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  • Crítica | Luca

    Crítica | Luca

    Luca conta uma história de superação e aceitação, focada no personagem-título que vive no mundo submerso dos oceanos e sonha em passear pela superfície. Junto com seu amigo Alberto que não é bem quisto em sua comunidade, ele vai para a terra firme, e passa seus dias em uma pequena vila italiana, mas não sem deixar de preocupar seus pais, que tem receio de que o protagonista seja pego pelos pescadores e pessoas do vilarejo.

    O filme de Enrico Casarosa  mistura elementos de animação distintos, no início há uma emulação de elementos que lembram o stop motion de Fuga das Galinhas,  e depois, remete aos filmes animados recentes da Disney e Pixar, super colorido, em especial os cenários paradisíacos de Moana. Casarosa tinha feito dez anos antes o belo curta La Luna, que tem em comum com este, um protagonista infantil cheio de sonhos e uma jornada que trata de assuntos complexos de maneira lúdica.

    Tanto Alberto quanto Luca são meninos comuns, fato que aproxima a dupla do público-alvo. São garotos de verdade, que tem como diferença apenas a condição de ao estar na água ter uma aparência que faz lembrar a criatura de O Monstro da Lagoa Negra e a criatura de A Forma da Água, e em comum com o filme de Del Toro, há a questão de entender o diferente como um semelhante. O filme é assertivo e inspirador.

    A jornada em busca de não ter vergonha da própria identidade desafia os padrões e a dita normalizada, de maneira esperta, com pitadas boas de um discurso de auto aceitação e que poderiam até passar despercebidas por plateias conservadoras e menos atentas. Luca é assertivo e inspirador, descontrói o discurso rasteiro e preconceituoso, mostrando que não é tarde para aceitar abrir mão de seus dogma e ideias pré-concebidas.

  • Crítica | Soul

    Crítica | Soul

    Soul é o novo filme da Disney Pixar, filosoficamente pensado para discutir a formação da alma das pessoas. A história dirigida por Pete Docter explora uma aventura bonita e singela sobre pessoas, sonhos, ambição, decepções e resiliência, usando a vida de Joe Gardner, um musicista de jazz frustrado e que vê a oportunidade de tocar na banda de uma performancer famosa como exemplo de vida.

    O chamado a aventura começa logo após o convite para fazer parte do quarteto de Dorothea Williams, imediatamente depois de receber uma proposta de emprego fixo, algo raro em sua vida. Por conta desses acontecimentos, e de seu caráter descuidado, ele acaba indo a óbito. Percebendo que perderia as chances de sua vida, ele se recusa a “morrer”, e acaba se unindo a alma em treinamento, denominada 22, um ser atormentado e decidido a não querer existir.

    O visual do filme ajuda a aumentar a dimensão do desespero de Joe, nos momentos onde a cor azul predomina, deveria resta a ele a tranquilidade, como é com a maioria das pessoas que chegam as camadas mais profundas do além. Sua decisão o de não aceitar o fim, impedem ele de ter essa tranquilidade de espírito, ele está tendo, pensando nas dúvidas que ele tinha ainda em vida, e que poderiam ser bem mais fáceis de resolver do que ele imaginava.

    Boa parte da vontade que ele tem em viver mora na sua relação com a música, e em como se sente bem e aéreo quando exercita a harmonia, e o quanto toca outro plano nisso. Ele não precisa estar morto para sentir o êxtase, e isso o coloca em uma posição privilegiada, de tocar outro plano de existência mesmo sem estar morto, e mesmo sem querer, ele se torna arrogante, se julgando não pronto para deixar o plano dos vivos.

    Em Divertida Mente,  Docter abordou como funciona o aparelho psíquico, de forma lúdica e simplista. O crescimento dele como realizador dentro da Pixar contou com fatores externos até o sucesso de seus filmes, fato é que ele amadureceu nesse meio tempo, embora Soul não seja tão bem resolvido em abordagem quanto poderia ser. Algumas das conclusões morais do roteiro soam estranhas. Ainda que exista uma valorização de trivialidade típicas da vida comum e dos sentimentos, também se fomenta que a rotina meramente medíocre e sem propósitos é edificante, além de colocar pessoas místicas e holísticas acima do restante dos mortais.

    Soul é bonito em muitos momentos, acerta demais quando se mostra como ode a música popular dos Estados Unidos e escorrega na exploração de estereótipos se equivocando ao valorizar o acaso como linha guia da vida. Por mais que Joe tenha aprendido a se desprender de algumas questões é valido que ele enfrente as autoridades que sua vida carrega.

  • Crítica | Wall-E

    Crítica | Wall-E

    Wall-E é um dos filmes da Disney/Pixar menos midiático, ainda que seja sempre muito elogiado por parte de crítica e pública. A obra começa tocando Put On Your Sunday Clothes nos pequenos rádios presos ao robozinho que entitula o filme de Andrew Stanton, enquanto passeia pelas ruas de uma Terra devastada por problemáticas ecológicas e pelo consumo selvagem e desenfreado dos insumos.

    O lugar que serve de cenário é uma área urbana, de metrópole fato que ajuda o intuito colecionista de Wall -E. As pilhas de lixo são grandes como os arranha-céus a sujeira é o estado normal do planeta e a criatura orgânica mais próxima de alguma torcida é uma baratinha que anda com o protagonista, o mesmo tipo de bicho que em outros tempos, causaria asco e até fobia nos humanos.

    Qualquer cenário pós apocalíptico não poderia ser pior do que ter o planeta natal dos homens e mulheres tomado pela imundície e pelos descartáveis, soterrado por lixo. O filme possui atores reais, distanciando neste inicio as figuras animadas em 3d dos meros humanos que vivem em colônias espaciais. Incrivelmente são os seres digitais que parecem menos falsos e artificiais, a humanidade perdeu seu contato com o real e vive em seu simulacro e auto alienação, enquanto o pequeno robozinho, cercado e feito de sucata se encanta pelas faces da cultura humana, acumulando tudo que meramente lembrasse a face humana.

    Por mais que a rotina do protagonista seja repleta de momentos bonitos e cheios de ternura, o dia a dia é monótono, e isso só muda com a chegada de EVA, uma máquina de reconhecimento enviada como sonda a Terra rompe um pouco com a solidão do herói da jornada. Ele tenta ser romântico, mas não tem retribuição em um primeiro momento e esse gelo é quebrado bem aos poucos.

    Passa-se quase 40 minutos para aparecer o primeiro humano dito normal, em animação 3d, e o que se vê é que a raça bípede está acomodada, todos obesos, sentados, sendo servidos pelas máquinas, reféns da tecnologia e dos vícios inerentes a estar sempre conectado. A crítica comportamental é evidente, e toda paranoia dos humanos com possibilidades de contaminação por conta do planeta ou mesmo de Wall E é a simples e melhor mostra do quão presos a rotina de nada fazer eles estão.

    Há duas demarcações que demonstram a crítica do roteiro de Stanton, Jim Reardon baseado no argumento do próprio diretor e Pete Docter, que é o inicio do filme, mostrando o planeta tomado de plástico, papel e sujeira em geral, e também as super telas que entretém e distraem os homens obesos, que não fazem nada além de comer e gastar seu tempo comprando ou assistindo algum show bobo e fútil.

