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  • Dia dos Investidores da Disney: Os Principais Anúncios do Universo de Star Wars

    Dia dos Investidores da Disney: Os Principais Anúncios do Universo de Star Wars

    Meus amigos, a Disney não está para brincadeira! A data de dez de dezembro de 2020 poderá entrar para uma das principais da história desta gigante do entretenimento, já que foi o Dia dos Investidores da Disney, onde a “empresa do Mickey Mouse” apresenta para seus investidores seus projetos futuros. Foi uma maneira agradável de dizer que o seu dinheiro será empregado pesadamente em produções audaciosas para o público em geral, que envolve a Disney propriamente dita, a Pixar, Marvel e Lucasfilm com o universo de Star Wars.

    De fato, o que se viu foi que a Disney investirá pesado no seu canal de streaming, o Disney+, demonstrando querer viver não só do passado, mas de um futuro bastante promissor. Inclusive, o evento aproveitou para mencionar o sucesso estrondoso do canal que já está próximo de bater a meta que estava prevista para daqui 4 anos.

    Mas nem tudo são flores, uma vez que diversos projetos poderão sofrer cancelamentos ou mudanças em suas trajetórias. Falaremos isso em um texto mais específico.

    Aqui nós acompanharemos o que vem por aí no mundo criado por George Lucas em Star Wars.

    É inegável o sucesso de The Mandalorian, a série desenvolvida por Jon Favreau e Dave Filoni, que conta a história de um caçador de recompensa mandaloriano que, durante um serviço, resgata um bebê da mesma raça do mestre Yoda e que também é sensitivo na Força. As aventuras de “Mando” são leves, engraçadas, recheadas de ação, possuindo tudo que um velho fã de Star Wars quer. Importante dizer que a série foi o termômetro para diversas outras produções anunciadas.

    ROGUE SQUADRON

    Um dos anúncios mais importantes da noite foi o do tão aguardado novo filme de Star Wars: Rogue Squadron. Seguindo a linha de Rogue One e Solo, Rogue Squadron acompanhará o esquadrão de elite da aviação da Aliança Rebelde. A direção ficará a cargo de Patty Jenkins (Mulher-Maravilha), que disse que gostaria de fazer o maior filme sobre pilotos de guerra já feito. Rogue Squadron tem previsão para chegar aos cinemas em dezembro de 2023.

    OBI-WAN KENOBI

    Outro ponto alto da noite foi a confirmação oficial da produção da série de Obi-Wan Kenobi, ganhando título oficial, a confirmação do retorno de Ewan McGregor na pele do mestre Jedi, além do grande retorno de Hayden Christensen como Darth Vader. O seriado se passará 10 anos após os eventos de A Vingança dos Sith e, segundo a diretora Deborah Chow, a galáxia se tornou um lugar perigoso com a ascensão do Império e tem pessoas caçando cavaleiros Jedi. Obi-Wan precisará lidar com isso e ainda proteger o jovem Luke Skywalker.

    AHSOKA

    Após aparecer lindamente interpretada por Rosario Dawnson na segunda temporada de The Mandalorian, Ahsoka Tano ganhou uma série para chamar de sua. Assim como em Mandalorian, Ahsoka será capitaneada por Jon Favreau e Dave Filoni e trará novamente Dawson na pele da guerreira Jedi que deve continuar vasculhando a galáxia em busca de seu amigo Ezra Bridger e do Almirante Thrawn, desaparecidos ao final de Star Wars: Rebels.

    RANGERS OF THE NEW REPUBLIC

    Assim como Ahsoka, este outro derivado de The Mandalorian, também contará com a batuta de Favreau e Filoni e como o próprio nome já diz, mostrará os oficiais da Nova República. Em Mandalorian já vimos alguns deles pilotando X-Wings e colhendo informações em terra.

    ANDOR

    Andor é uma série que já está em estágio avançado de produção, tanto que foi divulgado um vídeo com cenas das filmagens e bastidores da produção. No vídeo, podemos perceber que é uma série que está investindo pesado em cenários, figurino e criaturas. Andor é sobre o personagem Cassian Andor, vivido por Diego Luna, que também assina a produção executiva da série. Andor foi o responsável por recrutar Jyn Erso para a Aliança Rebelde nos eventos de Rogue One: Uma História Star Wars.

    LANDO

    Lando Calrissian também ganhará sua própria série, mas não se sabe em qual momento ela se passará e nem se Donald Glover ou Billy Dee Williams, que fizeram o personagem nos cinemas, retornarão.

    THE BAD BATCH

    Se fôssemos traduzir esse nome, poderíamos dizer que um bad batch é um lote com defeito. A nova série animada de Star Wars teve seu primeiro trailer divulgado e se passará durante as Guerras Clônicas e talvez, logo após de A Vingança dos Sith. Bad Batch já teve um arco criado por George Lucas em Clone Wars. Segundo o criador, ele gostaria de explorar a ideia de que alguns dos clones fossem um pouco mais únicos que os outros, com habilidades um pouco mais especiais, formando assim uma unidade de forças especiais de batalha.

    The Bad Batch teve seu primeiro trailer divulgado e o que se pode esperar é muita ação nessa série animada que será a substituta de Clone Wars.

    VISIONS

    Talvez o projeto mais diferente apresentado, Visions explorará o universo criado por George Lucas em curtas animados, sendo que, seu diferencial será a forte influência do anime japonês, com diversos especialistas envolvidos no projeto.

    Para quem quiser pesquisar, num passado não muito distante, um trecho de uma animação japonesa de uma batalha espacial travada entre pilotos do Império e da Aliança Rebelde viralizou nas redes. Existe grandes chances de Visions ter nascido após esse vídeo.

    THE ACOLYTE

    Uma série com pegada de suspense e mistério, desenvolvida por Leslye Headland, responsável pelo ótimo Boneca Russa, e que acompanhará a época final da Alta República, com a ascensão dos poderes do Lado Sombrio. Poderemos ver muitos sabres de luz e diversos embates entre Jedi e Sith.

    Também foi confirmado que Taika Waititi dirigirá um filme inédito, inesperado e único no universo da franquia. O cineasta que cuida dos filmes do Thor no Universo Cinemático Marvel, já dirigiu episódios de The Mandalorian.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa

    Crítica | Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa

    Não é a toa que o nome do longa Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa foi mudado para Arlequina em Aves de Rapina, para muito além do insucesso de bilheteria que ele sofreu, pois o filme de Cathy Yan é todo montado para que Margot Robbie brilhe. O início da trama se dá em um monologo franco, que se confunde com uma narração que fala direta ao público, onde a palhacinha  fala a respeito de sua jornada trôpega e violenta rumo a independência.

    Yan acerta na direção ao abordar a historia de uma forma lisérgica , lidando de um jeito divertido com as situações graves vividas pela personagem nessa encarnação, fazendo tudo soar leve, acompanhado claro de uma edição frenética e videoclíptica. É bem curioso como mesmo tendo adjetivos bem parecidos com os vistos no péssimo Esquadrão Suicida de David Ayer, não há uma desordem ou falta de identidade como no filme anterior, ao contrário, cada personagem secundário e a própria protagonista são muito bem justificados, fugindo da pecha clichê de família forçada ou vilões  e contraventores que praticam sacrifícios que nada tem a ver com o caráter de cada um.

    A dedicação a jornada de emancipação das integrantes das Aves de Rapina tem uma configuração bem diferente da dos quadrinhos, isso não necessariamente é ruim, mas fato é que essas encarnações estão muito distante do que é conhecido por essência e caráter das personagens. Entre os mais fiéis, certamente a Caçadora de Mary Elizabeth Winstead (soberba em sua jornada de vingança) é a que mais lembra a personagem original. A Renee Montoya que Rosie Perez faz tem boa parte das características, mas é um personagem de alívio cômico um pouco exagerado, já as versões da Canário Negro de Jurnee Smollett-Bell é bem diferente, mas nessa versão há  camadas que deixam a personagem bem complexa. Por parte do grupo de protagonistas, apenas a Cassandra Cain de Ella Jay Basco decepciona um pouco, pois só pega emprestado o nome da ex-Batgirl, mas sua personagem move a historia tão bem que não compromete toda a trama.

    O filme é visualmente deslumbrante, a edição brinca com entradas e saídas dos lugares onde as mulheres aparecem, quase como se elas adentrassem portais em uma metáfora digna de desenhos animados dos irmãos Fleischer e os vistos nos clássicos dos Looney Tunes. Há todo um aspecto cartunizado que faz referencia a origem de Harleen Quinzel no desenho animado do Batman de Bruce W. Timm, ainda que aqui isso não seja levado tão a serio.

    A quebra da quarta parede só ocorre bem porque Robbie está muito afinada, e porque ha uma bela química entre ela, Winstead, Smollet-Bell e Basco. Mesmo Ewan McGregor está muito bem, embora seja um pouco apagado durante a trajetória das mulheres que buscam sua independência. Seu Roman Sionis tem poucas características do Máscara Negra original, mas a releitura é bem digna do vilão que chegou a ser um dos maiores antagonistas do Morcego durante os nos 2000. Fica a curiosidade para ver o Batman dentro dessa versão de Gotham, mesmo que por ser essa uma historia contida, se entenda porque ele não aparece.

