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  • Crítica | King Kong (2005)

    Crítica | King Kong (2005)

    Peter Jackson é um diretor diferenciado, na época em que fazia filmes B na Nova Zelândia como Trash: Náusea Total ou Fome Animal ele mostrava um grande amor pelos filmes de terror de baixo investimento e frutos do exploitation, o mesmo ocorre quando adaptou os romances de J.R.R. Tolkien, demonstrando um apreço ao texto original. Quando ele decidiu lançar a sua versão de King Kong, também foi assim. As críticas em volta da sua produção foram muitas, mas é indiscutível que existe um esforço para expandir a trama e a abordagem do King Kong de 1933.

    Quando foi lançado para o cinema, o longa já era muito extenso, e ao ser lançado para o mercado caseiro ainda teve o acréscimo de 14 minutos adicionais no que foi conhecido como a Versão Estendida do diretor. O filme é uma ode ao cinema, seja na apresentação que transforma o logo da Universal no que era comum em 1933 ou nas referências que o Carl Denham de  Jack Black faz a um certo Cooper, na verdade Merian C. Cooper, produtor e diretor do primeiro filme, além disso, o nome do navio é Venture Surabaya, em atenção ao cenário do começo de King Kong de 1976, que teve uma estratégia diferente em contar sua história.

    O roteiro Jackon, Fran Walsh e Philippa Boyens expande e dá substância ao universo criado, além de tempo de tela e propósito para os personagens humanos, de um modo que as outras encarnações não deram. As tramas humanas não são meros pretextos para ludibriar o macaco ou o público, embora passem longe de serem perfeitas, pois todos eles acabam com envolvimentos sentimentais em demasia, fazendo com que o filme soe melodramático em excesso.

    Da parte do elenco, não há muito o que reclamar. Por mais artificial que alguns diálogos pareçam (especialmente os da tripulação do Venture), Black, Adrien Brody, Naomi Watts, Thomas Kretschmann, Colin Hank, Jamie Bell e Kyle Chandler tem desempenhos assertivos. O design de produção unido ao esforço dramático dos atores criam uma atmosfera única, as vezes sabotada pelos maneirismos que Jackson emprega e pela falta de lógica no comportamento de criaturas selvagens.

    O macaco é visualmente impressionante. Os pelos, textura e tamanho aliado a atuação que Andy Serkis emprega dá peso e realidade ao personagem. Se Kong deveria agir como um gorila gigante ou como um outro passo evolutivo da espécie é uma discussão válida, mas dentro da escolha narrativa que Jackson faz, Serkis entrega um desempenho excelente, esforço que reforça a ideia de que natureza intocada é algo belo e harmônico, que só se mostra destrutiva quando ocorre a ação do homem, supostamente, civilizado.

    As cicatrizes, os dentes quebrados e o caráter arredio são mostras de que Kong lutou muito para sobreviver. O cuidado em tornar uma criatura digital lidar com o mundo selvagem e urbano foi bem retribuído, e são poucas as cenas em que os efeitos digitais parecem falsos. Na parte da cidade, o filme segue com os mesmos problemas ligados a pieguice. Certamente, King Kong de Peter Jackson é repleto de boas intenções e poderia ser tão querido quanto as encarnações de John Guillermin e Cooper foram na sua época, mas acabou se tornando o primeiro de vários filmes do diretor neozelandês que foram encarados como enfadonhos, ainda que seja repleto de méritos.

  • 10 Grandes Cenas de Ação na Água

    10 Grandes Cenas de Ação na Água

    James Wan conseguiu um milagre, dentro do hall de deuses da DC Comics: Aquaman, o épico mitológico com Jason Momoa, já faz parte das vinte maiores bilheterias do mundo, em março de 2019. Até então, filmes com grandes e longas cenas subaquáticas exigiam um nível de aprimoramento técnico muito difícil de ser alcançado, transformando o espetáculo cinematográfico em algo falho, e por consequência, não aclamado pelo público – com duas exceções modernas, apenas: Titanic, e a franquia Piratas do Caribe.

