Era apenas uma questão de tempo para que Dupla Explosiva, a comédia de ação estrelada por Ryan Reynolds e Samuel L. Jackson que foi sucesso de bilheteria no ano de 2017, ganhasse uma continuação. Porém, enquanto o primeiro filme divertia bastante ainda que possuísse certos problemas, esse aqui erra em praticamente tudo o que tenta.
Seguindo a cartilha de Hollywood que dita que as sequências devem ser maiores e mais barulhentas que o original, Dupla Explosiva 2 amplifica tudo o que havia no primeiro. Entretanto, a balança se inverte e aqui os defeitos superam as qualidades. Na trama, o guarda-costas Michael Bryce (Reynolds) abandona sua licença sabática para proteger Darius (Jackson) e Sonia (Salma Hayek) depois que ela revela estar sendo perseguida por Aristotle Papadopolous (Antonio Banderas), um louco bilionário que está em poder de uma arma que pode destruir o mundo.
Chega a ser impressionante um filme com um orçamento de 70 milhões de dólares possuir uma produção tão pobre. O excesso de CGI mal feito chega a ser irritante e compromete demais. Existem cenas que nem são de ação, mas que deixam claro o péssimo uso da tela verde. Ainda no tópico da ação, o diretor Patrick Hughes já havia demonstrado competência na condução de cenas do tipo no primeiro Dupla Explosiva e no terceiro Os Mercenários. Entretanto, aqui não faz nada digno de nota, somente um amontoado de clichês prejudicados por uma edição fraca. O humor do filme é tão pobre quanto, e aposta na repetição de piadas de constrangimento e cunho sexual que parecem ter saído de um derivado ruim de American Pie.
O trio de protagonistas é enervante. Parece que Jackson e Hayek estão competindo para saber quem grita mais alto. Reynolds, desde que fez sucesso em Deadpool, parece interpretar qualquer personagem de uma só maneira. Ele repete o que fez antes em Esquadrão 6 e o que faria em Alerta Vermelho, com o agravante de emular o personagem mutante e ficar o tempo todo fazendo piadas autorreferentes, além de narrar o que está sentindo e o que está acontecendo na tela para o espectador, numa tentativa velada de quebrar a quarta parede que aqui não funciona, deixando transparecer que o filme não confia na inteligência de quem está o assistindo. Banderas até se salva interpretando seu vilão como se ele fosse um antagonista de Roger Moore nos filmes mais caricatos do agente 007. Porém, a participação de Morgan Freeman é desperdiçada por uma condução ruim que estraga boas piadas em potencial.
Enfim, Dupla Explosiva 2 é uma experiência cansativa e enervante para o espectador, o que é uma pena. Infelizmente, por melhores que sejam os atores, não dá para apoiar um filme inteiro em carisma. É preciso mais do que isso.
Meus amigos, a Disney não está para brincadeira! A data de dez de dezembro de 2020 poderá entrar para uma das principais da história desta gigante do entretenimento, já que foi o Dia dos Investidores da Disney, onde a “empresa do Mickey Mouse” apresenta para seus investidores seus projetos futuros. Foi uma maneira agradável de dizer que o seu dinheiro será empregado pesadamente em produções audaciosas para o público em geral, que envolve a Disney propriamente dita, a Pixar, Marvel e Lucasfilm com o universo de Star Wars.
De fato, o que se viu foi que a Disney investirá pesado no seu canal de streaming, o Disney+, demonstrando querer viver não só do passado, mas de um futuro bastante promissor. Inclusive, o evento aproveitou para mencionar o sucesso estrondoso do canal que já está próximo de bater a meta que estava prevista para daqui 4 anos.
Mas nem tudo são flores, uma vez que diversos projetos poderão sofrer cancelamentos ou mudanças em suas trajetórias. Falaremos isso em um texto mais específico.
Aqui nós acompanharemos o que vem por aí no mundo dos heróis da Marvel.
Enquanto a Lucasfilm aposta em lançamentos inéditos, trazendo pouquíssimos rostos conhecidos, a Marvel opta por um caminho totalmente oposto, usando e abusando dos rostos que conhecemos nos últimos 12 anos de seu universo cinematográfico, porém, ousando um pouco mais.
WANDA VISION
Embora a produção de Wanda Vision não fosse novidade pra ninguém, já que a bizarra série estrelada por Elizabeth Olsen e Paul Bettany já teve diversos trailers lançados, o anúncio serviu apenas para informar a data de sua estreia no Disney+, que será logo no começo de 2021, em 15 de janeiro.
THE FALCON AND THE WINTER SOLDIER
A série do Falcão e do Soldado Invernal, embora já estivesse em estágio avançado de produção, buscou esconder ao máximo imagens oficiais e detalhes da trama. Estrelada por Anthony Mackie e Sebastian Stan, ambos retornando aos seus papeis, The Falcon And The Winter Soldier teve divulgado seu primeiro e lindo trailer recheado de ação e com uma bela fotografia. A produção também ganhou uma data de estreia para 19 de março de 2021.
LOKI
Épico e louco. Essa é a definição para a série de Loki que teve seu primeiro trailer divulgado. Loki mostrará o que aconteceu com o personagem após os acontecimentos de Vingadores: Ultimato, e trará novamente o querido Tom Hiddleston na pele do Deus da Trapaça.
WHAT IF…?
What if…? já tinha sido anunciada anteriormente, mas assim como The Falcon And The Winter Soldier, a animação que ficou em segredo finalmente ganhou seu primeiro trailer e nele podemos ver que Peggy Carter foi quem recebeu o soro de super soldado do Capitão América, além de vermos T’Challa como Senhor das Estrelas.
QUARTETO FANTÁSTICO
Talvez a maior novidade nos anúncios da Marvel. Com a compra da Fox pela Disney tivemos o retorno dos direitos sobre o Quarteto Fantástico e dos direitos sobre os X-Men. Porém, é com a equipe de cientistas que a Marvel resolveu arriscar primeiro. O filme será dirigido por John Watts que é o responsável pelos filmes do Homem-Aranha da fase Tom Holland. Vale lembrar que será a terceira tentativa de fazer o quarteto vingar nas telas.
INVASÃO SECRETA
Talvez a maior surpresa da noite. Teremos a adaptação do arco Invasão Secreta e ela será estrelada nada mais nada menos por Samuel L. Jackson, como Nick Fury e Ben Mendelsohn, como o Skrull Talos que apareceu em Capitã Marvel e Homem-Aranha: Longe de Casa.
SHE-HULK
A série da Mulher Hulk contará com o retorno de Mark Ruffalo na pele do Gigante Esmeralda e ainda terá o retorno de Tim Roth como o vilão Abominável, que apareceu no filme O Incrível Hulk estrelado por Edward Norton. Não é a primeira vez que personagens deste filme retornam em filmes do MCU, já que William Hurt, que viveu o General Ross, apareceu em filmes como Capitão América: Guerra Civil, além de ter presença garantida em Viúva Negra.
A protagonista será vivida pela atriz Tatiana Maslany.
ARMOR WARS
Armor Wars será estrelada por Don Cheadle, o Máquina de Combate. Após a morte de Tony Stark, James Rhodes luta para que as invenções de seu melhor amigo não caiam nas mãos erradas.
IRONHEART
Mais uma série que buscará manter o legado do Homem de Ferro. De acordo com a própria Disney, veremos Riri Williams (vivida por Dominique Thorne) criando a armadura mais tecnológica desde as armaduras criadas por Tony Stark. É muito provável que na série, Riri se torne a heroína Coração de Ferro.
THE GUARDIANS OF THE GALAXY HOLIDAY SPECIAL
Um anúncio que faz o fã cair na gargalhada, depois colocar a mão na consciência e chegar na seguinte conclusão: James Gunn é um gênio. Todos sabem do famigerado Star Wars Holiday Special e aquela discussão de ser cânone ou não, depois de total constrangimento ao término da fita. Pouco importa. Mas será lindo ver uma sátira promovida pelos Guardiões da Galáxia. Ah, roteiro e direção de Gunn, e sim, será em live action.
I AM GROOT
O querido Groot também ganhou uma série para chamar de sua. Aqui a estrela será sua versão bebê apresentada em Guardiões da Galáxia Vol. 2, numa série de curtas animados.
ANT-MAN AND THE WASP: QUANTUMANIA
Também foi anunciado o terceiro filme do Homem-Formiga. E pelo título, além de dar a entender que o filme será focado no mundo quântico, está mais que claro que a Vespa ganhou o público e os executivos dividindo o protagonismo. Embora tenhamos o retorno de Peyton Reed na cadeira da direção e o retorno de Paul Rudd e Evangeline Lilly, Cassie Lang será vivida por Kathryn Newton.
E ainda tivemos alguns anúncios interessantes, como o anúncio do novo filme da Capitã Marvel, que trará a Ms. Marvel (que também ganhou um seriado protagonizado), além de uma adulta Monica Rambeau. Teremos também a continuação de Pantera Negra com o devido respeito ao legado deixado por Chadwick Boseman que faleceu há pouco tempo, não escalando um novo T’Challa e o bombástico anúncio de que Christian Bale estará em Thor: Love And Thunder, como o vilão Gorr, o Carniceiro dos Deuses.
Thomas Carter é um diretor especializado em filmes inspiradores e motivacionais. Coach Carter: Treino Para a Vida é um longa que narra a história real de Ken Carter, um dono de loja de artigos esportivos, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. O personagem icônico de Samuel L. Jackson é um homem rígido, com bastante entendimento do esporte e seu caráter transformador, dentro e fora das quadras.
O filme é produzido pela MTV e já em seu início fala a respeito de Ty Crane, um jogador fictício do Colégio St. Francis que seria o próximo LeBron James. O drama é apresentado de uma forma rápida e apressada. A narrativa se vale de muitas liberdades criativas, e para uma história biográfica isso é bastante complicado.
O time do Oilers é formado por alguns garotos jovens, como Jason Lyle (Channing Tatum); Damien Carter (Robert Ri’chard), filho do treinador; o latino metido com bandidos Timo Cruz (Rick Gonzalez); o promissor jogador Junior Battle (Nana Gbewonyo); o esperto e rápido Worm (Antwon Tanner); e claro, Kenyon Stone (Rob Brown) que tem que lidar com questões de paternidade não-planejada. Cada um deles tem um certo tempo de tela, e isso o torna arrastado em diversos momentos e se perca em meio a narrativa.
