Tag: Steven Spielberg

  • Crítica | Amor, Sublime Amor (2021)

    Crítica | Amor, Sublime Amor (2021)

    West Side Story é um musical da Broadway, conhecido por suas várias versões, sendo a mais famosa vista no filme de Robert Wise e Jerome Robbins lançado em 1961. Sua história atualiza o conto shakesperiano de Romeu e Julieta, ambientando na cidade de Nova York  do século XX. A expectativa em relação à nova versão de  Amor, Sublime Amor não eram pequenas, ainda mais por ser conduzida por Steven Spielberg, que vem de uma fase de adaptações bastante elogiadas.

    As escolhas visuais e temáticas do cineasta foram bem diferentes da versão dos anos sessenta. O figurino das gangues Jets e Sharks, assim como a direção de arte é bem mais realista nesta abordagem. Como na primeira montagem cinematográfica, o longa também se inicia com uma tomada aérea sobre a cidade de Nova York, dessa vez, bem mais cinza e suja, combinando com o visual maltrapilho dos grupos de foras-da-lei.

    O roteiro fica a cargo de Tony Kushner, que já trabalhou antes com o realizador em Munique e Lincoln. Aqui há um subtexto diferente da versão de Wise: o território disputado estava em fase de realocação urbana, ou seja, estavam todos se despedindo e em vias de sofrer despejo, o pedaço de terra era utilizado apenas pelos miseráveis que não tinham condições de se mudar. Os personagens possuem problemas reais, faltam-lhe condições básicas de conforto e de sobrevivência. No entanto, esses trechos poderiam ser menos didáticos.

    O elenco é comandado por Ansel Elgort (Em Ritmo de Fuga), que faz o papel do recém-reabilitado Tony, fundador dos Jets, e que se submete a um trabalho simples para tentar se regenerar nesse momento de liberdade condicional, distante dos seus antigos colegas de vadiagem. Ainda assim, ele causa em Riff (Mike Faist) a esperança de poder, enfim, sobrepujar os seus rivais, de maneira “definitiva”, mas sem os eufemismos ou artifícios retóricos que tentam esconder a vontade de matar, e até mesmo de morrer, comum a tragédia de tantos jovens.

    Tony é a exceção dentro dos Jets. Ao contrário dos outros rapazes ele tem uma ocupação. Ele é como um dos Sharks, dado que do grupo, todos trabalham, mesmo os que estudam. De maneira simples o roteiro demonstra como funciona a realidade diferenciada deles, pois mesmo sendo pobres, os brancos podem se dar ao luxo de não trabalhar, enquanto os hispânicos precisam lutar para viver.

    Tanto Riff quanto Bernardo (David Alvarez) são inspiradores se comparados aos seus capangas, mas os melhores diálogos e canções caem sobre a protagonista, Maria (Rachel Zegler), uma menina inocente e disposta a amar infinitamente. Já Anita (Ariana DeBose), é uma moça que não se permite domar nem pelo namorado violento, e nem pelas pressões comuns a um jovem latino na América. Dos arcos dramáticos, este é o mais profundo e plausível, seu intento de ser uma desenhista de moda é um bom resumo do desejo de vencer na vida.

    Os amores são mostrados quase sempre de maneira trágica e melancólica, em especial os que envolvem os personagens latinos. Tony e Maria tem química, se sentem unidos mesmo em meio ao mar de gente no momento de seu encontro. A atração pelo olhar e pela alma é pontuado de forma intensa, fato que faz essa versão contemplar bem o mito de William Shakespeare. Pode-se dizer o mesmo de Anita e Bernardo.

    Os coadjuvantes têm seu espaço, protagonizam cenas de dança grandiosas, além de números de sapateado igualmente bons. A maior parte das cenas são maiores aqui do que em comparação com a versão de Wise, além de não se depender tanto de Tony ou Riff para acontecerem os momentos musicais dos Jets. A música de Gustavo Dudamel está muito bem encaixada, e a melodia, letra e coreografia fluem muitíssimo bem. A atmosfera de musical moderno faz invejar obras recentes como La La Land: Cantandos Estações e Os Miseráveis, no sentido de popular e épico.

    Amor, Sublime Amor é divertido, consegue variar bem entre o escapismo e a violência. Spielberg captura bem a atmosfera da delinquência juvenil que residia nos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra. Sua forma de contar história certamente agradará o público afeito a musicais, e consegue saciar até quem não costuma consumir esse gênero, mas sua maior qualidade é a de atualizar bem os temas do clássico, com alma, emoção e energia. O único senão fica com as legendas que poderiam ter um maior cuidado com o que é dito nas músicas. Não é preciso ser especialista em língua inglesa para perceber que os textos não casam com o que é cantado e tudo é completamente modificado em sentido e espírito.

  • Crítica | Uma Cilada Para Roger Rabbit

    Crítica | Uma Cilada Para Roger Rabbit

    Em 1988 era lançado nos cinemas mundiais, Uma Cilada Para Roger Rabbit, de Robert Zemeckis, cuja historia começa metalinguística, na gravação de um episódio de desenho animado, envolvendo o personagem-título em um insucesso breve dentro de sua carreira. O cenário onde o rabugento e desconfiado Eddie Valiant (Bob Hoskins) vive é Toontown, um mundo onde personagens animados e pessoas reais convivem normalmente, fato que o incomoda por conta de uma situação de seu passado.

    Há um cuidado do roteiro por mostrar um cenário de depressão não só para os humanos. Se Valiant está mal pela morte do seu irmão, os personagens clássicos também tem que se preocupar com trabalhos insalubres, como Betty Boop, que se torna garçonete por conta da crise financeira e institucional, além disso, existem dezenas de referências, desde a banda que acompanha a Femme Fatale Jessica Rabbit composta por corvos, os mesmos  da animação Dumbo, como inúmeros outros. A preciosidade não mora na trama com o personagem-título, mas sim nos detalhes da animação.

    A questão da possível traição de Jessica ao seu par é tão tosca em essência que faz toda a movimentação de Valiant e seu empregador parecer algo bobo, e realmente é, pois o conceito de traição para um cartoon é realmente diferente, bater palmas se equivale a dormir com outra pessoa. Diante disso, tanto o detetive quanto o astro são pessoas de vida triste, sentindo falta daqueles que um dia os fizeram felizes. A questão da traição, assassinato não resolvido e a trama de enganos e infidelidades é subalterna e fútil, fora a inserção do cinema e literatura noir, de resto tudo é bastante comum e usual, bem como as semelhanças entre as histórias de Eddie e Roger, de terem que conviver apesar das desconfianças, remetendo a dinâmica dos filmes envolvendo dupla de policiais.

    Os atores do elenco não fazem feio, especialmente Hoskins e Christopher Lloyd, que desempenham bem seus papéis, apesar de arquetípicos, e conseguem lidar bem com um sem número de personagens animados. O lúdico que o roteiro de Jeffrey Price, baseado no livro de Gary K. Wolf, só se faz real graças ao desempenho bom e franco entre criaturas tão diferentes, além é claro da potente música de Alan Silvestri, que ajuda a construir essa atmosfera de choque de mundos. O todo, bem orquestrado por Zemeckis é o ponto mais rico da obra que se tornou Uma Cilada Para Roger Rabbit, uma trama simples que conversa bem com as crianças, enquanto boa parte dos subplots, piadas visuais e referências são em boa parte entendida pelo espectador mais velho.

    https://www.youtube.com/watch?v=l5rX3vjE2OU

  • Crítica | A Cor Púrpura

    Crítica | A Cor Púrpura

    A Cor Púrpura, de Steven Spielberg, se inicia com uma corrida pelos bosques, no início do século XX, na Georgia (EUA), onde as jovens Nettie e Celie Harris se movimentam pelos lugares verdejantes e repletos de violetas. Elas moram com o pai, um homem turrão e violento, que já engravidou a filha mais velha e vendeu as crianças. O longa, baseado no livro de Alice Walker mostra uma jornada de descobertas, dissabores e melancolias, sempre levando em conta a trajetória dos negros nos Estados Unidos, mostrando que a abolição da escravidão não colocou as injustiças raciais de lado.

    O quadro do filme ensaia uma mudança, quando Mister (Danny Glover) surge querendo desposar Nettie (Akosua Busia), mas é obrigado pelo pai a levar a filha mais velha. O seu comportamento é sempre muito resiliente, observando quando mulheres e outros negros agem de maneira rebelde, juntando forças e refletindo sobre o que fará com a sua vida no futuro.

    O filme conta com a música de Quincy Jones, e ela ajuda a embalar os momentos mais alegres da trama, que mora nas interações entre as irmãs, que mesmo contra todas circunstancias, voltam a se encontrar. Seu formato envolve uma narração em primeira pessoa, como a leitura de um diário, e nessas palavras moram o peso das descrições de abusos e da coisificação que as mulheres, em especial, negras, sofriam no início  do século XX.

    As cores utilizadas no filme garantem um belo registro, e as planícies sulistas que Allen Daviau captura demonstra o clima e atmosfera da época e da localidade, variando entre o bucólico e a tragédia. O filme poetiza a existência e pensamentos da protagonista, e o roteiro de Menno Meyjes é poderosíssimo neste ponto, mostrando uma personagem que evolui com a vida e se percebe dona de seu próprio destino.

    Um dos aspectos técnicos mais bem encaixados consiste na maquiagem, que faz o espectador acreditar no envelhecimento de seus personagens, unido é claro a atuação do elenco, em especial, Whoopi Goldberg, que consegue expressar toda a confusão mental de quem foi violada durante tantos anos, preservando ainda muita docilidade e pureza. A Cor Púrpura é uma obra imortal e reflexiva, sobre a história dos negros, dos Estados Unidos e da humanidade em geral.

  • VortCast 70 | Todo Mundo Gosta… Menos Eu!

    VortCast 70 | Todo Mundo Gosta… Menos Eu!

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bernardo Mazzei, David Matheus Nunes (@david_matheus), Jackson Good (@jacksgood), Julio Assano Júnior (@Julio_Edita) e Filipe Pereira abrem o coração e revelam os filmes que são amados pelo público e crítica, menos por nós. Venha conosco nessa polêmica e compartilhe sua lista de filmes.

    Duração: 117 min.
    Edição: Julio Assano Júnior
    Trilha Sonora: Julio Assano Júnior
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | AI: Inteligência Artificial

    Crítica | AI: Inteligência Artificial

    O começo de AI:- Inteligencia Artificial dá conta de um planeta Terra em colapso, por conta de exploração severa. As calotas polares derreteram e boa parte das grandes cidades estão submersas e para que a humanidade sobreviva, uma empresa, a Cybertronics de Nova Jersey faz experimentos com máquinas super avançadas, que detém intelecto e capacidade de raciocínio, embora o conceito de livre arbítrio não seja pleno nestas primeiras amostras.

    A obra de Steven Spielberg tem esse pontapé, mas também de desdobra por outras questões bastante importantes, como as necessidades pequenas e básicas, como a necessidade de ter alguém para amar, se apegar e que retribua esses bons sentimentos. O roteiro de Spielberg, com argumento de Ian Watson, baseado por sua vez no conto Supertoys Last All Summer Long – and Other Stories of Future Time de Brian Aldiss, lançado em 1969 trata disso, e após um prólogo, que demonstra a capacidade da empresa, com um protótipo que resulta em uma mulher linda, se fala então em fazer copias de crianças. É ai que entra o menino David, de Haley Joel Osment, que viria a ser adotado pelos Swinton.

    Em um espaço de vinte meses as pesquisas avançam tanto que seria possível fazer um autômato de aparência juvenil, que não adoece, que é cheio de ternura e de maneira incondicional, dócil e belo. No entanto, se pensar de maneira fria é cruel também com Mônica (Frances O’Connor), a mãe, que sequer teve como lidar com a morte de seu filho, já que está em fase terminal aparentemente. O futuro não é capaz de salvar todas as pessoas, dada a fragilidade do corpo e da alma dos homens.

    É curioso que David, ao ser apresentado, tem uma silhueta estranha, tal qual a dos Grey, um grupo alienígena que normalmente é mostrado como a raça que adentra o espaço terráqueo em filmes, séries e livros, possivelmente aludindo as partes da filmografia de Spielberg como realizador de filmes no espaço, mas também mostrando visualmente e até antes dele ser introduzido como personagem, que ele é um ser de fora daquele cenário. O menininho, mesmo tendo uma origem robótica causa simpatia e pena, por ser sempre solicito, o hóspede perfeito, o olhar perdido de alguém que quer sempre atenção. A forma como ele se posta em alguns momentos, quando chega por exemplo o momento em que ele come espinafre, ou quando atende telefonemas. Suas reações causam desconforto, ao passo que dão a chance a Osment de brilhar.

    A primeira vez que ele ri é assustador, primeiro pelo susto que se dá quando ele interrompe o silencio, e segundo por ele fazer isso com uma artificialidade tão grotesca que dá receio. Todo o comportamento servil dele faz perguntar se seria aceito por alguma pessoa que não estivesse fragilizada como está Monica e sua família. Mais até do que o mito envolvendo o boneco Pinóquio, o que se vê aqui é um método protocolar de manipulação de um ser inteligente e capaz de pensar. É totalmente natural que as máquinas viessem a se rebelar como ocorre em tantas outras histórias de ficção científica como Matrix ou O Exterminador do Futuro, pois aqui os homens são completamente egoístas e com pensamento centrado exclusivamente em si, ao ponto de usar as máquinas como suplementos de seus sentimentos. Essa definitivamente é a parte mais kubrickiana da obra, comentário esse que complementa a ajuda a entender boa parte das motivações de Hal 9000 em 2001 Uma Odisseia no Espaço.

    A historia é  desenrolada de maneira tão fluída que os primeiros trinta minutos fazem parecer uma eternidade. A quantidade informações, a vivência e a rotina da família tudo é entendido facilmente, a forma como Martin age, sendo o garoto mimado e impertinente, incapaz de dividir seus privilégios com alguém mais ingênuo e carente de amor que ele faz causar raiva em quem assiste, embora ele só esteja sendo humano, uma criança normal, geniosa e inconveniente como qualquer outra. O comportamento humano parece irritante e mesquinho se visto de longe, por terceiros, mas os ciúmes e o maquiavelismo comuns na disputa entre irmãos são amplificados em uma obra como essa que desde cedo antecipa por quem o público deve torcer.

    AI é dividido em dois tomos, sendo o primeiro a gênese da ativação de David, com adaptação e os traumas que o fazem ser quem ele é, e depois a vida fora da redoma de proteção, onde ele e seu amigo Teddy – o ursinho eletrônico chamado de Supertoy em atenção ao nome do conto original e que tem a voz de Jack Angel– andam.

    Entre os Mecas (termo utilizado de maneira pejorativa para referir aos seres mecânicos), há trabalhadores braçais, gigolôs e demais profissionais do sexo. Logo é introduzido Joe (Jude Law), um Meca especializado em prazer, que tenta se auto preservar após armarem para ele parecer culpado pelo assassinato de uma mulher. Em comum com David, Teddy e demais seres mecânicos, há o DAS, que é o sistema de amparo a dor, o literal, que  faz a máquina se defender da dor e o não literal, resultado da perseguição e injusta imputação de culpa a si, a vontade de sobreviver os faz correr, e a ingenuidade e pureza acaba protegendo de certa forma o menino artificial.

    Os perigos que os “robôs” sofrem variam, entre milícias, sucateiros e gangues, que nesse momento fazem lembrar clássicos do cinema de décadas antes, como Easy Riders, Tron e fitas de horror. Incrivelmente, por mais que seja cruel a descrição, de gente interessada em perseguir seres pensantes, entre eles um garotinho, não há nestas partes nem um terço do amargor e melancolia da pouco menos de uma hora inicial de filme.

    É da parte dos humanos que a intolerância e malignidade é apresentada, seja nos shows de pão e circo que desviam a atenção do povo em geral, ou na mesquinha demonstração perene do Complexo de Frankenstein, no Flesh Fair. O profano prostituto e a criança inocente se embrenham pelo mundo, como uma união sagrada e que faz sentido, apesar das claras diferenças, já que tem aparentemente o mesmo desejo, de voltar aos braços de suas amadas, passando então, a perseguir uma nova amada, a Fada Azul.

    Toda a questão da descoberta de sua origem, de quem o criou e quem o fez, todos os preâmbulos lógicos e científicos não são nada perto da obsessão do garoto em ser quem ele não era. David é uma versão mais nova e menos desenvolvida de Data, bem mais sentimental que o Comandante de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, mas os dois compartilham muito mais que apenas o cérebro possivelmente positrônico.

    O final, onde o rapaz encontra a versão futura do seu próprio povo esbarra na sensação nostálgica, no desejo infantil dele de viver mais um único dia, ao lado de sua mãe de carne  e osso. Por mais conveniente que seja essa curva do roteiro, de apenas um dia dessa convivência, cai como uma luva no que seria o único desejo de qualquer recém órfão, de poder uma ultima vez passar 24 horas com a pessoa mais importante da sua vida, com a perda mais significativa que ele teve. David cumpre esse sonho, consegue saciar sua fome e sua sede, que não são nem de comida e nem de água, e sim da presença a quem ele desde sempre dedicou amor incondicional, e é na ilusão que ele sente contemplado. A pouca alegria que ele viveu em toda sua milenar existência é recompensada, em uma medida pequena, mas suficiente para aquecer seu coração mecânico, suficiente para fechar os olhos e se entregar ao lugar onde os sonhos nascem, sempre vigiado pelo seu amigo Teddy, o mesmo que sofreu tudo com ele e que o ajudou a ter esse último momento.

  • Crítica | MIB: Homens de Preto

    Crítica | MIB: Homens de Preto

    O longa de Barry Sonnenfeld começa tímido em sua exploração psicodélica, com imagens de insetos voando pelas estradas americanas, batendo no para-brisas de um carro que carrega imigrantes ilegais. O roteiro engraçadinho de Ed Solomon resumiria em seus minutos iniciais os motes do filme, a questão da vida curta e sofrida dos insetos, a tentativa de entrar ilegalmente em um lugar desejável, e a interferência governamental nisso, tudo ao som da característica trilha de Danny Elfman.

