Tag: futebol

  • Melhores Filmes de Futebol

    Melhores Filmes de Futebol

    Futebol é o esporte mais popular do mundo, movimenta paixões, emoções, dinheiro, tradições, competitividade etc. No caso do Brasil, é uma obsessão tão intensa que se torna praticamente uma religião nacional. Sendo assim, é normal que a filmografia brasileira tenha se debruçado sobre o esporte bretão, e contrariando a máxima de que “não há bons filmes sobre futebol“, separamos uma lista com alguns bons exemplares entre produções nacionais e estrangeiras.

    Heleno (José Henrique Fonseca, 2011)

    Este é um drama que conta a história da lenda botafoguense Heleno de Freitas. Dirigido por José Henrique Fonseca, o longa narra a trajetória dramática sobre o jogador e o homem Heleno. Fonseca se baseou no livro homônimo do jornalista Marcos Eduardo Neves, e foca bastante em sua delicada biografia fora do campo, desse modo, o futebol é subalterno às tristezas e dissabores do protagonista. O desempenho de Rodrigo Santoro no papel principal é irrepreensível.

    O Futebol  (Sergio Oskman, 2014)

    O filme de Oksman apela para o emocional, a história mostra o esporte como símbolo da tentativa de pai e filho em voltar a ter laços sentimentais fortes. Sergio busca reativas o sentimento de familiaridade com seu pai, Simão, em meio a Copa do Mundo que o Brasil sediou em 2014, e para isso, decide voltar a sua cidade natal para acompanhar o torneio com seu parente, a fim de relembras os momentos mais felizes do passado de ambos. Essa tentativa resulta em um fracasso, e o modo que Oskman trata isso na história é forte e singelo. O uso do esporte como centro gravitacional desse universo é simbólico, pois, enquanto ele não é super importante para os personagens, serve de pretexto para essa empreitada que não dá certo, acaba conversando bem com a necessidade humana se conectar com os próprios sentimentos e com a necessidade que o homem adulto tem em se consertar com os que lhe são caros, ou quem já foi. Filme bonito  e emocionante na medida.

    Boleiros: Era Uma vez o Futebol (Ugo Giorgetti, 1998)

    A cinessérie Boleiros é possivelmente a exceção à regra no que toca o lugar-comum de que não existem bons filmes sobre futebol no Brasil. Ugo Giorgetti dirigiu duas versões, uma de 1998 e outra em 2006, mas o primeiro é sem dúvida alguma o mais inspirado entre eles. A história se passa em dois cenários básicos: um bar em São Paulo onde jogadores aposentados e veteranos conversam animadamente sobre suas carreiras e frustrações, e claro, os gramados. O elenco conta com estrelas como Lima Duarte, Elias Andreato, Cássio Gabus Mendes, Otávio Augusto, Rogério Cardoso e Flávio Migliaccio, e o formato de conversa de bar favorece o clima de resenha e o brilho de suas histórias, muitas delas inspiradas em fatos.

    O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (Cao Hamburguer, 2006)

    Dirigido por Cao Hamburguer, que já tinha experiência com produtos ligados ao público infantil como o seriado Castelo Rá-Tim-Bum, o filme trata da história de Mauro, um menino fanático por futebol que herdou esse gosto do seu pai. O menino se muda para a casa do avô, um judeu ortodoxo vivido por Paulo Autran, bem diferente de seus pais. As férias que os pais de Mauro tiram são, na verdade, fruto da perseguição política dos militares. O esporte, em especial a Copa de 1970, entra como alvo dos sonhos do pai, do pequeno Mauro e até mesmo dos militantes contrários ao regime militar, que tentam em vão torcer para a Tchecoslováquia, sem conseguir esconder o fascínio pelo time de Pelé, Gerson, Tostão e Jairzinho. O desempenho de Michel Joelsas é ótimo, e Hamburguer consegue equilibrar bem o cenário caótico de perseguição política com o olhar mágico de uma criança sobre o futebol e sua relação com os pais desaparecidos.

    O Roubo da Taça (Caito Ortiz, 2016)

    Essa é uma das mais estranhas e bizarras histórias do país: o que ocorreu com a taça Jules Rimet do mundial de 1970? Há algumas versões dessa história no cinema nacional, mas a de Caito Ortiz lançada em 2016 se destaca pelo tom semelhante ao das chanchadas, misturando o humor estridente das novelas, com o nonsense da situação que envolve um grupo de ladrões maltrapilhos responsáveis pelo roubo do artefato mais importante do futebol da época. Thais Araújo e Danilo Grangheia estão muito bem, são engraçados e carismáticos, mas obviamente a estrela do filme é Paulo Tiefenthaler. O filme serve entre outras coisas para satirizar a política nacional e as instituições responsáveis pelo futebol no Brasil.

    Maldito Futebol Clube (Tom Hooper, 2009)

    Michael Sheen vive o lendário, supersticioso e vaidoso Brian Clough, treinador inglês que havia feito carreira nos pequenos times do Reino Unido. O pontapé inicial se dá com ele chegando ao clube mais forte do campeonato, Leeds United, após a saída de Don Reevie. O maior prodígio do filme é mostrar como funcionava os bastidores do esporte no seu país-fundador. Quem está acostumado a ver Sheen em sagas como Crepúsculo e Underworld talvez se surpreenda com o seu desempenho. Seu personagem é espirituoso, determinado, cheio de energia e insegurança, e a ode ao futebol se dá de maneira pragmática, mostrando o esporte como uma fogueira de vaidades.

    Febre de Bola (Dani M. Evans, 1997)

    Adaptação do livro homônimo de Nick Hornby, Febre de Bola é uma comédia romântica protagonizada por Colin Firth, um professor de inglês lidando com uma nova paixão, e paralelo a isso, acompanhamos sua obsessão pelo Arsenal, time inglês que passava por uma fase azarada e sem títulos. Por mais que o livro seja muito mais bem resolvido que o longa, há bons momentos nessa versão, especialmente quando mostra as diferentes etapas da vida do protagonista, grafando muitíssimo bem as manias e superstições do torcedor que frequenta estádios, mostrando que os hábitos dos ingleses não são tão diferentes dos nossos. O momento mais inspirado do filme se dá em seu desfecho ao retratar a festa da torcida após o título.

