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  • GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    Sabe-se que a Convenção Internacional de Quadrinhos – Gibicon #01, realizada neste ano, foi uma homenagem ao aniversário de 30 anos da Gibiteca de Curitiba. Agora, já no fim do evento, vale contar um pouco sobre um dos espaços mais incríveis da cidade de Curitiba.

    A primeira coisa a se dizer da Gibiteca de Curitiba é que se trata de um espaço cultural contagiante. Não é apenas um mero acervo de mais de 25 mil títulos dos mais variados gêneros das histórias em quadrinhos. Antes de tudo, a Gibiteca representa um ponto de encontro entre as mais diversas pessoas, as quais estão unidas por um elo que são as HQs. Ilustradores, designers, estudantes, artistas plásticos, professores…isso são apenas alguns tipos de pessoa que podemos encontrar no local. Mais do que um ponto de networking, a Gibiteca exece um papel fundamental oferecendo cursos de desenho em quadrinhos, mangá, além de promover oficinas variadas e exposições. Vários artistas curitibanos se destacaram no mercado nacional e internacional começando na Gibiteca. Só para citar alguns exemplos: José Aguiar e André Caliman.

    Esse espaço foi criado em 1982 e funciona desde então, oferecendo um acervo para consulta gigantesco e que faz brilhar os olhos de todos os fãs de quadrinhos que adentram o local. As primeiras edições de Tico-Tico, Batman e Capitão América (publicações nacionais) são apenas algumas das raridades que podem ser encontradas nas prateleiras.

    É claro que cuidar de tantas obras não é um trabalho fácil. Se você for até o local vai encontrar Maristela Garcia, curadora responsável pela Gibiteca, que diariamente se dedica ao cuidado de todo aquele acervo. Menos de 10 minutos de conversa com a mesma é tempo suficiente para ficar contagiado com o amor e carinho que sente por cada centímetro das estantes da Gibiteca. Os frequentadores (e esse que vos fala se inclui neste ponto) também corroboram esta ideia, pois mesmo que só estejam de passagem, disputam espaço para conversar um pouco com Maristela, a qual é dotada de uma personalidade acolhedora e amável. Maristela representa bem o espírito da Gibiteca.

    O Vortex Cultural conseguiu roubar a Maristela por alguns minutos para falar um pouco sobre suas opiniões e sobre a Gibiteca:

    Vortex Cultural: Maristela, o que você está achando da Gibicon?

    Maristela Garcia: A Gibicon #01 é uma homenagem para os 30 anos da gibiteca. Eu, pessoalmente, achei isso tudo muito fantástico! Eu estou adorando isso! Estava falando hoje para o Fabrizio Andriani (um dos coordenadores do evento) que eu odiei essa Gibicon…porque foi muito curta! (risos) Tem que ser maior! A Gibicon do ano passado teve um público fantástico. Em três dias conseguir reunir 10 mil pessoas foi surpreendente. Nós também não tínhamos tantas exposições, – apesar de mesmo assim serem excelentes-, mas a desse ano está ainda mais fantástica. As exposições estão impecáveis, a programação está redondinha e tudo está indo nos seus conformes.  Tá muito legal. É uma pena só que acaba rápido!

    VC: O que você espera da próxima Gibicon?

    MG: A partir desse ano a Gibicon será bienal. A próxima será só em 2014. Se o mundo não acabar esse ano, faremos a próxima (risos). Eu espero que ela seja maior!

    VC: Agora, falando da gibiteca em si: você acha que histórias em quadrinhos tem um espaço significativo nas bibliotecas públicas? Acha que existe acesso a esse tipo de conteúdo?

    MG: Sim. Cada vez mais isso cresce. Agora está começando a ter espaço também nas escolas. Hoje, por lei federal, quadrinho é uma linguagem que deve ser estudada. Para você ver, nós recebemos toda a rede de ensino de Curitiba no evento. Só ontem tivemos um total de 120 crianças visitando a exposição. Tivemos até que ir revezando as crianças nos blocos do local pra poder dar conta (risos).  O acesso tende a melhorar sempre.

    VC: Qual que é, para você,  a maior importância de existir uma gibiteca no espaço e contexto cultural de Curitiba?

    MG: Antes de mais nada, a gibiteca é um marco. A gibiteca é uma loucura que deu certo. Esses 30 anos por si só representam um marco maravilhoso. Ela é pioneira não só como centro de leitura, mas como centro de formação. Por causa dela, há muitas pessoas que hoje estão nas áreas de design, artes gráficas, ilustração e até mesmo quadrinhos. Alguns, inclusive, estão desenhando até para a Europa.