    Mas desde o início do Cinema, a imensidão dos setes mares fascina os seus cineastas, e agora, a sétima-arte ganha o aval de se aventurar no oceano com grande excelência técnica, cinquenta anos após se aventurar com realismo inédito no espaço com 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Chegamos antes nas nuvens, para depois descermos aos corais mais abissais, e registrá-los, em mil contextos diferentes. A seguir, dez grandes cenas de ação com o fator aquático dando o tom na situação.

    O Furacão (John Ford, 1937)

    A cena em que o homônimo furacão finalmente ataca uma cidade, a beira-mar, precisa ser reconhecida pelas plateias do século XXI. Sem contar com CGI, e apenas efeitos práticos, a força dos ventos e das ondas, e das imagens que fazem uma vila ser engolida pelo mar, tornam o tsunami visto nesse antigo filme um absurdo inacreditável, merecidamente reconhecido no Oscar, ainda nos primeiros anos do prêmio. A cena dura longos minutos, é gigantesca, e o nosso queixo demora o triplo para voltar ao normal quando tudo acaba. Inesquecível.

    20.000 Léguas Submarinas (Richard Fleischer, 1954)

    Longe do conforto das marés de uma praia virgem, o capitão Nemo e sua tripulação arredia enfrentam um monstro no coração dos oceanos, num grande uso (na época, pioneiro) de efeitos especiais. Evidenciando o carisma dos grandes mitos que surgem dos mares, a luta de meia-dúzia de homens em cima de um submarino contra os tentáculos de um Kraken diverte e nos assombra, dado o rigor técnico da cena. É o homem tentando se sobressair diante das forças da natureza, desconhecidas, vindas de uma fosse oceânica qualquer para nos prender a atenção.

    Ben-Hur (William Wyler, 1959)

    Muitos críticos e espectadores mais saudosos consideram a batalha naval entre exércitos, em alto-mar, uma das maiores cenas de ação já feitas no Cinema, respeitando assim não só os limites técnicos quebrados pelo grande filme na época, mas a própria potência atemporal do embate flamejante. Aqui, o ataque de navios supera, com facilidade, o espanto que foi a mesma batalha em 1925, na primeira versão do colosso americano e religioso, vencedor de 11 Oscars, anos depois, e tornou-se insuperável pela nova versão de 2016 da obra – e que ninguém prestou atenção, é claro.

    Tubarão (Steven Spielberg, 1975)

    Na primeira aparição pública do monstrão de Steven Spielberg, a morte que espreita a distância e cheira o sangue das vítimas, sob a alcunha sonora do mestre John Willians, nasce então parte da essência sugestiva, ousada e grandiloquente do cinema blockbuster que norteia os grandes espetáculos, até hoje – em tempos de monopólio de super-heróis, de robôs gigantes que só fazem guerrear. O tubarão branco irrefreável usa da água como o assassino que usa da faca tal sua ferramenta, e assim, faz deste o elemento intrínseco a sua sobrevivência, predatória por natureza.

    Titanic (James Cameron, 1997)

    O icônico naufrágio do histórico transatlântico dura quase uma hora, com os ratos animais abandonando o bote antes dos ratos humanos, até que a construção faraônica racha como uma laranja, e o que sobra, são bolhas na superfície gelada do mar, antes dos primeiros mortos começarem a subir, e boiar. É o poder de Poseidon e o seu reino fazendo submergir a ganância imperiosa do homem, transformando tudo em nada. Nisso, James Cameron, o cineasta da síndrome de Deus, conseguiu o impossível: filmou a megalomania de um romance em toda as suas formas mais belas e trágicas, e com isso, reinventou em alto-mar o poder dramático de uma cena, no caso, de ação.