     O desfecho de Aves de Rapina é um pouco truncado, a tentativa de justificar a metalinguagem é desnecessária e expositiva em excesso, o espectador não é bobo e não é preciso que se reforce a ideia de que a Arlequina é uma versão feminina do mercenário tagarela Deadpool (em alguns pontos,essa pecha é até justificada, como nos quadrinhos recentes pós novos 52), mas ainda assim o final possui o humor negro e o gore que ajudaram tantos filmes baseados em quadrinhos a se tornarem populares, é realmente lastimável o resultado ruim de bilheteria, pois esse nem pode ser chamado de um filme de nicho, tampouco é uma obra preocupada em lacrar ou qualquer panfletarismo barato que tanto acusam essa versão de Birds of Prey.

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  • Crítica | Doutor Sono

    Crítica | Doutor Sono

    É inevitável que Hollywood revisite alguns de seus maiores clássicos, na impossibilidade de revisitar todos por questões práticas (talvez nem tudo pareça rentável aos olhos dos executivos que regem estúdios), já que revigorar IPs envolve menor risco financeiro e criativo por parte de quase qualquer projeto. Quando se trata de filmes especialmente populares e cultuados, o máximo que espectadores podem esperar é algum nível de respeito e circunstância em torno da obra original; mesmo que a realização seja por parte de artistas com as melhores intenções, o norte destes empreendimentos artísticos é mercadológico, e os resultados variam conforme o vento (mais precisamente de acordo com as correntes que controlam orçamento e distribuição). Doutor Sono, continuação de O Iluminado, peça seminal da filmografia de Stanley Kubrick, baseado na continuação literária homônima de Stephen King para a obra adaptada (com várias liberdades) por Kubrick, não é a primeira vez que Hollywood se aventura em uma sequência para um filme de Kubrick (2010 – O Ano em que Faremos Contato, sequência de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, a antecedeu; ambos os filmes igualmente inspirados em livros de Arthur C. Clarke), mas certamente é a mais honesta e inspirada incursão possível de volta àquele universo. Por consequência, uma das raras ocasiões em que voltar a um clássico realmente não parece motivado exclusivamente por dinheiro.

    Roteirizado (reescrito, na verdade) e dirigido por Mike Flanagan, um dos mais sólidos realizadores aninhados no terror e em subgêneros adjacentes, Doutor Sono traz Ewan McGregor no papel de Daniel Torrance, a criança “iluminada” (capaz de feitos como projeção astral, percepção extrasensorial, telepatia e telecinese) da obra original, décadas após os eventos transcorridos no hotel Overlook, tentando reconstruir uma vida permeada por paranormalidade, perdas, traumas e vícios, e que se vê às voltas com outra criança (Abra Stone, vivida por Kyliegh Curran) dotada com os mesmos poderes e um grupo de iluminados (liderados por Rose Cartola, ótima personagem de Rebecca Ferguson) que busca pessoas semelhantes para consumir suas energias vitais e prolongar a própria existência.

    Dan, que sobreviveu como pode junto de sua mãe aos eventos d’O Iluminado, quando a instabilidade emocional causada pela bebida fez seu pai, Jack Torrance sucumbir às forças obscuras presentes no Overlook, passou por (previsíveis) maus-bocados na idade adulta; com a morte da mãe, Wendy (Alex Essoe em flashbacks e breves recriações de O Iluminado), Dan se entregou a atitudes autodestrutivas e vícios que chegaram perto de destruir sua vida e, muito provável, várias outras. Chegando ao fundo do poço, o protagonista consegue um reinício em uma pequena cidade, largando a bebida e encontrando algum rumo na forma de um solícito amigo, Billy (Cliff Curtis), que o conduz ao AA, onde Dan encontra apoio, fortitude, e também uma oportunidade de emprego, como auxiliar-geral de um asilo. Sua condição de iluminado o permite confortar pacientes terminais ou próximos da morte. Ao passo em que encontra alguma paz de espírito, Dan começa a se comunicar com Abra, cujos poderes tem imenso alcance, através de escritos na parede do sótão que aluga. Abra, por sua vez, devido a este imenso alcance, acaba atraindo a atenção do Nó, um grupo de longevos iluminados que busca seus pares a fim de vampirizar seus poderes ou somá-los ao bando. Já tendo escassas fontes de poderes e vitalidade, enfraquecidos pela idade e apreensivos pela manutenção das vidas que levam, os membros do Nó descobrem Abra quando esta os observa, em choque, atacando outra criança iluminada – e Rose Cartola rapidamente a estabelece como o novo e oportuno alvo preferencial do Nó. Que Abra recorra a Dan de alguma forma em busca de justiça e compreensão para a violência que testemunhou, é um desdobramento lógico; Dan, no entanto, demorou o tempo de uma vida para se desvencilhar de traumas antigos, e reluta em tomar parte em ocorrências extraordinárias; é o incentivo de Dick Hallorann (Carl Lumbly), seu mentor e amigo, vítima de seu pai no hotel Overlook, que enfim o propele a não fugir de seus próprios destino e responsabilidade, mesmo que o curso das ações o conduza justamente até aonde Dan jamais quereria voltar.

    Num primeiro momento, a expansão da ambientação e dos elementos presentes no filme original parecem condenar Doutor Sono a um inchaço desnecessário. O Iluminado é um filme simples e absurdamente eficiente em estabelecer sua premissa e o desenrolar dos fatos, e Doutor Sono, além de observar o filme de Kubrick, precisa (idealmente) apresentar algo que justifique sua existência de maneira a não diminuí-lo diante de seu predecessor (o que em si já configuraria um desrespeito). Mas é justamente o entendimento da necessidade de construir algo baseado no que Kubrick realizou que o trabalho de Flanagan se sobressai; se Kubrick demonstrava interesse genuíno na fragmentação psicológica de Jack Torrance diante do fracasso profissional e como provedor, e na maneira como as trevas se apoderaram de sua mente em meio ao isolamento (físico e mental) crescente cultivado em meio ao pesadelo do abuso de álcool, é a recomposição de Dan como indivíduo que leva Doutor Sono adiante. O roteiro de Flanagan aproveita o reencontro de Dan com sua dignidade para permiti-lo uma reconciliação com seus poderes e com as possibilidades de fazer algo bom, algo contrário à sua história, e não sucumbir ao medo de explorar seu próprio potencial (uma alegoria singela para algo tão nocivo quanto qualquer perverso fantasma remanescente no Overlook). Em determinado momento, o orgulho de Dan vence o peso da culpa que carrega ao constatar que conseguiu somar um período de sobriedade imensuravelmente maior do que seu pai jamais havia conseguido, e é um ótimo exemplo da valorização de Doutor Sono a pequenas mas significativas vitórias de suas personagens. Da mesma forma, Flanagan (um cineasta nem tão sutil, mas que sempre busca soluções elegantes e diretas em suas obras) não tenta perverter a estética e as convenções narrativas de O Iluminado em um esforço tolo para diferenciar-se ou de alguma forma superá-lo, seja em escala ou em impacto – o maior trunfo do longa é se aceitar como uma derivação natural do que veio antes, algo que ecoa também na maneira como suas figuras relacionam-se com a realidade fantástica que habitam. Dan tenta suprimir sua iluminação até aceitá-la como parte de quem ele é; Abra entrega-se a um uso justo e benevolente de seus poderes, e o Nó, guiado por Rose, objetiva apenas tragar energia para perpetuar-se em um estado irredutível de vida fácil e predatória. Não é à toa que Dan decide opor-se ao Nó em defesa de Abra, após um empurrãozinho de Dick Hallorann, e que para Abra e para o Nó suas posições pareçam ser as únicas possíveis. Se n’O Iluminado Danny era apenas uma vítima das elucubrações malignas das presenças do Overlook, em sua sequência ele pela primeira vez tem a chance de enfrentar personificações do mal ao invés de apenas fugir e eventualmente testemunhar desdobramentos trágicos. É claro que a história de Dan, mesmo girando em torno de Abra e contra o Nó, não poderia escapar de um enfrentamento com o próprio Overlook, mas atestando a busca por soluções que honram o original, a trama da continuação se direciona com simplicidade e clareza ao resgate daquele espaço, em si uma manifestação das ideias de Kubrick para a criação de King.

    É curioso como a reverência de Flanagan pelo filme de Kubrick o inspira de forma saudável para desenvolver Doutor Sono como um capítulo de vida própria; Flanagan não tem medo de destoar razoavelmente da construção estética de O Iluminado, mas mesmo suas propostas mais ousadas (uma sequência de projeção astral, a representação dos pensamentos de Abra e Rose em suas respectivas mentes, a expansão das capacidades paranormais de iluminados) parecem soluções adequadas ao que cineastas daquela época, pós-Nova Hollywood, apresentariam. Talvez o elemento mais deslocado seja a apoteose da vampirização de iluminados pelo Nó, mas onde Flanagan perde pontos pela obviedade, ganha pela intensidade do processo e pelo efeito quase transcendental nos membros do bando – Doutor Sono não é um filme amedrontador como em certos momentos o é o filme que o inspirou, então, é elogiável quando consegue ser realmente macabro. Isto é parte do estilo de Flanagan em seus filmes e séries, e é incrível que ele não tenha aberto mão da mesma abordagem emocional que utilizou em A Maldição da Residência Hill para realizar uma continuação para a obra original. Kubrick recontou a trama familiar de Stephen King por uma ótica mais distante e observadora, e Doutor Sono soa como um resgate consciente dos valores dos livros de King na ambientação da película original. Muito se fala em reconciliar os universos literário e cinematográfico de King e Kubrick em Doutor Sono, mas Flanagan parece entender que as diferenças são irreconciliáveis, e que o melhor denominador comum é reconhecer as discrepâncias como pertinentes à complexidade de Dan, Jack e as novas personagens. Uma saída esperta e cheia de classe para um distanciamento bem conhecido por quem acompanhou a trajetória de O Iluminado das páginas às telas.