    O comandante da expedição que retornaria a Terra vibra ao perceber que não precisaria voltar ao lugar de origem da espécie, para assim continuar gozando das benesses da inércia e do conforto de ter uma máquina para cada mínima função do seu cotidiano. O final do filme mostra uma pequena disputa, movida pela ignorância das máquinas em relação a condição de vida na Terra, apimentado pelo receio de ter que lutar pela sua própria sobrevivência. A sequencia como um todo guarda momentos de humor, mas mesmo toda alivio cômico não apaga a mensagem voltada tanto para preservação, como também não diminui a força da situação calamitosa de isolamento dos seres pensantes.

    Os créditos finais mostram o destino dos homens na Terra, como eles passariam a viver em seu lar novamente, e é até otimista dado toda a desolação antes mostrada, a riqueza de Wall-E mora exatamente no discurso sério que propõe, sem descuidar da leveza a que a historia submete seu público, fazendo um tipo de poesia com a problemática que pode perfeitamente ser o futuro humano em alguns anos.

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  • Crítica | Toy Story

    Crítica | Toy Story

    Situado em uma época que animações infantis eram quase todas feitas de modo cartoonizado, na metade dos anos 90, Toy Story entrou para a história como a primeira animação longa-metragem em 3d, fazendo um sucesso estrondoso, trazendo uma historia terna, bonita e bem ao estilo Disney. Co-produção com os estúdios Pixar, a historia gira em torno da insegurança do xerife Woody, interpretado por Tom Hanks na versão original, com voz de Alexandre Lippiani (e posteriormente de Marco Ribeiro em outras dublagens e em continuações), toda a trajetória do herói é contada sobre a vivência deste personagem, que personifica a premissa do filme: e se brinquedos tivessem sentimentos.

    Esse era o primeiro filme longa-metragem da Pixar, o logo da empresa já é mostrado aqui como o pequeno abajur chamado Luxo Jr. (que era estrela dos curtas apresentados antes de Toy Story), e já no início é apresentada uma aventura infantil, onde o imponente cowboy detém Bart Caolho, na brincadeira orquestrada por Andy Davis que tem como vilão o Cabeça de Batata (um dos mais impacientes amigos de Woody durante todo o filme, curiosamente). O garoto que é dono dos brinquedos e ser supremo daquele universo faz o que quer com os bonecos, bonecas e acessórios.

    Mal dá para perceber nesse início que a casa em que a família que Andy mora é grande demais para a família Davis, com apenas três pessoas, e que Molly, a irmã mais nova do menino  dorme em seu quarto por conta da mudança e por seu quarto já não está mais habitável, no entanto isso é subalterno, o que realmente importa é a criatividade monstruosa do garoto, que faz toda uma narrativa coesa com brinquedos pré escolares, uma boneca de porcelana, dinossauro, um cachorro mola, um cofre etc. Para muitos fãs, é a inventividade da criança que ajuda a dar vida aos brinquedos.

    A música de Randy Newman pontua bem todas as emoções e receios dos brinquedos, que sempre ficam apreensivos em datas festivas, por conta do medo de serem substituídos, e o xerife apesar de parecer melhor resolvido que os outros, também demonstra fragilidades em seu pensamento, acreditando que pode ser substituído. No Brasil as músicas são executadas por Zé da Viola, um músico, que dá versões lindas para os temas de cada um dos personagens.

    Incrivelmente a fluidez dos movimentos dos brinquedos soa natural, quase tudo que os envolve prima pela naturalidade, levando em conta obviamente que é plástico e não carne que é aritculada, desde os brinquedos maiores até os pequenos tem algum destaque e uma particularidade, como os soldados verdes que servem de vigia e cuidam do perímetro do quarto de Andy. A parte em que um deles se fere ao tenta espionar a abertura dos presentes é sensacional, pois o coloca aos cuidados médicos de soldados específicos, fazendo lembrar os clássicos filmes de guerra como Platoon ou Tora Tora Tora, e toda a inteiração deles emulando ao comportamento dos fuzileiros americanos.

    A chegada do astronauta que co-protagonizaria o longa  traz um paradigma já visto nos cinemas. O gênero western, nos Estados Unidos deixou de ser popular graças ao boom de filmes sobre máfia, tornando a criminalidade do faroeste em algo desorganizado o suficiente para não ser mais tão atraente. A exploração do Western Spaghetti nos filmes de ação italianos mostrou como os europeus se valiam de tramas mais genéricas para ganhar alguns trocados, e tiveram suma importância para o cinema de ação, mas foi justamente com Star Wars que os faroestes italianos foram rareando, ao ponto de deixar de ser moda. Em seu lugar vieram cópias das space operas, que logo rarearam também por ter custos bem mais altos e resultados mais precários.  O script faz questão de referenciar todo esse cenário, ainda que de forma bem leve.

    A parte dramática casa bem com o humor ácido do roteiro de Joss Whedon, Andrew Stanton, Joel Cohen e Alec Sokolow, as questões envolvendo rejeição e substituição são questões que conversam com as pessoas mais adultas, ainda que isso tenha bastante eco com toda a questão de aceitação típica das épocas iniciais da vida de crianças, nas fases escolares., podendo ocasionar casos sérios até de bullying.

    É curioso como mais da metade das tiradas cômicas funcionarem com os adultos. O ideal da Pixar sempre passou por ter uma camada de diversão e escapismo que abraça as crianças, enquanto há todo um arcabouço dramático que contempla adultos. Aqui se vê referências leves a Star Wars e Jornada nas Estrelas, por exemplo, além de referencias a marcas conhecidas e outras próprias, como o Pizza Planet, tal qual ocorria com os filmes de Quentin Tarantino, que também tinha marcas próprias. Mesmo as fragilidades da produção, como os humanos feios e cabeçudos, fazem sentido nesse primeiro capítulo, e ajuda a salientar que essa é uma historia sobre brinquedos, caso não tenha ficado claro no título.

    Dentro ainda das sensações típicas da vida adulta, há o momento em que Woody perde a cabeça, ao ver um caminhão vindo, ele assume para si o protocolo de brinquedos e “desmaia”. Seu desespero era tanto por perder seu “dono” que ele tenta se suicidar, pois para ele não há mais motivos para existir sem o humano para o qual tem devoção. A montanha russa emocional pelo qual o filme passa traz a tona os medos mais primitivos e primários, além de desconstruir paradigmas preconceituosos, principalmente ao mudar para o cenário do quarto de Sid, que aliás, é um belo advento por referenciar os Terror Giallo italianos e até Canibal Holocausto, clássico do found footage, além do Gabinete do Doutor Caligari e A Pequena Loja de Horrores.. Aqui, os brinquedos mutantes do garoto mau não são como seu proprietário, mas são julgados por sua aparência, que além de enganosa, evidencia que Woody precisa evoluir muito para ser um sujeito bom.

    Passa mais da metade do filme para enfim dar continuidade a jornada de Buzz, e para ter para ele uma música dedicada na voz  de Zé da Viola – Voar eu não vou nunca mais – e ter a revelação de sua real origem, que aliás é tão chocante que o faz desmaiar após cair para sua quase morte. Além de ser um paralelo simples e inteligente com o mito da Caverna de Platão. Esse momento também abre referências a Al Toy’s Barn, a loja de brinquedos do vilão humano do 2ª filme, no comercial que o astronauta assiste, além de ser a chance de Tim Allen e Guilherme Briggs brilharem como o deprimido e inseguro brinquedo ter noção do que é, além de mostrar o quão frágil é a psique deles, com o segundo personagem caindo facilmente em depressão.

