Tag: Danilo Beyruth

  • Resenha | Astronauta: Assimetria

    Resenha | Astronauta: Assimetria

    Ao repaginar o Astronauta desde 2012, sob o selo Graphic MSP da editora Panini, Danilo Beyruth fez o que o personagem mais merecia: dar poder e emoção a combinação perfeita de ficção científica, e fantasia que suas histórias sempre tiveram, ainda no domínio criativo de Mauricio de Sousa. Se em Magnetar e Singularidade o efeito já tinha sido alcançado, em contos extremamente ambiciosos e visualmente delirantes, é em Assimetria que tudo se encaixa. Aqui, a impressão é que um arco do Astronauta se fecha, e outro logo se abre, com futuro e passado não apenas se encontrando, mas criando uma nova dimensão repleta de inesperadas possibilidades.

    Assimetria é o mais próximo que o Astronauta já chegou de participar de uma história estilo “E se…?”. Sempre confuso com suas chances perdidas de morar com o seu grande amor, a doce Rita, o conquistador brasileiro do espaço abdicou tudo pela profissão. Em nome da ciência e nada mais, o cara já ficou perdido nos confins das estrelas e investigou buracos negros com toda a bravura que um homem pode ter. Mas, e se o Astronauta interferiu nas dimensões que existem nas extremidades desse buraco, e sem querer, mudou o rumo de sua vida? Agora, ao sair da Terra para verificar a origem misteriosa de um sinal que vem do polo norte de Saturno, nosso orgulho nacional vai ser dar conta que o sinal é um chamado de uma entidade perigosíssima…

    … condenada a derrubar mundos inteiros (numa clara alusão ao Galactus, da Marvel). Como se isso não fosse o suficiente, o Astronauta descobre que essa força da natureza não apenas já exterminou um segundo planeta Terra, mas obrigou os poucos humanos sobreviventes a escapar para o espaço, incluindo o próprio Astronauta dessa realidade paralela – e destruída. Mais velho e bem menos impulsivo que o herói “original”, sua segunda versão casou-se com a Rita e juntos tiveram uma filha, a super corajosa Isabel – e um robô do Horário, útil nos piores momentos que todos irão enfrentar, juntos. Agora, todos possuem duas opções: impedir essa criatura interestelar de alcançar outras Terras, em especial a nossa, ou ver a história se repetir e tudo parecer diante de seus olhos.

    Beyruth continuar a criar painéis de formas aliado as cores impressionantes de Cris Peter, que mesmo quando não ocupam uma página inteira em Assimetria nas cenas de maior aventura, deixam quaisquer leitores embasbacados nos instantes mais decisivos e poéticos, do livro ilustrado. O autor honra a confiança de Maurício de Sousa a cada nova reviravolta, ao entender e vibrar a personalidade de cada personagem, e ao simbolizar enfim e da maneira mais orgânica e criativa possível que o amor é a força mais poderosa do universo, ainda mais crucial que a potência que existe em equações frias, e códigos tecnológicos que nos fazem cruzar nossa atmosfera rumo ao desconhecido. Assim, os quadrinhos do Brasil tornam-se agraciados com os contos modernos do Astronauta, um ícone dos quadrinhos atualizado (e homenageado) com perfeição às novas gerações.

    Compre: Astronauta – Assimetria.

  • Resenha | Astronauta: Singularidade

    Resenha | Astronauta: Singularidade

    O Astronauta (Pereira), também conhecido apenas como Astro, é um dos personagens mais famosos de Maurício de Souza, junto do Chico Bento, Penadinho e outros ícones dos gibis brasileiros. Por isso, uma releitura da figura azul e laranja que ama explorar o universo e seus limites deveria estar à altura de suas clássicas aventuras, repletas de imaginação, senso de questionamento e desejo de exploração. Tal qual um Indiana Jones intergaláctico, Astro é sozinho para o Brasil o que a destemida turma de Interestelar foi para os Estados Unidos, no filme de Christopher Nolan. Um grande motivo de orgulho e admiração para o seu povo à espera do seu retorno, numa missão fantástica rumo ao centro de um buraco-negro que, desta vez, o eterno apaixonado pela Ritinha do bairro do Limoeiro vai ter que contar com uma ajuda inesperada.

    Ao regressar dos confins do espaço, ferido e doente após os eventos da ótima história Magnetar, Astro é resgatado por uma equipe estrangeira que ajuda o homem a se recuperar, física e psicologicamente (a história nunca revela qual é essa nação). Para agradecer e mostrar diplomacia pela assistência amistosa ao maior astronauta do Brasil, a BRASA (agência secreta com os mesmos fins da NASA americana) decide enviar o seu principal cientista junto de um misterioso agente militar deste país, o Major, e de quebra ainda obrigam o Astronauta a alojar em sua nave uma sensível psiquiatra para analisar de perto as condições psicológicas do nosso herói, ainda cheio de obstinação para dar e vender. Nunca a nave redonda e dourada transportou tanta gente (“Isso está parecendo um ônibus!”), mas tudo é válido em prol da ciência. Tudo, mesmo?

