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  • Os Personagens em CGI Mais Realistas do Cinema

    Os Personagens em CGI Mais Realistas do Cinema

    Desde que um dinossauro apareceu rugindo na chuva, em Jurassic Park, a porteira nunca mais se fechou. De 1993 pra cá, tudo ficou possível numa tela de cinema, e o velho lema de Stanley Kubrick (“se você imagina, você pode filmar”) virou, finalmente uma verdade, forjada por muitas horas de trabalho, pesquisa e experimentações técnicas. A busca por realismo segue incessante, com Christopher Nolan liderando o grupo de cineastas que evitam a computação gráfica e apostam pesado nos efeitos práticos, que costumam não envelhecer. Mesmo assim, maravilhas já foram criadas numa tela de computador, e seguem impactantes como sempre. Abaixo, uma lista dos dez efeitos de computação gráfica mais realistas de todos os tempos.

    10. Thanos, de Vingadores: Guerra Infinita e Vingadores: Ultimato (2018 e 2019)

    A Marvel humanizou o tirano Thanos com uma figura totalmente gráfica, em Vingadores: Guerra Infinita, pautada em realismo para que o vilão fosse crível, quase que palpável nas suas rugas e expressões hiper-naturalistas. Um feito extraordinário, também ajudada pelo trabalho de voz e postura do ator Josh Brolin.

    9. Simba, de O Rei Leão (2019)

    Se o filme foi fraco, a savana e seus habitantes criados em computador em O Rei Leão, em 2019, é tão impressionante que lembra um documentário da Discovery Channel. Cada músculo, cada pelo… Simba saiu do desenho e virou um leãozinho tangível, talvez mais real até que o do zoológico.

    8. Ava, de Ex-Machina: Instinto Artificial (2014)

    Ava é a androide mais realista da história do cinema, e perturbadoramente humana em seus trejeitos. Numa combinação perfeita de efeitos práticos, e CGI, a robô de Ex-Machina interage com atores reais, e a excelência da iluminação da textura do metal que substitui boa parte da sua pele não será superada, por muito tempo.

    7. Homem de Ferro (2008)

    Quando o Homem de Ferro chegou nos cinemas, foi difícil acreditar que sua armadura, colorida ou prata, não fosse de verdade. É possível quase que sentir a temperatura do material, a dureza, o som de cada parte que se encaixam… feito esse não repetido com o mesmo realismo nos outros filmes com o herói, desde 2008.

    6. O Urso, de O Regresso (2015)

    Leonardo DiCaprio foi atacado por um urso em O Regresso, e nada me diz que isso é mentira. O nível de veracidade nas imagens é tamanho, que jamais duvidamos que há uma fera bestial em cima do homem, rasgando a sua pele enquanto baba, e ofegante, cheira a sua presa. Pobre DiCaprio. Ele era bonito.

    5. T-1000, de O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991)

    O T-1000 de O Exterminador do Futuro 2 é uma força da natureza tecnológica, e até hoje, desde 1992, os efeitos criados em computador pelo genial James Cameron seguem acachapantes. O robô assassino que vira líquido, explode no nitrogênio, que perde suas partes e se recompõe por nanotecnologia, marcou uma geração.

    4. Alienígenas, de Distrito 9 (2009)

    Os alienígenas “camarão” de Distrito 9 naufragaram na África do Sul, e lá, fizeram suas favelas. O diretor Neil Blomkamp conseguiu a proeza de colocar um alien e um humano lado a lado, e em suas diferentes formas físicas, fazer parecer que a imagem do homem é mais falsa que a do extraterrestre. Um uso de efeitos fenomenal.

    3. Richard Parker, de As Aventuras de Pi (2012)

    Se o urso de O Regresso era de verdade, e Simba também (quase…), o que falar do tigre de As Aventuras de Pi? Richard Parker é o animal mais realista da história do cinema, desde que aparece naquela jaula na Índia. Uma pena que a empresa de efeitos especiais que o fez, a Rhythm & Hues, faliu em 2013, mas seu legado é eterno.

    2. Caesar, de Planeta dos Macacos: A Guerra (2017)

    Desde o Senhor dos Anéis, o ator Andy Serkins se especializou em interpretar criaturas na técnica de ‘captura de movimento’, e todo mundo achou que o seu Gollum nunca seria igualado, quiçá superado. Mesmo assim, Cesar, o macaco inteligente de Planeta dos Macacos: Guerra, acabou sendo a criatura mais realista já criada em computador. A segunda, na verdade.

    1. Rachel, de Blade Runner 2049 (2017)

    Um rosto. 100% digital, e 101% real. A Rachel de Blade Runner 2049 não existe, mas ninguém pode confirmar isso antes de ver o making-of do filme. Nele, vemos como foi a construção de sua face, pixel por pixel, cheia de calor, drama, falas, lágrimas, cabelos, e que faz Thanos, o urso e até o T-1000 parecem personagens do Playstation 2. Eis o grande triunfo do CGI. Superá-lo será reinventar a roda. Pago pra ver. #IWantToBelieve

  • Crítica | Planeta dos Macacos (2001)

    Crítica | Planeta dos Macacos (2001)

    A versão de Tim Burton para o clássico Planeta dos Macacos de Franklin J. Shaffner começa com uma música imponente, de Danny Elfman, e com uma abertura lindíssima, com vasos e objetos de artes cuja temática tem a ver com os símios que em breve aparecerão. O primeiro personagem vivo a ser mostrado é exatamente um chimpanzé de tamanho comum, que está dentro de um simulador. Pericles é cuidado por Leo Davidson, o cientista que Mark Wahlberg vive e faz as vezes de Charlton Heston que alias, faz uma ponta neste. Esse começo parece promissor, ao menos até mostrar Leo, e mesmo assim, a historia desandaria mais ainda depois.

    O ano da historia 2029 e o roteiro começa mostrando a estação Oberon onde Davidson trabalha, e é enviado ao vazio do espaço onde é pego em um vortex que o joga para outro lugar no espaço e aparentemente no tempo, e ele pousa em um planeta que vive em uma espécie de Era Medieval, mas habitado por macacos, que tem toda uma sociedade, dividida em castas, e que se munem de armaduras super estilizadas, com um roteiro de Mark Rosenthal, Lawrence Konner e William Broyles Jr. mais fiel ao menos em ambientação ao livro de Pierre Boulle do que o que Michael Wilson e Rod Serling fizeram em 68.

    O grande problema do filme é a caricatura em que ele se insere. Há um exagero e uma mão muito pesada de Burton. As atuações são ou genéricas ou histriônicas, como a de Tim Roth fazendo o vilão Thalos, um chimpanzé inteligente e agressivo, que tenta impor sempre sua vontade através da força. Há momentos risíveis e referencias escabrosas, reunidas juntas, como uma cena em que um casal está se preparando para transar e a fêmea – na verdade, Nova, interpretada por Lisa Marie até então esposa de Burton –  dança para seu marido, em uma dança de acasalamento terrível, ou jovens macacos que imitam roqueiros punks, de jaqueta, fato que mistura linhas temporais ou referências visuis distintas demais para conviverem juntas. Alem do que, os humanos (que falam, contrariando a ideia de que seriam muito inferiores aos macacos) ao fugirem conseguem entrar em algumas casas, como se as mesmas não tivessem qualquer proteção, trancas ou algo que os valha. Mesmo em épocas bíblicas há relatos de utilização de algum método de segurança para proteger a moradia do povo de saques ou furtos.

    Os atores tiveram um trabalho árduo de preparação, para emular de maneira completamente bípede alguns dos movimentos animalescos típicos, mas até esses falham, pois em alguns momentos são utilizados e em outros tantos, não. Além disso, há uma grande banalização dos momentos do clássico, com as frases que foram icônicas, em especial as ditas pelo personagem de Heston, tem seu sentido invertido, e não por algum motivo válido, pois parecem apenas piadas de mal gosto.

    As lutas entre o exercito símio e os humanos tentam ser emocionantes, mas tem coreografias estranhas, e a sequencia como um todo é bagunçada, e tem um evento meio Deus Ex Machina ali, que debocha dos mitos  que o filme tentou estabelecer e banaliza o todo, mostrando Semos – na verdade, Pericles – como um macaquinho adestrado que é soberano diante dos outros inteligente e capazes de dividir uma sociedade inteira. É tudo muito conveniente, e a tentativa de falar sobre religião esbarra em uma abordagem rasa e meio simplista.

    Há momentos grotescos no filme, incluindo ai  o confuso final, que faz referencia mais ao livro de Boulle e tenta (em vão) soar mais poderosa que a do clássico sessentista. Toda a questão sobre o desfecho e a estátua de Thade no lugar de Abraham Lincoln é terrível, seja a crença de que ele conseguiu reativar a Oberon mesmo jamais tendo contato com esse tipo de tecnologia, ativando a rota para a Terra repovoando o planeta com símios ou levando em conta que a nave de Leo errou a rota e voltou ao mesmo planeta em que se passa o filme inteiro, qualquer uma dessas teorias ou outras possuem furos e não constituem um final poderoso como o filme quis soar, o que é uma pena, pois esse Planeta dos Macacos de Tim Burton tinha um claro potencial. A declaração de Burton sobre essa sequencia foi presunçosa – O final parece não ter lógica, mas tem. O objetivo é fazer você usar ambos os lados do cérebro ao mesmo tempo – e destaca o quanto o realizador estava fora da realidade ao analisar seus próprios méritos.

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  • VortCast 55 | Melhores Filmes de 2017

    VortCast 55 | Melhores Filmes de 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral) e Rafael Moreira (@_rmc) recebem o ouvinte e podcaster Cliff Rodrigo Silva para comentar sobre a lista publicada no site sobre os melhores filmes lançados em 2017 no Brasil.

