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  • Crítica | Mulher-Gato

    Crítica | Mulher-Gato

    O longa de Pitof fez história em 2004, trazendo Halle Berry no papel principal da mais famosa vilã das histórias em quadrinhos. Mulher Gato começa com uma introdução animada mostrando cenas do Egito, Grécia e outros lugares com mulheres vestidas como felinas. Antes de aparecer finalmente a personagem Patience Phillips, mal se nota o desastre que aguardaria o público.

    Está versão com roteiro de John Brancato, Michael Ferris e John Rogers (argumento de Brancato, Ferris e Theresa Rebeck) repaginar conceitos de Batman: O Retorno, mas sem a alcunha de Selina Kyle, sem Gotham, sem Batman 3 e principalmente, sem identidade. O estranho é que pouco tempo antes, em 2001 estreava A Última Ceia, longa que deu a Berry um oscar por sua atuação. Aparentemente a premiação não garantiu a ela um maior crivo na hora de escolher os produtos dos quais faria parte, até porque em 2002 ela co protagonizou  007: Um Novo Dia Para Morrer, com chances de ganhar um spin off onde sua personagem Jynx teria o papel principal. O resultado todos sabemos, críticas bastante negativas e um novo reboot em Cassino Royale, com outro ator e nada de spin off.

    Berry foi originalmente pensada para interpretar Selina Kyle no jamais feito Batman: Year One cancelado de Darren Aronofsky, inclusive quando a produção ficou parada em 2003, rumores indicavam que poderiam reaproveitar Berry  em Batman Begins, mas isso não passou de um rumor, tanto que o longa de Pitof foi ao ar antes do de Christopher Nolan. Outro fato curioso é que Laeta Kalogridis foi uma das consultoras do roteiro não creditadas do filme, ela que em 2002  idealizou o seriado Bird of Prey, que aqui no Brasil ficou conhecido como Mulher Gato também.

    Há uma tentativa genuína de fazer um drama acontecer, Patience é maltratada por seu patrão, George Hedare (Lambert Wilson, o Merovingian de Matrix Reloaded), defendida mal e porcamente pela esposa do mesmo – que aliás, é substituída na função de modelo da empresa que ajudou a fundar –  ela é oprimida por seu vizinho. Seus problemas são mundanos e nenhum é gravíssimo. Ao tentar salvar um gato ela quase se mata, sendo salva por Tom Lone (Benjamin Bratt), um policial que virá seu interesse romântico. A maneira como esse momento é conduzido por Pitof é estranho demais, e talvez a ideia fosse ser essa uma menção a tentativa de suicídio, no entanto, não há peso dramático nisto, nem de longe, no entanto esse é só mais um equívoco, como a construção Sally (Alex Borstein), a amiga gordinha da heroína como alivio cômico/predadora sexual ou da construção supostamente fetichista da vigilante, que basicamente não possui cenas de ação e sim pretextos para rebolar de maneira artificial pelos prédios da cidade.

    Daniel Waters, roteirista de Batman O Retorno deveria processar os que escreveram esse, pois Patience se vê em situações idênticas a Selina do filme de Tim Burton, sendo perseguido após descobrir segredos de seus empregadores, ainda que neste as cenas sejam mais agressivas que no filme de 1992, seguida de uma cena onde ela encontra o gato que tentou salvar é outros tantos, e eles aparentemente deram uma nova vida ela. Os gatos de CGI eram artificiais, mas não tão feios quanto a Halle Berry digital que pulou na janela do apartamento de Phillips.

    Patience passa a agir como um felino, em uma performance física que beira o ridículo e que só causa mais estranheza que o jogo de basquete (em uma escola) entre a heroína e o policial em um desempenho demasiado erótico, agravado pelo fato de estarem no meio de crianças, em uma versão ainda mais inadequada que a cena do parquinho em Demolidor: O Homem Sem Medo. As ações já como vigilante se diferem demais da ladra que a personagem original era, aqui ela é apenas uma justiceira genérica, com cabelo curto e na moda, que pega algumas joias para si, entre uma cena com CGI artificial e outra.

    A cena em que a personagem muda o visual é péssima, uma tentativa de mostrar ela como uma mulher independente, mas que ainda assim é refém de clichês sexistas. Ela entende o poder que lhe é conferido, e para praticar sua ideia de justiça ela faz uma roupa toda rasgada na parte das pernas e bunda, para sensualizar e para constranger seu dublê, que na maioria das vezes, era um homem.

