Tag: Kiefer Sutherland

  • Crítica | Por Um Fio

    Crítica | Por Um Fio

    Em 2002, Joel Schumacher apelava para Stuey Shephard, um publicitário americano vivido por Colin Farrell, para exemplificar uma parcela da sociedade americana, além de desnudar a vida de um sujeito refém das aparências.

    Farrell era uma promessa em Hollywood, estava em início de carreira e com potencial para se tornar uma estrela, fato que obviamente ocorreu muito graças a Tigerland, filme anterior que trabalhou com o cineasta. Seu personagem se mete em um evento bastante simples, mas complexo do ponto de vista da narrativa cinematográfica. Durante o dia seu personagem é bastante atarefado, contudo sua rotina muda bruscamente no momento de descanso, ao fazer uso de uma cabine telefônica para ligar para sua amante. Após o término da chamada, o telefone toca e ele atende. O filme se desenvolve ao redor dessa ligação, com sua vida dependendo disso.

    Schumacher comanda bem todo o mise-en-scène. Stu, ao ligar para Pam (Katie Holmes), retira sua aliança como se negasse ali o matrimônio que contraiu tempos atrás com Kelly (Radha Mitchell). O desespero que ele expressa e a curiosidade o fazem ficar preso à cabine, esperando por mais informações vindas do desconhecido com quem fala, que aos poucos deixa claro conhecer todos os detalhes a respeito de suas intimidades e segredos mais profundos. A edição ajuda no senso de urgência, e aos poucos a sensação incômoda e claustrofóbica vinda do fato de se passar nesta cabine telefônica.

    Há na mentalidade do vilão, criado pelo roteirista Larry Cohen, semelhanças com o serial killer Jigsaw, da franquia Jogos Mortais. Ambos agem de forma a colocar a vítima em estado de choque, sem liberdade de escolha, onde a alternativa que cabe é simplesmente impraticável e dolorosa. A diferença básica entre a motivação dos dois personagens, é que em Por Um Fio o discurso se volta contra mentiras e falsidades que ajudam a compor quem é o homem moderno, enquanto Jigsaw é meramente um replicador de moralidade barata.

    Apesar de toda a proposta do filme ser simples, a química entregue pelos personagens é bastante intensa. Só há uma crença de que todo aquele drama é real graças a participação de cada um deles. Schumacher ainda aproveita para abusar dos closes, registrando todo o desespero, sadismo e urgência de cada um.

    O humor presente nas conversas entre o antagonista e Stuey tem um tom ácido, é praticamente impossível não achar todo esse teatro errático sensacional. A tentativa do publicitário, que se julga acima de tudo e mais esperto que todos, de descobrir a motivação do sujeito que liga para ele só não é mais torta e inútil do que a arrogância do vilão em pedir a perfeição inalcançável ao protagonista. No entanto, a prepotência do personagem é crível, já que boa parte das pessoas que convivem em sociedade são reféns do consumismo e tem necessidade de ter uma aparência de sucesso maior do que seus próprios êxitos.

    Apesar do desfecho ser um bocado oportunista, Schumacher traz à luz um filme repleto de suspense, e que em seu final, retoma o argumento inicial, sobre a aldeia global estar toda conectada. Embora essa pecha pareça alarmista, a mensagem não é de toda errada, e ainda abre precedente para que mais casos como esse ocorram em  um futuro próximo.

    https://www.youtube.com/watch?v=uCrc0v22y44

  • Crítica | Linha Mortal

    Crítica | Linha Mortal

    A premissa por trás de Linha Mortal beira o sensacional: contar como seria o além vida. Nelson Wright (Kiefer Sutherland) é um estudante de medicina e tem a ambição de realizar uma experiência com os colegas de faculdade.

    O roteiro de Peter Filardi carece de sutilezas, o texto é bem direto e Joel Schumacher impõe uma estética e ritmo bem semelhantes aos videoclipes da MTV. Além disso, Dave Labraccio (Kevin Bacon) trabalha, praticamente sem pausas, e no auge de sua impulsividade e autocobrança extrema se frusta após a morte de um paciente que ele tenta salvar. Esse é um breve resumo de quem são os amigos de Nelson, um bando de jovens, bonitos, curiosos com a função de médico, impulsivos e que possuem poucas diferenças entre si.

    O diretor de fotografia Jan de Bont deixa os tons alaranjados sobressaírem, como já se via em outros filmes de Schumacher, fortalecendo a ideia do diretor de que as cidades urbanas dos Estados Unidos têm algo em comum, como a vigilância do Sol sobre os seus dias, aqui com um significado diferente, em um tom poético que remete a cor das chamas infernais do cristianismo.

    As cores unidas a arquitetura barroca dos cenários onde a experiência é feita demarcam a sensação de apreciar interpretações de outros infernos mitológicos, sendo o dantesco no lado externo onde estão os companheiros de Dave, e onírico e paradisíaco, como é na maioria dos ritos orientais, com misturas da descrição japonesa e um pouco dos Campos Elísios gregos, o lugar de pós-morte dos servos dos deuses. As partes “suburbanas” da cidade têm grandes grafites em neon, como na Gotham de Batman Eternamente e Batman & Robin.

