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  • Crítica | Turma da Mônica: Lições

    Crítica | Turma da Mônica: Lições

    Turma da Mônica: Lições é a nova versão cinematográfica das historinhas da turma do Bairro do Limoeiro, trazendo como protagonistas, naturalmente, o quarteto formado por Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali em uma aventura que põe a prova os paradigmas e estereótipos das quatro crianças. O filme é conduzido novamente por Daniel Rezende dando continuação à Turma da Mônica: Laços, baseada na história em quadrinhos homônima de Vitor e Lu Cafaggi.

    A história se desenrola no início de modo bem lúdico, com as crianças ensaiando uma peça que será apresentada em breve. Já nesse início há um belo destaque para um dos fatores mais positivos do filme, a fuga da modernidade e da atualidade. Há uma aura retrô na construção desse universo, os telefones são antigos, os vestuários e penteados também parecem ser de outra época, e ao contrário da versão de 2019, não há um apelo tão forte a um linguajar repleto de gírias típicas dos anos 2000.

    A Turma da Mônica, de Maurício de Sousa, é sem dúvida a maior e mais popular série em quadrinhos no Brasil. Com as novas versões nas Graphics MSP, seria natural expandir, e lançar-se em outras mídias. Nessa tradução seria muito fácil ocorrer a diluição dessa aura mais inocente e ingênua que os gibis clássicos sempre tiveram, e Rezende, mesmo com tão pouco tempo enquanto diretor conduz bem seu elenco, para além do quarteto formado por Giulia Benite, Kevin Vechiatto, Gabriel Moreira e Laura Rauseo.

    Todas as participações (e são muitas) funcionam, há química não só entre os protagonistas, mas com todos os coadjuvantes (novos ou não). Há realmente uma sinergia presente entre eles, algo que remete diretamente a série de Cao Hambúrguer, Castelo Rá-Tim-Bum, que tinha um elenco de crianças que funcionavam juntos, mas bem mais velho, em média, dos que compõem o núcleo desta obra, o esperado é que não demore muito a fazer outros filmes, pois o elenco certamente envelhecerá, e pode ocorrer com ele o mesmo que com Stranger Things, onde os atores estão grandes demais para seus papéis nas temporadas recentes.

    O roteiro de Thiago Dottori trabalha bem não só o relacionamento entre os amigos, mas também as aparições dos personagens clássicos. Franjinha, Do Contra, Nimbus, Marina e tantas outras crianças aparecem, e cada uma delas têm pelo menos um bom momento como centro da narrativa. Até versões da Turma da Tina, com Rolo, Pipa e Zecão são bem representadas, e embora não tenham o mesmo poder do Louco no piloto automático, e sirva ao roteiro como a contraparte mais velha da Mônica, uma torta tática de roteiro utilizada desde que o cinema se tornou uma forma de arte super popular.

    Turma da Mônica: Lições apresenta uma nova versão para os meninos e meninas, obriga-os a crescer e perceber que precisam um do outro, mesmo quando são forçados a se separar. Além disso, as superações deles, por menores que sejam, representam bem os tentos que crianças devem ter ao longo de sua infância. Obviamente, o maior foco da adaptação é a diversão, mas sua história é coesa e mesmo nas interferências bobas, ainda conseguem soar doces.

     

     

  • Resenha | Capitão Feio: Tormenta

    Resenha | Capitão Feio: Tormenta

    Iniciativa da Graphic MSP, Capitão Feio: Tormenta é baseado na persona de um dos vilões da turma do bairro do Limoeiro, o sujeito que vive sujo e nos esgotos da cidade onde Mônica, Cascão, Cebolinha e Magali vivem. Essa é a segunda história roteirizada e desenhada por Magno e Marcelo Costa, continuação direta de Capitão Feio: Identidade, e seu tom é bem semelhante aos comics de super-heróis dos Estados Unidos.

    A história é bem simples e curta. Mostra o personagem principal tentando viver sua vida normalmente, sendo interrompido por um vilão, chamado Cumulus, o homem nuvem, que propõe a ele uma união contra as forças do bem, e ao ser contrariado, ataca Feio e seus capangas, as criaturas de sujeira que moram com ele nos esgotos. Além desse personagem, há também a participação das gêmeas Clotilde e Cremilda, em versões bem diferentes dos gibis antigos de Mauricio de Sousa, além de Olimpo.

    A obra possui cores bem características e vibrantes, assinadas por Mariana Calil auxiliada por Rod Fernandes. A história diverte, ainda que emule o mais do mesmo das histórias clássicas das editoras DC e Marvel os autores abrem mão dos maniqueísmo típico dessas histórias. A trama ainda termina cheia de ganchos, como a anterior, atrelando o passado do protagonista a outro personagem antigo de Mauricio, associação essa até bem óbvia se analisar o visual dos dois.

    Há breves aparições de Cebolinha e Cascão, em atenção ao fato de Feio ter aparecido primeiro nas revistas deles. Magno faz questão de atrelar essa história aos quadrinhos do Astronauta de Danilo Beyruth, aumentando a sensação clara de que esse é um universo compartilhado, onde pelo menos as histórias mais adultas se passam na mesma linha do tempo.

    Capitão Feio: Tormenta é violento, mistura bem momentos típicos de series policiais e clichês de super-heróis como experiências cientificas que produzem poderes nas pessoas. O personagem varia bem entre o anti-herói e o herói falido, tem uma índole que desafia os conceitos de maniqueísmo que povoam os gibis de herói e vilão, e mesmo simples, mostra uma história com todos os elementos que normalmente estão presentes nas histórias clássicas de Batman, Superman, Homem-Aranha e outros personagens de franquias famosas e rentáveis, em tons diferentes e igualmente exitosos as fórmulas vistas nas historinhas mais infantis da linha Graphic MSP.

  • O Abismo dos Quadrinhos em 2020

    O Abismo dos Quadrinhos em 2020

    Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.

    2020 ficará marcado na história do mundo como um ano trágico, para dizer o mínimo. Ao longo de doze meses, estivemos próximos de ameaças de guerra, desastres naturais, ascensão da extrema direitae ,claro, uma pandemia em escala nunca antes vista na história.

    No meio disso tudo, em Terra Brasilis, a cultura segue relegada ainda que, mais do que nunca, tenha se mostrado essencial para que o ano se tornasse mais palatável em tempos de quarentena e distanciamento social. Não obstante, o mercado editorial sofreu bastante com o aumento do dólar, falta de insumos, ameaça de taxação de livros por parte do governo federal, recuperação judicial das gigantes Saraiva e Livraria Cultura, além do fechamento de diversas livrarias menores. E o que se avizinha para 2021 não é nada promissor.

    Desse modo, o mercado, aliado também a fatores externos, não colaboraram para que a vida do consumidor se tornasse mais fácil. Pelo contrário, o que observamos foram diversas decisões equivocadas. Ainda que os quadrinhos não girem em torno apenas de problemas, faremos um resgate de publicações decepcionantes e escolhas editoriais desacertadas ao longo do ano passado que pode (ou não) ter relação com o que falamos acima.

    Coleções Eaglemoss e Planeta Deagostini

    Os lombadeiros de plantão sofreram forte revés em 2020 com as coleções capitaneadas pela Planeta Deagostini e Eaglemoss. Se a concorrente Salvat iniciou o mês de janeiro com apenas a coleção Tex Gold (Coleção Definitiva Homem-Aranha planejada com 60 volumes foi prematuramente cancelada no volume 40, em março de 2019) na 43ª pelo preço de R$ 59,90 e encerrou na 60ª no valor de R$ 64,90 – um reajuste razoável –, o mesmo não pode ser dito das outras duas. A Eaglemoss iniciou o ano com três coleções: DC Comics – Coleção de Graphic Novels (iniciado em 2014 e até dezembro de 2020 conta com 128 volumes), DC Comics – Coleção de Graphic Novels: Sagas Definitivas (iniciada em junho de 2018 e com mais de 32 volumes) e DC Comics – A Lenda do Batman (iniciada em outubro de 2018 e 41 volumes). Já a Planeta Deagostini segue distribuindo a coleção A Lenda do Batman da Eaglemoss, além de duas coleções próprias: Príncipe Valente (iniciada em outubro de 2018 e até dezembro de 2020 com 66 volumes até o momento) e Snoopy, Charlie Brown & Friends – A Peanuts Collection (iniciada em setembro de 2020 e com 9 volumes até o momento).

    Já não é novidade que os valores praticados pela Eaglemoss não são nenhum pouco atrativos. Com aumentos frequentes e sem qualquer justificativa, a editora permaneceu com a mesma política de não dar a mínima para o seu consumidor. A Coleção A Lenda do Batman abriu o ano de 2020 com o volume 17º, Batman: Nascido Para Matar (156 páginas), com o preço de capa de R$ 49,99, e chegou em dezembro com o volume 41º, Mulher-Gato: Cidade Eterna (180 páginas), pelo preço módicos R$ 73,99. Em compensação, as coleções Graphic Novels e Sagas Definitivas mantiveram os preços congelados de R$ 79,99 e R$ 139,99. Verdadeiros heróis.

    A Planeta Deagostini seguiu com sua coleção de todas as tiras dominicais de Príncipe Valente, que contará com 82 volumes, e iniciou o mês de janeiro de 2020 com o 20º volume (76 páginas) que reúne as tiras de 1956, no preço de capa de R$ 49,99, e encerrou o ano com o 66º volume (64 páginas) reunindo as tiras do ano de 2002, pelo preço de capa de R$ 78,99. A coleção Snoopy, Charlie Brown & Friends – A Peanuts Collection que reúne as tiras dominicais desde 1950 até o ano 2000 em volumes de 64 páginas manteve o preço de R$ 49,99. Veremos o que 2021 nos reserva.