    Penalidade Máxima (Barry Skolnick, 2001)

    Penalidade Máxima é protagonizado por Vinnie Jones, expoente do cinema brucutu britânico e ex-zagueiro da seleção galesa de futebol. Esta é outra versão de Golpe Baixo, e em comum com o original, mostra atletas presidiários liderados por um jogador profissional mal falado, substituindo o futebol americano pelo futebol. O elenco conta com figuras carimbadas dos filmes de Guy Ritchie, repleto de humor físico e personagens carismáticos. As cenas de futebol são ótimas, conduzidas por gente que parece entender do esporte, mas o ponto positivo são os carrinhos e jogadas desleais, resultando na demonstração vívida do que é o futebol de rua.

    Um Time Show de Bola (Juan José Campanella, 2013)

    Esta animação é uma produção hispano-argentina, situada em um pequeno vilarejo argentino que remete a várias pequenas cidades do mundo. A qualidade da animação é grandiosa, os efeitos em computação gráfica e a textura dos personagens dão um tom quase tão mágico quanto o momento que os jogadores ganham vida. A obra de Juan José Campanella registra uma bela história sobre memória e pertencimento, além de ser uma ode ao futebol amador e as diversas modalidades oriundas dele, desde jogos de simulação mais física como totó e futebol de botão, até os mais modernos e interativos como jogos de videogame.

    El Chanfle (Enrique Segoviano, 1979)

    El Chanfle é produzido e estrelado por Roberto Gomez Bolaños, que vive um roupeiro do América do México, um dos clubes mais populares do país. Sua trajetória é de um homem atrapalhado, que quebra tudo o que toca, mas tem um bom coração e carrega sonhos simples. O elenco inclui Ramon Valdez, Florinda Meza, Maria Antonieta de Las Nieves e outros que compunham o grupo de personagens de Chaves, Chapolin Colorado, Dr. Chapatin (que inclusive tem uma breve aparição nesta longa) e demais histórias do Chespirito. O episódio que Chaves fala que seria melhor ver o filme do Pelé era, na verdade, uma propaganda deste filme. As cenas de futebol não são um primor, servem mais para que Carlos Vilagrán e seu Valentino possam brilhar como um jogador talentoso, porém mentiroso. No final, o que se percebe é uma obra que louva bastante o amor do povo mexicano pelo futebol.

    Uma Aventura do Zico (Antônio Carlos da Fontoura, 1998)

    Um time é formado por onze jogadores em campo, e o décimo primeiro filme da lista não é exatamente bom, mas é quase isso… Uma Aventura do Zico tem uma premissa insana, mostra o ex-jogador do Flamengo abrindo a chance de treinar crianças, e uma delas, frustrada por não ser escolhida, pede ao pai rico para fazer uma cópia exata do Galinho de Quintino, que ganha o “maravilhoso” nome de Zicópia. O filme mistura ficção científica, estética de televisão e até discussões bizarras sobre homofobia e machismo no esporte, por conta de uma menina que finge ser um garoto para treinar com o camisa 10 do Flamengo. Assistir os Coimbra enquanto família é assustador, pois nenhum deles parece ter qualquer intimidade com a câmera, e nem mesmo atores famosos como Eri JohnsonJonas Bloch salvam a dramaturgia. O filme vale pela curiosidade e pelo amor ao bizarro.

  • Crítica | Para Sempre Chape

    Crítica | Para Sempre Chape

    A tragédia com o time da Chapecoense de Santa Catarina mexeu com muitas pessoas ligadas ao futebol, inclusive, esse que vos fala. Lembro como foi aquele dia para mim, dois amigos jornalistas morreram naquele acidente, assim como ex-jogadores do meu time, além de Caio Junior,um sujeito que tive o prazer de conhecer. O incidente da queda do avião que levava o time e equipes de imprensa até Medellin para o jogo da final contra o Atletico Nacional pela Copa Sul-Americana é o epicentro de Para Sempre Chape, documentário de Luis Ara.

    A pequena cidade de Chapecó abrigava o clube desde 1973, e o fato de ser essa uma zona urbana pequena fazia com que atletas, membros do clube e cidadãos comuns fossem muito próximos. O filme se dedica a falar dos primórdios do clube e dos campeonatos estaduais que disputava. O fato da cidade ser isolada facilitou a criação de um time, já que nenhum clube grande tinha qualquer distância pequena dali, e em 77 eles já foram campeões catarinenses, mesmo sem dinheiro, estrutura ou qualquer coisa que o valha.

    Já na parte moderna do clube, a Chapecoense participou da primeira Série D disputada no Brasil em 2009, e subiu. Depois de idas e vindas, foi até a série A e ali começou uma trajetória bonita e árdua, de um time pequeno e muito amado pela gente de sua cidade. Nesses momentos já se ouve um nome nas narrações, de Bruno Rangel, um dos artilheiros do clube, atleta que marcou alguns dos muitos gols e  que estava no tal voo.

    Há entrevistas com Raphael Henzel, o lateral Alan Ruschel, o zagueiro Neto, e o goleiro Jackson Folman, que estavam também na aeronave, e as declarações deles vão na direção da religião, curiosamente, dizendo normalmente que foi Deus que os ajudou a sobreviver, e que parecia ter ação do destino até na parte do avião onde ficaram, em especial Ruschel e Folman que sentaram um do lado do outro. Apegos ou desapegos a religião à parte, para os que estavam no voo o acaso parecia ser algo importante para a sobrevivência, uma vez que miraculosamente esses sobreviveram a queda do criminoso ato da companhia aérea que foi contratada para o translado.

    O filme é protocolar, mostra os depoimentos mais famosos, se dedica a relembrar das pessoas que morreram. O documentarista quis claramente prestar reverência ao time, aos que se foram e aos que ficaram, e isso por si só é muito meritoso, pois o registro em cinema é muito duradouro, e certamente estará para o resto da vida dos herdeiros de cada um ali ver e rever.