    O elenco recheado de estrelas não faz feio, Julia Roberts faz o estereótipo da garota inspiradora, Sutherland mesmo caricato tem muito carisma, assim como Bacon, mas ainda parece real, até as personagens que servem como escadas, William Baldwin e Oliver Platt, funcionam bem dentro dessa equação. O primeiro ato do filme faz parecer que o drama será interessante, depois o que se vê é um arremedo mal pensado de aparições sobrenaturais. O que salva é o visual que Schumacher apresenta. O uso das luzes neon para produzir o terror é um acerto, mas até esse aspecto esbarra nas tecnobaboseiras e aparições gratuitas dos espíritos.

    O filme é longo demais, ainda mais ao colocar em perspectiva a fragilidade do roteiro. É impossível não ficar uma sensação de enfado no espectador. O maior pecado de Linha Mortal são suas escolhas narrativas. Nem nas partes mais expositivas existem conclusões a se tirar, além disso, a montagem piora o quadro, sempre parece que faltam frames ou mesmo cenas inteiras, como se a intenção do diretor fosse retratar a mente de alguém com lapsos de memórias, a ideia parece sofisticada demais para a execução empregada.

  • Crítica | Além da Morte

    Crítica | Além da Morte

    Courtney (Ellen Page) é uma estudante de medicina interessada em experiências de quase morte. Auxiliada por quatro colegas, tem seu coração parado depois revivido. Relutantes a principio, os demais resolvem passar pela mesma experiência, após testemunhar os efeitos iniciais desse “desligamento” temporário – aumento nas capacidades intelectuais, memória mais apurada, intuição aguçada, euforia, entre outras coisas. Ray (Diego Luna) é o único que não embarca na onda. Mas esses não são os únicos efeitos. O experimento parece tê-los deixado suscetíveis a visões, flashes de acontecimentos passados que começam a atormentá-los.

    Com roteiro de Ben Ripley e direção de Niels Arden Oplev, o filme é um remake de outro homônimo (no idioma original; no Brasil ganhou o título de Linha Mortal), lançado em 1990. E consegue ser tão ou até mais “esquecível” que o outro. A presença de Kiefer Sutherland – Dr. Barry Wolfson, orientador dos estudantes, na versão de 2017; Nelson Wright, um dos estudantes, na versão dirigida por Joel Schumacher – faz um link entre as duas versões. Mas é uma referência que pouco ou nada acrescenta à narrativa, é apenas uma curiosidade, algo que apenas quem assistiu o primeiro filme numa Sessão da Tarde irá perceber.

    Há coisas mal amarradas e mal explicadas na história. Por exemplo, equipamentos de última geração, funcionando em perfeito estado, aparentemente “abandonados” no subsolo de um dos prédios do hospital-escola. A premissa da história é boa, o que não garante que o filme também o seja. O roteiro opta por soluções pouco criativas, sendo previsível a maior parte do tempo. Tem-se a impressão de que o roteirista queria mostrar que o que os personagens fazem não é certo e que eles devem pagar de alguma forma por isso. É como se corrigir seus erros e expurgar os traumas os redimisse de brincar de deus. Mas por que após a quase morte os estudantes passam a ser “perseguidos” por traumas do passado? Em nenhum momento, o roteiro fornece qualquer pista a respeito. Para as demais reações, há até um esboço de explicação. Porém não há referência a essa reação negativa que, afinal, acaba sendo a fosse motriz da narrativa.

    A primeira parte vai bem, enquanto o espectador cada um dos estudantes que passa pela experiência de quase morte e as respectivas reações. Na segunda parte, em que se misturam essa busca pela redenção e um terror mal planejado, a narrativa se torna bastante inconsistente ao tentar assustar o espectador com sustos banais e previsíveis. Mesmo quando ocorre uma tragédia, é tão óbvio o que iria acontecer que perde todo o impacto dramático.

    E a construção dos personagens não contribui. São todos bem estereotipados e, por isso, mesmo pouco cativantes. Há a mocinha aplicada, assombrada pela morte da irmã caçula, Courtney; o playboy inconsequente, Jamie (James Norton); a riquinha fútil, Marlo (Nina Dobrev); a CDF submissa à mãe, Sophia (Kiersey Clemons); e o rapaz menos favorecido, com menos oportunidades que seus colegas, Ray. Os atores são competentes, mas os personagens são tão bidimensionais que é difícil o espectador se importar com o destino de cada um.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Top 10 – Especial Dia das Crianças

    Top 10 – Especial Dia das Crianças

    Conta Comigo - destaque - top 10 - dia das crianças

    O escritor tcheco Milan Kundera afirmou, em um de seus ensaios, que o passado é equilibrado por duas forças: o esquecimento, responsável por apagar os acontecimentos; e a força da memória que os transforma. Não à toa, o passado nostálgico representa esta modificação da memória. Na infância e juventude, período de vida compartilhado por todos, o passado é visto com um olhar transformador, muitas vezes melhorado pelas memórias que o deixam mais brilhante do que o tempo vivido.