    Singularidade pode enganar quem acha que a história é apenas um conto didático sobre um dos maiores enigmas do universo: buracos-negros, um fenômeno que desafia a física ao sugar tudo ao redor de si, desde meteoros até planetas inteiros, logo após a explosão de uma gigantesca estrela que o forma em uma constante expansão destruidora. Nada escapa de sua fome, e o que parece ser apenas uma exploração científica rapidamente torna-se uma exploração sobre a natureza tão imprevisível do homem, quanto a do próprio universo e o seu caos gigantesco, sempre reordenando o vazio, as estrelas e a vida. Em certo momento, a Doutora e o Astronauta entendem que a missão não será tão fácil assim, uma vez que a ambição e a ignorância humana não têm fim e podem botar tudo a perder, ainda mais quando uma nave (ou seria uma sonda?) alienígena aparece para atrapalhar tudo.

    O roteiro e as ilustrações delirantes de Danilo Beyruth são sob medida para orgulhar não apenas Maurício de Souza, mas o público que sempre seguiu as peripécias do Astronauta e, agora, ganha a oportunidade de se deleitar com uma abordagem mais dramática e espetacular, porque não, deste verdadeiro símbolo da ficção-científica brasileira. A editora Panini continua com um impecável trabalho gráfico em Singularidade, ofertando a história um tratamento estético de cores e texturas digno de se rasgar elogios. Beyruth se supera em comparação a Magnetar, e prova aqui ter um talento especial de revitalizar e expandir o nosso encantamento para personagens já solidificados no imaginário popular do Brasil. O Astronauta aqui segue em boas mãos, caso ele consiga (de fato) escapar de onde nem mesmo a luz consegue fugir.

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  • Resenha | Astronauta: Magnetar (2)

    Resenha | Astronauta: Magnetar (2)

    Dos confins do espaço, um astronauta bem famoso está isolado, sem viva alma para ajudá-lo a voltar para casa – tampouco sem computador, pifado. Parece que o Astronauta, um dos mais icônicos personagens de Mauricio de Sousa, realmente foi longe demais desta vez, em toda a sua fome de conhecimento. Agora, nosso Cabral das estrelas foi aonde nenhum outro homem ousou atingir: a órbita de uma misteriosa estrela que dá nome a este livro, uma Magnetar. Um corpo celeste altamente magnético, mais brilhante que o sol, e mais perigosa que todos os eventos da Terra, reunidos em um único ponto. Seus estudos ainda seguem incompletos, mas se alguém pode coletar informações presenciais dessa estrela para entendê-la melhor, há muitos anos-luz do nosso pequeno planeta azul, é o nosso amigo intergaláctico, criado em 1963 junto das tirinhas de jornal da Turma da Mônica.

    Mas ele não esperava que o universo, indiferente as ambições humanas, sabotasse sua expedição repleta de coragem, motivada (no começo) por pura curiosidade científica. Logo ao pousar num dos asteroides que gravitam um Magnetar, sua nave é danificada e ele fica sem oxigênio, ao usar todo o ar que tinha em seu traje espacial para sobreviver, e conseguir numa quase missão-suicida voltar a sua nave redonda. Sozinho, e sem a tecnologia de sempre para lhe ajudar nessa missão, como nosso amigo sairá dessa? Em 2012, para comemorar os quase 50 anos de personagens como o Astronauta, Bidu, Louco e Chico Bento, entre tantos outros da espetacular mitologia da Turma da Mônica, a mais popular série de quadrinhos de todos os tempos no Brasil, Maurício de Sousa escolheu artistas que pudessem empregar a seus clássicos ícones novos traços, e novas perspectivas, muito além daquela simplicidade que tanto nos habituamos a ler, nos gibis originais.

    Assim, a aventura de Astronauta pode ser algo chocante para os leitores mais nostálgicos, pois os temas aqui narrados com grande dinamismo e paixão são profundos a ponto de nos inspirar, e talvez, criar nossas próprias histórias imaginárias para esse aventureiro das galáxias. Desamparado, o Astronauta combate o isolamento enquanto tenta consertar em vão a sua nave. Um confinamento que começa a mudar o homem enjaulado e cada vez mais paranoico, enquanto o tempo passa e a beleza e o mistério de um Magnetar tornam-se desprezíveis para o animal pensante preso num cockpit, assombrado pelos fantasmas do passado. Pela culpa de estar tão longe da família… Na trama, o quadrinista Danilo Beyruth, responsável pelo premiado Bando de Dois, ao lado da colorista Cris Peter, comanda um exercício criativo ao testar os limites físicos e psicológicos de uma pessoa, lembrando-nos que nunca estamos no controle de nada, mas a escolha de reagir ao caos vem de nós, seja no fundo do mar, ou no mais distante asteroide que temos alcançado desde o final dos anos 60.