    Fica claro que a Gibiteca é um espaço muito importante para o contexto de Curitiba e do Brasil como um todo. O que se percebe a partir desse ano, analisando todos os dias em que estivemos presentes na Gibicon #01, é que o evento em si também está tomando uma proporção de grande importância no contexto nacional. Amantes de quadrinhos se reúnem para encontrar com alguns de seus ídolos, conversar sobre HQs e, ainda mais importante, conhecer uma série de novos artistas que nascem em nosso país. A Gibicon #01 pode ter acabado, mas os sentimentos que ela trouxe e as pessoas que conhecemos vão durar para sempre.

    Agradecimentos especiais a José Aguiar, Fabrizio Andriani, Maristela Garcia, Marialda Pereira, Andre Caliman, Leonardo Melo, Daniel Esteves, Danilo Beyruth, Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis, o grupo Lobo Limão (Yoshi Itice, Marcel Keiichi, Kenji Saito e Gouji Saito), Gustavo Ravaglio, Gus Morais, e todas as pessoas que fizeram esse evento acontecer e ficar marcado na história da nossa cidade e do país.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

    Crédito das Imagens: Bruno Tomasoni

  • GIBICON | Astronautas e criação de HQ

    GIBICON | Astronautas e criação de HQ

    O sábado chegou e o dia prometia ser o mais lotado de todo o evento. Toda a correria e animação dos primeiros dias não seria nada frente ao clímax do evento. As previsões estavam certas.

    O Vortex Cultural foi conferir de perto a palestra de criação de histórias em quadrinhos com ninguém menos do que Danilo Beyruth, quadrinista brasileiro responsável pela premiada HQ Bando de Dois e Necronauta. Como era de se esperar, tendo em vista todas as outras pessoas que vimos no evento, Danilo foi extremamente simpático e deixou todas as pessoas que estavam presentes na sala lotada bastante à vontade.

    Em sua palestra, Danilo contou um pouco da forma como ele enxerga as histórias em quadrinhos e qual a lógica básica para a criação de uma. “A história em quadrinhos é uma forma de linguagem, assim como o cinema e a literatura. Linguagem nada mais é do que comunicação”, disse Beyruth. Assim como havíamos ouvido de Daniel Esteves no dia anterior, o público também pode ouvir de Danilo que através da HQ se transmite uma história. Explicou várias partes técnicas do processo criativo e deu várias dicas para as pessoas que se interessam em criar HQs. Uma delas, muito importante, e que vale dizer aqui é “sempre leve caderno e caneta com você, para todos os lugares onde você vá. Assim você sempre anotará suas boas ideias”.

    Mais perto do final da palestra, Danilo teve a oportunidade de falar um pouco de seu mais novo trabalho: Astronauta – Magnetar, álbum em HQ cujo personagem principal é ninguém menos do que o velho e conhecido Astronauta da Turma da Mônica (Maurício de Souza), porém participando de uma história com um viés um pouco diferente daquele infantil e humorístico que estamos acostumados com o personagem. Danilo explicou a experiência com o Astronauta, de iniciar um processo criativo com um personagem de outra pessoa, tentar entender o mesmo e partir para uma narrativa com o mesmo sendo o motor principal que move a história. “A primeira coisa foi descobrir que o Astronauta não era um mero astronauta, mas um navegador. Ele está fadado a navegar pelo espaço, enfrentando a solidão e a saudade. Tive que me aproximar de exemplos do tipo, como Amyr Klink, para assim poder me aproximar ao personagem”.

    Após a brilhante palestra de Danilo Beyruth, fomos novamente interagir com o resto do público e outros autores de quadrinhos. Uma das principais novidades do dia mais cheio de todo o evento com certeza foram os cosplayers. No local encontramos Stormtroopers, Mulher Gavião, Canário Negro, Arlequina e até mesmo um Freddie Krueger.

    Após enfrentarmos uma hora de fila para conseguir autógrafos com alguns expoentes dos quadrinhos como Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis e Carlos Magno, encontramos com mais um artista independente que estava lançando um trabalho no evento. Dessa vez, conversamos com Gustavo Ravaglio, um dos autores da primeira edição da HQ Capa Preta, juntamente com seu colega Her Ming Hsu Yen. A primeira impressão que se tem do material é a de que ela não é feita por artistas independentes, pois chama atenção e esbanja beleza. Gustavo ofereceu um pouco do seu tempo para falar um pouco conosco:

    Vortex Cultural: Gustavo, você poderia nos falar um pouco de como está sendo a experiência da Gibicon para você e seu trabalho?