    Em homenagem ao Dia das Crianças, nossa equipe se reuniu para uma lista que retorna à nossa infância e à nostalgia, relembrando filmes que marcaram nossa infância. Sem dúvida, filmes que marcam implicitamente nossa idade e a época oitentista na qual crescemos. A lista explora vertentes diferentes dos filmes oitentistas, um registro cinematográfico diferente do atual. Considerando produções juvenis ou voltadas para a família, é perceptível uma visão simultânea entre a juventude e o mundo adulto que nem sempre se molda a favor das crianças, com bandidos, tiros, problemas, vícios e outros recursos que o cinema atual evita pela polêmica. Estranhamente transformando o universo juvenil dos filmes em um universo fictício e estéril sem nenhum conflito extremo.

    Seja pelo resgate da memória ou pelo registro de um cinema diferente do atual, nossa lista ressalta obras que estiveram em nosso imaginário precoce e, de alguma maneira, se transformaram em nós. Os leitores que quiserem colaborar com esta lista nostálgica, podem acrescentar seus filmes memorialísticos nos comentários.

    Boa leitura.

    Um Tira no Jardim Da Infância (Ivan Reitman, 1990) – Por David Matheus Nunes

    Um Tira No Jardim da Infância

    Um Tira No Jardim de Infância é mais um dos filmes bizarros do diretor eslovaco Ivan Reitman. Responsável por pérolas como Os Caça-Fantasmas (as duas produções) e Irmãos Gêmeos, Reitman, de forma competente, coloca o brutamonte e astro Arnold Schwarzenegger – que até ali já tinha sido Conan, T-800, Dutch e Douglas Quaid – para dividir a tela com as mais variadas crianças, quando seu personagem, John Kimble, no encalço de um traficante de drogas, se infiltra como professor substituto numa escola de ensino infantil. Acontece que Kimble não tem nenhuma prática com crianças, mas se vê obrigado a deixar de ser o durão que sempre foi em prol do bem estar dos pequenos. O destaque fica para as várias situações constrangedoras que Kimble precisa passar junto das crianças, o que rende boas risadas. Apenas a título de curiosidade, a maioria das pessoas conhece o filme porque o viram pela televisão. A versão original legendada chega a ser bastante diferente no que diz respeito ao tom do filme (mais sério do que aparenta), além de ter algumas cenas de violência que foram cortadas na versão para a TV.

    Tuff Turf – O Rebelde (Fritz Kiersch, 1985) – Por Halan Everson

    Tuff Turf

    Com a pior trilha sonora que um filme dos 80s pode ter, Tuff Turf – O Rebelde mostra que pra ser valente contra os arruaceiros do seu bairro você apenas precisa de uma bike veloz, Robert Downey Jr no elenco, muita garra e ser o futuro astro de uma das produções para TV mais interessantes do ano. Estrelado por James Spader, essa bela obra do cinema acompanha um garoto novo no bairro e , assim como em qualquer bom faroeste, não é só questão de chegar, mas sim marcar território e mostrar que é o cara que vai mudar a parada para os fracos e oprimidos. Sem querer estragar para os interessados, ele usa muito bem a fórmula do “estrangeiro na cidade que vai conseguindo criar muitos problemas pra si”, algo que era mais comum em westerns, transpondo para um imaginário adolescente. Em parte, podemos pensar que pelo menos os protagonistas fazem jus a assistir à obra pela qualidade de seus trabalhos. Não são atuações geniais, mas nota-se que todos estão confortáveis com roupas berrantes, e muita trilha sonora sintetizada com teclado.
    Nota do autor: falei mal da trilha e a música-tema não desgruda mais da cabeça enquanto escrevo.

    Conta Comigo (Rob Reiner, 1986) – Por Flávio Vieira

    Conta Comigo - Stand By Me
    Baseado em um conto de Stephen King quase autobiográfico, Conta Comigo não trata apenas da amizade entre essas quatro crianças, mas a importância do meio onde elas estão inseridas, cada um em seus próprios anseios, incompreensões e rejeições, sejam elas familiares ou da própria sociedade. Rob Reiner, diretor do longa, não poupa seus espectadores, Conta Comigo, diferente de outros exemplares da época, não é leve ou abusa do sentimentalismo e da psicologia pop “breakfast club”, muito pelo contrário, o filme toca em temas delicados, e ao longo da trama amadurecemos com essas personagens, tudo isso no meio de desabafo, medo e, claro, muito companheirismo. “Nunca mais tive amigos como aqueles que tive aos 12 anos. Meu deus, quem é que tem?”

    Os Goonies (Richard Donner, 1985) – Por Karina Audi

    os goonies

    Dirigido por Richard Donner, Os Goonies é uma das grandes obras da infância que até hoje se mantém na memória de grande parte do público. O filme, que completou 30 anos em 2015, narra a história de uma turma de amigos (Mikey e seu irmão Brand; Gordo; Bocão; Dado; Andy e Stef), que, muito unidos, temem a separação do grupo com a mudança da casa dos irmãos devido a uma dívida. Ao encontrar um mapa que remete a um tesouro escondido há séculos, vão em busca das riquezas perdidas para evitar o fatídico despejo. Com roteiro de Chris Columbus, inspirado em uma história de Steven Spielberg, Os Goonies tornou-se um clássico cult devido a linguagem universal, aos elementos emblemáticos que agradam a qualquer criança (piratas, navios, caça ao tesouro, a luta entre mocinho e bandido) e ao carisma de seus intérpretes. A obra fala de descobertas, amizade, família e amor de uma forma tão cativante que é impossível relembrar a infância sem se esquecer dela.

