, e a fotografia transmite os sentimentos necessários durantes diferentes partes do longa, sendo mais sombria em momentos tensos e colorida nas cenas alegres. A imersão do espectador e o sentimento de nostalgia se torna ainda maior ao ouvir a trilha baseada no tema original, tocada ao piano em diferentes momentos do filme. Embora existam alguns escorregões na trama (em certos momentos, as atitudes de Christopher servem apenas para dar prosseguimento ao roteiro), temos uma história que fala muito mais para os adultos do que para as crianças, nos lembrando de que o que mais importa na vida são as coisas simples. Sim, é uma “moral da história” bastante clichê, mas que funciona dentro da proposta do longa.

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  • TOP 10 | Diretores Pé Frio ou que acabaram na geladeira

    TOP 10 | Diretores Pé Frio ou que acabaram na geladeira

    Você provavelmente já ouviu antes o termo “na geladeira”. Se refere a diretores ou produtores que cairam num ostracismo coletivo na indústria do cinema. Geralmente eles também conseguiram trabalhos muito bem recebidos pela crítica mas que o público ignorou nas bilheterias, e as vezes até pior, desastres de público que os deixaram mal vistos pelos estúdios. E o mais frustante sobre diretores que acabam virando pé frios ou acabam na geladeira é que na maioria dos casos todos são realizadores muito mais talentosos do que a produção que acabou amaldiçoando suas carreiras. Estranhamente, existem também talentosos diretores que apesar da crítica conseguem com filmes pequenos de baixo orçamento marcar sua presença na indústria e quando conseguem um trabalho num grande estúdio parece que o talento desaparece.

    O Diretor M. Night Shayamalan novamente retorna a direção com um thriller estrelando James McAvoy e esse foi o estopim para essa lista. Segue o Trailer de seu mais novo filme, The Split:

    Então apesar dos pesares dessa indústria, segue a lista aqui a lista de diretores pé frio ou que entraram na geladeira.

    1 – Todd Field

    Maior Realização: Entre Quatro Paredes (2001)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Pecados Íntimos (2006)

    O que aconteceu: Após um relativo sucesso como ator na Tv e no Cinema, ele conseguiu respaldo na cena como roteirista e diretor de Entre Quatro Paredes que conseguiu 5 indicações ao Oscar incluindo melhor filme. A bilheteria rendeu consideravelmente bem totalizando 42 milhões nos EUA, sendo uma produção de apenas $1.7. Field seguiu essa mesma pretensão em Pecados Íntimos, outra produção aclamada pela crítica que rendeu três indicações ao Oscar incluindo seu segundo em roteiro adaptado. Infelizmente esse último não rendeu um bom retorno para sua produtora, a New Line, conseguindo apenas 14 milhões, sendo que custou $26. Diretores muito piores já perderam muito mais dinheiro em Hollywood e já estavam com outro projeto logo em seguida para dirigir mas não foi o caso de Field, que passou os 10 anos seguintes procurando desenvolver seu próximo projeto, só que na televisão. O canal Showtime bancou a adaptação de 20 horas do romance Purity, de Jonathan Frazen estrelando Daniel Craig. Field está dirigindo pelo menos 2 episódios.

    2 – Julian Schnabel

    Maior Realização: O Escafandro e a Borboleta (2007)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Miral (2011)

    O que aconteceu:  Reconhecido como pintor, Schnabel fez três grandes filmes: Basquiat (1996), Antes do Anoitecer (2000) e o Escafandro e a Borboleta. Antes do Anoitecer foi um dos mais aclamados filmes daquele ano e concedeu a Javier Bardem sua primeira indicação ao Oscar. Escafandro conseguiu quatro indicações incluindo melhor diretor para Schnabel. O drama quase alcançou a premiação de melhor filme e mesmo assim quase que nem se pagou mesmo com os lucros de mídia física. Seu filme seguinte, Miral, não foi muito bem recebido e financeiramente foi pior ainda. Em teoria Schnabel pode estar pesquisando para seu próximo filme, mas ele também pode estar na geladeira do cinema por falta de financiamento pelos seus últimos dois trabalhos.