    Tal qual o filhote de dinossauro Horácio e sua perspicaz filosofia, o Astronauta é a personificação irreverente do lado científico de Maurício de Sousa, como ele bem nos informa na introdução que abre essa publicação da editora Panini, que destaca a exuberância do traço e a narrativa gráfica de Beyruth, que assim como a trama que reflete a graça das primeiras histórias do Astronauta, mantém e ainda expande a identidade visual do personagem, em painéis inventivos e surreais, abusando perfeitamente das cores e do silêncio, em algumas situações. Como nos tempos das caravelas, os homens das estrelas também se jogam em seus “abismos” de imprevisão em nome do fim da ignorância, arriscando a vida pelo amor ao desbravamento. Eis uma ode hipnótica ao que rege não só a profissão, mas à nobreza similar das criações de Maurício. Magnetar é pura invenção e renovação, homenagem e deslumbramento, inclusive, a quem nunca leu um gibi sequer da Turma da Mônica e encontra, aqui, a oportunidade perfeita em desbravar (ou reverenciar) o seu encanto, sem igual.

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  • Resenha | Bando de Dois

    Resenha | Bando de Dois

    “Quem nasce pro sertão, não fica preso em gaiola.”

    O tempo é generoso com as boas ideias – exceto se caírem nas mãos dos executivos de Hollywood. Em solo tupiniquim, Danilo Beyruth se fez nacional e criou com ótimos personagens e uma boa premissa uma história de retaliação com toques de redenção moral, não sendo superada desde que foi lançada em meados de 2010 em toda a sua intensidade, irreverência e charme indiscutíveis. Bando de Dois nos leva de volta ao cosmos aventuresco do cangaço de mentira, épico e à beira do surreal, em um diálogo livre e prazeroso com os gêneros de ação, e aventura.

    Indo além, eis uma invenção mitológica e sanguinária com cheiro de homenagem lendária aos dramas do terceiro-mundo, aqui deliciosamente exagerados na alegoria atemporal que se torna o sertão, e que de verdade mesmo só tem as tropas militares que caçavam os “fora da lei” com a mesma fúria da PM nos bailes funk de São Paulo e Rio, sem contar a peixeira e o rifle encardidos usados pelo cabra duro na queda que ousava sobreviver dentre a miséria e o fanatismo religioso, encarando a morte sem medo da desova já que danação maior que aquele inferno vivido, eles sabiam, não poderia mais existir.

    Não tem espaço para lágrimas nas vidas secas de Bando de Dois. Uma vez que todos do bando de Tinhoso e Cavêra foram mortos pela tropa do tenente Honório, vale agora só uma coisa: ir atrás das dezoito cabeças decapitadas dos membros do bando, prestes a ser expostas como troféu pelos militares que “livraram o mundo dos cangaceiros”. Cientes de serem os últimos representantes desse vulgo mal errante, e munidos da pouca honra que ainda lhes resta, os dois cachorros sem dono tentam impedir o plano de Honório em uma sequência de emboscadas digna dos clímaxes dos faroestes de Sérgio Leone, culminando o plano na pequena cidade (no meio do nada) de Nazaré.

    Dispostos também a dar paz no descanso espiritual de seus ex-companheiros, os dois partem nessa missão provavelmente suicida com muita astúcia, e sem-vergonhice, mirando em Honório e acertando numa vingança com gosto de justiça, em meio a tantas outras injustiças históricas que tanto marcaram o nordeste brasileiro. É como se o cangaço na verdade fosse tão fértil ao nosso encanto quanto qualquer mundo de imaginação, mas sem dragões e naves espaciais. Queremos ver o ignorante Tinhoso e o ganancioso Cavêra em outras mil aventuras, vivendo e morrendo na conta da bala; um par de cangaceiros que podem estar lado a lado do António das Mortes de Glauber Rocha, ou do Django explosivo de Quentin Tarantino. Eles vivem.

    A simplicidade em preto e branco nos traços expressivos, aqui, prova que nem toda HQ sobrevive em especial de suas cores mirabolantes para saltar aos olhos, e sim de uma ótima história contada da melhor forma possível, com todos os elementos equilibrados, como devem estar. Narrativa é tudo, Danilo entende isso com a naturalidade do vento, e fez de Bando de Dois uma das melhores e mais famosas novelas gráficas do Brasil dos anos 2010. E o que fica, é isso: uma obra completa, bem resolvida entre suas referências criativas de terror e fantasia, e presente em nosso apreço muito tempo após o término da adoração literária que merece.

