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  • Crítica | Venom: Tempo de Carnificina

    Crítica | Venom: Tempo de Carnificina

    Crítica Venom Tempo de Carnificina

    Venom: Tempo de Carnificina retorna às aventuras do jornalista com problemas de dupla personalidade Eddie Brock, dessa vez o personagem oriundo das histórias do Homem-Aranha tem o desafio de seguir sua vida, após terminar o namoro estabelecido antes, sofrendo instabilidades na sua nova relação “amorosa”, com a sua contraparte extraterrestre

    A história do filme, dessa vez dirigida pelo ator Andy Serkis, começa em 1996, mostrando o passado de Cletus Kasady, com sua amada Frances, separados enquanto estão em um hospital psiquiátrico. Logo o tempo retorna ao presente e mostra o futuro Carnificina (Woody Harrelson) enquanto sonha um dia reencontrar Frances (Naomi Harris). Nos quadrinhos, a personagem tem o codinome Shriek, é inimiga do Aranha e tem o poder de dar gritos sônicos, que são, aliás um dos pontos fracos dos simbiontes. Obviamente, a origem dessas habilidades não é discutida, dado que a prioridade do filme passa longe de ser congruente ou lógico.

    Esse início não avança em nada na história do protagonista, funcionando como um prólogo. Isso não é um problema, só demonstra que o filme terá também como foco narrativo o seu antagonista. O destino faz Brock e Kasady colidirem, e depois de uma matéria sensacionalista, o maníaco olharia para Eddie com maus olhos, e não sem razão, pois Brock segue sendo ganancioso, um anti-herói que não liga para a ética mesmo com todas as lições do filme anterior, Venom.

    Há uma clara mudança de postura do protagonista nesse segundo filme. Se no filme de Ruben Fleischer o desempenho de Tom Hardy era uma das poucas coisas que funcionavam, visto que só ele parecia atuar propositalmente sério. Nesta parte dois a abordagem é muito mais focada na esquizofrenia e nos conflitos entre as Brock e o simbionte. Ao se dar conta disso e ler a sentença anterior, o leitor pode pensar ser um elogio, mas não, já que aqui se abraça a galhofa em demasia, inclusive no papel de Brock, ao passo que o filme nem sequer tenta soar como uma comédia.

    A equipe de roteiristas mudou, dos três escritores anteriores do filme de Fleischer ficou somente Kelly Marcel, que também escreveu Cinquenta Tons de Cinza, além de Hardy que escreveu com ela o argumento. Dado o tom de relação abusiva (que busca parecer romântica), não é surpreendente perceber semelhanças entre o que Christian Grey faz com o que é estabelecido aqui. Curiosamente Kasady parece ter inspiração em vilões dos filmes do Batman de Tim Burton, uma mescla entre o Coringa de Jack Nicholson e o Pinguim de Danny DeVito em Batman: O Retorno. Seu passado é mostrado de modo criativo, como uma singela pintura num quadro em branco. O espírito deste trecho faz lembrar produções como James e O Pêssego Gigante e Frankenweenie.

    Harrelson rouba a cena em boa parte de suas participações, aparentemente está à vontade em interpretar alguém com transtornos mentais e de personalidade. Harris não tem um desempenho positivo e as tentativas de repetir os clichês de Assassinos Por Natureza são pífias. Michelle Williams e Stephen Graham também não tem muito espaço para trabalhar, estão lá como meros enfeites.

    Depois das complicações com Mogli: Entre Dois Mundos, Serkis demorou a se reabilitar, certamente pensou que seria bom abraçar um projeto caro como este, mas para o seu azar a pandemia do novo coronavírus atravessou o tempo da estreia do longa. Venom foi um sucesso de bilheteria e mal falado pela crítica, este não foi tão massacrado pelos analistas, mas também não arrecadou tanto, portanto o diretor acabou saindo derrotado, o que é uma pena, pois seu desempenho não é ruim. As cenas de ação são boas, as batalhas de aliens certamente são a melhor coisa do longa, mas não são positivas ao ponto de salva-lo da mediocridade. Venom: Tempo de Carnificina tem um roteiro cheio de furos, tenta adaptar uma história do Homem-Aranha, mas sem o Homem-Aranha (?!), e o próprio percebe isso quando utiliza em sua cena pós-crédito uma tentativa de atrela-lo aos filmes do Tom Holland.

  • King Kong e suas versões no audiovisual

    King Kong e suas versões no audiovisual

    Kong é possivelmente o símio mais famoso do cinema, conhecido como Rei dos Macacos foi criado por Merian C. Cooper, produtor, diretor, roteirista e editor do clássico King Kong de 1933. Cooper, quando ainda era criança, ganhou o livro Explorações e Aventuras na África Equatorial escrito por Paul Du Chaillu em 1861, e em meio a leitura, teve a ideia fixa de contar uma história protagonizada por um macaco gigante, em uma península isolada no mapa, em um cenário semelhante ao visto na Terra Selvagem que a Marvel instituiria décadas depois.

    Transformar essa ideia em um filme ocorreu enquanto Cooper rodava As Quatro Penas, filme de 1929 que se passava na África. O cineasta pensou em usar um gorila congolês de verdade para filmar, colocando ele para brigar com outros animais como um Dragão-de-Komodo, mas ao final, optou por utilizar cenas em animação stop motion com dinossauros e seres pré-históricos. O personagem virou sinônimo da luta entre o homem e a natureza, abaixo o leitor confere as suas encarnações e alguns extras.

    King Kong (Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, 1933)

    No filme original há o gorila de proporções gigantescas como uma lenda, soberano em um lugar isolado: a Ilha da Caveira. Uma equipe de cinema decide viajar até uma ilha desconhecida, localizada em um antigo mapa, para encontrar uma locação exótica e assim esbarram no colosso mamífero. A história seria replicada por praticamente todas as suas outras versões. A obra revolucionaria o cinema de efeitos especiais e ajudaria a influenciar o cinema do mundo inteiro, como o japonês que criou Gojira/Godzilla mais de 20 anos depois, e até resgataria o personagem.

    A ida de Kong até a América serviria de exemplo do quanto o homem pode ser megalomaníaco. Cooper queria que o animal tivesse entre 12 e 15 metros, mas a decisão final ficou nas mãos dos animadores. Terminou com apenas sete metros.

    O Filho de King Kong (Ernest B. Schoedsack, 1933)

    A RKO Studios decidiu, ainda em 1933, lançar uma continuação com o filho do macaco com herói. A trama gira em torno do retorno do diretor Carl Denham, personagem do primeiro filme, à Ilha da Caveira, onde enfim acha um gorila albino com metade do tamanho do Kong original. O filme é uma fantasia fantástica e contou apenas com um diretor do primeiro (Merian C. Cooper não se juntou ao projeto) e é possivelmente o menos conhecido entre as obras que foram para o cinema.

    O longa se passa um mês depois do primeiro, e Denham chega a ilha procurando um tesouro e acaba retornando ao lugar por acidente. O gorila era conhecido pela produção como Kiko, mas o nome não é pronunciado durante o filme. A maior curiosidade em relação ao filme é que na época não se sabia que existiam gorilas albinos. A descoberta ocorreu somente em 1963 na Guiné Equatorial.

    King Kong vs. Godzilla (Ishirô Honda e Tom Montgomery, 1962)

    A produção dirigida pelo mesmo Ishirô Honda que conduziu o primeiro Godzilla oito anos antes, reconta a historia do clássico filme de 1933, retornando a Ilha da Caveira basicamente para ambientar o espectador oriental nessa mitologia. O confronto entre Kong e Gojira tem motivos esdrúxulos, segue a cronologia dos filmes do Lagarto Gigante, inclusive retomando os eventos de Godzilla Contra-Ataca, de 1955.

    Aqui o gorila é aumentado em cinco vezes se comparado ao clássico. Tem 45 metros e é vivido por um ator com uma roupa imitando um macaco, como era comum dentro das produções da Toho.

    The King Kong Show (1966)

    Houve uma época, nos anos oitenta, que qualquer sucesso do cinema virava desenho animado. O caso de The King Kong Show não é diferente. Embora tenha sido lançado muito tempo antes, em 1966, já acenava uma futura tendência. O desenho é uma coprodução entre a Videocraft e a Toei, e foi exibida pelo canal ABC entre 1966 e 1969. Na série, Kong faz amizade com uma família, os Bond, e segue em aventuras salvando o mundo de monstros, robôs, cientistas loucos e outras ameaças.

    Esta foi a primeira série de anime produzida no Japão para uma empresa americana. Teve 26 episódios e 3 temporadas, e o tamanho do macaco era de aproximadamente 15 metros de altura.

    A Fuga de King Kong (Ishirô Honda, 1967)

    Se King Kong vs. Godzilla é considerado trash, essa outra produção da Toho pode facilmente ser chamada de esdrúxula. O filme trata Kong como uma lenda, mas isso não impede que um cientista louco, chamado de Dr. Who (?!) resolva fazer uma cópia robótica do macaco. O doutor louco ainda assim precisa do original para resgatar um elemento X, que vem a ser uma substância qualquer, que daria poder ao seu portador, embora a razão da obsessão do vilão não seja nem um pouco clara.

    O final é grotesco ao extremo, o macaco entende falas humanas quando é conveniente para o roteiro. Há muitas falhas de efeitos especiais e erros de continuísmo. O macaco tem por volta de 20 metros de altura, não tem ligação com o crossover de 62 e seria uma espécie de versão live action de The King Kong Show.

    King Kong (John Guillermin, 1976)

    O primeiro remake do clássico de 1933, embora nos filmes da Toho se reconte parte da história, não são exatamente refilmagens. Essa versão ficou famosa por conta de sua dupla de protagonistas humanos formada por Jeff Bridges e Jessica Lange.

    Esse filme também é lembrado pela troca do prédio onde Kong se pendura, sai o Empire State e entram as torres gêmeas do World Trade Center. O gorila varia de tamanho durante o filme, tendo 17 metros aproximadamente quando está na cidade e 13 metros na sua ilha natal. Esse foi um dos clássicos da Sessão da Tarde e Cinema em Casa do Brasil. De fato, é uma boa produção.

    King Kong 2 (John Guillermin, 1986)

    O diretor John Guillermin volta para essa continuação tardia, uma autêntica peça trash de sua década. Kong sobreviveu a queda do World Trade Center, mas foi mantido em coma por uma década. Ele sofre com problemas cardíacos e a especialista Amy Franklin é chamada para trata-lo. A doutora, interpretada por Linda Hamilton que acabava de sair de O Exterminador do Futuro, parece estar no piloto automático ao se apresentar como cardiologista especialistas em símios gigantes (por si só uma profissão bem curiosa e específica). Se isso não fosse suficiente, os exploradores vão a Bornéu atrás de uma fêmea gigante como uma possível doadora de sangue. Kong se apaixona e eles geram um filho.

    Esse filme cansou de ser reprisado nas tardes do SBT, mas é ignorado por boa parte do público, não à toa, pois é equivocado em quase tudo que se propõe.

    O Poderoso Kong (Art Scott, 1998)

    Essa animação foi uma adaptação da Warner Bros. feita para o mercado de vídeo dos anos noventa, e mostra uma equipe de cinema indo para o mar e encontrando o macaco gigante tal qual as encarnações anteriores, com a diferença de que há números musicais aqui.

    As canções não são ruins, o problema maior é que o filme da Lana Productions não tem um orçamento condizente com produções clássicas. Sendo assim, lembra as sequências de filmes da Disney como O Retorno de Jafar, Rei Leão 2: O Reino de Simba e outras obras semelhantes lançadas diretamente para o mercado caseiro. O elenco de dublagem é liderado por Jodi Benson e Dudley Moore e o design dos personagens imitava alguns produtos de sucesso da época, como o longa A Pequena Sereia e A Bela e a Fera, claro, sem o mesmo brilhantismo dos filmes da Disney. O mais estranho dessa produção é que na capa das fitas VHS e nos DVDs mostravam um macaco castanho e mais simpático, muito diferente da versão apresentada na própria animação.