    Apesar de mostrar o choro de José Serra, ministro das relações exteriores à época e um sujeito cuja sinceridade é pra lá de discutível, toda a parte passada na Colômbia é carregada de sentimentalismo, o que não é demérito algum, já que o intuito do filme é deixar marcado o quão triste foi todo o evento. Não há preocupação em tentar desvendar os descuidos que a companhia aérea teve e isso se mostra uma decisão acertada, uma vez que dificilmente um único filme conseguiria tratar de questão tão complexa ao mesmo tempo em que tenta ser solidário a quem ali sofreu ali.  A escolha de Ara e sua equipe é muito acertada e Para Sempre Chape apesar de não fugir do comum em matéria de cinema acerta no tom que propõe.

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  • Review | Super Campeões Road to 2002

    Review | Super Campeões Road to 2002

    O anime baseado no texto de Yōichi Takahashi é a terceira versão de Captain Tsubasa, chamada de Road to 2002. Na trama, conhecemos Oliver, um jogador japonês que joga pelo Brancos, time tradicional do Brasil. Obviamente que a historia não começa assim, e sim no passado do rapaz, em especial no sei primeiro dia no clube Nankatsu. Apesar de bastante novo, ele terá que jogar, já que um dos rapazes não pôde comparecer. Já no piloto, eles jogarão com o time Shutetsu, do “lendário” goleiro Benje  (ou Benji) Wakabaiashi.

    O clássico é disputado com ambos os times de branco, fato que a Fifa proíbe, e eles comemoram o fato de levar somente três gols, e também comemoram um quase gol de Oliver. As regras básicas do esporte não se encaixam aqui, ou isso, ou o Nankatsu é extremamente vanguardista, uma vez que não há posição guardada por eles, como na Laranja Mecânica, do holandês Johan Cruijff, além disso, a tática deles é muito parecida com a do Brasil em 2014, uma vez que eles basicamente passam a bola para Oliver resolver, assim como a seleção canarinho passa para Neymar. O grupo consegue fazer o gol, ganhando assim uma aposta com Benje, podendo enfim ter aquele campo para treinar.

    Após isso, aparece um homem misterioso, um brasileiro que tem um talento extraordinário com a bola nos pés, mas que demonstra essa habilidade como se fosse um artista marcial dos desenhos shonen, mais parecendo um personagem de Yu Yu Hakusho ou Cavaleiros do Zodiaco. Roberto Hongo (ou Maravilha, como na tradução antiga) tem uma construção de personagem interessante. Seu passado é trágico, ele sempre foi aficionado pelo esporte e perdeu sua mãe de forma muito precoce. Dali se estabelecem suas prioridades e também seu talento, além de contar os motivos que o levam ao Japão – um problema em sua retina e a busca por tratamento, que infelizmente não dá certo. Ele decide interromper de vez sua carreira como jogador por enxergar um novo futuro como treinador dos meninos, e levando em conta sua visão turva e quase nula, ainda consegue achar em Oliver uma boa possibilidade de futuro, talvez ludibriado por seu problema em não enxergar.

    Roberto mostra a bicicleta para os meninos, e eles enxergam esse lance como se fosse uma manobra igual a outro golpe poderoso. Isso faz com que os outros aspectos soem risíveis. Ora, Roco não consegue enxergar bem para jogar, mas tem visão para treinar um time de futebol? Por que os meninos do mesmo time usam camisas de cor diferente, em atenção ao primeiro ter sido disputado por dois times com camisas quase idênticas? Esse tipo de questionamento se faz perceber pelo fato do mangá ter sido desenvolvido durante os anos oitenta, onde o futebol não era tão bem desenvolvido no Japão, tais situações cabiam, mas ao contrário de Captain Tsubasa J, essa tenciona ser mais realista que as versões anteriores, piorando demais pelo argumento dos fãs do anime que costumam defende-lo dizendo ser uma série caracterizada por movimentos de futebol dinâmicos contidos em ações fantasiosas, mas essa fórmula em muitos momentos se perde, em especial por querer conversar demais com a realidade.

    Estudar os adversários, perceber as condições adversas de uma partida, tudo isso não importa para os torcedores mais fervorosos – em especial a jovem Sanai – pois eles tem Oliver, que é suficiente para vencer qualquer retranca, ao menos no pensamento dela. Essa empáfia não é compartilhada sequer pelo treinador  de Benje, que destaca que ele precisa aprender a ser humilde. Qualquer regra desportiva não se aplica aqui, mesmo o campeonato pequeno local em Nankatsu termina empatado entre os times Oliver e de Benje, sem disputa de pênaltis ou prorrogação. Basicamente, para disputar um campeonato maior, juntaram-se os dois clubes mostrados de início.

    Há o acréscimo de Carlos, um rapaz japonês que tem um nome estranho pra sua nacionalidade (invenção da outra dublagem, que permaneceu nessa versão, seu nome original é Taro, como o Oliver era Ozora) e ele conhece vários jogadores, por conta da natureza do trabalho de seu pai. Ele conversa telepaticamente bem com Oliver, aliás, é o primeiro a conseguir acertar uma jogada com ele. Carlos conhece Kojiro Hyuga, um rapaz talentoso, e que dá chutes violentos contra o gol, seu time faz um esquema que só ataca, em uma tática de muita agressão e total desequilíbrio esportivo.

    Sem sequer fazer exames para saber sobre a estranha lesão que sofre, Benji já determina que ficará fora de boa parte do campeonato nacional ao ser atingido em um jogo com o seu time de colegiais. Fatos como esse seriam muito comuns, e fazem perguntar porque os espectadores prosseguem assistindo o anime que pretende ter um tom mais sério que o outro remake. Kojiro é tão preciosista que ao invés de chutar para um gol vazio, acerta no rosto do goleiro que substitui Benji, só para lhe causar medo, e esse é o legado da lesão do guarda-redes, uma substituição por um sujeito covarde que se deixa levar por uma pequena pressão.

