Tag: Yoshi Itice

  • Resenha | Eventos Semiapocalípticos: Gilmar

    Resenha | Eventos Semiapocalípticos: Gilmar

    Publicação de Yoshi Itice, financiada pelo Catarse, Eventos Semiapocalípticos: Gilmar explora uma realidade mundana diferente da atualidade, que leva em conta um cenário semelhante ao subgênero de pós-apocalipse, embora não seja exatamente um produto de ficção científica, reunindo em si elementos de histórias consagradas, para contar algo completamente diferente. Gilmar é um peixe, que veste seu uniforme e vai trabalhar como caixa de um mercado, dia após dia… mas esse mercado deixou de funcionar. Sua rotina é alterado após se deparar com a dupla de humanos, Robertinho e Gordo.

    Robertinho e Gordo entram em um mercado, para saquear e se surpreendem, em meio a uma conversa nonsense estabelecida entre eles sobre o que é necessário levar para a sua sobrevivência, que o humanoide com cabeça de peixe os espera. Roberto o vê como um sujeito triste e decide leva-lo. Convencido após bastante insistência, Gordon leva o peixe consigo. Robertinho é um personagem engraçado e hiper otimista, e a prova viva de que um homem não precisa ser fruto do seu meio, e pode guardar características próprias mesmo que o cenário não ajude. O personagem é tão munido dessa ingenuidade que ele mete a si e a alguns amigos em enrascadas desnecessárias, como quando entram em águas impróprias para banho, achando que era uma fonte termal.

    Esta edição leva em consideração o volume anterior, Eventos Semiapocalipticos: Eduardo e Afonso, mas não é preciso lê-lo para se aventurar em Gilmar. Há diferenças cabais entre eles, a começar pelas cores, muito mais vivas aqui, fato que faz até os momentos mais comuns, soarem maiores e mais catárticos. A história possui um espírito parecido com um road movie, onde Itiche tem a possibilidade de explorar mais paisagens, e assim seus belos desenhos podem ser exibidos. Mesmo quase acabando, o mundo segue um lugar bonito, talvez não ideal para um humano moderno habitar, mas o planeta segue seu rumo muito bem sem superpopulação.

    O modo como o quadrinho lida com discussões que podem soar preconceituosas é baseado na galhofa e deboche, e o humor acerta demais. Há também um largo uso de piadas que brincam com o constrangimento alheio, sobretudo com Robertinho que pensa pouco ou quase nada antes de agir. Os momentos finais são sensíveis e carregados de singeleza e referências. O confronto entre Elfas e Anões remete a velha rivalidade típica dos RPGs de mesa e da literatura J.R.R. Tolkien, que por sua vez, é usada aqui para exemplificar um pouco das rixas entre cozinheiros. As brigas e disputas nesse universo são desimportantes, e a visão lúdica que o trio de amigos tem pode ser uma boa alternativa à vida predatória que os homens normalmente tinham antes do que ocorreu com esse mundo quase apocalíptico, e o modo como Itiche escolhe falar dessas coisas impressiona pelo equilíbrio entre o humor e o sentimentalismo.

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  • Resenha | Eventos Semiapocalípticos: Eduardo e Afonso

    Resenha | Eventos Semiapocalípticos: Eduardo e Afonso

    Eventos Semiapocalípticos: Eduardo e Afonso é uma obra recente de Yoshi Itice, autor de quadrinhos desde 2010 e fundador do site/estúdio LoboLimão, no qual trabalhou até 2014, para pouco tempo depois se envolver com trabalhos em outros dois projetos de quadrinhos: Manjericão e La Gougoutte – sendo o primeiro, seu estúdio próprio, e o último, um selo de quadrinhos que mantém ao lado de Bianca Pinheiro, Alexandre Lourenço e Greg Stella. Itice foi responsável pelo quadrinho independente Batsuman: Ano Um (e dois também), financiado coletivamente através do Catarse, em 2016. Eduardo e Afonso surge da mesma forma, e a ideia da dupla de personagens que serve de subtítulo para a publicação aconteceu de forma simples, quando o autor voltava do trabalho, evoluindo pouco a pouco todo o conceito da trama com o mundo devastado, ou melhor, semi-devastado.