    Produzido por Steven  Spielberg – em uma época em que suas produções tinham mais a ver com sua filmografia como diretor – MIB: Homens de Preto tem sequência com uma ação de Kay, personagem de Tommy Lee Jones neuralizando seu antigo parceiro, além  de um grupo de pessoas. Paralelos a isso, James, o policial do NYPD de Will Smith se mostra atlético, correndo atrás de um alienígena (cefalopóide), à paisana.

    Smith vinha de uma popularidade monstruosa, sua série Um Maluco no Pedaço ainda era largamente reprisada, além de sua participação em Independence Day, outro filme de temática alienígena. Seu personagem seria um candidato perfeito para a vaga da Homens de Preto, embora fosse bem diferente do K dos quadrinhos, e embora também tivesse um perfil diferente de J, seu mentor.

    O filme tem uma historia simples, mas brilha muito ao introduzir seus elementos. O personagem Edgar, vivido por Vincent D’Onofrio é  muito engraçado, sobretudo quando é tomado pela figura insetóide. Ele tem personalidade e conversa muito bem com o montante de figurantes que assassina. Os outros coadjuvantes também são divertidos, Linda Fiorentino faz a legista Laurel Weaver e passa muito mais ao público do que apenas o conceito de colírio aos olhos masculinos, assim como Rip Torn funciona bem como o chefe bufão que Zed é, aliás a escolha por mostrar Zed foi muito acertada, em detrimento do mistério de quem ele é nas HQs de Lowell Cunningham, e isso só funciona bem graças ao fato de Torn cair como uma luva aqui, exalando leveza e carisma.

    Toda a questão do recrutamento de J é muito bem orquestrada, e ela não demora muito a ocorrer. O ritmo do filme tem muitas semelhanças com outra adaptação de quadrinhos dos anos 90, o Maskara, consegue ser direto e sem enrolações, ao contrário dos filmes recentes de Marvel e DC. Pelo vidro dupla face, Kay observa seu pupilo, que é engraçado, espirituoso, inadequado e que arrasta a mesa de centro, interrompendo o silêncio. É por ser diferente que ele é selecionado, é preciso sangue novo e diferenciado.

    Sonnenfeld capta bem o clima da cidade cosmopolita, com muitas imagens panorâmicas de Nova York, é curioso como ele é bem local mesmo em uma historia que abre possibilidades  de muitos universos conviverem ali. O panorama político também é bem inteligente, ter de lidar com incidentes envolvendo membros da nobreza, ou com partos de refugiados é uma boa alternativa, mesmo que tenha um cunho humorístico nessa abordagem. Os bonecos mecatrônicos são excelentes, sobretudo o do bebê lula, assim como as excreções que solta. Há muita textura nas figuras aliens.

    Smith faz muito uso de humor físico, reclama da comida e bebida que recebe, finge rir de piadas mal encaixadas, zoa o físico de outros personagens. Isso faz com que a sua comicidade soe um bocado infantil, o que não é exatamente um equívoco, já que o MIB tenta ser um objeto universal. A melhor das piadas bobas que ele profere certamente são as novas memórias personalizadas que ele passa a dar para os neuralizados. Contra o seu personagem, reza também uma piada sobre tamanho peniano, vista na bronca que J tem com o fato de sua arma ser minúscula, mesmo tem um tiro estrondoso e um coice, a graça obviamente

    É simbólico como entre todos os vilões extra terrestres para os Homens de Preto enfrentar foi escolhido uma barata gigante, que representa um animal pequeno, nojento que causa muito asco nos humanos, um ser rastejante, que na Terra vive em lugares imundos, no lixo, e que reflete essa condição sendo um ser com complexo de inferioridade severo, além do que, mesmo sendo mutilado, ele ainda não está fora de combate, como a maioria dos insetos terráqueos são.

    Legal que, na despedida emocional entre os parceiros, Jay e Kay conseguem dar uma pausa, tomar um banho, para não ocorrer a ultima conversa entre eles sujos dos restos mortais de seu opositor (nem mesmo a personagem de Linda Fiorentino está limpa), e tal “erro” é obviamente bem aceito, uma vez que registra uma sequência bem emotiva, que mesmo apelando um pouco para pieguice, funciona como uma bela despedida, que obviamente seria contrariada pelas continuações, que não funcionam tão bem quanto este, mesmo com o retorno do diretor. Mib – Homens de Preto varia bem entre os gêneros comédia e aventura, transitando bem e brincando com os clichês da ufologia e paranoia com muita leveza e sem levar a humanidade tão a sério.

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  • Crítica | O Império do Sol

    Crítica | O Império do Sol

    O objeto que faz com que Jim Graham se separe dos seus pais, no meio de uma confusão nas ruas de Xangai, e tenha eternamente sua vida alterada no auge da Segunda Guerra Mundial, é belo e simbólico por natureza. E não tinha como não ser, pois, para recuperar sua miniatura de avião militar que deixou cair, entre milhares de chineses desesperados a fugir de tanques japoneses intimidadores durante a dominação que o Japão exerceu no país, nos anos 1940, o jovem Jim, de apenas onze anos, larga da mão da sua mãe, empurrada para longe pela multidão barulhenta de civis. Se em qualquer lugar a guerra afeta os mais pobres, primeiro, ou somente eles, a burguesa família Graham sente na pele os efeitos do conflito quando é separada pelo destino imprevisível das coisas, e o resto, para quem fica e para quem foi, é pura adaptação e resistência.

    E se também antes o menino se divertia em guerrear, vestindo roupas espalhafatosas na segurança de sua enorme casa protegida em uma bairro diplomático da cidade, e fingindo pilotar um avião de guerra e matando geral, pois, para a elite, o drama dos debaixo é um eterno motivo de brincadeira e risadas, tudo muda quando a realidade se impõe e os força a perceber que também vivem sob um teto de vidro – muito mais fino do que aparenta. Sozinho em Xangai, Graham acaba sobrevivendo no mundo dos refugiados indo parar num campo de concentração japonês lotado, onde os não-chineses são forçados a ficar ao longo da guerra se quiserem viver. Graham é poupado, mas sua bolha de classe é rompida enquanto, mesmo criança, aprende do que é feito o homem, seus conflitos e sua esperança sob constante provação por dias melhores.

    Na década de oitenta, após redefinir a lógica do espetáculo cinematográfico com blockbusters como os Indiana Jones, Tubarão, E.T. e Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Steven Spielberg, dentro do competitivo cenário americano de cineastas, era o diretor perfeito para o típico filme de guerra esperançoso, e acalorado, onde os finais felizes justificam os meios que sua direção tenta suavizar. Porém nem sempre o mestre do entretenimento hollywoodiano acerta, e o motivo é mais simples do que parece: quando Spielberg mostra a crueldade do mundo e das nossas relações como elas são, grandes obras brotam disso. Qualquer cena de Munique, A Cor Púrpura ou A Lista de Schindler tem uma potência sensorial incomparável a qualquer minuto de O Império do Sol, filme este que o velho amigo de George Lucas prefere tornar fraco, e fácil de engolir, ao invés de uma sólida e memorável experiência artística – como as já citadas, anteriormente.

    Pode-se falar, contudo, que o filme é de dois fatores, aqui: um jovem Christian Bale, numa ótima atuação enquanto perde a inocência de sua zona de conforto ao invadir uma zona de pura tensão e selvageria (pouquíssimas vezes sentidas no filme), e a fotografia de Allen Daviau. A forma como muitos enxergam O Império do Sol como um dos épicos de Spielberg se vale principalmente dos espetaculares planos de Daviau, como na icônica cena de Bale, banhado pelo brilho de um pôr do sol verdadeiro, fazendo continência aos aviadores japoneses que ainda resistiam, mesmo com seu país explodindo em mil bombardeios. Visual impecável para uma cena indispensável ao protagonista. Seu personagem amava os ares, e foi na busca por uma miniatura de avião que ela, a aviação, o fez reparar na vida e na morte, cara a cara. Simbólico, mas aquém de todo o seu potencial dramático, temático e cinematográfico. Spielberg já fez melhor, mas também faria muito pior com Cavalo de Guerra. Esse sim, um insulto.

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  • 10 Grandes Cenas de Ação na Água

    10 Grandes Cenas de Ação na Água

    James Wan conseguiu um milagre, dentro do hall de deuses da DC Comics: Aquaman, o épico mitológico com Jason Momoa, já faz parte das vinte maiores bilheterias do mundo, em março de 2019. Até então, filmes com grandes e longas cenas subaquáticas exigiam um nível de aprimoramento técnico muito difícil de ser alcançado, transformando o espetáculo cinematográfico em algo falho, e por consequência, não aclamado pelo público – com duas exceções modernas, apenas: Titanic, e a franquia Piratas do Caribe.

    Mas desde o início do Cinema, a imensidão dos setes mares fascina os seus cineastas, e agora, a sétima-arte ganha o aval de se aventurar no oceano com grande excelência técnica, cinquenta anos após se aventurar com realismo inédito no espaço com 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Chegamos antes nas nuvens, para depois descermos aos corais mais abissais, e registrá-los, em mil contextos diferentes. A seguir, dez grandes cenas de ação com o fator aquático dando o tom na situação.

    O Furacão (John Ford, 1937)

    A cena em que o homônimo furacão finalmente ataca uma cidade, a beira-mar, precisa ser reconhecida pelas plateias do século XXI. Sem contar com CGI, e apenas efeitos práticos, a força dos ventos e das ondas, e das imagens que fazem uma vila ser engolida pelo mar, tornam o tsunami visto nesse antigo filme um absurdo inacreditável, merecidamente reconhecido no Oscar, ainda nos primeiros anos do prêmio. A cena dura longos minutos, é gigantesca, e o nosso queixo demora o triplo para voltar ao normal quando tudo acaba. Inesquecível.

    20.000 Léguas Submarinas (Richard Fleischer, 1954)

    Longe do conforto das marés de uma praia virgem, o capitão Nemo e sua tripulação arredia enfrentam um monstro no coração dos oceanos, num grande uso (na época, pioneiro) de efeitos especiais. Evidenciando o carisma dos grandes mitos que surgem dos mares, a luta de meia-dúzia de homens em cima de um submarino contra os tentáculos de um Kraken diverte e nos assombra, dado o rigor técnico da cena. É o homem tentando se sobressair diante das forças da natureza, desconhecidas, vindas de uma fosse oceânica qualquer para nos prender a atenção.

    Ben-Hur (William Wyler, 1959)

    Muitos críticos e espectadores mais saudosos consideram a batalha naval entre exércitos, em alto-mar, uma das maiores cenas de ação já feitas no Cinema, respeitando assim não só os limites técnicos quebrados pelo grande filme na época, mas a própria potência atemporal do embate flamejante. Aqui, o ataque de navios supera, com facilidade, o espanto que foi a mesma batalha em 1925, na primeira versão do colosso americano e religioso, vencedor de 11 Oscars, anos depois, e tornou-se insuperável pela nova versão de 2016 da obra – e que ninguém prestou atenção, é claro.

    Tubarão (Steven Spielberg, 1975)

    Na primeira aparição pública do monstrão de Steven Spielberg, a morte que espreita a distância e cheira o sangue das vítimas, sob a alcunha sonora do mestre John Willians, nasce então parte da essência sugestiva, ousada e grandiloquente do cinema blockbuster que norteia os grandes espetáculos, até hoje – em tempos de monopólio de super-heróis, de robôs gigantes que só fazem guerrear. O tubarão branco irrefreável usa da água como o assassino que usa da faca tal sua ferramenta, e assim, faz deste o elemento intrínseco a sua sobrevivência, predatória por natureza.

    Titanic (James Cameron, 1997)

    O icônico naufrágio do histórico transatlântico dura quase uma hora, com os ratos animais abandonando o bote antes dos ratos humanos, até que a construção faraônica racha como uma laranja, e o que sobra, são bolhas na superfície gelada do mar, antes dos primeiros mortos começarem a subir, e boiar. É o poder de Poseidon e o seu reino fazendo submergir a ganância imperiosa do homem, transformando tudo em nada. Nisso, James Cameron, o cineasta da síndrome de Deus, conseguiu o impossível: filmou a megalomania de um romance em toda as suas formas mais belas e trágicas, e com isso, reinventou em alto-mar o poder dramático de uma cena, no caso, de ação.

    O Resgate do Soldado Ryan (Steven Spielberg, 1998)

    O dia D, considerado por muitos historiadores como o mais importante da Segunda Guerra Mundial, foi o lendário desembarque das tropas aliadas a Normandia, entre soldados americanos, belgas, canadenses e até neozelandeses, contra a Alemanha nazista. No clássico filme de Steven Spielberg, a comemorar vinte anos em 2019, o momento exato da maior invasão por mar da história é retratado, numa verdadeira ode aos efeitos sonoros e visuais que uma cena aquática pode ter. A imersão é impecável, enquanto soldados são abatidos e fogem como podem, enquanto a experiência audiovisual se torna inesquecível.

    O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (Peter Jackson, 2001)

    Quando Frodo, o puro Hobbit do condado, é ferido, a belíssima elfa Arwen se encarrega de curá-lo, mas é perseguida por espíritos malignos até um riacho, o mais normal que se pode encontrar da Terra-Média. As figuras negras em seus cavalos tentam pegá-la, e ela invoca espíritos do rio que os abatem, em ondas gigantes que fazem engolir o inimigo. Simbólica a própria essência fantástica da mitologia de O Senhor dos Anéis, a cena é de uma beleza descomunal, sendo uma das pequenas grandes cenas de ação da trilogia de Peter Jackson.

    Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (Gore Verbinsky, 2007)

    Jack Sparrow, David Jones e toda a sua trupe de piratas e monstros que os seguem em pé de guerra, dentro de um redemoinho incomensurável, no meio do nada, com as duas pontas do horizonte unindo a tempestuosa e megalomaníaca cena, exagerada até o talo. Eis o ápice da divertida e cafona trilogia dos Piratas da Disney, com canhões, espadas e juras de amor regando a fúria e a loucura do grande clímax da aventura, enquanto, é claro, o mundo explode em fogo, água e trovões.

    Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve, 2017)

    Temos aqui uma grande cena de luta física, neste mundo frio e distópico de Blade Runner, filmada pelo deus das lentes, Roger Deakins. Tentando defender o já velho e cansado Rick Deckard, o mais famoso caçador de androides ainda vivo, das mãos de sua sequestradora, o forte e jovem androide K luta com outra de sua espécie, a letal agente Luv, num belíssimo jogo de luzes entre as ondas. Se antes as lágrimas se juntavam com a chuva, aqui é o sangue falso de um robô se mistura com a maré. Eles foram programados para não falhar em nada que os humanos fazem, e não é o peso da água que os fará perder, um para o outro. Grande luta.

    Aquaman (James Wan, 2018)

    Quando o herói atlante e sua rainha, a poderosa Mera, se encontram no meio do oceano, perdidos em meio a uma fortíssima tempestade, em um pequeno barco pesqueiro, são atacados por criaturas humanoides em forma de piranha. Mortais e agressivas em seu ataque, o casal tenta escapar delas como pode, usando e abusando de seus poderes, e rendendo uma das mais formosas cenas em alto mar já produzidas. O espetáculo visual impressiona, esnobado do Oscar de efeitos especiais como atestado de loucura da Academia, sendo um momento marcante em uma tela gigantesca de Cinema.

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  • Crítica | A Lista de Schindler

    Crítica | A Lista de Schindler

    Em uma primeira olhada, presunçosa e preguiçosa, é difícil afirmar que a mesma pessoa que dirigiu Tubarão, E.T. e os quatro Indiana Jones, é o mesmo diretor por trás de A lista de Schindler, clássico que volta a cinemas selecionados, numa curta duração de tempo, para se comemorar seu aniversário de 25 anos. Porém, um olhar mais profundo revela o reflexo e o uso ativo de boa parte da engenhosidade que Steven Spielberg, um dos criadores do que hoje chamamos de cultura pop, usou na avalanche de blockbusters que comandou, e que também aplica, aqui. É claro que, também em 1993, ao lançar a revolução técnica que foi o primeiro Jurassic Park, é claro que a bilheteria maior ficou para o impressionante filme dos dinossauros. Porém, ao pesar os dois filmes, isso seria justo?

    Ao abraçar a temática do holocausto, Spielberg mostra-se novamente um mestre em manipular a nossa atenção, agora apostando na magnífica fotografia preto e branco de Janusz Kamiński para dar o tom a sua obra, uma de suas maiores. Em primeiro lugar, essa em questão não é – e muito menos deseja ser – “mais um” filme do holocausto. O roteiro de Steven Zaillian é épico, e Spielberg trabalha tão bem em cima do contexto que ficaria quase impossível não resultar num épico de três horas de duração. É provavelmente mais longo do que realmente necessita para explorar o potencial de suas temáticas acerca da sobrevivência das vítimas de uma perseguição política implacável, mas a história é concisa em toda sua glória narrativa e seu poder de impacto sobre o espectador é inquestionável.

    Spielberg é judeu, entende desse universo e seus dramas reais apresentados na tela, e acima de tudo, faz aqui o seu trabalho-chave como cineasta. O modo como dirige o espetáculo não é imparcial, mas envolvente enquanto brutalmente elegante. Uma direção intacta de alguém que sempre está no controle, e sabe o que quer. Não usa de presunções baratas como tanto fez em O Resgate do Soldado Ryan, mas é sensível o bastante para não julgar judeus ou nazistas, deixando que nós, do outro lado da tela façamos isso – e não é o que fazemos? Se por trás da câmera Spielberg prova que não é só um diretor puramente comercial, o que nós vemos por suas lentes – no sentido literal – é o embate entre Liam Neeson e Ralph Fiennes, dois monstros que conseguem ofuscar tudo quando estão juntos.

    Eu poderia dedicar este parágrafo, até mesmo um parágrafo para cada atuação desses dois atores subestimados por Hollywood (Neeson só ganhou o reconhecimento geral com seu Ra’s Al Ghul, em Batman Begins, e Fiennes ao interpretar Voldemort, em Harry Potter), mas vou limitar-me a informar que, para quem ainda não assistiu ao filme, saiba que é um embate moral antológico entre Oskar Schindler, que representava a esperança para os judeus, e Amon Goeth, porta-voz da “paz” hegemônica para os nazistas. Enquanto Oskar empregava judeus em sua fábrica para deixá-los viver, gerar emprego e lucrar ao mesmo tempo com isso, Amon os matava por esporte do alto de sua fortaleza. A concepção dos seus personagens é tão forte quanto pode ser, quanto o que eles mesmo fazem. Homens no seu limite, lidando com uma humanidade doente.