    Gustavo Ravaglio: Eu tenho o meu estúdio e trabalho com quadrinhos, animação e ilustração. Aqui na Gibicon eu estou lançando a minha primeira HQ, o Capa Preta n. 01, então basicamente tem sido uma experiência nova. Nós estamos com uma tiragem boa e está saindo bastante. O público tem gostado bastante e elogiado principalmente nosso acabamento gráfico da revista e tudo o mais. Acaba que dá pra experimentar diversas coisas e vemos o que cai bem para o público e o que não cai. Em todos os sentidos a Gibicon está sendo muito boa para mim.

    VC: De onde surgiu a vontade de fazer quadrinhos?

    GR: Pode parecer puxação de saco, mas acredite, não é.  Na Gibicon passada, quando eu vim no evento, decidi que no ano seguinte eu lançaria um quadrinho e hoje estou aqui. A Gibicon n. 0 significou isso para mim, minha motivação. Foi imediato. O Capa preta é um livro de quadrinhos independentes que pretende ser um novo meio pra divulgar novos artistas, novas histórias e sempre com caráter experimental. O Capa Preta tenta cumprir essa função e por isso pretendemos aumentar o número de artistas conosco, além de continuar com nosso trabalho.

    Chegamos finalmente ao fim de mais um dia agitado no evento, que tem se mostrado um verdadeiro sucesso com o público e com os próprios artistas que mostram seus novos trabalhos. O domingo nem passou e o evento já começa a deixar resquícios de que vai fazer falta.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • GIBICON | Roteiros e Quadrinhos independentes

    GIBICON | Roteiros e Quadrinhos independentes

    O segundo dia da Gibicon começou cedo para o Vortex Cultural. Fomos conferir uma das oficinas do evento. Se o primeiro dia foi o dia dos coloristas, o segundo seria o dia dos roteiristas, um dos principais autores da equipe criativa de uma história em quadrinhos, portanto, escolhemos assistir à oficina de Roteiro ministrada por Daniel Esteves, ganhador de diversos prêmios HQMIX como roteirista, pela sua série Nanquim Descartável, além da HQ em que é co-autor: O Louco, a Caixa e o Homem.

    Em duas horas de oficina, que foi realizada na Aliança Francesa de Curitiba, o público foi levado a compreender o processo de um roteiro. Esteves evidenciou que um roteirista, antes de tudo, deve ser um contador de histórias. Ele é um dos principais responsáveis por criar uma ligação emotiva com o leitor (criando um elo sentimental) e, portanto, encoraja o processo criativo de um roteiro que seja natural, em detrimento da artificialidade das histórias megalomaníacas (principalmente ao considerar os iniciantes). Um roteirista, antes de mais nada, é leitor e também um vivente. Essas foram, resumidamente, apenas alguns dos pontos que Daniel compartilhou com o público presente e não escondeu que leva uma carreira ao mesmo tempo “caótica”, mas divertida.

    Novamente, corremos de volta para o Memorial de Curitiba, ponto de encontro principal da convenção de todas as pessoas e artistas. José Aguiar, um dos idealizadores da Gibicon e curador do evento, esbanjando simpatia e animação, veio nos contar mais um pouco sobre o evento. Perguntado sobre as mudanças que ocorreram da edição zero (2011) para a desse ano, Aguiar respondeu:

    José Aguiar: A Gibicon deu uma mudada para poder crescer. Quando fizemos a edição de número 0, que foi experimental, a equipe era muito diminuta e o orçamento também era menor (apesar de ainda ser  limitado, melhorou), mas aprendemos muito com aquele. Aprendemos a nos organizar melhor, principalmente.  Esse ano eu saí da coordenação do evento e fui para a curadoria, pois eu tenho mais capacidade de estar mais presente e render melhor. Tudo isso foi pensado com o intuito de oferecer um evento melhor. Acho que isso tudo foi positivo tanto para o evento quanto para mim. Continuo dando o sangue e acreditando no projeto igualmente. A Gibicon é um evento sem fins lucrativos e o que estamos fazendo é exatamente porque acreditamos em investir no mercado brasileiro de quadrinhos. É claro que eu ganho com isso, pois também sou autor de quadrinhos. Se eu fomento novos leitores eu estou fazendo bem não só para mim, mas para todos os autores brasileiros em especial. Esse é um dos grandes objetivos da Gibicon: mostrar para a mídia e o grande público que quadrinho brasileiro tem espaço. Estamos aproveitando os 30 anos da Gibiteca de Curitiba como mote pra trazer exposições, autores internacionais e nacionais de renome e os que ainda são desconhecidos no Brasil, mas que são muito bons. Estamos com uma lista grande de lançamentos esse ano. Até eu estou lançando quadrinhos independente (risos). A intenção é só melhorar.

