Tag: Mark Bomback

  • Crítica | Duro de Matar 4.0

    Crítica | Duro de Matar 4.0

    Duro de Matar é uma das bem mais sucedidas franquias do cinema. Ainda que tenha somente cinco filmes, as aventuras vividas pelo policial nova iorquino, John McCLane, sempre estrelado por Bruce Willis, caíram no gosto do público. O McCLane de Willis parece sempre de mal humor, regado de ironias, sarcasmos e cinismos e aparenta ser gente como a gente. É fácil nos enxergar em várias situações vividas pelo personagem.

    A franquia estabeleceu algumas regras básicas: McCLane deve sempre estar no lugar errado e na hora errada, assim como algo que já foi estabelecido com Max Rockatansky em Mad Max. Se no primeiro filme McCLane viaja até Los Angeles para surpreender sua esposa e se vê no meio de uma conspiração com feridos e reféns, no segundo, vai até Washington buscar a mulher no aeroporto e acaba por impedir um atentado terrorista e no terceiro, em casa, lida com um terrorista que tem interesses pessoais com McCLane e que coloca em risco toda a cidade de Nova Iorque. Já neste Duro de Matar 4.0, um pouco das regras são mudadas e McCLane, um policial “das antigas”, precisa lidar com o cyber terrorista Thomas Gabriel (Timothy Oliphant), após ser escalado pelo FBI para escoltar um hacker chamado Matt Farrell (Justin Long). Após McCLane e Farrell sofrerem um ataque, o policial percebe que seu dia será longo demais, mais uma vez.

    Devemos lembrar que os três primeiros filmes lidam com o terrorismo de uma maneira mais “aberta”, principalmente na segunda e terceira fita, onde as explosões e violência são escancaradas. Mas também, era uma época pré 11 de setembro, uma época até então que as nações (principalmente a americana) acreditavam ser indestrutíveis. É fato que o maior atentado terrorista da história mexeu com os americanos e mudou a maneira de se fazer cinema, mudando também, John McCLane. Por isso, colocar McCLane para enfrentar um cyber terrorista (após diversas mudanças no roteiro), talvez tenha sido a decisão mais acertada, mas também a mais errada.

    Claro que esperávamos a famosa interação do “tiozão” com as máquinas. Prevíamos boas situações constrangedoras, como piadas com a idade e coisas do tipo, mas a verdade é que não funcionou. Primeiro porque realmente faltou sensibilidade dos roteiristas em desenvolver algo que soasse mais natural na relação do nosso herói com o mundo das máquinas. Segundo porque a relação de McCLane com seu sidekick da vez não tem química alguma, ainda mais após termos um filme com Bruce Willis e Samuel L. Jackson em cena, algo que funcionou de maneira certeira. E por último porque o jeito “chato” de McCLane, dessa vez, não convence como antes.

    O maior problema de Duro de Matar 4.0 é que McClane virou justamente o que criticava, no caso, oherói perfeito, que é praticamente indestrutível. Como paródia de si mesmo, virou uma paródia da subversão que personificou.

    Ainda assim, o filme rende bons momentos e são nos momentos em que o protagonista está em terreno seguro, leia-se deboche, ação e pancadaria, como na perseguição de carros no primeiro ato, ou na cena em que enfrenta Mai Linh (Maggie Q), no segundo ato e quando dirige um caminhão, no terceiro ato (e que descamba para uma cena bem desnecessária que envolve um caça). Ah, a participação de Kevin Smith como um “nerd supremo” também é muito boa.

    A sorte de Duro de Matar 4.0 é que existe o quinto filme, que é extremamente ruim, sendo que um sexto filme está em desenvolvimento. Só nos resta aguardar e torcer para vermos o bom e velho John McCLane de volta.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Crítica | Planeta dos Macacos: A Guerra

    Crítica | Planeta dos Macacos: A Guerra

    Em X-Men: Deus Ama O Homem Mata, Chris Claremont e Brent Anderson falavam sobre a intolerância dos humanos contra os mutantes, situação que já era presente nas histórias pregressas dos X-Men e se acentuou nesta, usando como exemplo de nêmese o fanatismo religioso de um reverendo que pregava que os portadores do gene X eram amaldiçoados. Talvez essa seja a referência recente mais justa ao plot Planeta dos Macacos: A Guerra, de Matt Reeves, terceiro e possivelmente último capítulo da nova saga iniciada em Planeta dos Macacos: A Origem.