    Não diria que A lista de Schindler é de fato o filme definitivo sobre o holocausto; Vá e Veja continua imbatível décadas depois. Ambos usam do realismo do fato para chocar, revoltar e propor reflexões básicas, contudo, a obra de Spielberg usa de bons momentos para superar outros filmes inteiros – e consegue. O Pianista, de Roman Polanski, por exemplo, anos antes de sua estreia já tinha sido resumido em A lista de Schindler em apenas uma cena, o que é simplesmente incrível. Além disso, o uso de simbolismos de guerra é astuto e precisamente adequado ao contexto que a fotografia preto e branco, belíssima, nos expõe – é claro que a parte técnica não poderia decepcionar, sendo ela, aqui, uma das mais inventivas e instigantes da carreira do cineasta.

    John Williams é um titã que expressa sua grandiloquência em forma de música, e temos um privilégio enorme de habitarmos o mesmo planeta que ele. Um dos melhores compositores do mercado, um gênio que chegou a compor uma trilha de suspense usando apenas duas notas, realizou aqui um trabalho singelo, suave, para tocar corações realmente. Fico imaginando, então, que muitos entraram nas salas de cinema esperando ver algo divertido e inusitado, como nos habituamos ver algo de Spielberg, e muitos se decepcionaram ao verem um filme muito mais profundo, algo historicamente tocante, e surpreendentemente ambíguo quanto a algo tão moralmente desafiante. Algo que mostra do que o cinema pode ser capaz quando se propõe a ser grande.

    https://www.youtube.com/watch?v=x3CEN6lIRyU

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  • Crítica | Gremlins

    Crítica | Gremlins

    Historia contada e narrada pelo inventor Rand Peltzer (Hoyt Axton),  Gremlins começa fantasioso, apelando para o misticismo asiático presente no dono de uma loja de artigos estranhos. Peltzer, de chapéu e terno, como os detetives dos filmes noir, adentra a estranha loja para tentar vender um de seus produtos picaretas, mas mesmo sofrendo de egoísmo e egocentrismo, ele nota que a loja tem elementos diferenciados, e ele se depara com uma criaturinha dentro de uma caixa, chamada Mogwai. Ele tenta compra-la do velho, mas o mesmo recusa e o neto do lojista vende por duzentos dólares e dá instruções básicas de : não deixar ele ter contato com água, manter ele longe da luz forte e não alimentar ele após a meia noite-não importa o quanto ele suplique.

    Logo o foco narrativo muda para a outra parte do núcleo familiar, Billy Peltzer (Zach Galligan) é mostrado trabalhando, e lidando com Kate (Phoebe Cates), a menina por quem ele nutre uma admiração meio secreta. A atmosfera que Joe Dante cria nesse início é bem parecida com a dos filmes de Steven Spielberg, não à toa o realizador de Jurassic Park e ET-  O Extraterrestre é um dos produtores. A realidade dos dois personagens centrais apresentados é tão distante que eles parecem nem fazer parte do mesmo micro cosmo, mas o presente do novo pet, aparentemente os uniria, como um bom milagre de natal.

    O bichinho em questão é bem fofo, e causa ciúmes no outro animal de estimação, o cachorro Barney. Batizado de Gizmo, o personagem feito por um boneco se mostra bem sensível a luzes fortes, e ele fala de vez em quando, reclama quando há luz forte. Quando o pequeno Pete (Corey Feldman) chega na casa, Billy acidentalmente molha Gizmo, e ele se reproduz, nascendo outros cinco Mogways, e é nesse momento que o nome do filme Gremlins se justifica, apesar de ainda não ter ocorrido uma transformação completa na praga  que eles seriam.

    Nesse ponto, os Mogwais lembram os pingos – ou trubbles no original– de Jornada nas Estrelas, as criaturas fofinhas e peludas que se reproduzem de maneira desenfreada, mas que tem aparência do futuro brinquedo Furby, lançado 14 anos depois (em 1998). A proximidade do natal parece que atiça ainda mais a mentalidade travessa das criaturinhas, que passam sabotar Billy, para que ele quebre as regras estabelecidas para os bichinhos, desativando por exemplo os fios do relógio para confundir quanto aos horários.

    Mesmo pela metade da historia ainda permanece uma aura de fantasia suburbana que também existia nos filmes de Robert Zemeckis como De Volta Para o Futuro e em Os Goonies de Richard Donner, embora perto dos quarenta minutos já haja uma exposição de gore maior, com os casulos ao estilo Alien O Oitavo Passageiro que os Mogwais começam a fazer, após serem alimentados depois das 00 horas. O aspecto deles é feio e nojento, parecem bolhas de carne prestes a estourar e a surpresa que sai desse casulo causa espanto. Luzes verdes e vapor criam uma sensação de calafrio na platéia mais impressionável, estabelecendo um receio maior sobre como seriam as tais criaturas.

    Por mais fofa que tenha sido a introdução, a recepção a essa fase dos mogwai – os gremlins – é nem um pouco amistosa da parte de Lynn (Frances Lee McCain), mãe de Billy. Ao ver sua cozinha repleta de doces natalinos invadida por três monstrinhos ela os mata, triturando um, esfaqueando outro e estourando o terceiro no micro-ondas. A mesma mulher que parecia inofensiva se torna selvagem ao ver seu território invadido, e como boa matriarca reage, e sua ação não é exagerada, pois o quarto monstro quase a mata, sendo ela salva por seu filho.

    O gremlin listrado retorna a casa onde nasceu, basicamente para lamentar a morte dos irmãos, e para demonstrar que ainda está vivo e pronto para a ação. É incrível como o roteiro de Chris Columbus consegue misturar de maneira harmoniosa um terror e apreensão típica dos filmes de atomic horror mas com proporções pequenas (afinal os monstros são menores que galinhas, mas ainda muito destrutivos) com a mágica natalina típica dos filmes de fim de ano.

    Os bonecos animados também são muito bem feitos e a mistura com efeitos em stop motion soa extremamente fluída. Sobretudo as cenas no escuro funcionam, pois as cordas podem melhor manipuladas. Dante consegue orquestrar e expandir o mito estabelecido no episodio de Twilight Zone, Nightmare at 20,000 Feet que Richard Donner dirigiu, não só pela movimentação deles, que soa natural, mas pelo humor negro implícito. Depois que o listrado se multiplica, suas cópias imitam personagens famosos, como mafiosos, coros de natal, e até de travestem. De alguma forma, eles copiaram as perversões humanas, usando seu longo tempo livre para dar vazão a vícios como bebidas e cigarros basicamente porque podem, criticando assim o consumismo desenfreado que é típico do natal, ainda que de maneira um pouco velada. Os gremlins são os seres mais instituais possíveis.

    A cena do cinema conversa demais com o clássico Demons de Lamberto Bava, e a solução que Gizmo encontra para assassinar seu irmão é tão icônica que foi copiada por Tarantino e Rodriguez em Um Drink  no Inferno, embora seja dúbia, e muito mais impactante visualmente, violento, sem medo de mostrar o esqueleto da criatura antes fofinha. Gizmo e Billy são separados em clima natalino, para que não aconteçam mais pragas ali e para que o perigo seja contido. Toda a breguice e cafonice do cinema de horror atômico e catástrofe é muito bem exemplificado e parodiado em Gremlins, e Joe Dante consegue reunir elementos de muitos filme em pouco menos de duas horas, lembrando de épocas festivas, adulando a infância e nostalgia e pondo elementos amedrontadores ao estilo A Pequena Loja de Horrores.

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  • Review | The Pacific

    Review | The Pacific

    “E no momento em que o navio dissipava-se no horizonte, a cabeça desaparecia debaixo da água. Tudo acabou. Só restava o mar.”
    – Os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo.

    “Eles vão arregalar aqueles olhos quando nossos aviões pousarem na pista deles.”
    – The Pacific.

    Poucas vezes a xenofobia e o etnocentrismo foram mostrados em campo de batalha de forma tão explícita, sendo oriundas e alimentando um conflito histórico envolvendo Estados Unidos e Japão na primeira metade do séc XX. Esqueça o contraponto saudável e esclarecedor que Clint Eastwood propôs com Cartas de Iwo Jima, e A Conquista da Honra: a própria forma como tal conflito é defendido em The Pacific é imparcialmente realista, e americana, por excelência, quase não encontrando no drama inerente à ação, até porque essa não foi a intenção aqui, uma redenção ética para os atos desse país invadindo o outro (como ainda faz) para manter sua supremacia política. Esta ainda em construção na época, logo após o ataque japonês a Pearl Harbor e que feriu, para sempre, o frágil ego do Tio Sam, com o país entrando de vez na Segunda Guerra Mundial. Uma retaliação (e dominação global) imposta pelo ar, por terra, e neste caso, pelo mar que presenciou a militarização das ‘inocentes’ caravelas de Cabral, e cia.

    Só que, enquanto o velho mestre Eastwood promoveu o debate por meio de dois filmes com posições políticas e nacionalistas naturalmente opostas, na produção televisiva de Tom Hanks, amplamente inspirado pelo amigo Steven Spielberg e seus épicos cinematográficos O Resgate do Soldado Ryan e Irmãos de Guerra (mesmo este último sendo produzido para a TV, seu formato e qualidade poderiam ser exibidas em quaisquer telas de Cinema), os dois lados da mesma guerra é objetivo e simplificado aqui, delimitado por quem está atrás de um fuzil e quem está na frente, numa narrativa unilateral dividida em dez episódios similares em ufanismo puro, cujo verdadeiro drama consiste em sentir pena pelos invasores mortos, boiando na maré do território inimigo ou feridos num ataque a um bunker.

    Filmando de maneira clássica e com trilha-sonora solene (Hans Zimmer imitando John Williams rende bons momentos, e outros enfadonhos ao cubo), é como assistir Além da Linha Vermelha com a ação de um Soldado Ryan, mas sem a maestria de um Spielberg. Isso porque, mesmo com praticamente todos os recursos usados por Spielberg em Irmãos de Guerra sendo explorados em The Pacific (o lado documentário em toda abertura de episódio, enfatizando os comentários de veteranos reais de guerra, o uso de camera footage antiga, com cenas reais mostrando a invasão americana na “impenetrável” ilha encharcada de Guadalcanal, e nas praias de Peleliu, cenário onde a batalha foi a mais complicada e traiçoeira para os soldados americanos, e a mais questionável até hoje quanto a inteligência militar que moveu tal operação), Hanks não é Spielberg, por mais admiração e apadrinhamento que o ator possa ter tido do veterano cineasta.

    Enquanto ele foca, tornando sua ação impecável numa espécie de bomba-relógio, Hanks expande e não concentra, tendo sua perspectiva tanto acionária quanto dramática mais pro estilo dinamite, ainda que sentimental na medida certa em diversos momentos chave, na história.O que guiava a Primeira Divisão de Fuzileiros Navais pelos arquipélagos asiáticos onde só encontravam miséria humana, nos quais a força invisível da guerra os levava a trilharem busca do inimigo, da vitória ou do óbito? Cada vez mais reconhecendo suas personagens como seres humanos enterrados num objetivo cada vez mais sufocante, eis uma minissérie alegórica aos sentidos mais primários de uma guerra, por mais ilógica que elas possam parecer ser para quem não as promove e fomenta o conflito sem precisar sujar as mãos; ao sentido dos lemas ‘fazer o que tem que ser feito’, e ‘custa o que custar’.

    Hanks não procura a honra e o orgulho nisso, e sim as consequências para o homem que mata em nome de um país; o seu. Deixa claro que a paranoia não cobre atos ruins, mas também é inevitável numa situação dessas, e que mesmo o coração de um soldado sendo o seu rifle, são os sentimentos coletivos e por vezes individuais de um homem exausto e ferido que o guiam, a maior parte do tempo, seja por onde for.Chamando-os de ratos, da mesma forma como Hollywood via os japoneses deliberadamente na época, e como os nazistas intitularam os judeus em sua perseguição doentia, os fuzileiros americanos e seus comandantes começaram a contar suas vítimas ao longo da guerra e ficaram incrédulos com o que estava acontecendo, chegando nisso ao ponto alto da minissérie.

    Sua narrativa ao longo dos episódios, em especial do (ótimo) sétimo em diante, e supervisionada pelos mesmos envolvidos em Irmãos de Guerra, mostra-se extremamente hábil em expor sinceramente as lacunas e as contradições de uma doutrinação militar agressiva, e que levava às vias da desumanização o indivíduo em prol da vitória, e do orgulho nacional. Mesmo com um ufanismo gotejante e que impregna a série do começo ao fim, sobra espaço em The Pacific para ser honesta quanto aos reconhecidos erros militares americanos, subestimando a inteligência japonesa em resistir aos ataques coordenados, a certa altura do conflito. Tom Hanks usa e abusa de uma simbologia contextual (capacetes, romances paralelos, granadas) para contar, em campo de batalha, o que sucedeu ao icônico ataque a Pearl Harbor. Faltou interesse em debates maiores e mais aprofundados, contudo, sobrou coração na reprodução dessa retaliação histórica.

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  • Crítica | Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

    Crítica | Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

    Em 2008, após um hiato de 19 anos, finalmente Steven Spielberg e Harrison Ford retornariam a franquia do doutor, professor e arqueólogo Henry Jones Junior. Indiana Jones e o Reino da Caveira da Cristal parece ter uma ingerência muito maior de George Lucas, argumentista do filme e criador do personagem.

    Na trama, o velho Indiana é pego em uma emboscada, junto ao seu amigo George “Mac” McHale (Ray Winstone), que ajudou o aventureiro a espionar os soviéticos – o ano era 1957. O herói acaba raptado por um grupo de agentes russos que se infiltraram no Hangar 51 em Nevada, e tinha por objetivo pôr as mãos nos restos mortais de uma criatura estranha, que dez anos antes, foi vista em Roswell, Novo México. Para muitos, o tema extra-terrestre não combinava com as histórias de Indiana Jones, mas diante do montante de problemas, isso era o de menos.

    Ford está de fato velho demais para cenas de ação que demandam demais de sua energia. Na época da premiere ele já tinha 66 anos, mas apesar  de claramente não ter mais fôlego para cenas que exigem do seu bem estar físico, ele ainda mantém toda a aura de malandragem e autossuficiência cômica, inclusive conseguindo sobreviver a um teste de bomba nuclear entrando em uma geladeira revestida por chumbo, em uma manobra que de acordo com algumas pseudo-ciências, poderia ou não funcionar.

    Da parte da chamada velha guarda, ainda há um bom desempenho, mas dos personagens mais moços há uma clara defasagem no quesito construção de ideal. Shia LaBeouf faz Mutt Williams, um jovem motociclista que deveria ser o herdeiro do legado do herói, mas esbarra na falta de carisma de seu personagem, mesmo com seu intérprete sendo o carro chefe do elenco de outra franquia que Spielberg comandava (Transformers). A vilã russa de Cate Blanchett mal funciona, sua Irina Spalko é uma comunista falsa, caricata e interesseira, assim como eram os nazistas na trilogia original.

    Toda a parte de efeitos especiais também está defasada, e quase toda parte natural do filme soa bizarramente artificial, seja as perseguições com os carros ou os macacos saguis que ensinam o filho de Indy a balançar nos cipós. Algo realmente estranho aconteceu com a produção, pois David Koepp não é um roteirista ruim, fez Missão: Impossível, Jurassic Park e Homem-Aranha, no entanto, aqui ele claramente não conseguiu organizar um roteiro que salvasse as péssimas idéias que George Lucas tinha desde 1999 em Star Wars: A Ameaça Fantasma. A solução para a vilã Irina é terrível, a forma como as caveiras de cristal se mostram faz lembrar demais o desfecho de O Retorno da Múmia – retribuindo a referencia, já que o personagem de Brendan Fraser claramente é um Indiana Jones dos anos 90. A cena do casamento é péssima, pontuada inclusive com um momento simbólico, onde começa a tocar o tema do herói com o chapéu de Jones caindo sobre os pés de seu filho e com Ford retirando das mãos de Lebouf, negando a ele a ideia de continuidade, o que aliás pode ter sido uma boa alternativa, visto o equívoco completo da tentativa de continuações para o personagem. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal consegue ser mais equivocado até que As Aventuras do Jovem Indiana Jones.

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  • Crítica | Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida

    Crítica | Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida

    O clássico que finalmente trouxe a parceria de George Lucas e Steven Spielberg a luz começa com um episódio corriqueiro e engraçado da vida do Indiana Jones vivido por Harrison Ford. Ao tentar pegar o artefato Ídolo da Fertilidade, o professor e arqueólogo enfrenta uma série de armadilhas no templo sarado que servia de esconderijo para o artefato. Toda a sequência de ação é muito competente em nos primeiros momentos de exibição mostrar qual é o espírito e o caráter de Caçadores da Arca Perdida, um filme ao estilo das matinês dos anos quarenta e cinqüenta, que conta com elementos de literatura pulp.

    John Williams é um icônico compositor e o tema de Indy deve ser ainda mais acertado e lembrado como icônico que o visto e ouvido em Star Wars: Uma Nova Esperança, Star Wars: O Império Contra Ataca, Superman e Tubarão, mesmo sendo bastante simples. A altura de 1981, Guerra nas Estrelas estava em hiato, a espera do terceiro capitulo da trilogia clássica, O Retorno de Jedi, mas semelhante ao que se fazia na história dos Skywalker, aqui o opositor escolhido por Lucas também é voltado para o avanço imperialista da extrema direita, dessa vez não disfarçando o causo com o Império Intergaláctico, mas sim chamando pelo nome, os alemães nazistas, que descobriram a localização um objeto religioso que muitos achavam ser só uma lenda.

    Ford está solto, diferente do que o mesmo comumente reclamava de Han Solo aqui ele pode mostrar algumas facetas a mais e não um predominante como é o do anti herói cafajeste super obvio. Ele é incrédulo de que a jornada que fará resultará em algo realmente no encontro com algo divino de fato, além de conseguir representar bem o professor por quem suas alunas suspiram, além é claro de reproduzir o clichê do amor proibido para alguém do passado, no caso, Marion, a personagem feminina e forte de Karen Allen, uma mulher que claramente não é uma donzela em perigo por tempo integral.