    3 – Frank Darabont

    Maior Realização: Sonho de Liberdade (1994)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Cine Majestic (2001)

    O que aconteceu: A vida de Darabont em Hollywood vai piorando a cada filme que o diretor lançou. O outrora roteirista do Jovem Indiana Jones alavancou sua carreira como diretor em 1994 com o que hoje é indiscutivelmente considerado um clássico, Um Sonho de Liberdade. Na época o filme foi um grande sucesso, sua segunda produção, A Espera de um milagre, o colocou na lista” A” de diretores da época. Ele não foi apenas um sucesso de critica como de público ($286 milhões mundialmente) além de ter rendido quatro Oscars incluindo melhor filme.

    Infelizmente, Darabont foi quase ridicularizado pelo seu projeto seguinte, Cine Majestic, com Jim Carrey e Laurie Holden. O Filme realmente não é bom, mas a péssima bilheteria foi motivo para colocar Darabont na geladeira. Na verdade, seu próximo filme foi lançado apenas 6 anos depois, novamente uma adaptação de Stephen King, O Nevoeiro, filme que o diretor já tinha interesse de produzir por décadas, com um orçamento ridiculamente pequeno em relação aos seus trabalhos anteriores. E felizmente, O Nevoeiro na verdade fez dinheiro, mas Darabont mesmo assim não saiu da geladeira. Seu próximo projeto foi The Walking Dead, que acabou com a emissora o demitindo durante a pré-produção da segunda temporada (e só fica pior quando você percebe que logo nesse ano a série se tornou a segunda série mais popular no mundo). Ele contribuiu para o roteiro de Godzilla, e largou alguns projetos como Código de Conduta e O Caçador e a Rainha do Gelo por divergências criativas.

    4 – Tamara Jenkins

    Maior Realização: A Família Savage (2007)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: A Família Savage (2007)

    O que aconteceu:  O que teria acontecido com Tamara Jenkins? A diretora/roteirista que tinha dois impressionantes filmes no currículo: O Outro Lado de Beverly Hills e A Família Savage. O ultimo conseguiu duas indicações ao Oscar incluindo melhor roteiro original para a própria Jenkins. Desde de então ele ficou fora dos holofotes. E não é como se ela tivesse saído de hollywood; Seu marido é Jim Taylor, produtor ganhador do Oscar (Sideways). Ela recentemente escreveu o roteiro do filme Juliet Naked, projeto feito com seu marido para Jesse Peretz dirigir. Mas o filme não parece estar nem em fase de produção. Considerando a falta de espaço de mulheres por trás das câmeras e o talento da diretora, não é ao menos curioso sua situação atual!?

    5 – Debra Granik

    Maior Realização: Inverno da Alma (2010)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Não é claro.

    O que aconteceu:  Assim como Jenkins é no minimo muito estranho que não tenhamos ouvido nada sobre Granik desde Inverno da Alma. A sensação do festival de Sundance que mostrou o rosto de Jennifer Lawrence pro mundo e entregou duas indicações para mulheres no Oscar daquele ano torna a história muito curiosa. Vale lembrar que o filme custou apenas 2 milhões, rendendo $13.7 e foi o longa responsável por colocar a distribuidora Roadside Attractions no mapa. Em 2014, Granik lançou seu documentário Stray Dogs e esta rodando mais um drama chamado My Abandonment que tem lançamento previsto para o próximo ano. Dito tudo isso, como ela não conseguiu mais atenção dos grandes estúdios? Em 2012 ela desenvolveu uma série piloto para HBO que não saiu do papel em 6 anos.

    6 – Walter Salles

    Maior Realização: Diários de Motocicleta (2004)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Na Estrada (2012)