    Antes do desenvolvimento do roteiro no novo longa temos uma introdução sobre os capítulos anteriores, explicando que o vírus que havia dizimado a população humana anteriormente em Planeta dos Macacos: O Confronto, se modificou, com consequências que só são reveladas após um bom tempo decorrido de filme. Cesar (Andy Serkis) continua cuidando dos seus, e busca um lugar alternativo para repousar com a sua família, uma vez que um novo inimigo surge, o Coronel (Woody Harrelson), um homem autoritário que possui métodos questionáveis aos olhos de outros homens, inclusive, montando ao redor de si um muro alto para defender-se de seus inimigos.

    Os filmes de Reeves e Ruppert Wyatt não se preocupavam em serem fiéis a série original, mas sempre reverenciavam os filmes quando assim julgavam necessário. É neste terceiro capítulo que se recontam grande parte dos eventos de A Conquista do Planeta dos Macacos e A Batalha dos Planeta dos Macacos, claro, trazendo os assuntos de divisão de castas e de exploração da mão de obra símia para um contexto mais moderno e verossímil, como já vinha ocorrendo nos episódios anteriores. A surpresa é que a maior parte das referências propostas aqui vão além do simples easter eggs típicos das refilmagens famosas. Cada acréscimo e citação tem alguma importância e valores realmente significativos, não sendo apenas fan service.

    Uma das diferenças básicas entre essas versões e a iniciada em Planeta dos Macacos , de 1968, é a escolha por discutir questões de cunho social e guerra de classes. Outro fator que já era referenciado antes e que se agrava nesses é o completo distanciamento dos homens daquilo que chamamos de humanidade. O homem é mostrado como um sujeito sem escrúpulos, desesperado pela própria sobrevivência e capaz de cercear a vida até de seus entes queridos, caso necessário. O coronel vivido por Harrelson soa caricato em grande parte dos momentos, mas sua postura também dialoga com outros tantos comportamentos de líderes de nossa história.

    Toda a complexidade de personagens é jogada em um quarteto de símios, sendo eles Cesar, o orangotango Maurice (Karin Konoval) que serve de conselheiro do líder símio, Rocket (Terry Notary) que é o braço armado dos macacos, e o novo elemento, Bad Ape (Steve Zhan), que, além de ser um dos personagem mais carismáticos, ainda carrega em si uma importância sui generis no roteiro, sendo portanto a prova cabal de uma teoria que corria desde o primeiro filme. Neste momento, se levanta a possibilidade de que os experimentos iniciados por Will Rodman (James Franco) terem apenas acelerado o processo natural e a nova configuração da cadeia alimentar que colocaria os símios acima dos homens, e essa nova possibilidade de configuração é mais uma das muitas semelhanças entre a série e o ideário dos X-Men.

    Os macacos não são mostrados somente como seres complexos, mas há também profundidade maior em seus desejos e anseios, não restando mais a necessidade de viverem em paz sem serem importunados pelos homens que lhe fizeram mal, mas também uma necessidade de formar uma sociedade auto-sustentável. Os eventos desencadeados a partir do confronto com o Coronel põe em cheque os sentimentos de Cesar, que se deixa levar por desejos vis e egoístas, fazendo-o enxergar inclusive algumas semelhanças suas com Koba, o macaco extremista dos filmes anteriores. Tal argumento favorece o texto de Mark Bomback e Reeve, e o torna mais adulto, mostrando mais uma vez o óbvio, que é possível sim criar um blockbuster com substância.

    As referências aos filmes Apocalipse Now e Nascido Para Matar são muitas. A crueza com que Reeves conduz a maior parte das cenas dramáticas rivaliza em gravidade com as cenas de mortes de povos oprimidos. A beatificação de Cesar relembra muito a trajetória de Moisés à frente do povo israelita, mas sua jornada não é tão retilínea quanto a prevista no livro bíblico do Êxodo, ao contrário, é repleta de tropeços, arrependimentos e de perdas irreparáveis em sua existência. Planeta dos Macacos: A Guerra fecha bem a trilogia, e de certa forma, encaminha a existência na Terra para a famigerada cena da Estátua da Liberdade na praia, revelando o quão trágica e auto destrutiva é a existência do homem.