    A introdução dos personagens periféricos é muito boa, pois é preciso um momento curto deles para se entender como funciona seu modo de pensar e agir, e nisso, o roteiro de Lawrence Kasdan beira a perfeição, ao aparar boas partes do argumento de Lucas e Phill Kaufman. Há uma sensação constante de perigo com Indy e seus amigos, todo momento que a câmera os flagra há uma apreensão sobre como será o desenrolar da historia para eles, seja com Jones enfrentando sua fobia a cobras, ou Marion como refém de Belloq (Paul Freeman), um dos exploradores que se uniu (de certa forma) as forças nazistas, aliás, apesar de escapista a historia faz questão de não parecer tão maniqueísta, uma vez que os malfeitores não são só os soldados de Hitler.

    Para salvar a sua amada, Jones ameaça bombardear a arca perdida, mas é demovido por seu opositor, que retifica o fato obvio de que ele trabalhou a vida inteira para achar algo tão raro assim, mas o resultado final de quem contempla o que está dentro da Arca é trágico, em uma alusão obvia ao cristianismo e também a volúpia do homem por tentar superar o Divino e tentar resolver todos os problemas da humanidade com uma passe de mágica ou com um simples gesto. A conclusão que se chega é de que não há caminho fácil, tampouco soluções instantâneas.

    A discussão não é exatamente sobre evangelho ou sobre o poder de Jeová / Yhwh, sequer há menção de se debater o que foi construído em torno desses mitos. O poder que emana do objeto inanimado não é dito com todas as letras como sendo espiritual, e sim como um mistério que ao menos até aquele tempo, não é totalmente solucionável, e como trama que busca ser um retrato mais fantasioso que um arqueólogo faz, Caçadores da Arca Perdida beira a perfeição, pois mostra  que a busca acadêmica ou científico pode evidentemente resolver alguns mistérios, enquanto tantos outros aparentemente são instituídos para serem solucionados com tempo e investigações que durarão por vidas e gerações de muitos estudiosos, e essa sensação ganha ainda mais força com a cena que precede os créditos, onde se vê um galpão com inúmeros artefatos guardados, todos a espera de protagonizarem uma ou mais aventuras de Indiana e dos seus.

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  • Review | Band of Brothers

    Review | Band of Brothers

    Quando se assiste a O Resgate do Soldado Ryan, pela primeira vez, há algo de especial no ar. Demorei muito, todavia, para enxergar várias nuances do filme de Steven Spielberg, que completa vinte anos em 2018, além da clara propaganda política pró-Estados Unidos. Isso porque o patriotismo pingando da tela é o preço pelo melhor trabalho de direção da carreira dele, impecável, como se a simbiose “política-arte” tornasse-se subitamente inevitável num legítimo filme de ação como pouco já havia sido feito até então.

    Desta intenção, deste ensejo do diretor de tantos clássicos infantis e de suas famosas e “descompromissadas” aventuras entre alienígenas, dinossauros e arqueólogos revolucionando para sempre o mundo do entertainment (Spielberg nasceu no lugar certo e na época certa, algo muitas vezes imprescindível para um gênio dar certo), surge a curiosidade genuína de um Cinema que se leva mais a sério, em filmes bélicos como A Lista de Schindler ou que usam apenas as agruras de uma guerra como pano de fundo para algo além dela, tal O Império do Sol ou Lincoln. Spielberg, judeu, é um soldado que veste histórias e celuloide enquanto empunha sua ousadia e seu toque de midas por todos os gêneros possíveis. Reinventando-os e envernizando-os, quando precisa.

    Em 2001, ano extremamente traumático para a população dos EUA, surge uma das produções mais caras da história da televisão norte-americana, e como resistir a uma minissérie da HBO cuja supervisão é feita por quem lembrou o mundo, no final dos anos 90, o peso e a dor de um conflito interminável a quem dele participou? Band of Brothers acerta por já começar retirando todo o glamour de um conflito extremamente complexo (e não simplificado aqui), o qual hoje os mais jovens só conhecem através das narrativas de jogos de videogame cada vez mais realistas – apenas nos gráficos, na maioria das vezes. Quando a tal irmandade já recrutada assiste numa tela um romance da época de ouro de Hollywood com Clark Gable, logo nas primeiras cenas do primeiro episódio, fica claro que não haverá espaço para a doce fantasia neste universo de ganhos baseados em perdas irreparáveis. Tão cruel, e tão custoso.

    O que realmente impressiona de fato, o que tomou o mundo de assalto, é a dimensão ambiciosa da história da minissérie. Como sua reprodução mais que fiel a dinâmica de um período histórico, alvejado por um comportamento humano característico, se dá de forma irresistível ao longos de dez deliciosos episódios. Como o companheirismo é sentido e cultivado numa trama onde o coletivo é totalmente mais importante que o valor individual não de cada capacete, mas do que há debaixo de cada capacete. Não haveria portanto esse grande conto baseado no livro de Stephen E. Ambrose sem o maravilhoso aprofundamento dramático das relações intensas de cada soldado: Homens esvaziados de inocência e tranquilidade numa época inflada por tragédias de escala mundial nunca antes sequer afrontadas, como transparece o destemido tenente Richard Winters, interpretado com maestria por Damian Lewis, da série Billions, da Netflix.

    São inúmeras as interações entre iguais cem por cento contextuais a um cenário de pura desolação e condições acachapantes a qualquer espírito que, sem apoio, padece aquém de qualquer treino, senso de honra ou congratulações que poderiam abater a famosa Companhia E (Easy Company) do 2º Batalhão do 506º Regimento de Infantaria Paraquedista do exército dos Estados Unidos. A moral aqui é absolutamente clara: Não há guerra de um homem só, como provam vários bons filmes recentes que ainda tentam se destacar nesse âmbito histórico, como os fantásticos Cartas de Iwo Jima e A Conquista da Honra, dobradinha de Clint Eastwood sobre o mesmo combate envolvendo americanos e japoneses.

    Contudo, na minissérie de Spielberg, personagens e ambientação servem para um momento ainda mais perigoso do século XXI, e que envolveu a invasão do próprio cafofo de Adolf Hitler, logo no auge da segunda grande guerra. Com uma missão absurda e imprevisível dessas, praticamente suicida como todos sabiam e sentiam por baixo de seus insígnias imundas, a vasta calmaria das nuvens tampouco seria o único refúgio antes de qualquer operação contra o sistema avançado do führer alemão, dado os bombardeios que aguardavam os soldados antes de saltarem das aeronaves – Hitler era muito paranoico com ataques aéreos e se preparava de toda forma possível contra eles, um a um.

    Band of Brothers avança para ser um enorme estudo de personagem coletivo, mas equilibra sua narrativa contando, em paralelo, uma importantíssima virada no tabuleiro da história mundial, lotada de reviravoltas, e ainda deixa espaço para impagáveis depoimentos de veteranos que criticam a própria guerra, relembram suas participações verídicas e a auto vivência compartilhada e inesquecível de cada um: Sobreviventes testemunhais de um conflito desta magnitude. “Como você se prepara mentalmente pra isso?”, comenta a certa altura um ex-soldado emocionado. Nisso, a realidade acha outro jeito de se infiltrar na ficção e elevar o jogo.

    Logo, não conseguimos mais deixar de se envolver com o drama e a violência que assombram a peleja do bando, muito antes até de descobrirem o que lhes esperavam e a gravidade da missão que mudaria o sentido das suas vidas. Aos poucos vamos tomando consciência, junto com eles, que estava longe de haver apenas fidelidade militar e vitórias na trajetória da irmandade, e seus oficiais de guerra. Jamais divididos entre suas motivações, mas sempre entre o chão e as nuvens, sobrevoando territórios franceses, belgas e alemães nos seus aviões de portas abertas, convidando ao terror que fazia subir a todo vapor.

    Tal atmosfera crua de tensão ronda cada episódio e suas sequências feito uma promessa constante de frustração, nos levando a uma experiência de compromisso militar literal, muito bem integrado a causas maiores e muito antes dos acontecimentos fatídicos da década de 40 serem-nos apresentados, como o Dia D na Normandia, na França. Uma operação que a minissérie ousou recriar (muito bem e com exímia empolgação), e desta vez sob a ótica ansiosa e cada vez mais desesperada dos combatentes que não vinham pelo mar, mas faziam descer do céu, conscientes que não eram a prova de bala tal seu patriotismo, sua honra e seu senso irrefreável de dever cumprido.

    Infelizmente, entre tanques, paraquedas, emboscadas e planejamento tático em pleno campo de batalha, a série parece ter sua dramaturgia impecável prolongada um pouco mais que o necessário em certos momentos, principalmente a partir dos últimos episódios, por mais prazeroso que seja a aventura desses pobre homens do começo ao fim; épica, em todos os sentidos. Enquanto documento ainda que com inúmeras liberdades de ficção, Band of Brothers tem seu espetáculo operando em prol de uma realidade destemida e simbolizada por grandes e pequenos instantes que certamente mudaram o curso do milênio, e do que estava por vir.

    Todavia, mesmo longe de atingir e traduzir a sensação de loucura generalizada de um Apocalipse Now, podemos sentir o pavor e a pólvora exalando das cenas, sendo mais que convincente sobre o stress e o medo que se infiltrava no ar respirado por aqueles soldados e tenentes expostos e sobrepostos a um crescente endurecimento coletivo, progressivamente encarados como armas ambulantes num xadrez onde só há peões resistindo sob uma perturbação onipresente – ênfase aqui sobre isso no terceiro, sétimo e nono episódio, talvez os mais simbólicos e construtivos sobre a psicologia da guerra, e provavelmente os melhores e mais completos.

    De certo longe de figurar como uma versão estendida de O Resgate do Soldado Ryan, o que não se justifica pela exploração crítica ainda mais aprofundada do extenso combate em questão, a produção televisiva tem uma parte técnica invejável, ostentando imagens e sons que não devem em nada ao filme de Spielberg – em determinado bombardeio, um soldado fica ligeiramente surdo e a mixagem sonora volta ao normal aos poucos, sempre a favor da já mencionada experiência realista tão pretendida, e tão bem atingida, de várias formas, na primeira grande produção para TV do assumidamente revisionista século XXI.

    Uma das mais caras minisséries já realizadas (125 milhões de dólares, ao longo de 9 meses de filmagens), a empresa para retratar os horrores da maior guerra da humanidade (até hoje) pelo ponto de vista de um batalhão de paraquedistas rumo ao Ninho da Águia, fortaleza de Hitler no extremo sul da Alemanha, jamais expõe ou adula em gratuito os seus heróis americanos que voltaram ou não para casa, e ao invés disso, acerta mais uma vez deixando o horror e os esforços sobre-humanos os quais passaram expressarem um verdadeiro motivo de orgulho que os episódios pode exalar. Mais um triunfo narrativo para Spielberg e aos inúmeros diretores que comandaram o projeto, ambicioso como poucos, e nada devendo, ao todo, aos grandes “filmes de guerra” da história do Cinema mundial. Samuel Fuller ficaria feliz.

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  • Os Dinossauros e o Cinema – Parte 3

    Os Dinossauros e o Cinema – Parte 3

    Dando continuidade a nossa série de textos sobre os dinossauros no audiovisual, em 1991 estreou Família Dinossauro, que retratava a história de Dino, seus três filhos, esposa e sogra, além de seu emprego maçante, que só exerce para ter como pagar suas contas, onde basicamente recebe para desmatar uma floresta. A comédia mostra os dinossauros como seres inteligentes antes dos humanos, e como os homens depredam tudo, inclusive levando a existência para algo que em breve deve se findar. A série contou com 43 episódios, e foi criada por Michael Jacobs e Bob Young, em parceria da Disney com a The Jim Henson Company. Seu fim é discutido até hoje, por conta do cunho ecológico e o denuncismo existente.

    Em 1993, tudo mudou com a chegada do clássico moderno de Steven Spielberg: Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros. Nos primeiros minutos do filme é mostrado um dinossauro comendo um dos funcionários do parque, deixando claro que apesar de ser voltado para crianças, ainda existe elementos de terror no longa. Na adaptação, há um enfoque em Alan Grant (Sam Neil), e não em Ian Malcolm (Jeff Goldblum) como no livro de Michael Crichton. Ao tocar o tema musical de John Williams é impossível ficar indiferente, da mesma forma que ocorre com a primeira cena em que o brontossauro aparece.

    A continuação, também baseada em um livro de Michael CrichtonO Mundo Perdido: Jurassic Park começa na Ilha Sorna, chamado de Sítio B. Os dinossauros deveriam ter morrido, por conta da necessidade de lisina, a que foram acometidos quando criados, mas sobreviveram. Hammond (Richard Attenborough) convoca Malcolm, para liderar uma equipe que fotografará a ação dos dinossauros, provando que eles estão vivos, basicamente para pedir ajuda governamental na preservação do local, já que até a sua empresa, a Ingen, está prestes a ser retirada do seu poder. Malcolm se recusa, e acusa John de ter mudado de capitalista para ambientalista em 4 anos, no entanto, acaba mudando de ideia ao saber que sua namorada Sarah (Julianne Moore) está na Ilha.

    A primeira cena do filme mostra um incidente com uma garotinha, a filha de um magnata, e essa situação foi usada para tirar o velho Hammond do comando de sua empresa, os investidores mandaram um grupo de caça, e a partir daí o filme ganha uma licença poética para se tornar um épico de ação, com mais cenas de chuva (como o primeiro), ações com o filhote de tiranossauro e sequências maravilhosas. Por mais que o filme tenha deixado de ser fantasioso  para os núcleos familiares, esse é um roteiro que fala de clã e da necessidade de se sentir pertencente a um grupo.

    O Mundo Perdido: Jurassic Park, de 1997, dirigido por Steven Spielberg

    A robótica Stan Winston garantiu mais cenas com os T-Rex em detalhes grandiosos, e o final que emula o romance de Arthur Conan Doyle é sensacional. É lamentável a recepção ruim que boa parte do público teve com este filme, na verdade ele lembra bastante o exercício que James Cameron fez com duas continuações que comandou, Aliens e O Exterminador do Futuro 2, mudando de Terror para Ação em ambos. Aqui obviamente que se mudou de outros gêneros, de fantasia e aventura para uma ação mais frenética, e ainda contém momentos bastante épicos, diferente demais do que aconteceria em Jurassic Park 3, comandada por Joe Johnston, lançado em 2001.

    A história se passa na mesma Ilha Sorna, e Alan Grant (Sam Neil) volta, enganado por dois empresários. Talvez o maior problema seja a mudança do antagonismo principal, já que o Espinossauro apesar de ser maior e mais agressivo, claramente não tem o mesmo carisma do outro dinossauro, e esse “erro” foi de certa forma repetido em Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros, ainda que ali tenha sido melhor explorado. Ainda assim, o filme de Johnston tem seus momentos. A tensão é bem construída e fora as piadinhas com os personagens que contratam Grant, é divertido acompanhar o protagonista do primeiro filme novamente.

    Ainda em 1993, Steven Spielberg produziu um longa animado, através da Amblin Entertainment, Os Dinossauros Estão de Volta, uma animação divertida sobre quatro dinossauros que viajam pelo tempo e fazem amizade com duas crianças, que mais tarde, tentam ajuda-los eles a fugirem para o seu lugar de origem. A animação é comandada por Dick ZondagRalph ZondagPhil NibbelinkSimon Wells e cada um deles esteve envolvidos em obras seminais, desde Balto e Fievel, até o filme da Disney Dinossauro. O longa explora o lado lúdico dos Dinossauros, tornando as figuras de Jurassic Park algo mais próximo do universo infantil.

    O filme que tenta traduzir o jogo Super Mario Bros também tem dinossauros. A premissa inclusive trata disso, mostrando que o meteoro que teria matado os dinossauros, na verdade divide a realidade em duas, e Koopa (ou Bowser) vivido por Dennis Hooper tenta raptar a princesa de sua dimensão, Daisy (Samantha Mathis), que seria a chave para unir os dois mundos. Daisy é arqueóloga, o que a faz se aproximar da ideia dos dinossauros. Na realidade onde Koopa vive, os dinossauros evoluem para humanos, e o mundo é desolado, um deserto que só tem uma cidade grande, que é Koopa City, onde o vilão é o soberano. O boneco que faz o Yoshi é até bem feito, e foi executado antes de Jurassic Park, e ele até usa a língua, como nos jogos, mas a transformação do inimigo em T-Rex é risível, e claramente é uma vergonha para todo elenco ter participado desse filme, inclusive para Bob Hoskins e John Leguizamo, que fazem Mario e Luigi.

    Em 1993, Annabel Jankel e Rocky Morton dirigiram a terrível adaptação Super Mario Bros

    A partir de 1993, houve uma trilogia produzida por Roger Corman, chamada de Carnossauro, em que basicamente se mostrava uma figura reptliana que ao consumir carne ia crescendo com o tempo. Em 1995, Louis Morneau dirigiu a continuação, Carnossauro 2. Esta versão tem 82 minutos, e demora-se demais para finalmente aparecer o tal vilão, com mais de meia hora decorrido de filme, sendo esse uma figura parecida com um velociraptor terrivelmente mal feito. Esse segundo capítulo é monótono, com praticamente um cenário fechado que tenta reunir diversos clichês. Há um tiranossauro que aparece no final, basicamente para relembrar a proximidade dessa saga com Jurassic Park.

    Somente em Carnossauro 3, ou Criaturas do Terror como foi chamado no Brasil, existe uma explicação melhor de como funcionam os carnossauros, que emulam características de algumas espécies do animal. Esse terceiro longa é basicamente igual aos anteriores, só estava lá para tentar angariar pessoas que queriam mais aventuras como as de Spielberg. O curioso é a que a trilogia foi concluída em dezembro de 1996, antes mesmo do lançamento de O Mundo Perdido: Jurassic Park, em maio de 1997.