    Embora Ferguson tenha quase todos os melhores momentos de personagem  vil e carismática como uma autêntica habitante do Overlook, McGregor não fica atrás com seu Dan/Danny Torrance; aqui, existe a oportunidade de reapresentar o objeto de desejo dos fantasmas do Overlook como alguém dobrado pelas circunstâncias e atormentado por questões fora de seu controle, e que de certa forma nunca amadureceu de forma apropriada por não ter crescido e vivido como alguém normal, e o longa ainda nos sugere uma boa reflexão; quanto da facilidade com que Abra lida com sua condição é propiciada por uma família saudável, e quanto da ruína sentimental de Dan foi resultado direto de uma família em processo de decomposição tão avançado quanto a mulher do quarto 237. Também merecem menções Cliff Curtis e Zahn McClarnon, respectivamente como Billy, amigo e apoiador de Dan em sua nova vida, e Corvo, parceiro de Rose Cartola e um dos mais eficazes membros do Nó (é particularmente satisfatório ver McClarnon participar de um ótimo filme, após grandes papéis em séries como Fargo e Westworld). Flanagan é um ótimo diretor de atores, e os poucos momentos em que Doutor Sono se distancia mais do visual de O Iluminado, que o filme tende a seguir à risca, são exatamente os momentos em que Flanagan permite que as câmeras orquestradas por Michael Fimognari, seu parceiro habitual na direção de fotografia, se detenha mais nos rostos dos elenco e menos na integração destes rostos ao tecido narrativo do filme

    Em geral, a trilha sonora composta pelos Newton Brothers para Doutor Sono ecoa certas manias do terror contemporâneo, e um filme quieto como este dispensaria até mesmo os poucos jump scares espalhados (e espaçados) pela generosa duração, mas há de se aplaudir em especial as breves intervenções da trilha original. A intenção de Flanagan era a de acrescentar ao universo dos iluminados, não a de apelar para a nostalgia desmedida (cineastas menos inspirados/as não pensariam duas vezes antes de recorrer à saudade de um clássico do cinema de horror), e isto conduz à maior prova de coragem e confiança de Doutor Sono: ao invés de apelar para recriações digitais, Flanagan escalou atores contemporâneos para personagens consagrados e praticamente indissociáveis se suas intérpretes. Carl Lumbly empresta solenidade e calor humano a um Dick Hallorann que já era adorável com Scatman Crothers, e Alex Essoe demonstra uma compreensão impressionante de como era a Wendy vivida por Shelley Duvall, sem concessões à Wendy caricatural que habita o imaginário coletivo de muita gente que assistiu ao filme original. É fácil repovoar o Overlook com bartenders, assessores e gêmeas sem maiores funções narrativas, mas conferir importância e gravitas a personagens que sempre serão alvo de escrutínio por parte do público, ainda mais através de rostos novos, é um ato de bravura – e Flanagan reserva uma surpresa fabulosa para um momento único de introspecção e desespero. Essoe, Lumbly e um recorrente ator nas obras de Flanagan simbolizam à perfeição o apreço dos envolvidos para com a obra original, e a excelência de Doutor Sono como sucessor valoroso a O Iluminado confirma que interesses duvidosos nem sempre impedem um triunfo.

    Texto de autoria de Henrique Rodrigues.

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  • Crítica | Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível

    Crítica | Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível

    Não é de agora que  a Disney resolveu fazer remakes ou releituras de suas obras clássicas com atores reais. Nos anos 90, tivemos 101 Dálmatas e um filme obscuro de O Livro da Selva, do qual ninguém se lembra (nem a Disney faz questão). Mas desde o lançamento de Malévola, o estúdio do camundongo tem se empenhado para trazer versões realistas de seus personagens, seja na forma de uma refilmagem quase quadro a quadro (como A Bela e a Fera), seja em reinterpretações (como Alice Através do Espelho). Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível entra nessa segunda categoria. O filme do diretor Marc Foster não é sobre as aventuras do Ursinho Pooh e sua turma no Bosque dos Cem Acres, tampouco uma cinebiografia do verdadeiro Christopher Robin (filho do autor A. A. Miles, criador dos personagens). O que vemos na tela é uma história sobre amadurecimento e as preocupações da vida adulta do personagem-título, forçado a deixar sua infância cedo demais e incapaz de enxergar um mundo mais feliz ao seu redor, em consequência de seus traumas e contexto histórico das grandes guerras do início do século XX.

    No início somos apresentados ao “Menino Cristóvão” (ou “Paulo Roberto”, em dublagens mais antigas) que já conhecemos de produções anteriores da Disney. Christopher Robin (Ewan McGregor, na versão adulta) vive feliz em suas brincadeiras com seus bichinhos de pelúcia nos arredores do condado de Sussex, Inglaterra, quando precisa se despedir dos brinquedos para estudar em um colégio interno. O clima de melancolia já começa a se desdobrar a partir de então, quando acompanhamos o crescimento do garoto e sua difícil vida que segue, com a perda do pai e os horrores da guerra. Os primeiros 12 minutos do longa já nos mostra que o garoto imaginativo de então não seria mais o mesmo ao encarar a dura realidade da vida.

    Já como adulto, as preocupações com o trabalho o afastam de sua vida familiar. A relação com sua esposa e filha (que nasceu enquanto ele estava na guerra) é bastante fria, e ao deixar de passar um fim de semana na casa de campo com elas para resolver problemas do trabalho, seu antigo urso de pelúcia surge para lembrá-lo de uma vida mais amena e feliz. Não existe nenhuma explicação para o fato de Pooh ser um ursinho de pelúcia falante, ou de como se chega ao mundo bucólico do Bosque dos Cem Acres, e isso não é um defeito do filme. Pooh apenas aparece, e isso faz com que Christopher reviva momentos de sua infância com Leitão, Tigrão, Coelho, Ió, Corujão, Dona Can e Guru, reencontrando a criança perdida dentro de si e criando novos laços com sua esposa e filha mais tarde.

    A produção acerta em cheio em basear o design dos personagens do Bosque dos Cem Acres em bichos de pelúcia reais, e a fotografia transmite os sentimentos necessários durantes diferentes partes do longa, sendo mais sombria em momentos tensos e colorida nas cenas alegres. A imersão do espectador e o sentimento de nostalgia se torna ainda maior ao ouvir a trilha baseada no tema original, tocada ao piano em diferentes momentos do filme. Embora existam alguns escorregões na trama (em certos momentos, as atitudes de Christopher servem apenas para dar prosseguimento ao roteiro), temos uma história que fala muito mais para os adultos do que para as crianças, nos lembrando de que o que mais importa na vida são as coisas simples. Sim, é uma “moral da história” bastante clichê, mas que funciona dentro da proposta do longa.

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  • Crítica | Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas

    Crítica | Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas

    Talvez Peixe Grande e Suas Historias Maravilhosas tenha sido a ultima parte da Era de Ouro da filmografia de Tim Burton, não que não haja filmes bons posteriores a 2003, as animações Noiva Cadáver e Frankenweenie são realmente muito boas e inventivas, mas algo em Burton foi encerrado com esta produção, ele jamais voltaria a ser o mesmo, ao menos como regente de filmes, suas produções seriam mais comerciais e menos comprometidas com o lúdico.

    Não há uma enorme introdução ao drama presente no roteiro de John August por sua vez baseado no livro de Daniel Wallace. A historia é narrada por Ed Bloom, em sua versão mais moça, nessa encarnação feito por Ewan McGregor, mas no tempo presente era interpretado por Albert Finney. Ele, já idoso, adora contar suas historias, mas sempre que o faz, é cortado por seu filho, Will Bloom (Billy Crudup), que está cansado da mania do pai em contar as historias de seu passado, em especial porque ele as ficcionaliza demais.

    A estrutura dramática de Peixe Grande é bem simples, a narração ajuda a colar os momentos distintos, entre o presente com Ed já velho e seus mini contos hiper fantasiosos, servindo assim de epitáfio pelo mal que em breve deve atingi-lo, uma vez que ele está doente, ao ponto de inclusive largar a quimioterapia que fazia. A relação do velho com seu herdeiro segue apesar do desprezo do segundo, que até começa a mudar sua postura, ligeiramente, se tornando simpático ao paterno basicamente por compaixão via convalescência.

    Por ser um filme dividido por contos, a historia é episódica, semelhante a Amazing Stories, uma série antiga que Steven Spielberg produziu, essa por sua vez tentava modernizar os temas de Twilight Zone e Quinta Dimensão com uma roupagem mais fantasiosa e lúdica. A abordagem circense que Burton produz aqui já reúne alguns dos elementos visuais que se desgastariam em sua filmografia, há muito em comum dessa obra com os futuros A Fantástica Fábrica de Chocolate e Alice no País das Maravilhas e até O Lar das Crianças Peculiares, em especial na questão de envernizar figuras bizarras com uma atmosfera hiper colorida e repleta de fofura, mas aqui, cabe, já que até isso é discreto. O que pesa contra a obra  é que a fotografia e direção de arte em alguns pontos se confrontam, e dessa forma, a fotografia de Philippe Rousselot de Emannuel Lubezki em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça, até por conta de serem espíritos bem diferente entre um filme e outro, mesmo que Rousselot fosse conhecido por seu trabalho em Entrevista com Vampiro, que foi inclusive premiado nessa categoria.