    Eduardo anda por um cenário desolado, arrastando com uma corda amarrada em sua cintura um objeto estranho, parecido com uma máquina de lavar. É na verdade Afonso, uma secadora elétrica. A referência ao mangá/anime Fullmetal Alchemist, aparentemente, vai além do título do quadrinho. As conversas entre os dois são engraçadas e repletas de tiradas com humor ácido, simples e direto. Eduardo é um sujeito amoroso e paciente, enquanto Afonso é chato, boca suja e um tanto niilista. A química entre os dois funciona, e é curiosa por isso, pois são pessoas tão diferentes entre si. Até quando ha o acréscimo de um terceiro elemento, a jovem Gabriela, a interação dos personagens muda, com Afonso se tornando ainda mais temperamental, orgulhoso e ciumento.

    O traço de Itice é simples, remetendo as tiras de humor que saiam nos jornais, na seção infantil das antigas versões do Globinho impresso, e esse estilo de desenho cabe muito bem com o roteiro proposto. A forma como o lúdico e o caráter irônico se misturam na trama impressiona, dado que há espaço para o desenvolvimento de ambos os aspectos. Além disso, os personagens compensam com humor o fato das poucas páginas desse primeiro volume não ter muito tempo para desenvolver todas as suas características.

    O final soa agridoce, relatando um pouco da origem de Afonso e de sua transformação em uma secadora, abrindo possibilidades de diversas interpretações e teorias. O desfecho desse primeiro volume tem uma certa melancolia, mas o autor equilibra esse ponto no bom humor da obra e ainda desenvolve um herói rico em bondade e perseverança. Eventos Semiapocalípticos: Eduardo e Afonso termina com um vislumbre de um futuro sem soluções fáceis, mas ainda com uma ponta de solidariedade e otimismo.

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  • Resenha | Batsuman: Ano Um (e dois também)

    Resenha | Batsuman: Ano Um (e dois também)

    Paródias de super-heróis não são uma novidade, e vemos aos montes por aí. Mas o que faz Batsuman: Ano Um (e dois também) se destacar dentre as demais é a forma como foi concebida e finalizada pelo seu autor Thiago Yoshiharu Itice, no estúdio Lobo Limão. Originalmente, Batsuman era uma piada nas aulas de japonês do então adolescente autor, que rabiscava tirinhas no seu caderno ao fazer um trocadilho com o nome do Cavaleiro das Trevas e a palavra nipônica para “algo que está errado”. Desde então, Yoshi Itice não parou de desenhar essa brincadeira que acabou se tornando uma série de web-tirinhas em 2010, no site do estúdio, e quatro anos depois ganhou uma edição impressa através de financiamento coletivo pelo Catarse. Mas isso nunca seria possível se não fosse a qualidade do material e a genialidade por trás de piadas aparentemente simples, que brincam com todo o universo do Batman sem poupar ninguém.

    Batsuman é nada mais nada menos que “um Batman errado”. Ele não dá trégua para o crime e espanca suspeitos pelas ruas – mesmo sem prova alguma – o que trás mais confusões do que ajuda para a polícia. Ao mesmo tempo, se der na telha, o vigilante mascarado abandona qualquer atividade para curtir uma viagem com a nova estagiária ou apenas ficar sentado vendo televisão. Sim, ele é instável, e essa volatilidade é justamente o que o torna interessante. Se num momento é o espancador de possíveis vilões, no outro resolve se tornar um herói “politicamente correto”, no outro deixa seu parceiro Robin à beira da morte por pura preguiça. Nada é certeza na série, nem mesmo se o herói permanecerá vivo até o fim!

    A galeria de coadjuvantes do Batman se faz presente sem que os personagens tenham seus nomes alterados (como o do protagonista). Vemos o comissário Gordon, sua filha, o Coringa, o Charada, o fiel mordomo James (ou melhor, Alfred, em uma sacada hilária) e até o Bat-cão. Nada é sagrado e tudo pode virar motivo de chacota nesse universo, incluindo o título da revista, que parodia uma das mais influentes HQs de todos os tempos. O material extra conta com os nomes de todos os apoiadores da obra, esboços, um histórico da criação do personagem e arte dos pôsteres produzidos para a campanha de financiamento, que satirizam os mais clássicos momentos do Cruzado Encapuzado.

    Batsuman: Ano Um (e dois também) é uma HQ divertida e despretensiosa, que garante boas risadas e instiga a curiosidade de saber um pouco mais sobre o universo desse heróis às avessas.