    O Resgate do Soldado Ryan (Steven Spielberg, 1998)

    O dia D, considerado por muitos historiadores como o mais importante da Segunda Guerra Mundial, foi o lendário desembarque das tropas aliadas a Normandia, entre soldados americanos, belgas, canadenses e até neozelandeses, contra a Alemanha nazista. No clássico filme de Steven Spielberg, a comemorar vinte anos em 2019, o momento exato da maior invasão por mar da história é retratado, numa verdadeira ode aos efeitos sonoros e visuais que uma cena aquática pode ter. A imersão é impecável, enquanto soldados são abatidos e fogem como podem, enquanto a experiência audiovisual se torna inesquecível.

    O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (Peter Jackson, 2001)

    Quando Frodo, o puro Hobbit do condado, é ferido, a belíssima elfa Arwen se encarrega de curá-lo, mas é perseguida por espíritos malignos até um riacho, o mais normal que se pode encontrar da Terra-Média. As figuras negras em seus cavalos tentam pegá-la, e ela invoca espíritos do rio que os abatem, em ondas gigantes que fazem engolir o inimigo. Simbólica a própria essência fantástica da mitologia de O Senhor dos Anéis, a cena é de uma beleza descomunal, sendo uma das pequenas grandes cenas de ação da trilogia de Peter Jackson.

    Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (Gore Verbinsky, 2007)

    Jack Sparrow, David Jones e toda a sua trupe de piratas e monstros que os seguem em pé de guerra, dentro de um redemoinho incomensurável, no meio do nada, com as duas pontas do horizonte unindo a tempestuosa e megalomaníaca cena, exagerada até o talo. Eis o ápice da divertida e cafona trilogia dos Piratas da Disney, com canhões, espadas e juras de amor regando a fúria e a loucura do grande clímax da aventura, enquanto, é claro, o mundo explode em fogo, água e trovões.

    Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve, 2017)

    Temos aqui uma grande cena de luta física, neste mundo frio e distópico de Blade Runner, filmada pelo deus das lentes, Roger Deakins. Tentando defender o já velho e cansado Rick Deckard, o mais famoso caçador de androides ainda vivo, das mãos de sua sequestradora, o forte e jovem androide K luta com outra de sua espécie, a letal agente Luv, num belíssimo jogo de luzes entre as ondas. Se antes as lágrimas se juntavam com a chuva, aqui é o sangue falso de um robô se mistura com a maré. Eles foram programados para não falhar em nada que os humanos fazem, e não é o peso da água que os fará perder, um para o outro. Grande luta.

    Aquaman (James Wan, 2018)

    Quando o herói atlante e sua rainha, a poderosa Mera, se encontram no meio do oceano, perdidos em meio a uma fortíssima tempestade, em um pequeno barco pesqueiro, são atacados por criaturas humanoides em forma de piranha. Mortais e agressivas em seu ataque, o casal tenta escapar delas como pode, usando e abusando de seus poderes, e rendendo uma das mais formosas cenas em alto mar já produzidas. O espetáculo visual impressiona, esnobado do Oscar de efeitos especiais como atestado de loucura da Academia, sendo um momento marcante em uma tela gigantesca de Cinema.

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  • Crítica | Máquinas Mortais

    Crítica | Máquinas Mortais

    Peter Jackson desde que fez a trilogia Senhor dos Anéis mudou radicalmente o caráter de sua filmografia, largando os filmes de terror despretensiosos e criativos para fazer filmes grandiosos, que vez por outra incluíam uma fantasia grandiloquente.A adaptação de Máquinas Mortais, dos livros de Phillip Reeve tinha  um caráter assim, e a participação de Jackson ocorreu não só na produção, mas também na colaboração do roteiro, junto a Fran Walsh e Philippa Boyens. Ao menos nos primeiros momentos os efeitos especiais são bem empregados, com a perseguição de duas cidades sob rodas ocorrendo em um cenário desértico, que faz o visual steampunk sobressair.