    Kong: The Animated Series (2000)

    Esse foi um seriado de coprodução entre Estados Unidos e Canadá. Tinha algumas semelhanças com a animação do Godzilla (que continuava os eventos de Godzilla de Roland Emmerich) mas não tem o mesmo nível de qualidade. Em 2005, houve uma animação em longa-metragem com o mesmo traço e equipe de dubladores, Kong: Rei de Atlantis, e em 2007 um novo filme foi lançado, Kong: Return to the Jungle.

    Narrativamente, a maior diferença dessa para outras encarnações é que o macaco é um clone modificado geneticamente do original abatido no filme de 1933. Kong é badass e ajuda a humanidade nesse seriado, em especial, Jason Jenkins e sua família, apesar de não ter muitas explicações a respeito disso.

    King Kong (Peter Jackson, 2005)

    Depois do sucesso de O Senhor dos Anéis, Jackson se dedicou a refilmar o clássico de 1933. Essa é uma super produção, duramente criticada por pecar em excesso. De fato, ela é vultuosa e gordurosa, nos cinemas foi lançada com 3 horas e 7 minutos, mas uma versão estendida com 14 minutos adicionais foi lançada para o mercado caseiro.

    Aqui há largo uso de efeitos especiais e computação gráfica. O macaco foi interpretado por Andy Serkis que coreografou passos, corridas e lutas do Gorila usando 135 marcadores em seu rosto. O macaco tem cerca de 25 metros, enfrenta dinossauros e vai até Nova York, como nas versões clássicas.

    Kong: Rei dos Macacos (2016)

    Essa é a mais recente animação sobre o símio, seu tom é infantil e ligado a ecologia. Nessa realidade os animais silvestres estão quase extintos, graças as condições climáticas agravadas pelo homem em 2050. O seriado é bastante expositivo e a qualidade de animação é artificial, sobretudo nas figuras humanas.

    O seriado começa com um gorila filhote aparecendo para uma família de cientistas. Eles vão para a cidade e o animal cresce muito rápido, de forma quase instantânea. O programa é produzido por Avi Arad, o mesmo que produziu os desenhos do Homem-Aranha e os filmes do Homem-Aranha de Sam Raimi. Teve uma temporada de 13 episódios em 2016, e uma segunda em 2018, com 10.

    Kong: A Ilha da Caveira (Jordan Vogt-Robert, 2017)

    Essa foi a última empreitada solo do macaco gigantesco nos cinemas. Kong é uma figura mitológica, mas ainda em processo de crescimento. É o soberano da península que, por sua vez, também possui um número grande de animais gigantes.

    Kong aqui não é tratado só como rei mas também como deus pelos habitantes da Ilha da Caveira. Seu tamanho é o maior entre suas encarnações até aqui, com 100 metros de altura, mais que o dobro da versão japonesa de 1962. O filme apesar de ter um roteiro repleto de clichês possui um visual arrojado, inspirado em clássicos anti-bélicos como Johnny Vai à Guerra e Apocalipse Now.

    Godzilla vs Kong (Adam Wingard, 2021)

    Kong retorna para um novo crossover contra Godzilla. O filme, programado para 2020, foi adiado por conta da pandemia de coronavírus e chega aos cinemas do mundo e plataforma de streaming. Entre Kong: Ilha da Caveira e esse, o gorila lendário aumentou consideravelmente de tamanho, até porque no filme de época, ele ainda era um adolescente. Dirigido por Wingard (Bruxa de Blair: A Lenda Nunca Foi tão RealDeath Note).

    Bônus: Aqui estão listados alguns entre tantos filmes que não são parte da “saga” de King Kong, mas que tem alguma ligação com o personagem criado em 1933.

    Wasei Kingu Kongu (1933)


    Esse é um projeto misterioso por si só. Entre o público japonês dos anos 1930, se diz que houve uma versão de King Kong que se perdeu desde o final da década de 1940. Esse desaparecimento é atribuído a campanha de bombardeios que ocorreu no país durante a Segunda Guerra Mundial.

    Esse King Kong seria o primeiro filme daikaiju, ou seja, o primeiro filme japonês envolvendo monstros gigantes, 21 anos antes de Godzilla/Gojira. Existem documentos históricos que em 1938 outro filme envolvendo macaco gigante foi produzido e perdido durante a Segunda Grande Guerra, Edo ni Arawareta Kingu Kongu (King Kong Aparece em Edo). Todas as cópias conhecidas de ambos os filmes estavam estocadas em armazéns localizados nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. O ataque norte americano causou a morte de 90 mil a 166 mil pessoas em Hiroshima e 60 mil a 80 mil em Nagasaki, além de destruir grande parte do patrimônio histórico e cultural japonês.

    Monstro de um Mundo Perdido (Ernest B. Schoedsack,1949)

    Schoedsack, um dos diretores do King Kong original, fez essa comédia que conta com produção de Cooper e John Ford. Na trama, um explorador descobre que um enorme gorila serve de bichinho de estimação pra Jill Young, daí o sujeito, vivido por Robert Armstrong, tenta leva-lo para Hollywood, e o macaco se torna atração em um nightclub.

    A apelação para o humor é bastante fraca, e mesmo que a ideia original era referenciar o clássico de 1933, o projeto foi por outro caminho, ganhando vida própria.

    Konga (John Lemont, 1961)

    Konga mostra a história de um cientista que é dado como morto e se esconde no continente africano para não chamar a atenção de seus inimigos. Em meio as suas pesquisas, ele percebe uma forma de cultivo de plantas que tornam animais gigantes. A tal Konga é um chimpanzé usado pelo cientista para combater seus opositores.

    O filme é estrelado por Michael Gough, o Alfred da saga iniciada em Batman de Tim Burton, e até tem seu charme, com cenários e objetos de cena que lembram A Pequena Loja de Horrores, mas a história como um todo é esdrúxula ao extremo, a produção confunde as raças de macacos, o chimpanzé vira um gorila. No final, Konga se torna uma história sobre ciúmes, com um roteiro fraco e efeitos especiais bem datados.

    Outra curiosidade sobre Konga é que houve uma versão de baixíssimo orçamento lançada em 2020 chamada Konga TNT, que tem uma história semelhante a esta. Os efeitos especiais são amadores, as cenas em fundo verde são fracas, o filme parece editado no Windows e é supostamente baseado em um gibi da Charlton Comics.

    Queen Kong (Frank Agrama, 1976)

    Se Konga já parecia uma cópia tosca, o que dizer desta produção que mostra uma equipe de cinema à caminho da África filmar um longa-metragem para mulheres e encontram uma gorila fêmea gigante, que acaba por se apaixonar por um ladrão trambiqueiro, que sabe-se lá por quê, acaba se tornando o ator principal do filme?

    A roupa e maquiagem de Queen Kong é horrorosa, a máscara dela é fajuta e os dinossauros que enfrentam a macaca são mal feitos em um nível que é difícil até de classificar. Queen Kong tem uma face estranha, em alguns momentos parece um lêmure, em outras, um sagui. As atuações são risíveis e as tentativas de fazer humor esbarra na falta de qualidade de toda a equipe. Nem o humor involuntário vale o esforço.

    Poderoso Joe (Ron Underwood, 1998)

    Este é um remake do antigo Monstro de Um Mundo Perdido. Protagonizado por Charlize Theron, o filme conta a história de Jill Young, que quando criança viu sua mãe ser morta ao tentar proteger gorilas selvagens. Já adulta, ela passa a cuidar de Joe, um animal que por conta de uma anomalia genética, tem mais de cinco metros de altura.

    O filme é bem bobo, tem a estética que era bem comum aos filmes live action dos estúdios Disney, com um romance meloso entre Theron e Bill Baxton, forte apelo infantil e foi um bocado popular em sua época.

    Rampage: Destruição Total (Brad Peyton, 2018)

    Rampage  é uma adaptação do jogo homônimo. Aqui Dwayne Johnson vive um primatologista que convive bem com George, um gorila albino cuja espécie está em extinção, criado por ele desde seu nascimento. George e outros animais sofrem alterações que os fazem crescer e se tornarem ameaças para a vida urbana.

    Esse é um filme de ação divertido e descompromissado com subtextos mais densos. As semelhanças dele com King Kong são obviamente ligadas ao fato do macaco crescer desenfreadamente e com a destruição que ele é capaz de fazer em uma metrópole, além de mostrar o homem como fator caótico na equação da natureza.

  • Crítica | King Kong (2005)

    Crítica | King Kong (2005)

    Peter Jackson é um diretor diferenciado, na época em que fazia filmes B na Nova Zelândia como Trash: Náusea Total ou Fome Animal ele mostrava um grande amor pelos filmes de terror de baixo investimento e frutos do exploitation, o mesmo ocorre quando adaptou os romances de J.R.R. Tolkien, demonstrando um apreço ao texto original. Quando ele decidiu lançar a sua versão de King Kong, também foi assim. As críticas em volta da sua produção foram muitas, mas é indiscutível que existe um esforço para expandir a trama e a abordagem do King Kong de 1933.

    Quando foi lançado para o cinema, o longa já era muito extenso, e ao ser lançado para o mercado caseiro ainda teve o acréscimo de 14 minutos adicionais no que foi conhecido como a Versão Estendida do diretor. O filme é uma ode ao cinema, seja na apresentação que transforma o logo da Universal no que era comum em 1933 ou nas referências que o Carl Denham de  Jack Black faz a um certo Cooper, na verdade Merian C. Cooper, produtor e diretor do primeiro filme, além disso, o nome do navio é Venture Surabaya, em atenção ao cenário do começo de King Kong de 1976, que teve uma estratégia diferente em contar sua história.

    O roteiro Jackon, Fran Walsh e Philippa Boyens expande e dá substância ao universo criado, além de tempo de tela e propósito para os personagens humanos, de um modo que as outras encarnações não deram. As tramas humanas não são meros pretextos para ludibriar o macaco ou o público, embora passem longe de serem perfeitas, pois todos eles acabam com envolvimentos sentimentais em demasia, fazendo com que o filme soe melodramático em excesso.

    Da parte do elenco, não há muito o que reclamar. Por mais artificial que alguns diálogos pareçam (especialmente os da tripulação do Venture), Black, Adrien Brody, Naomi Watts, Thomas Kretschmann, Colin Hank, Jamie Bell e Kyle Chandler tem desempenhos assertivos. O design de produção unido ao esforço dramático dos atores criam uma atmosfera única, as vezes sabotada pelos maneirismos que Jackson emprega e pela falta de lógica no comportamento de criaturas selvagens.

    O macaco é visualmente impressionante. Os pelos, textura e tamanho aliado a atuação que Andy Serkis emprega dá peso e realidade ao personagem. Se Kong deveria agir como um gorila gigante ou como um outro passo evolutivo da espécie é uma discussão válida, mas dentro da escolha narrativa que Jackson faz, Serkis entrega um desempenho excelente, esforço que reforça a ideia de que natureza intocada é algo belo e harmônico, que só se mostra destrutiva quando ocorre a ação do homem, supostamente, civilizado.

    As cicatrizes, os dentes quebrados e o caráter arredio são mostras de que Kong lutou muito para sobreviver. O cuidado em tornar uma criatura digital lidar com o mundo selvagem e urbano foi bem retribuído, e são poucas as cenas em que os efeitos digitais parecem falsos. Na parte da cidade, o filme segue com os mesmos problemas ligados a pieguice. Certamente, King Kong de Peter Jackson é repleto de boas intenções e poderia ser tão querido quanto as encarnações de John Guillermin e Cooper foram na sua época, mas acabou se tornando o primeiro de vários filmes do diretor neozelandês que foram encarados como enfadonhos, ainda que seja repleto de méritos.

  • Crítica | De Repente 30

    Crítica | De Repente 30

    Longa de Gary Winick (Noivas em Guerra, Cartas Para Julieta), De Repente 30 foi uma das comédias românticas mais populares de sua época. Sua história conta a trajetória de Jenna Rink, uma menina que aos treze anos não é popular, tem apenas um amigo e o sonho de se juntar as meninas lideradas pela patricinha Tom Tom.