    Ao mesmo tempo, o filme dá voz a quem geralmente não tem, não só a flagelados e excluídos, mas também aos que não são agressivos. O modo como Ed conquista o amor de uma garota por exemplo é inusual por completo, pois geralmente quem usa de força e ganha uma batalha é que se torna o par ideal e aqui o sujeito consegue o feito apanhando.

    Apesar de alguns segmentos serem mais legais, divertidos e interessantes que outros, Peixe Grande e Suas Historias Maravilhosas tem uma tônica muito bem seguida, e serve bem de epitáfio ao personagem central. Se as historietas contadas tem ou não base na realidade, pouco importa, a fantasia estabelecida no carisma de Ed é propagada assim mesmo, e por fim, o longa é um belo epitáfio, orquestrado com ares grandiosos por seu realizador, que dali para frente, já não seria tão prolífico e criativo.

    https://www.youtube.com/watch?v=E0M6WNm8LHg

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  • Crítica | Trainspotting: Sem Limites

    Crítica | Trainspotting: Sem Limites

    Lançado em 1996, Transpotting: Sem Limites funciona como um manifesto sobre parte da da juventude junkie britânica, focalizado em tempos modernos, na contemporaneidade da década de noventa. As escolhas estéticas de Danny Boyle evidenciam uma afeição a psicodelia, seja nas cores gritantes utilizadas nos figurinos dos personagens de idade precoce, como também nos cenários construídos em volta dos meninos e meninos que se picam de heroína e outras substâncias.

    A câmera mergulha no torpor de Rent (Ewan McGregor), Spud (Ewen Bremner), Sick Boy (Jonny Lee Miller), Tommy (Kevin McKidd), Begbie (Robert Carlyle), e Diane (Kelly Macdonald), em especial do primeiro, que é o contador da história principal. A rotina destes é a de habitar o mesmo local sempre, usando todo tipo de entorpecente, vivendo seus dias de maneira insalubre, sufocando seus dias e sonhos com a maior quantidade de heroína possível.

    O aspecto empalecido dos personagens faz com que pareçam os mortos vivos de George A. Romero, e o visual ajuda a compor a aura de pena e lástima pelo que vivem. Ainda assim, tanto o roteiro de John Hodge – por sua vez baseado no romance de Irvine Welsh – quanto a direção de Boyle se cuidam para não soar exacerbadamente moralista ou algo que o valha, ao contrário, o que se assiste é a deterioração da vida sem cortes, sem rodeios e sem medo de pôr o dedo na ferida.

    A dicotomia se mostra por exemplo na comparação do cartaz do filme, onde os personagens são exibidos eufóricos e cheios de vida, em comparação com um dos momentos mais acachapantes e desconfortáveis do longa, que se passa por volta dos quarenta minutos, quando ocorre um óbito inesperado por eles entre eles, que deixou em seus corações mentes uma marca indelével e duradoura.

    A miséria existencial, o vazio e sensação de não viver mesmo falam muito mais alto que qualquer discurso autoritário, e de certa forma, a vivência de Rent e dos outros é mais uma mostra do quão equivocada é a política anti-drogas adotada na Europa e no restante do mundo, uma vez que a caça as bruxas instaurada a partir do período que rondava a Guerra Fria só ajudava a marginalizar e isolar os adictos, ao invés inclui-los no ambiente social dito saudável.

    Trainspotting dialoga muito com Kids, primeiro filme de Larry Clark, que foi lançado um ano antes, cujo diretor se dedicaria seu cinema a falar de delinquência juvenil e termos semelhantes. A narração de Rent não expõe mais do que deveria, ao contrário, complementa as ações mostradas em tela, e ajudam a formar o background dos personagens, bem como todo o entorno. O filme de Danny Boyle não busca traçar soluções fáceis para as questões propostas, ao contrario, sua função é elucubrar sobre uma fração da sociedade, tentando julgá-la o menos possível, servindo quase como um produto documental.

  • Crítica | T2 Trainspotting

    Crítica | T2 Trainspotting

    Mais de vinte anos depois, Mark “Rent” Renton (Ewan McGregor), Simon “Sick Boy” Williamson (Johnny Lee Miller), Frank “Franco” Begbie (Robert Carlyle) e Daniel “Spud” Murphy (Ewen Bremner) retornam suas vidas e dramas em T2 – Trainspotting, continuação direta do filme Trainspotting: Sem Limites, de Danny Boyle, que retorna também à direção da continuação. Já em seu início, o diretor resgata seu estilo despojado de misturar cinema com uma estética de videoclipes, mostrando o personagem central anterior, Rent, tentando viver seus dias normalmente, sem os fantasmas que antes o cercavam, até que um baque acontece e o mesmo decide voltar a cidade da sua infância.

    Ao chegar em seu destino, Mark tem alguns confrontos, e vê cada um de seus antigos comparsas em uma situação-limite diferente. Cada um, a sua maneira, mantem o vício como pode, mostrando que todos ali permanecem usuários, ainda que não seja necessariamente da heroína que co-protagonizava o filme anterior. A nostalgia entra em contraponto com a mudança de alcunha de cada um deles, saindo assim os antigos apelidos para saltar aos olhos do espectador a identidade civil de cada um, com nome, sobrenome e novas ocupações para eles.

    Nenhum dos personagens investigados conseguiu um futuro minimamente decente, e cada um guardou um dos pecados anteriores como fardo na atualidade. A geração junkie dos anos noventa não conseguiu superar seus próprios problemas e vícios, substituindo um evento terrível por outro, tendo o insucesso como fator propulsor na vida de cada um deles.

    Ao contrário do que é comum em filmes de drama, em T2 Trainspotting cada um dos intérpretes, seja eles coadjuvantes ou não, tem seus momentos dentro da sequência, seja na dúvida crucial que McGregor reproduz, após sua personagem tentar uma vida normal; seja Miller com sua tentativa nada corretar de fazer negócios marginais com sua amante, a bela Veronika (Anjela Nedyalkova); como também na performance raivosa de Carlyle, que mesmo com o passar dos anos, não teve grandes mudança no comportamento de Franco. Mas a surpresa positiva certamente é a de Bremmer, que se dedica a trabalhar fundo a personalidade suicida de sua personagem, que assim como o ator, também tem uma subida de significado imensa, sendo a sua trajetória a mais metalinguística até então.

    O circulo vicioso onde estão inseridos Mark, Simon, Franco e Danny é trágico e as cenas repetidas do primeiro filme reforçam a ideia de que o destino dos rapazes/homens é inexorável, não importando as circunstâncias que os cercam, bem como as pessoas que os acompanham ou acompanharam. A felicidade definitivamente não existe, não há redenção possível ou qualquer possibilidade de desfecho, sequer agridoce, quanto mais positivo. As almas carentes do quarteto têm a necessidade de reaproximar o espírito dos antigos amigos, mesmo que os laços de intimidades deles estejam longe de serem os mesmos, tanto pelo hiato que a relação sofreu, quanto pelo amargor causado pela atitude final de Renton em Trainspotting. Os momentos finais de T2 Trainspotting misturam o frenesi típico dos picos de heroína que habitaram a vida dos quatro, com a adrenalina típica da vida comum, mostrando que a existência deles se resume na interseção entre esses dois universos distintos.

  • Crítica | Nosso Fiel Traidor

    Crítica | Nosso Fiel Traidor

    O início do filme se dá em terras gélidas de reações mortas. Mafiosos russos buscam eliminar alguém e sua família, há um tiroteio, há uma fuga; há exatamente isso, informação. Tal como um maquinário, o que se vê ocorrendo em tela é de forma automática e apática. Não houve algo que fizesse o público minimamente se importar além da estranha ideia: tem coisas acontecendo, então eu devo sentir algo. E infelizmente a ineficiência do desenvolvimento não se limita a esse trecho inicial; há muito mais pela frente.

    Nosso Fiel Traidor é um filme de Susanna White (Nanny McPhee e as Lições Mágicas) e roteiro de Hossein Amini (Drive, Branca de Neve e o Caçador) baseado na obra de John le Carré, o mesmo autor de O Espião Que Sabia Demais, cujo aclamado filme homônimo foi baseado. Nessa nova empreitada, o casal formado por Perry (Ewan McGregor) e Gail (Naomie Harris), um professor de literatura e advogada, tiram férias após problemas com seu casamento. Nessa escapada, Perry conhece, por coincidência (palavra-chave nessa história) Dima (Stellan Skarsgård), um russo que logo revela querer que Perry entregue informações sobre a máfia para a inteligência britânica em troca de segurança para ele e sua família.

    E esse, é claro, é o tema principal do filme: família. Desde a cena inicial, até Dima buscando proteger sua mulher e filhos e Perry e Gail lidando com seus laços matrimoniais, assim como Hector (Damian Lewis), o representante da inteligência britânica que apresenta um histórico familiar que administra com frieza para garantir a boa execução de seu trabalho. Lendo até que pode parecer que há chance de ser interessante, mas logo as oportunidades se esvaem em más escolhas. A construção do personagem de Perry, por exemplo, se faz como a de um cavaleiro de armadura brilhante. Ele está lá no momento certo, na hora certa; seja para impedir um estupro, agressão doméstica, ou ser o entregador de informações sigilosas. Os motivos? Nada realmente concreto. São essas atitudes, coincidências, que o roteiro busca para provar o valor do personagem e mover a história, que talvez pudessem até ter algum peso, fosse o roteiro bem trabalhado, ou alguém quisesse atuar além do funcional.