    Toda a mentalização, sobre dedicar sua vida em torno de um ideal, mesmo que no caso dos brinquedos seja servir a um amo/criança é bem madura, principalmente no que toca o desenvolvimento da imaginação das crianças, e essa é a maior missão de Woody, Buzz e os demais brinquedos, mesmo os rejeitados e alterados por Sid fazem isso.

    Mesmo que o sentimento de fraternidade de Woody e Buzz seja trabalhado de maneira um pouco rápido no que toca o convencimento que o xerife faz ao patrulheiro espacial, toda a trajetória para este rumo faz um enorme sentido e evolui ainda mais nos outros filmes. Nesse  ainda, a evolução de Woody é enorme, pois ele passa por cima de seus preconceitos, arquiteta um plano que foge as regras não ditas e impostas aos brinquedos e é claramente a frente do seu tempo e a frente do estigma que o toca de fazer referência a uma época tão distante como a do velho oeste. Ele até mais que Buzz merece o espaço, a fronteira final como ápice.

    Proximo dos  atos finais, há um trabalho em equipe, dos brinquedos de Andy, relembrando que essa não é uma fita individualista, e mesmo no natal, onde o vaqueiro assume que o patrulheiro espacial é mais importante que ele, há uma clara demonstração do quanto eles são íntimos e amigos, superando a vaidade individualista de ambos, trazendo uma historia que fora os moralismos, é rica e cheia de nuances. A Pixar não poderia ter uma pedra fundamental melhor que Toy Story, sem sombra de dúvida.

    https://www.youtube.com/watch?v=KYz2wyBy3kc

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  • Crítica | Toy Story 4

    Crítica | Toy Story 4

    Havia uma promessa após Toy Story 3 que a saga de Woody e dos outros brinquedos finalmente chegaria ao fim. Ocorre que, nove anos depois a Disney/Pixar trouxe enfim um novo capítulo para a franquia, dessa vez dirigido por Josh Cooley, em uma história que prometia poucas surpresas.

    Na trama, já se sabia que Woody reencontraria Betty, a pastorinha de porcelana que não aparecia desde o segundo filme. A trama começa nove anos antes do presente, em um dia chuvoso que marca o retorno de vários brinquedos antigos do Andy. A sequência em si além de animada é bastante emocionante, e marca a ideia central do filme, de que brinquedos vem e vão. Os momentos de ação melhoram ao ser pontuados pela música brasileira de Zé da Viola, que retorna para traduzir os temas de Randy Newman, incluindo uma música inédita.

    Woody tem que se adaptar a uma nova condição, sendo muitas vezes ignorado por Bonnie, mas sem jamais culpar a menina por isso. Neste ponto, há homenagens a momentos clássicos, como quando o vaqueiro e Buzz passeiam pelo Pizza Planet. Sua interferência em tudo é um aspecto que ele percebe que precisa mudar, mas essa evolução terá de esperar pela aproximação de um novo personagem, um garfinho criado pela menina durante sua ida ao jardim de infância.

    O novo paradigma traz uma nova sensação ao brinquedo, a vontade de não querer existir. O personagem funciona como um pupilo de Woody, mas também ensina algumas coisas, dentro daqueles aspectos estereotipados de filmes otimistas, mas que aqui funciona muitíssimo bem, em especial no que toca a sensação de não mais pertencimento a uma classe ou a um grupo específico. De certa forma, o Garfinho e Woody compartilham parte do mesmo destino, e aos poucos o caubói copia elementos de personagens diferentes entre si.

    Se nos outros três capítulos da saga tratam de rejeição, esse tem como um tema central o pertencimento, no caso, o lugar de destino dos brinquedos, não importando se eles são de material descartável, duradouro ou de qualquer outra natureza. Com a adesão de Betty à trama se discute de maneira não-panfletária o lugar que cada brinquedo tem, além de belíssimas reflexões a respeito de consciência, no arco de Buzz.

    Há duas personagens femininas fortes: Betty e Gabby Gabby – personagem que segundo os trailers era vilã e tirana mas que no decorrer dos 100 minutos, desconstrói essa imagem. A postura de ambas é bem diferente, e as duas causam diferentes emoções no protagonista, uma fazendo com que ele deseje ser independente e aventureiro, e outra reforçando o apego dele ao seu dono, e o desenvolvimento desse aspecto por parte de Woody talvez seja um dos pontos mais maduro e profundo de todo o roteiro de Andrew Stanton e Stephany Folsom.

    Os novos brinquedos também são muito bem apresentados, em especial o curioso Duke Caboom, dublado por Keanu Reeves, personagem esse que garante boas risadas e reflexões sobre superação de obstáculos. Há outros que apelam para eventos mais óbvios, mas ainda assim são bem carismáticos, como os brinquedos prêmios de jogos no parque. Os antagonistas são desenvolvidos, em sua maioria, como personagens multidimensionais, e o rumo destes redime um pouco Lotso, Pete Fedido e outros vilões já apresentados na série.

    Os brinquedos quebram muito dos protocolos, e isso ajuda o dar peso nas escolhas que o filme toma, fazendo com que as tiradas cômicas sejam muito mais significativas. A mensagem de que não dá para carregar todos os brinquedos sempre é muito bem explorada, ainda que a história de Toy Story 4 tenha algumas fragilidades. A vida é feita de transições, e mesmo pequenos ritos introduzidos no filme fazem um enorme sentido aqui. Para quem acompanhou todas as aventuras dos brinquedos de Andy e Bonnie é impossível não se importar com toda a carga dramática apresentada nesta sequência, e para ajudar o longa é visualmente belo, divertido e com uma bela carga dramática, pontuando bem o caráter e o espírito que a Pixar traz desde o primeiro Toy Story.

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  • Crítica | Os Incriveis 2

    Crítica | Os Incriveis 2

    Os Incríveis 2 começa após o final do primeiro filme, mostrando uma luta realizada pela família com o vilão subterrâneo que tem aspecto de toupeira (assim como em Quarteto Fantástico). Após uma ação conjunta muito plástica, o que se vê é uma destruição geral, fato que faz voltar à tona o discurso anti-heróis que começou, principalmente, após a proibição dos vigilantes em Watchmen.

    O novo produto de Brad Bird fala principalmente de um assunto: a saída do ostracismo e o desejo de ser notado, esse sentimento fica muito evidente na inquietação que não só o Senhor Incrível tem, mas também toda sua família. A única que não admite isso é sua esposa, a Mulher Elástica — também chamada Helena (ou Helen no original) —, ainda que claramente ela se sinta melhor agindo como uma super-heroína. Após perderem a ajuda governamental que os mantinha incógnitos, os parentes e seu amigo Gelado são chamados a conhecer um magnata interessado nos heróis.