    Em 1994, levando em conta o sucesso não só de Jurassic Park mas também de Família Addams (1992), foi realizado Os Flintstones: O Filme, com um elenco repleto de astros e bons atores. A adaptação do desenho clássico de 1960 ocorreu em uma parceria entre a Amblin e a Hanna-Barbera e o escolhido para a tarefa de direção foi Brian Levant. A história começa com o plano maligno de um homem ganancioso, e logo depois mostra-se uma cena que faz lembrar a abertura clássica, com o apito da pedreira tocando e Fred (John Goodman) descendo e encontrando seu amigo Barney (Rick Moranis). A primeira cena do filme mostra um brontossauro trabalhando. Nesse momento é claramente um robô que faz a cena, mas quando se trata de mostrar o pet da família, Dino, sua realização é toda por  computação gráfica, e os efeitos são quase perfeitos, aliás toda a atmosfera que Levant traz é muito condizente com a do seriado animado, desde as gags visuais, até a amizade inabalável de Fred e Barney.

    O começo do filme, as caracterizações e sacadas são muito boas, mas a ideia central do roteiro e o final carecem de uma qualidade maior, semelhante ao resto, mas ainda assim é um filme bem digno, em especial se comparado a outras animações baseadas em desenhos, ainda que Dino merecesse um pouco mais de participação na trama, como era no desenho. Em 2000, lançaram Os Flintstones em Viva Rock Vegas, que é uma continuação/prequel também conduzida por Levant, e que não leva praticamente ninguém do elenco original, exceto um ou outro figurante, e apesar de tudo, não chega a ser um filme terrível, embora perverta boa parte dos bons conceitos do filme anterior, em especial no Barney de Stephen Baldwin, que é um imbecil.

    Cena de Os Flintstones: O Filme, de 1994, adaptação de Brian Levant do desenho animado da Hanna-Barbera

    Já em 1995, Jonathan Betuel dirigiu Meu Parceiro é um Dinossauro, e na trama mostra um futuro alternativo, onde dinossauros foram recriados por engenharia genética, e vivem com os humanos. A policial Katie Coltrane (Whoopi Goldberg) ganha um novo companheiro, chamado Theodore. O visual dos animais pré-históricos lembram muito o utilizado em Família Dinossauro, mas o filme em si tem quase nenhuma graça. Isso foi em 1995, em 1999 mais uma vez O Mundo Perdido foi adaptado, agora para a televisão. Durou três temporadas, tendo mais de sessenta episódios. Os efeitos evidentemente deixavam a desejar, mas era uma diversão juvenil descompromissada, em especial para as crianças brasileiras que assistiam na Record. Obviamente que tinha um certo apelo sexual, em especial com a personagem Veronica (Jennifer O’Dell), que parecia um Tarzan feminina, sempre de biquíni de tanga.

    1998 foi a vez do telefilme Gargantua, sobre uma ilha na Polinésia, onde ocorrem atividades sísmicas estranhas, incluindo diversos afogamentos, que alegam ser obra de uma espécie de anfíbio, aparentemente, de tamanho gigante. As criaturas se assemelham demais a dinossauros, mas são mostrados com efeitos visuais terríveis, e o filme não passa de uma Sessão da Tarde terrivelmente mal pensada.

    Em 2000, a Disney lançou Dinossauro, uma animação divertida e aventuresca, com um caráter muito parecido com o de Rei Leão. Lançado para TV, Dinotopia é uma minissérie conduzida por Michal Bramblia, o mesmo diretor de O Demolidor filme com Sly e Wesley Snipes. Na trama, conhecemos a história de dois irmãos que viajam com seu pai e acabam parando em um lugar estranho, onde homens e dinossauros vivem em harmonia e parceria. O especial tenta ser lúdico, mas tem uma história enfadonha e que causa bastante sono em quem a acompanhou, passava aqui no Brasil no SBT e contém um elenco cheio de rostos conhecidos, como David  Thewlis, Colin Salmon, Jim Carter, Wentworth Miller, Geraldine Chaplin e outros, mas tanto o elenco quanto os dinossauros são bem sub-aproveitados, já que não há quase conflito nenhum e o discurso excessivamente politicamente correto também faz todo o drama em volta da minissérie desimportante.

    Dinotopia, minissérie de 2002, que propunha uma sociedade onde humanos e dinossauros conviviam pacificamente

    Como parte dos filmes e séries mais recentes, pode-se destacar o terrível O Som do Trovão, um longa dirigido por Peter Hyams. A história é baseada levemente em um conto de Ray Bradbury, mas sua execução é ruim em um nível inaceitável. Uma empresa presta serviços de viagem no tempo a quem pode pagar muito, levando os endinheirados ao passado para matar um dinossauro que já morreria sem interferência dos mesmos, o problema é que essas viagens tem de ocorrer muito protocolarmente, sem alteração nenhuma, se não todo o futuro mudará.

    A ideia, apesar de um pouco absurda, não é de todo mal, mas a execução… a maior parte dos cenários parece ter sido retirada de um show de horrores, se assemelhando demais as fitas de ficção cientifica da Asylum ou do canal Syfy, e o filme de 2005 ainda possui um elenco recheado de atores que em breve estariam em alta ou que já estiveram, como Ben Kingsley, David Oyelowo, Catherine McCormack, Corey Johnson. Ainda assim, o maior enfoque parece mesmo o de fazer um dos efeitos de computação gráfica mais mal feitos da história recente do cinema. Sequer o dinossauro que aparece é risível e não causa espécie em quem está vendo, completamente esquecível.

    Em 2008, houve uma outra versão do livro de Jules Verne, Viagem ao Centro da Terra: O Filme é conduzido por Eric Brevig, mostrando o (na época) astro Brendan Fraser vivendo o cientista malfadado Trevor Anderson, tentando provar suas teorias. Já aparecem dinossauros no início do filme, em uma espécie de epilogo, antes mesmo da ação começar, mostrando o que aconteceu a Max (Jean Michel Paré), irmão do personagem principal, que desapareceu. A vida do sujeito é bagunçada e ele recebe a visita de seu sobrinho, Sean (Josh Hutcherson),e ele vem junto com uma caixa de pertences do pai de Sean.

    O livro de Verne existe no universo do filme, ou seja, serve de inspiração para os personagens, além de obviamente ser baseado no romance. As anotações em uma cópia barata do livro os levam a um novo paradeiro, decidindo viajar até os pontos do mundo onde a pesquisa dele levou. Há todo um grupo de fãs do escritor que acreditam que o que o autor falava era realidade. As cenas de computação gráfica usada nos dinossauros são fraquíssimas, em especial, envolvendo um T-Rex, o que é no mínimo lamentável. Em 2012 houve uma continuação, Viagem 2: A Ilha Misteriosa, em que se mudou o diretor e Fraser foi trocado The Rock, mas esse não possui dinossauros, e é baseado em outra obra de Verne.

    Em A Era do Gelo 3, ainda sob a tutela do diretor Carlos Saldanha, Sid, Diego e Manny se deparam com seres que aparentemente já estariam extintos. Lançado em 2009, o filme era ainda um exemplar decente da franquia, antes de se tornar totalmente desprezível. O longa mostra a preguiça encontrando três ovos, que se revelam ser de tiranossauro. O mamute inclusive cita que os T-Rex deveriam estar extintos, mas há um vale onde os dinossauros vivem em paz e isolados. O problema seria dali para frente, onde até a suspensão de descrença ultrapassaria seus limites.

    A Era do Gelo 3 (2009), de Carlos Saldanha, introduziu dinossauros na franquia

    Ainda em 2009, como parte da tentativa de fazer filmes remakes de séries famosas, Brad Silberling conduziu O Elo Perdido, tendo Will Ferrell no papel principal. O filme pega emprestado a mitologia do seriado para ser mais um show de Ferrell, e apesar de fazer muita piada com os clichês do programa, é extremamente reverencial, e repleto de piadas que desconstroem o conservadorismo típico das comédias típicas dos anos 1990/2000. Seu final é um pouco complicado, e o filme não deu o retorno esperado ao estúdio, mas é bem mais que um filme bobo. Bastante subestimado, na verdade.

    Caminhando com Dinossauros foi um filme em 3D de 2013, dirigido por Barry Cook e Neil Nightingale. Ele conta com uma introdução mostrando humanos chegando a um lugar esmo, para logo depois mostrar animais falantes, que recontam histórias com dinossauros do período cretáceo, que são obviamente dublados, contendo voz de famosos como Leguizamo e Justin Long. O filme é baseado num programa de TV que fez sucesso, e tem um tom lúdico, mas não fez muito sucesso além do público infantil. Visualmente o filme é interessante, mas a historia é boba e superficial, sem grandes atrativos para o público mais velho.

    Assim também é o filme da Pixar O Bom Dinossauro, de Peter Sohn. A história acompanha o frágil Arlo, um pequeno filhote de apatossauro que vive com a sua família, que por sua vez, cultiva uma fazenda de leguminosas. Nessa realidade, o asteróide que teria acertado a Terra desviou do planeta, dessa forma homens e dinossauros coexistiram. Apesar de lidar com sentimentos de perda e orfandade, em comparação com outros filmes da Pixar, o longa é fraco, rivalizando com Carros, suas sequências e Procurando Dory, como produto menos elogiável.

    Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros deu um novo fôlego para a franquia e para a exposição dos dinossauros no cinema, e apesar de não ter sido um primor de história, ajudou a tornar o assunto popular novamente. Nesse meio tempo, a Asylum e outras companhias semelhantes fizeram diversos filmes de baixo orçamento com dinos. Um pior que o outro. Depois de Jurassic World, de Colin Trevorrow, a continuação que J.A. Bayona trouxe, em Jurassic World: O Reino Ameaçado ajuda a resgatar um tipo de cinema como os das matinês, onde o espectador ia ávido por assistir filmes onde o escapismo imperava e os personagens eram afortunados unicamente por terem uma existência capaz lidar com acontecimentos grandiosos, que fogem do ordinário, e tudo por conta do encontro com criaturas de proporções dantescas, o mesmo fascínio que encantou Doyle, Burroughs, Crichton, O’Brien e Spielberg, além é claro do espectador, que certamente age como as crianças que encontraram o brontossauro na árvore, no clássico Jurassic Park, se encantando com as criaturas que já reinaram sobre a Terra.

    Leia: Parte 1 | Parte 2.

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  • Os Dinossauros e o Cinema – Parte 1

    Os Dinossauros e o Cinema – Parte 1

    O passado sempre fascinou a raça humana, e boa parte da arte que o homem faz remete a esse tempo que jaz inalcançável, e parte dessa obsessão explica um dos temas mais comuns no cinema de aventura, ação, e até horror, que normalmente lota salas de cinema ao redor do mundo. Desde muito antes de Steven Spielberg trabalhar em Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros e O Mundo Perdido: Jurassic Park, já haviam outras tantas obras que tratavam do tema, algumas com mais conhecimento, outras com menos.

    Obviamente, deixarei de lado a franquia japonesa Gojira/Godzilla, pois ela merece uma análise própria, e trata mais de atomic horror do que o fascínio pelas criaturas que um dia tomaram o topo da cadeia alimentar pelo planeta. O primeiro filme digno de nota é em preto e branco, mudo e de curta duração, em torno de 12 minutos, chamado Gertie: O DinossauroWinsor McCay dá luz a obra, misturando um estilo que já lhe era comum, que é a animação em cenas com atores reais, onde um grupo de homens discutem em um museu, e em determinado ponto, aparece a animação que mostra Gertie, uma animal que faz lembrar o dinossauro hoje conhecido como Brontossauro vivendo seus dias, com participações de outros seres de períodos mais antigos, ainda que não haja preocupação com pesquisa histórica, até porque este é um filme lúdico e escapista somente, uma comédia leve que visava mostrar a capacidade de McCay em animar.

    Gertie: O Dinossauro, de Winsor McCay (1914)

    Há outras obras da época do cinema mudo, em especial onde Willis H. O’Brien está envolvido como The Dinosaur and the Missing Link: A Prehistoric Tragedy que foi lançado pelos estúdio de Thomas Edison em 1917. Ele mostra um homem das cavernas tentando agradar uma fêmea, e no meio dessa tentativa, se depara com um dinossauro, que o atrapalha. É bem curto, tem um tom de comédia ainda mais acentuado que Gertie, mas a passagem pelo animal antigo é bem rápida. Ainda em 1917, Prehistoric Poultry brinca com as semelhanças entra galinhas e dinossauros, é bem curtinho e mostra uma figura muito semelhante à ave que serve de alimento ao homem agindo na época antiga, conceito esse reutilizado mais seriamente em filmes nos anos noventa. Nesse mesmo ano, também foi exibido R.F.D., 10000 B.C. mostrando um carteiro que lida com um dinossauro como meio de transporte. Em 1919 o mesmo diretor faria The Ghost of Slumber Mountain, mostra um sujeito que através de um conto descrito aos seus sobrinhos, se volta ao tempo dos dinossauros. Esse é mais extenso, ao menos a cópia disponível para visualização, mas ainda não tão primorosa. Houve um projeto chamado Creation, que seria lançado em 1931, mas foi cancelado, sobrando apenas esboços do que deveria ter sido o longa-metragem definitivo de O’Brien, mas que jamais viu a luz do dia.

    Em 1925 chegava aos cinemas um dos maiores filmes sobre o tema, O Mundo Perdido, baseado na obra de Arthur Conan Doyle, conhecido criador do detetive Sherlock Holmes. Esta obra deu origem a outras adaptações, até fora do cinema, e mais para frente nos debruçaremos sobre algumas delas. A obra original se perdeu com o tempo e depois de um intenso trabalho de resgate de oito gravações diferentes, se chegou a versão mais comumente encontrada no mercado, de 93 minutos. A visão que Doyle e o diretor Harry O. Hoyt tem da Amazônia é completamente estereotipada, e comum a sua época, visto que o mundo era um lugar pouco explorado e conhecido como se tornou nesse quase um século que separa a atualidade e o filme em questão. O livro foi lançado em 1912, e nessa versão o único lugar onde teriam essas criaturas fantásticas era um platô da bacia amazônica. Em meio ao desbravar da ilha, os pesquisadores vêem uma luta que seria (ou a menos tentaria, dadas as limitações da época) épica, entre dois animais pré históricos gigantes, sendo ao menos um deles um Alossauro, um dino que lembra bastante o Tiranossauro Rex, e que mata o seu adversário facilmente, quebrando seu pescoço e deixando ele caído, ou seja, sua predação é pura e simplesmente porque ele pode matar as outras criaturas, e não por fome. Logo depois ele ataca um triceratopes.

    O grupo que viaja para a Amazônia consegue retornar, e ainda leva um brontossauro para Londres, desfecho esse bem semelhante ao visto em King Kong, de 1933, inclusive com a fuga da criatura monstruosa, embora nesta versão não seja mostrado isso, e sim contado através de texto. No entanto, a demonstração do dinossauro nas ruas inglesas é feita de maneira expositiva, com a criatura andando pelas ruas e atacando as pessoas hostis. O modo como ela escapa é curioso, e seria catastrófico, uma vez que a ponte de Londres cai e ele é empurrado pela correnteza em uma direção desconhecida. O longa não dá um destino definido para a criatura, ao contrário, prefere se dedicar a mostrar o destino romântico dos personagens humanos, em detrimento de mostrar a recepção de Londres ao seu novo “habitante”.

    Além do já citado King KongFantasia, clássico de animação que mistura música orquestrada com curtas animados de Walt Disney também traz referências aos monstros pré-históricos, ainda em 1940. Seu segmento The Rite of Spring, baseado em uma composição de Igor Stravinsky, mostra o planeta em meio a uma galáxia imensa, tendo a formação de seus rochedos, oceanos e primeiras formas de vida, desde as microscópicas até as marinhas. As cores lembram aquarelas pintadas e esse sem dúvida é um dos momentos mais bonitos de todo o longa-metragem, inclusive quando são mostrados os dinossauros.

    Fantasia, cena do segmento “Rite of Spring”, de Bill Roberts e Paul Satterfield (1940)

    Ainda em 1940, O Despertar do Mundo era lançado, contando a história de um grupo de aventureiros entrando em uma caverna, onde um paleontólogo começa a contar uma história que supostamente aconteceu entre homens primitivos que disputavam territórios. O longa erroneamente coloca na mesma linha temporal o homem pré-histórico junto dos dinossauros. Essa versão de Hal RoachHal Roach Jr. seria revisitada anos depois, pela produtora inglesa Hammer.

    Demora a aparecer um dos répteis gigantes, e quando surge, é bastante anti-climático, já que ele se disfarça atrás de plantas que dificultam sua visualização. Mais à frente, usam-se animais para emular os bichos pré-históricos, com iguanas fazendo às vezes de animais carnívoros, bem como tatus com  chifres artificiais, fingindo ser triceratopes, e ainda, jacarés fantasiados.

    Em 1951, Sam Newfield conduziu o filme Continente Perdido, sobre um grupo de cientistas que realizam provas com foguetes na Nova Guiné, e um desses foguetes acabam sumindo durante um desses testes. Já que o item é caro, o governo envia um piloto experiente para liderar uma expedição em busca do veículo. O filme é em preto e branco e em determinado ponto passa a ter coloração verde. Os efeitos das feras antigas são feitos em stop motion e dentro de sua limitações, funcionam bem, mas ainda assim a participação dos dinossauros é pequena, se tornando meros coadjuvantes para as subtramas bobas dos humanos.

    Em 1953, baseado em um texto do escritor Ray Bradbury, The Fog Horn, foi lançado O Monstro do Mar (The Beast from 20,000 Fathoms) tem efeitos técnicos assinados por Ray Harryhausen e conta em seu elenco com Lee Van Cleef, que ficaria famosos anos depois por trabalhar em filmes como Por Uns Dólares a Mais, Três Homens em Conflito e O Homem que Matou o Facínora. O visual gélido do longa lembrar outro clássico, O Monstro do Ártico, que originou o remake de John Carpenter, O Enigma do Outro Mundo. A história mostra os clichês dos filmes de atomic horror, onde um dinossauro carnívoro gigante desperta no Ártico após testes nucleares. Percebe-se uma tendência para os filmes envolvendo os predadores antigos e gigantescos, já que novamente o destino da criatura é semelhante ao do brontossauro em O Mundo Perdido, de 1925, quanto o de King Kong, em 1933, uma vez que a criatura é levada para Manhattan para atender a demanda dos gananciosos que a encontraram, que mais se importam em ganhar dinheiro do que preservar o milagre que é um animal como esse estar vivo. Aliás, esse clichê também foi utilizado na parte dois da franquia de Spielberg, Mundo Perdido: Jurassic Park.