    O que aconteceu:  Salles, que se tornou o proeminente diretor do conhecido mundialmente Central do Brasil (1998). Um incrível drama com a talentosa Fernanda Montenegro, foi indicado ao Oscar em melhor filme estrangeiro, além de ter rendido cinco milhões apenas nos EUA. Sua produção seguinte, Diarios de Motocicleta é talvez seu melhor longa e ganhou melhor canção original em 2005. Porém o problema de Salles com Hollywood começou com a refilmagem do horror japonês, Água Negra, estrelado por Jennifer Connelly. O filme teria caido na onda de refilmagens de terror asiático como O Chamado e O Grito. O filme não foi apenas ruim mas péssimo em bilheteria,  não conseguindo nem pagar seus 30 milhões de orçamento. Salles não fez outro filme em inglês até a adaptação da obra máxima de Jack KerouacNa Estrada. Com um elenco estelar incluindo Kristen Stewart, Amy Adams, Viggo Mortensen, Kristen Dunst e Elisabeth Moss (Aquela que estava em Mad Men, uma das maiores produções de TV da década). Infelizmente o filme não foi um sucesso, dividindo a crítica e rendendo apenas 8 milhões de uma produção com custo em $25. Até esse ponto,  Salles provavelmente vai precisar de mais um novo pequeno filme que vai tira-lo da geladeira novamente.

    7 – Marc Foster

    Maior Realização: Em Busca da Terra do Nunca (2004)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Quantum of Solace (2007), Redenção (2011), Guerra mundial Z (2013)

    O que aconteceu: Diretor superestimado ou autor subestimado? Ou os dois? Essa é a maior questão nas discussões sobre a carreira desse diretor. Que entregou obras muito interessantes como Em Busca da Terra do Nunca e a Última Ceia mas também parecia muito fora da sua qualidade quando trabalhou em grandes franquias como 007 – Quantum of Solace (considerando também que o derrame do roteirista na época também não favoreceu em nada na produção) e Guerra Mundial Z (Um filme que foi um desastre homérico dentro dos bastidores e até hoje não é claro a quem culpar) Forster tentou voltar as suas rotas independentes com o lançamento desse ano All I See Is You, que foi premiado no festival de Toronto desse ano, mas também dividiu a crítica além de não ter conseguido um distribuidor oficial nos EUA. Existem incontaveis exemplos de diretores que assim que entraram num grande estúdio simplesmente não conseguem fazer nada dar certo. Infelizmente Foster aparentemente está nesse balaio.

    8 – Josh Trank

    Maior Realização: Poder Sem Limites (2012)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Quarteto Fantástico (2015)

    O que aconteceu: O que dizer que já não foi dito ainda? Ele demonstrou um enorme talento no seu Found Footage, mas se tornou o motivo de tudo ter se tornado um desastre na refilmagem do reboot do Quarteto Fantástico. Pior ainda que isso, Trank se tornou persona non grata por seus tweets culpando os problemas da produção por interferência do próprio estúdio. Isso não vai queimar sua reputação em todos os estúdio de Hollywood, mas a situação parece mais feia quando ele recentemente foi descartado de um spin-of de Star Wars em pré produção meses antes do lançamento do filme do Quarteto. O Comportamento do diretor no set e 100 mil dólares numa casa alugada durante a produção do Quarteto Fantástico fizeram sua fama de diretor prepotente e completamente impaciente. Ninguém esta dizendo que ele não é talentoso, a questão é que mesmo que ele encontre novamente um produtor que banque um novo projeto, é dificil pensar o que pode vir após seu último trabalho. Apesar de que ele já tem um filme do Al Capone em produção com o nome de Tom Hardy confirmado.

    9 – Richard Kelly

    Maior Realização: Donnie Darko (2001)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria:  Southland Tales (2006)

    O que aconteceu: Richard E. Kelly é muito talentoso. Muitos cinéfilos estão convencidos disso. Mesmo que não tenha um segundo grande filme, Donnie Darko é um filme criticado e discutido até hoje pela sua incrível capacidade de instigar dúvidas a cada transição de capitulo. Fez a primeira grande interpretação de Jake Gyllenhaal. Seu próximo filme Southland Tales, foi um desastre de proporções épicas. Lucrando miseros $374,743 mil dólares nos EUA mas custou $17 milhões para ser feito. De alguma maneira Kelly conseguiu outra chance com a Warner para dirigir um longa baseado no curta de Richard Mattheson “Button, Button”, mais conhecido no Brasil como A Caixa. Esse foi tudo o que Southland não foi: Bem dirigido, bem atuado e intrigante. Os críticos apesar de tudo não viram isso e o longa nunca recuperou seus 30 milhões de produção. Além disso Kelly tem essa má sorte; Ele perdeu a chance de fazer seu filme Amicus, que o protagonista seria o já falecido James Gandolfini,  e até então não escreveu ou dirigiu nada em sete anos.