    Retroceder Nunca, Render-se Jamais (Corey Yuen, 1986) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Retrocer Nunca, Rende-se Jamais

    Explorando de maneira familiar um dos desejos presentes do imaginário infantil, de se tornar um grande lutador, Retroceder Nunca, Render-se Jamais é um tradicional filme juvenil com uma mensagem simples como fio condutor. Fã de Bruce Lee, o jovem Jason Stillwell treina arte marciais e deseja uma revanche contra um grupo que agrediu seu pai. Com a ajuda do espírito de Lee, o jovem treina e anseia por uma vingança contra Ivan Krushensky, o temido Russo. Antes de ser alcunhado como Mestre, Jean-Claude Van Damme estreou nos cinemas como este vilão caricato sem muita expressão mas com forte habilidade de luta. O tradicional maniqueísmo oitentista com vilões temíveis e heróis sempre carismáticos provocam um dualismo divertido nesta produção. Além do uso do conceito fantástico para fazer de Bruce Lee um mentor espiritual, pontuando esta história no imaginário de todo jovem que admirava o lutador e sonhava em se tornar um ninja no estilo filme americano. E, claro, imperdível por ser a estreia do grande Mestre nas telas com seu famoso espacate.

    Os Mestres do Universo (Gary Goddard, 1987) – Por David Matheus Nunes

    Mestres do Universo

    Aproveitando o sucesso do desenho do He-Man na metade dos anos 80, o único filme do diretor Gary Goddard foi um prato cheio para as crianças da época, que puderam ver uma das primeiras adaptações para o cinema de uma animação de sucesso. E coube a Dolph Lundgren o fardo de viver o príncipe de Eternia. Fardo porque, analisando e comparando-o com a animação, podemos perceber que apenas alguns personagens foram aproveitados e só. Pouco da mitologia do He-Man foi usado. O protagonista está lá apenas como He-Man. Em nenhum momento vemos o príncipe Adam, muito menos o Pacato/Gato Guerreiro. O simpático Gorpo foi substituído por um irritante goblin e o que sobrou, é justamente o destaque. Lundgren está bem caracterizado como He-Man e o momento em que profere a clássica frase “eu tenho a força”, empunhando sua espada, ainda é emocionante. O sábio Mentor e a Teela estão lá, mas quem rouba a cena é o time de vilões, composto pelos horríveis Homem-Fera, Saurod (uma versão do Lagartauro), Blade, Karg, a bela Maligna e, claro, o Esqueleto, cuja caracterização é sensacional; além de imponente, o cajado é representado pela cabeça de um bode. A versão dublada do filme é recomendada, uma vez que todos os dubladores do desenho estão lá.

    Gotcha! Uma Arma do Barulho (Jeff Kanew, 1985) – Por Halan Everson

    gotcha

    Com um elenco de desconhecidos, pelo que me recorre à mente, Gotcha! Uma Arma do Barulho acompanha a vida de um jovem azarado com as mulheres vivido por Jonathan, interpretado por Anthony Edwards (A Vingança dos Nerds) que resolve visitar Paris com seu melhor amigo para recuperar os ânimos – por que não? O que pode dar errado?. O que acontece é uma trama de espionagem internacional, com níveis de perigo à la James Bond. Fugas, perseguições, cenas de tiroteio e romance, tudo isso acontecendo com um adolescente que só queria se dar bem com as mulheres, passando a impressão que é para ser engraçado. Algumas cenas e uso de trilha sonora passam esse clima divertido e descontraído, mas não é muito difícil parar de levar a sério, principalmente no dubladão. Assim como em Tuff Turf nesse filme também temos uma péssima trilha sonora sintetizada com teclados e uma música tema que consegue ser menos grudenta que a de Tuff Turf. Um detalhe muito curioso é que Jonathan em uma determinada parte do filme sempre fala o “Gotcha” na versão dublada, e sempre pensei que era uma gafe da dublagem, mas não é… É ruim assim mesmo.

    Deu a Louca nos Monstros (Fred Dekker, 1987) – Por Flávio Vieira

    Deu a Louca Nos Monstros

    Fred Dekker, mais conhecido até então pelo seu trabalho de direção à frente do competente A Noite dos Arrepios, se reuniu com o então estreante Shane Black (Beijos e Tiros, Homem de Ferro 3) para escrever Deu A Louca nos Monstros, de 1987. O filme é um belo exemplar dos anos 80, com toda a temática aventuresca juvenil típica dos filmes dessa década. Além disso o longa-metragem é uma grande homenagem aos filmes de monstros clássicos da Universal. Repleto de efeitos práticos e um roteiro no mínimo curioso que usava uma desculpa qualquer para realizar um crossover de diversos monstros clássicos (Drácula, Frankenstein, Monstro do Pântano, Lobisomem e uma Múmia), Deu a Louca nos Monstros ainda passa longe do politicamente correto dos dias de hoje, já que é bastante comum acompanharmos crianças fumando, discutindo sobre virgindade, praticando magia negra ou mesmo utilizando armas. Uma bela homenagem ao universo de horror clássico e que ainda arruma tempo para aplicar pequenas camadas ao que em tese seria apenas um filme infantil despretensioso.