    A ausência da SESI-SP

    A SESI-SP surgiu como uma editora interessante dentro do mercado, publicando material estrangeiro (em especial, europeu) e nacional em formatos e preços convidativos, e claro, ótima qualidade. Por meio dela fomos apresentados (e em alguns casos reapresentados) às séries Valerian, Verões Felizes, Spirou, Gus, Blacksad, autores como Mathieu Bablet (A Bela Morte e Shangri-Lá), Juan Cavia e Filipe Melo (Os Vampiros), Gabriel Mourão e Olavo Costa (Paraíba), Marcelo Lelis (Anuí), Gidalti Jr. (Castanha do Pará), Orlandeli (SIC, O Mundo de Yang, Daruma, etc), Gustavo Tertoleone e João Gabriel (Nobre Lobo), Jennifer L. Holm e Matthew Holm (Sunny) e tantos outros.

    A publicações minguaram em 2019, se reservando apenas aos materiais já programados e anunciados ainda em 2018 e publicados em sua esmagadora maioria no primeiro semestre do referido ano. Se o ano anterior já foi péssimo, 2020 reservou o total de ZERO publicações.

    A explicação é simples: antes mesmo da posse do atual presidente da República, já havia sido declarado guerra ao Sistema S, conjunto de nove instituições de interesse de categorias profissionais – Sebrae, Senac, Senai, Senar, Senat, Sesc, Sescoop, Sesi e Sest – que promovem atividades sociais e de aprendizagem, e emprega mais de 150 mil funcionários, mantidas pelas contribuições, pagas compulsoriamente pelos empregadores. Em 2019, o governo federal fixou um corte compulsório de 30% no orçamento dessas instituições, e com a pandemia isso se agravou ainda mais com o corte de contribuições. Que dias melhores se anunciem para a editora.

    O descaso da L&PM com as tiras de Peanuts

    Em novembro de 2009, a L&PM publicou o primeiro volume de Peanuts Completo, que reuniu as tiras diárias e dominicais, de uma coletânea de 25 volumes lançada nos EUA pela Fantagraphics. A editora americana tem um planejamento de dois livros por ano durante 12 anos e meio do material completo do clássico de Charles M. Schulz, Peanuts. Um projeto ambicioso sem dúvida. E até maio de 2019 a L&PM seguiu com um álbum por ano, totalizando 10 volumes até então.

    Para surpresa de todos, em 2020 a editora decidiu reiniciar do primeiro volume por meio de outra coleção mais simples da Fantagraphics, o que não seria um problema se houvesse algum indicativo de continuidade da coleção antiga ou sequer qualquer comunicado oficial por parte dos editores do que motivaram tal decisão. Se isso não fosse o bastante, os últimos volumes da coleção antiga esgotaram rapidamente e não há previsão de novas tiragens, de modo que não me parece ser o caso de vendas baixas, como também não se sabe se a série continuará nesse novo formato. Só nos resta aguardar e torcer para que a série não seja descontinuada como já aconteceu com outras tiras (Hagar, Garfield etc).

    A gourmetização dos quadrinhos

    O processo de elitização dos quadrinhos não é algo novo, já se fala sobre esse desenvolvimento há muitos anos. Mas tem acelerado bastante nos últimos três anos. Com a crise do mercado editorial, as editoras perceberam que a idade média do seu leitor aumentou muito. Não se tem mais crianças consumindo como acontecia no passado. Se por um lado esse fator geracional proporciona maior liberdade criativa e variedade de estilos, por outro tem avançado por parte das editoras a publicação de materiais cada vez mais luxuosos, culminando nos fatídicos omnibus em 2020. O que, pra ser sincero, não vejo como um problema, desde que esses materiais publicados nesse formato tivessem opções mais acessíveis em um passado recente. Veja, Quarteto Fantástico do John Byrne é um material pedido por leitores há anos, mas quando colocado no mercado a Panini opta por uma tiragem pequena, com o preço de capa de R$ 349,00, atingindo apenas uma pequena parcela do seu mercado consumidor. Em contrapartida, não vejo problema da editora apostar em materiais de luxo como anunciou com Monstro do Pântano, Miracleman e Noites de Trevas Metal (arghh). Afinal, há pouco tempo atrás tivemos acesso a esses materiais em um formato econômico. Logicamente, o preço praticado é uma outra discussão, que evidentemente, não pode ser separada de temas como aumento do dólar, falta de matéria-prima e problemas de distribuição.

    No entanto, o que se vê entre o mercado consumidor e influencers digitais é um (quase) completo silêncio em relação aos preços, e muitas comemorações com formatos cada vez mais luxuosos. Enquanto isso, nós nos enganamos que existe um processo de democratização da leitura e a Panini, principal player do mercado editorial de quadrinhos, se engana que está renovando seu público com encadernados Kids e Teens por mais de R$ 30,00. A nossa única certeza é que muita gente que lê Turma da Mônica não vai migrar para outros produtos.

    A Maurício de Sousa, o Boldinho e a censura

    E por falar em Turma da Mônica…

    No final de 2020, fomos surpreendidos, negativamente, com a notícia de que a Maurício de Sousa Produções havia notificado extrajudicialmente o cartunista underground Daniel Paiva em razão de sua paródia da Turma da Mônica, por conta de seu personagem Boldinho. Sim, Maurício de Sousa, o homem que tanto parodiou outros personagens, obras e histórias decidiu ameaçar de processo quem o parodiava com base na Lei de Direitos Autorais.

    Segundo a empresa, o personagem Boldinho e os demais coadjuvantes associavam a MSP ao consumo de entorpecentes, entre outras coisas. Sim, o personagem lida com temas voltados às drogas e transversais, em especial, maconha. No entanto, esse material não é comercializado para o público infantil, e sequer circula nesse meio.

    Causa estranheza tais argumentos para quem acompanha a empresa, já que em 2013 o Cebolinha em uma propaganda da AMBEV ensinou as crianças que tomar cerveja era um hábito transgeracional, apenas ensinando as crianças que existia uma idade correta para consumir bebidas com álcool. Em 2018, a parceria se deu com a indústria armamentista brasileira. Pelo visto a preocupação com a defesa da infância se dá em maior ou menor grau conforme os dígitos que entram na conta bancária da empresa.

    As baixas tiragens de mangás da Panini

    Se o aumento de preço frequente já é fator fundamental no dia-a-dia de qualquer consumidor de quadrinhos, os leitores de mangás da Panini ainda precisam se preocupar com as tiragens limitadíssimas da editora. Em 2020, isso parece ter se agravado ainda mais com diversos mangás recém-lançados esgotados em semanas. Isso se deu com títulos dos mais diversos, desde os mais simples até os mais luxuosos. E nós, reles mortais que ficamos equilibrando nossas finanças para poder adquirir os quadrinhos do mês entre uma promoção e outra, ainda nos deparamos com buracos em nossas coleções pela completa falta de planejamento de uma editora que sequer faz ideia do público que possui.

    O cancelamento e adiamento das feiras e convenções de quadrinhos

    Não é novidade que cultura e arte são pouco valorizados por aqui. Com a chegada do governo Bolsonaro e da pandemia, o que vemos é um cenário caótico para muitos artistas. O Fundo Nacional da Cultura seria uma ferramenta para suprir esta demanda em um momento atípico como este parece inexistente, e muitos deles dependem da ajuda de amigos para subsistência. Na área de quadrinhos não poderia ser diferente.

    Após os cancelamentos de boa parte das feiras e convenções o cenário se tornou ainda mais difícil para artistas e pequenas editoras que dependem desses eventos segmentados como importante fonte de renda. Enquanto não existe uma política pública adequada, eles se viram como podem, seja por comissions, promoções, plataformas de financiamento coletivo, e em alguns casos, ajuda de amigos.

    A crise da distribuição

    Já não é novidade para ninguém da crise de distribuição existente em um país de escala continental como o Brasil. Contudo, a pandemia parece ter surgido para acelerar processos, para o bem e para o mal. Em 6 de novembro, a Dinap e a Treelog, empresas integrantes do Grupo Abril, informaram o rompimento de contratos, unilateralmente, com suas editoras-contratantes. O problema de distribuição e consignação tem se agravado nos últimos anos, principalmente com o processo de recuperação judicial do Grupo Abril, mas agora parece que a pandemia colocou a última pá de cal neste sistema.

    2021 será um desafio para as editoras que dependem da do Grupo Abril, como ocorre com a Mythos. Além disso, esperamos que os problemas de consignação não tragam mais problemas ainda para as editoras, como ocorreu com a inadimplência da Saraiva e Cultura, que além de não devolver os produtos consignados, ainda não pagou por eles. Hoje as editoras aguardam na fila de credores para receber uma parte do que é seu por direito.

    O retorno dos mixes

    Após alguns anos sem publicação de quadrinhos no formato mix nas publicações mensais, 2020 também ficou marcado pelo anúncio da Panini em uma live no YouTube na CCXP Worlds sobre o retorno desse tipo de compilação editorial.

    Obviamente, muitos fãs se decepcionaram com a editora (mais uma vez), já que há algum tempo podiam acompanhar seus personagens em revista solo mensais ou em encadernados que reuniam arcos de histórias sequenciadas, e esperavam acompanhar o Thor do Donny Cates, Capitão América do Ta-Nehisi Coates e etc. de forma individualizada. Pelo visto as vendas não estavam agradando e a Panini decidiu retomar a prática do mercado editorial brasileiro durante décadas.

    Aos que seguirão acompanhando, torço para que a editora ao menos faça um bom mix, o que sequer ocorreu na revista Batman & Superman (já cancelada pela Panini) que tinha tudo, menos Batman & Superman.

    A não-tradução do omnibus do Conan

    Neste mesmo ano a Panini decidiu colocar no mercado seu primeiro omnibus – diversas edições que foram publicados separadamente compiladas em um volume único – e o personagem escolhido foi o Conan. A edição de mais de 700 páginas reúne o material publicado pela Marvel Comics nos anos 1970 nas revistas Conan: The Barbarian e Savage Tales.

