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  • Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 2

    Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 2

    Com os personagens da Turma do Pelezinho já consolidados no primeiro volume, As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol 2 nos mostra uma expansão das possibilidades de piadas sobre futebol, mas também um pouco mais da personalidade de cada integrante da turminha. Obviamente, um ou outro ganha mais destaque que o restante (que seriam mais explorados na revista mensal que começou a ser publicada pouco depois da estreia nas tiras de jornais), e nesse volume vemos muitas histórias com o personagem Frangão. A princípio apenas o goleiro da turminha, Frangão se aventura também como árbitro dos jogos em várias histórias, revezando sua função em campo e sendo bem incompetente em ambas. Óbvio que, tanto como árbitro ou goleiro, as situações que surgem são tão inusitadas quanto engraçadas, e vemos que mesmo apesar de sua inabilidade, Frangão nunca desiste e seu maior sonho é defender um gol do Pelé.

    Cana Braba também tem sua personalidade explorada, e seu temperamento explosivo é ainda mais visível nesse volume. Muitas piadas giram em torno do robusto garoto arrumando briga em campo, não sabendo perder e falando muitos palavrões – devidamente representados pelas cobrinhas e caveiras nos balões, como de costume na época. Já as personagens femininas continuam com os papéis relegados às mulheres nesse período histórico: não entendem nada de futebol, servindo apenas como torcida ou atrapalhando o jogo, além de piadas de teor sexual envolvendo Bonga e gags de cozinha com os terríveis quitutes de Samira.

    Ao personagem-título, ficam as piadas envolvendo seu ultra-potente chute e a capacidade de fazer embaixadinhas com absolutamente qualquer objeto. O carisma do personagem aumenta ainda mais nesse volume, principalmente através dos traços mais “fofinhos” e com as cenas representadas por ângulos diferenciados. Infelizmente, ainda não era costume creditar os artistas devidamente nessa época, sendo tudo considerado apenas obra do Mauricio.

    O final do livro apresenta, novamente, um glossário com os termos usados no futebol, notas contextualizando a época em que foram produzidas as tiras e os termos que não são mais usados nas histórias de hoje por serem politicamente incorretos. Essa segunda edição foi a última das tiras clássicas, que infelizmente não teve mais continuação, deixando muito material ainda sem o devido cuidado gráfico da Panini.

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  • Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1

    Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1

    Em agosto de 2012 a editora Panini lançou As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1, seguindo o mesmo formato de livros em que publicou as primeiras historinhas da Turma da Mônica quatro anos antes. No mesmo mês, as bancas brasileiras veriam a revista As Melhores Histórias do Pelezinho, republicando mensalmente conteúdo publicado 40 anos antes pela Editora Abril. A proximidade com a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, pode ter sido o motivo para que Pelezinho – a adaptação para os quadrinhos do mais famoso jogador de futebol do mundo –  voltasse dos anos 70 em pleno século 21!

    Mas antes de falar sobre a edição em si, vamos tirar o elefante da sala de estar: muito conteúdo desse material seria impensável nos dias de hoje, por conter elementos hoje considerados politicamente incorretos e estereótipos racistas e sexistas. Não que as histórias sejam preconceituosas em si, mas tanto a representação do personagem principal quanto dos seus amigos coadjuvantes negros, estão hoje bastante datados e podem soar até mesmo ofensivos. Logo na primeira página de quadrinhos vemos a expressão “a conversa ainda não chegou na cozinha”. Em outras tirinhas, piadas com os lábios de personagens negros, com meninas que não entendem de futebol, crianças falando palavrões, pessoas armadas, e gags baseadas em características físicas dos personagens (baixinho, gordo, etc.). A própria representação do rosto do personagem Pelezinho – sem nariz e com um círculo ao redor da boca para representar lábios grossos – foi abolida pela Mauricio de Sousa Produções a partir de dezembro de 2013, quando essas características foram redesenhadas nas republicações. Mas é importante lembrar que essas tirinhas são produtos de uma época e, mesmo apresentando tais estereótipos, foi significativo por ter em bancas durante muito tempo histórias em quadrinhos com um protagonista negro (ainda que Pelezinho e sua turma não interagissem com os personagens de Mauricio do Bairro do Limoeiro). Ressalte-se que, ao fim da edição existe um trabalho de contextualização. Dito isso, sigamos para a análise das histórias.

    Pelezinho é retratado como um garoto de sete anos que ama futebol e tem um chute muito potente. É interessante notar o quanto o tema futebol é abrangente o suficiente para se fazer diversas tirinhas humorísticas sem se tornar algo cansativo. Mesmo com a repetição de situações (recurso comum no humor), cada tirinha tem seu jeito peculiar, sua graça, sua beleza e leveza. Pelezinho comemora seus gols (e de outros jogadores, quando ouve a narração em um radinho de pilha colado ao ouvido) com seu famoso pulinho socando o ar. Esse simples gesto gera várias piadas, nas quais o pulo alça cada vez maiores alturas, ou o “soquinho” no ar acerta algo inadivertidamente. O mesmo vale para seus poderosos chutes, que quebram não apenas vidraças, mas muros, paredes, e derrubam até aviões! O chute do Pelé (como ele é chamado nas primeiras tiras, com o tempo mudando para o diminutivo) rivaliza em potência com uma coelhada da Mônica!