Ao menos a abordagem não é simplista quanto a jornada, os jogadores variam entre o receio de sair do time e insubordinações, mas não é uma historia livre de percalços, e os métodos do treinador são constantemente contestados pelos alunos. Além disso tudo, Carter tem dificuldades extracurriculares, pois ele passa da simples função de técnico do time de basquete a educar seus jogadores. A intimidade desses calouros é pesada, alguns tem apenas no basquete uma alternativa para um futuro, como é com Battle e sua mãe, interpretada por Octavia Spencer, e toda a sequência entre a personagem e o professor é um bom exemplo de que não é só a postura dos meninos que é incorreta, e ele também tem que ceder em alguns pontos, dosando isso com suas cobranças contumazes.
O filme gira todo em torno dos métodos, e mesmo com mais de duas horas de duração, mesmo com momentos dramáticos bem graves, há uma preocupação tão grande em adequar os garotos que boa parte da personalidade deles é tolhida. O fato deles terem que utilizar gravata nos dias de jogo conversa com uma postura que David Stern, ex-comissário da NBA empregou na liga profissional, como modo de reprimir o visual ligado a cultura hip-hop entre os jogadores, e essa escolha, pelo código de vestimenta é discutida até hoje como uma atitude preconceituosa do ponto de vista racial. Ter que esconder seu passado e cultura é no mínimo triste, e é um bocado complicado que um dos valores defendidos aqui seja algo semelhante.
Coach Carter é um filme irmão de Duelo de Titãs, trocando obviamente o futebol americano pelo basquete, com ambos baseando-se em histórias reais. A MTV faz um serviço bem semelhante ao que os estúdios Disney fizeram, ainda que resulte em mais situações complicadas. Os momentos decisivos são bem diferentes em abordagem, mas até o momento agridoce das finais são utilizadas como forma de aprendizado.
Após um considerável sucesso adaptando John Grisham em 1994, com O Cliente, o diretor Joel Schumacher se volta novamente para outro livro do autor, dessa vez, trazendo Tempo de Matar, uma história sobre justiça, vingança e intolerância racial. A trama tem início com dois rapazes brancospasseando de carro pelas ruas de Canton, Mississipi, causando terror entre pessoas de minorias étnicas. Dentro de seu veículo há signos e símbolos neonazistas, além da bandeira dos Estados Confederados da América. Ao passo que mostra os dois sujeitos, a trama também apresenta o advogado idealista Jack Tyler Brigance, de Matthew McConaughey (em um dos seus primeiros papéis sérios e de destaque), além de membros da família Lee Hailey, que estão entre os negros atacados pela primeira dupla.
O roteiro de Akiva Goldsman não demora quase a estabelecer sua ação, mostrando uma criança sendo vitimada pelos personagens da maneira mais baixa e cruel possível, além é claro da repercussão com os familiares da pequena Tonya (Rae’Ven Kelly), em especial, seu pai, Carl Lee Hailey (Samuel L. Jackson), que se sente indignado e impotente diante do que ocorreu com um dos membros de sua família que, a priori, deveria ser protegido por ele.
A virada no roteiro acontece com pouco mais de vinte minutos, com o revide de Carl aos homens que violaram sua vida e família, e é seguida de uma tomada sentimental, onde os personagens da força policial se vêem obrigados a executar uma ordem que não queriam. O filme lida com questões espinhosas e bem caras nos tempos atuais, especialmente, no tocante a volta de manifestações de supremacistas brancos nos EUA.
Schumacher não tem receio em apresentar uma história crua, não tem receio em mostrar um conflito aberto em clima de guerra civil, como era comum décadas antes de 1996. O roteiro trata a história de forma cíclica, aparentemente a humanidade tende a repetir alguns conflitos, de tempos em tempos, e isso faz sentido, tanto que movimentos de afirmação dos direitos da população negra precisam retornar como no ano de 2020, após mais um de muitos atos por parte de forças do Estado punirem a população por conta única e exclusivamente do tom da pele. Embora a realidade não tenha tantas licenças poéticas quanto o que ocorre no longa de Schumacher.
Tempo de Matar tem uma crítica voraz ao modo como uma parte dos Estados Unidos têm lidado com a segregação racial e as diferenças culturais entre os povos, e ainda que apele para a fantasia em alguns pontos, Schumacher consegue tirar ótimos momentos de seu elenco. Jackson, McConaughey, Kevin Spacey e até Sandra Bullock têm boas participações e que ajudam a entender o filme como uma fábula jurídica e de entraves raciais, ainda que infelizmente o quadro político atual recoloque o filme numa posição de mais pragmatismo que uma obra escapista sobre preconceito.
O segundo filme de Jon Favreau com o personagem do Homem de Ferro começa com a declaração do protagonista, Tony Stark de Robert Downey Jr. assumindo ser o alter ego do herói robótico, assistido por um senhor idoso que está a beira da morte em país europeu, acompanhado por seu filho, o inventivo Ivan Vanko (Mickey Rourke), conhecido nas revistas como Chicote Negro, que aparentemente quer dar a Stark uma lição.
É nesse mistério que Homem de Ferro 2 começa, sabiamente apelando para um pouco de drama, para só depois mostrar as presepadas engraçadas de Tony, agindo como Homem de Ferro, pousando de terno embaixo da armadura, em um evento onde é esperado como um popstar. O diretor equilibra bem uma situação mais engraçada com outras mais sérias e esse equilíbrio é talvez seu maior mérito como realizador nessa duologia, isso inclusive faria muita falta não só nos filmes do personagem, mas em outras obras da Marvel Studios pós compra da Disney.
Existe uma escalada de importância em um dos temas que é apenas arranhado no primeiro filme, que é a questão armamentista, e embora seja mais pretensiosa e arrogante aqui – até um pouco reducionista – explorar esse argumento aqui faz algum sentido, embora todo o envolvimento dos personagens de Sam Rockwell, Justin Hammer, nem o de Don Cheadle, Jim Rhodes. Os personagens inclusive são mostrados de maneira um pouco gratuita, e um deles prossegue apresentado sem qualquer importância maior.
O filme se perde um pouco nos show offs de ação que faz, tanto no momento em que mostra uma briga entre Happy (personagem de Favreau que ganha mais minutos de tela) com a bela Natasha Rushman, de Scarlett Johansson, que a essa altura não é mais surpresa para ninguém sua identidade com Viúva Negra (isso inclusive torna mais palatável a gratuidade de sua aparição e disfarce), mas no caso da exibição de Tony como piloto de corrida, interrompida pelo vilão Chicote Negro há só preciosismo mesmo, uma desculpa para mostrar outra variação de armadura. A sequência ao menos termina bem graças ao caráter massa veio que ela toma, mas as piadas envolvendo Pepper Potts de Gwynett Paltrow soam vazias e infantis demais para um filme desse porte.
Outro ponto fraco é o quão caricato é Vanko, falando em russo, com seus cabelos com mechas brancas artificiais e com um palito na boca, parece saído de um filme de brucutu de Stallone ou Van Damme, com características e clichês típicos dos anos oitenta e noventa, assim como Rockwell também faz uma caricatura de milionário mal intencionado, que se apóia e alguém fisicamente forte.
Isso, somado as cenas que Stark faz uma festa e dança bêbado, munido de sua armadura não combina em nada com o resto do tom do filme, e mesmo ao tratar da questão do alcoolismo do personagem, que existe nos quadrinhos, é aqui tratada como uma simples piada infanto juvenil, mesmo que hajam algumas tiradas engraçadas. O tom debochado faz imbecilizar todo o restante da trama, e piora demais quando Rhodes utiliza o traje protótipo de Máquina de Guerra. Em alguns momentos a luta é tão artificial que parece um gameplay de Virtua Fighter onde ambos players escolhem Dural, a chefe do primeiro jogo da franquia, com a obvia diferença de que estes não são personagens pixelados.
Nota-se um desgaste da formula do primeiro filme, apesar de novas participações do Agente Coulson (Clark Gregg), de Nick Fury (Samuel L. Jackson) e da Viúva, as piadas e tiradas de Tony soam repetitivas, não só em comparação com o filme um, mas também com o personagem em si. Ele se leva pouco a sério, mas o filme continua se levando muito a sério, e isso causa um problema de identidade grande.
Sam Rockwell consegue ser ainda menos sutil do que foi Bridges no primeiro filme, alias o arco de Rhodes não faz sentido, além da mudança do ator aparentemente foi trocada também sua mentalidade e código ético. Jim jamais se voltaria contra Stark, mesmo com os erros do milionário. Mesmo em sequências de acerto, o filme teima com algumas gags desnecessárias. Após uma cena eletrizante de ação com a Viúva, há uma discussão de relação totalmente desnecessária entre Tony e Pepper, em mais um escapa cômico bobo, que ao menos, termina com outra boa cooperação entre Rhodes e Stark, contra os capangas robóticos de Hammer.
O final é um pouco piegas, além de também ter uma cena pós crédito gratuita, como foi em O Incrível Hulk, que faz referência ao próximo filme do estúdio, Thor, mas ainda assim há boas sequências de luta, e o carisma de Tony e Natasha ainda dão alguns motivos para celebrar a obra, é uma pena que os produtores tiveram pressa em lançar logo um segundo filme, pois se tivesse um roteiro um pouco menos apressado, Homem de Ferro 2 teria ainda mais méritos do que tem. Ao menos serviu para solidificar a ideia do personagem como o ponto de partida desse novo universo compartilhado, melhorando bastante o nível do que ocorreu no filme do Hulk.
As primeiras cenas da vida de Kit aparecem na tela em gravações caseiras datadas do início dos anos 1990, quando ela ainda era um bebê, e seguem seu crescimento. O filme protagonizado e dirigido por Brie Larson foi exibido durante festivais pelo mundo em 2017, e mostra a personagem deprimida após ser expulsa da faculdade de arte, tendo que voltar a morar com seus pais
Loja de Unicórnios tem como ponto de partida o sentimento de autocomiseração de sua protagonista, que passa seus dias sentada ou deitada vendo desenhos infantis antigos. Ela literalmente não tem vontade para nada até que seus pais permitem que Kevin (Karan Soni), seu antigo amigo se aproxime. O tom de melancolia só aumenta, e a música de Alex Greenwald aprofunda esse sentimento de tristeza.
Ao ser admitida em um emprego burocrático, num escritório, ela tem contato com pessoas mesquinhas e fúteis. O roteiro de Samantha McIntyre mostra essas personagens com lente de aumento. Kit conhece o personagem de Samuel L. Jackson por meio de um convite estranho, mas o primeiro contato de ambos é acompanhado de uma recusa da parte dela, procurando ser mais organizada e agir como adulta, fazendo tarefas repetitivas sem sentido típicas da rotina do trabalho corporativo.