    Um evento mágico e estranho ocorre e Jenna (Christa B. Allen) se transforma em uma nova versão dezessete anos mais velha (Jennifer Garner). Neste ponto, percebe que ao chegar aos trinta anos de idade se tornou editora da revista que mais amava. Além de bem sucedida, guarda uma porção de defeitos terríveis, optando pela popularidade à qualquer custo. Ao se deparar com essa nova vida, fica confusa e mesmo sendo próxima de uma pessoa do passado, Lucy Wyman (Judy Greer), procura seu único grande amigo da adolescência.

    Garner está muito à vontade no papel, mesmo que a premissa aqui seja extremamente não crível, como era com Quero Ser Grande. Acordar um dia, com muito mais idade e com licença poética até para beber (e Jenna bebe muito, possivelmente aludindo a uma predisposição genética sugerida subliminarmente no roteiro) não garante a personagem ou a qualquer possível contra parte dela uma maturidade mínima. A atriz faz muito bem uma mulher de meia idade, bonita, bem resolvida mas que ainda tem gosto e fome por coisas que crianças consomem, seja em questão de alimentos ou de meros sonhos e anseios.

    Ainda assim, nessa versão interrompida de si a personagem é mais amena, serena e singela, não à toa a aproximação que ela tem com Mathew (vivido por Mark Ruffalo e na juventude por Sean Marquette) traz à tona sentimentos amorosos. Ao se deparar com a possível mudança do paradigma do amor não correspondido, o amigo recua, com medo de se machucar e de ser injusto com as pessoas que sempre estiveram com ele.

    As piadas físicas são ótimas, mesmo quando Jenna bebe e faz coisas típicas de adulto ela não entende ironia. Há um espírito nessa produção bem semelhante ao clássico filme estrelado por Adam Sandler, Click, embora o longa tenha uma resolução de problemas bem diferenciada, bem como é feito para outro tipo de público, tentando atingir o espectador de meia idade mais sentimental, e não as meninas adolescentes como na obra de Winick.

    As escolhas do elenco são ótimas. Além de Garner, que está muito bem, Ruffalo faz um sujeito apaixonante e super fofo. Greer consegue imprimir bem a figura de vilã que finge ser boa – e que tem até algumas camadas de traição, repetindo o ciclo de traição a Jenna, mostrando que sempre foi uma pessoa sem escrúpulos – além é claro de Andy Serkis, cujo papel é pequeno (e caricato), mas que é muito simpático e aprazível. Até o elenco infantil é bem acertado, com destaque principalmente para B. Allen que, anos mais tarde, faria a versão mais jovem de Jennifer Garner novamente em Minhas Adoráveis Ex-Namoradas.

    O caráter de Matt e da Jenna dessa realidade são diferenciados entre si. A mulher que cresceu e se emancipou se tornou mesquinha e megera, e a versão criança certamente se decepcionaria demais com esta. Enquanto o homem seguiu doce, meigo e atencioso, além de muito charmoso e bonito, ou seja, tudo o que uma mulher madura quer. Por mais moralista que seja a mensagem do roteiro Josh Goldsmith e Cathy Yuspa, ele não cai na tolice de permitir que a historia se resolva de maneira fácil, embora arme um gatilho para que o final da historia não seja o pragmático e infeliz.

    De Repente 30 é um filme que marcou tanto a geração que o assistiu no cinema ou nas reprises da TV aberta que virou sinônimo de temas de inúmeras festas de aniversários de pessoas balzaquianas. Para além das questões modais externa, mostra a jornada de Jenna como a historia de uma pessoa refém de suas referencias, incapaz de conciliar uma vida particular e profissional bem sucedida. Gerando, com isso, a reflexão do público além do divertimento.

  • Crítica | Mogli: Entre Dois Mundos

    Crítica | Mogli: Entre Dois Mundos

    Antes inclusive da produção de Mogli: O Menino Lobo, de John Favreau, a adaptação do Livro da Selva já estava em produção pelas mãos de um sujeito importante para o cinema mainstream recente. Andy Serkis tentava traduzir o material original de Rudyard Kipling que encantou gerações através não só da literatura mas também da animação clássica da Disney nos meados dos anos sessenta, e sua versão, Mogli: Entre Dois Mundos demorou a ser entregue e a ser finalizada, por motivos até hoje discutíveis, graças não só aos estúdios Disney, que tem em seu Mogli o alicerce para onda de live actions que fizeram sucesso e dão bilhões de dólares de arrecadação, como pela Warner, que claramente recuou e não permitiu ao realizador fazer o filme que queria, com o orçamento que precisava.

    Ainda assim, e reduzido (de certa forma) a estrear para plataformas digitais via  streaming pela Netflix, a versão que Serkis fez tem animais digitais com um visual estranho, quase mal acabados, e isso evidentemente denigre o produto  final, mas não contamina a história. Na trama, o tigre Shere Khan ataca alguns homens e mulheres, e mata a mãe biológica do rapaz, que acaba sendo encontrado pela pantera Bagheera, e levado até sua alcateia, que fica responsável pelo bebê.

    A história começa narrada pela serpente Kaa, dublada por Cate Blanchett, cujo visual talvez seja o mais estranho entre as criaturas animadas, mais até que os lobos de Akela (Peter Mullan) e companhia. Não demora até ocorrer uma deliberação entre os animais, incluindo aí o urso Baloo (Serkis), Baghera (Christian Bale), a loba Nisha (Naomi Harris) e até o vilanesco Shere Khan (Benedict Cumberbath). Esse elenco pomposo tem um embate face a face muito poderoso, mesmo que sejam suas contra-partes animalescas. Já nesse prólogo o filme se demonstra grandioso e ele segue assim mesmo nos momentos de despretensão.

    Mogli cresce, e é vivido pelo jovem Rohan Chand, um intérprete de olhos muito expressivos, seja quando brinca com a pantera que o salvou ou mesmo em situações banais como comer uma fruta ou matar um inseto. Seja sozinho ou com seus mentores –  na falta de um pai de sua espécie, ele tem um urso, uma pantera e muitos lobos – ele entende como funciona as leis da selva, sobre como caçar e quem caçar, mas também preserva a inocência típica de um filhote.

    Toda a essência da vida de menino criado por lobos e sua experiência na selva que o cerca é muito bem enquadrada pela câmera de Serkis, e é realmente triste que um trabalho visual tão bem concedido como a construção das paisagens naturais esbarre nas figuras em efeitos especiais dos macacos, ou do lobo albino Bhoot,  que mais parece um poodle mal tosado. É difícil levar o filme a sério, porque seus personagens digitais passam longe de serem críveis. Mesmo as movimentações deles são artificiais e a textura é terrível. Os que mais se aproximam de salvar disso são Shere Khan, Bagheera  e alguns momentos Baloo.

    Ao mesmo passo que no ambiente selvagem o jovem humano é amado pela maioria das criaturas, quando se encontra com o homem ele é tratado de maneira hostil, enjaulado após reagir com fogo contra os seus, e cutucado com pedaços de pau por outras crianças. Nesse início, ele é tratado como um animal, já que veio do habitat selvagem. A parte em que acontece o rapto do menino e a chegada a civilização perde um pouco do bom ritmo que antes predominava, mas não é de todo ruim e a área sentimental volta a predominar, mostrando que o medo do tigre devorar Mogli faz com que a pantera e o urso achem que é bom para ele voltar para a civilização. O que faz realmente pecar é a construção da rivalidade entre o felino e o homem, que não é é tão bem desenvolvida e é o erro mais crasso do roteiro que Callie Kloves apresenta.

    Mogli consegue se adaptar ao mundo civilizado e lá descobre alguns horrores, os mesmos que fizeram com que ele fosse órfão e ajudaram Shere Khan a se tornar uma figura maligna. A gangorra emocional melhora bastante no final, e o desfecho trágico envolvendo caça e caçadores é simbólico e um bom rito de passagem para o personagem que dá nome ao longa, e capta perfeitamente como funciona esse limbo existencial que o menino sofre, mostrando que a busca de identidade dele é visceral, sem deixar de ser poética, algo que o filme de Favreau não traduz bem. Mesmo que visualmente os efeitos especiais não estejam a altura das emoções que Serkis passa, Mogli: Entre Dois Mundos é talvez a mais inventiva e bonita adaptação do clássico O Livro da Selva.

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  • Crítica | Star Wars – Episódio VIII: Os Últimos Jedi

    Crítica | Star Wars – Episódio VIII: Os Últimos Jedi

    No final de outubro de 2012, a Disney anunciou a compra do grupo Lucasfilm e, de cara, anunciou uma nova trilogia e o retorno do cast original para concluir a saga da família Skywalker criada por George Lucas. Coube a J.J. Abrams a dura tarefa de colocar as primeiras marchas no projeto, dirigindo e escrevendo (aqui, com o auxílio de Lawrence Kasdan), o sétimo episódio da franquia, O Despertar da Força. A dura tarefa da qual me refiro é que, por uma questão de mercado, talvez pura e simplesmente, o Episódio VII, não deveria agradar somente os fãs da saga, que são aqueles que fizeram de Star Wars o maior fenômeno da cultura pop desde o século passado, mas sim, angariar novos fãs, dos mais novos aos mais velhos. Com isso, a decisão de praticamente espelhar O Despertar da Força com Uma Nova Esperança, algo bastante controverso, diga-se, foi a decisão mais acertada. Porque agora faz todo sentido.

    O universo de Star Wars é extremamente rico, e com o novo capítulo entregue e direcionado por Abrams, fez com que o diretor Rian Johnson pudesse explorar uma enorme tela em branco com os pincéis entregues em O Despertar da Força, saindo do usual, entregando um filme diferente, mas que ainda assim, traz aquela sensação de estar em casa.

    Star Wars: Os Últimos Jedi parte exatamente de onde o anterior parou. Poe Dameron (Oscar Isaac) se engaja numa missão quase suicida, liderada pela General Leia (Carrie Fisher), com a finalidade de dar mais tempo para a frota da Resistência fugir da temível Primeira Ordem, que ganhou ainda mais força após a destruição da República no filme anterior. A missão gera o argumento principal da trama e abre espaço para que o elenco principal se separe em suas missões pessoais, assim como O Ataque dos Clones e O Império Contra-Ataca (os segundos capítulos de suas respectivas trilogias), liberando o caminho para as boas participações dos novos personagens, como a Vice Almirante Holdo (Laura Dern, se doando ao máximo), Rose (a simpática Kelly Marie Tran) e DJ (Benicio Del Toro). Enquanto isso, Rey (Daisy Ridley), ainda extremamente preocupada sobre suas origens e parentescos, tenta convencer o recluso e desacreditado mestre Jedi, Luke Skywalker (Mark Hamill), a treiná-la e a ajudá-la a derrotar a Primeira Ordem. Já no lado vilanesco, o cada vez mais caricato, General Hux (Domhnall Gleeson), continua sua rivalidade com Kylo Ren (Adam Driver), que vem sofrendo pesadas retaliações de seu mestre, o Supremo Líder Snoke (Andy Serkis). Importante ressaltar que tanto Driver quanto Gleeson (que tiveram antes suas atuações contestadas) se destacaram em seus papeis, merecendo reconhecimento aqui.

    Obviamente, o retratado no parágrafo acima é apenas uma projeção bem longínqua daquilo que aconteceu no filme, uma vez que o segredo com relação ao enredo e demais tramas paralelas foi tão grande que nem os atores foram a autorizados a revelar qualquer coisa por menor que seja.

    O desejo de Johnson para com esse filme era que o espectador pudesse ter uma experiência total, provando todas as sensações que o filme oferece e causa. E é justamente esse o maior mérito do diretor, que ao escrever uma história, ao longo de suas longas duas horas e meia de fita, focou em conexões muito fortes entre os personagens, dando o destaque individual de cada um de maneira bem justa, além de conseguir fazer com que aquele que assistia experimentasse as mais diversas sensações do primeiro ao último ato. O diretor brinca o tempo todo com o espectador: coloca desconfiança onde se deveria haver confiança, lealdade onde deveria ser o contrário, além de diversas suspeitas com relação às atitudes de diversos personagens, além de plot twists fortes, certeiros e totalmente dentro do contexto, o que faz com que não soem gratuitos em momento algum. Algo que merece uma atenção especial é a atuação de Mark Hamill, já que vemos Luke Skywalker dialogando pela primeira vez desde O Retorno de Jedi. Em muitos momentos é possível viajar no tempo e ouvir a voz do “bom e velho jovem Luke” da trilogia original, contrastando com o homem que se tornou.