    Há a exploração de outros atletas muito novos, como o cardíaco Mizuki (ou Misugi) que é chamado de jogador de vidro, e Wakashimazu rival de Benji que joga no Meyva e constrói com ele uma estranha relação de rivalidade e fraternidade. Depois do décimo primeiro episódio, há um êxodo dos jogadores do Nankatsu, com Tsubasa finalmente indo ao Brasil, Benji para a Alemanha e outros desistindo de jogar. Mas isso não importa, pois a seleção do Japão jogará um campeonato sub 16, e ela será comandada por Misugi, o mesmo garoto que episódios antes quase morreu em campo, por conta de um problema de coração. Impressionantemente ele está na comissão técnica, e ajuda a montar o time titular.

    Após a final, cada um dos personagens tem um destino. Oliver vai para o Brasil – o que soa estranho, já que a seleção brasileira nem foi mencionada no tal mundial – e os garotos voltam a jogar por seus colégios, o que é uma saída bem anti-climática para os outros. Por conta de questões ligadas a direitos autorais, mudaram nome de alguns jogadores e dos times. No Brasil, Oliver jogaria pelo São Paulo, que aqui chama Brancos, assim como o Domingo é o Flamengo, que não possui as cores do time rubro negro. Lá, joga Carlos Santana, o homem que é chamado de filho do deus do futebol. Seu pano de fundo é fantasioso e mal construído por ser extremamente genérico.

    Passam quatro anos, entre um amistoso da seleção principal, contra a Holanda e o mundial ganho pelo Japão. O misterioso olheiro/observador Kataguiri decide convocar quase integralmente os campeões dos juniores, incluindo os que estão na J League. Jogadores como Ishizaki e Urabe não estariam convocados, se quem tivesse o poder de escolha fossem os outros membros da comissão.

    O outro protagonista, introduzido em Super Campeões J também aparece aqui. Shingo Aoi foi para a Itália enganado por um oportunista que roubou seu dinheiro, fingindo que teria um teste de futebol. Ele ganha a vida como engraxate e malabarista. Ele passa a jogar pela segunda divisão do Calcio e logo chega a concentração da seleção japonesa. Essa transição é extremamente rápida, e quando ele chega, é ofuscado por uma crise de ego de Wakashimazu que não aceita ser reserva de Benji.

    A necessidade de colocar o patrocínio da Adidas esbarra no bom gosto. A bola da Copa de 2002 claramente não tem a mesma textura do resto dos gráficos, de modo que o logo fica parado no frame enquanto a bola rola normalmente. Super Campeões Road to 2002 termina um pouco melhor que as versões anteriores, seus gráficos são melhores, mas ainda assim é fantasioso num nível absurdo, e não termina seu arco, já que o 52º episódio mostra o início de uma partida contra o Brasil, em Yokohama. Do outro lado há Roberto de treinador, e as conversas mentais ocorrem novamente, da maneira mais louca possível, e quando o árbitro apita, o desenho congela, com os jogadores rumando na direção do campo adversário, e isso também havia ocorrido no primeiro remake, que também termina antes de uma decisão. Tudo bem que Captain Tsubasa fala sobre sonhos, mas o mangá dá prosseguimento a essa história. A sensação do espectador é de enganação total e incômodo muito graças a pressa que o roteiro tem em resolver a maior parte de suas problemáticas, abreviando a maior parte da aproximação que deveria existir entre os personagens e o seu público.

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  • Review | Super Campeões J

    Review | Super Campeões J

    O início dessa versão de Super Campeões, chamava-se Captain Tsubasa J, e começa com Oliver e seus amigos ganhando a vaga para a Copa do Mundo, ao menos é assim que a dublagem da Gota Mágica dizia, inclusive com o narrador evocando sempre a torcida brasileira em jogos que se passavam entre os juniores e juvenis do Japão. Essa dublagem por mais errada que fosse, era charmosa, e além do já falado, também modificava a história para parecer que eram jogos das eliminatórias para a Copa do Mundo de 1998 na França, quando eram competições de categorias de base.

    Essa versão veio para no Brasil na época da Manchete, e entrou no lugar de Cavaleiros do Zodíaco, e isso gerou malefícios e benefícios para o desenho, que teve uma popularidade um pouco maior do que poderia ter graças ao futebol, mas também gerou uma certa rejeição por conta de ter substituído um fenômeno popular, como era CDZ, além é claro dele passar numa época em que a Manchete estava em vias de falir, junto a reprises de Black Kamen Rider, Pantanal, e do único anime que fazia sucesso e ainda tinha coisas inéditas, Yu Yu Hakusho.

    A produção do anime foi cofinanciada pela Federação Japonesa de Futebol, e de fato, o esporte se popularizou muito, após a adaptação do mangá para animação. A J League começou em 1992, e essa versão foi ao ar em outubro de 1994. A escola onde Oliver – no original, seu nome é Tsubasa Ozora – vai estudar tem várias equipes de esportes, onde o futebol é o menos desenvolvido. O time do Nankatsu não tem técnico, então quem comanda o treino de estréia de Tsubasa é… ninguém.

    Uma das questões mais polêmicas no anime e no mangá de Yōichi Takahashi é quem seria o jogador que inspirou a criação de Roberto Maravilha. Talvez o mesmo faça menção a Zico, que veio ao Japão para popularizar o esporte nos anos noventa – o anime é de 1994 – ao menos era isso que se especulava no Brasil, apesar de que há quem o compara a Sócrates, uma vez que o mangá é de 1981, e o personagem também tem problemas com bebida, mas há de se lembrar que foi em 1981 que o Flamengo de Zico ganhou o Mundial Interclubes no país do sol nascente. No final das contas, Roberto se livra do alcoolismo para treinar os garotos.

    Nesta versão, Carlos Mizaki é mais incomodado com o ofício de pintor de seu pai, que o faz se mudar o tempo todo de local, em Road to 2002 ele aceita isso de maneira mais tranquila. O formato dos episódios é bem simples, a cada parte do anime Oliver encontra um jogador japonês de bom futebol e estilo diferenciado. O primeiro deles é o goleiro Benji, que não demora a se aliar ao protagonista, o próximo é Kojiro Hyuga, um centro-avante que tem um perfil muito parecido com o de Ikki de Fênix – e curiosamente, é dublado por Hermes Baroli, o mesmo de Seiya de Pégaso –, conhecido por ter um futebol de força ao invés de arte como Oliver.