    Duração: 111 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Crítica Mãe!
    Crítica T2 Trainspotting
    Crítica Manchester à Beira-Mar
    Crítica Em Ritmo de Fuga
    Crítica It: A Coisa
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    Crítica Planeta dos Macacos: A Guerra
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    Crítica Blade Runner 2049
    Crítica Corra!
    Crítica Logan

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    VortCast 54 | Piores Filmes de 2017
    VortCast 02 | Darren Aronofsky
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    VortCast 51 | Star Wars e as Polêmicas do Novo Filme
    VortCast 05 | Filmes Marvel
    VortCast 44 | Piores Filmes de 2016
    VortCast 46 | Melhores Filmes de 2016
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  • Crítica | Planeta dos Macacos: A Guerra

    Crítica | Planeta dos Macacos: A Guerra

    Em X-Men: Deus Ama O Homem Mata, Chris Claremont e Brent Anderson falavam sobre a intolerância dos humanos contra os mutantes, situação que já era presente nas histórias pregressas dos X-Men e se acentuou nesta, usando como exemplo de nêmese o fanatismo religioso de um reverendo que pregava que os portadores do gene X eram amaldiçoados. Talvez essa seja a referência recente mais justa ao plot Planeta dos Macacos: A Guerra, de Matt Reeves, terceiro e possivelmente último capítulo da nova saga iniciada em Planeta dos Macacos: A Origem.

    Antes do desenvolvimento do roteiro no novo longa temos uma introdução sobre os capítulos anteriores, explicando que o vírus que havia dizimado a população humana anteriormente em Planeta dos Macacos: O Confronto, se modificou, com consequências que só são reveladas após um bom tempo decorrido de filme. Cesar (Andy Serkis) continua cuidando dos seus, e busca um lugar alternativo para repousar com a sua família, uma vez que um novo inimigo surge, o Coronel (Woody Harrelson), um homem autoritário que possui métodos questionáveis aos olhos de outros homens, inclusive, montando ao redor de si um muro alto para defender-se de seus inimigos.

    Os filmes de Reeves e Ruppert Wyatt não se preocupavam em serem fiéis a série original, mas sempre reverenciavam os filmes quando assim julgavam necessário. É neste terceiro capítulo que se recontam grande parte dos eventos de A Conquista do Planeta dos Macacos e A Batalha dos Planeta dos Macacos, claro, trazendo os assuntos de divisão de castas e de exploração da mão de obra símia para um contexto mais moderno e verossímil, como já vinha ocorrendo nos episódios anteriores. A surpresa é que a maior parte das referências propostas aqui vão além do simples easter eggs típicos das refilmagens famosas. Cada acréscimo e citação tem alguma importância e valores realmente significativos, não sendo apenas fan service.

    Uma das diferenças básicas entre essas versões e a iniciada em Planeta dos Macacos , de 1968, é a escolha por discutir questões de cunho social e guerra de classes. Outro fator que já era referenciado antes e que se agrava nesses é o completo distanciamento dos homens daquilo que chamamos de humanidade. O homem é mostrado como um sujeito sem escrúpulos, desesperado pela própria sobrevivência e capaz de cercear a vida até de seus entes queridos, caso necessário. O coronel vivido por Harrelson soa caricato em grande parte dos momentos, mas sua postura também dialoga com outros tantos comportamentos de líderes de nossa história.

    Toda a complexidade de personagens é jogada em um quarteto de símios, sendo eles Cesar, o orangotango Maurice (Karin Konoval) que serve de conselheiro do líder símio, Rocket (Terry Notary) que é o braço armado dos macacos, e o novo elemento, Bad Ape (Steve Zhan), que, além de ser um dos personagem mais carismáticos, ainda carrega em si uma importância sui generis no roteiro, sendo portanto a prova cabal de uma teoria que corria desde o primeiro filme. Neste momento, se levanta a possibilidade de que os experimentos iniciados por Will Rodman (James Franco) terem apenas acelerado o processo natural e a nova configuração da cadeia alimentar que colocaria os símios acima dos homens, e essa nova possibilidade de configuração é mais uma das muitas semelhanças entre a série e o ideário dos X-Men.

    Os macacos não são mostrados somente como seres complexos, mas há também profundidade maior em seus desejos e anseios, não restando mais a necessidade de viverem em paz sem serem importunados pelos homens que lhe fizeram mal, mas também uma necessidade de formar uma sociedade auto-sustentável. Os eventos desencadeados a partir do confronto com o Coronel põe em cheque os sentimentos de Cesar, que se deixa levar por desejos vis e egoístas, fazendo-o enxergar inclusive algumas semelhanças suas com Koba, o macaco extremista dos filmes anteriores. Tal argumento favorece o texto de Mark Bomback e Reeve, e o torna mais adulto, mostrando mais uma vez o óbvio, que é possível sim criar um blockbuster com substância.

    As referências aos filmes Apocalipse Now e Nascido Para Matar são muitas. A crueza com que Reeves conduz a maior parte das cenas dramáticas rivaliza em gravidade com as cenas de mortes de povos oprimidos. A beatificação de Cesar relembra muito a trajetória de Moisés à frente do povo israelita, mas sua jornada não é tão retilínea quanto a prevista no livro bíblico do Êxodo, ao contrário, é repleta de tropeços, arrependimentos e de perdas irreparáveis em sua existência. Planeta dos Macacos: A Guerra fecha bem a trilogia, e de certa forma, encaminha a existência na Terra para a famigerada cena da Estátua da Liberdade na praia, revelando o quão trágica e auto destrutiva é a existência do homem.

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  • Resenha | O Planeta dos Macacos – Pierre Boulle

    Resenha | O Planeta dos Macacos – Pierre Boulle

    Narrado a partir da vivência de seu autor enquanto jornalista de guerra, Planeta dos Macacos foi um pequeno romance publicado em 1963 por Pierre Boulle, cujos direitos autorais foram comprados pelo produtor de cinema Arthur P. Jacobs antes mesmo de chegar às livrarias. A obra era refutada pelo escritor, que a considerava algo menor, de qualidade inferior em comparação com o resto de sua carreira. Tal motivo é muito discutido pelo corpo de admiradores de sua obra, a possibilidade aventada seria outra questão. A Ponte do Rio Kwai, lançado em 1951 e que também gerou um premiado filme de David Lean, contaria partes das vivências de Boulle em meio a guerra, e se tornou um clássico instantâneo, enquanto o original La Planète des Singes remeteria ao período de 1943, em que foi prisioneiro de guerra no Japão.

    O tom narrativo é direto e coloquial, Boulle não buscou qualquer firula em seu modo de abordar, ao contrário, se vale de recursos metalinguísticos para tornar a sua história mais palatável que seus primos do mundo sci-fi. Nos dois primeiros parágrafos – muito curtos, por sinal – já fica claro que aqueles eram tempos em que as viagens espaciais eram mais comuns, onde qualquer indivíduo poderia explorar a galáxia sem maiores dificuldades. Dada tal condição, são apresentados dois personagens – um casal, Jinn e Phyllis – que em sua excentricidade, decidem viajar em um transporte que se locomovia a vela – a impossibilidade e suspensão de descrença é deixada de lado, em nome da influência clara dos trabalhos pregressos de Julio Verne, que entendia ser possível fazer viagens tão extensas com veículos tão primitivos. A convivência de tantas excentricidades com a modernidade é curiosa, e abriria os olhos dos roteiristas do filme de 1968 para as variações de cronologia.

    O cruzeiro interespacial teria ainda muitas semelhanças com a navegação pelos mares, uma vez que a dupla vê a frente de sua nau um corpo estranho, uma garrafa, cujo interior continha um rolo de papel, embalado dentro do vidro, de modo que não poderia ser aberto sem danificar o invólucro. O pergaminho era uma carta, de onde viria a história explorada pelos outros capítulos. O conteúdo textual começa alarmista, com seu autor temendo pelo futuro de toda a raça humana – o que obviamente assusta muito Phyllis. O relato prossegue, narrado por Ulysse Mérou, que não esconde a catástrofe pela qual passou, afirmando que sua nave estava à deriva pouco antes dele liberar a garrafa.

    Após o preâmbulo, o relato começa, recordando os fatos que o levaram àquela situação. Em 2500, uma ousada excursão espacial levaria os terráqueos até Betelgeuse, uma estrela vermelha de proporções dantescas. A idealização do primeiro voo intersideral da história proviria de Antelle, um professor e cientista que também tripularia a nave. Ulysse segue a viagem preocupado, dado que o pioneirismo da viagem poderia significar também um maior perigo para os astronautas. Parte da não preocupação de Antelle se dá por sua característica misantrópica, o pouco apreço que tinha pelos homens não o fazia se preocupar muito com a situação em que se empunham – tal característica no filme seria amputada a Taylor, personagem de Charlton Heston. Completava a tripulação o físico Arthur Levain, que, afeiçoado por Ulysse, resolveu chamá-lo a expedição, tanto por ser um exímio jogador de xadrez – o que faria dele uma boa companhia em meio a longa viagem espacial – e também por seu ofício, como jornalista. Catalogar as descobertas e organizar tudo de um modo histórico aprazível em texto seria uma de suas missões secundárias, o que acabou mudando, evidentemente.

    Após passar pela estrela rubra, eles decidem pousar em um planeta. À primeira vista, ele é muito semelhante a atmosfera terrestre, tendo planícies, fauna e flora praticamente idênticas ao local de onde vieram. O grupo resolveu batizar o local de Soror. Ao ter contato com o primeiro ser humano, Ulysse é vagaroso ao descrever o encontro com a tal “moça”. Sua perplexidade se dá pela pouca credulidade em notar a não civilização e selvageria que se esconde atrás de seus belos olhos. A despedida dela é súbita, quase mágica, como se a sua aparição fosse algo genuinamente raro. A carência do narrador era tanta que qualquer proximidade de relação era louvada e admirada. No entanto, os outros contatos com os selvagens são tímidos, esporádicos e comedidos, visando a não interferência em seu habitat.

    Os astronautas logo notam que a interação dos homens de Soror com eles é muito semelhante ao modo como os chimpanzés que servem a eles de cobaia agem, até mesmo coincidindo o olhar dessas criaturas. O “excessivo” cuidado é provado como uma atitude certa e não exagerada. O grupo de nativos ataca a nave dos três forasteiros, deixando-os sem roupas e suprimentos, depois, eles são levados como prisioneiros. A hostilidade dos homens silvestres tem uma boa razão para acontecer, e que é, aos poucos, descortinada. O nível de suspense aumenta, à medida que as palavras são postas no papel, e a tensão piora quando a moça que encantou o jornalista, repara nos olhos de Ulysse. Seu nome seria Nova, e a musa de Mérou seria o alento para sua existência tortuosa naquele lugar.

