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  • Resenha | Eventos Semiapocalípticos: Gilmar

    Resenha | Eventos Semiapocalípticos: Gilmar

    Publicação de Yoshi Itice, financiada pelo Catarse, Eventos Semiapocalípticos: Gilmar explora uma realidade mundana diferente da atualidade, que leva em conta um cenário semelhante ao subgênero de pós-apocalipse, embora não seja exatamente um produto de ficção científica, reunindo em si elementos de histórias consagradas, para contar algo completamente diferente. Gilmar é um peixe, que veste seu uniforme e vai trabalhar como caixa de um mercado, dia após dia… mas esse mercado deixou de funcionar. Sua rotina é alterado após se deparar com a dupla de humanos, Robertinho e Gordo.

    Robertinho e Gordo entram em um mercado, para saquear e se surpreendem, em meio a uma conversa nonsense estabelecida entre eles sobre o que é necessário levar para a sua sobrevivência, que o humanoide com cabeça de peixe os espera. Roberto o vê como um sujeito triste e decide leva-lo. Convencido após bastante insistência, Gordon leva o peixe consigo. Robertinho é um personagem engraçado e hiper otimista, e a prova viva de que um homem não precisa ser fruto do seu meio, e pode guardar características próprias mesmo que o cenário não ajude. O personagem é tão munido dessa ingenuidade que ele mete a si e a alguns amigos em enrascadas desnecessárias, como quando entram em águas impróprias para banho, achando que era uma fonte termal.

    Esta edição leva em consideração o volume anterior, Eventos Semiapocalipticos: Eduardo e Afonso, mas não é preciso lê-lo para se aventurar em Gilmar. Há diferenças cabais entre eles, a começar pelas cores, muito mais vivas aqui, fato que faz até os momentos mais comuns, soarem maiores e mais catárticos. A história possui um espírito parecido com um road movie, onde Itiche tem a possibilidade de explorar mais paisagens, e assim seus belos desenhos podem ser exibidos. Mesmo quase acabando, o mundo segue um lugar bonito, talvez não ideal para um humano moderno habitar, mas o planeta segue seu rumo muito bem sem superpopulação.

    O modo como o quadrinho lida com discussões que podem soar preconceituosas é baseado na galhofa e deboche, e o humor acerta demais. Há também um largo uso de piadas que brincam com o constrangimento alheio, sobretudo com Robertinho que pensa pouco ou quase nada antes de agir. Os momentos finais são sensíveis e carregados de singeleza e referências. O confronto entre Elfas e Anões remete a velha rivalidade típica dos RPGs de mesa e da literatura J.R.R. Tolkien, que por sua vez, é usada aqui para exemplificar um pouco das rixas entre cozinheiros. As brigas e disputas nesse universo são desimportantes, e a visão lúdica que o trio de amigos tem pode ser uma boa alternativa à vida predatória que os homens normalmente tinham antes do que ocorreu com esse mundo quase apocalíptico, e o modo como Itiche escolhe falar dessas coisas impressiona pelo equilíbrio entre o humor e o sentimentalismo.

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  • Resenha | Eventos Semiapocalípticos: Eduardo e Afonso

    Resenha | Eventos Semiapocalípticos: Eduardo e Afonso

    Eventos Semiapocalípticos: Eduardo e Afonso é uma obra recente de Yoshi Itice, autor de quadrinhos desde 2010 e fundador do site/estúdio LoboLimão, no qual trabalhou até 2014, para pouco tempo depois se envolver com trabalhos em outros dois projetos de quadrinhos: Manjericão e La Gougoutte – sendo o primeiro, seu estúdio próprio, e o último, um selo de quadrinhos que mantém ao lado de Bianca Pinheiro, Alexandre Lourenço e Greg Stella. Itice foi responsável pelo quadrinho independente Batsuman: Ano Um (e dois também), financiado coletivamente através do Catarse, em 2016. Eduardo e Afonso surge da mesma forma, e a ideia da dupla de personagens que serve de subtítulo para a publicação aconteceu de forma simples, quando o autor voltava do trabalho, evoluindo pouco a pouco todo o conceito da trama com o mundo devastado, ou melhor, semi-devastado.

    Eduardo anda por um cenário desolado, arrastando com uma corda amarrada em sua cintura um objeto estranho, parecido com uma máquina de lavar. É na verdade Afonso, uma secadora elétrica. A referência ao mangá/anime Fullmetal Alchemist, aparentemente, vai além do título do quadrinho. As conversas entre os dois são engraçadas e repletas de tiradas com humor ácido, simples e direto. Eduardo é um sujeito amoroso e paciente, enquanto Afonso é chato, boca suja e um tanto niilista. A química entre os dois funciona, e é curiosa por isso, pois são pessoas tão diferentes entre si. Até quando ha o acréscimo de um terceiro elemento, a jovem Gabriela, a interação dos personagens muda, com Afonso se tornando ainda mais temperamental, orgulhoso e ciumento.

    O traço de Itice é simples, remetendo as tiras de humor que saiam nos jornais, na seção infantil das antigas versões do Globinho impresso, e esse estilo de desenho cabe muito bem com o roteiro proposto. A forma como o lúdico e o caráter irônico se misturam na trama impressiona, dado que há espaço para o desenvolvimento de ambos os aspectos. Além disso, os personagens compensam com humor o fato das poucas páginas desse primeiro volume não ter muito tempo para desenvolver todas as suas características.

    O final soa agridoce, relatando um pouco da origem de Afonso e de sua transformação em uma secadora, abrindo possibilidades de diversas interpretações e teorias. O desfecho desse primeiro volume tem uma certa melancolia, mas o autor equilibra esse ponto no bom humor da obra e ainda desenvolve um herói rico em bondade e perseverança. Eventos Semiapocalípticos: Eduardo e Afonso termina com um vislumbre de um futuro sem soluções fáceis, mas ainda com uma ponta de solidariedade e otimismo.

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