    Os personagens que mais se aproximam de alguma profundidade são os coadjuvantes Dima e Hector. Esse segundo busca cumprir seus objetivos, busca justiça, e para isso batalha contra as burocracias de um sistema que ele sabe não ser feito para dar certo. Skarsgård, por outro lado, apresenta uma forte ligação com sua família e personalidade caricata, mas presente. Também é o que apresenta arco narrativo mais completo, mas que ainda assim é, em conjunto com o resto do filme, estéril. Tal como a montagem que segue o básico de cortes rápidos para (teoricamente) garantir a atenção do público. A fotografia de tons frios e lens flares certifica o visual do blockbuster convencional, da mesma forma que a música genérica. E apesar de em alguns poucos momentos ocorrerem cenas por abordagens diferenciadas, o valor logo decai quando se observa o todo.

    Nosso Field Traidor é composto por uma fórmula padrão e execução medíocre, e aqui é necessária uma clarificação: o termo medíocre anda sendo utilizado como algo pior do que “ruim”, mas não é esse o verdadeiro significado da palavra. Medíocre é o médio, o morno, o que tanto faz. O que deveria ser tenso, emocionante e triste não o é, apesar de que em teoria o que é mostrado em tela devesse ser. Isso se dá pela perceptível falta de compreensão em perceber por qual motivo sentimos o que sentimos em histórias. Quando não há a preparação e fundamentação de personagens e contexto para o que estamos prestes a ver, tudo não passa de informação. E informação por informação são mais algumas imagens e sons que logo serão esquecidos.

    Texto de autoria de Leonardo Amaral.

  • Crítica | Últimos Dias no Deserto

    Crítica | Últimos Dias no Deserto

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    O deserto é um ambiente iluminado e obscuro, permeado por uma vida subterrânea e um relevo duro e instável. É o cenário perfeito para se perder, e talvez para se encontrar. E este caráter polissêmico do deserto reflete nas 3 religiões concebidas no deserto, cristianismo, judaísmo e islamismo, e suas mitologias, sendo no deserto o local onde a fé é confrontada, idealizada e onde o silêncio ou a insolação permitem que homens de fé ouçam Deus.

    Essas características são tratadas neste novo filme sobre a trajetória de Ioshua, como chamava Maria, ou Jesus (Ewan McGregor, que já nasce como uma escolha problemática pela perpetuação da visão eurocêntrica de Jesus). A fim de encontrar sua fé e a si mesmo, Ioshua peregrina para si no deserto e confronta-se com a tentação do Diabo que o acompanha na intenção de dirimir o relacionamento entre filho e deus-pai e assim tentar o homem santo. Seu jejum é hoje cumprido e celebrado na quaresma, período que antecede a Páscoa. Nesta apresentação de Rodrigo García, na última tentação de Ioshua a característica de sua filmografia de estranheza sobre o mundo ao redor se mantém, com tons bem menos sensacionalistas que seus pares, vemos um Jesus transformando-se em Cristo a partir da provação imposta a si, e punindo-se por não poder salvar a todos. Durante a jornada, Lúcifer (também interpretado por McGregor) surge como um reflexo seu na água, uma visão distorcida de si mesmo, mais charmoso e alegre, mas com uma estranheza e carência tocantes. Aqui o Lúcifer é demonstrado como um filho que perdeu o amor do pai e assim sente-se deslocado de si e do mundo, apresentando-se como um anjo caído e trágico. A interpretação de Lúcifer como uma visão do próprio Jesus demonstra ideia de que o Diabo não apenas como uma figura mítica, mas também uma face do próprio Jesus caso ousasse descer a ladeira escorregadia da perda da fé.

    O deserto é apresentado como uma forma de restauração, pois embora a vida ou fé se mostrem difíceis de serem cultivadas em um local tão árido, é lá onde ambos se tornam mais fortes. O povo do deserto é forte, é robusto, moldado pela geografia e quase sendo uma parte inalienável da mesma. O sofrimento torna o pobre forte e mata o pobre de espírito. A fé é então tão mais forte quanto mais posta a prova. A fé surge neste ambiente porque é então tudo que resta à quem está perdido.

    Toda a mitologia judaico-cristã tem como temas relevantes a solidão, a provação e a devoção. Neste ponto o deserto apresenta participação central, pois suas características representam muito do que se obtém dessas religiões, onde a vida realmente satisfatória é a pós vida. A vida no deserto não é satisfatória, mas olhar Jerusalém ao horizonte é suficiente para alimentar a esperança, e viver no amanhã de sua fé.

    Para apresentar este capítulo da vida de Jesus, o diretor Garcia volta-se para uma abordagem menos glamourosa, evitando o uso de filtros e de trilha sonora, colocando a jornada filmada em perspectiva e inserindo o espectador na trama. Em determinado momento nos é apresentada uma família de nômades do deserto. Pessoas sem nome que são representadas apenas pelos seus papéis e assim, o reflexo desses papéis nas elucubrações de Jesus. O Pai, o filho e a Mãe, em uma trindade pré cristo. O pai, potencialmente perigoso, de alma boa, porém árida, incapaz de conversar com seu filho mesmo quando este está ao seu lado, mesmo quando tentava. A falta de carinho, a falta de fala, a dispersão apesar de dizer seu amor. “Não fale, aja, e quando não puder agir, o silêncio”, diz Jesus à si mesmo em determinado momento. Assim a fala do amor sem sua ação dispersa-se e gera a raiva, a morte do amor e da fé. “Eu não sou um mal filho”, grita o Filho (O excelente Tye Sheridan, porém aqui aquém de sua performance possível) e isto reflete em Jesus, que sem saber o que esperar, implora uma resposta de Deus aos seus apelos. A Mãe adoece, e ameaça ruir aquela família com sua doença. Jesus sente então em si a dificuldade de ser não apenas Santo, mas ser pessoa, flertando com seus sentimentos e sensações apresentando tanta empatia quanto estranheza, sem jamais se encontrar em vida.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith

    Crítica | Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith

    ep3
    Mito.
    substantivo masculino
    1. 1.
      relato fantástico de tradição oral, ger. protagonizado por seres que encarnam as forças da natureza e os aspectos gerais da condição humana; lenda.
      “m. e lendas dos índios do Xingu”
    2. 2.
      narrativa acerca dos tempos heroicos, que ger. guarda um fundo de verdade.
      “o m. dos argonautas e do velocino de ouro”

    Mito. Para a antropologia é um relato simbólico, levado de geração em geração e que narra e explica a origem de um fenômeno, de um ser vivo, de um grupo ou costume social. Na matemática, é o que (ainda) não pode ser explicado por 1+1. E para o Cinema (que já foi um Mito da tecnologia), é Star Wars.

    O uso desse mito e sua riqueza, toda essa mitologia, na visão de Lucas, impondo a graça de suas simbologias da forma mais divertida possível, é um triunfo em A Vingança dos Sith em todos os sentidos! A história consegue se manter sóbria durante todo o tempo, sem afetações de usar mil personagens, mil cenas de ação e todo o carnaval já conhecido, numa investigação do potencial da galáxia criada em 1977, e com uma reputação quase destruída pelo baixo nível dos filmes de 1983, 1999 e 2002 (O Retorno de Jedi, A Ameaça Fantasma e O Ataque dos Clones). Parece que não seria mais possível construir uma trama boa o bastante para um universo tão rico, até esse A Vingança dos Sith aparecer e fazer as pazes com um público fiel, seguidores sedentos por um verniz de qualidade.

    George Lucas, compadre de Spielberg, sempre pareceu ter uma relação de “te amo, mas te odeio” com sua criatura. Tal George R. R. Martin, criador de Game of Thrones, Lucas sabe que manter os músculos criativos em forma é vital para suportar a enorme pressão de cultivar seu “ganha pão”. É preciso vender o peixe, ouvir o público (o cliente tem sempre a razão) e fazer tudo ser o mais interessante possível. Milagrosamente, A Vingança dos Sith tem a melhor história desde o antigo O Império Contra-Ataca, o melhor exemplar de toda a saga, exalando, no filme de 2005, uma verdadeira ode ao que faz de Star Wars um mito grego homérico de tragédias e vitórias, contudo, nos moldes do grande público pop.

    “E é assim que a liberdade termina: Com um grande aplauso.”

    Porque é lindo ver as intenções da arte casando com as do negócio. No caso, o amor pela história e o lucro almejado pelo estúdio, a Fox. Star Wars em 2005 parou de ser o videogame que começou em 1983 a ser, para reassumir o ares de drama shakespeariano de antes, dando atenção à história, complicada e cheia de elementos, mas sabendo equilibrar toda a mitologia que nos faz adorar a série. É o Poderoso Chefão da jornada nas estrelas, discutindo política, laços familiares e reinvenção pessoal diante dos conflitos da vida. No colosso de Coppola, todos lutam contra ou a favor dos seus princípios pessoais, sendo que no épico de Lucas não há tempo para profundidade filosófica, com ética, moral e valores explorados através de perseguições, conflitos e duelos de (quase) tirar o fôlego.

    É nesse episódio que podemos nos deleitar com a melhor cena de luta da saga, ao som dos hinos militares do maestro John Williams elevando o nível de duas cenas paralelas que, por mera concepção, já seriam épicas de qualquer forma. O problema é quando a mesma trilha-sonora se torna onipresente em todo o filme, como se fosse um musical imponente lotado (obeso) de efeitos especiais, muitos nem um pouco convincentes. O excesso de trilha e CGI é tanto, devido a escala surreal da história, que o filme pode até nos levar à dúvida: Seria uma animação com atores? A quebra de realismo é constante, e personagens e cenários que deveriam convencer, ser críveis, são tão falsos quanto o King Kong de 1966. Curiosidade: A Vingança dos Sith estreou depois da revolução de O Senhor dos Anéis, o que, dentro ou fora de contexto, é quase uma vergonha para o filme de George Lucas. Ainda mais se lembrarmos que, nos anos 70, quem causou uma revolução foi ele.