O filme começa bem na função de debochar das grandes empresas e das pessoas sem perspectiva que se empregam nesses lugares, mas no decorrer do longa ele acaba se perdendo demais em meio a essa crítica, soando bobo e infantil, tornando Kit uma personagem imatura e incapaz de ouvir “não”. Kit não aprende com as pancadas que a vida lhe dá, ao contrário, ao ganhar uma nova missão que poderia dar um novo significado a sua vida ela simplesmente se perde.
Boa parte do elenco é sub-aproveitado, Hamish Linklater e Mamoudou Athie só parecem estar ali para cumprir contrato, o que é estranho visto ser um filme independente e barato. O final tenta conversar com uma filmografia mais cult e menos mainstream, revelando semelhanças e reverência ao cinema de Miranda July mas sem conseguir replicar o mesmo espírito, caráter e abordagem nonsense, por isso, acaba parecendo mais um panfleto de auto-ajuda mal pensado e pretensioso, um conto estranho sobre personagens que se julgam superiores unicamente por não se encaixar nas regras que a sociedade impõe, no entanto, não há um bom drama bom a explorar nesse quesito, afinal eles não são vítimas sociais, nem tem uma condição de vida precária ou algo que o valha. Nem mesmo a entrega de Larson salva o filme da mediocridade, ao contrário, faz ele parecer ainda mais arrogante.
Cercado de muitas expectativas, Capitã Marvel finalmente chega aos cinemas, dirigido pela dupla Anna Boden e Ryan Fleck, mais de dez anos depois do marco inicial do universo compartilhado da Marvel, com o Homem de Ferro de John Favreau, e o resultado é um filme divertido e despretensioso, mas que tem um desenvolvimento inicial um pouco desnecessário.
Carol Danvers (Brie Larson) nos quadrinhos sempre foi uma personagem controversa, teve fases entre os codinomes de Miss Marvel, Binária e Warbird em que tratou de temas pesados como alcoolismo e abuso sexual, e de certa forma, o ponto de início da personagem no filme conversa com isso, estabelecendo no roteiro que a heroína teve um passado que não se recorda, e por algum motivo, não há esforço ou curiosidade para se explorar esse ponto. É como se ela estivesse se distanciando dessa época, simplesmente pelo fato de ali habitar traumas tão grandes que fazem a moça esquecer quem era.
A composição visual desta parte soa estranha e artificial, bastante genérica, curiosamente há um efeito oposto ao visto em Homem de Aço, com Krypton sendo a melhor configuração visual do filme de Zack Snyder para logo depois cair sobre um texto sofrível. Em Capitã Marvel ocorre o exato oposto disso. Neste ponto há uma boa relação do personagem de Jude Law com a protagonista, variando entre a figura do mentor, preocupado com sua talentosa aprendiz, e o sujeito castrador, que impede sua aluna de voar, apelando sempre para o clichê da humanidade, de que ela é muito emocional, afirmando que isso atrapalha sua função de protetora da cultura Kree. A grande questão é o que ocorre depois, onde as curvas dramáticas de certa forma invertem um pouco o sentido desse relacionamento, e caem sobre clichês batidos. Essa pecha de desqualificar a pessoa por conta das suas emoções é um clichê muito utilizado para desqualificar as mulheres e a maior riqueza do roteiro é a desconstrução desta questão, resultando inclusive nesse ser o diferencial da personagem enquanto guardiã da justiça.
O retorno à Terra é sem dúvida nenhuma um dos melhores momentos do longa. Tudo que envolve a chegada da heroína ao planeta é carregada de paranoia extrema, que começa pelo conflito entre Krees e Skrulls. Essa dicotomia traz ecos da Guerra Fria, e é acertada demais à época em que o filme de passa, nos anos noventa, com a humanidade que já viveu a Guerra Fria e que se permite não ser mais tão maniqueísta e preocupada quanto os dois povos em conflito. De inteligente também existe o comentário sobre o quão vazias podem ser as razões para a guerra, além da desconstrução da demonização de ambos os lados, pois durante as mais de duas horas de filme os dois povos alienígenas são mostrados como cruéis e honrados quase na mesma medida.
O Nick Fury de Samuel L. Jackson se torna um coprotagonista, a quantidade de tempo e de importância que tem no filme talvez seja maior do que toda a soma de suas participações nos outros capítulos do MCU. A reconstrução visual de sua juventude é muito bem feita, a maquiagem o deixa mais jovem e ele claramente está em boa forma. Não faz lembrar o seu personagem Zeus em Duro de Matar: A Vingança, mas ainda assim ele aparenta ter entre 30 e 40 anos. Boa parte das piadas e momentos engraçados do longa passam por ele, e a relação entre ele e a personagem-título flui muito bem entre o receio mútuo dos dois e a parceria franca e crédula. A dinâmica de filmes policiais com parceiros diferentes funciona bem demais, fazendo o fracasso de Homem de Ferro 3 soar ainda maior por ter tentado isto com os filmes da Marvel e simplesmente não ter conseguido.
As piadas com a tecnologia descartável da década de 90 são muito boas, e apesar de não ter um vilão muito inspirado tal qual a maioria absoluta dos filmes da Marvel, as relações de Capitã Marvel são muito críveis, seja as de Larson com Annette Benning, que faz uma mentora que se baseia em um personagem clássico dos quadrinhos, mas com diferenças importantes, ou com Talos, o personagem de Ben Mendelsohn, que faz um sujeito desconfiado, sorrateiro mas que é capaz de travar uma amizade que varia entre a rivalidade e a cooperação amistosa com Fury — aliás poucas vezes se viu uma versão tão acertada e diferenciada dos Skrulls quanto aqui.
Há uma outra relação interessante, embora não tenha muito tempo de tela, entre Danvers e sua amiga e antiga copilota Maria Rambeau, interpretada por Lashana Lynch, que além de carregar o sobrenome da personagem Monica Rambeau (a primeira Capitã Marvel), ainda dá ares de antigo par romântico de Danvers, ainda que isso não seja dito com todas as letras, de qualquer forma é louvável que tenha se levantado essa possibilidade, ainda mais se tratando de um filme feito para o público nerd, que tem sido um reduto de conservadores nos últimos anos.
Apesar de alguns problemas com a história muito formulaica, a obra de Boden e Fleck tem mais acertos do que equívocos, sobretudo no que não é dito e no que é implícito. Se Larson não é tão brilhante, ao menos seus coadjuvantes são, em especial Jackson e Mendelsohn, que pavimentam bem o caminho para que a personagem heroica consiga atingir seu apogeu, a despeito até do fraco desempenho de Law no ingrato papel que lhe cabe. Ao menos nesse filme não existe a mesma problemática de tantos outros filmes de origem, embora seja um pouco necessário ter assistido Capitão América: O Primeiro Vingador e Guardiões das Galáxias para relembrar alguns personagens e situações. As cenas pós-créditos pouco acrescentam e ao menos neste filme não se justifica o fato de Fury não ter chamado através do pager uma mulher tão forte e poderosa em Vingadores, Vingadores: Era de Ultron ou em Capitão America: O Soldado Invernal, e as possibilidades para o futuro da Marvel nos cinemas seguem como antes do lançamento do filme, intactas, abrindo a possibilidade para talvez terem histórias mais fechadas em si, como esta, onde o escapismo e a falta de pretensão cronológica possam reinar de modo livre e sem pudor de ser somente isso.
Mal avaliado pela crítica internacional, Vidro, nova obra de M. Night Shyamalan possui dentro de si dois filmes bem distintos que em alguns momentos se tocam e se condensam, um dele é mais escapista e leva com base as historias em quadrinhos de super heróis, e outra mais audaciosa e pretensiosa mira um enredo com elementos de teoria da conspiração. O ponto de partida para esta historia é a captura de dois seres de capacidades sobre humanas, David Dunn, personagem de Bruce Willis que protagonizou Corpo Fechado, e Kelvin Wendell Crumb, que foi o personagem central de Fragmentado, de novo executado por James McAvoy.
Esta parte mais megalomaníaca é claramente inferior a questão que faz referencia aos quadrinhos, e boa parte dela é motivada pela personagem de Sarah Poulsen, a doutora Ellie Staple, que é designada para cuidar de David, Kelvin e também de Elijah Price (Samuel L. Jackson), o Mister Glass, que é um homem de uma mente muito poderosa, e que permanece sempre sedado para não executar seus planos malignos. Aqui se nota um cuidado do roteiro em expandir a mitologia, seguindo a ideia do filme de 2000 de tentar encaixar os super seres em um ambiente e cenário plausível, pois cada um desses homens tem uma cela e condições especiais para frear suas habilidades e fúrias.
No entanto, Staple é uma personagem cética. Em um primeiro momento se mostra completamente incrédula nas capacidades dos pacientes internos da instituição, e usa a teoria de Mister Glass como base para desbaratar a questão e mostrar que os feitos do trio ocorreram por conta de estados alterados da mente ou por outras questões com alguma explicação mais terrena do que a crença de que os quadrinhos contam historia e feitos de pessoas reais. Até certo ponto essa questão é bem desenvolvida e faz sentido, mas é nela que moram grande parte dos problemas do roteiro.
As cenas de ação, as sequências de luta e o resgate aos personagens antigos e periféricos são aspectos bem legais da trama. Spencer Treat Clark, Anya Taylor-Joy e Charlayne Woodard conseguem reprisar bem seus papeis, e todos eles são ressignificados e com quadros evoluídos. Há ressentimentos, culpa e um sentimento de impotência em comum com Joseph Dunn, Claire Foley e a mãe de Elijah e o desenrolar desse aspecto da historia é feito de um modo muito inteligente e maduro, uma vez que personagens secundários sempre foram parte importante do cânone dos heróis seja nas Eras de Ouro, Prata ou moderna dos quadrinhos.
Shyamalan foi relegado por grande parte de público e crítica a condição de péssimo diretor, e isso obviamente é um exagero. Muito desse sentimento rancoroso ocorreu por conta do seu belo início como cineasta e com as comparações desnecessárias que a imprensa fez da sua filmografia com a de Steven Spielberg, mas isso é pouco culpa dele. Após Dama na Água seus filmes sofreram um terrível declínio, mas o fato de ter realizado obras execráveis não apaga seus méritos anteriores, o que aliás é um exercício de futilidade terrível. Outros cineastas famosos também sofreram um bocado com isso, desde Bryan Singer e Christopher Nolan mais recentemente, até Tim Burton e esse tipo de afetação é algo desnecessário demais.