    Esqueceram de Mim (Chris Columbus, 1990) – Por Karina Audi

    Esqueceram de Mim - Home Alone

    Segundo filme de Chris Columbus, hoje praticamente ignorado pela crítica, Esqueceram de Mim foi um grande sucesso no início da década de 1990 que alavancou o sucesso de Macaulay Culkin, o qual interpreta Kevin, o garoto esquecido em casa pela família quando em viagem para a Europa no Natal. O filme foi escolhido para integrar esta lista não pelas qualidades técnicas, que fogem, por exemplo, da criatividade do diretor Columbus vista em outras produções anteriores como roteirista (Gremlins, O Enigma da Pirâmide e Os Goonies); mas sim porque é uma produção popular que simpatizou os espectadores e traduziu uma época do cinema familiar oitentista. O filme trabalha bem com o imaginário infantil de uma criança que se vê sozinha e precisa agir com maturidade sem os pais, algo que Kevin só descobre no final, quando acredita que o seu desejo, de nunca mais ver seus parentes, era apenas uma vontade infantil. Ao longo de sua jornada, Kevin luta com bandidos, supera o preconceito contra seu vizinho Marley e percebe-se um menino bom, seguindo a proposta de finais felizes dos filmes familiares natalinos. Sob uma trilha sonora do sempre genial John Williams, Esqueceram de Mim marcou época de muitos jovens, que hoje já não se veem sozinhos em casa tomando sorvete escondidos e preparando armadilhas para possíveis malfeitores.

    E.T. – O Extraterrestre (Steven Spielberg, 1982) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Et - Extraterrestre

    Após a primeira aventura de Indiana Jones, Steven Spielberg dirigiu esta produção direcionada para o âmago familiar. Dando voz às crianças como personagens principais com direito a filmá-las em ângulos proporcionais, mais baixos do que os tradicionais, destacando-as nas cenas, E. T. – O Extraterrestre explora outra vertente juvenil focada na amizade e no mistério de seres de outros planetas. A fantasia é equilibrada tanto no encantamento da relação entre Elliott e o extraterrestre como no choque de realidade adulta quando o visitante é aprisionado pelo governo e tratado como experiência. Transitando nestes temas, a obra é sensível e evoca sentimento primordiais como a construção da amizade e da lealdade, a compreensão das diferenças e, ao mesmo tempo, demonstra a selvageria do mundo adulto em paralelo com a pureza infantil, um tema sempre presente nas obras do diretor.

  • Review | 24 Horas: Viva Um Novo Dia – 9ª Temporada

    Review | 24 Horas: Viva Um Novo Dia – 9ª Temporada

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    Após quatro anos em hiato, o herói de ação dos anos 2000 retorna para mais uma jornada contra o tempo. Diferentemente das oito temporadas anteriores, 24 Horas: Viva um Novo Dia desenvolve-se em apenas 12 horas. Uma meia temporada se compararmos o número tradicional de episódios de séries do fall season americano.

    Lançada em novembro de 2001, 24 Horas foi uma das primeiras séries da retomada americana, surgida numa época em que a qualidade cinematográfica parecia suprimida e a televisão indicava um novo formato narrativo a ser explorado. A série potencializou uma trama de ação e trouxe como recurso inédito – de fato, pouco explorado em produções anteriores – uma história realizada em tempo real. Em um momento em que poucos personagens de ação se destacavam – o retorno dos grandes da década de 80 é posterior –, Jack Bauer, personificado por Kiefer Sutherland, tornou-se referência contemporânea do gênero. A série fundamental em seu lançamento entregou, nos anos seguintes, narrativas-limite com muita ação, ganchos e com o jogo político envolvendo nações mundiais. Mesmo com algumas temporadas oscilantes, chegou ao fim em 2010 com um favorável saldo positivo.

    Os quatros anos de Jack Bauer distantes das telas foram tempo suficiente para que a maioria das séries iniciadas na retomada chegassem ao fim. Na segunda fronte de lançamentos, nenhuma série conseguiu superar em qualidade e audiência produções como 24 Horas, Lost e House M.D, entre outras que hoje figuram no coletivo cultural, em parte devido a uma alta demanda de séries produzidas, diferentemente de anos atrás. Canais públicos e pagos investem agressivamente em novos argumentos, uma gama favorável para o público mas que, em uma média geral, não se sustenta em qualidade. Grandes e poucas séries excelentes para diversas medianas.

    O retorno de 24 Horas às telas representa um cansaço de novas produções que não atingem o sucesso esperado. Ciente de que parte do público sente-se saudoso por séries de sucesso, uma nova temporada foi encomendada e, talvez como na retomada, seja a pioneira em ter uma sobrevida. Atualmente há boatos de outras retornando após um suposto final. Uma nova temporada de Heroes, uma releitura de Lost com novos personagens no mesmo universo e até mesmo o grande David Lynch retornando a Twin Peaks para, 23 anos depois, produzir um desfecho para a história.