    Compre: Bando de Dois.

  • Crítica | Motorrad

    Crítica | Motorrad

    Único filme brasileiro presente na seleção de longas para o Festival de Toronto, Motorrad é o novo filme de Vicente Amorim (Corações Sujos), baseado em personagens criados pelo quadrinista Danilo Beyruth (Bando de Dois, Astronauta: MagnetarSão Jorge – Volume I e São Jorge – Volume II). A história tem um cunho de terror, misturando elementos de thriller e slasher movies.

    Na trama, acompanhamos a história do motociclista Hugo (Guilherme Prates), um jovem curioso que parte até um ferro-velho isolado do restante da civilização para tentar roubar peças de moto, Para que possa acompanhar seu irmão em uma aventura sobre duas rodas. Recebido de maneira hostil por Paula (Carla Salle), uma garota bela e misteriosa, que inicialmente o afasta, mas mais tarde o encontra em uma situação bastante estranha. Após esses eventos, Hugo e outros motociclistas adentram em uma trilha misteriosa, até se depararem com um muro recém-fechado. Eles decidem avançar assim mesmo retirando as pedras que compunham a antiga brecha, desse modo começando uma série de desventuras, onde passam a ser perseguidos por um grupo nesse vale isolado.

    A fotografia de Gustavo Habda tem uma prevalência na maior parte dos momentos de cores mais acinzentadas, e isso já no começo confere ao longa um ar de desolação e finitude semelhante ao visto nos filmes de pós-apocalipse como o Mad Max clássico. As primeiras cenas também lembram os filmes B, de William Friedkin, mas tal identidade visual sofre impactos estranhos, fazendo com que até esse bom aspecto seja deixado de lado, em erros crassos de composição e imagem, fazendo perguntar inclusive qual era a função do continuísta nesse caso já que muita coisa passou despercebido, entre elas, essa estranha questão da cor que muda bruscamente, passando do tom cinza já citado para outros mais amarronzados, sem qualquer preparação ou atmosfera para tal mudança.

    Mesmo as mortes mais agressivas soam um pouco artificiais, tampouco há coragem do filme em se assumir como um exemplar trash. A batalha final entre os sobreviventes e os assassinos maus também é mal construída, resultando em um anti clímax terrível. Ao final da visualização há de se perguntar inclusive como pode ser tão fácil decapitar as pessoas, ainda mais com os facões utilizados nesse Motorrad, que não chega a ser risível como filme de horror, mas também não consegue alcançar seu potencial positivo.

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  • Resenha | Astronauta: Magnetar (1)

    Resenha | Astronauta: Magnetar (1)

    Quando, após vinte anos na Editora Globo, o Estúdio Maurício de Sousa migrou para a Panini Comics em 2007, a parceria com a nova editora ampliou o resgate da Turma da Mônica em reedições do início de cada personagem, bem como a publicação de edições especiais e de encadernados com as tiras de jornal. Dois anos após a estreia na casa nova, as celebrações para a carreira cinquentenária de Maurício de Sousa foi o ponto de partida para três edições comemorativas (MSP 50, MSP +50 e MSP Novos 50) reunindo diversos artistas brasileiros compondo histórias em homenagem a Turma da Mônica.

    O selo Graphic MSP surgiu a partir da boa recepção dessas três coletâneas e possibilitou uma abordagem inédita na obra de Maurício de Sousa: a reinterpretação de seus personagens por outros autores em uma história fechada. Escolhido como o primeiro projeto desta nova linha editorial, o personagem Astronauta foi revisto por Danilo Beyruth e Cris Peter.

    Lançado em setembro de 2012, Astronauta – Magnetar causou um forte impacto desde o início. Um novo formato apresentando as clássicas personagens conhecidas pelo público, dessa vez, em uma vertente diferente, mais adulta pelo que sugeririam as divulgações da época. No prefácio que abre a edição, Sousa afirma que criou o Astronauta como forma de competir com outros personagens da época voltados para a ficção científica. Claro que o fez em seu estilo, um garoto carismático que fazia parte de uma organização brasileira dedicada aos astronautas, a BRASA. O conceito infantil, tônica de sua obra desde a criação é deixado de lado nessa história que se aprofunda em bases da ficção científica para gerar contraponto entre o Astronauta, um homem solitário em missões perigosas contra a vastidão do universo, imenso e silencioso.

    Na trama, o personagem realiza uma missão para estudar um magnetar, uma estrela de nêutrons com um forte campo magnético, quando comete um erro que pode lhe custar a vida. Como muitas obras de ficção científica, é o cerne humano que está em discussão, contrapondo a solidão de um náufrago sendo obrigado a lidar com as adversidades do espaço e a angústia interna, lutando pela sobrevivência.