    A historia contada pelo diretor Christian Rivers (ele fez os storyboards de Senhor dos Anéis e O Hobbit) se passa no futuro, e é contada a partir de muitas referencias a cultura popular, não só as obras mas também aos comportamentos. O modo como o homem vive é bem diferente e não se perde tempo explicando como ele chegou até ali e como funcionam as classes de trabalhadores e burgueses. Isso pode parecer positivo, pois o texto é extremamemente expositivo, assim como boa parte das cenas de ação soam genéricas.

    A historia é narrada por Tom Natsworthy , um rapaz interpretado por Robert Sheehan e que parece uma versão genérica e menos talentosa de Justin Long. Ele é bem próximo da bela Katherine (Leila George), uma menina que parece ter interesse amoroso por ele, mas o próprio filme esquece isso. Depois que Londres engole outra cidade, entra outra menina na equação, Hester Shaw (Hera Hilmar) , e seu desejo é assassinar Thaddeus Valentine (Hugo Weaving), o benfeitor da cidade e pai de Katherine. A grande questão é que a soberania tirânica da cidade inglesa não dá margem para que qualquer pessoa possa considerar o seu governante como alguém heroico, mas ainda assim é unanimidade de que ele é um sujeito bom e benevolente.

    A historia de desdobra de uma maneira tão obvia e repleta de clichês que chega a assustar. Mesmo os bons conceitos são sub utilizados e esquecidos em meio a trama. As tentativas de piadas são falhas, o modo como de critica os hábitos humanos atuais como o uso de telas para comunicar (TV, celular, computador etc) soa vazio, assim como algumas das piadas, em especial nas auto-referencia, como quando aparecem estátuas dos Minions e os estudiosos dizem que eles eram divindades dos terráqueos antigos, basicamente porque este e Meu Malvado Favorito e suas continuações são da Universal, via Illumination, o estúdio que a produz.

    Quase tudo é gratuito, as referências não funcionam, a auto propaganda é gratuita e irritante e mesmo com uma longa duração, de mais de duas horas, não há desenvolvimento de qualquer personagem fora o casal de protagonistas. A maioria dos personagens periféricos parecem genéricos de lutadores de Matrix, da versão de A Máquina do Tempo de 2002 ou dos filmes de ação protagonizados por The Rock. Nem a estética steampunk é utilizada de uma maneira inteligente, até isso que era uma ideia boa, fica extremamente gratuito e jogado, em meio a bagunça que o filme é.

     A ideia de discutir as relações de poder poderia ser boa, caso não fosse tratado de maneira tão rasa, quanto é. A mitologia também soa confusa e o ritmo do longa talvez seja o maior de todos os defeitos da trama, aparentemente Rivers tem o mesmo problema que Jackson em terminar suas historias, uma vez que com quarenta minutos de filme ele já consegue apresentar uma espécie de point-line. A perspectiva para a franquia é de que pare neste capítulo e não sejam mais adaptados os outros livros, dado que não vem rendendo bilheteria, bem como o feedback da crítica é negativo, e não é por menos, Máquinas Mortais erra em quase todas as suas propostas, o filme não é bonito visualmente, as atuações são bastante fracas e histriônicas, não há personagens carismáticos e há muita gordura em seu texto final.

  • Crítica | O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

    Crítica | O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

    A “beleza” da Cidade do Lago em chamas é a síntese do que funcionou na “nova” trilogia de Peter Jackson, cujos aspectos visuais superam, e muito, o conteúdo da adaptação. A Batalha dos Cinco Exércitos encerra, enfim, a enfadonha trajetória da prequência de Senhor do Anéis, começando pelo que deveria ter sido o encerramento: a morte do Dragão pelas mãos de Bard (Luke Evans), o herói resignado. Ainda neste início, a primeira das (muitas) cenas lamentáveis ocorre mostrando os cidadãos tentando se redimir pela honra do guerreiro, que combateu uma única vez e que é o único lúcido o suficiente para saber que não merece louros.