    O empresário é Winston Deavor, um homem bastante crédulo e adorador da cultura de heróis. Ele tem uma empresa que herdou de seu pai, que por sua vez era um incentivador dos heróis mais antigos e acabou morto de maneira trágica. Ao seu lado está Evelyn, sua irmã e a mente mais inventiva da empresa. A dupla decide equipar e financiar os heróis, fazendo com que voltem a ação com câmeras. Isso abre muitas discussões, não só a respeito do plano, como também de privacidade, vigilância sobre os atos e outros assuntos espinhosos, que obviamente são suavizados por se tratar de um filme voltado para o público infantil. No entanto, ao menos no começo, o longa consegue abordar bem seus fatos importantes, em especial na situação familiar de Helena ir para a ação e não seu marido, assim como o desenvolvimento do novo antagonista da família, Hipnotizador.

    A dupla de irmãos é diferente, enquanto Winston é um mero empresário focado em vender, Evelyn é inteligente, engenhosa e até genial, a grande questão é que os desdobramentos a partir daí soam um pouco óbvios demais. Nesse meio tempo, a tentativa de Beto em ser apenas um pai e não um super herói é muito válida, e bem exemplificada em cada momento.

    Uma coisa evoluiu muito do primeiro filme para esse, que são as cenas de luta. Apesar de não haver sangue, elas são bem agressivas e disputadas, emocionantes num nível alto, mais vistosas por exemplo que os filmes recentes da Marvel e DC. A música de Michael Giacchino ajuda a dar um ar ainda mais pulp e escapista a história, fazendo lembrar demais os quadrinhos da Era de Prata, em um clima nostálgico que faz muito bem a obra.

    Há um problema com o vilão dessa versão. Se no primeiro, Syndrome era um fã que lidou mal com a rejeição e arrogância do seu ídolo, aqui é uma pessoa decepcionada com o ideal heroico, e de certa forma, o roteiro de Bird soa um pouco simplista, dando margem a um pensamento que refuta e trata como cínico quem não lida bem com o maniqueísmo presente na necessidade das pessoas de terem alguém que olhe por elas. Isso é complicado, mesmo em um mundo habitado por super-seres. Uma das boas histórias do Superman mostra o herói tendo que filtrar bem quem ele ajudará, pois sua super audição o deixa numa posição de loucura se for atender a todos os chamados. Cabe ao kriptoniano priorizar aqueles que só terão sobrevida caso ele aja, e essa essência de história é completamente contrariada no discurso contra o ideal que o Hipnotizador prega.

    De certa forma, o personagem antagonista tem sua razão, e o texto mostra essas nuances em sua identidade secreta, mas não se enquadra isso no discurso relevante que ele traz. Mesmo no final, quando o ideal dos heróis poderia ser ressignificado, isso não acontece, e não há sequer um pensamento mais aprofundado acerca do papel que os vigilantes exercem. Ainda assim , o próprio papel de Wilson como homem engravatado que no final estava correto é um pouco simplista demais.

    O Girl Power é bem encaixado e não soa panfletário, seja no heroísmo da Mulher Elástica, seguindo a esteira do que Gal Gadot e Patty Jenkins fizeram em Mulher-Maravilha, bem como na questão da personagem Evelyn, que consegue soar convincente nas múltiplas e dúbias atitudes que possuí. Apesar de algumas saídas fáceis de roteiro, Os Incríveis 2 tem um ritmo frenético e tem cores suficientes para distrair as crianças e os adultos.

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  • Crítica | Viva: A Vida é uma Festa

    Crítica | Viva: A Vida é uma Festa

    Há algo de forçosamente infantil em Viva: A Vida é uma Festa que me incomodou por demais. Se antes a Pixar conseguia unir todos os públicos e idades através de uma forma infantil e ideologias maduras, me parece agora que a preguiça superou o equilíbrio de intenções e tomou conta de toda a idiossincrasia da onde Wall-E, Up e Toy Story, obras-primas, são oriundos.

    Como já foi falado sobre o compositor austríaco Alban Berg (Assassinos Por Natureza), se o desespero da sua imaginação vai além da negatividade, das privações do seu tempo, parece-me agora que as infinitas possibilidades das tecnologias cinematográficas ilude mais os olhos dos técnicos que as asas da sua imaginação, fazendo-os acreditar que através de visuais de incontestável beleza chega-se a magia absoluta que eles acreditam reproduzir lindamente na tela, hoje em dia, mas na verdade a afogam devido o brilhantismo técnico que desnorteia a atenção para onde ela realmente deveria ir: Rumo aos anseios e as lágrimas de uma família em processo natural de desconstrução, e reconstrução estrutural.

    Filmes recentes especialmente da Disney como a versão live-action de A Bela e a Fera, o segundo Guardiões da Galáxia e Viva: A Vida é uma Festa são em partes prejudicados pelo peso da tecnologia que, ao mesmo tempo que catapulta literalmente a beleza de seus mundos ultra maquiados, ofusca e esmaga suas mensagens mais belas e sensíveis. Isso em parte é culpa de suas direções unilaterais, que entendem toda a significação no cinema como se fosse construída por elementos de videogame para apenas direcionar o olhar maravilhado dos jogadores, e não de seus corações ao longo de uma narrativa a ser contemplada e interpretada com a calma de quem assiste, não de quem joga. Cada mídia com seus maneirismos, é claro, mas quando o assunto é cinema, nada mais nocivo que um aspecto pegar o espectador pelos olhos e guiá-lo na direção mais fácil.

    Não me entendam mal, o longa é belíssimo principalmente por expor uma cultura de forma tão icônica, bem-humorada e celebrada como originalmente consegue fazer, mas tal dilema dos grandes espetáculos hoje em dia, o do desequilíbrio de intenções, jamais acomete as produções dos estúdios Ghibli, que nunca deixam a técnica superar a essência das histórias, preservada por sua vez pelo visual e também ajudada por ele a reunir objetivos em comum para se alcançar de forma cada vez mais rara em Hollywood o difícil patamar do brilhantismo absoluto onde moram animações como A Viagem de Chihiro ou Vidas ao Vento – e quando me refiro aqui a esse nível absolutista do brilhantismo, seria então um nível de excelência na direção de tangentes tanto técnicas, quanto substanciais por exemplo num uníssono, numa harmonia grandiosa de sentimento e pensamento que não se desassocia do todo no que importa à nossa percepção.

    Isso é um grande dilema mais e mais sentido do cinemão atual, e precisa ser discutido. Resta portanto que filmes de grande brilhantismo técnico saibam de fato balancear seus méritos ou assumir de vez a que vêm: Avatar não reinventou roda narrativa alguma, como Pulp Fiction conseguiu, nos anos 90; veio pra quebrar barreiras técnicas e reinventar por meio de gigantescos efeitos especiais nossa relação com esses espetáculos. A intenção sempre foi clara, e é por isso que em momentos emocionantes em Viva o que deveria ser uma catarse vira bálsamo para os olhos, indo pouco além disso.

    Mas é claro que, sendo simplista na linguagem, os momentos de lágrimas e euforia estão ali, afinal o pós-clímax é inteiramente bem costurado para isso, para emocionar quem quer que seja, sendo ao mesmo tempo absolutamente lindo, musicalmente vibrante e tocante como o devastador prólogo de Up (ou o final de Toy Story 3) faz marmanjo se debulhar, contudo, sendo uma traição na verdade a tudo aquilo que Viva, uma homenagem a cultura mexicana poderia ter realmente sido, e devido sua enorme ganância técnica fica deveras míope e não consegue (em partes, como tantas outras produções contemporâneas citadas aqui ou não) enxergar que menos pode quase sempre ser mais, em especial numa animação de ideias célebres e festivas, como prova a pequena e grande cena do neto com sua avó, e poucas outras tão inesquecíveis, quanto.