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  • Crítica | Insurgente

    Crítica | Insurgente

    Divergente - Insurgente- poster

    Segunda parte da trilogia escrita por Veronica Roth, a sequência de Divergente, lançado há apenas um ano, chega aos cinemas revelando a urgência de produções-pipoca com bilheteria garantida, mesmo que uma trama sem fôlego seja um ponto crítico.

    Como resumo dos fatos anteriores, um vídeo institucional em que a líder, Jeanine Matthews (Katie Winslet), apresenta ao povo, pontua os preceitos básicos desta série distópica na qual a sociedade é divida em facções de acordo com os dominantes psicológicos de cada um: altruísmo (abnegação), amizade (generosidade), audácia (coragem), franqueza (sinceridade) e inteligência (erudição). Entre eles, há quem não se encaixe em nenhuma destas categorias: são os Divergentes, considerados párias por não se adequarem às divisões da sociedade, e por isso são retirados do sistema.

    A trajetória de Tris segue em Insurgente com maior pressão psicológica pelos fatos sucedidos anteriormente. A personagem compreende que representa uma exceção dentro de seu universo, mas não sabe como agir de fato para modificá-lo. Difícil não equipar esta heroína com a personagem central de Jogos Vorazes, Katniss Everdeen. Afinal, narrativas contemporâneas focadas em futuros distópicos com jovens como grandes salvadores têm sido uma tendência literária e, por consequência, cinematográfica. Katniss e Tris possuem personalidades distintas, mas a composição de Tris é feita de maneira menos intensa do que a da outra franquia, resultando em uma empatia proporcional ao carisma e urgência que a atriz Shailene Woodley trabalha em seu papel.

    Tris não soa como uma ameaça urgente ao sistema de governo como Katniss, bem como seu povo parece satisfeito com o sistema de facções. Sendo assim, uma eventual mudança parece seguir mais a vontade interior da garota e do grupo de Divergentes do que um aclame geral da população. Reconhecendo que a personagem central tem pouco carisma, Roth e, consequentemente, os roteiristas Brian Duffield, Akiva Goldsman e Mark Bomback desenvolvem uma intriga sobre um artefato antigo que traria uma mensagem dos fundadores. Porém, para abri-lo é necessário a presença de um divergente. É natural que a única pessoa capaz de abrir o dispositivo seja Tris. O elemento de predestinação é mais um argumento que prova a falta de força desta história que precisa de um incentivo extra para criar conflitos entre os supostos bandidos e mocinhos.

    Mesmo este conflito com uma possível mensagem reveladora é estranho, pois a princípio a garota deseja destruir o artefato e depois desvendá-lo, mesmo que para isso quase perca a vida. Além do argumento frágil, as cenas de ação são bem simples, sem nenhum bom aproveitamento do recurso da terceira dimensão, além dos óbvios e já intoleráveis ângulos de cena que explicitam a imersão com objetos indo de encontro a tela. Mesmo com uma boa verba para produção, nenhuma cena de ação se destaca, e a bonita e potencialmente interessante cena do pôster nem mesmo está presente, sendo uma provável boa cena cortada da produção.

    De qualquer maneira, a última parte está em fase de adaptação para os cinemas e, seguindo a tendência atual, será dividida em duas partes, exibidas uma a cada ano. Difícil saber se haverá tanta história necessária para a produção de mais dois filmes, visto que nesta segunda parte há um vazio que enfraquece ainda mais a trajetória da personagem principal e seu grupo divergente.

  • Crítica | Planeta dos Macacos: O Confronto

    Crítica | Planeta dos Macacos: O Confronto

    Planeta dos Macacos O Confronto

    Lançado em 2011, Planeta dos Macacos: A Origem conseguiu ser bem-sucedido de uma forma que poucos reboots são capazes. Isso porque o longa não se limitou a modernizar aspectos superficiais e recontar a mesma história, e sim dedicou-se a um ponto fundamental para que uma franquia sobre macacos humanoides falantes pudesse ser levada a sério nos dias de hoje: a transição do mundo, como nós o conhecemos, para o Planeta dos Macacos propriamente dito. O novo capítulo da saga, intitulado O Confronto, dá mais um passo nessa direção, felizmente ainda sem pressa.