    Em certa altura, Benji e Oliver já são amigos e jogam no mesmo time, o goleiro se machuca acidentalmente ao chutar o tiro de meta, adiantando um pouco a bola. A linha de ataque adversária tenta pegar a bola para se aproveitar da contusão dele e marcar um gol, ou seja, na ideia de futebol infantil tencionada por Takahashi, não há fair play mesmo nas categorias inferiores.

    Carlos também jogou no Meyva, time de Kojiro, e eles tem um substituto para o sujeito que faz dupla com Oliver, e chama-se Takeshi. A disputa entre os times e seus maiores jogadores reflete também a posição dos técnicos, pois Roberto é um ex-atleta brasileiro, de enorme técnica, enquanto o treinador do Meyva se recusou a ser profissional, provavelmente porque na sua época não havia uma competição oficial no seu país, e prima pela força e as vezes  até o anti-jogo, já que sua defesa aplica golpes de karatê em Oliver, além de Kojiro chutar a bola no queixo do goleiro adversário, para traumatizá-lo.

    O narrador feito por Elly Moreno é sensacional, falando gírias e termos  como ô louco, além de fazer muitas referências datadas ao extremo. Para muitos, isso é um defeito, mas a realidade é que há um charme que casa com toda a irrealidade e fantasia que Super Campeões prega. Se essa é uma fábula sobre o esporte, natural que não se leve tão a sério seu drama.

    Há uma questão grave, que nessa versão é mais explicada que nas outras encarnações de Captain Tsubasa, que é o problema do coração de John Misugi, chamado de o Príncipe do Campo. Ele sempre joga só quinze minutos por partida, e esconde seus problemas dos outros jogadores do time, o que não deixa de ser suspeito. A fama de Oliver faz Misugi querer jogar contra ele, pondo em risco sua saúde e sua vida. Que o garoto queira fazer isso, tudo bem, uma vez que ele é uma criança e talvez não tenha noção do perigo que isso pode ocasionar, mas para os adultos é um absurdo que deixem ele seguir jogando.

    A final entre Meyva e Nankatsu começa emocionante, pois todos os pais dos garotos vão no jogo, fato que no remake Road to 2002 simplesmente não acontecia sequer com o pai de Oliver. Além disso, alguns dos absurdos que tornaram Super Campeões um anime charmoso, como o fato dos dois camisas 10 se marcarem, mesmo estando ambos em lados opostos do campo, sendo os dois atacantes. É nesse momento que se mostra um flashback, de Wakashimazu, o goleiro que lutava karatê e que foi encontrado pelo Meyva treinando sua arte marcial. O poder de convencimento de Kojiro é sensacional, ele diz que o futebol é uma arte marcial, basicamente porque… ele acha que é, mas claramente, não é, a não ser é claro nessa realidade do anime e mangá de Captain Tsubasa.

    Apesar das muitas confusões e das cenas risíveis, a final é muito emocionante, com direito a uma prorrogação infinita, anulação de gol após frango (e no último minuto de partida), e claro uma despedida entre Roberto e Oliver, com o mentor não tendo coragem de levar o rapaz para o Brasil separando-o da sua mãe.

    Shingo Aoi (ou Xingo) é introduzido como novo protagonista, depois de passados uns trinta episódios. Essa parte fica bem confusa, pois Xingo é muito fã de Oliver, e na Itália, encontra um time de jogadores da base italiana, e lá, se fala que o Japão foi um dos melhores times do campeonato de base. Esses jogos simplesmente não aparecem, só se cita, e além disso, a dublagem tentava fazer crer que o Japão estaria se preparando para a Copa de 98 na França, quando o anime começou a ser exibido em meio as eliminatórias para a Copa dos EUA, em 94, a qual o Japão sequer se classificou no mundial que o Brasil foi tetra. Aliás, esse mundial tem uma relação curiosa com Super Campeões, pois muitos creditam a não ida do país asiático ao mundial pela culpa da baixa popularidade do programa na terra do sol nascente, tendo o fim desta encarnação de Captain Tsubasa J encerrada antes do tempo previsto, também sem traduzir o mangá por completo.

    Ainda sobre a Copa de 1994, o mangaká Yōichi Takahashi esteve no estádio para a final da Copa entre Brasil e Itália, tendo inclusive uma micro-participação de Roberto Baggio quando Xingo chega a Itália, no aeroporto. Takahashi era aficionado pelo futebol brasileiro, em especial pelo São Paulo, muito graças ao bicampeonato mundial do time de Telê Santana, e também pela trajetória de Musashi Mizushima, um jogador japonês que passou pelas categorias de base do clube nos anos oitenta, mas só jogou profissionalmente pelo São Bento, Portuguesa-SP e Santos. Esses fatores certamente fizeram o autor decidir por colocar seu protagonista para jogar no time do Morumbi, que aqui, é chamado de São Paulo mesmo, e não de Brancos como em outras versões.

    Nos jogos pela seleção do Japão, há algumas brigas, que fazem afastar Kojiro, Carlos e outros cinco jogadores. Com o time desfalcado, basicamente com Oliver, Benji, Ishizaki, Mizuki e Matsuayma, poucos jogadores para fecharem onze. Xingo vem da Itália, se atrasa por conta do voo e do trânsito, e entra pouco antes do primeiro tempo começar, realizando seu sonho de jogar com Tsubasa, e ainda recebendo uma assistência do jogador, para o gol contra a Tailândia.

    O imbróglio que fez o afastamento dos jogadores é muito gratuito, não há qualquer justificativa plausível para essa lição de moral que eles recebem. Isso é estranho, assim como a dificuldade que os protagonistas têm em jogar contra a Tailândia, que supostamente também é uma potência futebolística.