    O relator prefere omitir certos acontecimentos, não escondendo a sua existência factualmente, e sim não dando a importância que é devida a ele. O recurso metalinguístico que Boulle utiliza intui transmitir o medo e o terror que seu alter-ego tem ao mergulhar no âmago de Soror. Sem alarde, o jornalista diz que o macaquinho, que também tripulava a nave, foi destroçado sem qualquer misericórdia por aqueles que os levaram cativos. A escolha por fazer isto não foi arbitrária, a pontualidade dela seria a premonição do que viria e mostraria um pouco do medo daqueles seres viventes, o medo de ser consumido por seu predador. A surpresa de Ulysse ao se deparar com a primeira figura simiesca que atravessa o seu caminho é tamanha que até ele mesmo duvida de suas faculdades visuais e mentais. O gorila que se empunha à sua frente estava devidamente vestido, seus trajes eram de fino corte e sua postura ereta, como a de um humanoide com polegar opositor. A admiração ao contemplar a criatura era como a de um mortal assistindo o desfile de um semideus. O que o fez despertar foram os gritos das vítimas, Mérou não parava de se surpreender, pois o Macaco caçava os homens, e parecia sentir prazer em ver a dor alheia. Nem mesmo esta apresentação dantesca fez ele se convencer de que tentar fugir era um esforço fútil. Os terráqueos eram presas fáceis, visto que os macacos do Planeta Soror eram muitos, numerosos como uma sociedade e soberanos sobre aquele solo. Eles estavam emboscados e sequer notaram.

    Uma vez capturado, o jornalista em seu ofício de registrar tudo o que lhes acomete, reporta os maus tratos que sofria, evidenciando que não havia qualquer compaixão com os cativos, eram tratados de modo hostil, sem qualquer resquício de compreensão e misericórdia. O desespero dele é causado pela solidão permeada em sua existência e claro, pelo destino que se aproxima, piorada com a derrocada de Antelle e Levain.

    Ulysse percebe que para ter uma sobrevida, seria necessário entrar em contato com os que os mantinham cativos, e ele analisa cada um dos que o cerca, encontrando na chimpanzé Zira uma possibilidade de diálogo ou de fala. O começo tímido do contato com os símios passa por uma bateria de exames, cuja dificuldade é baixa, que obviamente subestima seu intelecto de ser pensante, semelhante ao que foi mostrado em A Fuga do Planeta dos Macacos, claro, com papéis entre macacos e humanos invertidos na película. A sociedade daqueles símios é avançada e emula a humana contemporânea. Tem sua língua e hierarquia próprias, com configurações complexas e papéis muito bem descritos e consolidados, visto até pela observação de um analisador finito em suas limitações como é o jornalista enjaulado – a intenção de Boulle é mostrar o quão míope pode ser a visualização de um quadro complexo pelos olhos de um leigo, como e por exemplo a ideia que um incauto tem do quadro político que se apresenta, ainda que o seu observador seja alguém interessado em entender todo o esquema, ao conseguinte de que os tais “incautos” não necessariamente o fazem. A Parte 1 é terminada com Mérou e os outros humanos sendo analisados em seus momentos de intimidade – leia-se coito – o que obviamente o deixa encabulado, para dizer o mínimo. Em nome de aumentar suas chances de se inserir naquele mundo, ele topa ter o sexo visto por aquela inconveniente plateia.

    No segundo tomo, Ulysse começa a se resignar com a possibilidade de travar contato com os símios soberanos de Soror, até desiste de falar com Zira, até que em um momento singular ele consegue se comunicar verbalmente com ela, deixando-a intrigado por seu uso da língua, ainda que o traquejo dele não fosse exemplar. Aos poucos ele convence Zira a levá-lo para ver a cidade, claro, fazendo uso de uma coleira, não para humilhar o homem, e sim para não chocar os cidadãos simiescos.

    Como bom jornalista que é, Ulysse trata de estudar a sociedade dos macacos, desvendando sua geografia e quadro político, descortinando desde a inexistência de fronteiras e divisão por país até o governo triunvirato, entre orangotangos, gorilas e chimpanzés, cada um com a sua assembleia. No capítulo cinco desta segunda parte é onde ele escrutina sobre as diferenças entre as raças, desenvolvendo o assunto de modo minucioso, dando detalhes até dos movimentos literários protagonizados por cada uma das castas.

    Levado por Zira e por seu noivo, o chimpanzé cientista Cornelius, Ulysse deveria se apresentar perante o ministério da ciência, para provar que não era mais um dos homens amestrados, que permeavam os circos de Soror, e lá, mais uma vez encararia Zeius, que antes mesmo da apresentação, já o desacreditou completamente. No entanto, Mérou prosseguiu em sua argumentação, através de seu belo e claro discurso. Seu intuito era provar que nem era como as aves daquele planeta, que podiam repetir algumas palavras, e nem que era um indivíduo hostil. O fim da segunda parte dedica-se a aceitação dele dentro da sociedade de Soror. Ele não demora para se enturmar, mas o seu entusiasmo é cortado pelo encontro que tem com seu antigo igual, o Doutor Antelle, que mesmo após Ulysse muito insistir, permanece agindo como os silvestres homens daquele planeta. Sua decepção serve para alertá-lo de alguns perigos e para mostrar o quão finitas são suas possibilidade de sucesso naquele solo estrangeiro.

    Uma vez que Ulysse é aceito pelo grupo como um sujeito civilizado, todo o quadro muda. Passa-se algum tempo e Zeius é exonerado, tendo Cornelius em seu lugar de parlamentar, o que obviamente gerou uma subida de patamar ao partido dos chimpanzés. Ulysse tenta adestrar os outros homens, quase sempre sem sucesso, exceto por Nova, que consegue bons resultados em reproduzir sílabas, no entanto, o distanciamento entre os dois aumentou muito, graças ao abismo social que se fez desde a época em que eles coabitavam.

    Paralelo a esse incômodo do humano, seu parceiro símio também se mostra preocupado, com a situação que chega às suas mãos. O objeto da discórdia seria uma boneca de porcelana, de feições humanas e com dispositivo de fala, que reabriria feridas antigas, de teorias sobre a origem da raça símia como seres soberanos dentro do planeta. Para Ulysse isso obviamente não se trata de algo aviltante, mas para os dogmas religiosos e tradicionais defendidos pelos orangotangos, tal situação causaria um enorme escândalo, que claro, cortaria o destino de todos os envolvidos na trama.

    Unindo a questão aventada anteriormente, além do estado de saúde de Nova, Ulysse se mostraria um ser instintual, movido também pela verve do sangue quente, que por sua vez era causada por um tímido começo de desprezo pelos símios, que não aceitam a influência humana no começo de sua evolução e também da própria sobrevivência. Internamente, Mérou considera os macacos como imitadores, semelhantes aos símios de seu planeta, e seu desdém aumenta quando é anunciada a notícia de que Nova estava prenha.

    O comportamento do narrador do conto visa obviamente a própria sobrevivência, mas, se olhado com cuidado, se notará sobre suas atitudes um bocado de passividade, tendo na volúpia por ser aceito por aqueles que o oprimem um quê de Síndrome de Estocolmo. A vontade de ser tratado como um igual pelos macacos o faz repensar até seu modo de viver e pensar, e aos poucos Ulysse é moldado, para ser o bom selvagem, seus movimentos vão gradativamente se aproximando da ideia que Zeius tem de si. Aí é que mora a principal diferença entre Mérou e Taylor, pois o astronauta vivido por Heston é um desbravador, imberbe de alma arredia. Não aceita em momento algum a supremacia de outra raça, e a despeito de toda a canastrice e das frases de efeito de seu intérprete, ele é sempre o macho alfa, imutável e conservador, como o bom membro do Partido Republicano deve ser. Ulysse é mais humano, mais emotivo, sujeito a falhas e a autoestima baixa, ele é o repórter que mergulha em sua matéria, e como um gonzo, sofre na pele e na alma a dor e as agruras que cercam o mundo. Se Taylor é o arquétipo hercúleo do herói intransponível, Ulysse é o camponês que se vê diante de uma jornada odisseica e que atende o chamado da aventura, mesmo não tendo sido ele o programado para vencer as difíceis e insolúveis tarefas.

    É por ser assim que ele titubeia na hora de tomar uma atitude mais enérgica para proteger sua cria e sua “cônjuge”. Apesar de se mostrar alguém que dá atenção aos seus instintos, ele ignora o perigo quando este se aproxima, e sua reação é deveras tardia, mesmo que todas as experiências com homens em Soror o mostrem que ali não é um lugar seguro para ele. A ascensão de Helius dentro do certame científico é mais uma das muitas provas de que ele corre perigo, em virtude das experiências que ele faz com uma tribo de homens, através de eletro-choque os faz falar, e contar algumas experiências de predação, em vidas passadas, onde o macaco é que era a espécie subjugada e “experimentada”.

    O quadro estatal aos poucos muda, Zeius retorna à cena política visando derrubar Cornelius, que assiste a sua situação ficar cada vez mais difícil, uma vez que os gorilas possivelmente se alinharão com aqueles que querem manter o status quo. Tomar conhecimento das descobertas de Helius poria o líder parlamentar em sarilhos enormes, num apuro incalculável.

    O pouco de ação que ainda guarda em si Ulysse dedica ao seu rebento. Ele vê o menino com olhos apaixonados, e enxerga nele a centelha de inteligência, além de um caráter semi-messiânico, uma característica profética, caso fosse dada a oportunidade ao menino de crescer, como seria retratado nos cinemas na figura (símia) de César em A Conquista do Planeta dos Macacos e O Confronto, o valor de figura pioneira e remissora seria invertido, num revisionismo na obra de Boulle.

    A miséria invade o viver de Ulysse, sua rotina de concidadão é mudada do vinho para água, tão logo é descoberto o seu herdeiro. A perseguição a si sofre a interferência de Zira, que tenta auxiliá-lo, facilitando sua fuga, dando condições dele levar Nova e o bebê. No caminho final, ele percebe a abissal distância entre si e os símios, pelas palavras da própria Zira, que não consegue beijá-lo após um momento emotivo, em virtude de sua “feiura”.