    Toda esse mix de experiência faz com que o Episódio VIII tenha, ao menos, cinco ou seis momentos que, se não forem os melhores de toda a franquia, estão entre os melhores. São momentos que vão causar gritos, aplausos, risos (muitos deles) e choros dentro da sala do cinema.

    Além do elenco totalmente entregue ser causador de parte dessas sensações, outras delas são causadas pelas sensacionais batalhas, cenas de luta e diálogos que vão fazer você se arrepiar. Não é a toa que o planeta conhecido como Crait foi o escolhido para ilustrar os temas dos pôsteres de divulgação do filme, sempre vermelhos, contrastando com o branco, o que ilustra de maneira lúdica e abstrata, as “pinturas” de Johnson mencionadas parágrafos acima. Tudo muito bonito e bem feito, juntamente, claro, da fantástica trilha sonora, assinada, mais uma vez, pelo mestre John Williams, que conseguiu cravar em nossas mentes os novos temas apresentados no filme anterior, complementando com os clássicos que já conhecemos desde 1977.

    Star Wars: Os Últimos Jedi é o resultado do cérebro megalomaníaco de Johnson, aliado pelo amor que possui pela franquia e o resultado não poderia ser melhor, uma vez que o filme tem tudo que o gênero precisa, na dose certa. Agora, o desafio maior é preparar o terreno para o encerramento na história que marcará o retorno de J.J. Abrams na direção, após o afastamento de Colin Trevorow. Ainda há muitas pontas soltas e várias perguntas que só serão respondidas em 2019. Até lá olharemos para frente, sempre buscando o horizonte, assim como Luke Skywalker.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Star Wars: Episódio VIII | Comentamos o novo trailer de Os Últimos Jedi

    Star Wars: Episódio VIII | Comentamos o novo trailer de Os Últimos Jedi

    Rian Johnson bem que tentou avisar, mas aposto que ninguém deu ouvidos e muita gente se arrependeu. Quando perguntado no Twitter sobre o novo trailer, o diretor de Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi foi categórico: “estou legitimamente dividido. Se você quiser vir limpo, absolutamente o evite. Mas está booooooooom…”. Ou seja, o fã deveria evitar assistir ao trailer se quisesse ter uma experiência emocional completa. Não adiantou e o trailer, em pouco mais de dois minutos e meio rachou o planeta nas mais variadas sensações. Só nos resta saber se a prévia entregou demais a trama ou, se no fundo, a Lucasfilm estava apenas jogando com as palavras e com as imagens. Nossa aposta é a segunda opção, mas ainda assim, a sensação de cansaço pós trailer existe e perdura.

    Logo de início vemos um plano mostrando Kylo Ren (Adam Driver), de costas, observando as instalações da Primeira Ordem. Nota-se uma estranha semelhança com Anakin Skywalker. Além deste plano, demais imagens, como a primeira aparição dos andadores, que são uma evolução dos AT-AT de O Império Contra-Ataca se preparando pra batalha. Enquanto isso, a voz em off do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis) dizendo para alguém que quando encontrou aquela pessoa, viu nela um poder bruto e incontrolável e que além disso, algo verdadeiramente especial. A imagem corta para Rey (Daisy Ridley) acionando o sabre de luz e as imagens a partir daí mostram ela entregado o sabre a Luke Skywalker (Mark Hamill), onde também uma voz em off da personagem ecoa entre as imagens, dizendo que algo esteve sempre dentro dela e que agora essa coisa despertou e ela precisa de ajuda. Enquanto essas palavras são proferidas, vemos imagens de Rey praticando com o sabre e visitando uma árvore, que, aparentemente é uma árvore da Força, algo que já foi discutido em Rebels. Mas o que mais assusta é quando a jovem aprendiz, durante uma meditação, consegue rachar o local de pedra em que Luke e se encontram, deixando o mestre Jedi apavorado.

    Não dá pra saber ao certo em que momento do filme isso acontece e é muito provável que essas cenas não se comunicam entre si, mas Luke, com um olhar preocupante, aparece dizendo que já viu esse poder bruto uma vez, enquanto imagens de flashback do ataque de Kylo Ren ao templo Jedi de Luke aparecem na tela. Skywalker completa dizendo que aquele poder não o assustou na época, mas que agora o assusta. As imagens se voltam para Kylo Ren, onde o jovem, num momento shakesperiano, olha para sua máscara para, imediatamente, destruí-la na parede com todo ódio possível. Enquanto isso, sua voz, também em off, fala sobre deixar o passado morrer, matá-lo se for preciso, sendo o único jeito de cumprir o seu destino. Outro momento assustador é que enquanto Ren profere as palavras, ele aparece pilotando de forma habilidosa seu caça Tie numa incursão contra a Resistência, outro momento que deve ser um dos 3 grandes do filme.

    Kylo percebe que Leia (Carrie Fisher) está na nave e ela o confronta com a Força. Podemos perceber claramente que o filho da general fica abatido, mas ainda assim, não o suficiente para travar a arma na nave e colocar o dedo sobre o botão de disparo, o que deixa Kylo e Leia agoniados. Vemos em seguida Chewbacca à bordo da Millennium Falcon, fugindo de caças Tie dentro de uma caverna bem apertada (algo já bem estabelecido na franquia) para em seguida vermos imagens de Poe Dameron (Oscar Isaac) provavelmente estando junto da mesma frota em que Leia se encontra, onde o ótimo piloto diz em off que eles são a faísca que acenderá a chama que destruirá a Primeira Ordem e o que vemos a seguir é uma linda imagem onde Finn (John Boyega) e Capitã Phasma (Gwendoline Christie) partem para cima um do outro. A fotografia desse trecho é algo fora do comum.

    O trailer continua com imagens bem mais rápidas da batalha que se dá no espaço, de Rey numa caverna, dentro do refúgio de Luke, além de trechos da batalha no deserto do planeta Crait, onde os AT-AT se preparavam. Podemos ouvir Luke dizendo (provavelmente para Rey) que as coisas não vão acontecer do jeito que ela imagina, para em seguida Snoke aparecer pela primeira vez em carne e osso, enquanto tortura Rey com o uso da Força, dizendo para ela completar seu destino. E aí acontece o que pode ser a maior pegadinha do trailer. Rey diz que precisa de alguém que mostre o lugar dela nisso tudo para Kylo Ren estender a mão para ela.

    De fato, o primeiro trailer completo de Os Últimos Jedi é bastante obscuro e enche a cabeça do fã de dúvidas, anseios e interrogações. Mas, analisando friamente as imagens, a única conclusão é que Rey e Kylo são os dois de suas gerações e ponto. A Força é extremamente poderosa neles e Snoke, por algum motivo, sentiu isso ao descobrir Kylo Ren, remetendo à Rey como algo especial, ou vice-versa, uma vez que Snoke pode ter chegado em Kylo com o único objetivo de chegar, na verdade, em Rey.

    Outro ponto que se deve ter bastante atenção é que Luke parece sim estar assustado com o tamanho do poder de Rey, remetendo, portanto, ao sentimento que teve quando seu templo Jedi foi destruído. É bastante provável que ele estivesse falando de Kylo (naquela altura, Ben, seu sobrinho) e que dali para frente, ao conhecer o poder de Rey, se negar a dar continuidade ao treinamento da aprendiz por ter falhado uma vez. A julgar pelo que Snoke fala sobre o poder bruto e incontrolável que veio com uma agradável surpresa e pelo fato de Luke ter visto tamanho poder duas vezes, se tem a conclusão que Rey e Kylo possuem uma forte conexão um com o outro, o que pode indicar algum possível parentesco.

    No que diz respeito ao emotivo momento entre Leia e Kylo, acredita-se que o jovem cavaleiro, ao hesitar em atirar na nave de sua mãe (sendo que já matou o próprio pai), não tomará ação alguma e isso, de certa forma, poderá permitir que Kylo tenha uma possível salvação para o lado da luz em contrapartida à Rey, que poderá ceder ao lado negro da Força após ser capturada. Mas, ainda assim, com relação ao final do trailer, é muito provável que a jovem estivesse falando com Luke sobre precisar de alguém que mostre o lugar dela nisso tudo, pois podemos perceber que tanto a luz, quanto o cenário em que Kylo Ren aparece estendendo sua mão são levemente diferentes em relação a onde Rey se encontra.

    Como a Lucasfilm tem seguido um padrão com a franquia, acredita-se que um segundo trailer poderá ir ao ar um tempo antes da estreia do filme.

    Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi chega no Brasil dia 14 de dezembro de 2017.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Planeta dos Macacos: A Guerra

    Crítica | Planeta dos Macacos: A Guerra

    Em X-Men: Deus Ama O Homem Mata, Chris Claremont e Brent Anderson falavam sobre a intolerância dos humanos contra os mutantes, situação que já era presente nas histórias pregressas dos X-Men e se acentuou nesta, usando como exemplo de nêmese o fanatismo religioso de um reverendo que pregava que os portadores do gene X eram amaldiçoados. Talvez essa seja a referência recente mais justa ao plot Planeta dos Macacos: A Guerra, de Matt Reeves, terceiro e possivelmente último capítulo da nova saga iniciada em Planeta dos Macacos: A Origem.

    Antes do desenvolvimento do roteiro no novo longa temos uma introdução sobre os capítulos anteriores, explicando que o vírus que havia dizimado a população humana anteriormente em Planeta dos Macacos: O Confronto, se modificou, com consequências que só são reveladas após um bom tempo decorrido de filme. Cesar (Andy Serkis) continua cuidando dos seus, e busca um lugar alternativo para repousar com a sua família, uma vez que um novo inimigo surge, o Coronel (Woody Harrelson), um homem autoritário que possui métodos questionáveis aos olhos de outros homens, inclusive, montando ao redor de si um muro alto para defender-se de seus inimigos.

    Os filmes de Reeves e Ruppert Wyatt não se preocupavam em serem fiéis a série original, mas sempre reverenciavam os filmes quando assim julgavam necessário. É neste terceiro capítulo que se recontam grande parte dos eventos de A Conquista do Planeta dos Macacos e A Batalha dos Planeta dos Macacos, claro, trazendo os assuntos de divisão de castas e de exploração da mão de obra símia para um contexto mais moderno e verossímil, como já vinha ocorrendo nos episódios anteriores. A surpresa é que a maior parte das referências propostas aqui vão além do simples easter eggs típicos das refilmagens famosas. Cada acréscimo e citação tem alguma importância e valores realmente significativos, não sendo apenas fan service.

    Uma das diferenças básicas entre essas versões e a iniciada em Planeta dos Macacos , de 1968, é a escolha por discutir questões de cunho social e guerra de classes. Outro fator que já era referenciado antes e que se agrava nesses é o completo distanciamento dos homens daquilo que chamamos de humanidade. O homem é mostrado como um sujeito sem escrúpulos, desesperado pela própria sobrevivência e capaz de cercear a vida até de seus entes queridos, caso necessário. O coronel vivido por Harrelson soa caricato em grande parte dos momentos, mas sua postura também dialoga com outros tantos comportamentos de líderes de nossa história.

    Toda a complexidade de personagens é jogada em um quarteto de símios, sendo eles Cesar, o orangotango Maurice (Karin Konoval) que serve de conselheiro do líder símio, Rocket (Terry Notary) que é o braço armado dos macacos, e o novo elemento, Bad Ape (Steve Zhan), que, além de ser um dos personagem mais carismáticos, ainda carrega em si uma importância sui generis no roteiro, sendo portanto a prova cabal de uma teoria que corria desde o primeiro filme. Neste momento, se levanta a possibilidade de que os experimentos iniciados por Will Rodman (James Franco) terem apenas acelerado o processo natural e a nova configuração da cadeia alimentar que colocaria os símios acima dos homens, e essa nova possibilidade de configuração é mais uma das muitas semelhanças entre a série e o ideário dos X-Men.