A personificação dos três personagens poderosos varia de qualidade. David é muito bem interpretado por Willis, que aliás, volta a ter um desempenho bom e isso faz falta em sua filmografia recente, e isso tudo se dá graças principalmente a antiga parceria com o diretor. Jackson faz um personagem enigmático, manipulador e carismático, é quase impossível de não simpatizar, já McAvoy segue afetado, com algumas de suas personalidades melhor exploradas e outras sub aproveitadas, como foi no filme anterior. Já Sarah Poulsen faz uma personagem que tenta soar complexa, mas que só consegue reunir em si a má vontade típica dos antagonistas, e ela deveria ser uma mulher de caráter dúbio, mas falta construção de roteiro para sua personagem, e claramente não é culpa da interprete. Nem as revelações sobre suas ligações com o passado salvam ela de um destino mal construído pelo roteiro.
Vidro está longe de ser perfeito, seu roteiro carece de uma melhor construção, mas mesmo com tantos defeitos ele sobrevive até ao fato de seu antecessor Fragmentado ser superestimado. Conseguir reunir três personagens tão icônicos e cheios de detalhes diferenciados é um mérito grande, além do que também se harmoniza isso tudo de maneira coesa é certamente, constituindo então um belo acerto do autor de Sexto Sentido. O fato do final ter um final surpreendente não é necessariamente um problema, apesar incomodar bastante a gangorra emocional próxima do desfecho, enchendo os minutos finais de reviravoltas meio bobas e que estão lá basicamente para chocar. Incrivelmente, Shyamalan até nesse defeito em sua obra emula uma característica típica dos quadrinhos recentes, que é a predileção para uma narrativa épica meio forçada e frustrada pela fregilidade de sua construção.
O primeiro filme de M. Night Shyamalan após Sexto Sentido começa aludindo aos aficionados por quadrinhos, julgando os males e o bem provindos do colecionismo desenfreado para logo depois saudá-lo através da história de David Dunn, personagem de Bruce Willis, sujeito esse que faz lembrar momentos clássicos dos roteiros de Stan Lee, Jerry Siegel e Jack Kirby. Antes de apresentar o seu protagonista, o roteiro mostra uma mulher negra dando a luz a uma criança tão fragil que tem as pernas quebradas.
A desconstrução dos mitos dos quadrinhos começa ao mostrar que David não é perfeito. A câmera que se esconde entre os bancos do trem o espiã flertando com Kelly, e também flagra ele escondendo sua aliança de casamento. Dunn fracassa duplamente, primeiro em seu quase flerte, interrompido pela própria moça , e erra também para e não conseguir ter um fim no sofrimento emocional que tem sido sua vida, pois quando descarrila o trem em que está, ele é o único sobrevivente, sem nenhum osso quebrado.
O milagre que ocorreu não foi celebrado. Sua relação com a esposa já está falida e ele mal fala com seu filho, a escolha de Shyamalan foi de focar a clássica jornada do herói de Joe Campbell em uma figura nada invejável, comum, que tem um trabalho chato e uma intimidade estranha. A Touchstone era um estúdio menor que a Disney utilizava para fazer filmes independentes ou que não se encaixavam muito no estilo super fantástico e feliz que normalmente abarcava seus filmes animados e em live action.
A cadência da história lembra demais as histórias de origem nos quadrinhos. Peter Parker vai descobrindo aos poucos seus poderes após sofrer um acidente radioativo, mesmo os X-Men descobrem lentamente, quando chegam a puberdade. Para Dunn o paradigma é diferente, ele só percebe sua estranha condição na meia idade, e ele não consegue lidar bem com isso, precisando de consultoria.
O jovem Elijah Price, interpretado por Johnny Hiram Jamison quando novo recebe um presente de sua mãe, um número de Active Comics, uma revista que faz óbvia referência a Action Comics onde apareceu o Super Homem , e o garoto abre um embrulho, dado pela sua mãe como prêmio por ter saído. Já aqui há mostrar do que Price se tornaria, pois mesmo quando ele vira o gibi para o lado correto, a câmera acompanha o movimento de rotação, mantendo o conto de fadas moderno de luta do bem contra o mal sempre com um ângulo invertido, embaralhando na cabeça do rapaz as noções de moralidade. Adulto, ele é executado por Samuel L. Jackson, um colecionador de histórias em quadrinhos que acredita que a nona arte é um modo de contar a história da humanidade, como quando os egípcios faziam hieróglifos. Ele chama Dunn, e explica toda sorte de loucura crédula de que David é poderoso e aquilo o deixa com um misto de apreensão e susto.
Os aspectos técnicos fazem todo o roteiro e M. Night funcionar a perfeição, como a fotografia Eduardo Serra, que ajuda a tornar todo o escopo ainda mais grandioso, e a música de James Newton Howard, que reúnem elementos mais modernos, além de referências claras ao trabalho de John Williams e Superman e Danny Elfman em Batman.
A revisão do filme permite chegar a algumas conclusões que talvez não fossem alcançadas vendo somente uma vez, não só em pistas mas também em semelhanças de trajetórias. Elijah e David parecem ter uma ligação espiritual, pois ambos tem uma fase depressiva que ocorre quase simultaneamente, entre os dois. A união e rivalidade entre eles parece mesmo fadada a a acontecer de qualquer forma, muito semelhante ao que ocorreu com Lex Luthor e Clark Kent, e que é selada quando finalmente eles tocam as próprias mãos, com o herói percebendo enfim o óbvio.
A epifania que Dunn tem pode ser explicada como ele chegando a obvia conclusão provinda das pistas reunidas, por raciocínio lógico romantizado ali, mas a possibilidade daquilo ser uma fantasia causada pelo toque de mãos, separada apenas pela luva de Elijah, explicando que foi a união dos opostos que o fez ter a tal visão é algo muito mais poderoso, escapista e condizente com a história que Shyamalan propaga. Este final foi erroneamente criticado por não possuir um plot twist tão forte quanto o de O Sexto Sentido, mas aqui cabe demais e faz dele um filme inteligente e condizente com a cena de adaptações de quadrinhos da época, como muito mais coragem para abraçar a fantasia do que boa parte até da cena de heróis recente.
Yippee Ki-Yay. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar) e Jackson Good (@jacksgood) se reúnem para comentar sobre a série de filmes Duro de Matar, iniciada em 1988, e que revolucionou o gênero de ação. Saiba um pouco a respeito dos bastidores, curiosidades e o desenvolvimento de John McClane ao longo da franquia.
Duração: 104 min. Edição: Julio Assano Junior Trilha Sonora: Julio Assano Junior
Arte do Banner: Bruno Gaspar
Frank Miller é conhecido mundialmente por ter sido um dos maiores quadrinistas da era moderna. Suas obras passam por uma fase espetacular à frente do Demolidor, além da repaginação do Batman em Cavaleiro das Trevas e uma nova origem para o Homem-Morcego, em Ano Um. Com o tempo, ele invadiu outras mídias, sendo argumentista e roteirista de Robocop 2 e Robocop 3, e co-diretor de Sin City, junto a Robert Rodriguez. Para sua primeira e única produção solo como diretor, ele decidiu adaptar o clássico pulp de Will Eisner, The Spirit, trazendo à luz um filme controverso, para dizer o mínimo.
O visual que Miller escolheu para retratar a atmosfera das histórias do herói faz lembrar muito o que ocorreu em Sin City, com o uso de cores bastante diferenciado onde quase tudo é preto, com exceção de poucos pontos iluminados, destoante demais dos quadrinhos mais clássicos do vigilante mascarado. No começo do filme de 102 minutos, há até a sensação de que ele não será tão catastrófico quanto ele se revela no final da exibição, graças a tentativa de atualizar o tema do personagem, a questão é que essa atualização passa por problemas conceituais terríveis e só se mostra minimamente acertada nos primeiros minutos do longa.
Em Dick Tracy, Warren Beatty também se apropria de um personagem antigo e consegue dar um ar diferenciado a ele que, apesar de cartunesco, funciona em tela, tanto para plateias que não conhecem o personagem como para os aficionados. Com Spirit, isso não ocorre. O filme tem cenas detestáveis, sequer os números de luta fazem sentido, especialmente àqueles com Gabriel Macht brigando munido do traje de Spirit em um ambientes sujos e lamacentos com Octopus (Samuel L. Jackson). A construção visual desse personagem também é controversa demais, por se utilizar de elementos que dificilmente um personagem negro lançaria mão, mesmo que ele esteja presente em um universo maniqueísta, escapista e sem nuances como os quadrinhos antigos. Nas HQs, ele não revelava suas feições, ou seja, não se sabe sua etnia, se o roteiro de Miller decide transformar ele num homem negro soa no mínimo irresponsável tentar associa-lo a suásticas e uniformes da polícia alemã nazista, e até surpreende que Jackson tenha aceito essas indumentárias sendo tão consciente das questões políticas que essas envolvem.
A realidade é que a abordagem escolhida pelo diretor é ainda mais anacrônica do que eram as revistas nos anos quarenta. Nenhum homem ou mulher que aparece em tela não se vale de pelo menos um estereotipo raso e extremamente pobre, há uma exploração muito vazia a sexualidade do belo elenco feminino, que conta com Scarlett Johansson, Eva Mendes, Sarah Paulson e Jaime King. A fórmula utilizada em Sin City claramente não combina com Spirit, não servindo nem como adaptação preocupada com fidelidade à obra de Eisner, muito menos como a modernização de um ícone dos quadrinhos. O longa conta ainda com atuações histriônicas e típicas dos piores teatros infantis, um roteiro que não faz muito sentido e uma abordagem repleta de sensacionalismo barato que afronta qualquer fã de histórias em quadrinhos. Há quase nenhum acerto em The Spirit: O Filme e para quem é fã de Miller tudo soa ainda mais melancólico e lamentável.
Os Incríveis 2 começa após o final do primeiro filme, mostrando uma luta realizada pela família com o vilão subterrâneo que tem aspecto de toupeira (assim como em Quarteto Fantástico). Após uma ação conjunta muito plástica, o que se vê é uma destruição geral, fato que faz voltar à tona o discurso anti-heróis que começou, principalmente, após a proibição dos vigilantes em Watchmen.
O novo produto de Brad Bird fala principalmente de um assunto: a saída do ostracismo e o desejo de ser notado, esse sentimento fica muito evidente na inquietação que não só o Senhor Incrível tem, mas também toda sua família. A única que não admite isso é sua esposa, a Mulher Elástica — também chamada Helena (ou Helen no original) —, ainda que claramente ela se sinta melhor agindo como uma super-heroína. Após perderem a ajuda governamental que os mantinha incógnitos, os parentes e seu amigo Gelado são chamados a conhecer um magnata interessado nos heróis.