    O novo ano de Jack Bauer traz elementos que consagraram a série: uma estrutura de diversas narrativas acontecendo simultaneamente com foco na investigação e na ação. A escolha de produzir apenas 12 episódios é eficiente e evita erros de composição, como visto em temporadas passadas, nas quais a trama principal finalizava horas antes do desfecho derradeiro, e ganchos difíceis eram apresentados para segurar os últimos acontecimentos. 12 horas possibilita uma concisão inédita e melhor apuro estrutural. Como é também característico da série, a trama é apresentada em partes, revelando-se maior do que o imaginado no decorrer da narrativa.

    Desta vez, a história se passa em Londres. Uma pista informa o paradeiro de Jack Bauer ao governo americano, e cabe ao centro de comando da CIA na Inglaterra investigá-la. Aos que não se recordam da situação da personagem até aqui, na oitava temporada Jack foi acusado, mais uma vez, de traição pelos Estados Unidos e é também procurado pelos russos por atentado contra seus governantes. Foragido por quatro anos, o ex-agente volta aos radares do governo para passar uma informação vital ao presidente: em sua estadia em Londres, há planos para um atentado contra sua vida.

    Se a trama sempre foi fundamentada pela ação, a política é o fio condutor para tal elemento. Dialogando com fatos contemporâneos, a história critica a intervenção americana e inglesa no Oriente Médio, principalmente pelo uso de drones não tripulados como vigilantes do céu da região. No dia da visita do presidente americano à Inglaterra para assinar um tratado que aumenta a frota de drones, um destes aviões é invadido por um sistema alheio em razão de uma brecha na segurança e abate um esquadrão americano. Cabe a Bauer informar o presidente do futuro atentado e investigar o ato de terrorismo.

    Antigos personagens conhecidos do público também retornam nesta temporada. Braço direito de Jack em anos anteriores, Chloe O´Brian novamente é responsável pelo suporte tático a Jack. Julgada e condenada por facilitar a fuga do herói, O´Brian tornou-se uma ativista de uma organização informal que divulga documentos sigilosos, como uma espécie de Wikileaks. Também retornam à cena Jack Heller, secretário de segurança que estreou na quarta temporada e, nesta, é presidente dos Estados Unidos, e sua filha, Audrey Raines, antiga namorada de Bauer, torturada por três anos por chineses em temporadas passadas. Como novidade, a atriz Yvonne Strahovski interpreta uma agente de campo da CIA.

    Pela primeira vez, há um personagem que faz contraponto balanceado com Jack Bauer. Kate Morgan não é a parceira de uma breve missão e que será subestimada e morta por um gancho dramático. Mas um personagem forte, com o mesmo pensamento racional e tático de Bauer. Uma contraparte feminina bem composta por Strahovski em sua terceira série consecutiva de sucesso. A dupla age em diversos momentos da temporada, e a agente passa credibilidade e carisma suficiente para se tornar um papel fixo em temporadas futuras.

    A ação centra-se na investigação de Bauer e Morgan. O tom dramático, e mais realista, está situado na política, tanto na visão dos grandes países como na dos terroristas, personagens normalmente descartáveis para a história mas que nunca são delineados de maneira plana, justificando as intenções por trás de atos extremos. A atriz Michelle Fairley – também presente em Game of Thrones – interpreta uma extremista a favor do atentado contra o presidente. Suas motivações vão além de uma guerra contra um país opressor, representando o quanto a intervenção americana é nociva aos próprios cidadãos dos países invadidos. Além da presença da atriz, que realiza uma interpretação entre a tristeza da perda e uma voracidade vingativa, tem destaque também o personagem de Tate Donovan – também visto em Hostages – como Mark Boudreau, chefe de Gabinete da Casa Branca e o homem mais próximo do presidente, aquele que suja as mãos para que as do governante supremo permaneçam imaculadas.

    Nestes doze episódios, a ação feita de maneira ininterrupta é executada muito bem na trama dividida entre a descoberta inicial do atentado, a revelação por trás de personagens com interesses escusos e o desfecho de Jack Bauer dentro de sua própria história. Pela primeira vez, a série realiza um salto temporal no último episódio, avançando 12 horas após o desfecho do dia-limite. Uma maneira de amarrar pontas e entregar ao público o final de diversas personagens. Sempre mantendo, de qualquer maneira, um provável gancho para futuras temporadas.

    Viva um Novo Dia é um retorno ao início da revolução das séries americanas e, além da nostalgia, confirma que Jack Bauer é um dos personagens mais significativos da ação contemporânea.

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  • Crítica | Pompeia

    Crítica | Pompeia

    pompeia - poster

    Filmes de tragédias anunciadas, isto é, cujo final já é de conhecimento público precisam ter um mínimo de criatividade para prender a atenção do público, já que saber como termina não é o foco. Não é o caso de Pompeia. Dirigido por Paul W.S. Anderson, conhecido por alguns filmes da franquia Resident Evil, não nega a fama do diretor que costuma preterir a narrativa em favor do visual.