    Os macacos não são mostrados somente como seres complexos, mas há também profundidade maior em seus desejos e anseios, não restando mais a necessidade de viverem em paz sem serem importunados pelos homens que lhe fizeram mal, mas também uma necessidade de formar uma sociedade auto-sustentável. Os eventos desencadeados a partir do confronto com o Coronel põe em cheque os sentimentos de Cesar, que se deixa levar por desejos vis e egoístas, fazendo-o enxergar inclusive algumas semelhanças suas com Koba, o macaco extremista dos filmes anteriores. Tal argumento favorece o texto de Mark Bomback e Reeve, e o torna mais adulto, mostrando mais uma vez o óbvio, que é possível sim criar um blockbuster com substância.

    As referências aos filmes Apocalipse Now e Nascido Para Matar são muitas. A crueza com que Reeves conduz a maior parte das cenas dramáticas rivaliza em gravidade com as cenas de mortes de povos oprimidos. A beatificação de Cesar relembra muito a trajetória de Moisés à frente do povo israelita, mas sua jornada não é tão retilínea quanto a prevista no livro bíblico do Êxodo, ao contrário, é repleta de tropeços, arrependimentos e de perdas irreparáveis em sua existência. Planeta dos Macacos: A Guerra fecha bem a trilogia, e de certa forma, encaminha a existência na Terra para a famigerada cena da Estátua da Liberdade na praia, revelando o quão trágica e auto destrutiva é a existência do homem.

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  • Star Wars Celebration | O painel de Os Últimos Jedi, o primeiro pôster e o primeiro teaser

    Star Wars Celebration | O painel de Os Últimos Jedi, o primeiro pôster e o primeiro teaser

    Por volta do meio dia, horário de Brasília, desta sexta-feira, teve início o painel de Star Wars: Os Últimos Jedi, na Star Wars Celebration, em Orlando. Como o próprio nome diz, o evento anual busca celebrar Star Wars em todas as plataformas, seja cinema, televisão, games e etc. Durante todo o final de semana teremos novidades a respeito de muita coisa bacana, como foi o caso do painel de Os Últimos Jedi, que assim como em 2015, por causa de O Despertar da Força, trouxe ao palco parte do elenco principal, que nos apresentou curiosidades acerca da produção, encerrando a festa com um belo teaser.

    O apresentador da vez foi o ator Josh Gad, que há meses, vem atormentando Daisy Ridley pelas redes sociais implorando por qualquer informação sobre o mais novo filme da franquia, cujas informações, até então, eram mantidas em absoluto sigilo. O painel teve pouco a relevar, mas, de qualquer forma, para quem não tinha nenhuma notícia, foi bem elucidativo.

    De início, Gad chama ao palco a presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, e o diretor Rian Johnson que teve uma recepção calorosa por parte do público. Johnson estava visivelmente desacreditado naquilo que estava vendo (e se manteve assim por todo o painel). O diretor, que esteve presente no painel sobre os 40 anos da saga, somente para assisti-la, ficou até as 3 horas da manhã atendendo todos os fãs lá presentes, o que é incrível.

    Ao ser perguntado sobre o atual status do filme, o diretor respondeu que Os Últimos Jedi se encontra em fase de pós produção, editando e juntando as peças para a edição final. Kennedy adicionou que Johnson está no caminho certo e já figura na lista dos principais diretores com quem ela já trabalhou. Johnson é um diretor muito único e escreve tão bem quanto dirige, principalmente quando se trata de escrever sobre mulheres independentes e destemidas.

    No mesmo tempo em que davam informações sobre o processo de filmagem, fomos apresentados a algumas fotos de bastidores tiradas pelo próprio diretor com sua câmera analógica particular. Ele explicou que era o único que tirava fotos das coisas sem levar um chute na cara.

    Com relação à Carrie Fisher, Johnson conta algo interessante: passava horas sentado na cama da atriz discutindo sobre o roteiro e a General Leia e que após 6 horas de conversa, riscava tudo que havia escrito e mudava o roteiro.

    Era o momento oportuno para Josh Gad chamar Daisy Ridley ao palco. A atriz usando o coque samurai de Rey estava visivelmente sem graça com tamanha recepção. Gad pede perdão por te-la pentelhado por diversas vezes e avisa que ela deverá tomar cuidado, já que a plateia é muito agressiva. O apresentador continua brincando com Daisy, fazendo as perguntas mais ridículas, querendo saber se Rey e Luke são conectados pelo sangue, se o sobrenome dela é Skywalker ou Kenobi, ou se ela somente se chama Rey e mais nada, como se ela fosse a Madonna de Jakku. Passadas as brincadeiras, Ridley foi perguntada se ela se divertiu trabalhando em Os Últimos Jedi e a atriz comenta que o que ela pode dizer é que a trama se aprofunda mais ainda na história de Rey e que ela tem uma certa expectativa em relação a Luke e que muitas pessoas podem passar por isso quando conhecem algum herói e que a experiência pode não ser exatamente como você espera.

    Após uma graça com BB-8 no palco, John Boyega é chamado e o ator teve, o que seja, talvez, a recepção mais calorosa da noite. Boyega explicou que Finn está passando por um processo de recuperação de suas costas gravemente feridas em O Despertar da Força, mas que o personagem voltará com força total e que, desta vez, não está para brincadeiras. Contudo, Boyega afirma que Finn pode estar passando por incertezas sobre o tipo de pessoa que ele quer ser. O personagem, pelo visto, não sabe se quer se juntar à Resistência, ou se continua fugindo da Primeira Ordem.

    Já no que diz respeito à Primeira Ordem, Rian Johnson explica que a destruição da base Starkiller foi uma grande perda, porém, com a República destruída, a galáxia está um caos e as coisas podem ficar feias por conta disso.

    Falando sobre novos personagens, Johnson explica que Os Últimos Jedi traz alguns novos rostos e ele chama ao palco Kelly Marie Tran, um desses rostos que tem grande participação no filme. O diretor adverte que o público vai amá-la. A sorridente atriz disse que escondeu da família por 4 meses que estava no filme. Tran interpreta Rose, uma mulher que faz parte da Resistência e que é da área de manutenção. Johnson traça um paralelo com Luke Skywalker e Rey, que são puxados pra fora da vida que levam e são colocados numa aventura inesperada. Nem Luke, Rey ou Rose eram heróis, ou soldados antes de se tornarem as pessoas que são.

    É chegada a hora de Mark Hamill subir ao palco e uma nova foto de Luke Skywalker é mostrada. Vale destacar que todos os personagens tiveram fotos oficiais apresentadas durante o painel. O ator, que parecia estar muito cansado, mas muito atencioso e brincalhão, disse que Rian Johnson foi até sua casa para conversar sobre o roteiro e coisas do filme e que Hamill disse a Johnson que uma das coisas que ele mais gosta de Rogue One e da trilogia prequel, é que Luke Skywalker não está lá e que ele podia relaxar e aproveitar, sem sofrer a ansiedade em saber se estava fazendo a coisa certa ou não e que ele, naquele momento, estava apavorado. A resposta de Johnson foi que ele também estava apavorado por ter um filme de Star Wars na mão e que por tais motivos, confiou tudo em Johnson e que se o diretor estivesse satisfeito, Hamill também estaria. O ator foi perguntado como foi achar a voz de Luke Skywalker novamente após tantos anos, tanto vocalmente, quanto metaforicamente e Hamill disse que em O Despertar da Força, tudo que se sabia era que Luke era um eremita vivendo num local isolado e que não se tinha nem ao menos informações sobre seu passado e sobre o que aconteceu desde os acontecimentos de O Retorno de Jedi e ele, como ator, gostaria de saber sobre o background de seus personagens, mesmo não sendo importante para a trama, somente com o intuito de desenvolver o personagem. Esse tipo de pensamento foi muito importante para Luke em O Despertar da Força, então, Hamill escreveu sobre o próprio passado de Luke e deu a entender que o filme não é mais sobre Luke Skywalker, mesmo ele sendo uma peça importante para o desenvolvimento da história e que ainda vai existir muito mistério sobre sua participação, mesmo ele estando realmente no filme. Neste momento, Hamill foi interrompido por Kathleen Kennedy e a presidente assegura aos fãs que Luke Skywalker é significativamente importante para o filme.

    Perguntado por Gad se trouxe algum material para mostrar, Rian Johnson joga um banho de água fria na plateia, dizendo que trouxe o primeiro teaser pôster do filme e o que se vê é a fantástica imagem abaixo que traz Rey, Luke e Kylo Ren:

    Após a epifania causada pelo pôster, Johnson avisa que vai ter trailer, sim e o exibe duas vezes para o público. Confira abaixo:

    Johnson, visivelmente emocionado, agradece o público pelo apoio e encerra o painel.

    Star Wars: Os Últimos Jedi estreia no Brasil em 14 de dezembro de 2017.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (3)

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (3)

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    Maior fenômeno da cultura pop, maior franquia da história do cinema e com o filme mais esperado do ano (possivelmente da década), Star Wars dispensa comentários sobre sua importância. A decepção dos fãs com a nova trilogia encerrada em 2005 era nítida. Tamanha expectativa com a estreia de A Ameaça Fantasma em 1999 só foi igualada pelo tamanho da decepção com filmes tão ruins e que desrespeitavam praticamente todas as premissas estabelecidas na trilogia original. É dentro desse turbilhão de emoções que a franquia ganha em 2015 o primeiro de seus novos episódios, chamado “O Despertar da Força”, dessa vez sob o comando da Disney e direção de J.J. Abrams, com roteiro de Lawrence Kasdan, Michael Arndt e do próprio Abrams.

    Atingir uma expectativa tão grande não era tarefa fácil, e ciente da cobrança (provavelmente injusta) em cima de si, Abrams desde o início resolveu focar justamente onde a nova trilogia falhou: o respeito pela saga original, sua mitologia e simbologia. Dentro deste aspecto, o Episódio VII é muito eficiente. O visual se assemelha muito aos filmes originais, tanto nas cores, vestimentas e designs, como nos pequenos detalhes de botões em centros de comandos, luzes de painéis e toda a arquitetura interna e externa da chamada “Primeira Ordem”, que se assemelhava a do Império, quanto do restante da galáxia.

    A história gira em torno basicamente de dois personagens, Rey e Finn. Rey (Daisy Ridley), residente do planeta Jakku e que sobrevive juntando peças de antigas naves caídas em seu planeta, tanto do império quanto da aliança rebelde, em troca de rações de alimento. Dotada de um espírito perseverante e determinado, Rey sofre naquele cotidiano árduo, ela sonha com a volta de sua família para resgatá-la, já que vimos um flashback onde ela é ali abandonada. Finn (John Boyega) é um stormtrooper que deserta por se recusar a cumprir as ordens que recebe para executar habitantes de Jakku em sua primeira missão, que era recuperar o mapa da possível localização do antigo Jedi Luke Skywalker, em posse do piloto rebelde Poe Dameron (Oscar Isaac) e também buscado pelo vilão do filme, Kylo Ren (Adam Driver). Dameron o esconde em uma unidade BB, chamda BB-8, que encontra Rey, que encontra Finn, que encontram a Millenium Falcon, que é encontrada por Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew/Joonas Suotamo), e de onde a história principal se desenvolve como apresentada nos créditos iniciais: o objetivo é encontrar Luke Skywalker. Os rebeldes querem o retorno do antigo Jedi para ajuda-los, e a Primeira Ordem quer encontrar para destruí-lo, afinal enquanto um jedi estiver vivo, é uma ameaça a seus objetivos.