    O filme de 2005, na verdade, existe para nos dar certeza plena e total que há ordem no universo de Darth Vader, e companhia (Não tem bagunça, não!). Tudo tem uma causa e consequência, e o bem e o mal nem sempre é claro, mas pode ser turvo como um feixe de holograma. Há uma conspiração política prestes a explodir nos confins do universo, a fim de destruir o equilíbrio do poder e levar os de bom coração ao lado negro da força. Lucas não apenas tenta estabelecer o que aconteceu antes do primeiro filme de 1977, mas conta com inteligência e calma como Darth Vader se tornou o Hitler de Star Wars. Como alguém, antes do lado dos anjos, cai e decai tanto em uma só vida?

    O poder corrompe, e o elenco se esforça para que a tensão exale da tela, mais do que qualquer trilha-sonora ou efeito especial consiga fazer. Natalie Portman (Cisne Negro) e Ewan McGregor (Toda Forma de Amor) se destacam por fazer de Obi-Wan e Padmé pessoas em constante apreensão, sentindo ambos na pele de que a escuridão está por vir, e que parte da responsabilidade de evitar tempos difíceis está em suas mãos. É Padmé, mãe de Leia e Luke Skywalker, que solta a frase acima, numa cena de clara referência nazista.

    Tudo está em sintonia, até mesmo Yoda e o supremo chanceler Palpatine carregam o mesmo carisma icônico de sempre, entre tantas outras criaturas inesquecíveis, mas escalar Hayden Christensen como futuro Vader não seria um problema se George Lucas soubesse dirigir um ator, coisa que 30 anos depois ainda se esforça a fazer (umas aulinhas com Spielberg seriam ótimas)… Hayden, de As Virgens Suicidas, luta para encarnar a maldade crescente de Anakin Skywalker, cada vez mais pervertido, num trabalho que Al Pacino recebeu, em 1972, em Chefão, mas Hayden não conta com um Coppola guiando sua atuação. Faz o que pode e se garante, feito todo mundo.

    Ao trabalhar tão bem com expectativas e a reputação de uma cultura (um filme de Star Wars é e tem a própria cultura, por si só, tamanha a carga de signos e dogmas), A Vingança dos Sith não só atualiza o mito, mas esclarece o porquê merece seu status de lenda, e apresenta ainda uma visão mais séria e coerente as lutas de sabres de luz, aos voos de naves inter-espaciais, enfim: Para toda a brincadeira, atribuída por culto a muitos, e que aqui, foi elevada a outro patamar.

  • Crítica | Star Wars – Episódio II: Ataque Dos Clones

    Crítica | Star Wars – Episódio II: Ataque Dos Clones

    ep2

    Após a fria recepção de A Ameaça Fantasma pela crítica e pelo público, tudo indicava que a legião de fãs da saga havia perdido o brilho nos olhos, e que a ansiedade em torno de sua volta ao cinema cairia por terra. Porém, em Ataque dos Clones, George Lucas consegue (ou conseguiu) provar que o universo criado em 1977 ainda é capaz de causar algum impacto no coração dos fãs.

    Dez anos após os acontecimentos do antecessor, a trama gira em torno de um movimento separatista liderado por Conde Dooku (Christopher Lee), que tem como um de seus objetivos assassinar a agora senadora Padme Amidala (Natalie Portman). Com o intuito de protegê-la, o Conselho Jedi convoca Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e seu aprendiz padawan, Anakin Skywalker (Hayden Christensen). Enquanto Obi-Wan parte para investigações, Anakin é designado para proteger a senadora.

    Se em A Ameaça Fantasma a decepção reside na trama fraca e no clima irritantemente infantil, Ataque dos Clones consegue corrigir grande parte dos defeitos do antecessor, nos oferecendo uma história melhor desenvolvida (ainda que imperfeita) e um visual que, em partes, recria a maturidade dos primeiros filmes, além das ótimas cenas de ação, e que correspondem aos acontecimentos, não sendo só um show visual com inimigos vindo de lugar nenhum como no episódio anterior.

    Após um início eletrizante, o filme passa a sofrer com sérios problemas de ritmo ao se dividir em dois, quando Anakin parte com a senadora em sua missão. Tem início um dos períodos mais cruciais da história a franquia: o romance que levaria ao nascimento dos protagonistas dos acontecimentos futuros. E é pelo peso que carrega que merecia melhor desenvolvimento. Parece não haver química ou simpatia entre Christensen e Portman mesmo quando a relação é desnecessariamente invadida. Fica a sensação de que o romance é mera exigência da história, e não algo que foi construído naturalmente pelos personagens.

    O filme carrega como um de seus maiores defeitos a falta de empatia de Hayden Christensen, que parece ter seguido o exemplo da versão mirim de seu personagem, e não transmite emoção alguma, elemento essencial ao desenvolvimento de seu personagem, e mesmo dando lampejos do que se tornaria, seja em suas inúmeras discussões com seu mestre e nos debates com a senadora, o ator é incapaz de mostrar capacidade de se tornar quem se tornaria.

    Por outro lado, a investigação de Obi-Wan nos entrega alguns dos momentos mais envolventes do filme, protagonizados por um excelente Ewan McGregor que troca o semblante impetuoso do episódio anterior pelos traços do poderoso guerreiro que é, referenciando a imortalizada figura sábia criada por Alec Guiness na trilogia original.

    Os três anos que separam Ataque dos Clones de seu antecessor foram marcados por uma evolução tecnológica enorme, permitindo que o episódio se tornasse um verdadeiro show de efeitos em vários momentos, mas o exagero de George Lucas tira partes do charme mais “rústico” que marca a trilogia original ao tentar mostrar sinais de evolução na franquia, de forma que possamos ver o mundo que sempre teve em mente. Porém, um dos maiores destaques da direção “exagerada” de Lucas são suas cenas de ação, conduzidas com fluidez e naturalidade, explorando ao máximo os cenários virtuosísticos e a tecnologia digital da qual dispunha. Algumas das batalhas aqui travadas são até hoje lembradas como alguns dos melhores momentos da franquia.

    Se A Ameaça Fantasma fez toda a ansiedade em torno do retorno de Star Wars cair, sua sequência foi capaz de recuperar boa parte da magia da saga. É inegável que, quando os créditos começam a subir e começamos a refletir sobre o que vimos nas últimas duas horas, percebemos que a trama não é maravilhosa, que o roteiro é recheado de momentos desnecessários e forçados, e que alguns dos momentos mais importantes foram banalizados sem hesitação. Entretanto, como todos os filmes da saga, Ataque dos Clones não foi feito para ser “pensado”, mas apenas “sentido”.

    Texto de autoria de Matheus Mota.

  • Crítica | Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma

    Crítica | Star Wars – Episódio I: A Ameaça Fantasma

    Episodio I - Ameaça Fantasma

    Em 1999, George Lucas traria finalmente à luz uma nova saga no universo que o tornou famoso. O começo de sua história era promissor, traduzido na personificação interessante da dupla de negociadores, entre os habitantes da pacífica Naboo com a temível Federação do Comércio. Os responsáveis pelas tratativas eram Qui-Gon Jinn (Liam Neeson) e Obi Wan Kenobi (Ewan McGregor), díscipulo e pupilo na religião jedi.

    O maior acerto do filme já era mostrado neste início, com a personificação do ideal do cavaleiro paladino, ainda que sua personalidade seja repleta de nuances e rebeldia, já que Qui-Gon reunia em si todos os méritos que um jedi deveria ter, o auge do que Luke jamais conseguiu, e que Ben Kenobi e Yoda não conseguiam reproduzir graças a alta idade. No entanto, a seriedade ruiria a partir dos dez minutos, graças ao advento de uma figura em especial, já odiada em suas primeiras manifestações. Jar Jar Binks( Ahmed Best) emula os piores maneirismo de personagens descerebrados, arrotando uma patetice que visava agradar as crianças, tratando-as como idiotas.

    A gravidade do roteiro de George Lucas – que abriu mão de deixar outros tratarem seu script, centralizando o trabalho que o mesmo diz não gostar de fazer – está em focar na sobrevivência de um povo pouco interessante, que não gera qualquer sentimento de empatia, ao contrário, irritando o espectador com uma quantidade exacerbada de falas bobas e dramas desinteressantes, além de não revelar de modo satisfatório os motivos que faziam os opositores imporem um bloqueio ao planeta.

    Os erros crassos de planejamento que a equipe executa – e que curiosamente, fazem eco metalinguistico com os tropeços de seu criador – faz com que a tripulação tenha de parar em Tatooine, onde os jedi e uma das serviçais da rainha Padmé (Natalie Portman) conhecem o pequeno Anakin Skywalker (Jake Loyd), sua família e a criatura sorrateira que os escraviza, Watoo (Andy Secombe), o mesmo que tomou o clã como mercadoria de seu antigo dono,  Gardulla the Hutt, que no universo expandido, seria rival de Jabba. É através do dentino do infante que a sorte do grupo muda, com negociações bastante suspeitas, mostrando que não há qualquer receio moral em adentrar um hábito nefasto de jogos e trapaças.

    A personificação do malfadado gungan ajuda a mascarar um dos maiores méritos de A Ameaça Fantasma, que são seus efeitos visuais, aspecto comumente subestimado pelos fãs. A movimentação de figuras como R2-D2 – cada vez com menos momentos executados por Kenny Baker – é bastante competente, apesar de recorrer a eventos desnecessários. No entanto, o mais surpreendente está por conta da movimentação Watto, tão fluída quanto a de um personagem interpretada por um homem comum.