    Sírius é o nome de batismo do menino. Em Soror, os pares fugitivos foram substituídos por humanos não falantes. Possivelmente seriam poupados por Zeius, uma vez provado que eles não pensavam, tendo assim os dogmas símios intactos. Após toda a luta que tem para finalmente fugir, Ulysse chega a sua terra-natal, no mesmo território francês onde viveu seus dias de homem civilizado, para lá ter uma surpresa tremenda, tão catastrófica quanto a do começo de seu relato em carta. Tanto o final do manuscrito da garrafa quanto a conclusão a que chegam os macacos astronautas Jinn e Phyllis demonstram alguns argumentos reflexivos, como o desdém pelo menos evoluído, típico dos símios e a sensação de obsolescência de Ulysse Mérou, que tanto em Soror quanto na Nova Terra sente-se um fóssil, como o fruto de uma raça involuída que já foi a soberana, mas que em nada lembra todo o poder e magnificência de outrora, sendo somente o esboço da primazia da existência.

    Ouça: Planeta dos Macacos.

  • Resenha | Planeta dos Macacos (Editora Bloch)

    Resenha | Planeta dos Macacos (Editora Bloch)

    Planeta dos Macacos - Bloch

    Escrito em letras garrafais, o título “Onde dominavam os homens…Agora reinam as feras!“, anuncia a adaptação dos filmes da franquia simiesca para os quadrinhos, lançada pela Editora Bloch sob o Selo Bloquinho. Os dezessete números da revista Planeta dos Macacos descortina a saga cinematográfica, claro, com um viés mais infantil do que o cunho utilizado nos filmes dos anos 60/70.

    A maior mudança em relações aos filmes é que a ampliação das possibilidades do foco, já que, tendo o todo da saga para estudar, é possível aprofundar mais em algumas questões. Logo no início, há um embate ideológico de Lando com Taylor, no qual se discute a misantropia e o legado da Terra, dando a Taylor uma melhor construção de seu personagem. A violência é claramente aplacada, e cada capítulo conta com um gancho para a próxima edição. Curiosos são os extras, que, entre uma história e outra, mostram textos sobre os filmes, com fatos do bastidores muito antes da época da internet, quando o acesso à informação não era muito fácil. Além disso, há comparativos que mostram o desenvolvimento da inteligência dos chimpanzés. O nível de interação é tão grande que faz com que seu protagonista responda a cartinhas dos leitores.

    Nesta versão, Zaius é bem menos sutil, vestindo a máscara de vilão de modo categórico, sem direito a nuances. Outra, das poucas diferenças em relação ao primeiro filme, é a gravidez de Nova. O roteiro adaptado de Doug Moench torna-se semelhante aos fatos do livro original, que foi descartado para a franquia cinematográfica. Uma pena é que a arte de George Tuska seja tão mal finalizada, deixando as cores saturadas em muitos momentos.

    Já no número três é lançada a primeira parte de Pesadelo da evolução!, história inédita, também de Moench mas dessa vez com desenhos de Ed Hannigan, que mostram uma rivalidade entre homens e macacos dentro do território da Zona Proibida. Uma curiosa relação de simbiose nasce daquela batalha, uma vez que um dos gorilas, Salomon, está cego e o homem que sobreviveu, Jovan, teve suas pernas inutilizadas. A dupla tem de participar juntos da busca pela vida, numa estranha relação de inimizade. Após encontrar um velho macaco eremita, os dois guerreiros percebem que não precisam duelar até a morte só por causa de suas promessas, e chegam à pueril conclusão de que o melhor era viver em paz, não cedendo aos selvagens instintos que os cercavam através da inconsequente guerra.

    Em Tirania no Planeta dos Macacos, Moench começa mostrando um homem chamado Derek Zane, num ambiente contemporâneo, ainda na Terra. Uma decepção amorosa o faz fantasiar e passear por um idílico sonho, que guardaria dias melhores para seu futuro. Em meio a esse desapontamento, ele foca sua volúpia em implantar seu plano de viajar no tempo, a la H G Wells, através de um maquinário, que possivelmente serviria de protótipo para ajudar Taylor em sua viagem para o futuro, quando ele acaba por chegar no planeta dos macacos.

    A despeito da infantilidade comum às histórias em quadrinhos da época e até do escapismo de Derek, o drama explorado ainda guarda um pouco de discussão mais elaborada, como a predação desnecessária, impingida pelo militar Gorodan, um poderoso gorila que vê em Zane um obstáculo aos seus desejos. Os papéis de caça e caçador são revezados entre os rivais, mostrando o quão pobre é o caráter dessa situação. Mas isso é deixado de lado para que o humano protagonista possa desfrutar de uma aventura com ares medievais em uma parte do planeta misteriosamente preservada. Essa situação é dubiamente justificada pela desculpa de hecatombe nuclear, que teria possibilitado a super-evolução de seres animalescos, entre eles, os macacos. É interessante notar outros pontos de vistas e reimaginações naquele planeta, que mostram um lugar onde as duas espécies vivem bem e felizes. Embora a temática seja muito limitada, quase sempre caindo para a disputa furiosa de humanos e macacos, Zane ainda protagoniza outras histórias. Aliás, o excesso delas, mostrando outros mil grupos de homens falantes e inteligentes no planeta, transforma o enredo em algo bastante genérico.

    Dois anos após os acontecimentos do quarto filme, e ignorando a continuação que sequer veio à tona até então, A Disputa do Planeta dos Macacos mostra César e seus asseclas vivendo isolados, escravizando humanos, revidando o tratamento que recebiam deles dois invernos antes. César, aos poucos, pensa em abrir o seu “apartheid pessoal”, tencionando unir humanos e macacos em sua aldeia, a despeito das reclamações de Aldo, o líder dos gorilas. O desfecho tem um viés bem mais otimista e politicamente correto que o término da franquia de cinema, mostrando humanos e símios vivendo tranquilos e em paz finalmente.

    As revistas de 8 a 10 contam a mesma história do segundo filme. A arte de Alfredo Alcala consegue imprimir uma diferenciação nas castas de macacos não somente pela diversidade de cores, já que fica evidente que os focinhos do símios são bastante singulares para cada raça. Poucas mudanças ocorreram na trama original, assim como em Destino Terra, que adapta o terceiro filme e tem os desenhos de Rico Rival.

    A trama dos filmes segue. No entanto, o relato das histórias torna-se secundário na capa de sua publicação. No número 14, o maior destaque são os extras, que reúnem fotos do filme King Kong, que estrearia algum tempo depois. Em outros momentos, há histórias publicadas que sequer fazem parte do universo dos símios, como O Vale dos Ancestrais, impresso originalmente em The Deadly Hands of Kung Fu, com os desenhos do ainda não famoso George Perez e dedicado à memória de Akira Kurosawa, mas que, semelhante as outras histórias, não é nada além do ordinário.

    As cores dentro da publicação não dão margem a uma boa interpretação por parte do leitor. Os efeitos usados eram ruins até em comparação com seus pares contemporâneos, e o abismo de qualidade piora quando comparado com os moldes dos quadrinhos atuais. Unido ao roteiro quase sempre trôpego de Moench, a maioria das histórias acaba não chegando nem perto de ultrapassar a linha da mediocridade. Isso quando não são completamente genéricas, como o arco Zona dos Horrores, que conta mais uma interação boba entre humanos e símios contra a intolerância daquele planeta, embora não houvesse qualquer preâmbulo para isto. Os poucos momentos sóbrios do roteiros são as mudanças das incongruências nos filmes e um pouco da coragem em mudar os rumos do que ocorria no cinema, mas como dito, é muito pouco. A série da Bloquinho, em seus dezessete números, pouco teve a acrescentar na mitologia dos macacos.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.

  • Review | Planeta dos Macacos

    Review | Planeta dos Macacos

    planet-apes-seriesPrimeira obra audiovisual sobre a franquia dos macaquinhos sem Arthur P. Jacobs, já falecido no ano de lançamento da produção, em 1974, o seriado Planeta dos Macacos acompanha a trajetória de Alan Virdon (Ron Harper) e Pete Burke (James Naughton), dois astronautas que caem no planeta dominado por Macacos, a bordo de uma pequena nave espacial.

    Dessa vez são chimpanzés e um gorila que encontram o transporte interestelar, jogado próximo a uma floresta. A reação dos personagens diante da descoberta é assustada, amedrontada, diferente da curiosidade típica dos cientistas e da selvageria dos militares, representados pelas duas raças citadas. Um outro humano os auxilia, e ele também fala – aliás, quase todos os seres humanos falam, o que não faz sentido algum, e ainda têm uma cidade, Chalo. É como a inversão do conceito escravo mostrado no quarto filme

    Um chimpanzé trabalha diretamente com o Presidente Zaius (vivido nesta encarnação por Booth Colman). Sua inteligência é maior que a dos outros, assim como sua filiação. Interpretado por Roddy McDowall, o chimpanzé, que se chama Galen, se apresenta como o sopro de ar fresco em meio a todo o ar tosco do seriado. Dentro deste mesmo círculo há um gorila, que não aparenta ser um sujeito vilanesco, chamado Urko – possivelmente uma referência ao General Ursus do filme dois –, encarnado pelo experiente Mark Lenard. Os sobreviventes Alan e Pete percebem ainda no início que aquele planeta é a Terra e são capturados por Urko, sendo feitos prisioneiros. Curioso, Galen se aproxima dos intrusos, mas logo os refuta.

    A despeito da vontade de Urko, Zaius manda manter os dois homens vivos para estudá-los e tentar entender como eles vieram a produzir as armas de fogo que carregavam, como granadas sofisticadas e naves que cruzam o espaço. No entanto, a bondade do orangotango para por aí, pois ao ser questionado por Galen se humanos e macacos poderiam viver em paz como iguais, a resposta foi da total ignorância ao questionamento. Galen permite que os dois viajantes vão atrás de Zaius, descobrindo que outros homens evoluídos vieram antes deles, possivelmente alguns seres pretéritos aos mutantes. Logo, Galen é mantido cativo e os astronautas liberam o chimpanzé para que o trio tente alcançar a astronave e, através de um dos seus instrumentos, volte para casa.