    A simplicidade do roteiro de Beyruth é o destaque da trama, focada com precisão no drama, sem excessos, mas suficiente forte para demonstrar como o projeto das graphic novels produzia uma nova linha narrativa da obra de Maurício. Seu astronauta é um adulto quase amargo, resgatando do passado bonitas lições nostálgicas, como as conversas com o avô, e memórias duras como o amor perdido.

    As composições dos quadros em cada página apresentam a dimensão do espaço contrastando-a com a solidão da personagem e, brevemente, retomando a sua infância, conectando-o com as origens fundamentadas por Maurício na versão clássica. Em um roteiro tradicional que cumpre seu objeto de trazer uma nova ótica após 50 anos de uma mesma versão do personagem. Ainda que pareça cedo afirmar, o selo MSP Graphic Novel é um dos marcos contemporâneos dos quadrinhos brasileiros, sem dúvida.

    Compre: Astronauta – Magnetar

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  • Resenha | São Jorge: A Última Batalha – Volume II

    Resenha | São Jorge: A Última Batalha – Volume II

    São Jorge Vol II 1

    Continuando o argumento começado com Soldado Do Império, Danilo Beyruth prossegue contando a história do guerreiro romano, canonizado anos depois, mostrando uma faceta de Jorge que é mais condizente com o panorama histórico, mas ainda mergulhado em uma aura mítica. Já no começo, no capítulo Edito, é conclamada em Roma a perseguição e proibição da fé cristã, sob pena de torturas e aprisionamento daqueles que a professam.

    Isolado, Jorge acorda em meio a uma condição difícil, sem suprimentos e necessitando de reforços de seus colegas de exército. Ao tentar chegar a alguma área urbana, ele se mune dos restos de proteção e armamento de um centurião e atravessa um rio, para, enfim, combater o réptil magnânimo visto no volume anterior. O lápis de Beyruth mostra cenas ainda mais interessantes graficamente, com uma violência atroz e um combate sangrento, com ângulos dignos dos melhores filmes de ação em tempos medievais, lembrando os bons momentos do clássico de Mel Gibson Coração Valente, e Gladiador de Ridley Scott, o que denota uma conexão sólida com espécimes recentes da cultura pop.

    Apesar de uma estratégia tática ímpar e de um minucioso trato com a lança e a espada, Jorge sofre para derrotar o rival animalesco, figura nada fácil de derrubar, situação agravada com a aproximação de uma menina camponesa que, indefesa, seria presa fácil para a criatura. A manobra para deter seu rival exibe um herói em ótima forma e de inteligência plena, que consegue administrar os seus defeitos pessoais e os pontos fracos de seu oponente, muito mais poderoso à primeira vista.

    As rugas da pele de Jorge representam não só sua experiência e sua idade, mas também o peso de anos de batalhas à frente do exército imperial, que recebe uma ingratidão mórbida por parte de seus antigos mandatários. Sua postura de respeito com seus pseudoinimigos é retribuída de modo baixo, muito por causa de sua postura contestatória, fato sempre visto com maus olhos por parte dos poderosos, e piorada em tempos de tirania. Sua recepção após a longa viagem é de desonra, sendo quase levado à força por parte dos homens que defendeu após a estadia no Egito. Estafado e sentindo-se maculado, Jorge se entrega diretamente ao julgamento do imperador, não tanto por ter sua fé desafiada, mas magoado pelo profundo desrespeito que sofria.

    Em cárcere, Jorge olha para dentro de si e começa a ter visões pseudoespirituais, que, graças à ambiguidade do roteiro, permitem pensar que poderiam ser tanto um elemento espiritual, encarando seus adversários do passado, quanto uma reflexão que toma a forma das criaturas que derrotou, como avatares das dúvidas relativas à sua crença e a teimosia de se manter fiel aos próprios conceitos. Naquele tempo, o cristianismo era a alternativa ética mais plausível até então, invertendo o paradigma de exclusão por parte dos protestantes no ocidente, provando que a justiça pode mudar de lado ao longo da história.

    O paralelo com a tentação de Jesus no Getsêmani, na noite anterior à crucificação, ocorre também com Jorge. Até a cena de julgamento, e a sentença negativa, é comum aos dois heróis da igreja, tendo como defesa o ideal da justiça e da verdade. Jorge entrega o seu corpo como sacrifício, indobrável ante as injustiças praticadas pelo império, medindo sua culpa por ter ceifado tantas vidas e calculando que o momento de perecer era válido. As escoriações e cicatrizes servem como medalhas de muitas batalhas conquistadas e de muitas glórias alcançadas em vida, gerando, através da moça que ele salvou, uma devoção mundial, a começar pela Capadócia, mostrada no epílogo, e uma surpresa impressionante que comprova seus poderes “divinais” ao trazer de volta o dom da fala a antes moça muda. Danilo Beyruth consegue equilibrar bem os momentos históricos com desenhos inspiradíssimos, que ajudam a mitificar ainda mais seu biografado, mesmo sem lançar mão de aspectos fantásticos em sua verossímil história.