O empresário é Winston Deavor, um homem bastante crédulo e adorador da cultura de heróis. Ele tem uma empresa que herdou de seu pai, que por sua vez era um incentivador dos heróis mais antigos e acabou morto de maneira trágica. Ao seu lado está Evelyn, sua irmã e a mente mais inventiva da empresa. A dupla decide equipar e financiar os heróis, fazendo com que voltem a ação com câmeras. Isso abre muitas discussões, não só a respeito do plano, como também de privacidade, vigilância sobre os atos e outros assuntos espinhosos, que obviamente são suavizados por se tratar de um filme voltado para o público infantil. No entanto, ao menos no começo, o longa consegue abordar bem seus fatos importantes, em especial na situação familiar de Helena ir para a ação e não seu marido, assim como o desenvolvimento do novo antagonista da família, Hipnotizador.
A dupla de irmãos é diferente, enquanto Winston é um mero empresário focado em vender, Evelyn é inteligente, engenhosa e até genial, a grande questão é que os desdobramentos a partir daí soam um pouco óbvios demais. Nesse meio tempo, a tentativa de Beto em ser apenas um pai e não um super herói é muito válida, e bem exemplificada em cada momento.
Uma coisa evoluiu muito do primeiro filme para esse, que são as cenas de luta. Apesar de não haver sangue, elas são bem agressivas e disputadas, emocionantes num nível alto, mais vistosas por exemplo que os filmes recentes da Marvel e DC. A música de Michael Giacchino ajuda a dar um ar ainda mais pulp e escapista a história, fazendo lembrar demais os quadrinhos da Era de Prata, em um clima nostálgico que faz muito bem a obra.
Há um problema com o vilão dessa versão. Se no primeiro, Syndrome era um fã que lidou mal com a rejeição e arrogância do seu ídolo, aqui é uma pessoa decepcionada com o ideal heroico, e de certa forma, o roteiro de Bird soa um pouco simplista, dando margem a um pensamento que refuta e trata como cínico quem não lida bem com o maniqueísmo presente na necessidade das pessoas de terem alguém que olhe por elas. Isso é complicado, mesmo em um mundo habitado por super-seres. Uma das boas histórias do Superman mostra o herói tendo que filtrar bem quem ele ajudará, pois sua super audição o deixa numa posição de loucura se for atender a todos os chamados. Cabe ao kriptoniano priorizar aqueles que só terão sobrevida caso ele aja, e essa essência de história é completamente contrariada no discurso contra o ideal que o Hipnotizador prega.
De certa forma, o personagem antagonista tem sua razão, e o texto mostra essas nuances em sua identidade secreta, mas não se enquadra isso no discurso relevante que ele traz. Mesmo no final, quando o ideal dos heróis poderia ser ressignificado, isso não acontece, e não há sequer um pensamento mais aprofundado acerca do papel que os vigilantes exercem. Ainda assim , o próprio papel de Wilson como homem engravatado que no final estava correto é um pouco simplista demais.
O Girl Power é bem encaixado e não soa panfletário, seja no heroísmo da Mulher Elástica, seguindo a esteira do que Gal Gadot e Patty Jenkins fizeram em Mulher-Maravilha, bem como na questão da personagem Evelyn, que consegue soar convincente nas múltiplas e dúbias atitudes que possuí. Apesar de algumas saídas fáceis de roteiro, Os Incríveis 2 tem um ritmo frenético e tem cores suficientes para distrair as crianças e os adultos.
“A história dos negros na América é a história da América. E não é uma história bonita”. Essa é uma das frases que James Baldwin, famoso escritor americano, profere no documentário Eu Não Sou Seu Negro, de Raoul Peck. Além dessa, existem várias outras frases, citações, textos, palestras e conversas onde ele expõe de forma nua e crua as relações raciais nos EUA, com a qual podemos traçar alguns paralelos em relação ao Brasil. O difícil mesmo é escolher quais citações usar, pois a cada minuto Baldwin nos joga na cara, com uma lucidez dolorosa, a forma como os EUA foram construídos em cima de um projeto de separação racial e exploração da população negra trazida da África. E como não dá mais para ignorar isso.
O filme Eu Não Sou Seu Negro é um projeto do cineasta (com narração de Samuel L. Jackson), utilizando como base o livro não concluído de Baldwin, Remember this House, onde o escritor iria contar a história dos EUA a partir dos assassinatos de três dos principais líderes negros da história: Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King, durante o movimento pelos direitos civis.
No início e final do filme, Baldwin cita a necessidade tanto de ter saído dos EUA (com a paranoia real de a cada esquina poder ser morto por alguém), até viver em Paris por tanto tempo que passou a sentir falta dos EUA. Mas, como ele deixa claro, não dos ícones da cultura americana, como a comida ou os esportes, mas sim o seu povo. Mesmo deixando também claro que nunca se sentiu conectado com nenhum movimento em particular (Os Panteras Negras, a NAACP, ou as congregações cristãs), ele queria estar ali, circulando entre eles, observando a história acontecer. Enquanto escrevia sobre ela.
É morto Medgar Evers.
A todo o tempo no filme, Baldwin cita a relação e o diálogo na época com os brancos (sociedade em geral e também representantes do governo dos Kennedy) e a frustração com não só a incapacidade deles de entenderem o real problema, mas também de entender que havia um problema ali. Os brancos acreditavam firmemente que os EUA eram um projeto que deu certo, e a escravidão e violência eram um desvio de caráter, não um traço fundador do país.
A divisão no país, entre brancos e negros, não é só econômica. Há uma barreira quase intransponível que mesmo os brancos liberais e antirracistas não conseguem ver ou mesmo entender como ela opera no seu cotidiano. Ao citar amplamente sua infância e seu início de aprendizagem e formação psicológica, Baldwin mostra, utilizando-se como exemplo, como o negro nos EUA cresce com outros referenciais de beleza, de postura, de atitude, de crenças, e de oportunidades, e como se dá o choque ao saber que tudo aquilo que lhe foi vendido, não foi feito para ele.
É morto Malcom X.
Discordando-se ou não de sua postura (como havia discordâncias, as vezes ferozes, mesmo dentro do movimento negro), Malcom foi um porta-voz ativo de uma mensagem que precisava ser ouvida. A da raiva acumulada por séculos, e de que o negro americano nunca foi pacífico ou que aceitou a condição que lhe foi imposta. E que agora essa raiva iria retornar na mesma medida a sociedade que lhes impôs tudo isso. E essa atitude iria custar uma repressão enorme do aparato estatal, já que o “Revolucionário branco quando se arma é aplaudido. O negro é tratado como criminoso.”
É morto Martin Luther King.
Toda a estrutura social, econômica, política e especialmente militar dos EUA, toda a base do “sonho americano”, foi construída em cima de uma noção de país que só serve para uma pequena minoria, que desfruta de todo essa qualidade de vida ao custo da mão-de-obra barata dos negros desde a escravidão.
A ignorância do branco em relação a todas essas questões se reflete na discussão com o professor de filosofia de Yale, Paul Weiss, cuja frase marcante “a cor não deveria ser o foco do debate” é o típico argumento do branco, quando se é negro nos EUA ou no Brasil a principal preocupação do negro antes de tudo é sobreviver ao dia-a-dia. A ameaça de morte está em cada pessoa e em cada figura de autoridade. Todo o histórico de violência do país é o retrato dessa divisão, e o argumento principal de Baldwin é que isso tem um custo. O vazio emocional dos EUA é tão grande que se tenta preencher isso com uma avalanche de bens materiais. Cada americano, violento ou ignorante, tem uma parcela de responsabilidade enquanto não assume a situação do país. E isso se reflete na violência das instituições, da população contra si mesma, os tiroteios em massa, a paranoia com segurança e o “invasor externo”, etc, afinal “Você não pode me linchar e me manter nos guetos sem se transformar em algo monstruoso”.
As primeiras imagens de Vingadores: Guerra Infinitaforam mostradas em julho durante o evento da Disney chamado D23 e causou furor entre os presentes. Os fãs que estavam lá tiveram o “privilégio” de ver que os Vingadores, Guardiões da Galáxia e demais heróis do chamado Marvel Cinematic Universe – MCU terão muito, mas muito trabalho para enfrentar Thanos e seus soldados da Ordem Negra.
Eis que a espera acabou e o resto do mundo pôde ver o que está por vir com a liberação do primeiro trailer oficial do filme. Informamos que a partir daqui, o texto poderá conter diversos spoilers, assim como teorias que poder ser verdades ou não.
Logo no início, Nick Fury, Tony Stark, Visão, Thor, Natasha Romanoff proferem aquilo que seria o embrião da Iniciativa Vingadores, iniciada há quase 10 anos com a cena pós créditos de Homem de Ferro, de que havia uma ideia de reunir pessoas incríveis para ver se eles poderiam ser algo mais e que, então, se as pessoas precisassem deles, eles poderiam lutar as batalhas que as pessoas jamais poderiam lutar. Nas imagens já vemos Tony Stark (Robert Downey Jr) completamente acabado em sofrimento, onde se acredita que ele está segurando a mão de alguém que veio a padecer. Vemos também Bruce Banner (Mark Ruffalo) caído e assustado dentro de um buraco, sendo observado pelo Dr. Estranho (Benedict Cumberbatch) e Wong (Benedict Wong), quando a imagem corta para o Visão (Paul Bettany), em sua forma humana, num momento de carinho com Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), ao mesmo tempo em que Thor (Chris Hemsworth) aparece a bordo da Millano.
As imagens a seguir já mostram Stark junto de Banner e Dr. Estranho dentro do Sanctum Sanctorum, enquanto Peter Parker (Tom Holland), dentro de um ônibus, tem seus pelos do braço completamente arrepiados para, logo após, observar uma enorme máquina circular pairando no céu de Nova Iorque. Embora as imagens sejam rápidas, é possível perceber que Stark tem um novo reator em seu peito e é muito provável que esse reator não seja somente um reator, mas também a fonte de onde sairá a sua armadura, o que remete, de certa forma, à armadura Extremis dos quadrinhos, muito embora, seu design seja bastante inspirado na Bleeding Edge, também dos quadrinhos.
Temos também imagens de Thanos (Josh Brolin) chegando provavelmente na Terra através de um portal, enquanto o Homem-Aranha, vestindo a sua armadura mais tecnológica apresentada ao final de De Volta ao Lar, procura um jeito de desativar a máquina circular, enquanto T’challa (Chadwick Boseman) ordena que a cidade seja evacuada, que todas as defesas sejam acionadas e que peguem um escudo para o homem que sai das sombras. O homem é nada mais nada menos que Steve Rogers (Chris Evans), que inclusive, aparece em cena segurando uma lança atirada pela vilã Próxima Meia Noite. Vale destacar que esse escudo do qual T’Challa menciona, não deverá ser o tradicional escudo do Capitão América, mas sim um escudo usado em Wakanda, onde o guerreiro possui duas placas retráteis de vibranium nos braços.