    Ainda que se trate de um material de luxo, com preço de capa de R$ 249,00 (duzentos e quarenta e nove reais), a editora achou que seria de bom tom não traduzir quase 70 páginas de material extra existente na edição, ou seja, aproximadamente 10% do material não é possível ler em português. Um completo desrespeito ao público brasileiro, mas que diz muito sobre nosso consumidor, já que em poucos dias o material já era impossível de ser encontrado para compra. A resposta da editora foi a pior possível, informando que outros países de língua não-inglesa, como Itália e Espanha, saiu da mesma forma. O que só deixa claro que o editorial da Panini nesses países é tão patético quanto no Brasil.

    É óbvio que os extras de uma edição como essa não seria lido por todos, no entanto, num país de língua portuguesa, o mínimo que se espera é que o material seja publicado em… língua portuguesa. Do contrário, você está segregando leitores. Para piorar, a editora anunciou o volume 2 e disparou que não traduziria todos os extras, mas apenas uma parte deles. O brasileiro merece a Panini.

    Destro

    Sem romantismos do tipo “quadrinhos são uma mídia progressista, criados e consumidos pela classe trabalhadora”. Qualquer discussão nesse sentido ignora o processo de elitização da mídia, não só no Brasil, mas no mundo, e ainda ignora que uma parcela da classe trabalhadora é conservadora. Ora, em um cenário onde o sistema hegemônico é o capitalismo e a filosofia social que rege boa parte do mundo é o conservadorismo ou o liberalismo, não me causa qualquer estranheza que quadrinhos de direita tenham crescido nos últimos anos. E Destro e seu autor é apenas um expoente desse movimento no Brasil. Importante lembrarmos que Stan Lee criou o Pantera Negra antes do Partido dos Panteras Negras e tentou de todas as formas que seu personagem fosse vinculado ao movimento, Steve Ditko era grande apaixonado pela obra e filosofia de Ayn Rand e isso se refletiu até mesmo no sobrenome do personagem Punho de Ferro, Frank Miller despejou xenofobia em um passado recente e criticou o movimento Occupy Wall Street, entre tantos outros autores controversos e de direita que fizeram falas problemáticas, como Chuck Dixon, John Byrne, Bill Willingham etc. Nem todos são Alan Moore.

    No Brasil, Luciano Cunha publicou os quadrinhos do Doutrinador em 2013, início do processo de efervescência política nas ruas e redes sociais. O personagem ganhou filme anos depois e com a crescente polarização o autor foi se movendo cada vez mais à direita no espectro político, deixando de lado o discurso de “Fora Todos” e contra corrupção e se posicionando favorável a movimentos de extrema-direita e ao próprio presidente Jair Bolsonaro. Toda essa mudança culminou no lançamento de Destro, em 2020, ao lado do ilustrador Michel Gomes. Por alguma razão, Cunha optou por lançar meio do pseudônimo Ed Campos.

    Na trama, conhecemos uma São Paulo distópica do ano de 2045 governada pelos comunistas globalistas, onde o “real” foi substituído pela moeda “real rubro”, com a figura de Che Guevara estampadas em suas células e a população precisa caçar ratos para se alimentar. Destro é nosso herói, um vigilante destinado a lutar por nossa liberdade e derrubar esse governo que impõe sua agenda progressista, anti-conservadora, anti-cristã e outras idiotices do gênero (risos).

    O projeto foi financiado pelo Catarse e alcançou uma marca impressionante de quase R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), algo bastante considerável neste meio, mas que não causa espanto para quem o acompanha. Com frequência acompanhamos o público conservador, no Brasil e no mundo, se mobilizando de forma contrária à qualquer menção progressista dentro dos quadrinhos de super-heróis, sendo taxada de “lacração”, “mimimi” e “politicamente correto”. Desse modo é natural que Destro atinja tal público e já tenha sido licenciada em vários países antes mesmo de seu lançamento, enquanto outros artistas ainda lutam por seu lugar ao sol. Talvez isso seja um reflexo de como esses leitores tem uma certa dificuldade em crescerem, como Moore gosta de lembrar.

    Se você acha pouco, o autor está trabalhando em uma sequência de Doutrinador, dessa vez contra o globalismo (e lá vamos nós) e o vírus chinês (Família Bolsonaro e Ernesto Araújo aprovam). Para finalizar, encerro este assunto com duas belas páginas de Destro matando ratos com sua pistola (?!) para se alimentar. Genial!

  • Resenha | Astronauta: Assimetria

    Resenha | Astronauta: Assimetria

    Ao repaginar o Astronauta desde 2012, sob o selo Graphic MSP da editora Panini, Danilo Beyruth fez o que o personagem mais merecia: dar poder e emoção a combinação perfeita de ficção científica, e fantasia que suas histórias sempre tiveram, ainda no domínio criativo de Mauricio de Sousa. Se em Magnetar e Singularidade o efeito já tinha sido alcançado, em contos extremamente ambiciosos e visualmente delirantes, é em Assimetria que tudo se encaixa. Aqui, a impressão é que um arco do Astronauta se fecha, e outro logo se abre, com futuro e passado não apenas se encontrando, mas criando uma nova dimensão repleta de inesperadas possibilidades.

    Assimetria é o mais próximo que o Astronauta já chegou de participar de uma história estilo “E se…?”. Sempre confuso com suas chances perdidas de morar com o seu grande amor, a doce Rita, o conquistador brasileiro do espaço abdicou tudo pela profissão. Em nome da ciência e nada mais, o cara já ficou perdido nos confins das estrelas e investigou buracos negros com toda a bravura que um homem pode ter. Mas, e se o Astronauta interferiu nas dimensões que existem nas extremidades desse buraco, e sem querer, mudou o rumo de sua vida? Agora, ao sair da Terra para verificar a origem misteriosa de um sinal que vem do polo norte de Saturno, nosso orgulho nacional vai ser dar conta que o sinal é um chamado de uma entidade perigosíssima…

    … condenada a derrubar mundos inteiros (numa clara alusão ao Galactus, da Marvel). Como se isso não fosse o suficiente, o Astronauta descobre que essa força da natureza não apenas já exterminou um segundo planeta Terra, mas obrigou os poucos humanos sobreviventes a escapar para o espaço, incluindo o próprio Astronauta dessa realidade paralela – e destruída. Mais velho e bem menos impulsivo que o herói “original”, sua segunda versão casou-se com a Rita e juntos tiveram uma filha, a super corajosa Isabel – e um robô do Horário, útil nos piores momentos que todos irão enfrentar, juntos. Agora, todos possuem duas opções: impedir essa criatura interestelar de alcançar outras Terras, em especial a nossa, ou ver a história se repetir e tudo parecer diante de seus olhos.

    Beyruth continuar a criar painéis de formas aliado as cores impressionantes de Cris Peter, que mesmo quando não ocupam uma página inteira em Assimetria nas cenas de maior aventura, deixam quaisquer leitores embasbacados nos instantes mais decisivos e poéticos, do livro ilustrado. O autor honra a confiança de Maurício de Sousa a cada nova reviravolta, ao entender e vibrar a personalidade de cada personagem, e ao simbolizar enfim e da maneira mais orgânica e criativa possível que o amor é a força mais poderosa do universo, ainda mais crucial que a potência que existe em equações frias, e códigos tecnológicos que nos fazem cruzar nossa atmosfera rumo ao desconhecido. Assim, os quadrinhos do Brasil tornam-se agraciados com os contos modernos do Astronauta, um ícone dos quadrinhos atualizado (e homenageado) com perfeição às novas gerações.

    Compre: Astronauta – Assimetria.

  • Resenha | Turma da Mônica: Clássicos do Cinema – Superamigos

    Resenha | Turma da Mônica: Clássicos do Cinema – Superamigos

    A época dos anos noventa costumava ser muito rica no quesito paródias para o universo de Mauricio de Sousa e sua Turma da Mônica, especialmente no que tocam as versões de filmes famosos. O encadernado Turma da Mônica: Clássicos do Cinema – Superamigos  reúne três dessas, entre elas, a mais famosa e elogiada, Batmenino Eternamente, que adapta de forma magistral o filme de Joel Schumacher e protagonizado por Val Kilmer, com piadas próprias e situações bem diferentes das vistas em Batman Eternamente.

    A história foi originalmente publicada em uma revista bem grande, o gibizão, que era  maior até que o formato americano (há de se lembrar que mesmo histórias de heróis da Abril, eram em formatinho), e sua trama é bem simples ao brincar com os momentos do filme, repaginando esses instantes de forma cômica, reunindo com outros tantos clichês do Homem Morcego e claro, trazendo uma trama bem diferente da original. No lugar do Charada de Jim Carrey há Franjada, feito pelo gênio da Turma, o cientista Franjinha, enquanto Cebolinha faz Cebolaine e seu alter ego, o Batmenino.

    A narrativa visual foge demais do clássico nove quadros por página, utilizando muito bem as cores e limites dos cenários. A versão dos artistas da Gotham Neon de Schumacher tem uma identidade bem própria, seja nas cenas externas, bem como o covil de Do Combus (a versão de Harvey Duas Caras, envolvendo Do Contra e Nimbus), assim como a Batcaverna, que é bem bonita. A história é bem rápida, incluindo a origem dos personagens, que tem, cada um, trechos da revista para familiarizar o leitor.

    Franjada rouba a cena quando aparece, assim como Cascão, que faz o parceiro do herói, Cascóbin. A saída de usar roupa reciclada do lixo apesar de uma piada óbvia, associa bem o cânone da turminha com os personagens da DC, e tudo aqui soa bem natural, incluindo aí as muitas quebras de quarta parede, que em última análise, é bem inventiva, e termina de forma certeira, dando margem para possíveis novas adaptações.