  • Resenha | São Jorge: Soldado Do Império – Volume 1

    Resenha | São Jorge: Soldado Do Império – Volume 1

    Sao Jorge - Volume 1

    Misturando mito com pesquisa histórica, Danilo Beyruth reconta as histórias que envolvem o soldado romano Jorge, numa imaginação moderna do conto religioso que envolve sua personagem em uma intricada rede de conspirações. No prólogo, o autor demonstra em poucas páginas o cunho da publicação, pautado em uma violência moderada e causada por bestas somente presentes nas histórias de fantasia.

    O contraste entre as vestimentas pomposas do exército romano e os rostos cansados dos militares de patente baixa serve de alegoria a um império que já foi muito rico e capaz, mas que atravessa uma derrocada, em franco declínio, direcionado a uma ruína econômica e administrativa que já se reflete no campo de batalha e na política. O grafismo presente nas batalhas faz lembrar os livros medievais de Bernard Cornwell, claro, com prudência um pouco maior, mas ainda assim sanguinolenta, facilitada pela ausência de cor. O guerreiro Jorge mostra-se bastante contrariado com o Império, que insiste em armar guerras entre eles próprios, sob a acusação de que o soberano do Egito seria um pária, um traidor da causa romana. Em seu discurso, há uma crítica ao modo injusto como era conduzida a sucursal.

    O panorama realístico causado pelo belo traço de Beyruth, padronizado em todo o cenário político envolvido nos diálogos entre personagens, faz com que o contraste e o choque de realidade sejam ainda maiores nas aparições do dantesco ser reptiliano. As dilacerações causadas pelo monstro são assustadoras e envolvem membros decepados encontrados em lugares ermos. Uma conspiração é executada para retirar o poder de Jorge em razão de sua contestação do modo de governar dos romanos.

    Designado para investigar um sumiço qualquer de animais de camponeses, o tribuno Jorge é enviado sozinho a uma aldeia para checar uma situação estranha de uma suposta criatura – nomeada pelo povo como um dragão – que teria arrasado suas terras e comido seu gado, além de ter destruído inúmeras fazendas. O guerreiro mostra-se incrédulo ante a possibilidade dos ataques terem sido impingidos por esta besta, e, a contragosto – mas servil –, põe-se a investigar o relato estranho dos aldeões com o auxílio de uma moradora, a pessoa que mais perto aproximou-se da criatura.

    Jorge se surpreende ao atravessar um rio e ser atacado por um crocodilo gigante, que abocanha o burro que o auxiliava com uma única mordida. Ao tentar atacar o animal com um lança, falha em todas as investidas, graças à carapaça escamosa do animal. Seu extenso tamanho o assusta de início, mas sem tempo para ficar amedrontado, o bravo guerreiro segue atacando-o, com o final do embate deixado para o segundo volume da publicação. A história pensada por Beyruth continua em A Última Batalha, onde o estratagema que tornou sua figura famosa finalmente ocorre. Este primeiro volume serve para ambientar o público dentro do ethos do personagem, pincelando elementos que o transformariam em figura canônica e venerada por inúmeros fiéis.

  • GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    Sabe-se que a Convenção Internacional de Quadrinhos – Gibicon #01, realizada neste ano, foi uma homenagem ao aniversário de 30 anos da Gibiteca de Curitiba. Agora, já no fim do evento, vale contar um pouco sobre um dos espaços mais incríveis da cidade de Curitiba.

    A primeira coisa a se dizer da Gibiteca de Curitiba é que se trata de um espaço cultural contagiante. Não é apenas um mero acervo de mais de 25 mil títulos dos mais variados gêneros das histórias em quadrinhos. Antes de tudo, a Gibiteca representa um ponto de encontro entre as mais diversas pessoas, as quais estão unidas por um elo que são as HQs. Ilustradores, designers, estudantes, artistas plásticos, professores…isso são apenas alguns tipos de pessoa que podemos encontrar no local. Mais do que um ponto de networking, a Gibiteca exece um papel fundamental oferecendo cursos de desenho em quadrinhos, mangá, além de promover oficinas variadas e exposições. Vários artistas curitibanos se destacaram no mercado nacional e internacional começando na Gibiteca. Só para citar alguns exemplos: José Aguiar e André Caliman.