    O Monstro do Mar, de Eugène Lourié (1953)

    O modo encontrado para deter a fera é bastante criativo, e a cena em questão se dá em um parque de diversões, próximo de uma montanha russa, um cenário completamente inesperado para esse tipo de sequência. O final é melancólico para a criatura, e faz perguntar afinal quem seriam os verdadeiros monstros da história, e nesse ponto o filme de Eugène Lourié acerta em cheio, pois propõe discussões e questionamentos importantes. O diretor ainda voltaria ao tema com outros dois filmes: O Monstro Submarino e Gorgo.

    Pouco tempo depois, chegava as telas O Rei Dinossauro, um filme sobre exploração espacial, onde um grupo de aventureiros vão até o planeta Nova, um novo corpo celeste que chega na Via Láctea. Neste planeta, a vida é basicamente formada por animais gigantes como os dinossauros terrestres, além de algumas criaturas pré-históricas. O filme dirigido por Bert I. Gordon, que era especialista em produtos de atomic horror (A Maldição da Aranha, A Maldição do Monstro, O Incrível Homem Atômico), ainda há um suposto T-Rex que aparece, “interpretado” por uma iguana. Ainda assim, o tom é sério, mas a questão de não se definir se a iguana que está no filme é realmente uma iguana gigante ou é um T-Rex, torna tudo muito tosco, piorado quanto um monstro maior se aproxima – um crocodilo – em um embate mortal, mas que já se sabe qual será o destino ao final. O crocodilo e a iguana, quando se deparam tem o mesmo tamanho, e isso é demonstrado com dois bonecos se enrolando pelo chão arenoso, de uma maneira terrivelmente filmada.

    A Besta da Montanha é o primeiro filme em cores dessa lista, lançado em 1956, começa como um drama de faroeste, com vaqueiros americanos e mexicanos convivendo com os perigos naturais do solo do país latino. Filmado em cinemascope, o longa de Edward NassourIsmael Rodriguez tem lindas imagens e cores muito vivas. Contudo, o filme se vale demais de estereótipos, em especial quando se desenvolve os personagens mexicanos. O texto do filme é baseado na ideia de Willis H. O’Brien, especialista em efeitos especiais que havia trabalhado no primeiro O Mundo Perdido. O Alossauro que ataca o vale e come alguns dos animais é uma referência clara ao filme de O’Brien e ao romance de Doyle. O modo como ele aparece varia, no começo é mostrada uma fantasia, com os pés do monstro e depois surge em stop motions, em cores cinzas e detalhes que até então não se viam em criaturas assim. Uma pena que o roteiro não colabore com as ótimas ideias visuais do filme.

    Em No Mundo dos Monstros Pré-Históricos (Land Unknown) o diretor Virgil W. Vogel faz muito uso de gravuras e pinturas como cenário, fato que já não era regra nos idos de 1957. Suas cenas com fundo falso soam artificiais demais em comparação com produções da época. Há outro momento complicado, com um pterodáctilo voando – terrivelmente mal filmada – além de batalhas de iguanas, ainda que melhor desenvolvidas. O T-Rex aparece de repente, logo depois da batalha de lagartos e é uma pessoa em um roupa andando em meio a miniaturas, como nos tokusatsus e filmes de Godzilla. Chega a ser cômico o uso da hélice do helicóptero para afastar a criatura e se vê muitos problemas com perspectiva, com o T-Rex variando de tamanho de acordo com as cenas. O longa termina de modo emocionante, mostrando os humanos que estavam na terra isolada fugindo.

    Viagem à Pré-História (Cesta do Praveku), de 1955, traz crianças viajando a uma terra perdida. O longa de Karel Zeman tem um tom bastante lúdico, mostrando criaturas pré-históricas sem um compromisso com a realidade, mas ainda assim bem retratadas no aspecto técnico. Zeman é conhecido por ter feito belas animações, não à toa ficou conhecido como o Georges Méliès tcheco De fato, a melhor coisa do seu filme são os efeitos especiais, pois a trama em si deixa muito a desejar.

    Viagem à Pré-História, de Karel Zeman (1955)

    Dirigido  pela lenda do Cinema B, Roger Corman, Teenage Cave Man tenta resgatar elementos de O Despertar do Mundo, ainda que seja mais explícito em sua proposta. Os homens da tribo já tem uma linguagem sofisticada, a mistura de elementos que claramente não tem congruência histórica é exibido bastante cedo, com os dinossauros aparecendo com menos de cinco minutos de exibição, variando entre stop motion e animais reptilianos disfarçados. Para variar, essa é mais uma produção onde acontecem as famosas lutas entre crocodilos e iguanas rolando pela areia, que se tornou clássica e reaproveitada entre os filmes desse subgênero. De curioso, há o protagonismo de Robert Vaughn, astro de filmes trash, entre eles, O Despertar dos Mortos, do pai dos filmes de zumbi George A. Romero.

    Um dos romances mais famosos de ficção cientifica moderna, é Viagem ao Centro da Terra, não à toa tiveram dezenas de adaptações do livro de Jules Verne. A primeira dela é um curta antigo, de 1910, bastante difícil de achar por conta das raras cópias que existem dele. A mais notória adaptação aconteceu em 1959, uma produção grande, filmada em cinemascope e em cores, dirigida por Henry Levin. Os efeitos e cenários são um pouco caricatos se vistos hoje, mas cumpriam bem o papel de tentar alinhar a obra de Verne à época em que passavam, sem falar que os jogos de luzes do diretor de fotografia disfarçam as limitações técnicas da época em boa parte do filme. Já os dinossauros, em sua primeira aparição são lagartos disfarçados, com efeitos ligeiramente superiores ao das produções anteriores, mas claramente as figuras deles eram coadjuvantes diante da trama que tentava traduzir o livro de Verne para as telas.

    Em 1959, foi a vez também de exibir O Monstro Submarino, traz Behemoth, figura essa existente nos livros da Bíblia, mais especificamente em Jó. No livro, Behemoth é uma figura monstruosa, que para muitos estudiosos é mais aproximada de um bovino com três chifres, para outros um hipopótamo e há quem o compare com um dinossauro. No filme de Lourié, mais uma vez o antagonismo é por conta de uma criatura que sofreu interferência da ação humana, através da energia nuclear. Esse é o terceiro filme do diretor que traz “dinossauros”, e talvez seja o que temor apelo, ainda assim a forma como a criatura é desenvolvida é muito inventiva, apesar de não ser tão bem feita.

    Leia: Parte 2 | Parte 3.

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  • Filmes Com Temática de Caminhoneiros

    Filmes Com Temática de Caminhoneiros

    Levantando em conta o assunto que tem tomado boa parte das preocupações dos brasileiros, com a dificuldade de abastecimento de elementos básicos em virtude da greve dos caminhoneiros, separamos uma inusitada lista de filmes com essa temática, tanto sobre motoristas que comandam máquinas enormes, bem como filmes sobre essas máquinas mesmo. Brincadeiras à parte, a greve é justa e digna de respeito por cada um de nós!

    Agarra-me Se Puderes (Hal Needham, 1977) – Filipe Pereira

    Filme indispensável para quem curte a Trucksxploitation, mostra a história de Bandit, vivido por Burt Reynolds, um sujeito turrão, engraçado e destemido. A personagem, basicamente, aceita o desafio de um sujeito que é seu desafeto e se mete em uma confusão que envolve-o  até uma carga de mercadoria ilegal. O filme é só uma desculpa para colocar o carismático e canastrão Reynolds em ação. O par romântico do anti herói é Sally Field, de quem era noivo na época, e é co-estrelado por um carro esportivo, Pontiac Trans Am. O longa fez tanto sucesso, que deu origem a uma trilogia engraçadíssima, que obviamente vai perdendo forças com o passar de suas continuações.

    Comboio (Sam Peckinpah, 1978) – Bernardo Mazzei

    Estrelado por Kris Kristofferson, Ally MacGraw e Ernest Borgnine, e dirigido por Sam Peckinpah (do clássico Meu Ódio Será Sua Herança), Comboio narra a história de Rubber Duck (Kristofferson), um honesto caminhoneiro que resolve se rebelar contra a corrupção policial comandada pelo xerife Lyle (Borgnine), um antigo desafeto. Após ser roubado, agredido e humilhado pelo corrupto agente da lei, Duck convoca um enorme protesto da classe. Com sua namorada na boléia, Duck lidera os caminhoneiros em uma grande jornada das estradas do Arizona rumo ao México. Ainda que longe das grandes obras do diretor Peckinpah, Comboio é um corajoso filme que se propõe a discutir questões sociais que permanecem pertinentes até hoje, tais como a luta de classes, preconceito racial e de gênero. Entretanto, o grande mérito aqui são as boas cenas de ação e perseguição orquestrada pelo diretor e a boa atuação do elenco principal.

    Aventureiros do Bairro Proibido (John Carpenter, 1986) – por Filipe Pereira

    Clássico máximo da Sessão da Tarde, e um dos bons filmes leves de John Carpenter, Aventureiros do Bairro Proibido parte de um protagonista que emula características de brucutu, vivido por Kurt Russell. Jack Burton é um caminhoneiro de carga pesada, que tem sua namorada raptada por um motivo esdrúxulo, Para salvá-la, deve enfrentar uma turminha do barulho, em Little China, para deixar a mocinha a salvo. O filme é engraçadíssimo e mostra como a cultura pop trata as figuras que comandam os grandes veículos de transporte. Mistura elementos de faroeste com um pouco da temática dos filmes de artes marciais de Hong Kong, além de também ter personagens bastante carismáticos.

    Comboio do Medo (William Friedkin, 1986) – por Bernardo Mazzei

    Dirigido por William Friedkin e protagonizado por Roy Scheider, O Comboio do Medo é um filme que teve dois azares: o primeiro foi ter estreado quase que simultaneamente ao primeiro Star Wars. O segundo foi não ter sido compreendido na época de seu lançamento. Na trama, quatro homens expatriados que vivem nos confins da América do Sul são contratados por uma empresa petrolífera americana para transportar uma carga de nitroglicerina. Caso cheguem vivos ao destino, terão sua situação regularizada  e receberão 10 mil dólares. Película um tanto quanto experimental, o longa possui altas cargas de suspense. O roteiro também é bem interessante, pois fornece background para todos os protagonistas, o que facilita a empatia do espectador. Ainda que episódica, a narrativa é bem fluída e prende o espectador na cadeira, principalmente quando o filme vai chegando ao seu final. Uma ótima obra do diretor de O Exorcista que merece ser assistida com bons olhos.

    Falcão: O Campeão dos Campeões (Menahem Golan, 1987)  – por Filipe Pereira

    Sylvester Stallone gozava de uma popularidade monstruosa em meio aos anos 80. O sucesso de Rambo e Rocky  permitiu que pudesse viver outros papéis icônicos, como esse do caminhoneiro com problemas familiares. Lincoln Hawk e seu filho protagonizam um Road movie, descobrindo uma afinidade meio perdida graças a ausência do pai. O filme de Menahem Golan consegue ser bem especial, no sentido de mostrar um problema grave em quem trabalha na estrada, que é o fato de nem sempre poder estar em casa, um drama é presente na vida dos homens que passam seus dias atrás do volante gigante e das máquinas que cortam as estradas do Brasil e do mundo. Tudo isso evidentemente envolto em uma historia heroica, cheia de clichês, mas que compensa tudo isso com o charme e carisma do personagem de Sly, que sempre que vira seu boné parece ganhar mais força, com mais uma demonstração de um placebo legal de Hollywood.

    Comboio do Terror (Stephen King, 1986)  – por Bernardo Mazzei

    Escrito e dirigido pelo mestre Stephen King, Comboio do Terror é trash. Muito trash mesmo. Muito se discute sobre as adaptações das obras do autor, mas ele é responsável por aquela que talvez seja a pior adaptação de uma obra escrita por ele mesmo. Porém, isso tem uma justificativa: o próprio King admitiu que estava drogado durante todo o tempo em que a produção foi filmada. O ponto de partida do filme ocorre quando um cometa passa pelo nosso planeta fazendo com que as máquinas ganhem vida e se voltem contra os humanos. É nesse momento, que o nosso herói Emilio Estevez cria um grupo de resistência quando estes são cercados por caminhões assassinos em um restaurante de beira de estrada. O filme é uma bagunça narrativa. Não há a menor coesão no que se vê na tela e tudo é feito de uma forma tão escrachada, que os risos acabam saindo involuntariamente. Os pontos altos são a presença dos caminhões assassinos, especialmente o “Duende Verde”, e a atuação de Estevez. Entre caras, bocas e poses de herói galã, o ator aqui entrega algo muito mais engraçado do que o visto em Máquina Quase Mortífera. Parece que ele desencanou e resolveu embarcar na galhofa. Ah! A trilha sonora é inteiramente da banda AC/DC, pelo único motivo de ser a banda preferida de King.

    Encurralado (Steven Spielberg, 1971)  – por Filipe Pereira

    Dirigido por Steven Spielberg, o personagem que se destaca no thriller é um caminhão. Por mais que a premissa pareça engraçada em um resumo, trata-se de uma obra série e muito bem produzida, apesar das condições paupérrimas. Encurralado é na verdade um telefilme, foi rodado em poucos dias e, apesar da qualidade, possui alguns momentos de humor involuntário. O Peterbilt clássico que persegue o personagem de David Mann (Dennis Weaver) é simplesmente gigantesco, parece um kraken deslizando sobre o asfalto e a motivação por trás desse terror parece ser nenhuma além de causar terror, nesse ponto, parecido com o clássico Tubarão do mesmo diretor que ensaia neste filme a mesma câmera subjetiva do filme do monstro.

    Bônus Track

    Carga Pesada (1ª Fase: Daniel Filho, Ferreira Gullar, Gianfrancesco Guarnieri e Walter G. Durst, 1979-1981 |2ª fase: Ecila Pedroso, Mara Carvalho, Walther Negrão e Walcyr Carrasco, 2003-2007) – por Filipe Pereira

    Para não dizer que não falamos de produções brasileiras, há o seriado protagonizado por Antonio Fagundes e Stênio Garcia, que viviem Pedro e Bino, dois caminhoneiros que cruzam o Brasil e vivem aventuras que variavam entre denúncias sociais e um culto ao folclore brasileiro. A primeira versão foi criada por Daniel Filho, Ferreira Gullar, Gianfrancesco Guarnieri e Walter G. Durst, tinha duração de mais ou menos quarenta minutos por episódio e ficou no ar entre 1979 e 1981, já a versão mais recente tinha histórias de Ecila Pedroso, Mara Carvalho, Walther Negrão Walcyr Carrasco, e foi ao ar entre 2003 e 2007. Infelizmente na segunda versão, conhecida pelos jovens como Carga Pesada Shíppuden, o programa passava num horário muito tarde, fato que dificultava sua visualização, mas ainda assim era uma série muito marcante e divertida em alguns pontos, especialmente quanto a dupla passava por apuros, ou pelas ciladas que aconteciam com os dois inseparáveis Pedro e Bino. Hoje se mantém no imaginário popular, principalmente por conta de piadas virtuais, demonstrando a força e o carinho do público pela série.

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  • Crítica | Jogador Nº1

    Crítica | Jogador Nº1

    Steven Spielberg é um diretor antigo e premiado cuja carreira ainda está ativa. Por ter uma filmografia prolífica, coleciona filmes que variam muito de qualidade, dificilmente conseguindo lançar num curto período de tempo dois filmes bons. Após o thriller histórico The Post –  A Guerra Secreta, em que as atuações de Tom Hanks e Meryl Streep chamaram a atenção, a adaptação de Jogador Número Um, best-seller de Ernest Cline, chega as telas dois meses após a estreia brasileira do anterior. Uma produção cuja temática futurista ambienta uma história em que o mundo é desolado e as pessoas usam um jogo chamado Oasis para escapar de suas rotinas terríveis.

    O filme é narrado em primeira pessoa por seu protagonista, Wade, um garoto órfão, de origem humilde e que gasta muito de seu tempo e esforço dentro do jogo, através de seu avatar, Parzival. Ele é o resumo do que o homem comum faz, uma vez que sua rotina passa por utilizar do jogo para escapar de suas angustias e tristezas. Eis que se depara com a persona do criador de Oasis, James Halliday, vivido pelo oscarizado Mark Rylance, que basicamente deixou dentro dos detalhes do game uma série de chaves e pistas, que se fossem encontradas por alguém, dariam poder a essa pessoa sobre a empresa que mantinha Oasis no ar. Essa busca não era exclusiva de Wade, e sim de todos, inclusive de grandes corporações, que montavam seus clãs em busca de um item chamado Easter Egg, que seria a chave para a dominação do jogo e das ações da empresa.

    Spielberg acerta demais nos quesitos que são suas especialidades, tanto no escapismo travestido como ficção cientifica, quanto na vertente de um filme para o público juvenil. O longa é repleto de referencias (como o livro) mas é divertido e eletrizante, além de ter personagens bem carismáticos. A personalidade das pessoas reais não são suplantadas pelas mil e uma menções a cultura pop. Pelo contrário, pois estes acrescentam muito a historia e trazem carisma, com um fan service bem empregado. Para quem não entende todo o tom reverencial, ainda há um produto extremamente bem construído no quesito aventura, nesse ponto, se assemelhando muito ao recente Jumanji – Bem Vindo a Selva, ainda que esse seja mais graúdo.

    A produção consegue driblar até a caracterização sem personalidade de Tye Sheridan. O que falta de carisma nele, sobra nos personagens periféricos ou em seus avatares no jogo. Como há muito uso de efeitos digitais – aliás, primorosos, tal qual os antigos Jurassic Park e O Mundo Perdido: Jurassic Park do próprio Spielberg – se vê pouca a participação dos atores de cara limpa. Nesse quesito, Mark Rylance mais uma vez brilha em uma atuação bem diferente daquela vista em Ponte de Espiões – provando sua versatilidade – uma vez que seu personagem é um mentor, um homem a ser seguido, mostrado em várias fases de sua vida. Fator que também produz elogios a direção de arte que consegue, junto ao CGI, remonta-lo em fase mais jovem e também mais idoso, sempre muito bem represento.