    Da parte das outras histórias, Lanterninha Verde é mais comum, bem menos inspirada e veio na esteira do filme Lanterna Verde de Martin Campbell com Ryan Reynolds, protagonizado mais uma vez pelo Cebolinha. O que se vê são exageros, muitos trocadilhos fracos e bastante respeito com os personagens da Tropa dos Lanternas, com referências até a Crepúsculo Esmeralda, quando Hal Jordan virou Parallax. Vale bastante pelos extras, que mostram versões da Safira Estrela (Mônica) e Sinestro (Xaveco), que certamente enriqueceriam muito mais a história se estivessem, de fato, nela.

    Já a terceira, Batmenino e Cascóbin, saiu só em 2012. A história é um resumão de plots dos filmes do morcego lançados até então, contando a origem dos vilões além de um  desfile de referências, sendo o mais legal morando nas referências ao Batman de 1966, protagonizado por Adam West e Burt Ward. Os personagens vestem os trajes de cada filme (Batmenino tem seis trajes diferentes – o último “é dos games” – e o Loucoringa começa vestido como Jack Nicholson, é interrogado igual a Heath Ledger, e no final imita Cesar Romero), além de referenciar até os diferentes Batmóveis de cada filme.

    Este encadernado claramente tem uma história muito bem formulada, e outras duas feitas mais a toque de caixa, que apesar de não tão brilhantes, têm  bons momentos, como a maioria da coleção desta coleção de paródias.

    Compre: Clássicos do Cinema – Superamigos.

  • Resenha | Astronauta: Singularidade

    Resenha | Astronauta: Singularidade

    O Astronauta (Pereira), também conhecido apenas como Astro, é um dos personagens mais famosos de Maurício de Souza, junto do Chico Bento, Penadinho e outros ícones dos gibis brasileiros. Por isso, uma releitura da figura azul e laranja que ama explorar o universo e seus limites deveria estar à altura de suas clássicas aventuras, repletas de imaginação, senso de questionamento e desejo de exploração. Tal qual um Indiana Jones intergaláctico, Astro é sozinho para o Brasil o que a destemida turma de Interestelar foi para os Estados Unidos, no filme de Christopher Nolan. Um grande motivo de orgulho e admiração para o seu povo à espera do seu retorno, numa missão fantástica rumo ao centro de um buraco-negro que, desta vez, o eterno apaixonado pela Ritinha do bairro do Limoeiro vai ter que contar com uma ajuda inesperada.

    Ao regressar dos confins do espaço, ferido e doente após os eventos da ótima história Magnetar, Astro é resgatado por uma equipe estrangeira que ajuda o homem a se recuperar, física e psicologicamente (a história nunca revela qual é essa nação). Para agradecer e mostrar diplomacia pela assistência amistosa ao maior astronauta do Brasil, a BRASA (agência secreta com os mesmos fins da NASA americana) decide enviar o seu principal cientista junto de um misterioso agente militar deste país, o Major, e de quebra ainda obrigam o Astronauta a alojar em sua nave uma sensível psiquiatra para analisar de perto as condições psicológicas do nosso herói, ainda cheio de obstinação para dar e vender. Nunca a nave redonda e dourada transportou tanta gente (“Isso está parecendo um ônibus!”), mas tudo é válido em prol da ciência. Tudo, mesmo?

    Singularidade pode enganar quem acha que a história é apenas um conto didático sobre um dos maiores enigmas do universo: buracos-negros, um fenômeno que desafia a física ao sugar tudo ao redor de si, desde meteoros até planetas inteiros, logo após a explosão de uma gigantesca estrela que o forma em uma constante expansão destruidora. Nada escapa de sua fome, e o que parece ser apenas uma exploração científica rapidamente torna-se uma exploração sobre a natureza tão imprevisível do homem, quanto a do próprio universo e o seu caos gigantesco, sempre reordenando o vazio, as estrelas e a vida. Em certo momento, a Doutora e o Astronauta entendem que a missão não será tão fácil assim, uma vez que a ambição e a ignorância humana não têm fim e podem botar tudo a perder, ainda mais quando uma nave (ou seria uma sonda?) alienígena aparece para atrapalhar tudo.

    O roteiro e as ilustrações delirantes de Danilo Beyruth são sob medida para orgulhar não apenas Maurício de Souza, mas o público que sempre seguiu as peripécias do Astronauta e, agora, ganha a oportunidade de se deleitar com uma abordagem mais dramática e espetacular, porque não, deste verdadeiro símbolo da ficção-científica brasileira. A editora Panini continua com um impecável trabalho gráfico em Singularidade, ofertando a história um tratamento estético de cores e texturas digno de se rasgar elogios. Beyruth se supera em comparação a Magnetar, e prova aqui ter um talento especial de revitalizar e expandir o nosso encantamento para personagens já solidificados no imaginário popular do Brasil. O Astronauta aqui segue em boas mãos, caso ele consiga (de fato) escapar de onde nem mesmo a luz consegue fugir.

    Compre: Astronauta – Singularidade.

  • Resenha | Astronauta: Magnetar (2)

    Resenha | Astronauta: Magnetar (2)

    Dos confins do espaço, um astronauta bem famoso está isolado, sem viva alma para ajudá-lo a voltar para casa – tampouco sem computador, pifado. Parece que o Astronauta, um dos mais icônicos personagens de Mauricio de Sousa, realmente foi longe demais desta vez, em toda a sua fome de conhecimento. Agora, nosso Cabral das estrelas foi aonde nenhum outro homem ousou atingir: a órbita de uma misteriosa estrela que dá nome a este livro, uma Magnetar. Um corpo celeste altamente magnético, mais brilhante que o sol, e mais perigosa que todos os eventos da Terra, reunidos em um único ponto. Seus estudos ainda seguem incompletos, mas se alguém pode coletar informações presenciais dessa estrela para entendê-la melhor, há muitos anos-luz do nosso pequeno planeta azul, é o nosso amigo intergaláctico, criado em 1963 junto das tirinhas de jornal da Turma da Mônica.

    Mas ele não esperava que o universo, indiferente as ambições humanas, sabotasse sua expedição repleta de coragem, motivada (no começo) por pura curiosidade científica. Logo ao pousar num dos asteroides que gravitam um Magnetar, sua nave é danificada e ele fica sem oxigênio, ao usar todo o ar que tinha em seu traje espacial para sobreviver, e conseguir numa quase missão-suicida voltar a sua nave redonda. Sozinho, e sem a tecnologia de sempre para lhe ajudar nessa missão, como nosso amigo sairá dessa? Em 2012, para comemorar os quase 50 anos de personagens como o Astronauta, Bidu, Louco e Chico Bento, entre tantos outros da espetacular mitologia da Turma da Mônica, a mais popular série de quadrinhos de todos os tempos no Brasil, Maurício de Sousa escolheu artistas que pudessem empregar a seus clássicos ícones novos traços, e novas perspectivas, muito além daquela simplicidade que tanto nos habituamos a ler, nos gibis originais.

    Assim, a aventura de Astronauta pode ser algo chocante para os leitores mais nostálgicos, pois os temas aqui narrados com grande dinamismo e paixão são profundos a ponto de nos inspirar, e talvez, criar nossas próprias histórias imaginárias para esse aventureiro das galáxias. Desamparado, o Astronauta combate o isolamento enquanto tenta consertar em vão a sua nave. Um confinamento que começa a mudar o homem enjaulado e cada vez mais paranoico, enquanto o tempo passa e a beleza e o mistério de um Magnetar tornam-se desprezíveis para o animal pensante preso num cockpit, assombrado pelos fantasmas do passado. Pela culpa de estar tão longe da família… Na trama, o quadrinista Danilo Beyruth, responsável pelo premiado Bando de Dois, ao lado da colorista Cris Peter, comanda um exercício criativo ao testar os limites físicos e psicológicos de uma pessoa, lembrando-nos que nunca estamos no controle de nada, mas a escolha de reagir ao caos vem de nós, seja no fundo do mar, ou no mais distante asteroide que temos alcançado desde o final dos anos 60.

    Tal qual o filhote de dinossauro Horácio e sua perspicaz filosofia, o Astronauta é a personificação irreverente do lado científico de Maurício de Sousa, como ele bem nos informa na introdução que abre essa publicação da editora Panini, que destaca a exuberância do traço e a narrativa gráfica de Beyruth, que assim como a trama que reflete a graça das primeiras histórias do Astronauta, mantém e ainda expande a identidade visual do personagem, em painéis inventivos e surreais, abusando perfeitamente das cores e do silêncio, em algumas situações. Como nos tempos das caravelas, os homens das estrelas também se jogam em seus “abismos” de imprevisão em nome do fim da ignorância, arriscando a vida pelo amor ao desbravamento. Eis uma ode hipnótica ao que rege não só a profissão, mas à nobreza similar das criações de Maurício. Magnetar é pura invenção e renovação, homenagem e deslumbramento, inclusive, a quem nunca leu um gibi sequer da Turma da Mônica e encontra, aqui, a oportunidade perfeita em desbravar (ou reverenciar) o seu encanto, sem igual.

    Compre: Astronauta – Magnetar.

  • Crítica | Turma da Mônica: Laços

    Crítica | Turma da Mônica: Laços

    Dirigido por Daniel Rezende, o mesmo que recentemente realizou Bingo: O Rei das Manhãs, Turma da Mônica: Laços tem a função de adaptar as histórias da turma mais querida e conhecida dos quadrinhos brasileiros, tomando como base a Graphic MSP Laços, de Lu e Vitor Caffagi, embora adapte apenas pequenos elementos da revista.

    A história não poderia começar se não por um dos planos infalíveis pelos quais Cebolinha (Kevin Vechiatto) é conhecido, que envolve a participação de seu amigo Cascão (Gabriel Moreira) tentando enganar Mônica (Giulia Benite) e Magali (Laura Rauseo). Já na introdução são mostrados vários personagens secundários, e também não demora a surgirem diversas referências aos quadrinhos espalhados pelo filme, além de uma bela participação envolvendo o próprio Maurício de Sousa, bem ao estilo das aparições de Stan Lee nos filmes da Marvel.