    O crescimento descrito por José Aguiar do evento é facilmente visualizado ao correr os olhos por todos os espaços da convenção, não apenas no Memorial de Curitiba. Esse em especial, onde se localizavam os estandes, era o local em que encontramos vários artistas independentes. Tentamos conversar com a maior quantidade de artistas possível e todos muito animados com toda a atmosfera da Gibicon, não se importaram em trocar uma ideia conosco e falar um pouco do trabalho deles.

    Perguntados sobre o que estavam achando do evento como um todo e o que mais agradava a eles, pudemos ver relatos de entusiasmo semelhantes. André Caliman (um dos responsáveis pelas HQs Quadrinhópole, Avenida e desenhista da HQ ELF) disse: “estou gostando bastante dessa área de estandes. Ano passado tinha, mas era pouco e mais informal. Não tinha tanta coisa independente, mas esse ano tem vários. A Gibicon tem servido com um propósito relevante para nós autores independentes. Não apenas curitibanos, mas tem muita gente de São Paulo e Rio de Janeiro mostrando seus trabalhos, por exemplo. Pode-se ver claramente que a Gibicon tem ganhado uma visualização nacional, pois não só nós costumamos ir para São Paulo e Belo Horizonte para mostrar nossos trabalhos, como eles estão vindo para cá”.

    Falando um pouco da HQ Revolta, que estava lançando no evento, Caliman explica que ele está distribuindo o primeiro capítulo da referida HQ no evento para os interessados, e a mesma terá um capítulo novo sendo publicado todos os meses no site oficial (www.revoltahq.blogspot.com). Revolta conta a história de um grupo de amigos que estão revoltados com o que acontece com o cenário político nacional. Caliman conta “até achei legal lançar agora em outubro, tendo em vista as eleições nesse final de semana. É um quadrinho que faz uma série de críticas, mas não quero contar o fato principal da história para não estragar a surpresa dos leitores (risos)”.

    Yoshi Itice e Marcel Keiichi, membros do grupo Lobo Limão e dois dos três autores do lançamento independente Last RPG Fantasy (o terceiro autor é Kendy Saito), reiteraram as impressões da evolução do evento: “Ano passado não tinha tantos estandes. Era um evento mais focado em palestras e oficinas, tanto que era o que mais eu fui ver, porém esse ano é diferente e estamos aqui participando mais ativamente”.

    Perguntamos sobre o lançamento deles – o qual foi lançado oficialmente na Gibicon #01 e está a venda não apenas no evento como também no site oficial www.lobolimao.com.br)-  e como foi a inspiração para estarem ali naquele dia lançando um trabalho próprio:

    Marcel Keiichi: Tudo começou quando fomos na FIQ (Feira Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte/MG) do ano passado. Lá levamos nossos primeiros fanzines e vimos que tinha muitas pessoas fazendo livros bonitos e completos. Foi um tapa na nossa cara…

    Yoshi Itice: A gente tem que correr atrás, foi o que dissemos para nós mesmos naquele momento.

    MK: Temos que fazer uma coisa nessa qualidade também, foi o que pensamos! Pensamos em produzir um livro legal e estabelecemos como meta a produção da nossa HQ “Last RPG Fantasy” esse ano na Gibicon em Curitiba.

    YI: O Last RPG Fantasy é um livro jogo interativo.

    Vortex Cultural: Tipo aqueles do Steve Jackson que jogávamos na nossa infância? (risos)

    YI: Exatamente! Você vai escolhendo os rumos do herói e tem vários finais. Seu personagem pode morrer, vencer, ou não. A diferença é que ao invés do texto corrido como era com os livros do Steve Jackson, fazemos isso com a linguagem dos quadrinhos.