    O filme é grandioso. As batalhas fazem lembrar demais o visto em Senhor dos Anéis : O Retorno do Rei, ainda que aqui haja muito mais apelo visual. A fluidez nas lutas travadas entre centenas de personagens de universos completamente diferentes é fascinante. Do ponto de vista da historia, pode até soa piegas em alguns momentos, mas a mensagem principal é passada de forma simples e objetiva, evidenciando a valorização de idéias revolucionarias em detrimento da mercantilização da vida em geral. Apesar de não ser tão incisivo em sua crítica – e de fazer propaganda obvia a tantas franquias – Spielberg consegue conduzir bem um filme eletrizante, extremamente divertido e que faz parecer tem bem menos que seus quase 150 minutos de duração.

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  • Os Maiores Indicados ao Oscar de Melhor Direção

    Os Maiores Indicados ao Oscar de Melhor Direção

    Todo ano, desde 1929, a Academia seleciona o melhor diretor em uma lista de cinco indicados. O prêmio mais desejado da indústria do Cinema dá direito ao vencedor de receber a cobiçada estatueta e de fazer um breve discurso — quase sempre interrompido por uma música indesejada. Contudo, o objetivo deste artigo não é de celebrarmos os grandes vencedores da premiação, mas relembrarmos os cineastas que mais vezes foram indicados ao longo de toda a história da Academia. Para não tornar a lista extensa demais, fizemos um recorte de diretores com um número de no mínimo 6 indicações.

    8. Frank Capra (1897 – 1991)

    Francesco Rosario Capra nasceu em 18 de maio de 1897, em Bisacquino, na Sicília, Itália. Mudou-se para os Estados Unidos ainda criança, com os pais e mais seis irmãos, vindo a se instalar numa comunidade italiana em Los Angeles. Capra trabalhou desde muito jovem, formando-se no California Institute of Technology com diploma de engenharia química. Alistou-se no exército do EUA, servindo como segundo-tenente durante o último ano do conflito, mas voltou para casa após contrair gripe espanhola. Com a morte do pai, Capra passou os anos seguintes sem emprego fixo. Durante essa época se tornou cidadão americano, assumindo o nome de Frank Russell Capra.

    O interesse por Capra pelo cinema se deu durante os anos 1920, quando trabalhou em pequenos estúdios, como assistente de câmera, edição, escritor, assistente de direção, entre outras atividades. Acabou contratado pela Columbia Pictures para produzir novos longas-metragens e competir com os principais estúdios da época. Inovador, rapidamente Capra se adaptou para o “cinema falado” e toda nova tecnologia do som, enquanto grandes nomes da indústria lutavam para realizar essa transição.

    Na década de 1930, Capra já havia abandonado os filmes B e era considerado como um dos diretores mais influentes de sua época, entregando comédias escapistas e inovadoras. Nessa época, diversos sucessos vieram à luz e muitas de suas estruturas cênicas são utilizadas até os dias de hoje. Aconteceu Naquela Noite (1934) se torna um marco para o diretor, que em sua segunda indicação como diretor já se torna um dos premiados. Capra repete o fato bienalmente, com O Galante Mr. Deeds (1936) e Do Mundo Nada se Leva (1938).

    Com o advento da Segunda Guerra Mundial, Capra novamente se alista. Suas contribuições no conflito se dão em forma de uma série de documentários informativos aos soldados. Com o fim da Guerra, faz um de seus maiores filmes: A Felicidade Não Se Compra, uma mensagem de esperança após o horror vivido. Com as mudanças da indústria e do gosto do público, o cineasta abandona Hollywood em 1952, retornando para dirigir seus últimos três filmes entre 1959 e 1964. Falece em 1991, passando seus últimos anos se dedicando à ciência. Capra recebeu 5 indicações ao Oscar, sendo premiado em 3 delas, apenas na década de 1930. Sua última indicação ocorreu pelo clássico já mencionado, A Felicidade Não Se Compra, de 1946.

    Indicações: 6
    Dama por um Dia (1933), Aconteceu Naquela Noite (1934), O Galante Mr. Deeds (1936), Do Mundo Nada se Leva (1938), A Mulher Faz o Homem (1939) e A Felicidade Não Se Compra (1946).

    Premiações: 3
    Aconteceu Naquela Noite (1934), O Galante Mr. Deeds (1936) e Do Mundo Nada se Leva (1938).

    7. Woody Allen (1935 – )

    Nova iorquino nascido no Brooklyn, em 1 de dezembro de 1935, Allen Stewart Konigsberg mudou seu nome para Heywood Allen quando tinha 17 anos, e posteriormente, Woody Allen. Vindo de uma família judia de classe média, Allen começou a escrever monólogos e fazer comédia stand-up ainda adolescente. Seu pai trabalhou com diversas profissões, de vendedor a barman, motorista de táxi a joalheiro, entre diversas outras. Essa rotina de certo modo influenciou o modo de Allen ver o mundo laboral, saltando de um projeto sempre que o aborrecesse. Sua relação com a mãe se dava de maneira agressiva, com constantes discussões e castigos físicos.

    Em 1953, Allen frequenta a New York University, mas falha miseravelmente em adquirir o diploma de produção cinematográfica. Abandonando os estudos, rapidamente consegue um trabalho de roteirista para a TV, incluindo no popular programa Your Show of Shows, que lhe rendeu uma indicação ao Emmy. Mas rapidamente Allen se entedia e retorna ao stand-up, tornando-se popular num clube de comédia de Nova York.

    No entanto, apenas no meio da década de 1960 que o diretor começa a destacar nos cinemas. Sua estreia como diretor ocorreu apenas em 1966 com com O Que Há, Tigresa?. Contudo, alcançou um novo patamar apenas em 1977 com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, estrelado pelo diretor e Diane Keaton, com quem Allen se envolveu de maneira romântica. O filme ganhou quatro prêmios da Academia, inclusive de melhor fotografia, melhor direção e melhor roteiro. No ano seguinte foi novamente indicado ao Oscar de melhor direção por Interiores.

    Na década seguinte foi indicado por 3 vezes, pelos maravilhosos Broadway Danny Rose (1984), Hannah e suas Irmãs (1986) e Crimes e Pecados (1989). Em 1994, Tiros na Broadway, com John Cusack e Dianne Wiest, foi indicado em diversas categorias, rendendo um Oscar para Wiest. Ao longo dos anos 90, infelizmente, o nome do diretor esteve mais relacionado aos tabloides de fofoca do que pelo conteúdo de seus filmes, por conta do casamento controverso com a filha adotiva de sua ex-namorada, Mia Farrow.

    Nos anos 2000, Allen fez grandes filmes, vindo a ser indicado algumas vezes por roteiro original, sendo hoje o roteirista que mais vezes foi indicado: dezesseis indicações. Apenas em 2011, a academia o indicou novamente pelo lindo trabalho em Meia-Noite em Paris. O cineasta é “um dos grandes tesouros de Hollywood”, como dito pelo saudoso crítico de cinema Roger Ebert. Dono de um texto ácido, divertido e crítico, Allen tem uma produção por trás das câmeras de mais de 50 longas-metragem.

    Com o advento dos escândalos envolvendo o nome do produtor Harvey Weinstein, Allen se viu mais uma vez envolto em acusações e uma série de boicotes. Em 2014, Dylan Farrow, filha da atriz Mia Farrow escreveu uma carta onde detalha ter sido abusada sexualmente quando tinha sete anos de idade. O caso foi judicializado anos atrás, e o diretor foi absolvido das acusações.

    Indicações: 7
    Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), Interiores (1978), Broadway Danny Rose (1984), Hannah e suas Irmãs (1986), Crimes e Pecados (1989), Tiros na Broadway (1994) e Meia-Noite em Paris (2011).

    Premiações: 1
    Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977).

    6. Fred Zinnemann (1907 – 1997)

    Natural de Viena, Fred Zinnemann começou no universo cinematográfico como assistente de câmera em Paris e Berlim antes de imigrar para Hollywood em 1929. Começou dirigindo curtas na MGM em 1937 e, em poucos anos, tornou-se diretor, realizando grandes filmes como A Sétima Cruz (1944) e Meu Irmão Fala com Cavalos (1947). O trabalho inovador de Zinnemann se deu em Ato de Violência (1949), um forte filme noir sobre os sentimentos de culpa de um ex-prisioneiro de guerra. Anos mais tarde, mudou completamente o tom, dirigindo uma emocionante versão cinematográfica do musical da Broadway, Oklahoma! (1955).

    As escolhas de elenco de Zinnemann eram muitas vezes tão ousadas quanto perigosas. Em sua adaptação da peça Cruel Desengano (1952), o diretor escolheu a atriz Julie Harris, de 26 anos, para interpretar a protagonista do filme, uma personagem de 12 anos. A ousadia rendeu a Harris uma indicação ao Oscar. Em A Um Passo da Eternidade (1953), que trouxe o primeiro Oscar para o diretor, ele lançou Frank Sinatra, que estava no ponto mais baixo de sua popularidade. Como o loser Maggio, Sinatra ganhou um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Audrey Hepburn, anteriormente lançada em deliciosos papéis cômicos, deu o desempenho de sua carreira como a angustiada Irmã Luke no altamente aclamado Uma Cruz à Beira do Abismo (1959).

    Ao longo de sua carreira, Zinnemann preferiu protagonistas moralmente impulsionados a agir heroicamente em defesa de suas crenças. Hepburn no já citado Uma Cruz à Beira do Abismo e Gary Cooper em Matar ou Morrer (1952), decididos a enfrentar os ultrajantes selvagens com fome de vingança, são dois exemplos proeminentes. Paul Scofield como Sir Thomas More em O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (1966), que trouxe o segundo Oscar de direção ao cineasta, deu um retrato brilhante de um homem impulsionado pela consciência para seu destino final.

    Zinnemann foi um diretor que abraçou todos os gêneros, fazendo incursões no cinema noir, melodrama e musicais, sabendo retirar de seu elenco grandes atuações, e claro, fazendo de seu trabalho um cinema de grandes temas e difíceis lições, compromissado com a razão e a autenticidade.

    Indicações: 7
    Perdidos na Tormenta (1948), Matar ou Morrer (1952), A Um Passo da Eternidade (1953), Uma Cruz à Beira do Abismo (1959), Peregrino da Esperança (1960), O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (1966) e Júlia (1977).

    Premiações: 2
    A Um Passo da Eternidade (1953) e O Homem Que Não Vendeu Sua Alma (1966).

    5. Steven Spielberg (1946 – )

    Nascido em 18 de dezembro de 1946 em Cincinnati, Ohio, Steven Spielberg, assim como muitos diretores de hoje, começou a experimentar o cinema no início de sua vida. Na adolescência, o cineasta fez filmes exibidos somente a sua família. Filho dos Judeus Leah Posner Spielberg Adler, restauradora e pianista de concerto, e Arnold Spielberg, um engenheiro eletricista envolvido no desenvolvimento de computadores, o casal se separaria poucos anos após seu nascimento. Por conta de sua origem judia, sofria preconceito, muitas vezes dos próprios vizinhos.

    Sendo o irmão mais velho de três irmãs, Spielberg usava-as costumeiramente como cobaias em seus filmes caseiros. Aos 13 anos de idade, venceu seu primeiro concurso de curta-metragem com o filme Fuga do Inferno. No mesmo ano, 1963, fez sua estreia profissional com o curta-metragem Amblin’ que conta a história de um casal de jovens que se encontram no deserto de Mojave. O curta tinha duração de 24 minutos, foi exibido no Festival de Filmes de Atlanta e foi premiado em festivais importantes como o de Veneza.

    Apesar do início promissor, Spielberg não conseguiu cursar cinema na University of Southern California, e terminou por cursar literatura inglesa em outra escola. Depois de dirigir alguns programas de TV e curtas, Spielberg finalmente criou seu primeiro longa-metragem profissional Sugarland Express em 1974. Embora o filme não tenha sido um sucesso na bilheteria, o cineasta foi visto como uma estrela potencial por muitos críticos e executivos da indústria. No ano seguinte, no entanto, Tubarão (1975) lançaria Spielberg ao estrelato. Com um orçamento de US$ 8 milhões e que arrecadou uma incrível soma de US$ 191 milhões no ano de seu lançamento.

    Após Tubarão, o próximo filme de Spielberg foi uma ficção científica, Encontros Imediatos de Terceiro Grau (1977), obtendo 6 indicações ao Oscar, incluindo o de Melhor Diretor. Em 1981, foi indicado novamente por Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida (1981), e no ano seguinte, com outro filme de ficção científica, ET – O Extraterrestre (1982). Apenas em 1993, com A Lista de Schindler, Spielberg recebeu seu primeiro Oscar de Melhor Diretor. O filme tinha como personagem central Oskar Schindler (Liam Neeson), um industrial alemão que ajudou a salvar mais de 1.000 judeus durante o Holocausto.

    Em 1999, foi premiado novamente por O Resgate do Soldado Ryan (1999), que lhe rendeu mais 5 Prêmios da Academia. O cineasta continua fazendo filmes bem-sucedidos e segue observado de perto pela Academia, sendo hoje um dos maiores diretores da indústria cinematográfica.

    Indicações: 7
    Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), Os Caçadores da Arca Perdida (1981), E.T. – O Extraterrestre (1982), A Lista de Schindler (1993), O Resgate do Soldado Ryan (1998), Munique (2005) e Lincoln (2012).

    Premiações: 2
    A Lista de Schindler (1993) e O Resgate do Soldado Ryan (1998).

    4. David Lean (1908 – 1991)

    De origem inglesa — mais precisamente em Croydon, Surrey —, e nascido em 25 de março de 1908, David Lean foi educado na rígida Leighton Park School. Contudo, sem obter grandes méritos, abandonou os estudos e foi trabalhar com o seu pai no ofício de contador. Não durou muito na profissão, que achou simplesmente insuportável e em 1927, aos 19 anos, candidatou-se a um emprego nos estúdios Gainsborough, sendo contratado sem salário e por um período de experiência como continuísta, ficando responsável pela claquete. Posteriormente, exerceu sucessivamente as funções de assistente de câmera e terceiro assistente de direção. Desse modo, Lean mergulhou de cabeça no universo cinematográfico, com atenção especial ao trabalho realizado na sala de montagem, com o chefe do departamento, Merrill White, que havia sido montador de Ernst Lubitsch em Hollywood. Sua reputação subiu ainda mais em 1938, quando trabalhou como montador no clássico Pigmaleão, de Anthony Asquith e Leslie Howard, baseado na peça de Bernard Shaw. Um ano depois, esteve de novo com Asquith em Caçadora de Corações, adaptação da comédia de Terence Rattigan, e, subsequentemente, montou importantes filmes britânicos dos anos 40 como Espionagem de Guerra (1940), Major Barbara (1941), Invasão de Bárbaros (1942)e E… um Avião não Regressou (1942).

    Com a rápida projeção como editor, Lean recebeu várias propostas para dirigir filmes de qualidade duvidosa, porém acabou rejeitando-as, temendo que a participação em filmes B viessem a prejudicar sua carreira. A oportunidade de dirigir surgiu quando o produtor criativo Filippe Del Giudice, persuadiu o consagrado escritor Noel Coward a realizar um filme para a sua companhia, Two Cities. Assim surgiu Nosso Barco, Nossa Alma (1942). Lean co-dirigiu o filme com Coward e a parceria se estendeu na adaptação de mais três peças do escritor: Este Povo Alegre (1942), Uma Mulher do Outro Mundo (1945) e o delicado Desencanto (1945), que lhe rendeu três indicações ao Oscar, inclusive na categoria de Melhor Direção. O grande autor inglês Charles Dickens foi a próxima fonte de inspiração para o diretor, que realizou dois clássicos absolutos dos anos 1940 Grandes Esperanças (1946) — indicado a 5 Oscars, inclusive direção — e Oliver Twist (1948).

    No final dos anos 1950 e começo de 1960, Lean se tornou um dos diretores mais consagrados, entregando superproduções bem-sucedidas e icônicas do cinema, como A Ponte do Rio Kwai (1957), que lhe valeu o primeiro Oscar de direção; Lawrence da Arábia (1962), o segundo Oscar da categoria; e Doutor Jivago (1965), pelo qual foi novamente indicado ao prêmio. Em 1970, dirigiu o fracasso de público e crítica A Filha de Ryan, e decidiu se afastar do cinema, retornando mais de dez anos depois para dirigir aquele que seria seu último trabalho, Passagem Para a Índia (1983), indicado a 11 prêmios — inclusive direção e melhor filme — e conquistando dois deles: Peggy Ashcroft venceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante e Maurice Jarre conquistou seu terceiro prêmio de melhor trilha sonora.

    David Lean recebeu, em 1984, o título de Cavaleiro do Império Britânico e faleceu no dia 16 de Abril de 1991, em Londres, pouco tempo antes de começar as filmagens de Nostromo, filme que seria baseado na obra homônima de Joseph Conrad. Lean é citado como referência e principal influência de grandes cineastas como Steven Spielberg e Martin Scorsese.

    Indicações: 7
    Desencanto (1945), Grandes Esperanças (1946), Quando o Coração Floresce (1955), A Ponte do Rio Kwai (1957), Lawrence da Arábia (1962), Doutor Jivago (1965) e Passagem para a Índia (1984).

    Premiações: 2
    A Ponte do Rio Kwai (1957) e Lawrence da Arábia (1962).

    3. Martin Scorsese (1942 – )

    Nascido em 17 de novembro de 1942, em Nova York, EUA, Martin Scorsese é conhecido por seu estilo de cinema meticuloso, além de ser considerado um dos diretores mais importantes de todos os tempos. A paixão de Scorsese pelos filmes começou ainda bem jovem, quando dividia seu tempo entre a comunidade siciliana no distrito de Little Italy em Manhattan, a devoção católica e a obsessão pelo cinema. Essa paixão pelo cinema teve relação com uma forte asma que afligia o diretor. E com uma certa limitação para realizar atividades físicas, passou a maior parte de seu tempo livre na frente da televisão ou no cinema do bairro. Aos 8 anos de idade, já criava seus próprios storyboards. Criado como um católico praticante, durante a juventude cogitou entrar para o sacerdócio, no entanto, a ideia foi deixada de lado ao ganhar uma bolsa de estudos de US$ 500 para cursar cinema na New York University.