    Esse espaço foi criado em 1982 e funciona desde então, oferecendo um acervo para consulta gigantesco e que faz brilhar os olhos de todos os fãs de quadrinhos que adentram o local. As primeiras edições de Tico-Tico, Batman e Capitão América (publicações nacionais) são apenas algumas das raridades que podem ser encontradas nas prateleiras.

    É claro que cuidar de tantas obras não é um trabalho fácil. Se você for até o local vai encontrar Maristela Garcia, curadora responsável pela Gibiteca, que diariamente se dedica ao cuidado de todo aquele acervo. Menos de 10 minutos de conversa com a mesma é tempo suficiente para ficar contagiado com o amor e carinho que sente por cada centímetro das estantes da Gibiteca. Os frequentadores (e esse que vos fala se inclui neste ponto) também corroboram esta ideia, pois mesmo que só estejam de passagem, disputam espaço para conversar um pouco com Maristela, a qual é dotada de uma personalidade acolhedora e amável. Maristela representa bem o espírito da Gibiteca.

    O Vortex Cultural conseguiu roubar a Maristela por alguns minutos para falar um pouco sobre suas opiniões e sobre a Gibiteca:

    Vortex Cultural: Maristela, o que você está achando da Gibicon?

    Maristela Garcia: A Gibicon #01 é uma homenagem para os 30 anos da gibiteca. Eu, pessoalmente, achei isso tudo muito fantástico! Eu estou adorando isso! Estava falando hoje para o Fabrizio Andriani (um dos coordenadores do evento) que eu odiei essa Gibicon…porque foi muito curta! (risos) Tem que ser maior! A Gibicon do ano passado teve um público fantástico. Em três dias conseguir reunir 10 mil pessoas foi surpreendente. Nós também não tínhamos tantas exposições, – apesar de mesmo assim serem excelentes-, mas a desse ano está ainda mais fantástica. As exposições estão impecáveis, a programação está redondinha e tudo está indo nos seus conformes.  Tá muito legal. É uma pena só que acaba rápido!

    VC: O que você espera da próxima Gibicon?

    MG: A partir desse ano a Gibicon será bienal. A próxima será só em 2014. Se o mundo não acabar esse ano, faremos a próxima (risos). Eu espero que ela seja maior!

    VC: Agora, falando da gibiteca em si: você acha que histórias em quadrinhos tem um espaço significativo nas bibliotecas públicas? Acha que existe acesso a esse tipo de conteúdo?

    MG: Sim. Cada vez mais isso cresce. Agora está começando a ter espaço também nas escolas. Hoje, por lei federal, quadrinho é uma linguagem que deve ser estudada. Para você ver, nós recebemos toda a rede de ensino de Curitiba no evento. Só ontem tivemos um total de 120 crianças visitando a exposição. Tivemos até que ir revezando as crianças nos blocos do local pra poder dar conta (risos).  O acesso tende a melhorar sempre.

    VC: Qual que é, para você,  a maior importância de existir uma gibiteca no espaço e contexto cultural de Curitiba?

    MG: Antes de mais nada, a gibiteca é um marco. A gibiteca é uma loucura que deu certo. Esses 30 anos por si só representam um marco maravilhoso. Ela é pioneira não só como centro de leitura, mas como centro de formação. Por causa dela, há muitas pessoas que hoje estão nas áreas de design, artes gráficas, ilustração e até mesmo quadrinhos. Alguns, inclusive, estão desenhando até para a Europa.

    Fica claro que a Gibiteca é um espaço muito importante para o contexto de Curitiba e do Brasil como um todo. O que se percebe a partir desse ano, analisando todos os dias em que estivemos presentes na Gibicon #01, é que o evento em si também está tomando uma proporção de grande importância no contexto nacional. Amantes de quadrinhos se reúnem para encontrar com alguns de seus ídolos, conversar sobre HQs e, ainda mais importante, conhecer uma série de novos artistas que nascem em nosso país. A Gibicon #01 pode ter acabado, mas os sentimentos que ela trouxe e as pessoas que conhecemos vão durar para sempre.

    Agradecimentos especiais a José Aguiar, Fabrizio Andriani, Maristela Garcia, Marialda Pereira, Andre Caliman, Leonardo Melo, Daniel Esteves, Danilo Beyruth, Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis, o grupo Lobo Limão (Yoshi Itice, Marcel Keiichi, Kenji Saito e Gouji Saito), Gustavo Ravaglio, Gus Morais, e todas as pessoas que fizeram esse evento acontecer e ficar marcado na história da nossa cidade e do país.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

    Crédito das Imagens: Bruno Tomasoni

  • GIBICON | Astronautas e criação de HQ

    GIBICON | Astronautas e criação de HQ

    O sábado chegou e o dia prometia ser o mais lotado de todo o evento. Toda a correria e animação dos primeiros dias não seria nada frente ao clímax do evento. As previsões estavam certas.