    Tivemos a oportunidade de conversar também com  Leonardo Melo,  roteirista de quadrinhos, cinema e um dos responsáveis pela revista Quadrinhópole. Queríamos saber a opinião do autor sobre o evento como um todo e sobre seu trabalho e fomos bem atendidos:

    Leonardo Melo: Sou roteirista, edito a Quadrinhópole desde 2006. Ao meu ver, a Gibicon é um espaço mega importante para os artistas independentes com o intuito de abrir espaço para mostrarmos nosso trabalho. No caso aqui, hoje, estou lançando o encadernado do Undeadman, que é meu personagem. Não apenas eu, mas todos nós precisamos desse espaço, que é imprescindível para nossa divulgação.

    Vortex Cultural: E o que você tem a dizer sobre a recepção do público no evento?

    LM: A recepção do público está bacana. Ontem, no primeiro dia, esperávamos um movimento menor e mesmo assim rendeu várias pessoas. Ontem choveu bastante ainda e curitibano não é muito chegado em sair de casa pra ir em evento (risos), mas mesmo assim teve bastante gente e a expectativa pro final da semana é que venha mais ainda.

    Leonardo está lançando o encadernado de seu personagem, intitulado Undeadman, que é um personagem de uma história de aventura. Um imortal, cuja história se inicia na Idade Média. “A ideia principal é que ele vá passando por momentos históricos da humanidade. Esse primeiro volume reúne todas as histórias da Idade Média, o próximo será da idade moderna e assim por diante”, conta Leonardo.

    Por fim, antes de nos aventurarmos nas filas quilométricas de autógrafos com grandes nomes das HQs como Renato Guedes, Carlos Magno, Rod ReisJoe Bennet, encontramos com o paulistano Gus Morais, mais um artista independente que estava lançando em Curitiba sua coletânea de tirinhas intitulada Privilégios. Gus esbanjou carisma e animação e prestou um pouco da sua experiência pessoal

    Gus Morais: É a primeira vez que venho visitar a Gibicon. A parte mais interessante, para mim, é que aqui é um ponto de encontro. Você observa o que os outros artistas estão produzindo e os modelos que eles estão seguindo. Pra quem produz para a internet como eu, é um ponto onde a gente cruza com as pessoas que estão experimentando coisas parecidas. Tem o espaço da venda, de encontrar novos leitores e isso é muito legal, mas acho que o principal (pra mim, sempre que vou em alguma feira do tipo) é o meu ponto de mutação que acontece na feira. Vejo o que os outros estão fazendo, outros trabalhos e o meu trabalho acaba mudando qualitativamente após o evento. Você tem uma proposta com uma história de um jeito específico, daí você vê uma pessoa com o trabalho diferente e isso acaba influenciando você. Tu acha aquele trabalho diferente, legal e tenta se arriscar em caminhos diferentes também. A HQ é um processo. Não é estática. Mesmo o Mauricio de Souza, que tem uma linha bem definida, ainda está experimentando maneiras diferentes de contar suas histórias. Sempre que eu vou na feira eu repenso caminhos e quase sempre as histórias acabam mudando um pouco de perfil e acho isso super positivo. Vem da convivência com o meio. Eu tenho um site (www.gusmorais.com) desde 2010 e ele concentra quadrinhos que eu faço pensado para o formato do blog (formato pergaminho que você baixa o scroll para fazer a leitura) e, depois de acumular diversas histórias de um ano e meio de produção, cerca de 30 histórias, que resolvi compilar em um trabalho de livro. Era o projeto desde o começo quando comecei a fazer webcomics. Sempre pensei em um trabalho que pudesse funcionar tanto para a web quanto para o papel. O livro está a venda no site e na Gibicon. A intenção é continuar publicando meus quadrinhos na rede e a cada um ano e meio, dois anos, fazer novas compilações de tirinhas, trazendo material novo. Esse é o plano por ora. Estou experimentando ainda (risos).

    E chegamos ao fim do segundo dia da Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba. A atmosfera empolgante composta pelos artistas independentes, interessados em incentivar uma produção nacional, é um dos principais pontos de destaque do evento, com toda a certeza. O espaço de abertura que a Gibicon tem dado para essas pessoas é extremamente valioso, como ficou bem claro nos relatos acima, e deve continuar sendo incentivado incessantemente. Cada vez abrindo mais portas para mais autores de quadrinhos.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

  • GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    GIBICON | Cor e Paixão pelas Histórias em Quadrinhos

    E eis que finalmente se iniciou a tão aguardada Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba, a Gibicon. Em sua primeira edição neste ano – considerando que a edição de 2011 foi chamada de edição 0 -, o evento conta com diversos debates, palestras, oficinas, exposições e sessões de autógrafo simultaneamente até o domingo (dia 28 de outubro).  Muito conteúdo para os fãs das histórias em quadrinhos, sem a menor sombra de dúvidas.