    A trama se divide em núcleos, como em uma novela. Da parte da Montanha, Thorin (Richard Armitage) se mostra entorpecido pelo ouro e pela Joia Real, a Pedra de Arken. O presságio da guerra inicia-se, mas a multiplicidade de  núcleos, que funcionou perfeitamente nos outros filmes, não repete seu êxito, sendo esta parte a menos interessante no início, especialmente pela proximidade da luta dos que protagonizam a alta classe dos personagens da outra trilogia.

    Apesar do ótimo começo, a batalha para salvar Gandalf (Ian McKellen) termina mal. Até o exagero de poder da parte de Galadriel (Cate Blanchett) e a boa luta de Elrond (Hugo Weaving) e Saruman (Christopher Lee) contra os fantasmas não têm qualquer conteúdo redentório se comparados ao desdobramento da aparição de Sauron, um acinte que já se mostrou errado em A Desolação de Smaug e que se repete desnecessariamente neste.

    O núcleo dos anões torna-se novamente interessante quando os elfos chegam, postados para a guerra. Como no livro, Thorin tem seus motivos justos para não querer dialogar com ninguém, mas sua postura voltada a um comportamento egoísta e maquiavélico empobrece o personagem, e especialmente a sua causa. O torpor do ouro causa uma febre no personagem, uma doença maligna mal apresentada e que facilmente convence os outros 12 anões a seguirem por tal caminho.

    O filme começa a mudar de caráter a partir da apresentação dos exércitos, em bravatas ditas pelo núcleo dos anões de Dain (Billy Connolly) e pelos elfos de Thranduil (Lee Pace), tão  logo esquecidas quando o ódio em comum pelos orcs de Azog se manifesta. Os efeitos especiais são postos à prova, não decepcionando quem os espera. A batalha é sanguinária, com mais figuras lutando entre si do que em um jogo de MMO RPG, fazendo com que os fanboys fiquem liberados a ter orgasmos múltiplos.

    O confronto ganha um caráter ainda mais épico ao finalmente apelar para o guerreiro mais esperado de toda a fita entrar em ação. Após uma reflexão do rei anão, Thorin finalmente vai à luta. Sua armada cavalga em cima de seus bodes montanheses, em busca do antigo rival.  Apesar de serem poucos, o apoio moral dado após a entrada do Rei e de seus próximos ao combate é incomensurável, e até empolgante.

    A postura que Legolas (Orlando Bloom) assume é vergonhosa. O romance não concebido de Tauriel (Evangeline Lily) e Kili (Aidan Turner) joga toda a parceria do arqueiro com Gimli em um tremendo mar de irrelevância. A comicidade excede seus limites na demonstração da velocidade de Legolas, tal como no combate mais esperado da minissaga, que se deu entre o rei anão e o Orc, que feriu seus antepassados.

    Mesmo com tantos defeitos, o embate é bastante épico. O engrossamento do caráter importante de batalhas, fodacidades pensadas por Jackson, finalmente logrou algum êxito, não o suficiente para justificar toda a embromação anterior, nem a banalização dos três maiores sucessos de sua carreira, que certamente não possuem qualquer semelhança com esta obra, graças à presunção, cafonice e ganância de seu feitor, é claro.

    A longa espera pelo velório do rei ao menos encerra a visita do cinema a Terra Média, levando-se em conta que, por enquanto, nem O Silmarillion, nem outras obras tolkienianas estão licenciadas para os estúdios. Aos fãs ardorosos, a despedida pode ser dolorosa, e o é, desde que se decidiu esticar aos montes uma história de 300 páginas, cujas lágrimas não são plenamente justificáveis; nem mesmo ante o aviso do Mago a Bilbo Bolseiro (Martin Freeman), com ciência da guerra que está prestes a ocorrer, diante de um futuro sequencial que já tem seu espaço nos anais do cinema. A porta da casa de Baggins se abrindo, para receber, enfim, seu morador, retorna, Lá e de volta outra vez.