    O Vortex Cultural foi conferir de perto a palestra de criação de histórias em quadrinhos com ninguém menos do que Danilo Beyruth, quadrinista brasileiro responsável pela premiada HQ Bando de Dois e Necronauta. Como era de se esperar, tendo em vista todas as outras pessoas que vimos no evento, Danilo foi extremamente simpático e deixou todas as pessoas que estavam presentes na sala lotada bastante à vontade.

    Em sua palestra, Danilo contou um pouco da forma como ele enxerga as histórias em quadrinhos e qual a lógica básica para a criação de uma. “A história em quadrinhos é uma forma de linguagem, assim como o cinema e a literatura. Linguagem nada mais é do que comunicação”, disse Beyruth. Assim como havíamos ouvido de Daniel Esteves no dia anterior, o público também pode ouvir de Danilo que através da HQ se transmite uma história. Explicou várias partes técnicas do processo criativo e deu várias dicas para as pessoas que se interessam em criar HQs. Uma delas, muito importante, e que vale dizer aqui é “sempre leve caderno e caneta com você, para todos os lugares onde você vá. Assim você sempre anotará suas boas ideias”.

    Mais perto do final da palestra, Danilo teve a oportunidade de falar um pouco de seu mais novo trabalho: Astronauta – Magnetar, álbum em HQ cujo personagem principal é ninguém menos do que o velho e conhecido Astronauta da Turma da Mônica (Maurício de Souza), porém participando de uma história com um viés um pouco diferente daquele infantil e humorístico que estamos acostumados com o personagem. Danilo explicou a experiência com o Astronauta, de iniciar um processo criativo com um personagem de outra pessoa, tentar entender o mesmo e partir para uma narrativa com o mesmo sendo o motor principal que move a história. “A primeira coisa foi descobrir que o Astronauta não era um mero astronauta, mas um navegador. Ele está fadado a navegar pelo espaço, enfrentando a solidão e a saudade. Tive que me aproximar de exemplos do tipo, como Amyr Klink, para assim poder me aproximar ao personagem”.

    Após a brilhante palestra de Danilo Beyruth, fomos novamente interagir com o resto do público e outros autores de quadrinhos. Uma das principais novidades do dia mais cheio de todo o evento com certeza foram os cosplayers. No local encontramos Stormtroopers, Mulher Gavião, Canário Negro, Arlequina e até mesmo um Freddie Krueger.

    Após enfrentarmos uma hora de fila para conseguir autógrafos com alguns expoentes dos quadrinhos como Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis e Carlos Magno, encontramos com mais um artista independente que estava lançando um trabalho no evento. Dessa vez, conversamos com Gustavo Ravaglio, um dos autores da primeira edição da HQ Capa Preta, juntamente com seu colega Her Ming Hsu Yen. A primeira impressão que se tem do material é a de que ela não é feita por artistas independentes, pois chama atenção e esbanja beleza. Gustavo ofereceu um pouco do seu tempo para falar um pouco conosco:

    Vortex Cultural: Gustavo, você poderia nos falar um pouco de como está sendo a experiência da Gibicon para você e seu trabalho?

    Gustavo Ravaglio: Eu tenho o meu estúdio e trabalho com quadrinhos, animação e ilustração. Aqui na Gibicon eu estou lançando a minha primeira HQ, o Capa Preta n. 01, então basicamente tem sido uma experiência nova. Nós estamos com uma tiragem boa e está saindo bastante. O público tem gostado bastante e elogiado principalmente nosso acabamento gráfico da revista e tudo o mais. Acaba que dá pra experimentar diversas coisas e vemos o que cai bem para o público e o que não cai. Em todos os sentidos a Gibicon está sendo muito boa para mim.

    VC: De onde surgiu a vontade de fazer quadrinhos?

    GR: Pode parecer puxação de saco, mas acredite, não é.  Na Gibicon passada, quando eu vim no evento, decidi que no ano seguinte eu lançaria um quadrinho e hoje estou aqui. A Gibicon n. 0 significou isso para mim, minha motivação. Foi imediato. O Capa preta é um livro de quadrinhos independentes que pretende ser um novo meio pra divulgar novos artistas, novas histórias e sempre com caráter experimental. O Capa Preta tenta cumprir essa função e por isso pretendemos aumentar o número de artistas conosco, além de continuar com nosso trabalho.

    Chegamos finalmente ao fim de mais um dia agitado no evento, que tem se mostrado um verdadeiro sucesso com o público e com os próprios artistas que mostram seus novos trabalhos. O domingo nem passou e o evento já começa a deixar resquícios de que vai fazer falta.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.