    Toda a trama envolvendo a vilã que Sharon Stone faz – Laurel Hedare, a tal esposa desprezada de George – é mostrada de maneira gratuita, mesmo que seus motivos de ciúmes sejam explícitos desde sua primeira cena. Impressionante como tanto ela quanto Patience parecem se inspirar em visuais recentes da apresentadora Ana Maria Braga para compor seus personagens, ainda que a global passe menos vergonha que as duas, mesmo com as inúmeras gafes que já cometeu no Mais Você.

    É dificil encontrar o principal culpado para uma obra que adapta quadrinhos de maneira tão pífia, e certamente este fica no mesmo hall de Liga Extraordinária, Spirit, Lanterna Verde, mas não tendo o mesmo tom humorístico involuntário como Nick Fury e Spawn tiveram, uma vez que é bastante irritante, e também consegue ser tão esquecível quanto as versões de Vampirella e Model By Day, que também tinha supostas femme fatales como protagonistas, além é claro de ser o responsável por Berry ter vencido um Framboesa de Ouro, premio que ela fez questão de buscar, além de ter sepultado praticamente os trabalhos em direção de Pitof, além de ter comprometido também carreira de Stone como atriz, sendo até hoje relembrada como a péssima vilã que viveu.

    A luta final é patética, mas feia até que a imagem que Stone tem após ser arranhada pelas garras da Mulher é Gato. A queda é tão mal feita quanto as tramas dos personagens secundários que se fecham. A personagem que deveria soar como uma praticante de bondage fecha seu filme solo com uma figura patética e incapaz de controlar até simples atos, não atingindo o tal ápice físico que sempre foi a marca da personagem, além disso, a ideia de que um produto de beleza revolucionário que ao longo do tempo causa em quem usa a possibilidade de morrer estar prestes a entrar no mercado é complexo demais para a produção tão porca quanto é esta, que não consegue dar qualquer dimensão mais épica aos fatos  que ocorrem aqui.

    https://www.youtube.com/watch?v=SbfeJC1xfSc

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  • Crítica | Viva: A Vida é uma Festa

    Crítica | Viva: A Vida é uma Festa

    Há algo de forçosamente infantil em Viva: A Vida é uma Festa que me incomodou por demais. Se antes a Pixar conseguia unir todos os públicos e idades através de uma forma infantil e ideologias maduras, me parece agora que a preguiça superou o equilíbrio de intenções e tomou conta de toda a idiossincrasia da onde Wall-E, Up e Toy Story, obras-primas, são oriundos.

    Como já foi falado sobre o compositor austríaco Alban Berg (Assassinos Por Natureza), se o desespero da sua imaginação vai além da negatividade, das privações do seu tempo, parece-me agora que as infinitas possibilidades das tecnologias cinematográficas ilude mais os olhos dos técnicos que as asas da sua imaginação, fazendo-os acreditar que através de visuais de incontestável beleza chega-se a magia absoluta que eles acreditam reproduzir lindamente na tela, hoje em dia, mas na verdade a afogam devido o brilhantismo técnico que desnorteia a atenção para onde ela realmente deveria ir: Rumo aos anseios e as lágrimas de uma família em processo natural de desconstrução, e reconstrução estrutural.

    Filmes recentes especialmente da Disney como a versão live-action de A Bela e a Fera, o segundo Guardiões da Galáxia e Viva: A Vida é uma Festa são em partes prejudicados pelo peso da tecnologia que, ao mesmo tempo que catapulta literalmente a beleza de seus mundos ultra maquiados, ofusca e esmaga suas mensagens mais belas e sensíveis. Isso em parte é culpa de suas direções unilaterais, que entendem toda a significação no cinema como se fosse construída por elementos de videogame para apenas direcionar o olhar maravilhado dos jogadores, e não de seus corações ao longo de uma narrativa a ser contemplada e interpretada com a calma de quem assiste, não de quem joga. Cada mídia com seus maneirismos, é claro, mas quando o assunto é cinema, nada mais nocivo que um aspecto pegar o espectador pelos olhos e guiá-lo na direção mais fácil.