O trailer tem um caráter muito urgente e passa a impressão de que é mais tenso do que o primeiro trailer de Vingadores: Era de Ultron. Nas imagens, ainda podemos ver a Hulkbuster chegando em Wakanda, que inclusive receberá uma enorme batalha, onde Capitão América, Falcão (Anthony Mackie), Viúva Negra (Scarlett Johansson), Soldado Invernal (Sebastian Stan), junto do Pantera Negra, Máquina de Combate (Don Cheadle), Hulk e a líder das Dora Milaje, Okoye (Danai Gurira), liderarão o exército de Wakanda contra o exército do Titã Louco, formado pelos Batedores ou pelos Vrexllnexians que já apareceram na série Agents of S.H.I.E.L.D., o que, de certa forma, causa surpresa, uma vez que a decisão mais óbvia seria usar novamente o exército Chitauri do primeiro filme. O trailer termina com Thor perguntando quem são as pessoas para quem ele está olhando e a imagem aponta para os Guardiões da Galáxia, aqui formados por Senhor das Estrelas (Chris Pratt), ostentando um bigodão setentista, Groot (voz de Vin Diesel), em sua forma adolescente, Gamora (Zoe Saldana), Mantis (Pom Klementieff), Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper) e Drax (Dave Bautista).
No que diz respeito ao enredo propriamente dito, é muito provável que o filme já comece com Thor sendo atropelado junto com outros destroços pelos Guardiões da Galáxia e que, ao ser resgatado pela equipe, começa a contar o que houve com ele, onde a nave contendo a Nova Asgard foi interceptada e destruída pela nave de Thanos. Existe a possibilidade dos Guardiões já estarem numa investigação com o intuito de saberem o que aconteceu com o Colecionador (Benicio Del Toro) e com a Tropa Nova, uma vez que nas imagens do trailer, o vilão possui duas Joias do Infinito e uma delas é justamente o Orbe, que estava sob a posse da tropa, sendo que a outra é o Tesseract, que deve ter sido entregue por Loki (Tom Hiddleston) durante o ataque à nave. E é durante esse ataque que existe a possibilidade de Heimdall (Idris Elba), sob às ordens do Deus do Trovão, enviar Bruce Banner para pedir socorro a Stephen Strange, o que justificaria sua queda exatamente dentro do Sanctum Sanctorum. Banner contacta Tony Stark e eles, provavelmente, serão os primeiros a receberem a investidas de Thanos e sua Ordem Negra. Uma imagem chocante é aquela em que vilão, após colocar a segunda joia em sua manopla, dá um duro golpe que nocauteia o Homem de Ferro de forma muito violenta.
Vale destacar que o filme deve possuir alguns núcleos separados e somente em certo momento que o Capitão América, Falcão e Viúva Negra irão para Wakanda requerer auxílio ao Pantera Negra e ao Soldado Invernal. Antes disso, o grupo deve estar junto de Visão e Feiticeira Escarlate que sofrem um ataque da Proxima Meia Noite e de Corvus Glaive e é nesse momento que deve acontecer a primeira baixa da equipe, quando o sintetizoide possivelmente terá a jóia que carrega em sua cabeça extraída por Glaive.
E deve ser Bruce Banner e o Coronel Rhodes que farão o elo de ligação entre os dois fronts de batalha, o de Nova Iorque com o de Wakanda. Por isso, acredita-se que é Banner quem pilota a Hulkbuster, que fará o transporte do cientista até o país africano. Curiosamente, a gigante armadura também aparece na batalha. Se for realmente Banner dentro dela, a teoria é que o herói esteja inseguro em se transformar em Hulk novamente, temendo que o Gigante Esmeralda tome por completo sua consciência, o que faz sentido, contudo, não vale de nada, uma vez que o monstro também aparece nas imagens.
Obviamente, tudo isso se trata de suposições, afinal, alguns personagens e heróis ainda não apareceram, como o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), Homem-Formiga (Paul Rudd) e a Nebulosa (Karen Gillan), além do fato dos trailers serem montados de maneira aleatória. De qualquer forma, as primeiras imagens de Vingadores: Guerra Infinita fizeram tanto sucesso que bateram recorde de visualizações em menos de 24 horas de seu lançamento.
O nome Dupla Explosiva não é lá tão inédito nos cinemas. Aliás, tornou-se uma espécie de saída fácil para filmes de ação com dois protagonistas. Além desse, tivemos um Dupla Explosiva em 2010 estrelado por John Travolta e Jonathan Rhys-Meyers, um em 2002 estrelado por Antonio Banderas e Lucy Liu e um em 1974 com os ícones Terence Hill e Bud Spencer.
Na trama encabeçada por Ryan “Deadpool” Reynolds e Samuel L. “Muthafucking Nick Fury” Jackson, Reynolds interpreta um ex-agente da CIA chamado Michael Bryce que possui um renomado serviço de segurança e escolta. Porém, durante um serviço, um contratante acaba sendo morto e Bryce acaba caindo em desgraça. Jackson interpreta Darius Kincaid, um assassino profissional que está sendo transportado pela agente Amelia Roussel, ex-namorada de Michael e operativa da Interpol vivida por Élodie Yung, para testemunhar contra um ex-ditador vivido por Gary Oldman, mas durante o transporte, o comboio é atacado, obrigando Darius e Amelia a fugirem e se esconderem. Desconfiada de uma traição dentro da agência, Amelia contrata Bryce pra que ele escolte Kincaid até o tribunal internacional em Amsterdam.
Dupla Explosiva poderia dar muito certo. PODERIA, mas não deu. Não que o filme seja ruim, muito pelo contrário. É uma excelente diversão. Entretanto, é um filme extremamente irregular. A química entre os dois protagonistas é incrível, Reynolds e Sam Jackson combinam demais. Em algumas cenas, fica a impressão de que o diretor simplesmente os deixou improvisar durante o tempo todo, tamanho os absurdos proferidos de parte à parte. Existem diálogos impagáveis e a comicidade dos dois atores é muito bem explorada.
O bicho pega quando se analisa o roteiro e direção. Tudo é muito genérico. Desde os personagens coadjuvantes à trama principal, passando por subplots e outros plot twists. As circunstâncias são genéricas e telegrafadas à milhas de distância. Outro problema é a forma do diretor Patrick Hughes filmar as cenas de ação. O seu trabalho aqui é um pouco superior ao de Os Mercenários 3, mas o diretor filma de forma pasteurizada a maioria das cenas de ação. Ainda que em certos momentos ele imprima uma estética quase cartunesca, durante a maior parte do tempo as cenas são sem graça e sem a menor inventividade. O filme teve classificação R nos Estados Unidos, o que equivale aqui no Brasil a uma classificação para maiores de 16 anos, e isso não foi aproveitado pras cenas de ação – com exceção de uma ótima cena feita quase em plano sequência já no final do filme. Infelizmente, nada do que vem antes é digno de nota, seja por ser praticamente reprise de outros filmes ou por faltar algo mais anárquico e condizente com o humor do longa.
No que tange às atuações, novamente tenho que elogiar Reynolds e Jackson. Os dois sabem arrancar risadas dos espectadores, seja se aproveitando dos diálogos escritos ou mesmo pela dinâmica da dupla. Com uma química maravilhosa, os dois sustentam todo o filme, uma vez que o elenco de coadjuvantes não é lá dos mais inspirados. Gary Oldman pouco aparece, mas atua em piloto automático (ainda que o piloto automático dele seja melhor que muitos atores trabalhando a sério) interpretando um ditador que vai a julgamento por crimes contra a humanidade; Élodie Yung se esforça e até defende bem seu papel em alguns momentos, mas no geral é um tanto sem sal; Joaquim de Almeida até tem um papel de destaque, mas que não lhe permite grande atuação (e parece que ele nem faz questão disso); e por fim, Salma Hayek é o ponto fraco do elenco com sua latina afetada e desbocada. Ela repete o que fez durante grande parte de sua carreira, mas de forma exagerada e forçada. Talvez o papel ficasse melhor com Sofia Vergara, atriz que encaixaria melhor na dinâmica e no tom de galhofa do filme.
Enfim, como filme de comédia, Dupla Explosiva é bastante divertido. Já como filme de ação, é só mais um entre tantos que são lançados todos os anos, mas que mesmo assim vale ser conferido.
Sem conseguir repetir sequer o êxito do início do filme anterior, Triplo X: Estado de Emergência, substitui as homenagens a 007 para apresentar uma cópia muito mal feita da trilogia de filmes infantis Pequenos Espiões. O filme de Lee Tamahori começa com o segundo personagem mais famoso da franquia tentando fugir, mostrando August Gibbons (Samuel L. Jackson) junto a Shavers (Michael Roof) fugindo do seu atual QG, e que a agência de espionagem estava em perigo e havia sido descoberta. Um novo protocolo ocorreria e um novo agente XXX deveria ser recrutado.
Tamahori havia sido muito criticado por seu filme anterior, 007: Um Novo Dia Para Morrer, e demorou três anos para lançar um novo produto. Para tal, resolve referenciar o blaxploitation moderno da pior qualidade, lembrando demais o estilo de John Singleton em Mais Velozes e Mais Furiosos, seguindo na esteira de continuações dos filmes de Rob Cohen, conseguindo piorar o que já não era mal concebido. Neste Triplo X- Estado de Emergência o confuso texto começa introduzindo seu novo protagonista, o ex-operações especiais e presidiário Darius Stone (Ice Cube), antes mesmo de dar um parecer sobre o Xander Cage de Vin Diesel, que teria morrido na ilha de Bora Bora, em uma emboscada, fato este discutido em apenas uma frase de um personagem secundário.
Por mais que o primeiro capítulo não tenha uma dramaturgia minimamente aceitável, a sucessão de acontecimentos faz sentido, com as capacidades de Cage sendo demonstradas antes mesmo dele começar a agir como agente secreto, artificio que não se repete com Stone, que já inicia seus feitos como um super-homem negro, semelhante ao Shaft do próprio L. Jackson. A marca deixada na obra de 2002 é sumariamente ignorada, pondo no lugar uma identidade deteriorada, incapaz de rivalizar até com seus pares de época, como Aeon Flux, Doom e Sr. e Sra. Smith.
Em meio a tentativa de resgatar Gibbons, que foi raptado por infiltrados no meio da inteligência governamental americana, que planejam assassinar o presidente do país, o personagem-título se alia com personagens negros de seu passado, fazendo uma força tarefa repleta de melanina para tentar frustar os planos do grupo capitaneado pelo secretário general George Deckert (Willem Dafoe). Em nenhum momento a gravidade de um golpe de Estado é realmente aludida, pelo contrário, dá-se espaço demasiado para bobagens e cenas de ação mal orquestradas, que sequer levam trama e personagens a algum lugar.