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  • Crítica | Procurando Dory

    Crítica | Procurando Dory

    Procurando Dory - poster

    Desde 2006, após o novo acordo firmado entre Walt Disney Pictures e a Pixar Animation Studios, uma nova fronte de produção de longas-metragens foi estabelecida procurando valorizar as obras lançadas, dando sequência narrativa a continuações aguardadas pelo público. Foi diante deste cenário que Toy Story 3 foi concebido e a partir dele, atualmente, as sequências são lançadas intercaladamente com novos produtos do estúdio.

    Após 13 anos do lançamento do primeiro filme, Procurando Dory chega aos cinemas carregado de expectativa. A produção de 2003, Procurando Nemo, se mantém como um ponto de mudança no estúdio, mantendo a qualidade técnica e ampliando o espectro do roteiro em uma obra capaz de agradar a crianças e adultos. Obras posteriores deram maior importância à parcela adulta das histórias, característica que se tornou fundamental nas obras da Pixar.

    A trama traz o retorno das personagens centrais da obra anterior, desenvolvendo a mesma dinâmica de uma aventura. O enfoque passa a ser da esquecida peixinha Dory à procura de seus pais, perdidos na época da infância. O roteiro de Victoria Strouse e Andrew Stanton, este último também diretor da obra, se mantém eficiente tanto na fronte do humor quanto na vertente sentimental. Porém, com uma base sólida, afinal o público já conhece as personagens, optou-se por desenvolver uma trama divertida em que o riso se destaca na maior parte do tempo em diversos tipos de situações diversas. Permanecendo sob a mesma tônica familiar da história anterior mas com aventura distinta, a obra não necessita da história anterior como sequência cronológica.

    À procura de manter a qualidade obrigatória das produções da casa, personagens coadjuvantes são bem realizados para, além de se destacar com apoio, estabelecerem um papel ativo na aventura, trazendo carisma ao público. Como o polvo Hank, dublado na versão brasileira por Antônio Tabet. Hank é um personagem mal-humorado e com um passado aparentemente traumático, nunca revelado ao público. São os coadjuvantes que possibilitam boas piadas em cenas precisas de alívio cômico.

    A mesma atenção técnica se mantém na animação, ainda que nesta série não exista a intenção de certa transposição da realidade. Equilibrando-se em um registro visual realista nos cenários mas cartunesco nos personagens, o filme se aproxima do desenho animado tradicional ao humanizar ações através dos animais. Personagens expressivos que vivem dramas humanos como a perda de memória, a visão ruim dos olhos e falta de autoestima.

    Se o enfoque da história é uma aventura pautada pelo riso, o drama está situado no tradicional curta exibido antes do filme. Piper segue o estilo narrativo dos curtas-metragens anteriores ao não utilizar nenhum diálogo, pautado por uma animação realista apresentando com sensibilidade um registro quase documental do crescimento de um pequeno pássaro, que sofre a transição da proteção materna para o descobrimento do mundo, e sabendo que deve aprender a ser autossuficiente.

    Estreando no primeiro lugar nas bilheterias americanas e mantendo a mesma posição na semana seguinte, Procurando Dory é um reencontro com personagens conhecidas do público e marcadas anteriormente por um registro sentimental em uma história leve e mais cômica.

      

  • Crítica | O Bom Dinossauro

    Crítica | O Bom Dinossauro

    O Bom Dinossauro - poster

    Em espaço normalmente dedicado às novas animações do estúdio Disney, O Bom Dinossauro foge à regra de lançamentos anteriores como Operação Big Hero, Frozen – Uma Aventura Congelante e Detona Ralph promovendo mais um filme do estúdio Pixar após seis meses do lançamento de Divertida Mente.

    Mesmo sendo um produto inédito após o grande sucesso da animação anterior e carregando o selo de qualidade da Pixar, o filme parece ecoar em argumentos anteriores, tanto da própria casa quanto de estúdios concorrentes. Em 2000, a Disney lançava a animação mais cara da época, Dinossauro, um gasto desproporcional à recepção morna da crítica. Dois anos depois, a 20th Century Fox lançava Era do Gelo em mais um retorno ao período jurássico. Recentemente, a Dreamworks realizou o mesmo em Os Croods, desgastando o tema pela repetição.

    A trama subverte a extinção dos dinossauros, desenvolvendo-os uma evolução que os fazem dominante no planeta. Arlo é um dinossauro adolescente, caçula da família, vivendo o difícil período de auto-conhecimento e representação familiar. Após uma tempestade que o leva para longe de casa, o dinossauro deve demonstrar sua coragem ao retornar para seu lar. No caminho, conhece o jovem humano, Spot.

    A narrativa se centra nestes dois personagens e na jornada de retorno ao seu habitat, transformando a trajetória no amadurecimento do dinossauro e no aprofundamento da relação com o garoto selvagem, o espaço para desenvolver os temas comuns de uma animação voltada para a família. Boa parte da história situa-se somente com a dupla em cena. Considerando que a parte humanoide não possui fala, a trilha sonora serve como apoio para nutrir os diálogos e a falta de ação, incorporando uma musicalidade que intenta ser selvagem, trabalhando-a a favor da história. Um recurso que não deixa de se aproximar da ousadia de Wall-E, demonstrando novamente a repetição de estilos narrativos além da trama.

    Desde o anúncio do longa-metragem, a produção passou por modificações, intensificando uma incoerência interna no estúdio. Inicialmente, Bob Peterson de Up – Altas Aventuras estava a cargo da direção. Em 2013, a Pixar considerou vagarosa a continuidade de seu trabalho, promovendo Peter Sohn, da equipe técnica de Os Incríveis e Procurando Nemo, ao cargo. Embora o argumento principal tenha se mantido, a história foi remodelada e talvez nestas modificações o roteiro de Peter Sohn, Erik Benson, Meg LeFauve, Kelsey MannBob Peterson se tornou plano ao extremo, distanciando-se do roteiro em camadas coerente com a tradição desenvolvida pela parceria Disney / Pixar.

    Nesta estrutura simples, a aventura é a tônica em uma história linear com poucos momentos de emoção – eclodindo em um desfecho evidente e repetido das citadas tramas anteriores – e quase sem nenhum riso. A animação cresce em comparação com anos anteriores do estúdio, porém novamente se espelha nos avanços dos estúdios concorrentes que também são capazes de produzir bons produtos plásticos, mesmo de enredo pífio.

    O Bom Dinossauro peca pela repetição, provavelmente desequilibrada pelos desencontros de sua produção, resultando em um produto final distante do selo de qualidade fundamentado pelo estúdio, retrocedendo mais um passo à sombra de sua própria trajetória.

  • Crítica | Divertida Mente

    Crítica | Divertida Mente

    Tomando como base a irresistível jornada que é o processo de crescimento, Divertida Mente ultrapassa o infeliz trocadilho de sua tradução para apresentar uma trama adulta, apesar da premissa de ser um filme para crianças. O filme de Pete Docter relembra muitos dos aspectos profundos de UP: Altas Aventuras e Monstros S.A. através de um panorama maduro sobre a psique humana concentrando-se na mente de Rilley (Kaitlyn Dias), uma menina de onze anos, às portas da adolescência e com uma intensa trajetória para começar.