    Milo, o Celta (Kit Harrington) – o Jon Snow de Game of Thrones – é de uma “tribo de bárbaros” que foi dizimada por uma horda romana. É capturado e feito escravo. Cresce e se torna um gladiador. Levado a Pompeia para lutar, conhece uma moça, Cassia (Emily Browning), filha de Aurelia (Carrie-Ann Moss) e Severus (Jared Harris), um comerciante rico. Durante a erupção do Vesúvio, o Celta precisa salvar Cassia das mãos do senador Corvus (Kiefer Sutherland).

    A junção de filme-catástrofe com épico romano dificilmente escaparia de estar repleta de clichês. Nada contra clichês, desde que bem utilizados. Mas um pouco de criatividade é sempre bem-vindo. No entanto, o roteiro parece uma colcha de retalhos de outros filmes. O início remete a Conan. O envolvimento do Celta e Cassia – com o antagonismo de Corvus – lembra Jack, Rose e Cal Hockney em Titanic, sem contar a catástrofe já esperada. E o “retalho” maior cabe a Gladiador. A quantidade de cenas similares é tamanha que tem-se a impressão de estar assistindo a uma versão para TV do filme de Ridley Scott. O escravo que se torna gladiador. O amigo do protagonista é outro gladiador negro, Atticus (Adewale Akinnuoye-Agbaje) – o eterno Mr. Eko de Lost. No anfiteatro da cidade, ocorre uma luta entre gladiadores simulando uma batalha real, em que o grupo que deveria perder – onde está o protagonista – se organiza e vence. Em suma, mesmo que as cenas de luta sejam interessantes, a falta de originalidade e a sensação de déjà-vu atrapalham.

    Os aspectos políticos e históricos são apenas tangenciados. O que é uma pena, pois poderiam dar uma “encorpada” na trama. Os personagens são rasos e pouco carismáticos. A mocinha é insossa. Seus pais seguem um modelo bem comum – pai justo e compreensivo, mãe dedicada. O mocinho, que deveria ser estereótipo do bravo lutador, passa boa parte do tempo com cara de cachorro perdido. O romance entre os dois não convence, não se percebe qualquer atração ou tensão entre eles. Nem se pode culpar os atores pela bidimensionalidade dos personagens. Ao menos o vilão, apesar de caricato, é vivido de forma enérgica – e quase divertida – por Sutherland.

    A fotografia não faz feio. Mas boa parte da violência – e do sangue – não aparecem em cena, para permitir que o filme seja PG-13, classificado para maiores de 13 anos. O 3D neste filme, que felizmente não é convertido, consegue fazer alguma diferença, com grandes planos abertos repletos de detalhes ao fundo dando realmente a impressão de profundidade – não apenas nas legendas.

    E já que é tudo bastante previsível e quase nada consegue surpreender o espectador, resta aguardar pelo cataclisma final, torcendo para que seja grandioso e espetacular. E não decepciona. Como todo bom filme-catástrofe há multidões em correria, pessoas pisoteadas, uma criança perdida resgatada por um dos mocinhos, bolas de fogo, prédios desmoronando, cinzas voando, enquanto o casal central se esforça para escapar do vilão e do desastre. Enfim, polegar para cima para fotografia e efeitos especiais; e polegar para baixo para roteiro e personagens.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Review | The Confession

    Review | The Confession

    ConfessionA internet se tornou o maior veículo de divulgação de todos os tempos. Diariamente milhões de pessoas vomitam material na Grande Rede, desde músicas toscamente gravadas até curta-metragens bem produzidos. Toda essa facilidade de produzir audiovisual, unidos ao poder de distribuição barata e rápida via internet, criou um espaço favorável aos amantes da cultura – tanto quem consome quanto quem produz.

    Nos últimos anos presenciamos um novo formato se expandindo: as webseries. Só para citar alguns exemplos: The Guild, que mostra um grupo de nerds jogadores de MMORPG; Web Terapy, onde Lisa Kudrow (a eterna Phoebe de Friends) faz terapias online com seus pacientes; The Cell, produzida pelo Canal FX; Mortal Kombat Legacy, entre outras. No meio de todas essas, temos The Confession, estrelada por Kiefer Sutherland e John Hurt.

    Sutherland é um assassino que, certa vez, decide ir à igreja para se confessar – aparentemente por motivos óbvios. Lá, encontra o padre, Hurt, e para ele revela que matou uma pessoa no dia anterior.

    Só para constar, os personagens principais – e a maioria dos demais – não tem seus nomes mencionados na série.

    O que aconteceu no dia anterior: Sutherland, quando estava prestes a executar seu alvo, quando este pede um momento para rezar. O assassino concede este último ato benevolente, e, antes de atirar na cabeça do infeliz, recebe as palavras “Eu te perdoo”. Com isso, o assassino questiona o padre sobre os valores da religião, da fé, do significado dos diversos homicídios que cometeu e várias outras coisas. A conversa entre os dois vai tomando rumos cada vez mais inusitados, e os personagem, aos poucos, são construídos e desconstruídos.