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  • GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    GIBICON | A Gibiteca e o paraíso das HQs

    Sabe-se que a Convenção Internacional de Quadrinhos – Gibicon #01, realizada neste ano, foi uma homenagem ao aniversário de 30 anos da Gibiteca de Curitiba. Agora, já no fim do evento, vale contar um pouco sobre um dos espaços mais incríveis da cidade de Curitiba.

    A primeira coisa a se dizer da Gibiteca de Curitiba é que se trata de um espaço cultural contagiante. Não é apenas um mero acervo de mais de 25 mil títulos dos mais variados gêneros das histórias em quadrinhos. Antes de tudo, a Gibiteca representa um ponto de encontro entre as mais diversas pessoas, as quais estão unidas por um elo que são as HQs. Ilustradores, designers, estudantes, artistas plásticos, professores…isso são apenas alguns tipos de pessoa que podemos encontrar no local. Mais do que um ponto de networking, a Gibiteca exece um papel fundamental oferecendo cursos de desenho em quadrinhos, mangá, além de promover oficinas variadas e exposições. Vários artistas curitibanos se destacaram no mercado nacional e internacional começando na Gibiteca. Só para citar alguns exemplos: José Aguiar e André Caliman.

    Esse espaço foi criado em 1982 e funciona desde então, oferecendo um acervo para consulta gigantesco e que faz brilhar os olhos de todos os fãs de quadrinhos que adentram o local. As primeiras edições de Tico-Tico, Batman e Capitão América (publicações nacionais) são apenas algumas das raridades que podem ser encontradas nas prateleiras.

    É claro que cuidar de tantas obras não é um trabalho fácil. Se você for até o local vai encontrar Maristela Garcia, curadora responsável pela Gibiteca, que diariamente se dedica ao cuidado de todo aquele acervo. Menos de 10 minutos de conversa com a mesma é tempo suficiente para ficar contagiado com o amor e carinho que sente por cada centímetro das estantes da Gibiteca. Os frequentadores (e esse que vos fala se inclui neste ponto) também corroboram esta ideia, pois mesmo que só estejam de passagem, disputam espaço para conversar um pouco com Maristela, a qual é dotada de uma personalidade acolhedora e amável. Maristela representa bem o espírito da Gibiteca.

    O Vortex Cultural conseguiu roubar a Maristela por alguns minutos para falar um pouco sobre suas opiniões e sobre a Gibiteca:

    Vortex Cultural: Maristela, o que você está achando da Gibicon?

    Maristela Garcia: A Gibicon #01 é uma homenagem para os 30 anos da gibiteca. Eu, pessoalmente, achei isso tudo muito fantástico! Eu estou adorando isso! Estava falando hoje para o Fabrizio Andriani (um dos coordenadores do evento) que eu odiei essa Gibicon…porque foi muito curta! (risos) Tem que ser maior! A Gibicon do ano passado teve um público fantástico. Em três dias conseguir reunir 10 mil pessoas foi surpreendente. Nós também não tínhamos tantas exposições, – apesar de mesmo assim serem excelentes-, mas a desse ano está ainda mais fantástica. As exposições estão impecáveis, a programação está redondinha e tudo está indo nos seus conformes.  Tá muito legal. É uma pena só que acaba rápido!

    VC: O que você espera da próxima Gibicon?

    MG: A partir desse ano a Gibicon será bienal. A próxima será só em 2014. Se o mundo não acabar esse ano, faremos a próxima (risos). Eu espero que ela seja maior!

    VC: Agora, falando da gibiteca em si: você acha que histórias em quadrinhos tem um espaço significativo nas bibliotecas públicas? Acha que existe acesso a esse tipo de conteúdo?

    MG: Sim. Cada vez mais isso cresce. Agora está começando a ter espaço também nas escolas. Hoje, por lei federal, quadrinho é uma linguagem que deve ser estudada. Para você ver, nós recebemos toda a rede de ensino de Curitiba no evento. Só ontem tivemos um total de 120 crianças visitando a exposição. Tivemos até que ir revezando as crianças nos blocos do local pra poder dar conta (risos).  O acesso tende a melhorar sempre.

    VC: Qual que é, para você,  a maior importância de existir uma gibiteca no espaço e contexto cultural de Curitiba?