    Não me entendam mal, o longa é belíssimo principalmente por expor uma cultura de forma tão icônica, bem-humorada e celebrada como originalmente consegue fazer, mas tal dilema dos grandes espetáculos hoje em dia, o do desequilíbrio de intenções, jamais acomete as produções dos estúdios Ghibli, que nunca deixam a técnica superar a essência das histórias, preservada por sua vez pelo visual e também ajudada por ele a reunir objetivos em comum para se alcançar de forma cada vez mais rara em Hollywood o difícil patamar do brilhantismo absoluto onde moram animações como A Viagem de Chihiro ou Vidas ao Vento – e quando me refiro aqui a esse nível absolutista do brilhantismo, seria então um nível de excelência na direção de tangentes tanto técnicas, quanto substanciais por exemplo num uníssono, numa harmonia grandiosa de sentimento e pensamento que não se desassocia do todo no que importa à nossa percepção.

    Isso é um grande dilema mais e mais sentido do cinemão atual, e precisa ser discutido. Resta portanto que filmes de grande brilhantismo técnico saibam de fato balancear seus méritos ou assumir de vez a que vêm: Avatar não reinventou roda narrativa alguma, como Pulp Fiction conseguiu, nos anos 90; veio pra quebrar barreiras técnicas e reinventar por meio de gigantescos efeitos especiais nossa relação com esses espetáculos. A intenção sempre foi clara, e é por isso que em momentos emocionantes em Viva o que deveria ser uma catarse vira bálsamo para os olhos, indo pouco além disso.

    Mas é claro que, sendo simplista na linguagem, os momentos de lágrimas e euforia estão ali, afinal o pós-clímax é inteiramente bem costurado para isso, para emocionar quem quer que seja, sendo ao mesmo tempo absolutamente lindo, musicalmente vibrante e tocante como o devastador prólogo de Up (ou o final de Toy Story 3) faz marmanjo se debulhar, contudo, sendo uma traição na verdade a tudo aquilo que Viva, uma homenagem a cultura mexicana poderia ter realmente sido, e devido sua enorme ganância técnica fica deveras míope e não consegue (em partes, como tantas outras produções contemporâneas citadas aqui ou não) enxergar que menos pode quase sempre ser mais, em especial numa animação de ideias célebres e festivas, como prova a pequena e grande cena do neto com sua avó, e poucas outras tão inesquecíveis, quanto.

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  • Review | 24 Horas: Viva Um Novo Dia – 9ª Temporada

    Review | 24 Horas: Viva Um Novo Dia – 9ª Temporada

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    Após quatro anos em hiato, o herói de ação dos anos 2000 retorna para mais uma jornada contra o tempo. Diferentemente das oito temporadas anteriores, 24 Horas: Viva um Novo Dia desenvolve-se em apenas 12 horas. Uma meia temporada se compararmos o número tradicional de episódios de séries do fall season americano.

    Lançada em novembro de 2001, 24 Horas foi uma das primeiras séries da retomada americana, surgida numa época em que a qualidade cinematográfica parecia suprimida e a televisão indicava um novo formato narrativo a ser explorado. A série potencializou uma trama de ação e trouxe como recurso inédito – de fato, pouco explorado em produções anteriores – uma história realizada em tempo real. Em um momento em que poucos personagens de ação se destacavam – o retorno dos grandes da década de 80 é posterior –, Jack Bauer, personificado por Kiefer Sutherland, tornou-se referência contemporânea do gênero. A série fundamental em seu lançamento entregou, nos anos seguintes, narrativas-limite com muita ação, ganchos e com o jogo político envolvendo nações mundiais. Mesmo com algumas temporadas oscilantes, chegou ao fim em 2010 com um favorável saldo positivo.

    Os quatros anos de Jack Bauer distantes das telas foram tempo suficiente para que a maioria das séries iniciadas na retomada chegassem ao fim. Na segunda fronte de lançamentos, nenhuma série conseguiu superar em qualidade e audiência produções como 24 Horas, Lost e House M.D, entre outras que hoje figuram no coletivo cultural, em parte devido a uma alta demanda de séries produzidas, diferentemente de anos atrás. Canais públicos e pagos investem agressivamente em novos argumentos, uma gama favorável para o público mas que, em uma média geral, não se sustenta em qualidade. Grandes e poucas séries excelentes para diversas medianas.

    O retorno de 24 Horas às telas representa um cansaço de novas produções que não atingem o sucesso esperado. Ciente de que parte do público sente-se saudoso por séries de sucesso, uma nova temporada foi encomendada e, talvez como na retomada, seja a pioneira em ter uma sobrevida. Atualmente há boatos de outras retornando após um suposto final. Uma nova temporada de Heroes, uma releitura de Lost com novos personagens no mesmo universo e até mesmo o grande David Lynch retornando a Twin Peaks para, 23 anos depois, produzir um desfecho para a história.