    O apego familiar  e emocional do filme é mais ligado aos Cebolas do que a família Sousa (de Mônica), incrivelmente a adulta mais explorada é a Dona Cebola de Fafá Rennó, que faz muito bem uma mãe preocupada e culpada por não ter dado ouvido as crianças. Ela incrivelmente tem mais tempo em tela que Paulinho Vilhena (Seu Cebola) e Monica Iozzi (mãe da Mônica), fato que reforça um pouco a ideia de um duplo protagonismo entre o menino de língua presa e a garota mais forte da rua. A participação de Rodrigo Santoro parece um pouco deslocada, mas funciona muito bem e faz perguntar se foi apenas um devaneio de Cebolinha, como acontece em seus quadrinhos.

    O uso de gírias data muito a produção, já que o mesmo cuidado visual que se tem de não aparecer aparelhos eletrônicos e tecnológicos não existe com o vocabulário. As crianças falam tantas expressões atuais que faz perguntar se elas são instruídas por uma preparadora de diálogos ou por um publicitário, e o uso aqui é tão prolongado que faz lembrar as piores comédias estreladas por Leandro Hassum, como se na dúvida, fosse importante deixar uma expressão que demonstrasse que o filme é atual, mesmo que o Bairro do Limoeiro fique em um limbo temporal.

    Outro problema do filme é a dificuldade em traduzir para as telas a força de sua protagonista. Das quatro crianças ela talvez seja aquela que soe menos natural, não por culpa da atriz, mas sim do roteiro de Thiago Dottori, que mesmo ao ser supervisionado por Luiz Bolognesi, não consegue fugir de momentos da pura artificialidade. Há outros tantos bons momentos, como a reflexão das crianças a respeito de pessoas em situação de rua trazendo uma importante reflexão nesses tempos para os pequenos que assistirem ao longa. Rezende consegue brincar bem com os personagens e suas individualidades e o resultado final do filme da Turma da Mônica é uma aventura bem humorada para todas as idades.

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  • Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 2

    Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 2

    Com os personagens da Turma do Pelezinho já consolidados no primeiro volume, As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol 2 nos mostra uma expansão das possibilidades de piadas sobre futebol, mas também um pouco mais da personalidade de cada integrante da turminha. Obviamente, um ou outro ganha mais destaque que o restante (que seriam mais explorados na revista mensal que começou a ser publicada pouco depois da estreia nas tiras de jornais), e nesse volume vemos muitas histórias com o personagem Frangão. A princípio apenas o goleiro da turminha, Frangão se aventura também como árbitro dos jogos em várias histórias, revezando sua função em campo e sendo bem incompetente em ambas. Óbvio que, tanto como árbitro ou goleiro, as situações que surgem são tão inusitadas quanto engraçadas, e vemos que mesmo apesar de sua inabilidade, Frangão nunca desiste e seu maior sonho é defender um gol do Pelé.

    Cana Braba também tem sua personalidade explorada, e seu temperamento explosivo é ainda mais visível nesse volume. Muitas piadas giram em torno do robusto garoto arrumando briga em campo, não sabendo perder e falando muitos palavrões – devidamente representados pelas cobrinhas e caveiras nos balões, como de costume na época. Já as personagens femininas continuam com os papéis relegados às mulheres nesse período histórico: não entendem nada de futebol, servindo apenas como torcida ou atrapalhando o jogo, além de piadas de teor sexual envolvendo Bonga e gags de cozinha com os terríveis quitutes de Samira.

    Ao personagem-título, ficam as piadas envolvendo seu ultra-potente chute e a capacidade de fazer embaixadinhas com absolutamente qualquer objeto. O carisma do personagem aumenta ainda mais nesse volume, principalmente através dos traços mais “fofinhos” e com as cenas representadas por ângulos diferenciados. Infelizmente, ainda não era costume creditar os artistas devidamente nessa época, sendo tudo considerado apenas obra do Mauricio.

    O final do livro apresenta, novamente, um glossário com os termos usados no futebol, notas contextualizando a época em que foram produzidas as tiras e os termos que não são mais usados nas histórias de hoje por serem politicamente incorretos. Essa segunda edição foi a última das tiras clássicas, que infelizmente não teve mais continuação, deixando muito material ainda sem o devido cuidado gráfico da Panini.

    Compre: As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol 2.

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  • Resenha | Jeremias: Pele

    Resenha | Jeremias: Pele

    Normalmente quando escrevo para ao site busco manter uma estrutura com uma breve introdução, sinopse, discussão sobre o quadrinho e por fim uma avaliação se vale a pena ou não a leitura da HQ. Tal como o quadrinho de Rafael Calça (roteiro) e Jefferson Costa (arte) vamos mudar tudo e fazer algo diferente: leia, simplesmente leia esse quadrinho. Que me desculpe os outros autores que participaram da MSP, e muitos com grandes histórias, mas Jeremias – Pele é, em minha opinião, o melhor título lançado pelo selo até então.

    O primeiro ponto para sustentar essa minha afirmação é que esse quadrinho transcende os seus objetivos primários, não se trata apenas de entretenimento ou mesmo de arte se levarmos a discussão para esse campo, mas de uma abordagem que faz com que a história se embrenhe por questões sociais extremamente relevantes para o nosso país, nesse caso o racismo. Não se trata aqui de falso moralismo, mas o quadrinho toca onde a ferida dói, em nossos preconceitos básicos, de enxergar o negro em funções consideradas menores dentro de uma divisão social do trabalho, de considerar que uma pessoa negra não possa ser bem sucedida a não ser em profissões pré-estabelecidas e muitas vezes caricatas.

    Pele aborda também o bullying que esse grupo social sofre diretamente, como mostrado pelos colegas de turma do Jeremias e outros de maneira indireta (num típico exemplo de racismo velado), como é o caso da professora do protagonista que distribui profissões aos seus alunos para um trabalho escolar. Se isso não fosse o bastante, o quadrinhos também destaca pontos que nos fazem refletir: por que o negro ou o pobre não tem o direito de sonhar? Por que não se pode concede a essas pessoas a possibilidade de ao menos almejarem uma melhor situação na sociedade? São questionamentos são apresentados durante a história tanto de forma direta quanto indireta.

    Não se pode esquecer também de alguns personagens coadjuvantes, principalmente os pais de Jeremias. O inconformismo do pai não se trata de raiva devido aos problemas do filho, mas uma questão geracional que ele passou e vê seu filho em uma estrutura social muito parecida, o que faz entender a explosão de nervos e como a embalagem do preconceito pode mudar, mas não o seu conteúdo. O mesmo se pode dizer da mãe e o seu relato sobre sua infância e seus cabelos e como ela passou por um processo de aceitação para ter o visual dos dias de hoje.

    Enfim, uma HQ sensacional, de uma importância tremenda para os nossos dias e que certamente, tendo em vista o alcance de Maurício de Sousa, fará um belo trabalho educacional desde a mais tenra idade até os mais marmanjos. Destaque para o trabalho de arte de Costa, que possui um traço dinâmico, e utiliza as cores em prol da narrativa, além de diversas referências espalhadas ao universo da Turma da Mônica, e claro, ao movimento negro. O álbum ainda conta com um belo texto de quarta capa do rapper Emicida. Como dito anteriormente, Jeremias – Pele transcende a própria mídia e vai além pela crítica e pelo posicionamento. Aliás, deve-se louvar uma leva de artistas e quadrinhos nacionais que tratam de questões sociais e realizam uma justa e necessária crítica ao nosso contexto atual.

    Compre: Jeremias – Pele.

    Texto de autoria de Douglas Biagio Puglia.

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  • Resenha | Chico Bento: Pavor Espaciar

    Resenha | Chico Bento: Pavor Espaciar

    Tendo como pontapé inicial o projeto MSP 50 – Mauricio de Sousa Por 50 Artistas — que propunha uma reinterpretação dos personagens clássicos de Mauricio por 50 artistas diferentes —, as graphics novels MSP ganharam forma três anos depois com o anúncio de quatro álbuns: Astronauta – Magnetar, Turma da Mônica – Laços, Chico Bento – Pavor Espaciar e Piteco – Ingá, todos publicados pela Panini Comics. A intenção do projeto era compor um álbum inteiro dedicado a cada personagem, formato bastante familiar com publicações europeias como Spirou, que teve uma série de histórias produzidas por diferentes quadrinistas, cada um deles utilizando um estilo e abordagem diferente daquele pensado por seus criadores (essa coleção tem sido publicada no Brasil pela SESI-SP Editora).

    Depois de um início arrebatador com uma história no espaço repleta de elementos ficção científica em Magnetar (roteiro e arte de Danilo Beyruth e cores de Cris Peter), e, posteriormente, uma aventura nostálgica e emotiva em Laços (texto e traços dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi)foi a vez de Gustavo Duarte fazer sua releitura do caipira mais simpático da Vila Abobrinha: Chico Bento. Tarefa nada fácil, principalmente para um personagem tão querido, bem como para aqueles leitores que podem chegar completamente desavisados na obra do autor. Explico. A obra do quadrinista tem um caráter autoral, seja pelo seu traço característico, como também pela narrativa gráfica própria, que pouco se vale de texto para compor seus quadros.

    Pavor Espaciar aborda uma história de humor onde Chico Bento, Zé Lelé, o porco Torresmo e a galinha Giserda acabam sendo abduzidos por alienígenas. O nonsense e o humor do autor permanecem presentes, compondo uma história divertida, repleta de referências à cultura pop como ao milharal de Sinais, filme de M. Night Shyamalan; o apresentador Giorgio Tsoukalos, do programa Alienígenas do Passado, do canal History Channel; um sabre de luz de Star Wars pendurado ao lado de instrumentos de abate e corte de animais; e ainda um Michael Jackson em uma câmara criogênica; entre outros.