    A história é narrada a partir dos conflitantes sentimentos e sensações que predominam na cabeça da menina que são liderados pelo aspecto da Alegria (Amy Poehler), da Tristeza (Phyllis Smith), Medo (Bill Hader), Raiva (Lewis Black) e do Nojinho (Mindy Kaling), o que já demonstra a escola de humor a que o filme se refere, como uma alegoria à versão americana de The Office e seus spin-offs. A trama é basicamente uma bela busca por identidade ainda na fase infantil.

    Apesar do flerte com o psicologismo barato, e da dublagem brasileira, que utiliza-se excessivamente de gírias atuais, a mensagem de que a base de uma vida saudável é a família é importante, por ser uma fita destinada ao espectador infantil. O campo de memórias tona-se a base do cenário e das desventuras, graças a uma sequências de trapalhadas típicas de uma odisseia de sensibilidade: no caso, uma mente conturbada por uma crescente injeção de hormônios, típicos desta fase da vida.

    É curioso notar como funciona o comando sentimental na cabeça de tantos outros personagens. A matriarca da família é passiva e comandada a priori pela Tristeza, enquanto o despreocupado e às vezes relapso pai – fruto, em geral, da criação do americano médio – é operado pela Raiva, o que causa um desequilíbrio interessante no cerne da família, garantindo uma diversidade que faz eco com a rebeldia sem causa da menina.

    Após algumas desventuras envolvendo as personagens centrais, Alegria e Tristeza, que viajam pela mente da Riley fora da sala de comando (a zona de conforto de ambas), a atmosfera muda, da extrema felicidade para tons mais agridoces. A viagem pela psique revela um acinzamento das memórias e do caráter, consequência da maturação de sua mentalidade. O equilíbrio entre alegria e tristeza se faz fundamental.

    O modo de retratar o subconsciente é interessantíssimo. Um lugar recôndito, escuro, em breu absoluto, que piora a sensação do processo difícil que é o crescer. A personagem de Philly Smith tem o estranho poder de tudo parar, modificar os paradigmas mesmo quando a esperança acaba. A Tristeza é entendida por sua contraparte como um aspecto de suma importância, e não mais algo a ser ignorado, já que é ela que serve de catalisadora da mudança.

    A mensagem final do roteiro de Docter, Josh Cooley e Meg LeFauve mostra a fugaz retirada da ingenuidade e o tímido começo da construção de caráter e do ethos, de maneira tocante e até profunda. Divertida Mente é uma metáfora para as inexoráveis agruras da vida, e o realizador conduz tudo de modo bem urdido e repleto de ternura, aludindo ao público mais adulto sem se descuidar do infanto-juvenil, abrangendo ambas as plateias, como na maioria dos clássicos da Pixar.

  • Crítica | Universidade Monstros

    Crítica | Universidade Monstros

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    Não é de hoje que percebemos a grande indústrias de cinema infantil pegando o péssimo hábito de se apoiar em franquias ao invés de criar produtos novos. Tivemos três sequencias de Madagascar, Toy Story, A Era do Gelo e ainda Shrek. E é claro que, por mais que saiamos do cinema satisfeitos devido a baixa expectativa para um filme infantil, sempre fica aquele ranso, e não raras vezes profere-se: “eu ainda prefiro o primeiro”.

    Em 2001 tivemos Monstros S.A., que mostra a história de Mike Wazowski (voz de Billy Crystal) e James P. Sullivan (voz de John Goodman) trabalhando em uma companhia de energia, que tem como matéria-prima o grito das crianças que eles assustam. Tudo flui normalmente até que a pequena (e fofa) Boo (voz de Mary Gibbs) consegue entrar no mundo deles, causando um pânico imediato, já que eles consideram crianças um elemento mortal. Depois de perceber que ela não causa nenhum mal, acabam se apegando a ela, o que vai causar uma das principais partes dramáticas do filme, que é quando Boo precisava voltar pra casa. Chega ao final do filme, Boo retorna ao seu lar, e tudo volta ao normal. Há margem para uma continuação? Não. Mas espera aí.

    E então 12 anos depois a Pixar lança Universidade Monstros, um prequel – já que essa segunda parte resolve contar como Mike e Sullivan se conheceram na universidade (digamos que nada mais é do que buscar o ouro no fim do poço).

    Resumindo a sinopse: Desde pequeno, Mike sempre estudioso e esforçado sonha em estudar na Universidade Monstros e virar um grande assustador, e para isso, se inscreve no programa de sustos. Lá ele conhece Sullivan, que por vir de uma família famosa, não se preocupa em estudar para se formar e quer apenas viver de fama. Logo de primeiro encontro, é possível ver que para a amizade dos dois se concretizar e virar a união que é em Monstros S.A., é necessário que algo mude. É quando a diretora do curso entra em cena, que as coisas mudam e os dois finalmente terão que aprender a trabalhar juntos e superar as diferenças para conseguirem se formar.

    Como a maioria dos filmes infantis sempre traz uma lição de moral, e a de Universidade Monstros não é tão boa assim. Apesar de Mike sonhar em ser um grande assustador, foi preciso tempo para que ele enxergasse que nem sempre o sonho é necessariamente uma vocação (como vemos em Monstros S.A. ele não trabalha assustando crianças, ele fica como treinador de Sullivan). Mas fora essa triste (porém real) lição de moral, o filme também aborda outros valores como trabalho em grupo e o respeito  as diferenças.

    Ao longo do filme, que gira em torno de uma competição entre fraternidades da universidade, o filme é voltado para um humor familiar (claro, por se tratar de um filme infantil) e que agrade a todos os tipos de público. Porém, é sentida a falta do elemento fofura, já que estávamos acostumados com a presença constante de Boo no primeiro filme – e que sem dúvida foi a personagem mais fofa já criada pela Pixar – que tentou ser preenchida por 2 minutos de um Mike quando criança logo no começo do filme.

    Quanto ao visual gráfico, Pixar é Pixar, e como era de se esperar, o trabalho é simplesmente magnífico. Houve cenas externas que cheguei a imaginar que eram reais (sem a presença dos monstros, óbvio) e a criação de todos os elementos, de todos os monstros é como se você pudesse enxergar a textura de que são feitos.

    E após sair do cinema com a famosa sensação de “eu ainda prefiro o primeiro”, acredito que não há mais como criar um novo filme para Mike e Sullivan, e caso aconteça, por favor Pixar, nos surpreenda.

    Texto de autoria de Larissa Tinoco.

  • Crítica | Monstros S.A.

    Crítica | Monstros S.A.

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    Monstros S.A. (Monsters INC, EUA, 2001, Dir: Pete Docter) lançado dois anos após o último longa da Pixar, Toy Story 2 (Idem, EUA, 1999), foi talvez o filme que ajudou a mostrar para Hollywood que a era das grandes animações estava de volta, mas de uma forma diferente, agora computadorizada. Ou seja, era o tradicional se travestindo de novidade.

    Sinopse: Mike e Sully moram em Monstrópolis e são empregados da Monstros S.A., uma empresa que funciona a base de uma linha industrial automatizada que gera energia para a sua cidade através de gritos de crianças, pelas portas de armário das mesmas. Até que a criança Boo passa para o mundo dos monstros causando uma enorme reviravolta.