    Um ponto que o novo filme acerta em cheio é na escolha do novo elenco. Daisy Ridley e John Boyega possuem uma química raras vezes vista em filmes do gênero, o que mostra a noção perfeita dos produtores no casting, e como eles sabiam exatamente o que estavam buscando no filme (ponto positivo para escolherem como protagonistas um negro e uma mulher, tentando tornar o universo de Star Wars mais diverso). Atores mais conhecidos como Oscar Isaac e Domhnall Gleeson (General Hux) também agregam um enorme valor devido a seu talento, mas sempre ajudados por cenas construídas especificamente para os atores darem vida a seus personagens da melhor forma possível. Já Harrison Ford não consegue transmitir de novo o mesmo carisma do Han Solo que vimos na trilogia original. Notório carrancudo a respeito de Star Wars, Ford parece a todo tempo estar em modo automático, e apesar de seu papel funcionar bem na maior parte do tempo, parece não ver a hora de tudo acabar, até mesmo seu figurino demonstra essa preguiça, se assemelhando mais a um cosplay de Han Solo do que o legendário piloto. Tanto que seu destino no filme parece até mesmo saído de uma sugestão sua. Também retornam a seus papéis clássicos Carrie Fisher como a agora General Leia Organa e Anthony Daniels como C-3PO, além de R2-D2 (Kenny Baker).

    Star Wars: The Force Awakens Ph: Film Frame ©Lucasfilm 2015

    Porém, se em todo o respeito ao universo o novo episódio é irretocável, onde ele falha é justamente no excesso de cautela na fórmula da franquia. O Episódio VII recicla praticamente inteira a trama principal do Uma Nova Esperança de 1977. De novo vemos planos escondidos em um robô por um membro da resistência que é capturado pelo vilão principal e por ele torturado. De novo (pela terceira vez) temos uma arma grandiosa capaz de destruir planetas usada como forma de impor a força da “Primeira Ordem” no universo. De novo o plano dos rebeldes é montado em um diálogo expositivo rápido em frente a uma projeção. De novo o plano constituído é destruir essa arma com um ataque aéreo. De novo alguém precisa desabilitar um escudo internamente. De novo temos uma sequência aérea com direito a voos em uma trincheira e a arma é explodida. Tudo filmado de forma muito eficiente e empolgante, sem o marasmo dos episódios I, II e III. Porém, que ainda deixa o fã, lá no fundo, um pouco decepcionado, porque parece que tudo em Star Wars gira em torno de uma arma que precisa ser destruída. Se nos primeiros filmes ao menos o desenvolvimento dessa trama seguia um andamento mais lento, neste capítulo da saga o ritmo frenético do filme mal deixa o espectador respirar para absorver tudo o que está vendo na tela. Não há um momento de pausa, e talvez seja sinal dos tempos, mas um equilíbrio maior neste sentido poderia ter dado mais espaço aos personagens para se desenvolverem de forma mais subjetiva.

    Outro ponto também mal explicado é a origem da “Primeira Ordem”, organização que substituiu o antigo Império. Também não é falado nada a respeito de Kylo Ren e sua ordem, assim como seu mestre, Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), o que reflete não uma tentativa de não contar muito da história, e sim um certo descuidado com o roteiro, afinal, essa falta de informação faz com que ambos os vilões não representem uma ameaça tão grande quanto Darth Vader no primeiro filme. Porém, a relação entre o braço militar da Primeira Ordem, representado pelo General Hux (em alusão clara ao nazismo) e o braço místico representado por Ren é muito bem construída, e a crescente tensão e disputa entre os dois personagens pela aprovação de Snoke serve como catalisador para diversas situações interessantes no filme, especialmente para Ren, que mostra uma fragilidade interessante ao se dizer tentado pela luz. Mesmo Adam Driver não entregando uma atuação maravilhosa, seus melhores momentos ainda ficam enquanto usa a máscara e entoa a voz mecanizada e assustadora que emula, propositalmente, Darth Vader. Outro personagem muito esperado pelos fãs, a Capitã Phasma (Gwendoline Christie), possui uma participação reduzida no filme, o que se pode extrair daí dois pontos: a menção a Boba Fett, personagem construído pelos fãs e que nunca fez muita coisa nos filmes, e que ela irá voltar nos próximos episódios, possivelmente com um papel maior.

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    Mas, mesmo com esses pontos negativos, o principal objetivo do filme é mantido, que era resgatar o espírito da franquia e a magia de se contar uma história dentro da mitologia que cativa tanta gente ao redor do mundo. A excelente cena de Rey tocando no sabre de Luz de Luke e tendo seu primeiro contato com a força utiliza de efeitos especiais como deve ser, em favor de se contar uma história. A Força é explicada a ele na cena seguinte por Maz Kanata (Lupita Nyong’o) relembrando os ensinamentos de Yoda em O Império Contra-Ataca, deixando de lado a bobagem pseudo-científica dos midi-chlorians inventada por Lucas em “A Ameaça Fantasma”. Outras pequenas homenagens ao universo também são feitas, quando Finn enfrenta com o sabre de luz um stormtrooper que empunha uma arma que lembra uma vibroblade em um duelo muito bem construído. A opção de Abrams pelos cenários reais ao invés do tão criticado CGI foi louvada por praticamente todos, e o resultado é nítido. Tudo parece real (e é!), nos fazendo acreditar em todo momento em tudo o que está acontecendo na tela. Em momento algum da projeção a credibilidade do filme é quebrada por conta de algum efeito especial mal acabado. Tanto os monstros mais simples quanto as excelentes e bem trabalhadas sequencias de confronto entre as X-Wings e os TIE Fighters passam um realismo que o fã de Star Wars sempre quis ver novamente, mas devidamente atualizado. A leveza do humor também consegue apagar o marasmo das tramas políticas da nova trilogia, e tanto BB-8 (sabiamente utilizado) quanto Finn (e também várias cenas com os stormtroopers) possuem cenas que tiram risos naturais da platéia.

    As cenas de luta também são outro ponto positivo, sendo muito bem feitas e distantes do balé estéril mostrado na nova trilogia, como o próprio Abrams havia deixado claro que iria fazer. Com pouco treinamento, não seria possível os personagens exibirem tamanha técnica nos duelos, o que torna a emoção e a visceralidade dos golpes e defesas ainda maiores. O duelo entre Rey e Kylo Ren, apesar de causar estranhamento inicial (afinal, como ela empunhando um sabre pela primeira vez iria competir com um mestre da ordem Ren?), consegue transmitir em poucos minutos uma carga dramática muito grande, e a superação de Rey utilizando a Força estabelece-a como o que era desde o início, um campo de energia que depende da pessoa usá-la e canalizá-la corretamente, não importando você ter décadas de treinamento de esgrima. O que importa é a Força, sua vontade, determinação e o quanto você acredita fielmente nela. Neste filme a Força é realmente importante e um de seus maiores méritos é justamente mostrar como ela é poderosa. Kylo Ren parando no ar um raio do blaster de Poe Dameron é fenomenal. O uso que faz da Força a todo momento nos mostra mais detalhes do que a saga havia mostrado até então. O mesmo acontece com Rey conforme ela vai descobrindo seus poderes enquanto vai sentindo-os.

    Portanto, “O Despertar da Força” entrega justamente aquilo que os fãs esperavam tanto. Um filme fiel as suas origens e que tratasse todo o seu legado com respeito. J.J. Abrams se declarou fã da franquia por diversas vezes, e talvez esse excesso de respeito tenha tornado o filme seguro demais, sem praticamente tomar nenhum risco sob o ponto de vista narrativo. Porém, com o tamanho estrago feito pelos três filmes anteriores da franquia, essa escolha é perfeitamente compreensível. O que podemos esperar agora é, com o universo novamente consolidado, que novos objetivos sejam traçados e que possamos ver novas histórias ser contadas de outras formas. O Império Contra-Ataca é o que é justamente porque a sua frente tem alguém que entende a linguagem cinematográfica mais do que entende de Star Wars. Entende a motivação por trás de cada personagem e as ações condizentes que eles deveriam tomar. Entende que pequenos detalhes fazem a diferença entre algo comum e algo fenomenal. Não fosse Irvin Keshner, Han Solo nunca teria dito “Eu sei” ao ouvir que Leia o amava. É isso que a franquia precisa.

    O Episódio VIII já tem seu diretor contratado, o novato e promissor Ryan Johnson, que sempre carrega uma atmosfera noir em seus filmes. Com tempo, um bom roteiro e um pouco de sorte, talvez tenhamos algo novo neste sentido. As expectativas agora estão mais altas do que nunca (ainda mais pela cena final do Episódio VII), pois a comparação da sequência ser melhor que o anterior, relembrando os episódios IV e V, será feita. Ao menos agora estaremos felizes esperando o próximo, e não mais apreensivos.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

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    Após um recomeço informal mas ainda assim acertado na franquia Missão Impossível e misturar novidade e reverência a um seriado laureado em Star Trek, J. J. Abrams finalmente dá vazão ao objeto que era seu sonho e o de muitos aficionados. Star Wars – O Despertar da Força começa tradicional, acompanhado do famoso letreiro vertical, iniciando sua trama novamente com uma perseguição espacial desigual, atendendo finalmente ao anseio de uma legião de seguidores, após péssima última trilogia.

    A condução do filme beira a excelência. Se em Star Trek os exageros de Abrams fez torcer o nariz de grande parte dos fãs, em Despertar da Força as injeções de adrenalina funcionaram muito bem. A começar pelo fato de o projeto nascer a partir de um roteiro de Lawrence Kasdan, que também escreveu os textos de O Retorno de Jedi, Império Contra Ataca e Os Caçadores da Arca Perdida, além do trabalho de Michael Arndt.

    O produto final também contou com a colaboração do diretor, que conseguiu imprimir um equilíbrio visual pontual, dando destaque para os restos do império, sobrevoando Star Destroyers caídos sobre a areia, usando o cenário como elemento da narração, e não despiste como nos últimos filmes de George Lucas. O diretor é equilibrado, emulando uma escola de cinema americana clássica, a um estilo semelhante de Clint Eastwood e John Ford, claro, guardadas as devidas proporções ao gênero blockbuster, trazendo harmonia entre visual e textual, fugindo de o histrionismo imagético  que povoou o cinema recente de Star Wars.

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    O argumento trata de um período complicado politicamente, claramente não explicitado em detalhes minuciosos, possivelmente para exploração do novo Universo Expandido autorizado pela Disney, que, a priori, considerará tudo como canônico. As lacunas temporais servem de estofo para o mistério, fomentando a curiosidade de público e de personagens com o paradeiro de Luke Skywalker (Mark Hammill). A história dessa vez é contada a partir do olhar de Finn (John Boyega), um personagem repleto de carisma e ligado ao lado negro. Sem demora, seu destino é entrelaçado com o do exímio piloto Poe Dameron (Oscar Isaac), e de seu “mascote” BB8, em Jakku, um planeta arenoso, como Tatooine. Nesses momentos, são introduzidos também o vilão Kylo Ren (Adam Driver), em cenas belíssimas e repletas do massa véio fan service esperado da parte de um diretor que um dia já foi também um fanboy da saga de Lucas.

    Apesar de Finn  unir o alívio cômico a uma personalidade valente, é a jornada de uma personagem feminina a de maior destaque. A Rey composta pela até então desconhecida Daisy Ridley é a heroína, sendo esta a principal semelhança entre todos os espelhamentos deste roteiro ao de Nova Esperança, já que ela também é orfã,  de profissão simplória (catadora de sucata), habitante de um lugar desolado e sem esperança e que ainda assim, insiste em ter sonhos e anseios. Além das óbvias referências a Luke, lhe cabe também o intervencionismo da antiga princesa Leia e o caráter voluntarioso de Mara Jade, a jedi do lado sombrio introduzida em Herdeiro do Império. Seus enfrentamentos e as surpresas do roteirosão de encher os olhos e a composição de suas características são pontuais, acentuadas pelos closes que Abrams usa em suas cenas, que invadem sua psique e revelam pouco a pouco o seu ideário, além  de claro, trazer uma história detalhada em imagens.