    Mas nem tudo são flores, Duarte parece inicialmente desconfortável. Se um dos pontos altos de sua obra é seu dinamismo, transformando os personagens em seres que parecem se movimentar quadro a quadro – quase como uma animação -, aqui em alguns momentos a narrativa sequencial parece truncada, com a ação, que deveria ser eletrizante, quase desconectada da proposta da própria história. Talvez as poucas páginas tenham prejudicado o resultado final, e isso fica claro em algumas concessões feitas para desenvolver a narrativa, como a utilização de balões de textos, algo não muito comum em seus quadrinhos com tramas mudas.

    Apesar disso, Pavor Espaciar é uma história divertida, destacada pelo traço limpo e funcional de Duarte com o acréscimo de ainda ser colorizado, diferentemente de alguns de seus quadrinhos independentes. Alem da trama, o álbum possui um texto de abertura de Mauricio de Sousa — assim como acontece em todas as graphics — e ainda um texto de quarta capa de Roger Moreira, vocalista da banda Ultraje a Rigor.

    Longe de ser um álbum tão bem realizado e comentado quanto os trabalhos anteriores em Astronauta e Turma da Mônica, ou mesmo Piteco, pelo paraibano Shiko, Chico Bento – Pavor Espaciar é bastante subestimado pelos seus leitores, mas que no geral, tem muitos mais pontos positivos do que o contrário.

    Compre: Chico Bento – Pavor Espaciar.

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  • Resenha | Penadinho: Vida

    Resenha | Penadinho: Vida

    A iniciativa Graphic MSP idealizada pelo editor Sidney Gusman tem como proposta a releitura dos personagens de Maurício de Sousa, cada artista teria uma certa liberdade para tratar de determinados personagens, garantindo novos olhares e possibilidades de abordagem dos mesmos.

    Nesta linha que foi lançado Penadinho – Vida, de Cristina Eiko e Paulo Crumbim. Os autores, que além de quadrinistas também trabalham com animação, se destacaram, principalmente, com o projeto Quadrinhos A2, no qual chegaram a ganhar um prêmio HQ Mix de “melhor publicação independente de autor”.

    A obra retrata um dilema vivido pelo personagem principal Penadinho, que recebe a notícia que o seu amor Alminha irá reencarnar e, portanto, o romance vivido pelos dois chegará ao fim. Essa trama básica demonstra uma interessante alteração do princípio de “até que a morte os separe” para “até que a vida os separe”. Mas, passado essa questão bacana, há outras questões a serem observadas no quadrinho.

    Em primeiro lugar se trata de uma trama bastante simples, uma aventura da Turma do Penadinho como outra qualquer. Para ficarmos em uma comparação dentro do mesmo projeto MSP, os irmãos Vitor e Lu Cafaggi ao produzirem Turma da Mônica – Laços também narram uma aventura simples da Turma da Mônica, porém, o fazem com personagens carismáticos em uma história emotiva e com um certo tom nostálgico, o que não pode ser dito sobre Penadinho.

    A leitura deixa sempre a sensação de que falta algo, é tudo muito normal, ordinário. E, contribuindo com essa sensação, se destaca a personagem Alminha, que é fundamental para a trama, mas em momento algum consegue transparecer qualquer carisma, o que me levou a pensar em um dado momento se o Penadinho não merecia alguém melhor para passar a eternidade.

    Mas, se a trama deixa um pouco a desejar, o mesmo não pode ser dito da arte, que é sensacional. As cores utilizadas e o próprio design de personagens é incrível, realmente digno de elogios, mostrando toda a capacidade e competência dos autores no aspecto arte sequencial. Percebe se uma fluidez no traço que agrada durante toda a leitura. Outro ponto interessante são as referências utilizadas pelos autores ao longo da narrativa, desde clássicos do cinema de terror, como também outras obras do Mauricio.

    Bem, não se trata dos melhores lançamentos da minha Graphic MSP, mas também não se enquadra entre os piores. Muitas das vezes geramos muita expectativa em relação a um determinado produto e quando essa sensação não é correspondida acaba por gerar uma certa frustração. Enfim, devido aos autores esperava um pouco mais desse trabalho, o que de modo algum signifique dizer que não se deve ler o quadrinho, apenas que não vá com muita sede ao pote.

    Compre: Penadinho – Vida.

    Texto de autoria de Douglas Biagio Puglia.

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  • Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1

    Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1

    Em agosto de 2012 a editora Panini lançou As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1, seguindo o mesmo formato de livros em que publicou as primeiras historinhas da Turma da Mônica quatro anos antes. No mesmo mês, as bancas brasileiras veriam a revista As Melhores Histórias do Pelezinho, republicando mensalmente conteúdo publicado 40 anos antes pela Editora Abril. A proximidade com a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, pode ter sido o motivo para que Pelezinho – a adaptação para os quadrinhos do mais famoso jogador de futebol do mundo –  voltasse dos anos 70 em pleno século 21!

    Mas antes de falar sobre a edição em si, vamos tirar o elefante da sala de estar: muito conteúdo desse material seria impensável nos dias de hoje, por conter elementos hoje considerados politicamente incorretos e estereótipos racistas e sexistas. Não que as histórias sejam preconceituosas em si, mas tanto a representação do personagem principal quanto dos seus amigos coadjuvantes negros, estão hoje bastante datados e podem soar até mesmo ofensivos. Logo na primeira página de quadrinhos vemos a expressão “a conversa ainda não chegou na cozinha”. Em outras tirinhas, piadas com os lábios de personagens negros, com meninas que não entendem de futebol, crianças falando palavrões, pessoas armadas, e gags baseadas em características físicas dos personagens (baixinho, gordo, etc.). A própria representação do rosto do personagem Pelezinho – sem nariz e com um círculo ao redor da boca para representar lábios grossos – foi abolida pela Mauricio de Sousa Produções a partir de dezembro de 2013, quando essas características foram redesenhadas nas republicações. Mas é importante lembrar que essas tirinhas são produtos de uma época e, mesmo apresentando tais estereótipos, foi significativo por ter em bancas durante muito tempo histórias em quadrinhos com um protagonista negro (ainda que Pelezinho e sua turma não interagissem com os personagens de Mauricio do Bairro do Limoeiro). Ressalte-se que, ao fim da edição existe um trabalho de contextualização. Dito isso, sigamos para a análise das histórias.

    Pelezinho é retratado como um garoto de sete anos que ama futebol e tem um chute muito potente. É interessante notar o quanto o tema futebol é abrangente o suficiente para se fazer diversas tirinhas humorísticas sem se tornar algo cansativo. Mesmo com a repetição de situações (recurso comum no humor), cada tirinha tem seu jeito peculiar, sua graça, sua beleza e leveza. Pelezinho comemora seus gols (e de outros jogadores, quando ouve a narração em um radinho de pilha colado ao ouvido) com seu famoso pulinho socando o ar. Esse simples gesto gera várias piadas, nas quais o pulo alça cada vez maiores alturas, ou o “soquinho” no ar acerta algo inadivertidamente. O mesmo vale para seus poderosos chutes, que quebram não apenas vidraças, mas muros, paredes, e derrubam até aviões! O chute do Pelé (como ele é chamado nas primeiras tiras, com o tempo mudando para o diminutivo) rivaliza em potência com uma coelhada da Mônica!

    O elenco coadjuvante vai, aos poucos, demonstrando suas características e, lá pelo meio do volume, já sabemos o que esperar de cada um. Frangão, um garoto mais alto e magro que o resto da turma, é o goleiro que nunca consegue segurar uma bola chutada por Pelezinho, e vez por outra é também o árbitro das partidas. Cana Braba é o garoto rústico e um tanto lento para entender as coisas ao seu redor, que fala muito palavrão e leva tudo ao pé da letra. A voluptuosa Bonga é uma garota com corpo um tanto desenvolvido para a sua idade, que chama a atenção dos meninos do bairro com sua aparência sem perceber. Rex é o cachorro semi-antropomórfico e um dos poucos personagens cujas histórias se permitem fugir do tema futebol (geralmente caindo no cliché do cão que foge da carrocinha).

    As tirinhas não apresentam data de publicação, mas é possível perceber a evolução do traço dos personagens, que começam com as famosas bochechas “pontudas” e passam a ter traços mais arredondados ao fim do volume. É possível perceber, perto do fim, a contribuição de diferentes desenhistas – principalmente nas tirinhas que apresentam personagens mais “fofinhos” e com tomadas de cena em ângulos diferentes, típicos do final dos anos 70. Infelizmente, à época da publicação, a MSP não creditava seus artistas em cada história como tem sido feito hoje em dia nas revistas mensais. O prefácio é escrito pelo próprio Pelé, e conta como foi se tornar um personagem de quadrinhos na época. Além disso, há notas explicativas ao fim do volume (poucas, mas necessárias).

    As Tiras Clássicas do Pelezinho é um ótimo material, mas pode precisar de alguma contextualização, principalmente para os leitores mais jovens. Afinal, existem gírias e expressões de sua época, bem como termos e jargões do futebol – e da “pelada” de rua – que podem soar estranhas hoje em dia. Os diálogos foram reeditados para as normas atuais da língua portuguesa, e o trabalho de diagramação não deixa nada a desejar. O álbum tem potencial para agradar fãs de quadrinhos e de futebol de todas as idades!

    Compre: As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1.

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  • Resenha | Piteco: Ingá

    Resenha | Piteco: Ingá

    O projeto Graphic MSP, nascido da iniciativa de seu editor, Sidney Gusman, em conjunto com Maurício de Sousa, consiste na releitura desses personagens por outros autores em uma linguagem diferente daquela habitualmente apresentada. Pode-se dizer que se trata de uma forma de captar os antigos fãs que envelheceram, propor novas formas de escrever as personagens ou mesmo proporcionar novos contextos e abordagens para figuras que já estão mais do que enraizados no imaginário nacional. Além disso, esse projeto proporcionou uma grande exposição dos artistas nacionais envolvidos no projeto.