    O novo ano de Jack Bauer traz elementos que consagraram a série: uma estrutura de diversas narrativas acontecendo simultaneamente com foco na investigação e na ação. A escolha de produzir apenas 12 episódios é eficiente e evita erros de composição, como visto em temporadas passadas, nas quais a trama principal finalizava horas antes do desfecho derradeiro, e ganchos difíceis eram apresentados para segurar os últimos acontecimentos. 12 horas possibilita uma concisão inédita e melhor apuro estrutural. Como é também característico da série, a trama é apresentada em partes, revelando-se maior do que o imaginado no decorrer da narrativa.

    Desta vez, a história se passa em Londres. Uma pista informa o paradeiro de Jack Bauer ao governo americano, e cabe ao centro de comando da CIA na Inglaterra investigá-la. Aos que não se recordam da situação da personagem até aqui, na oitava temporada Jack foi acusado, mais uma vez, de traição pelos Estados Unidos e é também procurado pelos russos por atentado contra seus governantes. Foragido por quatro anos, o ex-agente volta aos radares do governo para passar uma informação vital ao presidente: em sua estadia em Londres, há planos para um atentado contra sua vida.

    Se a trama sempre foi fundamentada pela ação, a política é o fio condutor para tal elemento. Dialogando com fatos contemporâneos, a história critica a intervenção americana e inglesa no Oriente Médio, principalmente pelo uso de drones não tripulados como vigilantes do céu da região. No dia da visita do presidente americano à Inglaterra para assinar um tratado que aumenta a frota de drones, um destes aviões é invadido por um sistema alheio em razão de uma brecha na segurança e abate um esquadrão americano. Cabe a Bauer informar o presidente do futuro atentado e investigar o ato de terrorismo.

    Antigos personagens conhecidos do público também retornam nesta temporada. Braço direito de Jack em anos anteriores, Chloe O´Brian novamente é responsável pelo suporte tático a Jack. Julgada e condenada por facilitar a fuga do herói, O´Brian tornou-se uma ativista de uma organização informal que divulga documentos sigilosos, como uma espécie de Wikileaks. Também retornam à cena Jack Heller, secretário de segurança que estreou na quarta temporada e, nesta, é presidente dos Estados Unidos, e sua filha, Audrey Raines, antiga namorada de Bauer, torturada por três anos por chineses em temporadas passadas. Como novidade, a atriz Yvonne Strahovski interpreta uma agente de campo da CIA.

    Pela primeira vez, há um personagem que faz contraponto balanceado com Jack Bauer. Kate Morgan não é a parceira de uma breve missão e que será subestimada e morta por um gancho dramático. Mas um personagem forte, com o mesmo pensamento racional e tático de Bauer. Uma contraparte feminina bem composta por Strahovski em sua terceira série consecutiva de sucesso. A dupla age em diversos momentos da temporada, e a agente passa credibilidade e carisma suficiente para se tornar um papel fixo em temporadas futuras.

    A ação centra-se na investigação de Bauer e Morgan. O tom dramático, e mais realista, está situado na política, tanto na visão dos grandes países como na dos terroristas, personagens normalmente descartáveis para a história mas que nunca são delineados de maneira plana, justificando as intenções por trás de atos extremos. A atriz Michelle Fairley – também presente em Game of Thrones – interpreta uma extremista a favor do atentado contra o presidente. Suas motivações vão além de uma guerra contra um país opressor, representando o quanto a intervenção americana é nociva aos próprios cidadãos dos países invadidos. Além da presença da atriz, que realiza uma interpretação entre a tristeza da perda e uma voracidade vingativa, tem destaque também o personagem de Tate Donovan – também visto em Hostages – como Mark Boudreau, chefe de Gabinete da Casa Branca e o homem mais próximo do presidente, aquele que suja as mãos para que as do governante supremo permaneçam imaculadas.

    Nestes doze episódios, a ação feita de maneira ininterrupta é executada muito bem na trama dividida entre a descoberta inicial do atentado, a revelação por trás de personagens com interesses escusos e o desfecho de Jack Bauer dentro de sua própria história. Pela primeira vez, a série realiza um salto temporal no último episódio, avançando 12 horas após o desfecho do dia-limite. Uma maneira de amarrar pontas e entregar ao público o final de diversas personagens. Sempre mantendo, de qualquer maneira, um provável gancho para futuras temporadas.

    Viva um Novo Dia é um retorno ao início da revolução das séries americanas e, além da nostalgia, confirma que Jack Bauer é um dos personagens mais significativos da ação contemporânea.

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