    Talvez o problema mais flagrante – e não o maior – em Despertar da Força seja o cenário político. Nos filmes, a apresentação da sociedade era maniqueísta: existia o Império, malvado e cruel, em contraponto ao mambembe grupo de revolucionários da Rebelião. Quando Lucas tentou tornar complexo, soou pueril, e nesta, os detalhes são muito mais sugeridos do que trabalhados,  soando mais rico do que qualquer filme tocado por seu criador. O pouco que se sabe é que Nova República foi instaurada e sofreu um duro golpe a partir de um traidor que se alistou aos resquícios do Império Galáctico, unidos sobre o nome da Primeira Ordem, que tem no General Hux (Domhall Gleeson) um líder ideológico, e em Kylo Ren a figura religiosa, reprisando a dupla Tarkin/Vader, ainda que bem menos inspirados. Os mistérios ao redor do tal líder supremo Snoke, dublado e executado por Andy Serkis são tão grandes quanto o entorno de Luke, e parecem só ser revelados ao longo desta nova saga.

    As referências ao III Reich são ainda mais escrachadas com a Primeira Ordem do que eram com o Império, com cenas de discursos inflamados que soaram tão semelhantes a persona de Hitler em A Queda: As Últimas Horas de Hitler que pareciam inclusive serem pronunciados no idioma alemão. Apesar da distância ideológica, há uma intimidade implícita entre os distintos lados, com uma revelação familiar revelada logo de início, fugindo da possibilidade de gerar um burburinho de uma cópia do impacto ocorrido no episódio V.

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    A participação dos personagens clássicos varia entre momentos épicos e futuros plausíveis, mas um pouco decepcionantes. Han Solo finalmente retornaria a pele de Harrison Ford, que consegue com maestria expressar sentimentos de remorso e culpa, pelos rumos que a galáxia e que sua vida pessoal tomaram, mas seu ofício atual é muito pouco para o potencial que sempre apresentou, ainda assim, é menos incoerente que os rumos do antigo Universo Expandido. Leia Organa interpretada por Carrie Fischer consegue equilibrar o papel de líder político resignada e mulher forte que sobreviveu a tantas mágoas. Chewbacca (Peter Mayhew) tem menos momentos de ação e mais de comédia, bem como C3PO (Anthony Daniels), que se destaca em uma engraçada cena para os fãs que conheciam a lenda da perna dourada, que permeou os filmes originais. Nenhum destes ofusca a trajetória de Rey, Finn, Dameron e BB8.

    A edição de som é primorosa em mais um trabalho dedicadíssimo de Ben Burtt, que dá consistência e volume a todo o aspecto mecânico da obra, incluindo até sons da fuselagem da Milenium Falcon e outras naves. O equilíbrio entre efeitos práticos também ajuda a textura do filme em relação aos produtos antigos e a propensão de easter eggs soa interessante também.

    J. J. Abrams usa extensivamente planos longos, ao estilo de Terence Malick, ainda que os significados sejam diferenciados, já que os cenários não são exatamente personagens da trama, e sim complementos de um ambiente já vasto. As ligações com o antigo Universo Expandido servem para inserir no antigo fã algum consolo pela destituição de todo o ideário construído por anos e consumido por muitos. A estrutura social que deverá ser explorada em livros e spin-offs tem em sua base o conceito pensado por Timothy Zhan em sua trilogia Thrawn e eventos posteriores, especialmente na figura de Kylo Ren, ainda que sua concepção encontre alguns problemas, não da sedução para o lado da força, e sim por detalhes que precisavam de uma minúcia maior. Ainda assim, nas cenas em que revela seu rosto, Adam Driver consegue soar dúbio e cruel.

    Apesar de não ter uma batalha tão equilibrada quanto em Yavin ou Endor, os momentos finais são carregados de emoção, em especial nas cenas de ação. O final, com clima de cena pós-crédito, sobra em emoção e edificação, trazendo um nostalgia semelhante a vista em toda a postura do Ben Kenobi de Alec Guiness. A ideologia e espiritualidade da força retorna como nunca, repleta de alma, nostalgia e aura lendária, finalmente revivida após trinta e dois anos sem qualquer resquício do rastro dos bravos jedi, da aliança rebelde – chamada agora de resistência – e de todo o ideário que geraram sonhos em tantas gerações. Um capítulo primordial do que pode ser uma saga tão clássica quanto a primeira.

     

  • Crítica | Planeta dos Macacos: O Confronto

    Crítica | Planeta dos Macacos: O Confronto

    Planeta dos Macacos O Confronto

    Lançado em 2011, Planeta dos Macacos: A Origem conseguiu ser bem-sucedido de uma forma que poucos reboots são capazes. Isso porque o longa não se limitou a modernizar aspectos superficiais e recontar a mesma história, e sim dedicou-se a um ponto fundamental para que uma franquia sobre macacos humanoides falantes pudesse ser levada a sério nos dias de hoje: a transição do mundo, como nós o conhecemos, para o Planeta dos Macacos propriamente dito. O novo capítulo da saga, intitulado O Confronto, dá mais um passo nessa direção, felizmente ainda sem pressa.

    Apesar da mudança na direção (saiu Rupert Wyatt, entrou Matt Reeves), o filme manteve sua identidade, não apenas visual como também conceitual. A pegada de realismo/seriedade permaneceu e ganhou contornos mais dramáticos, pois o cenário agora é muito mais sombrio. Dez anos após o fim de A Origem, o vírus criado em laboratório praticamente dizimou a humanidade. Um grupo de sobreviventes localizado em São Francisco precisa reativar uma usina hidrelétrica situada numa floresta próxima. O problema é que neste território vive uma enorme comunidade de símios evoluídos, liderados por nosso velho conhecido Cesar (Andy Serkis, pra variar humilhando mais uma vez). Nem um pouco difícil adivinhar que o contato entre os dois grupos não vai acabar bem.

    Logo nos primeiros minutos da produção, o fato de um dos lados ser composto por macacos se torna irrelevante. Eles são organizados, caçam, se comunicam (principalmente por gestos, ainda), transmitem conhecimentos complexos para os mais jovens, e até andam a cavalo. Vemos, indiscutivelmente, uma civilização. A partir daí fica reconhecível um dos argumentos mais velhos do mundo, o contato entre dois povos cujo nível tecnológico é diferente. Ódio e medo do desconhecido, preconceito por parte dos “superiores”, bons e maus elementos em ambos os grupos, todos os elementos estão lá. Nesse sentido, o filme conquista seu lugar no hall das boas ficções científicas, que usam um contexto diferente para falar dos nossos problemas atuais e históricos.

    Grande parte do mérito da manutenção da identidade, que faz com que O Confronto se encaixe perfeitamente como a continuação natural de A Origem, cabe ao retorno dos roteiristas Rick Jaffa e Amanda Silver, agora com a adição de Mark Bomback. A jornada de Cesar continua, mostrando que governar é muito mais difícil do que liderar uma revolução. Agora mais velho e pai de família, tenta atuar como líder moderado, buscando preservar tanto seu povo quanto os humanos, dos quais conheceu o lado bom. A oposição surge na figura de Koba, cujo ódio pelos humanos (por ter sido cobaia de laboratório durante anos) o conduz a uma postura cada vez mais belicosa. Aliás, palmas para o ator Toby Kebbell, que faz um trabalho tão bom quanto o de Serkis.

    O elenco, aliás, conta com grandes nomes que fazem um trabalho discreto porém sólido, uma vez que o destaque sem dúvida é da galera da captura de movimentos. Gary Oldman, como o líder do grupo humano, começa gritando a plenos pulmões, mas seu personagem perde importância com o decorrer da trama. O casal vivido por Jason Clarke e Keri Russell representa os bonzinhos da vez, e tem ótimos momentos interagindo com Cesar. Quem também mostra competência é Matt Reeves, seguro tanto nos momentos mais intimistas quanto nas cenas de ação, nas quais sabe imprimir tensão e fazer o espectador se sentir no meio do caos – basta lembrar de seu principal trabalho, Cloverfield.

    Embora sobrem acertos, o filme não está isento de falhas. Incomoda o quanto os humanos parecem organizados, limpos, bem alimentados. Depois de dez anos em um cenário pós-apocalíptico, era de se esperar que eles estivessem em pior estado. A motivação para ativar a hidrelétrica, se analisada com calma, também não convence. Os personagens dizem estar cientes que a energia vai durar por tempo limitado, e o principal objetivo é conseguir contato com outros grupos de humanos, para assim “reconstruir a civilização”. A experiência não ensinou a eles o perigo de encontrar outras pessoas num mundo de recursos limitados?

    Contudo, os erros são perdoáveis por se tratar de uma história na qual o “o que” e o “como” são muito mais relevantes que o “por que”. O futuro onde macacos ainda mais evoluídos escravizam os humanos ainda parece distante, é difícil enxergar Cesar nessa equação, ainda que sua escolha final (consciente e de coração pesado) represente mais um pequeno passo nessa direção. Que a saga continue sendo contada sem pressa alguma, pois está claro que este é um dos casos em que a viagem é mais importante que o destino.

    Texto de autoria de Jackson Good.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.

  • Crítica | O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

    Crítica | O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

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    Aproximadamente 9 anos atrás, saíamos da projeção de O Retorno do Rei emocionados tanto pela história, adaptada de maneira irretocável para o cinema, quanto por ter acabado aquela épica aventura para salvar a Terra Média. O questionamento de quando viria a adaptação para o cinema de O Hobbit era constante, e problemas dos mais diversos com a produção tornaram o hiato entre os filmes ainda maior. Mas, depois de uma longa e conturbada espera, podemos finalmente apreciar no cinema mais essa aventura baseada em uma obra de J.R.R. Tolkien, dirigida novamente por Peter Jackson, com roteiro de Peter Jackson, Guilhermo del Toro,  Philippa Boyens e Fran Walsh.

    Para os não familiarizados com a história, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada se trata de uma aventura vivida por Bilbo Bolseiro (Martin Freeman/Ian Holm), em que ele se une ao mago Gandalf (Ian McKellen) e a um grupo de 13 anões, liderados por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage). O objetivo da comitiva é retomar o Reino Anão de Erebor e o tesouro dos anões do dragão Smaug. Nessa jornada pela Terra Média, enfrentarão os mais diversos inimigos e contratempos, desde orcs, lobos, armadilhas na floresta e tudo mais que uma boa aventura pode lhes proporcionar.

    A primeira coisa a se notar é que, assim como a trilogia Senhor dos Anéis não permitia uma análise final sobre cada um dos filmes individualmente, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada também não pode ser pensado apenas como um filme único. Seu roteiro, planejamento e montagem foram para 3 filmes. Portanto, o arco dramático da história também fica à mercê de suas continuações, apesar de também ter que se comportar e funcionar de alguma forma como um filme sozinho.

    Outro ponto importante, ainda sobre a adaptação, é que com O Hobbit uma lógica comum do cinema foi invertida. Como se trata de apenas um livro de aproximadamente 300 páginas, dividido em 3 filmes, nesse caso foram adicionadas personagens, passagens ou elementos, quando o natural seria que fossem retiradas ou aglutinadas. Alguns desses elementos foram resgatados de O Senhor dos Anéis, outros repensados de Silmarillion. Essas inserções, ao mesmo tempo em que podem enriquecer ainda mais esse universo de criaturas fantásticas, podem também levar ao excesso, com situações jogadas apenas pelo intento de se criar algo ainda maior do que o original. Infelizmente, é o caso desse filme.

    O maior problema de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada reside justamente na extensão de tramas, subtramas e flashbacks adicionados ou transcritos de maneira quase literal das páginas para o cinema. É nítido que os 169 minutos de exibição são muito mais extensos do que deveriam, e já suficientes para questionar a necessidade de 3 filmes para contar essa história. Apesar de contar com bons trechos cômicos, adaptados de maneira fiel ao livro – por exemplo, a chegada dos anões à toca de Bilbo -, a primeira metade do longa é um convite ao bocejo constante. Muitos são os momentos em que a trama gira em torno de si mesma sem levar a lugar algum e, para os que conhecem a obra, fica a constante expectativa para que chegue logo algum momento chave do livro, sem se importar realmente com esses elos da narrativa. Já para os que não conhecem, não posso entrar na mente de alguém nessa situação para saber exatamente, mas acredito que a experiência deve ser algo próximo à primeira leitura dos capítulos de A Sociedade do Anel em que Tom Bombadil dá o ar da graça. Ou seja, tedioso e andando em círculos.