No começo do filme, as cenas que exigem efeitos especiais são sofríveis. Nos vinte minutos finais, há uma perseguição de carro que apela ainda mais para artificialidade, com características que a fazem se assemelhar ao visto em jogos de videogame da geração 32 bits, ou seja, bastante inferiores ao que era comum no ano de 2005.
Triplo X: Estado de Emergência consegue ser ainda mais digno de pena que o seu antecessor, com um personagem principal que não convence como herói de ação, nem como conquistador e que não possui carisma algum, tanto o intérprete quanto o pretenso herói, recheando um roteiro vazio com referências a velhos clichês do cinema de protagonismo de negros, mas sem qualquer conteúdo de discussão ou de identidade racial que se esperava por parte de um personagem interpretado pelo antigo vocalista do NWA.
Começando sua ação em uma região do Leste Europeu, misturando manobras radicais e heavy metal, Triplo X surfa no gênero dos filmes de espiões – lançado alguns meses após Identidade Bourne, de Doug Liman – o longa de Rob Cohen começa como inúmeros filmes de James Bond, com um agente de terno e gravata fracassando em uma missão envolvendo o vilão do filme, Yorgi (Marton Csokas).
A passo seguinte é o de apresentar a versão do super agente moderno, caindo de paraquedas, como em 007: A Serviço Secreto de Sua Majestade. Cohen retornaria a sua parceira começada com Velozes e Furiosos com Vin Diesel, que teria em Xander Cage uma versão tatuada, rebelde sem causa e mais tagarela e canastrona de Toretto, trocando o amor exclusivo por carros por manobras radicais, que eram transmitidas via internet, muito tempo antes da febre que se tornaria o paradigma do youtuber. O roteiro de Rich Wilkes é simples e sua proposta é banal e infantil, como a maioria das comédias onde trabalhou anteriormente, e consiste basicamente em renovar os alistados, usando o bad boy metido a anti-herói para cumprir uma missão suicida.
Xander passa por maus bocados, mas mesmo entre eles, consegue deixar claro seu caráter espirituoso e péssimo timing para piadas, em meio a cenas de ação genéricas, que servem para mostrar que ele é um homem honrado e preocupado com a vida das pessoas, em especial de desconhecidos, o que faz dele o oposto do que seria um candidato ideal. Misteriosamente ele atrai a atenção de Yorgi, e consegue enfim cumprir as ordens de seu mandatário o deformado Augustus Gibbon, vivido por Samuel L. Jackson, que faz questão de repetir todos os trejeitos de seus personagens canastrões, sendo diferenciado unicamente pela ferida que tem no rosto, soando genérico no restante.
Cage se aproxima do antagonista, seduzido por sua namorada Yelena (Asia Argento), que guarda uma verdade bastante intrigante. Enquanto prepara sua infiltração ele recebe o auxílio de Toby Lee Shavers (Michael Roof), que serve como análogo a personagem Q de 007. O modo de agir do agente X envolve subornos, chantagens e mais um conjunto de corrupções, que servem para esconder seu estreito senso de justiça, que passa a ficar mais intenso ao perceber o drama de Yelena.
O agente interpretado por Diesel é uma versão de Bond igualmente mulherenga, mas com muito menos escrúpulos, já que era esse um anti-herói, motivado por um código ético capaz de se corromper em pequenos delitos – uma vez que ele é um fora da lei no início – mas também capaz de rompantes moralistas que condenam o simples fato de um dos coadjuvantes fumarem, mostrando que a construção do personagem não envolve só palavras de ordem retiradas de letras de harcore e punk, mas também aparenta uma caretice típica dos adultos que o mesmo combate. O mais curioso é que o argumento faz questão de introduzir um sem número de personagens que aparentam ter alguma importância, mas que se mostram um completo desperdício de tela e cachê, uma vez que não tem qualquer ação que não envolva uma frase de efeito ou uma sequência de gírias datadas da década de noventa.
O paraíso para o grupo de vilões é uma mansão onde há espaço para jogar boliche (com obras de arte clássica) além de quartos suntuosos, onde há mulheres sensuais a espera de seus pares. A construção do cenário íntimo é risivel, com dezenas de velas armadas, capazes de causar um incêndio que consumiria o castelo em segundos, e mulheres dançando no mastro da luxuosa cama que aguarda a ação. Esta sequência é um bom resumo da artificialidade do filme.
Incrivelmente Yorgi consegue ser o entusiasta de bandas metal, pretenso revolucionário com armas biológicas e perfeito vilão de filmes dos anos trinta, maniqueísta em todas as manifestações de sua alma. A tentativa de dar importância para seu conjunto de ideias esbarra nas péssimas coincidências e conveniências de roteiro, e tornam-se piores se somadas as cenas de ação na neve, com efeitos em CGI terríveis mesmo para os idos de 2002.
Apesar do início frenético e da trilha sonora repleta de sucessos roqueiros da época, Triplo X passa por sérios problemas de ritmo, soando lento demais, apesar da gravidade e da urgência das situações mostradas, especialmente no que tange a questão das bombas e foguetes de destruição em massa. Mesmo o desfecho é bastante semelhante aos momentos finais de 007: Um Novo Dia Para Morrer, que também era lançado naquele mesmo ano, mostrando que o inconsciente coletivo dos produtores de filmes de espião estavam no mesmo deserto de ideias que gerou filmes de ação terríveis. Exceto pela musicalidade, não há personalidade ou identidade dentro do filme, somente um arremedo, tanto de clichês de action-movies, quanto de referências a principal personagem de Ian Fleming, em uma repaginação nada inspirada do mito.
Uma década e meia depois do início da franquia, o terceiro episódio de Triplo X troca a base de suas referências, saindo das homenagens à 007 para reverenciar Ethan Hunt, em especial os filmes Missão Impossível, de Brian de Palma, e o recente Missão Impossível: Nação Secreta, de Christopher McQuarrie. O diretor de Eu Sou o Numero 4 e O Quarto dos Esquecidos, D.J. Caruso toma um cuidado especial para em seu xXx: Reativado renovar também o mote das aventuras mentirosas que usaria de inspiração, fazendo um compilado honesto de quase todos os produtos de ação que fizeram sucesso pós 2002, ano do primeiro filme da série.
O preâmbulo do filme é diferente da parte um e do malfadado Triplo X – Estado de Emergência, com o recrutador Gibbons (Samuel L. Jackson) fazendo seu trabalho, ao conversar com o jogador de futebol brasileiro Neymar, sendo esse somente um dos muitos famosos que fazem ponta no filme. Uma trama misteriosa se apresenta, pondo ingredientes de mistério, conspiração e quebra de segredos de Estado em pauta. A crise faz Jani Marke (Toni Collette) – a nova mandatária do projeto Triplo X – tentar recrutar Xander Cage (Vin Diesel), a fim de tentar reaver um artefato que controla os satélites em volta do globo terrestre, bem como informações básicas de espionagem internacional.
Esses satélites são usados como armas, por um grupo terrorista, que as faz cair sobre a superfície do planeta, fato que faz um número grandioso de vítimas. As coincidências de roteiro (cujo texto está a cargo de John D. Brancato e Michael Ferris) tratam não só de repetir os clichês e frases de efeito do primeiro filme, como também põe a frente duas equipe de agentes, uma de heróis e outra de antagonistas, composta por outros astros, como Donnie Yen, que faz Xiang, Tony Jaa (Talon) e pela voluptuosa Serena (Deepika Padukone). Aos poucos é revelado que a origem dos vilões e mocinhos não são tão diferentes, e esse fato serviria como a gênese de um dos muitos plot twists do texto.
Há ainda espaço para banalidade na discussão a respeito da paranoia extrema do mundo atual, como o momento em que Serena e Cage discutem os significados de suas tatuagens, mas incrivelmente há uma conexão com o cinema de ação atual que não foi vista em filmes que deveriam ser mais inspirados, a exemplo de 007 Contra Spectree Jason Bourne.
Os exageros típicos dos filmes de super espiões não chega a ser incômodo, uma vez que Reativado mergulha tão bem dentro de seu escapismo que até a subversão da suspensão de descrença não soa tão pueril e infantil quanto nos outros dois capítulos. Toda a pretensão de parecer um panfleto adolescente e pseudo revolucionário típica da primeira história escrita por Rich Wilkes dá lugar a um filme de ação divertido e que não tenciona ser mais inteligente do que realmente é. Até os efeitos de Deus ex machina são críveis dentro do produto final, uma vez que fazem troça com o clichê das histórias de ação, que resgatam personagens secundários com uma facilidade atroz.
Caruso não ignora sequer os defeitos de seus antecessores, mostrando em uma das cenas finais uma explosão que faz lembrar os piores momentos dos filmes de Rob Cohen e Lee Tamahori, referenciando isso sem perder a espontaneidade ou identidade do seu próprio filme.
Se Diesel peca por não ter qualquer presença visual ou carisma, seus coadjuvantes ajudam a manter a atenção do espectador em alta, especialmente na atuação de Yen, que se demonstra um anti-herói com muitas camadas apesar de seu pouco tempo de tela. Mais do que isso, as sequências de ação fazem lembrar as que Paul Greengrass começou a fazer em A Supremacia Bourne e o suspense do longa emula a boa construção que Christopher Nolan deu a trilogia Batman. O cineasta consegue resgatar os bons momentos de sua própria carreira, quando dirigia episódios de The Shield, conseguindo enfim harmonizar a questão do Grande Irmão presente em 1984 sob uma roupagem mais moderna, que explora evidentemente só a superfície do conceito mas que não soa estúpida para as plateias mais ansiosas por boas tramas. No quesito ação, xXx: Reativado é um surpresa muitíssimo agradável, mesmo para quem não é aficionado por Vin Diesel ou Xander Cage.
Baseado em um romance homônimo de Stephen King, lançado em 2006, Celular reprisa a parceria de John Cusack e Samuel L. Jackson que contracenaram juntos em 1607, outra produção baseada na obra do mestre do horror. O filme teria, inicialmente, Eli Roth como diretor. Um nome que possibilitaria maior sucesso a esta produção. Porém, valendo-se das tradicionais diferenças criativas, o diretor saiu do projeto sendo substituído por Tod Williams de Atividade Paranormal 2.