    É difícil alocar o seriado na cronologia do resto da franquia, pois, apesar dos nomes em comum com os espécimes do cinema e das citações a outros possíveis astronautas, na série o ano relativo à chegada da nave é 3.085, 900 anos antes de Taylor chegar ao planeta (seria 3.978). Com quase um milênio de distância, é possível acreditar que os homens que falavam foram aniquilados e que o Zaius desta produção seja um antepassado do outro, ainda que qualquer conjectura a esse respeito seja pura especulação. Se a preocupação da Fox fosse mesmo traçar uma linha cronológica decente, não se perderia tanto tempo com formatos de episódios tão batidos.

    Mesmo que em alguns momentos Urko se veja obrigado a lidar com os homens de modo não belicoso e interdependente, ele prossegue em sua paranoia, caindo na armadilha do seu próprio complexo de inferioridade, se apegando a figuras comuns, como desenhos nas ruínas das cidades que mostram crianças humanas assistindo a um gorila dentro da jaula de um zoológico. Curioso é que mesmo com isso, a dupla de humanos segue nobre, como se precisasse provar seu valor, se comparando com os animalescos soberanos do planeta e infantilizando (ainda mais) a mensagem dos dois últimos filmes.

    Dois fatores pontuais denigrem muito a série: o primeiro deles é a irrelevância com que a maioria dos roteiros é levada. Mesmo os episódios com boas premissas fazem com que acabam por diluí-las em razão do formato serial. A ideia é que os episódios não ultrapassassem 49 minutos para não enfraquecer os outros, e isso acaba pecando para o outro lado, pois assim generaliza-se o show, fazendo a trama do todo fraca e demasiadamente repetitiva.

    O outro fator negativo são as maquiagens, que nem sempre funcionam. A decisão em pôr humanos falando seria, evidentemente, para baratear os custos, mas isso também acostumou mal a produção, que fazia com que os símios se apresentassem toscos na maior parte do tempo. Em oito anos após o filme de Franklin J. Schaffner, as bocas dos primatas estão piores, falar torna-se uma tarefa hercúlea, em alguns momentos até Gallen sofre com esse inconveniente, o que atrapalha a atuação até mesmo do mais talentoso membro do elenco, Roddy McDowall.

    As incongruências continuam no roteiro, enquanto Urko prossegue louco para capturar os dois astronautas; eles seguem desfilando à sua frente, passeando pelo planeta sem qualquer disfarce. Mesmo supondo que, para os macacos, todo humano é igual – lembrando que isso é aventado na franquia cinematográfica, mas não é citado no seriado – seria tolo fazer isso, dando oportunidade para que eles fossem capturados em qualquer momento, novamente.

    O último capítulo antes do cancelamento do seriado – motivado pela já esperada baixa audiência do programa – mostra um homem nativo, Konag (Martin E. Brooks), que busca superar seus próprios limites, inventando para seu uso pessoal um planador aéreo, pedindo a ajuda de Alan e Pete para torná-lo um objeto mais pernicioso. Mesmo alertado pela dupla de que os gorilas o caçariam pela audácia de pensar, ele prossegue em seu desejo de autossuperação. Em paralelo a esta trama, é seguida uma side-line, mostrando Gallen e outra chimpanzé, Carsic (Joanna Barnes), que tem em seus delírios de loucura a intenção de ascender com sua raça usando a mesma máquina de voo para fazer valer a supremacia dos seus e também munindo-se de uma caixa repleta de bombas. O que poderia ser um belo paralelo com a trajetória de Ícaro, unido a um comentário político mais adulto, acaba suavizado pelo viés episódico abobalhado que percorreu todo o show. Apesar deste Up Above the World So High ser o mais emocionante dos episódios, ele ainda é inconclusivo e deveras anticlimático.

    Sem um fim definido, a programação foi descontinuada, sem qualquer menção a uma possível continuidade. Não à toa o caráter paupérrimo da obra é observado em todos os 14 episódios, e assisti-los é um exercício de difícil execução, especialmente se comparados aos melhores momentos da franquia cinematográfica.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.

  • Crítica | A Batalha do Planeta dos Macacos

    Crítica | A Batalha do Planeta dos Macacos

    Battle for the planet of the apes

    No filme de 1973, a história de um mundo devastado pela terceira guerra mundial – que ocorreria na década de 1990 – é narrada pelo personagem chamado O Legislador (The Lawgiver), um orangotango interpretado por John Huston, relembrando os momentos finais de A Fuga do Planeta dos Macacos e um pouco da escravidão presente em A Conquista do Planeta dos Macacos.

    Nas referências aos filmes anteriores e nos flashbacks, nota-se o cuidado de J. Lee Thompson – o único diretor a retornar à direção da franquia – em aperfeiçoar o tema proposto. Entretanto, os momentos seguintes revelam pouca elaboração, começando pela cena em que os primeiros passos da existência de César (Roddy McDowall) como líder daquela sociedade são anunciados.

    Logo no início do filme, é estabelecido um mini-estado politicamente correto, utopicamente perfeitamente em suas intenções. Um lugarejo que reúne homens e símios que convivem pacificamente e se beneficiam mutuamente dos conhecimentos das duas espécies. Surpreendentemente, o tempo que separa essa narrativa, da anterior, foi suficiente para que todos os símios começassem a falar e tivessem acesso irrestrito à linguagem. Alguns deles até chegam a ler e escrever, desenvolvendo dogmas e criando leis inquebráveis no universo dos macacos.

    Após a retomada da máxima “macaco não mata macaco”, o público é apresentado a um general extremamente totalitário, que contesta o pacifismo de César e é arredio quanto a suas ordens. A obrigação de aprender a teoria estudada nas escolas claramente o incomoda, o que entra em contradição com o nome que recebeu. Batizado como Aldo – aquele que é nobre ou sábio -, o mesmo nome do primeiro macaco que teria falado “não” a um humano, o líder armamentista vivido por Claude Akins não guarda qualquer capacidade de pensamento que não seja hostil e rudimentar.

    César, por sua vez, tornou-se um líder engajado, entretanto demasiado sereno para a posição de um governante que concentra unicamente em si, o poder e a lei. As incongruências com a proposta inicial da saga ocorreram devido à influência dos estúdios na decisão de modificar o roteiro original de Paul Dehn, que havia participado de três dos quatro filmes anteriores. A história é suavizada, assim como haviam feito com o discurso final do líder simiesco em A Conquista do Planeta dos Macacos, além de ser reescrita por John William e Joyce Corrington, sem a complexidade da crítica social comum à saga, resultando em um entretenimento leve, produto para toda a família.

    A crítica ao horror atômico é escrachada e piegas, com falas excessivamente moralistas e enviesadas, carecendo da sutileza necessária a uma discussão mais elaborada da questão. O maniqueísmo da abordagem torna o assunto mais palatável ao grande público, apesar da já consolidada popularidade da franquia, e acabou por construir um enredo simplificado e ainda mais didático que o visto em De Volta ao Planeta dos Macacos, com uma referência ingênua ao que seria o drama da Guerra Fria.

    Os sobreviventes humanos da guerra são híbridos de homens comuns com os mutantes telepatas do segundo episódio. O modo como valorizam a batalha em detrimento da preservação da vida também é muito parecido com De volta ao Planeta dos Macacos, mas não é tão gritante quanto o canto lírico dedicado a um míssil atômico na referência ao tédio criado pela paz.

    Numa incursão de César a uma cidade humana devastada pela radiação, o líder chimpanzé tem acesso a vídeos de seus pais depondo sobre a origem de onde vieram. Lá, César toma conhecimento do porquê os homens o odeiam tanto, embora isso já tenha sido explicado por Armando, personagem de Ricardo Montalbán, na obra cinematográfica anterior. Nota-se assim, uma preferência por ignorar os momentos anteriores da trajetória para recontar alguns preceitos novamente, mas de maneira claramente  modificada.

    Como era de se esperar, os ânimos se exaltam e os humanos feridos pela exposição radioativa decidem atacar o acampamento dos macacos. Os gorilas de Aldo, por sua vez, se preparam para tomar o poder à força, enquanto César se contenta em gastar seu tempo regando plantas, cuidando de seus jardins e conversando descompromissadamente com o humano Macdonald (Austin Stoker) e o orangotango Virgil (Paul Williams). Logo, o inevitável conflito se aproxima, graças aos ardis de Aldo, que manipula a opinião pública e se livra do grande líder, desviando sua atenção ao ferir gravemente seu filho Cornelius, algo que o atinge intimamente.

    Apesar de todo o seu preparo, César ainda não tem o que é preciso para ser um líder sobre os seus semelhantes. Falta-lhe pulso firme para fazer de suas ordens, algo incontestável. Ele não tem uma atitude enérgica com os que entram em contradição com os seus preceitos, e quando, finalmente, reúne forças e coragem para dar fim ao confronto, o ataque dos semi-mutantes começa, e dá início à batalha mais risível dentro da filmografia primata.

    Fora a iconografia visual que, entre outras coisas, influenciaria George Miller na criação da saga Mad Max, pouco há para se elogiar na esperada cena da batalha. Apesar do esforço de Thompson em matizar sua edição com as cenas mais emocionantes, quase não há como acreditar no tiroteio burlesco que é exibido, nem nas armadilhas usadas para capturar os prisioneiros humanos, que mais lembram os filmes infantis da série Esqueceram de Mim.

    O ataque dos gorilas aos homens que fogem mostra-se ainda mais simplista, equiparando Aldo ao Brutus romano e reduzindo o filme a uma trama pouco elaborada. O ponto de maior complexidade da película é o tão esperado enfrentamento entre Aldo e César, momento em que a lei primordial que equilibrava o Estado primata é quebrada, com o assassinato de um macaco por outro. A partir desse momento, os símios se aproximam ainda mais da humanidade, algo reconhecido até mesmo por Macdonald.