    Narrado por Xingo, o último capítulo dá um salto no tempo e mostra a preparação para 2002, a Copa do Japão, reunindo muitos flashbacks, e quase nada de inédito. A produção acaba por volta do quadragésimo episódio, bem mais curta que o anime original, com mais de cento e vinte episódios, e acredita-se que o fim do programa foi precoce por conta da desclassificação do Japão a Copa de 1994, que poderia ser a sua primeira, não à toa há a troca de protagonistas e um salto no tempo, o que foi uma pena, pois a fantasia futebolística ia muito bem até aqui, apesar de todos os pesares, e claramente é mais positiva que a versão posterior. Ainda assim, Super Campeões tem momentos memoráveis e muito engraçado para que entende de futebol, já que não há lógica que o explique, e não há verossimilhança que mate a mágica presente no desenho.

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  • Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 2

    Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 2

    Com os personagens da Turma do Pelezinho já consolidados no primeiro volume, As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol 2 nos mostra uma expansão das possibilidades de piadas sobre futebol, mas também um pouco mais da personalidade de cada integrante da turminha. Obviamente, um ou outro ganha mais destaque que o restante (que seriam mais explorados na revista mensal que começou a ser publicada pouco depois da estreia nas tiras de jornais), e nesse volume vemos muitas histórias com o personagem Frangão. A princípio apenas o goleiro da turminha, Frangão se aventura também como árbitro dos jogos em várias histórias, revezando sua função em campo e sendo bem incompetente em ambas. Óbvio que, tanto como árbitro ou goleiro, as situações que surgem são tão inusitadas quanto engraçadas, e vemos que mesmo apesar de sua inabilidade, Frangão nunca desiste e seu maior sonho é defender um gol do Pelé.

    Cana Braba também tem sua personalidade explorada, e seu temperamento explosivo é ainda mais visível nesse volume. Muitas piadas giram em torno do robusto garoto arrumando briga em campo, não sabendo perder e falando muitos palavrões – devidamente representados pelas cobrinhas e caveiras nos balões, como de costume na época. Já as personagens femininas continuam com os papéis relegados às mulheres nesse período histórico: não entendem nada de futebol, servindo apenas como torcida ou atrapalhando o jogo, além de piadas de teor sexual envolvendo Bonga e gags de cozinha com os terríveis quitutes de Samira.

    Ao personagem-título, ficam as piadas envolvendo seu ultra-potente chute e a capacidade de fazer embaixadinhas com absolutamente qualquer objeto. O carisma do personagem aumenta ainda mais nesse volume, principalmente através dos traços mais “fofinhos” e com as cenas representadas por ângulos diferenciados. Infelizmente, ainda não era costume creditar os artistas devidamente nessa época, sendo tudo considerado apenas obra do Mauricio.

    O final do livro apresenta, novamente, um glossário com os termos usados no futebol, notas contextualizando a época em que foram produzidas as tiras e os termos que não são mais usados nas histórias de hoje por serem politicamente incorretos. Essa segunda edição foi a última das tiras clássicas, que infelizmente não teve mais continuação, deixando muito material ainda sem o devido cuidado gráfico da Panini.

    Compre: As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol 2.

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  • Os 5 Eventos e Acontecimentos Mais Bizarros de Super Campeões

    Os 5 Eventos e Acontecimentos Mais Bizarros de Super Campeões

    Super Campeões foi uma adaptação do mangá Captain Tsubasa, transmitido na extinta TV Manchete, e trouxe a história de um grupo de meninos japoneses, que disputavam campeonatos infantis e juvenis de futebol. O seriado teve várias encarnações, sempre baseadas nos mangás de Yōichi Takahashi, ainda que tenha cada uma dessas versões algumas liberdades criativas. O anime ajudou a popularizar o esporte no país, tanto que J League e a Federação Japonesa bancaram algumas das temporadas dessas versões, mas ainda assim ele era extremamente irreal enquanto análise do esporte. Por isso, separei alguns acontecimentos curiosos ao longo do anime, e em alguns casos, extremamente bizarros.

    1. Zero Apreço Pela Tática

    Ao ser apresentado ao time do Nakatsu, Oliver é dito que será o décimo segundo jogador. Logo depois, ele é chamado a entrar em jogo. Segundo Ishizaki, o mais veterano dos jogadores, todos farão todas as funções, e isso pode ser encarado como uma imitação da Laranja Mecânica, a Holanda de Johan Cruijff que não guardava posição, mas obviamente não é. Tsubasa vai para a zaga, onde consegue acertar um chute de longe no travessão. Daí, decidem colocar ele no ataque, e a tática é “peguem a bola e entreguem imediatamente para Oliver”, descaracterizando qualquer trabalho de equipe. Isso já se vê no primeiro episódio de Road to 2002.

    https://www.youtube.com/watch?v=v3VlnZqAAqo

    2. Chutes Temáticos

    Uma das coisas mais bizarras tanto na versão impressa, quanto na animada são os lances estilizados, como se fossem golpes de Cavaleiros do Zodíaco ou outro anime de luta qualquer. O ápice disso certamente é Kojiro Hyuga que, além de imitar claramente Ikki de Fênix, ainda dá chutes que rasgavam o campo, chamando esses de Chute do Tigre, Chute do Dragão e afins. O maior problema aparentemente é que após uma partida comum, todo o campo precisaria ser replantado, graças aos riscos que ficavam no gramado.

    3. Telepatia Entre os Jogadores

    Essa talvez seja a coisa mais bizarra desde o começo da adaptação. Os garotos japoneses correm em campo e pensam no que pode dar certo taticamente, e para evoluir o seu jogo e dar seguimento as partidas, eles pensam no que fazer. O problema é que boa parte desses pensamentos parecem estar compartilhados não só entre Oliver e seus amigos como também com os adversários. Os meninos medem forças através do pensamento, e em alguns momentos, chegam ao cúmulo até de dialogar mentalmente sobre isso, assustadoramente. Isso acontece muito na dupla de ataque do Nankatsu, Oliver e Carlos, mas acontece também entre os goleiros rivais Benji e Wakashimazu.