    10 – Mimi Leder

    Maior Realização: Impacto Profundo (1998)

    Filme que iniciou seus problemas na indústria: Corrente do Bem (2000)

    O que aconteceu: Um dos mais claros exemplos da maneira como Hollywood trata suas diretoras mulheres é o caso de Mimi Leder. Ela fez seu nome primeramente dirigindo E.R, e ganhando um Emmy por essa direção.  Após tal realização a pressão dos estúdios foi consideravelmente substancial: O Pacificador, com George Clooney e Nicole Kidman recebeu críticas sólidas e conseguiu de volta seus 50 milhões de dólares que gastou durante a produção. Depois disso a Paramount e DreamWorks a contrataram para dirigir Impacto Profundo, o filme em contrapartida ao anteriormente lançado Armageddon de Michael Bay. Infelizmente o filme não fez tanto sucesso quanto o já citado, mas conseguiu um retorno muito mais positvo em críticas e foi um Blockbuster de $348 milhões no mundo inteiro. A verdade é que Leder fez história sendo a primeira diretora mulher a realizar um legitimo Blockbuster de Hollywood. Depois disso a diretora trabalhou num pequeno projeto no ano 2000 com  Kevin Spacey e Helen Hunt, Corrente do Bem. Infelizmente, o filme só conseguiu críticas negativas, mas recebeu retorno do público. Leder entrou na geladeira mas o seu Corrente do Bem conseguiu se pagar e render algum dinheiro numa produção de 40 milhões que rendeu 55. Hoje Leder voltou para a TV, trabalhando e tendo seu trabalho reconhecido dirigindo episódios de The West Wing e The Leftovers, e outras séries.

    O Guillermo Del Toro poderia ter entrado nessa lista, pelo menos pé frio ele é…

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Guerra Mundial Z

    Crítica | Guerra Mundial Z

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    O gênero zumbi é conhecidíssimo do grande público nos tempos atuais, principalmente por causa do sucesso da série de TV The Walking Dead. Grande parte deste sucesso é devido ao fato de que o criador do gênero moderno de zumbis, George Romero, usou essa temática para fazer analogias, sempre críticas, da sociedade naquele momento.

    Nos anos 2000, o gênero “zumbi” voltou com tudo após ficar em dormência durante os anos 80 e 90. Os expoentes desta retomada foram Extermínio e Madrugada dos Mortos. Porém, a estética dos zumbis se alterou. Ao invés de criaturas decrépitas e lentas, agora temos zumbis super-rápidos e que se movem sempre em grupos enormes com um comportamento irracional, e é aqui que se encaixa a analogia aos tempos modernos, a crítica ao consumismo, as grandes massas que se movimentam sem pensar, somente seguindo impulsos primários, aglomerando-se e brigando por aquilo que consideram vital. Quem já passou por uma liquidação, ou mesmo vivenciou uma Black Friday, deve ter experimentado algo parecido.

    Guerra Mundial Z segue nessa linha, porém, à sua própria forma. Terminou de ser filmado em 2011, mas problemas de produção, brigas entre o ator/produtor Brad Pitt e o diretor Marc Foster atrasaram o lançamento do longa, que até teve o final refilmado. Geralmente filmes com problemas assim acabam dando um resultado ruim, mas não foi este o caso. Guerra Mundial Z convence como filme-catástrofe e como ação. Consegue prender a atenção do espectador e criar momentos genuínos de tensão sem apelar a (muitos) clichês do gênero.

    Na história, Gerry Lane (Pitt) é um ex-funcionário da ONU especialista em trabalhar em regiões de conflito pelo mundo, por isso sua intensa experiência em fugas de situações de risco. Porém, agora ele está aposentado. E o filme se inicia justamente em seu cotidiano familiar na Filadélfia, ao mesmo tempo em que somos apresentados gradualmente a notícias de uma estranha infecção estar se espalhando pelo mundo (também excepcionalmente apresentada na abertura, com a também boa música-tema executada pela banda britânica Muse).