  • Crítica | O Hobbit: A Desolação de Smaug

    Crítica | O Hobbit: A Desolação de Smaug

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    Depois de dois filmes da nova trilogia de filmes de Peter Jackson-  baseada no livro O Hobbit, de J.R.R. Tolkien – totaliza-se, até agora, 343 minutos de filme, sendo que mais 150 estão a caminho. Após o imenso sucesso da trilogia O Senhor dos Anéis, a expectativa para O Hobbit era grande, e após um filme mediano na estreia, a segunda parte consegue decepcionar ainda mais.

    Apesar de se chamar O Hobbit, o personagem principal, Bilbo, vivido novamente pelo ótimo Martin Freeman, aparece menos tempo na tela do que deveria. Em grande parte do filme fica alheio aos acontecimentos, o que se agrava ainda mais quando os elfos entram em cena. Seu grande momento é a boa cena de diálogo com o dragão Smaug.

    O sucesso do personagem Legolas (e também do ator Orlando Bloom) na trilogia anterior fez Jackson trazê-lo de volta para protagonizar boa parte das também excessivas cenas de ação, que, apesar de bem feitas, soam desnecessárias pois repetem à exaustão movimentos rápidos e certeiros, mostrando o que já está mais do que estabelecido: elfos são excelentes guerreiros. Uma personagem nova, Tauriel (Evangeline Lily), também pouco acrescenta ao se engajar em um triângulo amoroso mal explicado e praticamente servir ao papel que Liv Tyler ocupou na trilogia original.

    Apesar de tanto tempo, também não conseguimos aprender o nome de metade dos anões. São muitos personagens e quase nenhum tempo de projeção é gasto para estabelecê-los e dar a eles alguma importância e personificação. Tudo o que vemos são eles correndo e ficando dependentes de alguém para salvá-los. Até mesmo Thorin, mostrado como líder no primeiro filme, tem seu papel reduzido neste. Cenas como a fuga dos barris na correnteza, apesar de divertidas, só acrescentam ao filme mais ação, não contribuindo em nada ao desenvolvimento da história.

    Gandalf também é imensamente diminuído na trama. O mago inicia uma investigação que destoa da proposta original do filme – de acompanhar Bilbo e os anões, os quais fazem questão de lembrarem a todo instante o quão incompetentes são sem a presença do mago, que acaba preso por Sauron em outra ponta solta para se resolver no terceiro filme. Aliás, outra explicação necessária é a de como Gandalf descobriu tudo sobre Sauron 60 anos antes dos eventos contados em Senhor dos Anéis e não fez absolutamente nada durante esse tempo.

    A sequência da cidade do lago conta com o maior excesso. Não havia motivos para entrarem escondidos no povoado. Não havia motivos para se esconderem. Não havia motivos para tentarem roubar armas. Ou seja, não havia motivo para essa parte do filme ser longa e ocupar tanto espaço na história. A população e seu governante ficam a favor dos anões desde o início, o que desmonta totalmente o fraco suspense construído anteriormente. Remetendo também à trilogia original, mais especificamente Theoden e Grima, se estabelece na relação entre o Mestre (Stephen Fry) e Alfrid (Ryan Gage) um pastiche da pior espécie.

    Jackson é um grande fã do universo criado por Tolkien, mas parece não dominar o básico em contar histórias. Suas tentativas de criar suspense raramente surgem efeito, e em momento algum conseguimos acreditar no risco que os personagens estão passando. Exemplo disso é quando os anões passam mais de um ano viajando e mostram desistir de tudo ao não conseguirem abrir o portão secreto após 5 minutos de tentativas, o que Bilbo consegue ridiculamente de forma fácil, rápida e conveniente.

    Ao entrar no castelo, Bilbo é encarregado de roubar a pedra, e uma boa sequência é mostrada com Smaug, caracterizado de forma tão imponente que sentimos o seu peso e tamanho a cada passo em um CGI que em poucas vezes é tão bem feito, mas que esconde através de efeitos a voz do excelente Benedict Cumberbatch. E mesmo assim, após toda essa meticulosa continuidade, tudo é transformado em outra cena de ação com os anões fugindo miraculosamente de Smaug sem nenhum arranhão e com um plano que soa ridículo: o de afogar em ouro um enorme dragão voador de pele grossa. Tudo isso para o filme acabar abruptamente e esperarmos mais um ano pelo final da história.