    Apesar da mudança na direção (saiu Rupert Wyatt, entrou Matt Reeves), o filme manteve sua identidade, não apenas visual como também conceitual. A pegada de realismo/seriedade permaneceu e ganhou contornos mais dramáticos, pois o cenário agora é muito mais sombrio. Dez anos após o fim de A Origem, o vírus criado em laboratório praticamente dizimou a humanidade. Um grupo de sobreviventes localizado em São Francisco precisa reativar uma usina hidrelétrica situada numa floresta próxima. O problema é que neste território vive uma enorme comunidade de símios evoluídos, liderados por nosso velho conhecido Cesar (Andy Serkis, pra variar humilhando mais uma vez). Nem um pouco difícil adivinhar que o contato entre os dois grupos não vai acabar bem.

    Logo nos primeiros minutos da produção, o fato de um dos lados ser composto por macacos se torna irrelevante. Eles são organizados, caçam, se comunicam (principalmente por gestos, ainda), transmitem conhecimentos complexos para os mais jovens, e até andam a cavalo. Vemos, indiscutivelmente, uma civilização. A partir daí fica reconhecível um dos argumentos mais velhos do mundo, o contato entre dois povos cujo nível tecnológico é diferente. Ódio e medo do desconhecido, preconceito por parte dos “superiores”, bons e maus elementos em ambos os grupos, todos os elementos estão lá. Nesse sentido, o filme conquista seu lugar no hall das boas ficções científicas, que usam um contexto diferente para falar dos nossos problemas atuais e históricos.

    Grande parte do mérito da manutenção da identidade, que faz com que O Confronto se encaixe perfeitamente como a continuação natural de A Origem, cabe ao retorno dos roteiristas Rick Jaffa e Amanda Silver, agora com a adição de Mark Bomback. A jornada de Cesar continua, mostrando que governar é muito mais difícil do que liderar uma revolução. Agora mais velho e pai de família, tenta atuar como líder moderado, buscando preservar tanto seu povo quanto os humanos, dos quais conheceu o lado bom. A oposição surge na figura de Koba, cujo ódio pelos humanos (por ter sido cobaia de laboratório durante anos) o conduz a uma postura cada vez mais belicosa. Aliás, palmas para o ator Toby Kebbell, que faz um trabalho tão bom quanto o de Serkis.

    O elenco, aliás, conta com grandes nomes que fazem um trabalho discreto porém sólido, uma vez que o destaque sem dúvida é da galera da captura de movimentos. Gary Oldman, como o líder do grupo humano, começa gritando a plenos pulmões, mas seu personagem perde importância com o decorrer da trama. O casal vivido por Jason Clarke e Keri Russell representa os bonzinhos da vez, e tem ótimos momentos interagindo com Cesar. Quem também mostra competência é Matt Reeves, seguro tanto nos momentos mais intimistas quanto nas cenas de ação, nas quais sabe imprimir tensão e fazer o espectador se sentir no meio do caos – basta lembrar de seu principal trabalho, Cloverfield.

    Embora sobrem acertos, o filme não está isento de falhas. Incomoda o quanto os humanos parecem organizados, limpos, bem alimentados. Depois de dez anos em um cenário pós-apocalíptico, era de se esperar que eles estivessem em pior estado. A motivação para ativar a hidrelétrica, se analisada com calma, também não convence. Os personagens dizem estar cientes que a energia vai durar por tempo limitado, e o principal objetivo é conseguir contato com outros grupos de humanos, para assim “reconstruir a civilização”. A experiência não ensinou a eles o perigo de encontrar outras pessoas num mundo de recursos limitados?

    Contudo, os erros são perdoáveis por se tratar de uma história na qual o “o que” e o “como” são muito mais relevantes que o “por que”. O futuro onde macacos ainda mais evoluídos escravizam os humanos ainda parece distante, é difícil enxergar Cesar nessa equação, ainda que sua escolha final (consciente e de coração pesado) represente mais um pequeno passo nessa direção. Que a saga continue sendo contada sem pressa alguma, pois está claro que este é um dos casos em que a viagem é mais importante que o destino.

    Texto de autoria de Jackson Good.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.