    A qualidade do filme é, possivelmente, comprometida pela tentativa do estúdio em esgotar o tema da franquia, explorando cada detalhe de forma que não houvesse mais nada para ser contado. O quadro pintado pelo diretor Lee Thompson, ao final do drama, mostra o Legislador falando a uma plateia de crianças e macacos, criando uma interação que varia do respeito à pirraça, dependendo do foco da câmera. De forma semelhante aos dois primeiros filmes, a última cena culmina em uma estátua, que, dessa vez, homenageia César. O choro da estátua termina a saga de modo ambíguo, possibilitando ao público a interpretação de que as lágrimas representam a alegria pela paz ou o temor pela inevitável guerra entre raças. Um bom final para um filme tão abaixo da qualidade dos filmes anteriores e absolutamente dispensável à franquia.

    Ouça: VortCast 08: Planeta dos Macacos.

  • Crítica | Planeta dos Macacos: O Confronto

    Crítica | Planeta dos Macacos: O Confronto

    Planeta dos Macacos O Confronto

    Lançado em 2011, Planeta dos Macacos: A Origem conseguiu ser bem-sucedido de uma forma que poucos reboots são capazes. Isso porque o longa não se limitou a modernizar aspectos superficiais e recontar a mesma história, e sim dedicou-se a um ponto fundamental para que uma franquia sobre macacos humanoides falantes pudesse ser levada a sério nos dias de hoje: a transição do mundo, como nós o conhecemos, para o Planeta dos Macacos propriamente dito. O novo capítulo da saga, intitulado O Confronto, dá mais um passo nessa direção, felizmente ainda sem pressa.

    Apesar da mudança na direção (saiu Rupert Wyatt, entrou Matt Reeves), o filme manteve sua identidade, não apenas visual como também conceitual. A pegada de realismo/seriedade permaneceu e ganhou contornos mais dramáticos, pois o cenário agora é muito mais sombrio. Dez anos após o fim de A Origem, o vírus criado em laboratório praticamente dizimou a humanidade. Um grupo de sobreviventes localizado em São Francisco precisa reativar uma usina hidrelétrica situada numa floresta próxima. O problema é que neste território vive uma enorme comunidade de símios evoluídos, liderados por nosso velho conhecido Cesar (Andy Serkis, pra variar humilhando mais uma vez). Nem um pouco difícil adivinhar que o contato entre os dois grupos não vai acabar bem.

    Logo nos primeiros minutos da produção, o fato de um dos lados ser composto por macacos se torna irrelevante. Eles são organizados, caçam, se comunicam (principalmente por gestos, ainda), transmitem conhecimentos complexos para os mais jovens, e até andam a cavalo. Vemos, indiscutivelmente, uma civilização. A partir daí fica reconhecível um dos argumentos mais velhos do mundo, o contato entre dois povos cujo nível tecnológico é diferente. Ódio e medo do desconhecido, preconceito por parte dos “superiores”, bons e maus elementos em ambos os grupos, todos os elementos estão lá. Nesse sentido, o filme conquista seu lugar no hall das boas ficções científicas, que usam um contexto diferente para falar dos nossos problemas atuais e históricos.

    Grande parte do mérito da manutenção da identidade, que faz com que O Confronto se encaixe perfeitamente como a continuação natural de A Origem, cabe ao retorno dos roteiristas Rick Jaffa e Amanda Silver, agora com a adição de Mark Bomback. A jornada de Cesar continua, mostrando que governar é muito mais difícil do que liderar uma revolução. Agora mais velho e pai de família, tenta atuar como líder moderado, buscando preservar tanto seu povo quanto os humanos, dos quais conheceu o lado bom. A oposição surge na figura de Koba, cujo ódio pelos humanos (por ter sido cobaia de laboratório durante anos) o conduz a uma postura cada vez mais belicosa. Aliás, palmas para o ator Toby Kebbell, que faz um trabalho tão bom quanto o de Serkis.

    O elenco, aliás, conta com grandes nomes que fazem um trabalho discreto porém sólido, uma vez que o destaque sem dúvida é da galera da captura de movimentos. Gary Oldman, como o líder do grupo humano, começa gritando a plenos pulmões, mas seu personagem perde importância com o decorrer da trama. O casal vivido por Jason Clarke e Keri Russell representa os bonzinhos da vez, e tem ótimos momentos interagindo com Cesar. Quem também mostra competência é Matt Reeves, seguro tanto nos momentos mais intimistas quanto nas cenas de ação, nas quais sabe imprimir tensão e fazer o espectador se sentir no meio do caos – basta lembrar de seu principal trabalho, Cloverfield.

    Embora sobrem acertos, o filme não está isento de falhas. Incomoda o quanto os humanos parecem organizados, limpos, bem alimentados. Depois de dez anos em um cenário pós-apocalíptico, era de se esperar que eles estivessem em pior estado. A motivação para ativar a hidrelétrica, se analisada com calma, também não convence. Os personagens dizem estar cientes que a energia vai durar por tempo limitado, e o principal objetivo é conseguir contato com outros grupos de humanos, para assim “reconstruir a civilização”. A experiência não ensinou a eles o perigo de encontrar outras pessoas num mundo de recursos limitados?

    Contudo, os erros são perdoáveis por se tratar de uma história na qual o “o que” e o “como” são muito mais relevantes que o “por que”. O futuro onde macacos ainda mais evoluídos escravizam os humanos ainda parece distante, é difícil enxergar Cesar nessa equação, ainda que sua escolha final (consciente e de coração pesado) represente mais um pequeno passo nessa direção. Que a saga continue sendo contada sem pressa alguma, pois está claro que este é um dos casos em que a viagem é mais importante que o destino.

    Texto de autoria de Jackson Good.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.

  • Crítica | O Trapalhão no Planalto dos Macacos

    Crítica | O Trapalhão no Planalto dos Macacos

    O filme de J. B. Tanko explora uma trama subversiva, acompanhando a dupla de delinquentes Conde (Renato Aragão) e Alex (Dedé Santana), que teriam em seu encalço os agentes da lei, liderados pela figura do Guarda Azevedo (interpretado por Mussum, em sua primeira participação junto a Dedé e Renato), um atrapalhado policial afro-brasileiro. A rivalidade mostrada em tela se vale de muito humor físico que de tão idiota, acaba ganhando carisma, em piadas que anos depois seriam repetidas a exaustão no programa da Rede Globo.

    A Guerra de Ovos travada em meio a uma granja é um absurdo de concepção e de execução, e funciona perfeitamente para ambientar o público de que esta seria uma fita calcada no nonsense e no humor escrachado. Tomando por base essa completa falta de noção ou bom senso, os dois marginais, unidos a Rodrigo (do candidato a galã Alan Fontaine) e o guarda acabam tomando um balão, que tinha o destino a Marte, o quarto planeta do Sistema Solar.

    Uma vez em solo extraterrestre, os personagens têm contato com uma realidade bastante diferente das que estão acostumados, primeiro encontrando diamantes espalhados pelo chão e depois, os atrapalhados forasteiros são capturados por macacos, que tem toda uma sociedade normativa fundamentada, com economia, castas, moradias etc. Ao reunir o bando, os símios soberanos pensam em transformar alguns dos intrusos em macacos.

     No meio tempo do filme, mudanças ocorrem na trama, onde os residentes marcianos permitem que os humanos façam as suas atividades, onde tentam estabelecer a energia elétrica no local, mesmo sem qualquer sinal de gerador ou fonte de eletricidade. O estratagema como um todo é de uma cretinice ímpar, onde a galhofa supera qualquer possibilidade de verossimilhança.

    O caráter paupérrimo da produção é notado nos figurinos dos macacos. As máscaras não permitem uma boa audição dos atores fantasiados. O embrião do que seriam as boas paródias de Didi e companhia no futuro estava presente neste filme, mas ainda faltava muito da qualidade politicamente incorreta que seria a marca do grupo humorístico. No entanto, canalhice e desfaçatez que marcariam a carreira dos palhaços já eram flagrantes.

    A realidade é que a maior parte das piadas se fundamentam em questões datadas e que funcionam poucas vezes. O maior trunfo acaba sendo as gracinhas de Mussum, que mesmo esforçadas não passam nem perto de ser o estouro das esquetes compartilhadas com Didi, Dedé e Zacarias. A intenção de Tanko em emular as antigas chanchadas esbarra exatamente no que seria o ponto forte de Renato Aragão à época, a comédia sem freios, a insistência na forma em detrimento do conteúdo. Com o decorrer da carreira, o diretor corrigiria o equívoco, apostando em melhores modos de contar as histórias da trupe.

    Após um ardil enorme, Conde e seus amigos conseguem arquitetar um plano de fuga, onde punham os macacos para dançar em um baile improvisado. O método de saída obviamente dá errado, e eles se metem em uma briga generalizada com os primatas, sob um pretexto ridículo, unicamente feito para Mussum poder distribuir pancadas e sacudir sua bunda, rebolando no ritmo da batida.

    Ao final da trama, questões verdadeiramente polêmicas são aventadas, como transformismo, crise de identidade e até relações conjugais entre espécies. Toda essa polêmica esbarra no modo de governo dos macacos soberanos e um conflito é travado entre as partes. Infelizmente, a interação entre os parceiros ainda é muito distante do bom desempenho que os comediantes teriam no futuro, o mesmo pode-se dizer do entrosamento entre atores e produção. Contudo, algo do sucesso posterior já estava no DNA do filme, como um protótipo que se preparava para alçar voos maiores, como seria em Guerra dos Planetas e Saltimbancos Trapalhões, anos mais tarde.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.

  • GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    E eis que finalmente se iniciou a tão aguardada Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba, a Gibicon. Em sua primeira edição neste ano – considerando que a edição de 2011 foi chamada de edição 0 -, o evento conta com diversos debates, palestras, oficinas, exposições e sessões de autógrafo simultaneamente até o domingo (dia 28 de outubro).  Muito conteúdo para os fãs das histórias em quadrinhos, sem a menor sombra de dúvidas.

    Chegamos no Paço da Liberdade para conferir um dos debates e pudemos conversar um pouco com Juliano Lamb, um dos membros da organização do evento, que não escondeu seu entusiasmo com a edição deste ano. Evidenciou as grandes melhorias e o aumento exponencial da equipe, organização e dimensão do evento desde o ano passado para cá e ainda é otimista quanto ao futuro do evento. “A Gibicon é um evento de extrema importância para fazer com que quadrinhos sejam acessíveis a um público diversificado e não somente àqueles que estão acostumados com essa cultura. O evento tende a crescer cada vez mais, permitindo uma expansão cultural na cidade e atraindo cada vez mais pessoas”, diz Lamb.