    Ao final da exibição, o que sobra, além do cansaço físico e mental, é uma sensação de que, apesar da longa duração, não entendemos muito bem por que Bilbo saiu em viagem, quem é cada anão, suas particularidades, sem entender muito bem o papel de cada um. Sobra também uma sensação incômoda de um amontoado de histórias e personagens aglutinados de forma artificial em algo que parece uma história, mas que na verdade é uma desesperada tentativa de um diretor voltar a ser falado no circuito comercial e no nicho de fãs que o lançou ao estrelato e que também o fez ganhar muito, mas muito dinheiro.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

    Crítica | O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

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    Aproximadamente 9 anos atrás, saíamos da projeção de O Retorno do Rei emocionados tanto pela história, adaptada de maneira irretocável para o cinema, quanto por ter acabado aquela épica aventura para salvar a Terra Média. O questionamento de quando viria a adaptação para o cinema de O Hobbit era constante, e problemas dos mais diversos com a produção tornaram o hiato entre os filmes ainda maior. Mas, depois de uma longa e conturbada espera, podemos finalmente apreciar no cinema mais essa aventura baseada em uma obra de J.R.R. Tolkien, dirigida novamente por Peter Jackson, com roteiro de Peter Jackson, Guilhermo del Toro,  Philippa Boyens e Fran Walsh.

    Para os não familiarizados com a história, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada se trata de uma aventura vivida por Bilbo Bolseiro (Martin Freeman/Ian Holm), em que ele se une ao mago Gandalf (Ian McKellen) e a um grupo de 13 anões, liderados por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage). O objetivo da comitiva é retomar o Reino Anão de Erebor e o tesouro dos anões do dragão Smaug. Nessa jornada pela Terra Média, enfrentarão os mais diversos inimigos e contratempos, desde orcs, lobos, armadilhas na floresta e tudo mais que uma boa aventura pode lhes proporcionar.

    A primeira coisa a se notar é que, assim como a trilogia Senhor dos Anéis não permitia uma análise final sobre cada um dos filmes individualmente, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada também não pode ser pensado apenas como um filme único. Seu roteiro, planejamento e montagem foram para 3 filmes. Portanto, o arco dramático da história também fica à mercê de suas continuações, apesar de também ter que se comportar e funcionar de alguma forma como um filme sozinho.

    Outro ponto importante, ainda sobre a adaptação, é que com O Hobbit uma lógica comum do cinema foi invertida. Como se trata de apenas um livro de aproximadamente 300 páginas, dividido em 3 filmes, nesse caso foram adicionadas personagens, passagens ou elementos, quando o natural seria que fossem retiradas ou aglutinadas. Alguns desses elementos foram resgatados de O Senhor dos Anéis, outros repensados de Silmarillion. Essas inserções, ao mesmo tempo em que podem enriquecer ainda mais esse universo de criaturas fantásticas, podem também levar ao excesso, com situações jogadas apenas pelo intento de se criar algo ainda maior do que o original. Infelizmente, é o caso desse filme.

    O maior problema de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada reside justamente na extensão de tramas, subtramas e flashbacks adicionados ou transcritos de maneira quase literal das páginas para o cinema. É nítido que os 169 minutos de exibição são muito mais extensos do que deveriam, e já suficientes para questionar a necessidade de 3 filmes para contar essa história. Apesar de contar com bons trechos cômicos, adaptados de maneira fiel ao livro – por exemplo, a chegada dos anões à toca de Bilbo -, a primeira metade do longa é um convite ao bocejo constante. Muitos são os momentos em que a trama gira em torno de si mesma sem levar a lugar algum e, para os que conhecem a obra, fica a constante expectativa para que chegue logo algum momento chave do livro, sem se importar realmente com esses elos da narrativa. Já para os que não conhecem, não posso entrar na mente de alguém nessa situação para saber exatamente, mas acredito que a experiência deve ser algo próximo à primeira leitura dos capítulos de A Sociedade do Anel em que Tom Bombadil dá o ar da graça. Ou seja, tedioso e andando em círculos.