    O roteiro sem grandes furos ou golpes aparentes talvez seja um dos melhores já apresentados em um filme da Pixar desde que ela começou a sua parceria com a Disney, ao lado de Procurando Nemo (Finding Nemo, EUA, 2003) e o mais recente Toy Story 3 (Idem, EUA, 2010). É um dos filmes da companhia que mais tem referências, só que ao cinema em si e ao seu início.

    A estrutura escolhida não é por acaso: a humana Boo chega no mundo estranho dos monstros, e, com os seus poderes especiais (gerar a energia que alimenta o seu mundo) e a ajuda de Mike e Sully, acabam por destronar o tirano Waternoose e seu lacaio Randall. Monstros S.A. segue o molde que se tornou célebre com “Viagens de Gulliver” de Jonathan Swift, e “Uma Princesa de Marte” de Edgar Burroughs, mas que talvez tenha tido origens na mistura dos mitos gregos dos heróis Perseu, Orfeu, Belerofonte e as andanças de Héracles. Esse também foi um dos moldes que estruturou alguns filmes de aventura de Errol Flynn dos anos 30 como os faroestes de John Wayne.

    As referências ao início do cinema não param por aí. Os monstros podem ser associados obviamente aos filmes de terror clássicos da Universal. A função principal da Monstros S.A. é assustar os humanos, mesmo que sejam crianças, para conseguir o que desejam. Da mesma forma que a catarse dos espectadores em forma de grito alimenta o cinema de terror através de ingressos comprados, aqui o mesmo grito é um dos principais bens que sustentam aquela sociedade.

    Outra curiosidade apresentada no roteiro é o vídeo institucional que Mike e Sully assistem assim que são apresentados pela primeira vez ao espectador. Logo depois, os protagonistas saem de casa e vão até a fábrica, e assim podemos ver como os habitantes de Monstrópolis se comportam. Aqui pode ser visto como uma referência aos filmes de ficção científica dos anos 50: uma sociedade harmônica que vive o sonho americano, e de uma hora para outra é invadida por um ser horrível, no caso uma criança, que promove o terror e o pânico nos seus habitantes.

    Na parte final do longa ocorre uma sequência onde Mike, Sully e Boo fogem de Randall e Waternoose no meio dos mecanismos que levam e trazem as portas. Cenas de perseguição vieram dos filmes de perseguição, uma das fórmulas mais antigas que fizeram com que D.W. Griffith ajudasse a consolidar o cinema narrativo a partir do ano de 1908. Cria-se uma tensão dramática ao intercalar três cenas: a donzela em perigo amarrada na linha do trem, o trem andando cada vez mais rápido e o herói chegando para resgatá-la.

    Outro dado curioso é quando Roz exige de Mike os relatórios para que continue a trabalhar. A simples menção da burocrata dentro da empresa não é por acaso. Relatórios são registros de alguma atividade, e o registro foi uma das funções primordiais que manteve o cinema em atividade e o impediu de ser extinto enquanto não havia se estabelecido como narrativa ficcional. Desde visitas a chefe de estado, até viagens para países africanos, o cinema teve que percorrer estes caminhos para não ser dominado pelas outras formas de entretenimento da época. Entenda mais aqui.

    A linha de montagem que mostra como os gritos das crianças humanas são produzidos e armazenados, pode ser interpretada como menção a própria industrialização que o cinema sofreu no final dos anos 10 e início dos 20 quando a era dos grandes estúdios começou. Neste caso, a inserção de uma criança neste universo pode ser uma referência ao início da indústria do cinema em si, por mais que o revisionismo histórico através do Simpósio de Brighton critique os primeiros historiadores que associavam a arte cinematográfica a “uma criança que não sabia o que estava fazendo”.

    A primeira cena de Monstros S.A. é uma simulação gravada de como se deve assustar uma criança, para que os monstros possam treinar melhor. É assim que o cinema ficcional age: ele simula uma série de inverdades encadeadas cheias de significados para que no fim a sociedade reflita e debata sobre os conceitos que ali estão. Em uma das últimas cenas, a mesma simulação revela o caráter do vilão Waternoose. E este é um dos pilares do cinema documental: expôr as outras facetas de um mesmo tema para gerar o mesmo debate. Em Janela Indiscreta (Rear Window, EUA, 1954), Hitchcock fizera um ensaio ao demonstrar a curiosidade do espectador e o quanto ele deseja quebrar a sua condição passiva e se inserir naquele universo, ao ponto do personagem de James Stewart se intrometer para impedir um assassinato. No longa não é diferente, os monstros, que são os próprios espectadores da simulação, a manipulam da forma que assim necessitam no momento.

    Outro fato curioso é a inversão de valores ao mostrar que monstros tem muito mais medo das crianças, o que os levam a sofrerem a descontaminação e limpeza por uma equipe especial caso sejam tocados. O medo dos monstros permite que eles sejam manipulados através de uma mentira, como vemos nas cenas finais: crianças não os contaminam. O medo das crianças a eles é a mesma forma de alienação, por mais que o fim maquiavélico tente justificar a imposição de limites auxiliando a sua educação, com a típica frase: “Se você não comer este prato, o monstro vai vir te pegar”. Essa premissa pode ser entendida também como uma crítica à imposição de uma verdade absoluta em uma sociedade através da manipulação promovida pela mídia, religião, política ou morais sociais rigorosas.

    No final do filme, os monstros percebem que a tão valorizada energia que vinha antes pelo grito de medo se torna dez vezes mais poderosa quando gerada por uma risada infantil. A mensagem é clara: o humor é uma das melhores formas de se lidar com o medo das crianças. Se for expandido para todas as idades: enfrente com bom humor o seu medo para que ele não vire um monstro incontrolável.

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    Para a psicologia, a maioria dos temores infantis são estados emocionais que representam uma etapa do seu próprio amadurecimento, e conforme vão crescendo eles se alteram tanto no tema quanto de intensidade. Da mesma forma que o medo vem da imaginação, é também dela que surgem as melhores formas de combatê-los. Ao expressá-los para seus pais seja de que forma for, as crianças conseguem conviver melhor com eles até entendê-los e superá-los. Não a toa Boo, com a ajuda de Sully, no final do filme consegue derrotar o seu próprio monstro, Randall.

    O problema surge também quando muitos pais falham em não conseguir se comunicar com os filhos pequenos, ainda mais na sociedade moderna onde permanecemos horas no trabalho, perde-se muito tempo no trânsito das grandes cidades e acaba se passando menos tempo do que gostariam ao lado dos filhos. Não a toa as crianças acabam se afeiçoando as vezes mais as suas babás do que aos próprios pais. O filme trata disso quando Boo se afeiçoa a Sully chamando-o de “gatinho”. A simples menção a um animal de estimação projeta nele a figura de um protetor e o apelido carinhoso mostra que ela consegue superar a sua condição de monstro se comunicando e interagindo com ele, já que ele não é seu monstro. São as funções básicas que as crianças veem em seus pais: carinho e proteção.