    O entusiasmo de Juliano não era para menos, após seguir adiante para dar uma volta e conhecer a exposição “O Quadrinho Russo”, é facilmente perceptível o interesse de vários tipos de pessoas que se envolvem com essa forma tão peculiar de fazer arte.  Esta exposição é um ponto alto do evento, pois a Rússia passou por um período de estagnação da pesquisa estética das HQs, devido as proibições do governo comunista. Mesmo assim, ao observar obras de Askold Akishin, Egoroff, Lumbricus, Komardin e Surzenzo, visualizamos que por mais que tenha existido um hiato na história das HQs no país, os artistas fizeram e ainda fazem um excelente trabalho.

    Posteriormente a isso, nos dirigimos para o debate “Cor nas HQs”, contando com a presença de Rod Reis, colorista da DC Comics (tendo trabalhado nas revistas do Superman, Supergirl, Teen Titans e atual colorista do Aquaman e do Asa Noturna), Renato Faccini, colorista da BOOM! Studios (G.I. Joe, Farscape e Planeta dos Macacos), Marcio Menyz, coordenador e professor de colorização digital na Impacto Quadrinhos, além da presença do mediador Érico Assis, jornalista e tradutor de histórias em quadrinhos. Uma conversa completamente descontraída e animada se desenrolou por toda a extensão do debate. Cada um dos participantes contou um pouco de sua carreira pessoal, como fizeram para virar coloristas e não se conteram em contar histórias engraçadas da profissão. As histórias em quadrinhos são narrativas e os coloristas, enquanto parte da equipe criativa, ajudam a desenvolver a mesma. O colorista é aquele responsável em provocar uma imersão psicológica do leitor através da cor. Assim como o desenhista, aqueles também dão um toque interpretativo para as artes que conferimos nas HQs. Compararam inclusive com a fotografia e a sensibilidade que deve ter um colorista em observar uma paleta de cores e conseguir criar as melhores composições para os desenhos. Perguntados se gostariam de colorir os desenhos de Rob Liefeld, não exitaram em dizer que não o fariam em tom de gargalhada, com a exceção de Renato que disse que acharia uma experiência interessante. Todos do salão estavam completamente a vontade com os convidados e todos se divertiram bastante.

    Ao fim do debate, percebia-se o contentamento por parte das pessoas que ali estavam quanto ao conteúdo precioso de informações que ali foi divido. Logo após, corremos para o Memorial de Curitiba, com o intuito de verificar como andava o evento por lá. Vários estandes estavam montados, de várias editoras e revistarias. Tínhamos a presença da Itiban Comic Shop (loja especializada em HQ de Curitiba) e da Comix Book Shop (de São Paulo), representando os grandes comerciantes de quadrinhos, mas o destaque maior fica a cargo dos vários artistas independentes que estavam por lá divulgando e vendendo seus trabalhos. Pausa para algumas compras e trocar algumas ideias com os artistas antes da solenidade de abertura oficial da Gibicon no Solar do Barão.

    Isso é o que podemos dizer por ora do primeiro dia do evento. A atmosfera extremamente empolgante do local evidencia que o evento tem tudo para ser um grande sucesso novamente. Os fãs de quadrinhos com certeza vão estar muito agradecidos até o final dessa semana pela presença de um evento de tamanho porte na cidade de Curitiba.

    E o Vortex Cultural continua a jornada pela Gibicon!

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | A Conquista do Planeta dos Macacos

    Crítica | A Conquista do Planeta dos Macacos

    Conquista de Planeta dos Macacos 1
    A Conquista do Planeta dos Macacos
    é o quarto filme da saga Planeta dos Macacos, e a melhor das continuações, bem como um dos mais violentos, trazendo uma forte alegoria ao fascismo e a escravidão.

    O ano é 1991 e os EUA se tornaram um estado militar. Os cães e gatos foram dizimados por um vírus trazido do espaço pelos três macacos astronautas do filme anterior. Com isso, os seres humanos têm a necessidade de encontrar novos animais de estimação e passam a importar macacos da África, com o passar do tempo esses macacos passam a ser leiloados, treinados e escravizados para executar quaisquer tipos de tarefas mecânicas.

    Nesse cenário surge Caesar (Roddy McDowall), o mesmo macaco cujos pais eram Zira e Cornelius, chimpanzés inteligentes e articulados que viajam para o passado em busca de um novo começo, mas são mortos em uma tentativa de evitar a dominação símia que viria acontecer no futuro. Armando (Ricardo Montalban), o havia escondido dezoito anos atrás, e desde então vem o educando longe das grandes cidades.

    Graças a sua vida circense junto à Armando, Caesar não tem um contato muito grande com a civilização humana e desconhece o tratamento que é dado aos macacos nos dias de hoje. Tudo isso muda quando Caesar acompanha Armando para o complexo Century City para divulgar seu espetáculo na cidade. Caesar fica horrorizado com o tratamento degradante que os macacos recebem dos humanos e acaba amaldiçoando os polícias que estão ali. Com isso, não vê outra alternativa a não ser fugir e se esconder no meio de um carregamento de macacos que serão leiloados.

    As coisas não saem da forma como Caesar esperava. Armando acaba sendo detido pela polícia e Caesar passa por um “treinamento”, que nada mais é que um programa de condicionamento, onde todos os macacos são submetidos até aprender determinadas funções motoras. Sua revolta cresce cada vez mais com o tratamento que seus similares recebem e com isso passa a organizar pequenas ações revoltosas.

    A Conquista do Planeta dos Macacos busca uma proposta diferente dos filmes anteriores, o longa tem um clima sombrio e até perturbador para a série, a direção de J. Lee Thompson é dinâmica, utilizando câmera de mão em muitas sequências o que colaborou para transmitir a atmosfera pretendida de hostilidade. Apesar de muito criticado, “Conquista” é o meu preferido, seja pelas referências à obra de George Orwell, como câmeras de vigilância onipresentes por toda cidade (1984) e também a corrupção existente dentro de uma sociedade (Revolução dos Bichos), além de toda a crítica social trazida em um filme “família”, como o recondicionamento vicioso onde os macacos são treinados, sem se esquecer do brilhante e apaixonado discurso final de Caesar.

    Um dos filmes mais sinceros e violentos de toda série, uma pena que sua sequência cedeu as pressões da Fox e abriu as pernas de vez.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.

  • VortCast 08 | Planeta dos Macacos

    VortCast 08 | Planeta dos Macacos

    Bem Vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Levi Pedroso (@levipedroso), Amilton Brandão (@amiltonsena), Carlos Tourinho chapa-branca (@Touroman), Rodrigo do Quarto Sinistro (@quartosinistro), Mario Abbade (@fanaticc), Márcio Joke (@marciojoke)  e André Kirano (@kiranomutsu) se reúnem em um papo descompromissado comentando sobre uma das grandes sagas da história do cinema, Planeta dos Macacos!

    Duração: 104 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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    Comentados na Edição

    O Planeta dos Macacos – Pierre Boulle (Livro – 1963)
    O Planeta dos Macacos (1968)
    De Volta ao Planeta dos Macacos (1970)
    Fuga do Planeta dos Macacos (1971)
    A Conquista do Planeta dos Macacos (1972)
    Batalha pelo Planeta dos Macacos (1973)
    Planeta dos Macacos – A Série (1974)
    O Planeta dos Macacos (2001)
    Planeta dos Macacos: A Origem (2011)

  • Crítica | Fuga do Planeta dos Macacos

    Crítica | Fuga do Planeta dos Macacos

    Fuga do Planeta dos Macacos 1
    Uma nave americana retorna ao planeta Terra e cai próxima à costa americana (coincidências acontecem). Com isso, o exército resgata a nave e a surpresa ocorre com os astronautas que saem de dentro da nave. Macacos. E assim começa o terceiro filme da saga clássica, seguido de Planeta dos Macacos e De Volta ao Planeta dos Macacos, em 1971 chega às telas Fuga do Planeta dos Macacos.

    O filme começa meio “sem pé nem cabeça” e você percebe com o decorrer do longa o quão caça-níquel ele foi. Ele parte de uma premissa um tanto inverossímil se analisada os dois filmes anteriores, já que a sociedade dos macacos apresentada apresentada anteriormente sempre foi primitiva e pouco desenvolvida. Três macacos conseguem recuperar a nave dos astronautas que caiu no “lago morto” no primeiro filme, como também consertá-la, fazê-la funcionar (indicando que pra uma nave daquela, naquela época, ter saído da terra ela deve ter usado tanques de propulsão que são deixados para trás logo que se sai da atmosfera, LOGO, “a tecnologia de lançamento” estava faltando ali) e com isso, escapar da iminente destruição de seu planeta retornando ao passado.

    Em termos de personagem, o filme se prende aos dois macacos Zira (Kim Hunter) e Cornelius (Roddy McDowall), já vistos nos primeiros filmes. Embora as personagens sejam carismáticas e tudo, é difícil você querer segurar o filme em atores que, tecnicamente, não podem atuar. Afinal, por melhor que fosse as maquiagens, ainda assim havia uma grande deficiência em “atuação”, contudo, o trabalho dos atores é excepcional, já que os dois conseguem fazer milagre e deixar o filme divertido e dramático na medida certa.

    Como não podia faltar, o filme tem um texto que busca uma reflexão, mesmo que rasa, sobre questões morais, sociais e políticas, como é de costume na saga, o que acaba tornando-o mais atrativo. O medo da humanidade ao se deparar com a questão “da futura destruição” do seu Planeta, até que ponto são responsáveis por isso, o quão ambíguo é o fato de Zira fazer experiências com humanos no futuro e nós fazermos o mesmo com animais nos dias de hoje, entre outros detalhes são o que tornam o filme uma experiência mais interessante.

    No terceiro filme da série ainda temos a primeira explicação do que indica ter sido o motivo para a criação do que viria a ser o Planeta dos Macacos. Cornelius faz uma explanação sobre a história e cultura dos macacos que embora um tanto forçada, é o que faltava para “fechar” o caixão.