    Entretanto, se a primeira metade é em grande parte desinteressante e sonolenta, do trecho final não se pode dizer o mesmo. Todas as batalhas – que acontecem com grande frequência – são muito bem elaboradas e trazem de volta a atenção do espectador. Um dos trechos icônicos, a briga dos gigantes de pedra, nada menos do que sensacional pode definir, e o aguardado trecho mais interessante dessa parte da história, as “Charadas no Escuro”, foi brilhantemente adaptado para as telas. Vemos um Gollum (Andy Serkis) ainda mais perturbado e ambíguo. Méritos aqui tanto para a atuação de Serkis, que se mostra ainda melhor e focada na construção desse personagem. E méritos também para os efeitos visuais, que deram ainda mais brilho e vivacidade para ele, confirmando o posto como uma das melhores composições entre CG por cima de uma atuação.

    Sobre o visual do filme – e nesse ponto é bom ressaltar que a versão a que assisti foi 2D normal, já que o filme tem 4 diferentes: 2D, 3D 24 FPS, 3D 48FPS e 3D Imax. Nessa versão, como já era de se esperar, todo o aspecto visual do filme é ótimo, desde a belíssima fotografia – capturando tanto os belos campos abertos da Nova Zelândia, que servem como palco para o filme, quanto cenas internas, com cenários trabalhados nos mínimos detalhes e que funcionam não só visualmente, para compor a perfeita ambientação e imersão na história, mas também dando vida à Terra Média, tornando-a novamente um personagem, talvez até o maior e mais importante personagem das histórias de Tolkien. Por mais fantasiosa que seja a história, com o bom trabalho executado em sua composição ela se torna crível.

    Outro aspecto interessante é a mudança de tom das histórias. Enquanto Senhor dos Anéis é uma jornada para salvar a existência das raças da Terra Média, uma jornada dura e temerosa para seus participantes, O Hobbit, como livro, já é uma aventura mais leve, com espaço para trapalhadas, comilança e um tom infantil – tanto é que o livro de 1937 era destinado aos filhos do Tolkien. Já na adaptação, algumas trapalhadas e situações engraçadas continuam presentes, mas um tom sombrio, mais sério, foi adicionado à história. Os anões já não são tão desajeitados e dão mais importância a recuperar suas terras do que o tesouro, em contraponto ao livro. Talvez isso seja uma tentativa de aproximar O Hobbit ainda mais à Trilogia do Anel, o que não é necessariamente bom nem ruim, principalmente ao vermos apenas a primeira parte da história. Talvez a versão para o cinema exija esse tipo de mudança e isso se mostre uma decisão acertada, mas essa diferença de rumos é algo que só poderá ser avaliado com clareza no encerramento do terceiro filme. Por enquanto, o máximo que podemos fazer é relacioná-la às nossas expectativas.

    No mais, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada é um bom filme, bem apresentado como introdução à aventura de Bilbo Bolseiro, que deve agradar tanto aos mais fanáticos pela obra de Tolkien quanto aos recém iniciados nesse universo, mas ávidos por boas histórias de fantasia de capa e espada. Todavia, sua longa e desnecessária duração, aliada à falta de um encantamento subjetivo, quase “mágico”, fruto talvez do inesperado (que se faz presente nos filmes de O Senhor dos Anéis, mas no momento não desencantou em O Hobbit) faz com que essa nova trilogia comece a pelo menos um degrau abaixo da sua antecessora, algo que pode muito bem ser revertido nos próximos filmes. Mas esse é um assunto para dezembro do ano que vem.