    Entretanto, se a primeira metade é em grande parte desinteressante e sonolenta, do trecho final não se pode dizer o mesmo. Todas as batalhas – que acontecem com grande frequência – são muito bem elaboradas e trazem de volta a atenção do espectador. Um dos trechos icônicos, a briga dos gigantes de pedra, nada menos do que sensacional pode definir, e o aguardado trecho mais interessante dessa parte da história, as “Charadas no Escuro”, foi brilhantemente adaptado para as telas. Vemos um Gollum (Andy Serkis) ainda mais perturbado e ambíguo. Méritos aqui tanto para a atuação de Serkis, que se mostra ainda melhor e focada na construção desse personagem. E méritos também para os efeitos visuais, que deram ainda mais brilho e vivacidade para ele, confirmando o posto como uma das melhores composições entre CG por cima de uma atuação.

    Sobre o visual do filme – e nesse ponto é bom ressaltar que a versão a que assisti foi 2D normal, já que o filme tem 4 diferentes: 2D, 3D 24 FPS, 3D 48FPS e 3D Imax. Nessa versão, como já era de se esperar, todo o aspecto visual do filme é ótimo, desde a belíssima fotografia – capturando tanto os belos campos abertos da Nova Zelândia, que servem como palco para o filme, quanto cenas internas, com cenários trabalhados nos mínimos detalhes e que funcionam não só visualmente, para compor a perfeita ambientação e imersão na história, mas também dando vida à Terra Média, tornando-a novamente um personagem, talvez até o maior e mais importante personagem das histórias de Tolkien. Por mais fantasiosa que seja a história, com o bom trabalho executado em sua composição ela se torna crível.

    Outro aspecto interessante é a mudança de tom das histórias. Enquanto Senhor dos Anéis é uma jornada para salvar a existência das raças da Terra Média, uma jornada dura e temerosa para seus participantes, O Hobbit, como livro, já é uma aventura mais leve, com espaço para trapalhadas, comilança e um tom infantil – tanto é que o livro de 1937 era destinado aos filhos do Tolkien. Já na adaptação, algumas trapalhadas e situações engraçadas continuam presentes, mas um tom sombrio, mais sério, foi adicionado à história. Os anões já não são tão desajeitados e dão mais importância a recuperar suas terras do que o tesouro, em contraponto ao livro. Talvez isso seja uma tentativa de aproximar O Hobbit ainda mais à Trilogia do Anel, o que não é necessariamente bom nem ruim, principalmente ao vermos apenas a primeira parte da história. Talvez a versão para o cinema exija esse tipo de mudança e isso se mostre uma decisão acertada, mas essa diferença de rumos é algo que só poderá ser avaliado com clareza no encerramento do terceiro filme. Por enquanto, o máximo que podemos fazer é relacioná-la às nossas expectativas.

    No mais, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada é um bom filme, bem apresentado como introdução à aventura de Bilbo Bolseiro, que deve agradar tanto aos mais fanáticos pela obra de Tolkien quanto aos recém iniciados nesse universo, mas ávidos por boas histórias de fantasia de capa e espada. Todavia, sua longa e desnecessária duração, aliada à falta de um encantamento subjetivo, quase “mágico”, fruto talvez do inesperado (que se faz presente nos filmes de O Senhor dos Anéis, mas no momento não desencantou em O Hobbit) faz com que essa nova trilogia comece a pelo menos um degrau abaixo da sua antecessora, algo que pode muito bem ser revertido nos próximos filmes. Mas esse é um assunto para dezembro do ano que vem.

  • Crítica | As Aventuras de Tintim

    Crítica | As Aventuras de Tintim

    Ao chegar no fim de As Aventuras de Tintim fica difícil, mas muito difícil mesmo imaginar que qualquer outro diretor possa fazer uma adaptação do principal personagem do cartunista Hergé tão impressionante quanto a realizada por Steven Spielberg.

    A ideia de se levar Tintim às telas é antiga. Afinal, ele mesmo, o próprio personagem, também já passou dos 80 anos: sua primeira publicação data de 1929. Por todo esse tempo de existência, não é difícil imaginar quantas pessoas já imaginaram como seria ver as aventuras do jovem repórter na tela grande.

    Também é fato conhecido há bastante tempo na Europa que, tanto o artista belga quanto a crítica – sobretudo a francesa -, acreditavam que Spielberg era o homem certo para o trabalho. Diz a lenda que Hergé ficou encantado depois de ter assistido Caçadores da Arca Perdida e que viu no cineasta americano a pessoa ideal na transposição de sua criação mais conhecida para a sala escura.

    E agora que o filme chegou ao circuito, é possível afirmar: ele estava absolutamente certo. Spielberg acerta do início ao fim em “As Aventuras de Tintim”. E o primeiro acerto precede o filme em si.

    A opção por usar cenários virtuais e o recurso da captura de movimentos foi preciosa. Os principais detalhes encontrados nos personagens que formam a história de Tintim nos quadrinhos estão lá: o capitão Haddock, os inspetores Dupont e Dupond e o fox terrier Milu – que, aliás, em vários momentos se transforma no personagem principal do filme.

    Todos retratados com uma fidelidade que dificilmente vai decepcionar quem acompanha as viagens dos personagens nos álbuns originais. É a prova do respeito que o cineasta tem pelo material original. Ou seja, a caracterização está mantida.

    Imaginar uma versão com atores reais chega a dar calafrios. Isso porque determinados personagens têm características físicas tão cartunescas – traços exagerados ou minimalistas, retratação em cores berrantes – que torna praticamente impossível imaginá-los sendo vividos por seres humanos.

    São justamente os exageros visuais dessas criações que nos transportam para outros lugares e garantem a fantasia. E quando se fala em fantasia, de fato ninguém supera Spielberg. Um dos maiores clichês sobre o cineasta é dizer que, em boa parte de suas obras, ele ainda mantém um olhar de criança ao filmar. Tintim comprova a afirmação.

    “As Aventuras de Tintim” é um filme de ação desde o início. Sem o menor pudor de se assumir como tal. E esse talvez seja um de seus maiores méritos. O ritmo é acelerado, porém os cortes não são fragmentados – aqui não há o que se convencionou chamar de “estética MTV”. Trata-se de uma ação contínua: uma cena puxa a outra e a outra e a outra e assim por diante.

    Muitos poderão até achar engraçado, mas ver esse filme faz imaginar o quanto Spielberg deve ter assistido as obras de François Truffaut. A câmera é de uma leveza e fluência assustadoras, que lembram muitos momentos do autor francês. E o meio virtual no qual a produção foi registrada rompe qualquer amarra que a realidade física poderia impôr ao cineasta.

    A construção dos personagens fica em segundo plano, porém não é esquecida. E nesse ponto, nenhum chama mais a atenção que Haddock. Talvez para dar um pouco mais de drama e sofrimento, no filme o capitão é bem mais viciado em bebida que nos quadrinhos – o que, certamente, aprofunda sua fragilidade e, por consequência, sua dimensão humana.

    E aqui cabe sublinhar mais um trabalho primoroso do ator Andy Serkis. Que ele não fique estigmatizado, mas o homem se tornou um mestre na composição de personagens virtuais, vide o “Gollum” de O Senhor dos Anéis e o César de Planeta dos Macacos – A Origem.

    Em meio a tantas cenas de ação bem construídas, com muitos tiros e socos – quem leu os quadrinhos sabe que as histórias de Tintim não podem ser exatamente classificadas como “infantis”. Esse é um erro recorrente – , uma delas se destaca: preste muita atenção na sequência da fuga do castelo, no Marrocos. Se você não se movimentar na cadeira pelo menos um pouco com a agilidade das tomadas e a sucessão de cenas para se chegar à conclusão da sequência, acredite: há algo errado contigo.

    Outro excelente momento ocorre quando Haddock finalmente se lembra da história contada por seu avô – fundamental para a compreensão da trama. Repare na precisão da sequência de fusões e flashbacks que o diretor cria para que a história fique coerente aos olhos do espectador.

    É um filme para sair da sessão de cinema pensando seriamente em descer escorregando pelo corrimão da escada. Para voltar a se sentir um pouco como os garotos que já fomos numa época de nossas vidas. Sensação semelhante à que experimentamos quando assistimos Indiana Jones.

    Aliás, veja como Tintim, numa das cenas citadas acima, utiliza uma motocicleta com sidecar muito parecida como a usada por Harrison Ford e Sean Connery em Indiana Jones e a Última Cruzada.

    Há quem veja muitas semelhanças entre o repórter criado por Hergé e o arqueólogo concebido por Spielberg e George Lucas.

    Sinceramente: bendita semelhança.

    Texto de autoria de Carlos Brito.

  • Crítica | Planeta dos Macacos: A Origem

    Crítica | Planeta dos Macacos: A Origem

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    Uma das franquias mais clássicas da história do cinema e da cultura pop está de volta. Na onda interminável de remakes, reboots, relaunchs (opa, assunto errado), foi a vez de Planeta dos Macacos ganhar seu “como tudo começou”, com o filme lançado no dia 26 de agosto nos cinemas brasileiros. A última vez em que os símios marcaram presença na telona foi em 2001, numa tentativa frustrada de refilmar o original de 1968 cometida por Tim Burton. Agora, a opção foi por começar do zero. E a exemplo de X-Men – Primeira Classe, a decisão se mostrou acertada e o resultado foi surpreendente.

    Nos tempos atuais, no planeta Terra como nós o conhecemos, Will Rodman (James Franco em uma atuação competente) é um pesquisador em busca de uma cura para o mal de Alzheimer, motivado principalmente por ver seu pai (John Lithgow, ótimo) sofrer com a doença. Ele desenvolve uma nova droga capaz de regenerar neurônios, e durante os testes em macacos descobre que o composto aumenta exponencialmente as capacidades mentais dos animais. Após um incidente, todas as cobaias são sacrificadas, mas Will esconde e leva pra casa um chipanzé recém nascido, cuja mãe recebeu a droga durante a gestação. Cesar, como é batizado, acaba revelando possuir uma inteligência muito superior á de qualquer macaco, sempre se desenvolvendo aceleradamente. Já adulto, é forçado a tomar consciência de quem e do que é, e daquilo que representa para sua espécie.

    Preciso dizer que não sou fã da franquia, nem assisti aos filmes antigos. O conceito de um mundo povoado por macacos humanóides falantes sempre me pareceu galhofa demais. Então, meu interesse por essa nova produção era zero… até ver o trailer. A proposta aqui é algo bem diferente, pegando apenas alguns conceitos da franquia e adaptando tudo para um cenário mais crível e realista. Esse ainda não é o Planeta dos Macacos, mas é possível vislumbrar como e por que esse será o futuro. Em grande parte porque a jornada de Cesar é muito bem construída, apesar de alguns exageros perfeitamente aceitáveis, afinal, a ficção científica exige uma dose de suspensão de descrença. Mas sem dúvida o roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver é bastante coeso, e a direção de Rupert Wyatt é impecável sobretudo nas cenas de ação.

    O grande mérito do filme, porém, vêm de uma parceria antiga: A Weta Digital nos efeitos visuais e Andy Serkis na atuação por captura de movimentos. Ele que já foi Gollum e King Kong, agora surge como protagonista indiscutível e dá um show. Cesar não parece “real”, a proposta nem era essa, inclusive todos os macacos do filme são digitais. A chave aqui é o desconforto causado por ver expressões faciais e corporais tão absolutamente humanas em feições simiescas, sem parecer galhofa em nenhum momento. O trabalho de Serkis é tão impressionante que se cogita uma indicação ao Oscar. Exagero? Provavelmente, mas de forma alguma imerecido.

    Planeta dos Macacos – A Origem está entre as melhores surpresas do ano, e é um filme recomendadíssimo quer você seja ou não fã da franquia.

    Texto de autoria de Jackson Good.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.