    O elenco coadjuvante vai, aos poucos, demonstrando suas características e, lá pelo meio do volume, já sabemos o que esperar de cada um. Frangão, um garoto mais alto e magro que o resto da turma, é o goleiro que nunca consegue segurar uma bola chutada por Pelezinho, e vez por outra é também o árbitro das partidas. Cana Braba é o garoto rústico e um tanto lento para entender as coisas ao seu redor, que fala muito palavrão e leva tudo ao pé da letra. A voluptuosa Bonga é uma garota com corpo um tanto desenvolvido para a sua idade, que chama a atenção dos meninos do bairro com sua aparência sem perceber. Rex é o cachorro semi-antropomórfico e um dos poucos personagens cujas histórias se permitem fugir do tema futebol (geralmente caindo no cliché do cão que foge da carrocinha).

    As tirinhas não apresentam data de publicação, mas é possível perceber a evolução do traço dos personagens, que começam com as famosas bochechas “pontudas” e passam a ter traços mais arredondados ao fim do volume. É possível perceber, perto do fim, a contribuição de diferentes desenhistas – principalmente nas tirinhas que apresentam personagens mais “fofinhos” e com tomadas de cena em ângulos diferentes, típicos do final dos anos 70. Infelizmente, à época da publicação, a MSP não creditava seus artistas em cada história como tem sido feito hoje em dia nas revistas mensais. O prefácio é escrito pelo próprio Pelé, e conta como foi se tornar um personagem de quadrinhos na época. Além disso, há notas explicativas ao fim do volume (poucas, mas necessárias).

    As Tiras Clássicas do Pelezinho é um ótimo material, mas pode precisar de alguma contextualização, principalmente para os leitores mais jovens. Afinal, existem gírias e expressões de sua época, bem como termos e jargões do futebol – e da “pelada” de rua – que podem soar estranhas hoje em dia. Os diálogos foram reeditados para as normas atuais da língua portuguesa, e o trabalho de diagramação não deixa nada a desejar. O álbum tem potencial para agradar fãs de quadrinhos e de futebol de todas as idades!

    Compre: As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1.

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  • Crítica | Pelé: O Nascimento de Uma Lenda

    Crítica | Pelé: O Nascimento de Uma Lenda

    O filme dos irmãos Michael  e Jeffrey “Jeff” Zimbalist começa com uma narração em inglês, a respeito de um jogo decisivo da Copa do Mundo de 1958, a primeira conquistada pelo escrete canarinho, em que um jogador de apenas 17 anos estava prestes a entrar, Edson Nascimento, interpretado por Kevin de Paula, e que viria a se tornar a lenda dos gramados Pelé, o eterno camisa dez do Santos e seleção.

    Os próximos momentos mostram uma sequência em Bauru, com garotinhos fazendo bagunça no meio de uma comunidade carente, onde os menininhos falavam inglês, enquanto se distraiam durante o dia da final entre Uruguai e Brasil em pleno Maracanã. A tentativa dos diretores é de reconstruir o passado do atleta do século por meio de pequenos contos que valorizam a humildade do povo pobre brasileiro, o problema é que isso tudo é extremamente caricatural. O jogo de várzea entre Kings x Shoeless Ones (sim, o nome dos times compostos por crianças é em inglês também) é mostrado de maneira bastante grosseiro e o pretexto de Waldermar de Brito (Milton Gonçalves) estar lá como olheiro do Santos Futebol Clube é explorado de maneira pouco realista. É nesse momento que o apelido pejorativo de Pelé pega no menino, que antes era chamado de Dico, executado por Leonardo Lima Carvalho.

    Há participações pontuais de atores brasileiros como Seu Jorge, Bruce Gomlevsky, André Mattos, Fernando Caruso, entre outros. Todos esses atores estão lá basicamente para acenar para a plateia, uma vez que suas participações na trama são bastante dispensáveis.

    Felipe Simas interpreta Mané Garrincha e tenta entregar um desempenho que passe além da caricatura, mas o texto entregue não colabora com o esforço interpretativo. Igualmente fraca é a causa pessoal que envolve a motivação do rapaz em substituir Mazzola (Diego Boneta), que na juventude humilhava o jovem, sendo ele o responsável pelo apelido de “Pelé”. Obviamente que essa cisma jamais ocorreu de fato, tampouco a presença de Pelé entre os suplentes, fato que é uma mentira tratada como fato tantas vezes que entrou nos anais históricos como se de fato tivesse ocorrido. Essa mudança não seria algo necessariamente ruim caso houvesse uma função narrativa minimamente inteligente para essas alterações, contudo não é o que acontece.

    Ao longo da projeção o filme passa uma mensagem de que a ginga brasileira seria o elemento catalisador do futebol arte que traria o êxito à seleção brasileira. Em uma sequência próxima dos minutos finais os jogadores do plantel de Vicente Feola dão vazão a alegria de jogar futebol, basicamente tabelando com os bastidores do hotel onde estão. Por mais ridícula que seja toda a sequência, incluindo aí uma aparição rápida do real Pelé, esse é um dos poucos momentos em que os atores parecem ter qualquer rastro de brasilidade, e infelizmente, esse momento é cortado por um discurso de Vincent D’Onofrio, que encarna Feola, para basicamente nos lembrarmos que se trata de um filme inteiramente americano sobre a maior lenda do futebol brasileiro.

    Os narradores estadunidenses chamam o craque de Nascimento, e é bem possível que ele fosse chamado assim pela audiência dos Estados Unidos. Essa forma de chamar o rei do futebol talvez seja o maior símbolo do quão equivocada é essa produção, que tenta faturar em cima de uma figura cara ao esporte mais popular do mundo. Pelé: O Nascimento de Uma Lenda falha como cinebiografia e também como registro histórico da final do primeiro título brasileiro, assim como as representações de Mauro, Didi, Garrincha, Bellini, Zito, Zagallo e companhia são nulas de qualquer carisma.

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