    Com tudo isso, Fuga do Planeta dos Macacos é o filme mais fraco da saga clássica, e o segundo mais fraco da franquia (perdendo apenas para o remake pavoroso do Tim Burton em 2001). Começando com uma tentativa frustrada de resgatar a saga, que havia sido dada como morta,  pois o segundo filme culmina com o fim de tudo, e terminando com um gancho para uma possível sequência que não forçasse tanto a barra quanto ele. Mas ainda assim é um capítulo essencial para quem gosta da saga, viagens no tempo, paradoxo temporal e que traga algum conteúdo para reflexão.

    Texto de autoria de André Kirano.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.

  • Crítica | De Volta ao Planeta dos Macacos

    Crítica | De Volta ao Planeta dos Macacos

    De Volta ao Planeta dos Macacos 1

    Depois do estrondoso sucesso comercial do original Planeta Dos Macacos, uma sequência era quase certa para o que se tornaria uma lucrativa  franquia simiesca.

    O filme se passa dando sequência direta aos acontecimentos finais da primeira película, uma nova espaço-nave foi enviada da Terra em busca de Taylor e seus companheiros. A nave acaba por sofrer dos mesmos distúrbios temporais que a original e aterrissa no planeta agora dominado pelos símios. O protagonista agora é Bret, interpretado por James Franciscus (cuja tamanha semelhança com Charlton Heston é até mencionada no filme), ele se junta a Nova (Linda Harrison) que juntos, ao fugir dos símios acabam por descobrir uma passagem subterrânea que os levam a explorar o que há abaixo do planeta dos macacos (daí o nome original Beneath the Planet of the Apes). É na estação subterrânea de metrô que Bret descobre que está na Terra do futuro. Claro, sem nem um décimo da carga emocional que sentimos no final do filme anterior.

    Devido ao orçamento mais do que reduzido se comparado à primeira obra, esta sequência fica logo de cara comprometida com os efeitos especiais utilizados e nas vergonhosas mascaras de gorilas, contrastando com as maquiagens que haviam sido extremamente elogiadas no primeiro filme.

    Além destes ‘detalhes’ técnicos, a sequência não traz nada de novo para o debate filosófico, moral e religioso abordado no original.  Na verdade, isso é algo deixado quase que totalmente à margem dos acontecimentos vivenciados pelo nosso protagonista e pelas cenas de ação. Todos estes aspectos deixam no espectador a impressão de que a sequência só existiu por um objetivo ‘caça-níquel’ (algo que infelizmente permeará praticamente toda a franquia).

    Talvez o grande momento de inspiração e ousadia do roteiro esteja no final inesperado e categórico. Ele talvez gere alguma discussão mais aprofundada, algo que é sempre inerente a qualquer boa obra de ficção científica (seja qual for a mídia). O final também seria algo que encerraria a franquia ali mesmo. Mas como bem sabemos, isso não aconteceu. Porém, deixo as críticas com relação à continuação para o próximo filme.

    Texto de autoria de Amilton Brandão.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.

  • Crítica | Planeta dos Macacos: A Origem

    Crítica | Planeta dos Macacos: A Origem

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    Uma das franquias mais clássicas da história do cinema e da cultura pop está de volta. Na onda interminável de remakes, reboots, relaunchs (opa, assunto errado), foi a vez de Planeta dos Macacos ganhar seu “como tudo começou”, com o filme lançado no dia 26 de agosto nos cinemas brasileiros. A última vez em que os símios marcaram presença na telona foi em 2001, numa tentativa frustrada de refilmar o original de 1968 cometida por Tim Burton. Agora, a opção foi por começar do zero. E a exemplo de X-Men – Primeira Classe, a decisão se mostrou acertada e o resultado foi surpreendente.

    Nos tempos atuais, no planeta Terra como nós o conhecemos, Will Rodman (James Franco em uma atuação competente) é um pesquisador em busca de uma cura para o mal de Alzheimer, motivado principalmente por ver seu pai (John Lithgow, ótimo) sofrer com a doença. Ele desenvolve uma nova droga capaz de regenerar neurônios, e durante os testes em macacos descobre que o composto aumenta exponencialmente as capacidades mentais dos animais. Após um incidente, todas as cobaias são sacrificadas, mas Will esconde e leva pra casa um chipanzé recém nascido, cuja mãe recebeu a droga durante a gestação. Cesar, como é batizado, acaba revelando possuir uma inteligência muito superior á de qualquer macaco, sempre se desenvolvendo aceleradamente. Já adulto, é forçado a tomar consciência de quem e do que é, e daquilo que representa para sua espécie.

    Preciso dizer que não sou fã da franquia, nem assisti aos filmes antigos. O conceito de um mundo povoado por macacos humanóides falantes sempre me pareceu galhofa demais. Então, meu interesse por essa nova produção era zero… até ver o trailer. A proposta aqui é algo bem diferente, pegando apenas alguns conceitos da franquia e adaptando tudo para um cenário mais crível e realista. Esse ainda não é o Planeta dos Macacos, mas é possível vislumbrar como e por que esse será o futuro. Em grande parte porque a jornada de Cesar é muito bem construída, apesar de alguns exageros perfeitamente aceitáveis, afinal, a ficção científica exige uma dose de suspensão de descrença. Mas sem dúvida o roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver é bastante coeso, e a direção de Rupert Wyatt é impecável sobretudo nas cenas de ação.

    O grande mérito do filme, porém, vêm de uma parceria antiga: A Weta Digital nos efeitos visuais e Andy Serkis na atuação por captura de movimentos. Ele que já foi Gollum e King Kong, agora surge como protagonista indiscutível e dá um show. Cesar não parece “real”, a proposta nem era essa, inclusive todos os macacos do filme são digitais. A chave aqui é o desconforto causado por ver expressões faciais e corporais tão absolutamente humanas em feições simiescas, sem parecer galhofa em nenhum momento. O trabalho de Serkis é tão impressionante que se cogita uma indicação ao Oscar. Exagero? Provavelmente, mas de forma alguma imerecido.

    Planeta dos Macacos – A Origem está entre as melhores surpresas do ano, e é um filme recomendadíssimo quer você seja ou não fã da franquia.

    Texto de autoria de Jackson Good.

    Ouça aqui nosso podcast sobre a saga “Planeta dos Macacos”.

  • Crítica | O Planeta dos Macacos

    Crítica | O Planeta dos Macacos

    planeta dos macacos 1968

    Falar do clássico O Planeta dos Macacos não é uma tarefa fácil, afinal o filme já está consolidado como um dos grandes clássicos do cinema há anos. Serei breve e objetivo nessa resenha, e espero que consiga convencer quem ainda não assistiu essa obra, que confira o quanto antes este clássico do cinema cult e de ficção-científica.

    Baseado no livro de Pierre Boulle, o filme conta a história de quatro astronautas que viajam para o espaço, rumo a uma estrela na constelação de Orion, e caem em um sono profundo de dois mil anos. Ao acordarem, no então ano de 3978, descobrem que aterrissaram em um planeta desconhecido, e partem em busca de algum sinal de vida naquele local. Após uma longa jornada pelo deserto, os astronautas encontram um povo bárbaro e tentam estabelecer contato, o que é dificultado pois eles não conseguem articular palavras e apenas emitem grunhidos e gritos animalescos. Enquanto tentam os primeiros contatos, algo surge e aterroriza esses raça de humanos bárbaros, fazendo todos partirem em uma corrida frenética. Quando se dão conta, os astronautas se veem perseguidos por macacos vestidos com trajes humanos, montados em seus cavalos e disparando seus fuzis contra aquele povo, para transformá-los em escravos, animais de estimação e cobaias de laboratório.

    Nos dias atuais a cena pode não causar o mesmo impacto que causou em 1968, e até mesmo poder soar um pouco bizarro e tosco, mas no ano do lançamento causou um frisson inacreditável, sendo responsável por uma das maiores bilheterias do cinema na epóca. E pudera, com um roteiro desses não poderia ser diferente, tendo o já astro, Charlton Heston no papel principal do astronauta que após um sono artificial, aterrissa em um planeta desconhecido, parecido com a Terra, se depara com uma realidade chocante onde homens agem como macacos e os macacos são seres dotados de inteligência e usam estes como experimentos e escravos.

    O Diretor norte-americano Franklin J. Schaffner, um dos responsáveis pelo sucesso que o filme tem até hoje, mostrou um excelente trabalho de câmera, com grandes tomadas e conseguindo extrair boas atuações, inclusive dos atores que utilizavam a maquiagem para viver seus personagens símios, o que acabava dificultando em suas interpretações. Schaffner fez o que Tim Burton não conseguiu, expor a inversão de papéis entre homem e macaco de uma maneira excepcional, e sobretudo ser crível com essa história. O roteiro do filme é grande responsável por isso, ao mostrar essa realidade aterradora entre dominador e dominado, porém, sem um trabalho competente de direção teria sido esquecido à muito tempo.

    E por falar dos aspectos técnicos, o que dizer da maquiagem dos macacos? Simplesmente perfeita e por incrível que pareça, ainda hoje consegue convencer quem a vê, além de ser mais expressiva que muitas animações feitas nos últimos anos. O responsável técnico John Chambers recebeu um Oscar honorário anos depois pela Academia, muito merecidamente, mas um bocado atrasado, pois na premiação de 1969 foi totalmente ignorado por ela. O filme havia sido indicado apenas para o Oscar roteiro original e figurino.

    O estilo narrativo é um pouco lento em comparação aos filmes hollwoodianos atuais, isso se dá ao estilo típico do cinema até o início dos 70. O que torna uma ótima oportunidade para quem não conhece o estilo cinematográfico da epóca e não quer começar com filmes mais “pesados”, O Planeta dos Macacos é uma ótima pedida, pois pode ser considerado um dos blockbuster’s da epóca.

    Schaffner conseguiu mesclar aventura, suspense e ficção-científica como poucos. Charlton Heston emplaca mais um grande papel depois do clássico Ben-Hur. Enfim, um filme que merece ser visto e revisto por todos nós, não só por ser um grande clássico do gênero sci-fi, mas também por todo seu contexto histórico e político da época de seu lançamento.

    Ouça: Planeta dos Macacos.