A trama deste terror reflete um tema comum ao público atual tanto na vertente realista, que estabelece uma crítica a um movimento contemporâneo, como na fictícia em que desenvolve a história. A real apresenta o uso exagerado da tecnologia como um malefício para a sociedade contemporânea, fator que possibilita que um pulso eletromagnético, transmitido via celular, transforme os usuário em zumbis, o enfoque fictício explorando o combalido tema dos zumbis. Dessa forma, a tecnologia se torna um vilão enquanto um pequeno grupo de pessoas tenta sobreviver a procura de um meio para derrota-los. Ou seja, um argumento nada inédito mas que, devido a grife de Mr. King, potencializa-se como possível obra rentável.
Porém, mesmo que formatado em uma vertente diferente, partindo de uma crítica de um mundo conectado e escravizado pela tecnologia, os zumbis são matéria saturada para o público e nem a história, nem os personagens, são carismáticos suficiente para irem além de uma narrativa sem força. Em cena, Cusack e Johnson formam a tradicional equipe improvável, unida pela necessidade da sobrevivência. Porém, sem nenhuma urgência, embora relembrem, a todo momento, a necessidade de procurar seus familiares.
O fato é que grande parte do horror desenvolvido por King se pauta em seu vigoroso estilo literário, algo que sempre se perde em uma adaptação, motivo pelo qual muitas obras cinematográficas oriundas de seus livros sejam fracas ou medianas. Mesmo que o roteiro seja assinado pelo próprio autor, trata-se de um campo novo a ser explorado e, por consequência, irregular. Como o desfecho do original do livro sofreu reclamações dos leitores, King compôs outro final para a versão cinematográfica. Um desfecho sem impacto, sinalizando a afirmativa de que, muitas vezes, suas histórias falham em uma conclusão insossa.
Celular resultou em um fracasso de bilheteria, conivente com a qualidade da produção, um horror sem sustos e sem nenhuma urgência, repetido pela temática de zumbis e conduzido de maneira apática.
Se à primeira vista contar uma nova versão de uma história, tão amplamente difundida quanto a de Tarzan, possa parecer desperdício de tempo e dinheiro, bastam os quinze primeiros minutos do novo filme dirigido por David Yates (Harry Potter e as Relíquias da Morte) para entender que este novo produto não se trata de um reboot – tão pouco de um remake – mas de um novo episódio da história do personagem.
A Lenda de Tarzan narra um retorno do herói às terras do Congo, onde foi criado por uma civilização de primatas e, posteriormente, cresceu em uma tribo humana local. O longa inicia com uma bela construção e apresentação do antagonista, vivido por Christoph Waltz. O ator interpreta um mercenário que cria um plano para levar o herói de volta ao Congo com o objetivo de trocá-lo por pedras preciosas. É interessante notar aqui o momento em que o roteiro aproxima o protagonista da figura animal. A ideia de uma espécie rara ser trocada por ouro ou pedras preciosas é bastante comum, sobretudo no continente africano. A escolha por essa saída como motivação para a vilania, apesar de óbvia, acaba se encaixando muito bem neste universo específico.
Chama atenção o carinho com que o personagem de Waltz foi tratado: a cena introdutória nos revela muito sobre este homem. Seu jeito de andar, de falar, a maneira hábil com que transforma um rosário em uma arma letal, tudo está presente com um requinte que raramente é aplicado aos antagonistas.
Alexander Skarsgärd, que levantou muitas suspeitas ao ser escalado para o papel principal, entrega um trabalho honesto, mas nada além disso. É fato que a estrutura física imponente do ator facilita um pouco o seu trabalho, mas não é justo menosprezar a empreitada inglória de dar vida para um personagem tantas vezes retratado anteriormente.
É preciso mencionar o belo trabalho desempenhado por Dijimon Hounsou (Diamante de Sangue e Gladiador) como chefe de uma civilização congolesa que “encomenda” a emboscada para capturar o herói. O ator há anos vem mostrando um excelente desempenho em papéis pequenos, e não é diferente aqui. É curioso como nesses momentos Hollywood sempre recorre a este “lugar seguro”, mas falta reconhecê-lo oferecendo um papel em que possa ser mais que um mero coadjuvante.
Tecnicamente falando, o longa-metragem sofre dos mesmos problemas apresentados por obras anteriores do diretor. David Yates tem uma predileção irritante por imagens excessivamente escuras. Vimos isso nos últimos filmes da saga Harry Potter. A questão é que A Lenda de Tarzan possui imagens tão escuras que chegam a ser granuladas. Junte isso à tecnologia 3D e o resultado é uma experiência visual desastrosa.
A trilha sonora do filme não chega a ser ruim, mas também não empolga. As músicas, apesar de boas individualmente, não constroem uma identidade. Existem alguns erros grotescos de continuidade que não comprometem o andamento da trama, mas que sangram os olhos dos espectadores mais atentos. O tempo de tela, apesar de longo, não incomoda. Como o roteiro trabalha em uma crescente, a experiência acaba sendo agradável.
Os principais pontos positivos são as atuações de Samuel L. Jackson e Margot Robbie. O primeiro cumpre com maestria a função de alívio cômico. É impressionante como L. Jackson consegue gerar empatia em qualquer papel que caia em seu colo. Já Robbie é de longe a melhor em cena. A atriz, de fato, está muito além de ser só um belo rosto. São dela as melhores sequências e as melhores falas. Ponto para o roteiro que fugiu do óbvio ‘donzela em apuros’ e entregou uma heroína badass, como vem acontecendo nos últimos anos em Hollywood.
O maior problema do filme é o fato de ele reforçar algo que há muito precisa ser quebrado na sociedade. Temos a África como cenário, tribos africanas como personagens, mas o dia é salvo por um herói branco. É claro que Tarzan segue a premissa original do personagem criado em 1912 por Edgar Rice Burroughs, mas é impossível não reparar que em pleno 2016 temos mais uma obra que reforça esse arquétipo da supremacia branca.
À parte isso, o longa-metragem não merece um lugar de destaque e dificilmente será lembrado com muito carinho num futuro próximo, mas está longe de ser um produto ruim, não merecendo a péssima bilheteria de entrada que fez nos EUA.
Após uma decepção que poderia ser resumida na vontade de um diretor em alcançar um público ainda maior, finalmente o sadismo, a visceralidade e a ultra violência de Quentin Tarantino retorna em Os Oito Odiados, sua versão do que seria a discussão sobre a Guerra Civil Americana. A trajetória do novo longa da filmografia tarantinesca retoma a mesma divisão capitular que ocorre desde os tempos de Kill Bill, o que faz fortificar a ideia de que o diretor tem trabalhado para desenvolver um estilo próprio, e até mesmo autorreferencial, ainda que sua marca seja claramente a de emular os seus muitos ídolos.
O início se dá de forma bastante lenta, com uma diligência atravessando o deserto enevoado de Wyoming, em companhia da trilha original de Ennio Morricone. O trajeto, até então inóspito e tranquilo, é interrompido pela figura de um negro, no meio do caminho, sentado sob uma pilha de corpos. O sinal visual é intenso e simbólico, demonstrando a predileção do diretor em favorecer os negros como figuras passivo agressivas. A bordo da carruagem estão o caçador de recompensas John “Bob” Ruth (Kurt Russell), sua prisioneira Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que será enforcada assim que chegar na cidade, e o cocheiro O.B. Jackson (James Parks). O negro se apresenta como Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), outro caçador de recompensas, e que tem o objetivo em comum de chegar até Red Rock para que também possa receber pela suas recompensas. Rapidamente um acordo é firmado e Warren se junta à diligência de Bob. A caravana ainda seria ocupada do pretenso xerife sulista e racista Chris Mannix (Walton Goggins).
O chamado à aventura ocorre em uma pequena cabana à caminho de Red Rock, que servirá como abrigo para a nevasca que se aproxima. Lá dentro, uma gama de novas personagens são apresentadas, com o veterano sulista General Sanford Smithers (Bruce Dern), o responsável pela taberna Bob (Demián Bichir), o futuro carrasco de Red Rock Oswaldo Mobray (Tim Roth) e o misterioso Joe Gage (Michael Madsen). O ingresso na cabana ocorre sob a orquestra de Ennio Morricone, através de uma música misteriosa, remetendo aos filmes de terror giallo – gênero cinematógrafico italiano típico dos filmes de Mario Bava e Dario Argento, por exemplo -, denotando ao espectador a hostilidade do lugar onde a trama irá se desenvolver.
A direção de Tarantino trabalha entre planos fechados e abertos, não mais os super closes ao estilo Sergio Leone,tal aspecto denota evolução no trato do diretor, e em lugar disto há planos gerais, que contemplam toda a paisagem, curiosamente partindo a imagem de ambientes internos, fator que gera a sensação de um corte da imagem, referenciando ainda ao western spaghetti, e aos defeitos de reprodução dos filmes em território americano, com os cinemas não compatíveis a este tipo de formato.
O aspecto mais saudosista de Os Oito Odiados certamente é o uso indiscriminado da violência e dos limites do corpo humano, não só na exposição de tripas, vísceras e afins, mas também no castigo corporal aos aventureiros que tem de se expor à neve, com uma terrível tempestade. As cenas longas, mostrando o momento em que os personagens guardam os cavalos não está posta gratuitamente, serve de deboche a prática comum do cinema norte-americano com uma estética repleta de preciosismo, pecado este cometido até pelo próprio Tarantino, como visto em Django Livre.
O estado mental de paranoia é normalmente associado aos norte-americanos nos períodos da Guerra Fria. A proposta de Tarantino é propagar essa sensação por toda a historiografia do país, através da já conturbada época do Oeste Selvagem, onde sequer o crime era organizado. A insegurança de Ruth se manifesta através do recolhimento das armas dos seus desconhecidos, mas passa principalmente pelas câmeras coladas no teto, no porão e nos lugares menos usuais para um ponto de vista pleno, antecipando visualmente até os plots que seriam revisitados em flashbacks.
O argumento do filme é simples, quase simplório, propicia a mesma premissa de Kill Bill, unindo alguns dos elementos de fracasso criminoso visto em Cães de Aluguel. Basicamente há uma plataforma para que – novamente – Samuel L. Jackson possa brilhar em um exploitation repleto de sangue e restos mortais, podendo enfim liberar toda a violência acumulada e contida desde o mesmo volume dois da história de Beatrix Kiddo. É na tranquilidade de não tentar ousar demasiado que o texto vence.
O desfecho chega a ser surpreendente, não pelos acontecimentos desencadeados, e sim pela forma como o nível de sangue vai subindo, ao ponto de quase afogar os personagens em meio aos restos mortais dos que não restaram. A crescente de adrenalina só faz o filme enriquecer, bem como sua filmagem em cinemascope, aspecto que embeleza demais as cenas. Tarantino finalmente retorna ao seu cinema habitual, encarando a violência como a mola motriz do seu universo, sem receio de parecer superficial e sem maiores preocupações em atingir um público que não é seu.