    Dentro desta proposta uma das histórias apresentadas foi Ingá, do artista paraibano Shiko (Francisco José Couto Leite), que buscou uma releitura do Piteco, o carismático homem das cavernas de Maurício de SouSa. Além de “Ingá” o autor se destaca com outras obras como a adaptação do romance O Quinze, O Azul indiferente do Céu e Lavagem, já foi ganhador do Troféu HQ Mix e do prêmio Angelo Agostini, além de já ter participado de várias mostras nacionais e internacionais.

    “Ingá” se destaca em vários âmbitos e possibilidades, mas o primeiro deles é a contextualização e caracterização dos personagens. Piteco é um homem das cavernas muito parecido com o estereótipo padrão deste tipo de personagem – clava na mão, vestido com peles e um jeito rústico. O principal mérito do autor, ao meu ver, foi o de trazer o personagem para algo mais factível, adulto – conforme a própria proposta das graphics – e próximo da pré-história brasileira (termo polêmico esse, como existe algo antes da história? Mas deixa pra lá…). Shiko transforma Piteco, o homem das cavernas genérico, em uma espécie de participante de tribo indígena brasileira que viveu por volta de 5 mil anos a.C. fazendo com que a personagem passasse a possuir uma identidade mais plausível para um público mais velho e próximo de nossa realidade.

    Aliás, próximo da realidade do próprio autor, uma vez que a história se passa na Paraíba: o título Ingá se refere a Pedra do Ingá, monumento arqueológico repleto de arte rupestre e importante marco da arqueologia brasileira. Em outras palavras, Piteco passou a ter um lugar entalhado em nossa história. O próprio roteiro está intimamente ligado a esta arte rupestre, quase como uma livre interpretação do autor sobre o significado daqueles símbolos, uma vez que ainda não há consenso entre os estudiosos sobre esse tema. A arte complementa muito bem todo esse panorama, pois apresenta um traço mais real, menos cartunesco, fugindo da concepção de Maurício de Sousa, e apresentando uma leitura inovadora que representa muito bem a personagem.

    Outro destaque é a forma como o autor utiliza de elementos indígenas como o Arapó-Paco (representação do Curupira na história), M-Buantan (mais conhecida como Boitatá), Anhanguera, que possui vários significados, mas aqui tratado como um imenso pássaro voador, enfim, se apropriando de um conjunto de mitos para aproximar e dar mais consistência para o antigo Piteco.

    Poderia ainda ficar escrevendo por muito tempo sobre as virtudes de Piteco: Ingá, mas o melhor que posso fazer é indica-la fortemente. Certamente uma das melhores releituras de personagens de Maurício de Sousa até hoje.

    Compre: Piteco – Ingá.

    Texto de autoria de Douglas Biagio Puglia.

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  • Resenha | Bidu: Caminhos

    Resenha | Bidu: Caminhos

    Desenhada e escrita por Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho (Achados e Perdidos, Quiral), Bidu – Caminhos foi o ponto inaugural da fase dois das Graphic MSP, e continuou no rastro deixado pelos irmãos Caffagi, em Turma da Mônica – Laços, no sentido de remeter a nostalgia e pureza das crianças. Os mineiros apresentam uma história que demonstra o primeiro encontro entre Bidu e Franjinha, que faz um apelo à sua mãe para que finalmente tenha um animal de estimação.

    As cores da revista são lindíssimas e vigorosas, fazendo lembrar o trabalho de Cris Peter em Astronauta – Magnetar. A historia é contada sob o ponto de vista do animal, que possui uma linguagem própria entre ele e outros cães, diferenciando assim dos personagens humanos. Com poucas palavras, a história estabelecida levanta temas como cadeia de hierarquia, tanto alimentar quanto de poder, além de mostrar as agruras pelos quais passam a população canina nas ruas das cidades brasileiras. Para o leitor que gosta de animais domésticos a empatia é praticamente automática, em especial graças ao singelo traço empregado na revista e no conteúdo sentimental imposto na história.

    A trama ainda evoca uma inevitabilidade na vida de Franjinha e seu mascote, como se fosse destino de ambos se encontrarem, dependendo então a felicidade de um com o outro a partir daí. Mesmo os desencontros entre eles só ajudam a demonstrar o quanto um está fadado a ser feliz com o outro.

    De certa forma, o processo criativo de Damasceno e Garrocho serve de comentário linguístico a relação de Franjinha e Bidu,  já que os artistas preparam textos, cores e desenhos juntos, processo que tem algumas semelhanças com o visto nos irmãos Fábio Bá e Gabriel Moon em Daytripper e outros produtos. A ternura com que Caminhos é apresentada começa com essa simbiose presente no trabalho de seus autores, que conseguem dar uma boa versão para o personagem pioneiro da carreira de Mauricio.

    Compre: Bidu – Caminhos.

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  • Resenha | Astronauta: Magnetar (1)

    Resenha | Astronauta: Magnetar (1)

    Quando, após vinte anos na Editora Globo, o Estúdio Maurício de Sousa migrou para a Panini Comics em 2007, a parceria com a nova editora ampliou o resgate da Turma da Mônica em reedições do início de cada personagem, bem como a publicação de edições especiais e de encadernados com as tiras de jornal. Dois anos após a estreia na casa nova, as celebrações para a carreira cinquentenária de Maurício de Sousa foi o ponto de partida para três edições comemorativas (MSP 50, MSP +50 e MSP Novos 50) reunindo diversos artistas brasileiros compondo histórias em homenagem a Turma da Mônica.

    O selo Graphic MSP surgiu a partir da boa recepção dessas três coletâneas e possibilitou uma abordagem inédita na obra de Maurício de Sousa: a reinterpretação de seus personagens por outros autores em uma história fechada. Escolhido como o primeiro projeto desta nova linha editorial, o personagem Astronauta foi revisto por Danilo Beyruth e Cris Peter.

    Lançado em setembro de 2012, Astronauta – Magnetar causou um forte impacto desde o início. Um novo formato apresentando as clássicas personagens conhecidas pelo público, dessa vez, em uma vertente diferente, mais adulta pelo que sugeririam as divulgações da época. No prefácio que abre a edição, Sousa afirma que criou o Astronauta como forma de competir com outros personagens da época voltados para a ficção científica. Claro que o fez em seu estilo, um garoto carismático que fazia parte de uma organização brasileira dedicada aos astronautas, a BRASA. O conceito infantil, tônica de sua obra desde a criação é deixado de lado nessa história que se aprofunda em bases da ficção científica para gerar contraponto entre o Astronauta, um homem solitário em missões perigosas contra a vastidão do universo, imenso e silencioso.

    Na trama, o personagem realiza uma missão para estudar um magnetar, uma estrela de nêutrons com um forte campo magnético, quando comete um erro que pode lhe custar a vida. Como muitas obras de ficção científica, é o cerne humano que está em discussão, contrapondo a solidão de um náufrago sendo obrigado a lidar com as adversidades do espaço e a angústia interna, lutando pela sobrevivência.

    A simplicidade do roteiro de Beyruth é o destaque da trama, focada com precisão no drama, sem excessos, mas suficiente forte para demonstrar como o projeto das graphic novels produzia uma nova linha narrativa da obra de Maurício. Seu astronauta é um adulto quase amargo, resgatando do passado bonitas lições nostálgicas, como as conversas com o avô, e memórias duras como o amor perdido.

    As composições dos quadros em cada página apresentam a dimensão do espaço contrastando-a com a solidão da personagem e, brevemente, retomando a sua infância, conectando-o com as origens fundamentadas por Maurício na versão clássica. Em um roteiro tradicional que cumpre seu objeto de trazer uma nova ótica após 50 anos de uma mesma versão do personagem. Ainda que pareça cedo afirmar, o selo MSP Graphic Novel é um dos marcos contemporâneos dos quadrinhos brasileiros, sem dúvida.

    Compre: Astronauta – Magnetar

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  • Resenha | Turma da Mata: Muralha

    Resenha | Turma da Mata: Muralha

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    Um dos grandes problemas ao se trabalhar com releituras de personagens, independente de sua mídia, está na dificuldade de se desenvolver conceitos originais para o universo em questão ou ainda na perda de identidade dessas personagens. A grande proposta das Graphic’s MSP, idealizada por Maurício de Sousa e o editor Sidney Gusman, está alicerçada justamente na ideia de propor reinterpretações das criações do Mauricio, sempre buscando um tom mais intimista e autoral, talvez com exceção apenas de Pavor Espaciar, do Chico Bento.

    O grande problema de Turma da Mata: Muralha está na propositura de seu conceito maduro e autoral, algo que infelizmente deixa muito a desejar aos leitores que já haviam apontado certas irregularidades em algumas publicações anteriores, um fator que em Turma da Mata se torna mais evidente.

    Muralha, história que se propõe a reinterpretar os queridos Jotalhão, Raposão, Coelho Caolho e cia., traz o trabalho artístico de Roger Cruz, nos desenhos, e David Calil, nas cores, e os roteiros de Artur Fujita, certamente o principal calcanhar de Aquiles desse trabalho.

    Na trama, acompanhamos uma guerra envolvendo um rei tirano e a Turma da Mata envolta de um elemento natural chamado Calerium, o qual em contato com a água produziria vapor e seria o principal responsável pela geração de energia neste mundo, motivando embates políticos e possíveis guerras com sua escassez. Um argumento que se torna estopim para o desenrolar da história.