    O preciosismo visual se manifesta ao começo da corrida de pods, um evento só incluso no argumento para justificar os video games que seriam lançados à época, que não fazem qualquer falta a trama, acrescentando uma gama de criaturas extra-terrestres que não enriquecem em nada a fauna de Star Wars, sendo motivo de piadas na maioria dessas personificações. É ainda neste período que acontecem dois eventos importantes, a primeira ação do antagonista Darth Maul (Ray Park, em excelentes cenas) e a apresentação de Anakin e Obi Wan.

    Há uma quantidade enorme de incongruências a explorar no filme, desde a burrice dos mandantes da Federação do Comércio, até a teimosia em lançar mão de robôs de inteligência e usabilidade limitada, que não acrescentam em absolutamente nada dentro das batalhas ocorridas na extensão da Naboo. Surpreende como mesmo os pobres voluntário do planeta pacifista não sejam páreos aos robôs patéticos.

    Outro aspecto tosco e exploração do núcleo político em Coruscant, mostrando uma subvalorização do Senado Galáctico, comando pelo chanceler Valorum (Terence Stamp, também sub aproveitado) acompanhado do representante de Naboo, Palpatine (Ian McDiarmad), que exige uma ação mais enérgica da realeza, no sentido de pedir uma sanção nos deveres do supremo chanceler. A questão que deveria ser séria, é tratada de modo raso, tendo em paralelo outro grave acontecimento, envolvendo o incurso de Anakin como possível aluno da academia jedi.

    Ameaça Fantasma 9

    As acusações e discussões a respeito da corrupção, que deveriam ser dúbias, são tratados de modo desleixado, sem a seriedade exigida, quase tão vulgarizado e mediocrizado quanto a argumentação dos midh-chlorians que fariam do jovem “protagonista” algo além do ordinário. Mesmo diante de todo o caos que se instalaria na velha república e nos novos filmes, somente o arredio Qui-Gon conseguiria ter sobriedade para fazer o correto, virando as costas para o código ético dos jedi. Sua postura é diametralmente oposta a postura de Palpatine, que tem na dissolução da deturpação moral seu maior argumento, semelhante a tantos outros ditadores da história, fato que torna bastante óbvia a sua intenção, mesmo no ano de 1999.

    Toda a negociação entre os terrestres de Naboo e os gungans beira o ridículo, tanto em lógica  quanto em bom censo. O combate se aproxima de acontecer, tão imperito quanto a linguagem usada pelas criaturas marinhas, servindo como despiste para um plano de ataque aos comerciantes que é ainda mais mirabolante e estúpido. Não bastasse o fato de o público não se importar com as criaturas que morreriam – como era com os ewoks – Lucas ainda tem a audácia de refilmar o clímax de O Retorno de Jedi da maneira mais morosa possível.

    Qualquer plano tático é simplesmente ignorado, uma vez que até a rainha regente Amidala se embrenha em um tiroteio desnecessário, atrás do núcleo palacial, correndo o risco de ser assassinada, fato que causaria um terrível evento diplomático na já conturbada situação política do planeta embargado. Após a entrada  de Darth Maul – que praticamente ignora o fato da princesa passar diante de seus olhos – o grupo avança, só conseguindo passagem depois que o acaso usou uma criança para liberar o caminho para eles, que prosseguem andando com a nobre como ponta de lança, sepultando de vez qualquer possibilidade de apego a teoria de um bom combate militar.

    A grande luta final, entre Darth Maul e dos dois jedi tinha um potencial tremendo, e até certo ponto ela funciona. O embate entre o vilão e Qui-Gon Jinn funciona até o momento da derrota do herói, que é displicente, fator incongruente, mas até passável, já que ele era bastante impulsivo em todas as suas atitudes. A vingança impetrada por seus discípulo o mostra cedendo a raiva e a imprudência, aspectos que o velho Ben Kenobi criticaria veementemente, mostrando que esta versão é mais próxima de uma contraparte de uma realidade alternativa do que o pretérito do grande mentor jedi da trilogia anterior.

    A sucessão de escolhas erradas é comum tanto a Lucas, quanto ao Conselho Jedi liderado por Yoda (voz de Frank Oz, além de ter neste um boneco mais tosco que o anterior) e Mace Windu (de um ainda tímido Samuel L. Jackson), ao aceitar o piloto mirim, capaz de desmantelar todo exército dos vilões sem muito esforço ou qualquer preparo anterior.

    Falta carisma, alma, boas atuações e um texto minimamente plausível para Lucas, que ainda insiste em concentrar em si as funções mais importantes em relação a trama e direção, com medo que fizessem trapalhadas sem o seu consentimento, deixando assim passar uma quantidade enorme de terríveis situações, que não só denigrem seus filmes clássicos, como faz discutir a necessidade de tantos profissionais em montar efeitos visuais, personagens e cenários tão suntuosos, que não servem sequer de muleta para a história, tampouco ajudando no adorno do mesmo.

    Episódio I possui uma trilha sonora que funciona em alguns momentos, especialmente nas cenas de luta, mas que fracassa em tentar emular os bons momentos de John Williams, claramente não reprisando todo o sucesso que fez antes. O uso de animatics seria pioneiro, mas ajudaria a indústria usar o artifício como desculpas para propagar histórias tão fúteis e ofensivas quanto esta versão sem substância, que imita até o final do episódio original, com uma sequência caricatural e vazia de significado. A Ameaça Fantasma seria somente o primeiro dos muitos equívocos de George Lucas com seus queridos personagens sagrados, com uma abordagem que nas partes sérias peca demais em exagerar nas obviedades e faltas de sutileza dramática.

  • Crítica | O Escritor Fantasma

    Crítica | O Escritor Fantasma

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    Dúvida e culpa têm seus lugares reservados em qualquer situação sensível a erros. Você pode ser julgado de maneira brutal por qualquer minúsculo defeito assim que o mesmo estiver exposto. É esse sentimento que Roman Polanski nos passa na perspectiva do escritor fantasma (Ewan McGregor) ao acompanhar por alguns dias a vida de Adam Lang (Pierce Brosnan).

    Na trama de O Escritor Fantasma, McGregor, do qual eu não me recordo perfeitamente, mas acredito que não tem seu nome citado em momento algum no filme, consegue ser contratado para algo que não tem interesse algum e do qual não entende: Terminar de escrever as memórias de um político que foi muito popular durante seu mandato e que agora vive recluso em um único local, com sua equipe e esposa devido a trágica morte de seu antecessor.

    Em momento algum inicialmente as poucas migalhas de algo que possa ser um mistério soam gritantes ao espectador. É tudo cirurgicamente suave, mas elegante e ao mesmo tempo incômodo. Parece que tem algo a acontecer, que sempre está perto de acontecer. É essa dúvida do início desse texto que percorre a cabeça do personagem. Fazer parte integral da vida de alguém sem nem ao menos ter participado parece o pior trabalho do mundo. Uma pesquisa intimista que terá valor para todos, menos você.

    Durante um momento essa dúvida é tão berrante que começa a fazer parte de uma ideia perigosa, mas que ao mesmo tempo soa estranha, e é daí que surge todo o suspense do filme. O ponto mais interessante ao terminar de assisti-lo é pensar que estamos acompanhando apenas quatro dias da vida do protagonista, que transparecem pelo sutil peso das pistas se encaixando e criando uma teia de ligações suspeitas, mas que nunca passam disso.

    Cores sóbrias tomam conta das cenas. Você passa a não perceber detalhes junto do protagonista exatamente porque eles não são feitos para serem percebidos. A vontade de guiar o espectador em alguma direção se mantém imponente até o último momento dessa película. A trilha, assim como a fotografia, é sutil e aparece pontualmente para dar ritmo a poucas cenas onde existe a necessidade.

    É curiosa a forma como a sensação de que poderia ser você ali no meio de um mal entendido, ou alguém que você conhece, fica presa quando você para para pensar nas peças se encaixando. Paranoico, até.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Mortdecai: A Arte da Trapaça

    Crítica | Mortdecai: A Arte da Trapaça

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    Retomando a parceria com o diretor e roteirista David Koepp, com quem realizou o bom suspense Janela Secreta, adaptado de um conto de Stephen King, Johnny Depp retorna às telas com mais um papel evidenciando sua predileção por personagens bem caracterizados pela estranheza e afetação.

    Mortdecai – A Arte da Trapaça se baseia em uma personagem criada por Kyril Bonfiglioli, um romancista britânico que compôs uma trilogia cômica sobre um anti-herói aristocrata negociador de artes, principalmente no circuito alternativo. Com um proeminente bigode francês, a personagem, ao lado de seu fiel ajudante Jock (Paul Bettany), é considerado um pícaro. Um tipo que representa uma espécie de malandro, um homem que transita na sociedade sobrevivendo como possível dentro ou fora da lei. Normalmente nessas obras, o riso é provocado pelas situações, uma maneira de satirizar o conjunto da sociedade.

    Na trama, o Lord Mortdecai passa por uma crise financeira e aceita a proposta do inspetor Martland (Ewan McGregor) para investigar a morte de uma restauradora de quadros em troca da dívida perdoada. Ao mesmo tempo, tenta manter o investigador longe de sua esposa Johanna (Gwyneth Paltrow), pela qual é apaixonado. O humor focado em uma personagem estranha não é cativante. Afetado em demasia, como se vivesse em um mundo à parte, Mortdecai e o roteiro parecem ambientar-se em dois momentos diferentes. Mesmo que o anacronismo seja proposital para criticar uma visão atrasada da aristocracia britânica, o riso crítico se perde em meio a muitas piadas cênicas e corporais.