    Chegamos no Paço da Liberdade para conferir um dos debates e pudemos conversar um pouco com Juliano Lamb, um dos membros da organização do evento, que não escondeu seu entusiasmo com a edição deste ano. Evidenciou as grandes melhorias e o aumento exponencial da equipe, organização e dimensão do evento desde o ano passado para cá e ainda é otimista quanto ao futuro do evento. “A Gibicon é um evento de extrema importância para fazer com que quadrinhos sejam acessíveis a um público diversificado e não somente àqueles que estão acostumados com essa cultura. O evento tende a crescer cada vez mais, permitindo uma expansão cultural na cidade e atraindo cada vez mais pessoas”, diz Lamb.

    O entusiasmo de Juliano não era para menos, após seguir adiante para dar uma volta e conhecer a exposição “O Quadrinho Russo”, é facilmente perceptível o interesse de vários tipos de pessoas que se envolvem com essa forma tão peculiar de fazer arte.  Esta exposição é um ponto alto do evento, pois a Rússia passou por um período de estagnação da pesquisa estética das HQs, devido as proibições do governo comunista. Mesmo assim, ao observar obras de Askold Akishin, Egoroff, Lumbricus, Komardin e Surzenzo, visualizamos que por mais que tenha existido um hiato na história das HQs no país, os artistas fizeram e ainda fazem um excelente trabalho.

    Posteriormente a isso, nos dirigimos para o debate “Cor nas HQs”, contando com a presença de Rod Reis, colorista da DC Comics (tendo trabalhado nas revistas do Superman, Supergirl, Teen Titans e atual colorista do Aquaman e do Asa Noturna), Renato Faccini, colorista da BOOM! Studios (G.I. Joe, Farscape e Planeta dos Macacos), Marcio Menyz, coordenador e professor de colorização digital na Impacto Quadrinhos, além da presença do mediador Érico Assis, jornalista e tradutor de histórias em quadrinhos. Uma conversa completamente descontraída e animada se desenrolou por toda a extensão do debate. Cada um dos participantes contou um pouco de sua carreira pessoal, como fizeram para virar coloristas e não se conteram em contar histórias engraçadas da profissão. As histórias em quadrinhos são narrativas e os coloristas, enquanto parte da equipe criativa, ajudam a desenvolver a mesma. O colorista é aquele responsável em provocar uma imersão psicológica do leitor através da cor. Assim como o desenhista, aqueles também dão um toque interpretativo para as artes que conferimos nas HQs. Compararam inclusive com a fotografia e a sensibilidade que deve ter um colorista em observar uma paleta de cores e conseguir criar as melhores composições para os desenhos. Perguntados se gostariam de colorir os desenhos de Rob Liefeld, não exitaram em dizer que não o fariam em tom de gargalhada, com a exceção de Renato que disse que acharia uma experiência interessante. Todos do salão estavam completamente a vontade com os convidados e todos se divertiram bastante.

    Ao fim do debate, percebia-se o contentamento por parte das pessoas que ali estavam quanto ao conteúdo precioso de informações que ali foi divido. Logo após, corremos para o Memorial de Curitiba, com o intuito de verificar como andava o evento por lá. Vários estandes estavam montados, de várias editoras e revistarias. Tínhamos a presença da Itiban Comic Shop (loja especializada em HQ de Curitiba) e da Comix Book Shop (de São Paulo), representando os grandes comerciantes de quadrinhos, mas o destaque maior fica a cargo dos vários artistas independentes que estavam por lá divulgando e vendendo seus trabalhos. Pausa para algumas compras e trocar algumas ideias com os artistas antes da solenidade de abertura oficial da Gibicon no Solar do Barão.

    Isso é o que podemos dizer por ora do primeiro dia do evento. A atmosfera extremamente empolgante do local evidencia que o evento tem tudo para ser um grande sucesso novamente. Os fãs de quadrinhos com certeza vão estar muito agradecidos até o final dessa semana pela presença de um evento de tamanho porte na cidade de Curitiba.

    E o Vortex Cultural continua a jornada pela Gibicon!

    Texto de autoria de Pedro Lobato.