    MG: Antes de mais nada, a gibiteca é um marco. A gibiteca é uma loucura que deu certo. Esses 30 anos por si só representam um marco maravilhoso. Ela é pioneira não só como centro de leitura, mas como centro de formação. Por causa dela, há muitas pessoas que hoje estão nas áreas de design, artes gráficas, ilustração e até mesmo quadrinhos. Alguns, inclusive, estão desenhando até para a Europa.

    Fica claro que a Gibiteca é um espaço muito importante para o contexto de Curitiba e do Brasil como um todo. O que se percebe a partir desse ano, analisando todos os dias em que estivemos presentes na Gibicon #01, é que o evento em si também está tomando uma proporção de grande importância no contexto nacional. Amantes de quadrinhos se reúnem para encontrar com alguns de seus ídolos, conversar sobre HQs e, ainda mais importante, conhecer uma série de novos artistas que nascem em nosso país. A Gibicon #01 pode ter acabado, mas os sentimentos que ela trouxe e as pessoas que conhecemos vão durar para sempre.

    Agradecimentos especiais a José Aguiar, Fabrizio Andriani, Maristela Garcia, Marialda Pereira, Andre Caliman, Leonardo Melo, Daniel Esteves, Danilo Beyruth, Renato Guedes, Joe Bennet, Rod Reis, o grupo Lobo Limão (Yoshi Itice, Marcel Keiichi, Kenji Saito e Gouji Saito), Gustavo Ravaglio, Gus Morais, e todas as pessoas que fizeram esse evento acontecer e ficar marcado na história da nossa cidade e do país.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.

    Crédito das Imagens: Bruno Tomasoni

  • GIBICON | Roteiros e Quadrinhos independentes

    GIBICON | Roteiros e Quadrinhos independentes

    O segundo dia da Gibicon começou cedo para o Vortex Cultural. Fomos conferir uma das oficinas do evento. Se o primeiro dia foi o dia dos coloristas, o segundo seria o dia dos roteiristas, um dos principais autores da equipe criativa de uma história em quadrinhos, portanto, escolhemos assistir à oficina de Roteiro ministrada por Daniel Esteves, ganhador de diversos prêmios HQMIX como roteirista, pela sua série Nanquim Descartável, além da HQ em que é co-autor: O Louco, a Caixa e o Homem.

    Em duas horas de oficina, que foi realizada na Aliança Francesa de Curitiba, o público foi levado a compreender o processo de um roteiro. Esteves evidenciou que um roteirista, antes de tudo, deve ser um contador de histórias. Ele é um dos principais responsáveis por criar uma ligação emotiva com o leitor (criando um elo sentimental) e, portanto, encoraja o processo criativo de um roteiro que seja natural, em detrimento da artificialidade das histórias megalomaníacas (principalmente ao considerar os iniciantes). Um roteirista, antes de mais nada, é leitor e também um vivente. Essas foram, resumidamente, apenas alguns dos pontos que Daniel compartilhou com o público presente e não escondeu que leva uma carreira ao mesmo tempo “caótica”, mas divertida.

    Novamente, corremos de volta para o Memorial de Curitiba, ponto de encontro principal da convenção de todas as pessoas e artistas. José Aguiar, um dos idealizadores da Gibicon e curador do evento, esbanjando simpatia e animação, veio nos contar mais um pouco sobre o evento. Perguntado sobre as mudanças que ocorreram da edição zero (2011) para a desse ano, Aguiar respondeu:

    José Aguiar: A Gibicon deu uma mudada para poder crescer. Quando fizemos a edição de número 0, que foi experimental, a equipe era muito diminuta e o orçamento também era menor (apesar de ainda ser  limitado, melhorou), mas aprendemos muito com aquele. Aprendemos a nos organizar melhor, principalmente.  Esse ano eu saí da coordenação do evento e fui para a curadoria, pois eu tenho mais capacidade de estar mais presente e render melhor. Tudo isso foi pensado com o intuito de oferecer um evento melhor. Acho que isso tudo foi positivo tanto para o evento quanto para mim. Continuo dando o sangue e acreditando no projeto igualmente. A Gibicon é um evento sem fins lucrativos e o que estamos fazendo é exatamente porque acreditamos em investir no mercado brasileiro de quadrinhos. É claro que eu ganho com isso, pois também sou autor de quadrinhos. Se eu fomento novos leitores eu estou fazendo bem não só para mim, mas para todos os autores brasileiros em especial. Esse é um dos grandes objetivos da Gibicon: mostrar para a mídia e o grande público que quadrinho brasileiro tem espaço. Estamos aproveitando os 30 anos da Gibiteca de Curitiba como mote pra trazer exposições, autores internacionais e nacionais de renome e os que ainda são desconhecidos no Brasil, mas que são muito bons. Estamos com uma lista grande de lançamentos esse ano. Até eu estou lançando quadrinhos independente (risos). A intenção é só melhorar.