    https://www.youtube.com/watch?v=5tMmprvScEk

    4. Finais Anti-climáticos

    Duas versões do anime passaram aqui no Brasil. Na TV Manchete, passou Captain Tsubasa J, patrocinado pela J League, e Road to 2002, que visava a Copa que aconteceria na Coreia e no Japão. O primeiro, termina antes da Copa de categorias de base, enquanto o mais novo termina antes de uma final de Copa entre Japão e Brasil, sem ter um desfecho para a partida. O curioso é que no mangá há uma definição para esses jogos, fato que faz muitos fãs acusarem Captain Tsubasa de não ter um final. A ideia de deixar para a real seleção japonesa dar sua contribuição para o desenho, jogando enfim a Copa é muito mal pensada, já que nem a geração de 2002 sequer conseguiria chegar tão longe, tampouco teria Carlos, Tsubasa, Kojiro e Benji para defende-la, de modo que, não dar um findar para essas histórias soa muito ofensivo, mesmo com os filmes e OVAs lançados depois.

    https://www.youtube.com/watch?v=h_hn7OiaMks

    5. Chute de Trivela e os Lances Cruzados

    Em um momento chave do anime, Roberto Maravilha ensina Oliver a chutar de trivela, para dar um efeito na bola e dificultar o trabalho do goleiro adversário. A questão é que esse lance é mostrado como se fosse uma técnica ímpar, comparável ao Kamehameha ou Cólera do Dragão, e mesmo jogadores reais conseguem fazer um chute assim, só precisando treinar um pouco, como visto aqui. A questão é que isso é feito junto a bicicleta, ou em outras acrobacias como um bicicleta dupla, com DUAS PESSOAS dando o “golpe” juntas, ou voleios no ar, com trivela, o que desafia a física…enfim. Abaixo coloquei um vídeo com algumas tentativas de reproduzir tais eventos na vida real.

    https://www.youtube.com/watch?v=etxslDdTjts

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  • Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1

    Resenha | As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1

    Em agosto de 2012 a editora Panini lançou As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1, seguindo o mesmo formato de livros em que publicou as primeiras historinhas da Turma da Mônica quatro anos antes. No mesmo mês, as bancas brasileiras veriam a revista As Melhores Histórias do Pelezinho, republicando mensalmente conteúdo publicado 40 anos antes pela Editora Abril. A proximidade com a Copa do Mundo de 2014, sediada no Brasil, pode ter sido o motivo para que Pelezinho – a adaptação para os quadrinhos do mais famoso jogador de futebol do mundo –  voltasse dos anos 70 em pleno século 21!

    Mas antes de falar sobre a edição em si, vamos tirar o elefante da sala de estar: muito conteúdo desse material seria impensável nos dias de hoje, por conter elementos hoje considerados politicamente incorretos e estereótipos racistas e sexistas. Não que as histórias sejam preconceituosas em si, mas tanto a representação do personagem principal quanto dos seus amigos coadjuvantes negros, estão hoje bastante datados e podem soar até mesmo ofensivos. Logo na primeira página de quadrinhos vemos a expressão “a conversa ainda não chegou na cozinha”. Em outras tirinhas, piadas com os lábios de personagens negros, com meninas que não entendem de futebol, crianças falando palavrões, pessoas armadas, e gags baseadas em características físicas dos personagens (baixinho, gordo, etc.). A própria representação do rosto do personagem Pelezinho – sem nariz e com um círculo ao redor da boca para representar lábios grossos – foi abolida pela Mauricio de Sousa Produções a partir de dezembro de 2013, quando essas características foram redesenhadas nas republicações. Mas é importante lembrar que essas tirinhas são produtos de uma época e, mesmo apresentando tais estereótipos, foi significativo por ter em bancas durante muito tempo histórias em quadrinhos com um protagonista negro (ainda que Pelezinho e sua turma não interagissem com os personagens de Mauricio do Bairro do Limoeiro). Ressalte-se que, ao fim da edição existe um trabalho de contextualização. Dito isso, sigamos para a análise das histórias.

    Pelezinho é retratado como um garoto de sete anos que ama futebol e tem um chute muito potente. É interessante notar o quanto o tema futebol é abrangente o suficiente para se fazer diversas tirinhas humorísticas sem se tornar algo cansativo. Mesmo com a repetição de situações (recurso comum no humor), cada tirinha tem seu jeito peculiar, sua graça, sua beleza e leveza. Pelezinho comemora seus gols (e de outros jogadores, quando ouve a narração em um radinho de pilha colado ao ouvido) com seu famoso pulinho socando o ar. Esse simples gesto gera várias piadas, nas quais o pulo alça cada vez maiores alturas, ou o “soquinho” no ar acerta algo inadivertidamente. O mesmo vale para seus poderosos chutes, que quebram não apenas vidraças, mas muros, paredes, e derrubam até aviões! O chute do Pelé (como ele é chamado nas primeiras tiras, com o tempo mudando para o diminutivo) rivaliza em potência com uma coelhada da Mônica!

    O elenco coadjuvante vai, aos poucos, demonstrando suas características e, lá pelo meio do volume, já sabemos o que esperar de cada um. Frangão, um garoto mais alto e magro que o resto da turma, é o goleiro que nunca consegue segurar uma bola chutada por Pelezinho, e vez por outra é também o árbitro das partidas. Cana Braba é o garoto rústico e um tanto lento para entender as coisas ao seu redor, que fala muito palavrão e leva tudo ao pé da letra. A voluptuosa Bonga é uma garota com corpo um tanto desenvolvido para a sua idade, que chama a atenção dos meninos do bairro com sua aparência sem perceber. Rex é o cachorro semi-antropomórfico e um dos poucos personagens cujas histórias se permitem fugir do tema futebol (geralmente caindo no cliché do cão que foge da carrocinha).

    As tirinhas não apresentam data de publicação, mas é possível perceber a evolução do traço dos personagens, que começam com as famosas bochechas “pontudas” e passam a ter traços mais arredondados ao fim do volume. É possível perceber, perto do fim, a contribuição de diferentes desenhistas – principalmente nas tirinhas que apresentam personagens mais “fofinhos” e com tomadas de cena em ângulos diferentes, típicos do final dos anos 70. Infelizmente, à época da publicação, a MSP não creditava seus artistas em cada história como tem sido feito hoje em dia nas revistas mensais. O prefácio é escrito pelo próprio Pelé, e conta como foi se tornar um personagem de quadrinhos na época. Além disso, há notas explicativas ao fim do volume (poucas, mas necessárias).