    Ainda que este suposto elemento natural gere vapor e seja fonte de energia da trama, estabelecendo uma justificativa possível para termos uma história ambientada numa temática steampunk, Fujita deixa isto de lado, não fazendo a menor importância se estes recursos são o Calerium, petróleo ou carvão, já que isso não acrescenta em nada na trama. Felizmente, Cruz e Calil conseguem abordar um pouco dessa ambientação em seus cenários e na paleta de cores escolhidas. É verdade que a arte abusa dos dentes rangendo, caras raivosas e cenas de luta confusas, mas isso é o menor dos problemas de Muralha.

    Os clichês típicos da jornada do herói estão presentes, dessa vez ambientados numa trama aos moldes do herói mítico inglês, Robin Hood. A suposta trama política deixa a desejar, não porque esperava um tratado político em formato de quadrinhos, mas algo minimamente bem trabalhado, quando na realidade o que temos à frente é apenas bobo e raso, e isso fica claro nos diálogos, personagens e roteiro como um todo. Diferentemente das histórias originais escritas pelo Maurício ou alguns de seus roteiristas.

    Se o diferencial das demais graphic novels era a releitura das criações de Mauricio de Sousa, o mesmo não pode ser dito sobre a Turma da Mata. Personagens unidimensionais e pouquíssimos explorados em suas características e motivações próprias beirando o ridículo, como se demonstra na figura dos vilões da trama, sem qualquer carisma ou charme típico dos antagonistas de qualquer história de ação e aventura.

    Com alguns poucos momentos de inspiração, a aventura se mostra extremamente decepcionante. Não se sabe ao certo qual era o objetivo dos autores, mas Muralha parece uma tentativa de emular os quadrinhos de heróis dos anos 90, infelizmente com o que se tinha de pior. A falta de identidade, foco e personalidade dá o tom à obra.

    Compre: Turma da Mata – Muralha

  • Resenha | MSP 50 Artistas

    Resenha | MSP 50 Artistas

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    A importância de 50 anos de carreira é sempre um marco louvável que marca homenagens e edições especiais, não importando qual a vertente artística do autor. Celebrando o cinquentenário em 2009, a obra de Maurício de Sousa recebeu homenagens diversas e foi prestigiada de maneira inédita em uma edição especial reunindo 50 artistas de quadrinhos, que recriam os populares personagens com traços diferentes daqueles fundamentados pelo quadrinista.

    No prefácio que abre MSP 50 – Maurício de Sousa por 50 Artistas, o editor Sidney Gusman ressalta a especialidade desta comemoração e a fonte de inspiração da homenagem vinda de uma edição comemorativa dos 80 anos de Albert Uderzo, um dos criadores do Asterix. O sucesso da edição foi tamanho que dois outros volumes surgiram em seguida, além de uma edição dando maior liberdade aos desenhistas e roteiristas da Maurício de Sousa Produções.

    Esta edição comemorativa, lançada em capa dura pela Panini Comics, apresenta 50 autores com suas interpretações pessoais de personagens clássicas de Maurício, promovendo uma gama de leituras e estruturas quadrinescas diferenciadas, como charges, tiras e narrativas curtas. A pluralidade é o grande argumento destas visões, algo trabalhado para que cada autor desse sua visão pessoal e artística sobre tais personagens. Ainda que todas as histórias tenham diferenças entre si, a homenagem explícita se mantém em diversas histórias. Parte dos autores preferiu transformar sua trama em um parabéns agradecido ao autor, bem como poucos que possuíam personagens populares próprios realizaram um crossover entre universos.

    Em maior ou menor grau, a interpretação pessoal se destaca. Outra boa parte das narrativas causa impacto pela diferença do estilo e do equilíbrio entre homenagem e conceito próprio, caso do conhecido Ivan Reis, oriundo dos quadrinhos de heróis, que cria um vilanesco Cebolinha, ou de Fabio Yabu, que promove uma ficção científica reflexiva sobre a infância. Outros nomes desconhecidos, até então, por minhas leituras, se destacam, como Otoniel Oliveira, que realiza uma bela história com Franjinha e Marina; Samuel Casal, cuja atmosfera e ausência de cores se adequaram perfeitamente ao Penadinho; e Erica Awano e seu traço em mangá no ambiente rural de Chico Bento. Três exemplos que se sobressaem visualmente pela diferença dos traços tradicionais da turminha, com perspectivas particulares deste universo.

    Graças à popularidade de seus personagens, as histórias dessa edição são especiais pela leitura pessoal no ideário de cada um. Destaca-se a importância deste ou daquele personagem, a maneira sensível pelo qual cada artista compõe sua trama a partir do cânone, sem perder a identificação emotiva, afinal a leitura primordial da Turma da Mônica é feita na tenra idade, um batismo universal para a maioria dos leitores brasileiros de quadrinhos.

    A comemoração dos 50 anos de carreira de Maurício de Sousa é coerente com a força de seu trabalho, reconhecido mundialmente e um dos grandes destaques brasileiros nos quadrinhos. Porém, a interpretação de cada homenagem produz momentos delicados. Afinal, neste 50 anos, o criador da Mônica trabalhou ao lado de uma equipe cujos créditos nunca foram devidamente apontados. Infelizmente, muito material produzido em décadas passadas foi assinado coletivamente por uma equipe cujo líder é Maurício de Sousa, o autor e empresário simultaneamente. Dessa forma, algumas destas homenagens, ao afirmarem sobre o seu cinquentenário, dão a impressão de que sua carreira foi fundamentada de maneira solo, sem o apoio desta equipe que, somente em lançamentos atuais, ganhou o devido crédito pelo trabalho. Uma afirmativa que não retira o talento fundamentado em anos de criação, mas que deve ser pontuado para evitar qualquer centralização indevida.

    Mesmo com este problema, que ainda deve ser sanado pelos estúdios, Maurício de Sousa é um dos grandes quadrinistas brasileiros, e sua força é demonstrada nessa homenagem que espelha suas personagens e a tradição fundamentada por elas, sendo mais um marco na trajetória deste autor ímpar.

  • VortCast 35 | Maurício de Sousa

    VortCast 35 | Maurício de Sousa

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    Bem-vindos a bordoFlávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira e Thiago Augusto Corrêa (@tdmundomente) recebem Vinício dos Santos (@vinisan), do site Puxa Cachorra!, para comentar da carreira de Maurício de Sousa, suas origens, polêmicas, mercado e nostalgia nesse podcast que comemora os 80 anos do homem à frente da Turma da Mônica e tantos outros personagens.

    Duração: 89 min.
    Edição: Flávio Vieira e Thiago Augusto Corrêa
    Trilha Sonora: Victor Marçon, do site BasePoint 
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Comentados na Edição

    Iniciativa: 80 anos de Maurício de Sousa
    Puxa Cachorra!

    Lançamento do livro Puxa Cachorra! – As melhores listas

  • Resenha | Turma da Mônica – Laços

    Resenha | Turma da Mônica – Laços

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    Você nasceu nos anos 70? Anos 80? 90? 2000? Isso não importa. Se você já leu as histórias dessa galerinha, você com certeza passou a respeitar a turma de Maurício de Sousa, se é que não passou a tratá-los como seus amigos achegados.

    Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali com certeza são os maiores ícones dos quadrinhos infanto-juvenil nacional e tem o carinho de milhões de brasileiros, e de pessoas ao redor do mundo, não importa se são crianças ou adultos. E no ano de 2013 (ano em que a dentuça completa 50 anos) somos presenteados com uma aventura diferente, sensível e fascinante sobre o valor da verdadeira amizade e lealdade.

    Ficou meio clichê, não é? Sim, é verdade, mas isso não deixa de ser uma boa definição da história. Mas saibam meus amigos que o clichê não necessariamente significa algo ruim. Quando bem aplicado pode nos apresentar uma história simples e tocante como Laços, dos irmãos Cafaggi.

    Vitor e Lu Cafaggi contam a história do sumiço do Floquinho (aquele cachorro do Cebolinha que você nunca sabe onde é o rabo e onde é a cabeça dele), e da turma saindo pela cidade atrás do cãozinho.

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    A história tem vários easter eggs que vão agradar em cheio aos leitores mais atentos, mas muito mais que isso, os irmãos Cafaggi entregam um trabalho feito de coração e tratando com extremo carinho essa turma tão querida. Você vai encontrar muito do filme Conta Comigo na história, com uma pitada de Os Goonies, entre outros filmes oitentistas sobre amizade que todos nós curtimos na nossa infância. Inclusive, tudo na graphic novel gira em torno da amizade, da amizade verdadeira,  dos laços eternos, e feito com uma sensibilidade tamanha que faz toda a história soar natural.

    Os desenhos e o capricho da edição também são outros pontos fortes. A fotografia, assim como os desenhos (não que eu seja um expert no assunto, mas mesmo assim é algo bem perceptível) são feitos para trazer esse clima antigo, como se a história se passasse a muito tempo, como se fosse você, leitor, relembrando aqueles momentos marcantes da sua infância.

    Intimista! Talvez essa seja a palavra que melhor defina Laços. Não é uma história espetacular, inovadora ou surpreendente (apesar de que imagino que você realmente não espere isso da Turma da Mônica), porém é uma história que te puxa pra sua infância, que te faz relaxar, dar aquela risada gostosa de quando a sessão da tarde era boa e acima de tudo, te faz lembrar mais uma vez o porquê você sempre gostou tanto da turminha do bairro do Limoeiro.

    Compre aqui.

    Texto de autoria de Diogo G.

  • Agenda Cultural 37 | Especial: Quadrinhos

    Agenda Cultural 37 | Especial: Quadrinhos

    Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Jackson Good (@jacksgood), Felipe Morcelli (@multiversodc), recebem Delfin (@delreydelfin) e Sidney Gusman(@sidneygusman), um dos maiores editores nacionais, responsável pelo consagrado projeto dos MSP 50, editor do Universo HQ, um dos principais sites sobre quadrinhos no Brasil. Nessa edição discutimos sobre o cenário nacional e independente, o crescimento e nascimento de editoras publicando quadrinhos, a famigerada lei de cotas e os grandes destaques de 2011. (mais…)