    O crescimento descrito por José Aguiar do evento é facilmente visualizado ao correr os olhos por todos os espaços da convenção, não apenas no Memorial de Curitiba. Esse em especial, onde se localizavam os estandes, era o local em que encontramos vários artistas independentes. Tentamos conversar com a maior quantidade de artistas possível e todos muito animados com toda a atmosfera da Gibicon, não se importaram em trocar uma ideia conosco e falar um pouco do trabalho deles.

    Perguntados sobre o que estavam achando do evento como um todo e o que mais agradava a eles, pudemos ver relatos de entusiasmo semelhantes. André Caliman (um dos responsáveis pelas HQs Quadrinhópole, Avenida e desenhista da HQ ELF) disse: “estou gostando bastante dessa área de estandes. Ano passado tinha, mas era pouco e mais informal. Não tinha tanta coisa independente, mas esse ano tem vários. A Gibicon tem servido com um propósito relevante para nós autores independentes. Não apenas curitibanos, mas tem muita gente de São Paulo e Rio de Janeiro mostrando seus trabalhos, por exemplo. Pode-se ver claramente que a Gibicon tem ganhado uma visualização nacional, pois não só nós costumamos ir para São Paulo e Belo Horizonte para mostrar nossos trabalhos, como eles estão vindo para cá”.

    Falando um pouco da HQ Revolta, que estava lançando no evento, Caliman explica que ele está distribuindo o primeiro capítulo da referida HQ no evento para os interessados, e a mesma terá um capítulo novo sendo publicado todos os meses no site oficial (www.revoltahq.blogspot.com). Revolta conta a história de um grupo de amigos que estão revoltados com o que acontece com o cenário político nacional. Caliman conta “até achei legal lançar agora em outubro, tendo em vista as eleições nesse final de semana. É um quadrinho que faz uma série de críticas, mas não quero contar o fato principal da história para não estragar a surpresa dos leitores (risos)”.

    Yoshi Itice e Marcel Keiichi, membros do grupo Lobo Limão e dois dos três autores do lançamento independente Last RPG Fantasy (o terceiro autor é Kendy Saito), reiteraram as impressões da evolução do evento: “Ano passado não tinha tantos estandes. Era um evento mais focado em palestras e oficinas, tanto que era o que mais eu fui ver, porém esse ano é diferente e estamos aqui participando mais ativamente”.

    Perguntamos sobre o lançamento deles – o qual foi lançado oficialmente na Gibicon #01 e está a venda não apenas no evento como também no site oficial www.lobolimao.com.br)-  e como foi a inspiração para estarem ali naquele dia lançando um trabalho próprio:

    Marcel Keiichi: Tudo começou quando fomos na FIQ (Feira Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte/MG) do ano passado. Lá levamos nossos primeiros fanzines e vimos que tinha muitas pessoas fazendo livros bonitos e completos. Foi um tapa na nossa cara…

    Yoshi Itice: A gente tem que correr atrás, foi o que dissemos para nós mesmos naquele momento.

    MK: Temos que fazer uma coisa nessa qualidade também, foi o que pensamos! Pensamos em produzir um livro legal e estabelecemos como meta a produção da nossa HQ “Last RPG Fantasy” esse ano na Gibicon em Curitiba.

    YI: O Last RPG Fantasy é um livro jogo interativo.

    Vortex Cultural: Tipo aqueles do Steve Jackson que jogávamos na nossa infância? (risos)

    YI: Exatamente! Você vai escolhendo os rumos do herói e tem vários finais. Seu personagem pode morrer, vencer, ou não. A diferença é que ao invés do texto corrido como era com os livros do Steve Jackson, fazemos isso com a linguagem dos quadrinhos.