    Durante também uma excelente sequência no trânsito congestionado, somos apresentados a infecção de uma hora para outra, o que não pareceu fazer muito sentido, porque por mais que Lane conte o tempo de infecção através de mordida em 12 segundos, uma onda como a que atravessa a cidade seria sentida bem antes, de forma mais gradual. Neste aspecto, o avanço da infecção mostrado em Todo Mundo Quase Morto parece muito melhor construído, mesmo se tratando de uma paródia do gênero.

    A partir daí, o 1º ato é todo de Lane e sua família tentando fugir da infecção, conseguir mantimentos e procurar abrigo, o que também tem dois pontos negativos: a cena do supermercado, onde sua mulher é atacada sem mais nem menos em meio a uma multidão, para criar uma tensão que soou um pouco artificial, e a vitimização e o excesso de bondade e hospitalidade de imigrantes latinos que recebem Lane em sua família. Há a clara tentativa de sensibilizar o espectador, que também soa um pouco artificial. Pequenos problemas e situações ao mesmo tempo forçadas e sem sentido naquele contexto se repetem algumas vezes durante a exibição, o que talvez possa ser creditado a tantos problemas de filmagem e produção.

    No entanto, após o 2º ato seguimos Lane por sua investigação no mundo a respeito de como a doença surgiu e como poderia pará-la. E o comportamento de Lane frente à ameaça é um dos pontos mais interessantes do filme, já que geralmente protagonistas de filmes desse gênero não conseguem aprender com a prática, observando e tirando conclusões, o que Lane faz de maneira bem clara e inteligente, e sempre com o propósito de avançar a história. As sequências na Coreia do Sul e principalmente em Israel são boas, apesar dos zumbis escalando o muro e correndo em hordas parecerem artificiais demais em alguns momentos.

    Na parte final, no laboratório da OMS, momentos de tensão são muito bem construídos, com o som ambiente silencioso, construindo uma crescente e lenta angústia no espectador, consciente que o menor ato pode desencadear uma tragédia. No final, a história tem um desfecho aceitável, e que provavelmente será retomada em continuações.

    Apesar de alguns problemas, Guerra Mundial Z convence ao criar momentos honestos de tensão e medo, e um senso de urgência real frente ao perigo apresentado, onde conseguimos nos identificar com o protagonista, suas intenções e reações. Em um gênero tão desgastado por filmes e séries de TV, é sempre bom ver algo que tente apresentar algo de novo.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | 007: Quantum Of Solace

    Crítica | 007: Quantum Of Solace

    Após o sucesso de Cassino Royale, a franquia de James Bond parecia novamente blindada, com grande potencial de apresentar uma sequência tão interessante como a primeira produção. Porém Quantum Of Solace não se mantém como obra por depender do desenvolvimento da trama anterior, sem um novo enfoque.

    Há uma significativa troca dos tradicionais vilões da franquia para uma personagem mais humana, sem nenhuma característica física marcante e que, sem um objetivo evidente de destruição, é um mercenário oportunista e ganancioso.

    O grupo terrorista que tinha como líder Le Chiffre era apenas um pequeno detalhe de uma rede mundial inserida no subterrâneo de cada governo, informações que nem mesmo o MI6 tinha conhecimento prévio. É dentro dessa ordem que James Bond tenta impedir que o grupo realize um acordo que prejudicará um país de terceiro mundo.

    Se a narrativa carrega potencial, teve uma execução mal formatada. Principalmente por ter sido realizada na época da greve dos roteiristas. O abalo significou começar as filmagens sem o roteiro completo, fazendo com que até mesmo Daniel Craig fosse obrigado a escrever diálogos para dar sequencia as gravações. Recentemente o ator pediu desculpas pelo fato, ciente de sua limitação para o cargo.

    Embora composto pelos mesmos roteiristas do primeiro, a trama parece um confuso emaranhado político entrecortado por cenas de ação. A direção de Marc Foster oscila, sem o mesmo apuro que Martin Campbell nas cenas físicas que repetem a estética sem o mesmo brilho. E parecendo aguardar algum gancho importante que nunca chega no clímax.