    Depois de formado, Scorsese trabalhou brevemente lecionando como instrutor de cinema, tendo como seus alunos Jonathan Kaplan e Oliver Stone. Em 1968, completou seu primeiro longa-metragem, Quem Bate à Minha Porta?, primeira parceria do diretor com o ator Harvey Keitel e a montadora Thelma Schoonmaker. O longa foi indicado ao Festival Internacional de Cinema de Chicago. Em 1973, Scorsese dirigiu Caminhos Perigosos, seu primeiro filme a ser amplamente reconhecido como uma obra-prima. Revisitando personagens de “Quem Bate…”, o filme mostrou elementos que se tornaram marcas comerciais da filmagem de Scorsese: temas pesados, personagens antipáticos, religião, máfia, técnicas de câmera incomuns para o padrão da indústria e música contemporânea. O longa também introduziu uma nova e prolífica parceria na filmografia do diretor ao lado de Robert De Niro.

    Ao longo dos anos 1970 e 1980, Scorsese dirigiu filmes de grande impacto que ajudaram a definir uma geração de cinema. Sua graciosa obra-prima de 1976, Táxi Driver, ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e fixou o status de De Niro como uma lenda viva do cinema. Scorsese e De Niro, mais uma vez juntos, realizaram Touro Indomável (1980), considerado por muitos como um dos melhores filmes de todos os tempos. O longa foi marcado por ser a primeira indicação na Academia como melhor diretor — Táxi Driver foi indicado em Melhor filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Trilha Sonora; enquanto Alice Não Mora Mais Aqui (1974) foi indicada nas categorias de Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz Coadjuvante e premiando Ellen Burstyn na categoria de Melhor Atriz. Em 1986 alcançou seu primeiro grande sucesso de bilheteria com A Cor do Dinheiro, com Paul Newman e Tom Cruise.

    Foi indicado novamente como melhor diretor no final dos anos 1980 pelo polêmico A Última Tentação de Cristo (1988), e dois anos depois pelo clássico Os Bons Companheiros (1990). Durante os anos 2000, Scorsese se revigorou com outra importante parceria, dessa vez com o ator Leonardo DiCaprio, com quem estrelou diversos papéis como protagonista e que o agradece profundamente por mostrar um outro caminho dentro de Hollywood. A Academia indicou-o novamente como diretor por Gangues de Nova York (2002) e O Aviador (2004), mas só recebeu o esperado Oscar de direção por Os Infiltrados, de 2006.

    Em 2011, o cineasta realizou seu primeiro filme 3D, a aventura fantástica sobre o cinema, A Invenção de Hugo Cabret. Embora não tenha sido um sucesso de bilheteria, mostrou ao público e crítica como utilizar um recurso que muitos ainda utilizam de maneira pífia. O longa conquistou 11 indicações ao Oscar, além de um Globo de Ouro para Melhor Diretor. Scorsese permanece trabalhando e é considerado um dos maiores nomes do cinema norte-americano.

    Indicações: 8
    Touro Indomável (1980), A Última Tentação de Cristo (1988), Os Bons Companheiros (1990), Gangues de Nova York (2002), O Aviador (2004), Os Infiltrados (2006), A Invenção de Hugo Cabret (2011) e O Lobo de Wall Street (2013)

    Premiações: 1
    Os Infiltrados (2006)

    2. Billy Wilder (1906 – 2002)

    Samuel Wilder, nasceu em 22 de junho de 1906, em Sucha Beskidzka, Polônia, em uma família de judeus, onde foi apelidado de Billie por sua mãe — ao chegar na América, se tornou Billy. Seus pais possuíam uma bem-sucedida loja de bolos em uma estação de trem de Sucha e tentaram, sem sucesso, persuadir seu filho a se juntar ao negócio familiar. Mas Billy Wilder optou por seguir a carreira de jornalista e se mudou para Berlim. Após trabalhar por um tempo como freelancer, o cineasta foi aceito em um tabloide e sua habilidade no ofício ajudou a desenvolver o interesse como roteirista, uma vez que havia se tornado um amante da sétima arte. Durante os anos 1930, Wilder colaborou com alguns roteiros ainda na Alemanha.

    Com a ascensão do Partido Nazista, Wilder se muda para Paris e acaba realizando seu primeiro trabalho como diretor em Semente do Mal (1934). Antes do lançamento do filme, e com o crescimento da extrema-direita na Europa, Wilder se muda novamente, dessa vez para os EUA. A mãe, a avó e o padrasto do cineasta seriam assassinados no Holocausto anos depois.

    Já nos EUA, Wilder retoma sua carreira como roteirista, vindo a dirigir novamente apenas em A Incrível Suzana (1942). Seu filme seguinte, Cinco Covas no Egito (1943), que assina o roteiro em co-autoria com Charles Brackett — parceiro de Wilder em muitos filmes — , chamou a atenção da Academia, que acabou indicando o filmes para Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Montagem. Seu terceiro filme como diretor, Pacto de Sangue (1944) foi um grande sucesso. Um filme noir, indicado a 7 Oscar, incluindo Melhor Diretor e Roteiro. Co-escrito com o grande Raymond Chandler — o criador do detetive Philip Marlowe e ainda hoje um dos grandes nomes da literatura policial —, Pacto de Sangue não só estabeleceu convenções para o gênero noir (como a iluminação e a narração em off), mas também foi um marco na batalha contra a censura de Hollywood, uma vez que o adultério era um ponto central da trama mas que, no entanto, feria o Código Hays, um conjunto de regras de censura que tinha por objetivo subordinar as produções teatrais e de cinema dos EUA a padrões determinados por um grupo de instituições religiosas.

    Em 1946, Wilder ganhou o prêmio de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, além do ator Ray Milland ter recebido o prêmio de Melhor Ator, por Farrapo Humano (1945). O longa ainda foi indicado nas categorias de Melhor Fotografia, Montagem e Trilha Sonora. Cinco anos depois, Wilder é indicado em 11 categorias por Crepúsculo dos Deuses (1950) e venceu em Melhor Roteiro Original, Direção de Arte e Trilha Sonora. O longa retratava os bastidores de Hollywood, na figura de uma estrela de cinema reclusa e com delírios de grandeza, e de um aspirante a roteirista oportunista.

    No ano seguinte, o cineasta se uniu com Kirk Douglas e fez A Montanha dos Sete Abutres, um conto de exploração midiática sobre um acidente ocorrido em uma caverna no interior dos EUA. Na década de 1950, Wilder também dirigiu duas adaptações de peças da Broadway, o drama de guerra O Inferno Nº 17 (1953), que resultou em um Oscar de Melhor Ator para William Holden, e o romance de mistério escrito por Agatha Christie, Testemunha de Acusação (1957). Ainda nos anos 1950, Wilder fez grandes comédias como Sabrina (1954), indicado em Melhor Direção, Roteiro Adaptado, Fotografia, Direção de Arte, Atriz e vencedor na categoria de Melhor Figurino; O Pecado Mora ao Lado (1955), considerada pela American Film Institute como a melhor comédia americana já feita; e Amor na Tarde (1957), primeira colaboração de Wilder com o escritor-produtor I.A.L. Diamond, uma parceria que continuou até o final da carreira de ambos os homens.

    Se Meu Apartamento Falasse (1960) venceu como Melhor Filme, Direção, Roteiro Original, Direção de Arte e Montagem, além de ter sido indicado em mais cinco categorias, no entanto, a carreira de Wilder diminuí a partir de então, realizando filmes menores como Irma la Douce (1963) e Beija-me, Idiota (1964). Trabalhos como A Vida Íntima de Sherlock Holmes (1970) se tornou conhecido pelos diversos cortes realizados pelo estúdio e até hoje não foi totalmente restaurado. Filmes posteriores como Fedora (1978) e Amigos, Amigos, Negócios à Parte (1981) não conseguiram impressionar os críticos e não tiveram uma boa resposta de bilheteria. Já no fim de sua vida profissional, Wilder reclamou que estava sendo discriminado, devido à sua idade. Infelizmente, os estúdios não o contrataram novamente. Faleceu em 27 de março de 2002, aos 95 anos de idade, vítima de pneumonia após lutar contra diversos problemas de saúde, incluindo câncer. Nos dias de hoje, a filmografia segue sendo revista e resgatada por diretores, roteiristas e amantes do cinema.

    Indicações: 8
    Pacto de Sangue (1944), Farrapo Humano (1945), Crepúsculo dos Deuses (1950), O Inferno Nº 17 (1953), Sabrina (1954), Testemunha de Acusação (1957), Quanto Mais Quente Melhor (1959) e Se Meu Apartamento Falasse (1960).

    Premiações: 2
    Farrapo Humano (1945) e Se Meu Apartamento Falasse (1960).

    1. William Wyler (1902 – 1981)

    William Wyler tinha reputação como o artesão mais minucioso de Hollywood, um perfeccionista que exigia múltiplas tomadas para capturar as nuances de cada cena. Esses métodos tornaram-no o diretor que mais vezes foi indicado ao Oscar (doze para ele próprio como Melhor Diretor, além de diversas outras indicações), vindo a receber três prêmios na categoria citada, empatando em números com Frank Capra, e ficando atrás apenas de John Ford, que detém a incrível marca de 5 Oscars por direção.

    Nascido de uma família judaica em 1 de julho de 1902, em Mülhausen, Alemanha, desde muito cedo, sua mãe levava Wyler e o irmão mais velho para assistir concertos, ópera, teatro e o cinema ainda em fase embrionária. Às vezes, em casa, sua família e seus amigos organizavam teatros amadores para se divertirem. Sua reputação e mau comportamento levaram-no a ser expulso de diversas escolas. Com o advento da Primeira Guerra Mundial, a família acaba se mudando para Paris. Em virtude da situação financeiro, Wyler emigrou para os EUA ainda jovem, para trabalhar na Universal Pictures, em um emprego oferecido pelo primo de sua mãe, Carl Laemmle, que tinha o hábito de ir para a Europa anualmente, buscando jovens promissores para trabalhar na América.

    Por volta de 1923, Wyler chegou a Los Angeles e começou a trabalhar na Universal Pictures limpando e movendo os sets. A ruptura veio quando foi contratado como um segundo editor assistente. No entanto, Wyler frequentemente abandonava o trabalho para jogar bilhar do outro lado da rua ou organizar jogos de cartas durante o horário de trabalho, o que acarretou em sua demissão. Depois de alguns altos e baixos, Wyler foi recontratado e se concentrou em se tornar diretor. Começou como terceiro assistente de direção e, em 1925, torna-se diretor de filmes B. Em 1929 chama a atenção com o filme Os Três Padrinhos (1929), e pouco a pouco se torna uma referência dentro de Hollywood nos anos seguintes.

    Nos anos 1930, faz filmes seminais como O Conselheiro (1933); A Boa Fada (1935); Infâmia (1936); Fogo de Outono (1936), indicado em 6 categorias, incluindo Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado; Meu Filho é Meu Rival (1936), co-dirigido com Howard Hawks e Richard Rosson; Beco Sem Saída (1937), indicado a quatro categorias, incluindo Melhor Filme; Jezebel (1938), vencedor do Oscar de Melhor Atriz para Bette Davis, e Atriz Coadjuvante para Fay Bainter; e O Morro dos Ventos Uivantes (1939), que lhe rendeu sua segunda indicação como Melhor Diretor.

    Wyler é indicado em mais dois momentos — A Carta (1940) e Pérfida (1941) — até receber seu primeiro Oscar em Rosa de Esperança, de 1942. O longa ganhou seis prêmios da Academia, tornando-se o melhor sucesso de bilheteria de 1942. Nessa mesma época, Wyler decide servir como oficial na Aeronáutica durante a Segunda Grande Guerra, realizando diversos documentários, incluindo The Fighting Lady (1944), vencedor do Oscar. Com o fim da guerra, fez um de seus maiores filmes, o antibélico Os Melhores Anos de Nossa Vida (1946), vencedor de 7 oscar, incluindo Melhor Direção.

    Durante os anos 1950 fez filmes magistrais como Tarde Demais (1949), indicado como Melhor Diretor; Chaga de Fogo (1951), novamente indicado como Melhor Diretor e com uma bela performance de Kirk Douglas; Perdição por Amor (1952); A Princesa e o Plebeu (1953), que tinha como roteirista Dalton Trumbo, mas que só foi creditado anos depois por constar na lista negra do Macartismo por ser um comunista declarado; Horas de Desespero (1955); Sublime Tentação (1956); e Da Terra Nascem os Homens (1958). Mas apenas em 1959 Wyler receberia seu último Oscar de diretor, no épico Ben-Hur, ganhador de mais 10 Oscar.

    Em 27 de julho de 1981, faleceu vítima de um ataque cardíaco, aos 79 anos de idade. Wyler até o fim de sua carreira entregou filmes inesquecíveis como Infâmia (1961); O Colecionador (1965); Funny Girl: A Garota Genial (1968); e A Libertação de Lord Byron Jones (1970). Seu trabalho e dedicação como diretor é lembrado por vários atores, desde Bette Davis a Charlton Heston, que sempre ressaltaram seu talento e criatividade, além de ser o diretor com maior número de performances de atores indicados ao Oscar do que qualquer outro na história. Sua técnica de profundidade de campo é utilizada, estudada e copiada ao longo de décadas por diversos diretores.

    Indicações: 12
    Fogo de Outono (1936), O Morro dos Ventos Uivantes (1939), A Carta (1940), Pérfida (1941), Rosa de Esperança (1942), Os Melhores Anos de Nossa Vida (1946), Tarde Demais (1949), Chaga de Fogo (1951), A Princesa e o Plebeu (1953), Sublime Tentação (1956), Ben-Hur (1959) e O Colecionador (1965).

    Premiações: 3
    Rosa de Esperança (1942), Os Melhores Anos de Nossa Vida (1946) e Ben-Hur (1959).

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  • Agenda Cultural 63 | Mindhunter, Quadrinhos Europeus e Cinema

    Agenda Cultural 63 | Mindhunter, Quadrinhos Europeus e Cinema

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Filipe Pereira (@filipepereiral) retornam para um novo episódio da Agenda Cultural – depois de um longo inverno – para comentar sobre o que rolou de mais interessante nos cinemas em janeiro, além de comentar sobre a série Mindhunter e dois quadrinhos europeus lançados pela editora SESI-SP.

    Duração: 102 min.
    Edição: Caio Amorim
    Trilha Sonora: Caio Amorim
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Séries

    Review Mindhunter – 1ª Temporada
    Livro sobre a série: Mindhunter: O Primeiro Caçador de Serial Killers Americano, de John Douglas e Mark‎ Olshaker – Compre aqui

    Cinema

    Crítica Viva: A Vida é Uma Festa
    Crítica 120 Batimentos Por Minuto
    Crítica Me Chame Pelo Seu Nome
    Crítica The Square: A Arte da Discórdia
    Crítica Jumanji: Bem-Vindo à Selva
    Crítica Artista do Desastre
    Crítica The Post: A Guerra Secreta

    Quadrinhos

    Blacksad: Algum Lugar em Meio às Sombras – Volume 1 – Compre aqui
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  • Crítica | The Post: A Guerra Secreta

    Crítica | The Post: A Guerra Secreta

    Filmes sobre feitos jornalísticos tem ganhado um peso grande recentemente. Foi assim com Spotlight – Segredos Revelados, e talvez tenha sido isso que fez Steven Spielberg pensar em finalmente trazer à luz a historia de The Post: A Guerra Secreta, onde se conta a famosa história por trás da publicação do Washington Post de um estudo encomendado pelo ex-secretário de defesa Robert McNamara a respeito da participação americana na Guerra do Vietnã.

    O filme se fundamenta dramaticamente na relação entre dois personagens, Ben Bradlee, vivido pelo antigo parceiro de Spielberg, Tom Hanks, editor do jornal, e Katharine Graham, proprietária do Washington Post – feita por uma inspirada Meryl Streep, que consegue variar entre a mulher que fica do lado de fora do jornal mas ainda assim é preocupada com o que veiculam no noticiário de sua família e a insegurança de não possuir verba suficiente para pagar todos os custos das operações do periódico. As discussões entre os dois guardam as partes mais importantes e divertidas dos filmes, e ajudam a montar o quadro de fatos, como as questões envolvendo a concorrência com outros periódicos e a dificuldade de se manter vivo apesar do boicote do então presidente Richard Nixon.

    Esse é um filme bem mais dinâmico que parte da filmografia recente do diretor, em especial Cavalo de Guerra e Lincoln, embora não seja tão envolvente emocionalmente quanto Ponte de Espiões, certamente rivaliza com esse em peso e qualidade. Há um pequeno problema de ritmo, uma vez que a primeira parte é um bocado arrastada, mas isso de certa forma conversa um pouco com o cotidiano. Além disso, duas coisas impressionam, que são os comediantes e as perucas que visam caracterizá-los. Além disso, é curioso ver o comediante David Cross fazendo um papel sério, assim como Bob Odenkirk, ainda que este esteja mais habituado com personagens dramáticos.

    A construção do quadro político dos Estados Unidos é muito bem exemplificado, sobretudo na personificação de Bob McNamara, de Bruce Greenwood, que na primeira cena demonstra ser um sujeito contra o conflito no Vietnã, contudo, em aparições públicas precisa falar a favor do embate. A forma dúbia como ele age e a falta de certeza de sua participação no vazamento de informações sigilosas para os jornais casa muito bem com o clima de paranoia que imperava durante a Guerra Fria.

    Próximo de se decidir finalmente se a coisa será publicada ou não, há enfim o apogeu do jornalismo, com Katharine decidindo seguir o conselho de seu velho amigo. Spielberg torna toda a espera e suspense sobre as possíveis punições aos responsáveis em um thriller dos 1970 – inclusive referenciando visualmente o clássico de Alan J. Pakula, Todos os Homens do Presidente – e mostra em imagens o quão bonito e idílico pode ser o jornalismo romântico, ao mesmo tempo que não esquece do pragmatismo do cotidiano vivido pelos jornalistas. O tom denunciativo de The Post: A Guerra Secreta é muito bem-vindo, em espacial ao enxergar semelhanças básicas com o que ocorre atualmente no mundo.

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