    Tivemos a oportunidade de conversar também com  Leonardo Melo,  roteirista de quadrinhos, cinema e um dos responsáveis pela revista Quadrinhópole. Queríamos saber a opinião do autor sobre o evento como um todo e sobre seu trabalho e fomos bem atendidos:

    Leonardo Melo: Sou roteirista, edito a Quadrinhópole desde 2006. Ao meu ver, a Gibicon é um espaço mega importante para os artistas independentes com o intuito de abrir espaço para mostrarmos nosso trabalho. No caso aqui, hoje, estou lançando o encadernado do Undeadman, que é meu personagem. Não apenas eu, mas todos nós precisamos desse espaço, que é imprescindível para nossa divulgação.

    Vortex Cultural: E o que você tem a dizer sobre a recepção do público no evento?

    LM: A recepção do público está bacana. Ontem, no primeiro dia, esperávamos um movimento menor e mesmo assim rendeu várias pessoas. Ontem choveu bastante ainda e curitibano não é muito chegado em sair de casa pra ir em evento (risos), mas mesmo assim teve bastante gente e a expectativa pro final da semana é que venha mais ainda.

    Leonardo está lançando o encadernado de seu personagem, intitulado Undeadman, que é um personagem de uma história de aventura. Um imortal, cuja história se inicia na Idade Média. “A ideia principal é que ele vá passando por momentos históricos da humanidade. Esse primeiro volume reúne todas as histórias da Idade Média, o próximo será da idade moderna e assim por diante”, conta Leonardo.

    Por fim, antes de nos aventurarmos nas filas quilométricas de autógrafos com grandes nomes das HQs como Renato Guedes, Carlos Magno, Rod ReisJoe Bennet, encontramos com o paulistano Gus Morais, mais um artista independente que estava lançando em Curitiba sua coletânea de tirinhas intitulada Privilégios. Gus esbanjou carisma e animação e prestou um pouco da sua experiência pessoal

    Gus Morais: É a primeira vez que venho visitar a Gibicon. A parte mais interessante, para mim, é que aqui é um ponto de encontro. Você observa o que os outros artistas estão produzindo e os modelos que eles estão seguindo. Pra quem produz para a internet como eu, é um ponto onde a gente cruza com as pessoas que estão experimentando coisas parecidas. Tem o espaço da venda, de encontrar novos leitores e isso é muito legal, mas acho que o principal (pra mim, sempre que vou em alguma feira do tipo) é o meu ponto de mutação que acontece na feira. Vejo o que os outros estão fazendo, outros trabalhos e o meu trabalho acaba mudando qualitativamente após o evento. Você tem uma proposta com uma história de um jeito específico, daí você vê uma pessoa com o trabalho diferente e isso acaba influenciando você. Tu acha aquele trabalho diferente, legal e tenta se arriscar em caminhos diferentes também. A HQ é um processo. Não é estática. Mesmo o Mauricio de Souza, que tem uma linha bem definida, ainda está experimentando maneiras diferentes de contar suas histórias. Sempre que eu vou na feira eu repenso caminhos e quase sempre as histórias acabam mudando um pouco de perfil e acho isso super positivo. Vem da convivência com o meio. Eu tenho um site (www.gusmorais.com) desde 2010 e ele concentra quadrinhos que eu faço pensado para o formato do blog (formato pergaminho que você baixa o scroll para fazer a leitura) e, depois de acumular diversas histórias de um ano e meio de produção, cerca de 30 histórias, que resolvi compilar em um trabalho de livro. Era o projeto desde o começo quando comecei a fazer webcomics. Sempre pensei em um trabalho que pudesse funcionar tanto para a web quanto para o papel. O livro está a venda no site e na Gibicon. A intenção é continuar publicando meus quadrinhos na rede e a cada um ano e meio, dois anos, fazer novas compilações de tirinhas, trazendo material novo. Esse é o plano por ora. Estou experimentando ainda (risos).

    E chegamos ao fim do segundo dia da Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba. A atmosfera empolgante composta pelos artistas independentes, interessados em incentivar uma produção nacional, é um dos principais pontos de destaque do evento, com toda a certeza. O espaço de abertura que a Gibicon tem dado para essas pessoas é extremamente valioso, como ficou bem claro nos relatos acima, e deve continuar sendo incentivado incessantemente. Cada vez abrindo mais portas para mais autores de quadrinhos.

    Texto de  autoria Pedro Lobato.