    Sutherland e Hurt merecem aplausos pelas excelentes interpretações; 90% da série é focada no diálogo entre eles, e cada um é muito competente em seu papel. No decorrer dos episódios, a trama sofre mudanças, e os personagens acompanham muito bem. A trilha sonora, apesar de genérica, é eficiente.

    São apenas 10 episódios de, em média, 6 minutos cada. Esse formato funciona como um livro de capítulos curtos: você lê, e, chegando ao final, fica curioso para saber o que acontecerá em seguida. É impressionante a quantidade de desenvolvimento feito com tão pouco tempo. Apesar de curta, a série não é superficial. Tanto o roteiro quanto os personagens são bem trabalhados. Várias idéias já utilizadas em diversas outras séries e filmes são bem encaixadas em The Confession, que, apesar de não ser inovadora ou revolucionária, esbanja qualidade.

  • Crítica | Os Garotos Perdidos

    Crítica | Os Garotos Perdidos

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    Se tem algo que sinto falta são os filmes dos anos 80, que apesar de serem taxados de bobos e “vagos” pelos críticos, se tornaram cultuados por toda a molecada da época, e nos dias atuais ainda são lembrados com carinho por quem os viu. Além do que, a cada dia conquista mais adeptos entre os jovens de hoje, indo contra as previsões dos críticos que diziam que ninguém lembraria desses filmes futuramente. Não poderia deixar de lado um dos meus filmes preferidos dessa época: Os Garotos Perdidos.

    A indústria do cinema dos anos 80 apostou em filmes “teen”, claro que estes filmes eram bem diferentes dos que são lançados nos dias atuais. Graças ao saudoso politicamente incorreto, não era raro assistirmos filmes com sequências de sexo, violência e muito humor escrachado, mas acima de tudo, esses filmes enalteciam a amizade, o que não tenho visto hoje em dia, ou talvez seja apenas nostalgia da minha parte. Os Garotos Perdidos não foi uma exceção, tinha de tudo um pouco do que já citei, mas vamos a história em questão.

    Os irmãos Michael (Jason Patric) e Sam (Corey Haim), se mudam com a mãe Lucy (Dianne Wiest) que tinha acabado de se divorciar e buscava novos ares, para casa de seu avô em Santa Carla, uma cidade litorânea, aparentemente pacífica. Ao chegar na cidade, eles percebem que tem algo de errado ali, o lugar é repleto de panfletos de desaparecidos, além de ser conhecida como a “a capital mundial do crime”, como denuncia a pichação na placa de boas-vindas.

    Os dois irmãos logo dão um jeito de se enturmar no novo “lar”, Michael se envolve com uma gangue de motoqueiros aventureiros que são liderados por David (ninguém menos que Kieffer Sutherland, ou Jack Bauer se preferirem). Seu irmão mais novo, Sam, conhece os irmãos Edgar  e Alan Frog (Corey Feldman e Jamison Newlander), em uma loja de quadrinhos, eles se apresentam como caçadores de vampiros e alerta Sam sobre a cidade estar infestada por vampiros.

    Michael se envolve com Star, uma garota que faz parte da gangue liderada por David e com o tempo descobre que os assassinatos e desaparecimentos da cidade são de responsabilidade dessa mesma gangue, e mais do que isso, são todos vampiros. Sam passa a estranhar as novas atitudes do irmão, que passa a trocar a noite pelo dia, e a mudança de temperamento. O resto fica por conta de vocês.

    A direção de Joel Schumacher é competente, e apesar do péssimo Batman Eternamente e sua sequência, a filmografia dele não se resume a isso. Schumacher cria planos abusando das cores vivas, típicas de cidades litorâneas, e da escuridão típica de filmes clássicos de vampiros, criando um meio termo muito bacana.

    É importante lembrar que até o lançamento de Garotos Perdidos, os vampiros estavam em baixa, após o filme, foram consolidados como ícones da cultura pop, só isso já seria motivo suficiente para conferi-lo, mas o filme tem muito mais a oferecer. Com um elenco entrosadíssimo, ainda conta com Corey Feldman e Corey Haim esbanjando carisma e talento. É claro que o roteiro colabora muito na construção dos personagens com uma boa história e diálogos interessantes, consegue ainda retratar a alienação juvenil por meio de metáforas, além de demonstrar o cenário da época retratando a onda punk, tão comum nos anos 80. A trilha sonora é uma das melhores que já ouvi, e inseridas em momentos perfeitos, dando uma imersão incrível a cada cena. Impossível esquecê-las.

    Apesar do tempo, o filme continua sendo uma ótima pedida para aquela sessãozinha de filmes de terror com os amigos. Diferente dos péssimos filmes de terror que tem surgido por ai, Garotos Perdidos vem bem a calhar. Sem falar nos romances vampirescos que invadiram os cinemas nos últimos tempos… Esqueça divagações sobre o quão cruel e triste é ser um vampiro e viver eternamente, aqui temos é vontade de se juntar a eles. Se até agora não consegui convencer ninguém à conferir este clássico dos anos 80, é melhor parar por aqui.

    Enquanto a geração oitentista tinha Garotos Perdidos, os jovens de hoje têm Edward, Bela e cia. E depois ainda me pedem para não ser saudosista…