    Depp dá prosseguimento a sua má fase na carreira em mais um papel afetado que revela uma repetição dos trejeitos de outros personagens recentes e bizarros, como o capitão Sparrow de Piratas do Caribe e o vampiro de Sombras da Noite. Ainda popular devido a outras caracterizações marcantes, há certo tempo o ator não entrega uma grande interpretação, tanto de sua vertente estranha quanto de um papel mais tradicional, como o cientista do péssimo Transcendence – A Revolução.

    Esteticamente, o filme utiliza recursos de computação gráfica e ângulos diferentes em cenas de transição para promover uma agilidade à farsa. Mas esses procedimentos aumentam o tom bobo e superficial da trama e não são capazes de trazer o timing cômico à história. As piadas estão presentes, mas não trazem a carga de efeito necessária. E o roteiro frágil ajuda a ampliar a sensação de vazio, como uma obra trabalhando um potencial bom personagem, composto sem o cuidado adequado, como se o humor não fosse tão requintado quanto o drama.

  • Crítica | Álbum de Família

    Crítica | Álbum de Família

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    Tracy Letts é um escritor pouco ortodoxo. Suas peças já renderam ótimos roteiros de filmes, como Possuídos e Killer Joe: Matador de Aluguel, ambos de William Friedkin. Em Álbum de Família, o autor parece querer grafar uma afeição em trocar farpas com a instituição família, pervertendo o tempo inteiro os seus conceitos e tradições só para demonstrar o quanto o circo é anacrônico e hipócrita em sua essência.

    Cada um dos rebentos possui o seu próprio código ético e um conjunto de perversões com peculiares e curiosidades. Eles fazem questão de ser assim: seus pecados são a marca registrada de suas vidas, o que os diferencia do mundo e, claro, uns dos outros. A casa da matriarca Violet, interpretada por Meryl Streep, é sempre muito movimentada, e quando está cheia transpira incômodo e sufocamento, produzindo calor em quem a adentra (exceto aos os que lá vivem), além de parecer uma mansão de filme de terror. Violet é amarga, ácida, opressora com todos que a cercam e pouco preocupada com as pessoas na maior parte de tempo. Ainda assim, ela mostra-se interessada em cuidar dos seus, demonstrando a dicotomia que é ser mãe e sofrer do mal misantrópico.

    O momento em que Barbara, a filha mais velha (interpretada pela veterana Julia Roberts), atravessa é muito semelhante ao da mãe. A estética das duas serve como avatar do estado depressivo que atravessam, simplificado pelos cabelos maltratados de ambas. Diante  das tristezas que elas possuem, não há muita lógica em cuidar-se ou transpirar feminilidade. No lugar disso há o cansaço e o enfado em ter de prosseguir uma vida sem muitos objetivos. O único momento em que a primogênita escova os cabelos e demonstra amor próprio é quando está tomada pelo desespero, assim que descobre que pereceu — seu superego assumira e, no estado de emergência, ela age, baseando em seu instinto de preservar o melhor que consegue. As semelhanças entre as duas também se dão na personalidade passiva-agressiva e, obviamente, opressora com as figuras masculinas.

    O trabalho com os personagens utiliza-se do uso de estereótipos cômicos, até mesmo para tornar a louca história mais universal possível, maximizando a sensação de sufocamento e claustrofobia, tanto dos caracteres quanto do espectador.

    Demonstrações pequenas de ódio, como o desprezo pelos mais jovens, é um argumento também mostrado, mas a praxe durante as brigas é o amargor, que segundo Violet, tem a ver com a forma como a mulher envelhece, deixando a leveza e graça para se tornar algo feio, não só externa como internamente. A verdade torna-se uma arma branca que fere os familiares, explicitando de forma cruel como a decadência destrói a auto-estima. O canhão de ofensas de Violet consegue atingir a todos, e ela se usa dos segredos de toda a vida para humilhá-los, mesmo os que não disputam rivalidade com ela.

    O roteiro de Letts é cruel e pródigo em causar terror, mostrando, nas relações familiares doentias, os sentimentos que variam entre o ódio completo e o cinismo exacerbado, contrastando com a solidariedade mútua. Todos os personagens são repletos de defeitos, não há por quem torcer, tampouco existe redenção moral; mesmo os que aparentam fragilidade e quietude, escondem uma carga de ofensas e um potencial destrutivo, condição esta que parece inerente ao clã. O que Barbara faz, em relação às mágoas impingidas sobre suas irmãs para supostamente protegê-la da verdade, a faz perceber que ela não está tão distante do lodo da geração anterior. O signo da peruca de Violet funciona como uma máscara no intuito de esconder a fragilidade da alma da mãe, que só é agressiva quando veste a cabeleira postiça; quando não a usa, se mostra vulnerável e semi-morta, como sua alma prossegue.

    John Wells conduz o filme com a maestria de não atrapalhar as ótimas atuações de seu elenco e nem manchar o belo roteiro que tem em mãos.

  • Crítica | Jack: O Caçador de Gigantes

    Crítica | Jack: O Caçador de Gigantes

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    Mais um filme que revisita uma estória infantil, o conto de fadas inglês “João e o pé de feijão”. E ainda na onda do politicamente correto, desta vez, João (ou Jack) deixa de ser um ladrãozinho – que surrupia primeiro moedas de ouro, depois a galinha dos ovos de ouro e por último a harpa de ouro – para se tornar um jovem destemido que luta para defender seu mundo dos gigantes “malvados”. Porém, o cerne da estória – o garoto ludibriado numa troca que volta para casa com um saquinho de feijões ao invés de moedas – foi mantido, com alguns adendos na tentativa de enriquecer a trama.

    A aventura infanto-juvenil lembra bastante os filmes de fantasia dos anos 80 – Krull, A lenda, História sem fim – com valentes cavaleiros, donzelas em perigo, lutas de capa e espada, apenas com efeitos especiais mais elaborados, com menos maquiagem, maquetes e fantasias e mais computação gráfica. Contada de modo convencional e pouco inventiva, a trama não chega a entusiasmar, mas também não entedia o espectador. Com algumas pitadas de feminismo e tiradas de humor – bem ao estilo de Piratas do Caribe – entretém, mas está longe de causar empolgação. Tem-se a impressão de que o investimento foi grande na concepção dos efeitos especiais e pequeno na concepção do roteiro. Esperava-se bem mais de Christopher McQuarrie, o roteirista responsável pelo excelente Os Suspeitos.

    O elenco está bem, apesar dos personagens terem pouca ou quase nenhuma complexidade. São todos estereotipados: Jack (Nicholas Hoult) é o rapaz honrado, Isabelle é a moça (quase) rebelde, Elmont é o cavaleiro valente, Roderick (Stanley Tucci) é o conselheiro ardiloso. Aliás, enquanto o Elmont de Ewan McGregor vai ficando mais carismático à medida que o filme avança, a princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson) parece cada vez mais apenas um elemento decorativo.

    Ao contrário do que aparentavam tanto nos trailers quanto nos anúncios, os efeitos de computação gráfica em combinação com a filmagem 3D deram um bom resultado final, exceto por uma ou outra falha pouco perceptível. Apesar de o 3D não acrescentar muito ao filme, também não chega a atrapalhar como ocorre em alguns casos, principalmente quando o filme é convertido de 2D para 3D. Vale destacar o pé de feijão que simplesmente enche a tela (e os olhos) com sua grandiosidade e riqueza de detalhes. E não se pode reclamar da aparência dos gigantes, já que eles são tão verossímeis quanto um personagem de conto de fadas pode ser. Sobre os gigantes, atenção especial para o “chefe” de duas cabeças, General Fallon, dublado pelo inconfundível Bill Nighy.

    Contudo, nem só de efeitos especiais sobrevive um filme. No máximo, este talvez seja lembrado como “aquele em que Ewan McGregor quase virou petisco de gigante”.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | O Impossível

    Crítica | O Impossível

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    Ler que um filme é baseado em fatos reais em sua introdução sempre é um diferencial para o espectador na forma como ele enxerga a história ao longo da projeção. O Impossível, dirigido por Juan Antonio Bayona, vai contar o drama do casal espanhol María Belón e Enríque Alvarez – que no filme são interpretados como um casal inglês – que sobreviveram, junto de seus três filhos pequenos, ao tsunami que devastou a Ásia em 26 de dezembro de 2004.

    Filmes que contam histórias de catástrofe geralmente seguem um padrão de quererem explorar as calamidades em si. O diferencial de “O Impossível” é tratar mais proximamente das consequências do tsunami e, principalmente, das emoções passadas pelas vítimas. Isso por si só traz uma carga dramática mais expressiva à narrativa – e em nenhum momento de maneira forçada -, tendo em vista que o espectador vai basicamente acompanhar os protagonistas a superar seus limites físicos e emocionais, buscando pelos seus entes queridos e por salvação em meio ao caos e a destruição deixada pela natureza. Ao longo da trama somos apresentados a dramas de personagens secundários, que ajudam a imergir ainda mais o sentimento deixado pela catástrofe.

    Ewan McGregor e Naomi Watts são os grandes destaques do filme, interpretando o casal protagonista. Ambos demonstram uma atuação excelente ao passar a intensidade dos sentimentos vividos pelos personagens no contexto. O Impossível se demonstra um excelente drama e que garante emocionar a maior parte do público.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.