    A única hora em que existe quebra de confiança é através da representação máxima do cinema no filme: a simulação. Boo fica com medo quando Sully assusta uma criança robótica a mando de Waternoose. No cinema, a impressão de realidade tem o poder catártico de revelação ao espectador, transformando os personagens em tridimensionais através da psicologia dos seus atos. Sully é carinhoso, mas ainda assim é um monstro, Boo é uma criança destemida, mas também tem medo, e Waternoose é um bom chefe até aquele momento, depois vemos que é maquiavélico. Personagens humanizados através da psicologia são a base de boas narrativas.

    A maioria das obras de arte mais impressionantes que a humanidade já produziu trazem traumas dos artistas, feridas tão profundas que muito provavelmente tiveram início em sua infância. As obras surrealistas de Salvador Dali e Magritte são um exemplo, apenas dois exemplos rápidos ficando somente na pintura. No cinema não é diferente: os diretores do expressionismo alemão importados para Hollywood nos anos 20 e 30 fizeram com que a narrativa da sétima arte atingisse um nível superior, superando qualquer gênero.

    As vozes dos atores foi outro acerto. Não a toa Billy Cristal e John Goodman foram escalados para serem os protagonistas, já que fizeram muita comédia. James Coburn como vilão no seu penúltimo filme pode ser encarado como outra homenagem ao passado do cinema, mais especialmente aos anos 60.

    Por fim, a animação do filme impressiona. A qualidade e atenção à todos os detalhes não deixam os mais puristas reclamar do que tenha faltado. A textura dos pêlos de Sully, a movimentação dos personagens e a iluminação das cenas são o ponto forte. As cores escolhidas para a pele dos monstros e a vestimenta de Boo foram também bem feitas, junto dos cenários. Detalhe para a impressionante cena de perseguição no mecanismo que levam e trazem as portas.

    Monstros S.A. não é uma simples animação para crianças. Ele tem tantas referências a diversos temas que o tornam um dos melhores filmes já feitos, sem dúvida está no topo da Pixar, além de ser uma declaração de amor ao cinema.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | Monstros S.A.

    Crítica | Monstros S.A.

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    Monstros S.A. está situado em um momento anterior a compra milionária da Pixar pela Disney. É o quarto filme da produtora em uma época em que suas tramas ainda apresentavam maior tonalidade juvenil, sem as narrativas composta em camadas que se tornariam uma característica do estúdio que não possuía empresas rivais em lançamentos de animação.

    A trama dialoga com o medo infantil de que, durante a noite, monstros escondidos em armários habitam os quartos para assustar as crianças. Mal sabem elas que, do outro lado da porta, existe a Monstrópolis, cidade sede da Monstros S.A., uma empresa especializada em aterrorizar as crianças, garantindo, com seus gritos, a energia que abastece a cidade. Dentre os responsáveis pelos gritos, estão a dupla Mike Wazouwki e James P. Sullivan, a dupla central da história que equilibra bem a sensibilidade e o humor da produção.

    O estúdio Pixar desenvolve um pequeno universo para situar sua história, outra característica que seria comum em suas histórias. Esteticamente, a cada produção a empresa desenvolve um personagem que salta aos olhos pela animação competente. Caso do grandalhão Sully, um peludo personagem azul que foi trabalho detalhadamente para que a pelagem parecesse real.

    As personagens formam uma boa dupla divertida que são responsáveis pelas diversas cenas de humor, encontrando o contraponto sensível na história da pequena Boo, uma garotinha que acidentalmente invade o mundo dos monstros e transforma o coração peludo de Sully.

    Ainda que produção primária do estúdio, é perceptível a intenção de um roteiro que produz o híbrido entre riso e sensibilidade sem que nenhum lado se sobreponha. Um estilo que será perseguido pelo estúdio que, até então, tinha realizado somente Toy Story 2 com uma alta carga dramática.

    Neste relançamento em terceira dimensão, a história ganha maior interatividade sem os excessos visto em outras produções que utilizam a estereoscopia. Uma demonstração de que o recurso pode ser bem utilizado se colocado de maneira sutil para realçar as dimensões da cena e dar destaque a pequenos elementos. Além da novidade do 3D, é funcional para que aqueles que nunca assistiram a história no cinema possam revê-la. Um projeto que a Disney tem realizado desde o recente relançamento de O Rei Leão.

    O sucesso da produção – que tem o mesmo diretor de Up – Altas Aventuras – gerou uma continuação, Universidade Monstro que estréia em 12 de julho de 2013 no país.

  • Crítica | Valente

    Crítica | Valente

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    Após a união dos estúdios da Pixar com a Disney, muitas foram as reclamações e críticas por parte de uma parcela do público, sob o argumento de que esta união traria a ruína às grandes obras da Pixar. Com o fracasso de Carros 2, os ânimos abaixaram ainda mais, porém Valente , dirigido por Mark Andrews e Brenda Chapman, chega aos cinemas para renovar o conceito e o valor da união destes dois grandes estúdios.

    O filme conta a história de Merida, filha do Rei Fergus e da Rainha Elinor, a qual está para atingir a maioridade e, por isso, com o intuito de seguir os costumes da época, ela terá sua mão disputada pelos príncipes de outras famílias. Merida não hesita em mostrar descontentamento com os costumes de seu povo e acaba causando tensão entre as famílias. Após encontrar-se com uma bruxa e realizar um pedido que acaba causando mais problemas do que soluções, Merida deve correr contra o tempo com o intuito de evitar os conflitos entre os reinos e salvar a vida de sua mãe.

    O primeiro aspecto a ser levantado do filme é que Merida é a primeira princesa da Pixar. Muitos irão falar que isso é influência direta da Disney, porém a personagem deste filme tem uma personalidade muito diferente daquelas personagens clássicas como Bela Adormecida ou Branca de Neve. Merida é guerreira, astuta, rebelde e independente. Por outro lado é uma representação muito mais firme e contextualizada de uma mulher que possui seus próprios valores e os defende, em contraposição a uma princesa que apenas está aguardando para ser salva por um príncipe encantado.

    Merida é uma jovem com pensamentos e valores contemporâneos, por isso a todo momento bate de frente diretamente com os valores conservadores de sua mãe. Os personagens são carismáticos, possuem profundidade, possuem desejos e anseios humanos. Juntos ilustram uma belíssima história que indaga sobre os significados de liberdade (e a forma como a buscamos em nossas vidas) e de família.

    Os aspectos técnicos obtiveram um resultado muito positivo. A tecnologia 3D utilizada na animação ficou bem encaixada com os cenários da Escócia, em que foi baseado, e suas vastas florestas, as quais dão uma profundidade envolvente à atmosfera do filme. A animação por si só já é o suficiente para criar uma beleza estética muito proveitosa. Isso é facilmente visualizado ao observar a sutileza de detalhes na modelagem dos cabelos da protagonista: rebeldes, soltos e vermelhos como fogo (inclusive tendo relação com a própria personalidade da mesma), que se compõe juntamente com a beleza gráfica de todos os demais detalhes.

    Valente é um bom filme e divertido. Possui uma qualidade estética muito grande e uma narrativa redonda. Não foi dessa vez que a Pixar superou outros de seus sucessos (como Wall-E, por exemplo), porém é uma obra respeitável para abrir os olhos dos mais céticos em relação ao futuro da empresa.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    OBS: Para os céticos que estão reclamando das cópias dubladas, a dublagem desse filme ficou muito bem feita e não diminuiu nenhum pouco a beleza da obra. Podem conferir sem medo.