    As Tiras Clássicas do Pelezinho é um ótimo material, mas pode precisar de alguma contextualização, principalmente para os leitores mais jovens. Afinal, existem gírias e expressões de sua época, bem como termos e jargões do futebol – e da “pelada” de rua – que podem soar estranhas hoje em dia. Os diálogos foram reeditados para as normas atuais da língua portuguesa, e o trabalho de diagramação não deixa nada a desejar. O álbum tem potencial para agradar fãs de quadrinhos e de futebol de todas as idades!

    Compre: As Tiras Clássicas do Pelezinho – Vol. 1.

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  • Crítica | O Futebol

    Crítica | O Futebol

    O Futebol

    Vencedor do festival É Tudo Verdade, O Futebol mostra seu co-realizador Sergio Oksman e seu pai Simão tendo um reencontro após mais de duas décadas. O plano do cineasta, ao lado de seu parceiro Carlos Muguiro, é retornar a sua cidade natal, São Paulo, para passar todos os dias do torneio mundial sediado no país em 2014 ao lado da figura paterna, a qual se manteve ausente por longos anos. Os primeiros contatos dos dois são preenchidos por um silêncio constrangedor agravado pela ausência de trilha sonora.

    O contato de Simão com a câmera é quase sempre hostil, já que o ancião não parece ter qualquer familiaridade com o principal objeto de trabalho do seu herdeiro. A lente basicamente fica a poucos metros de distância do sujeito. Durantes os jogos, os momentos escolhidos pela edição são normalmente os que o senhor não olha para a televisão, com sua atenção voltada para o nada, como se pensasse no vazio em que esteve nos últimos anos, distante de seu parente.

    Não parece haver realmente qualquer contato anterior entre as partes, visto que até um divórcio por parte de Sergio não era conhecido de seu pai. Mesmo assim, o diretor consegue achar semelhanças entre a sua vida privada e a de seu pai, como o fato de ambos terem se hospedado em hotéis após suas respectivas separações conjugais.

    O documentário registra o ócio e a distância sentimental entre pai e filho, de um modo cuidadoso. O espaço entre os corpos, provocado pela falta de intimidade entre herdeiro e progenitor, é apenas uma visão superficial do que ocorre internamente entre as figuras de análise. O período de reencontro é interrompido por uma questão adversa, e a falta recente curiosamente casa com a eliminação brasileira no torneio, mas que não é sentida pelo filho, o qual está claramente ocupado em outra ressaca, em cenas carregadas de simbolismo, mostrando como pode ser desventuroso viver.

    O Futebol, tanto o nome do filme quanto o esporte em si, é basicamente um pretexto, um artifício utilizado para tentar alcançar a emoção do reencontro. O espírito e caráter da obra se assemelham muito a Homem Comum, de Carlos Nader, ainda que a digestão deste seja dada exclusivamente ao público, sem artifícios de pré-julgamento estabelecidos pelos diretores, o que torna a experiência da fita ainda mais rica e universal.

  • Crítica | Geraldinos

    Crítica | Geraldinos

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    Localizado bem próximo do campo do Maior Estádio do Mundo, com pouquíssima distância entre a torcida fanática por seu time ou seleção, se situava a lendária seção da Geral, um lugar desconfortável, apertado pela quantidade enorme de gente e repleta de paixão, alegria, folclore e tradição. Geraldinos explora essa faixa da torcida que frequentava o setor barato e popular, onde habitavam os adeptos que amavam seu objeto de culto e, claro, o patrimônio carioca resultante no Estádio Mario Filho, o Maracanã.

    Pedro Asbeg e Renato Martins voltam a atenção de suas câmeras para a parte de dentro do estádio, raramente enfoca jogadores e comissão técnica, mostrando o caráter do filme: a simplicidade do homem comum, evoluindo um pouco do conceito já mencionado no belo Democracia em Preto e Branco, dirigido pelo primeiro. Da parte dos entrevistados, há um estudo interessante sobre o perfil do homem que acompanhava seu time, assinado pelo jornalista Apolinho, que destacava a corneta feito por alguns.

    A maioria dos jogadores tinha uma estreita relação com os geraldinos, como Romário, que se permite falar que gostava de ser xingado pelos torcedores, fazendo disso combustível para superar seus próprios marcos enquanto atleta. Os frequentadores eram de diversas classes, mas normalmente muito pobres, como destaca o jornalista Lúcio de Castro, gente cujo alcance dos sonhos é muito pequeno, e que tinha naqueles momentos uma fuga de suas vidas difíceis, como se naquele curto espaço os sonhos não estivessem tão distantes.

    A troca entre torcida e jogadores envolvia uma trama de amor, ódio, cobrança e entrega, normalmente louvada pelos que adentravam o sagrado gramado do Maracanã. Pouco após os vinte minutos de exibição, se discute o papel político do estádio, desde a extinção do setor até a elitização da cidade como um todo, eliminando o caráter de reunião entre pobres e ricos no mesmo lugar, com a prática proibitiva aos que têm menos renda, movimento que começou antes das reformas recentes do campo, como dito pelo deputado estadual Marcelo Freixo e ressaltado pelos próprios torcedores, após 2005, ano do desfecho do setor.

    A realidade entre o futebol brasileiro e europeu não se reflete apenas na qualidade técnica e tática dos campeonatos, mas também da capacidade que os que tradicionalmente lotam o espetáculo têm financeiramente. Mesmo na Inglaterra, onde os ingressos são mais caros, há setores populares que foram eliminados nessa nova versão de futebol moderno implantada no Brasil, artifício que só funciona em tecnologia quando se trata de encarecer o produto, já que em termos de corrupção e amadorismo nunca houve tanta desfaçatez em exercer-se a desonestidade.

    A fala de Marcelo Frazão, que é o representante do Consórcio, que há pouco tempo o Maracanã exerce sobre a Geral, é emblemática, dizendo que visitou o lugar e o achou insalubre, vergonhoso, onde não se tinha visão do campo. De fato, a visão era prejudicada, mas não era com esse intuito necessariamente que o sujeito pagava aquelas poucas moedas que tinha para assistir a um jogo, já que os motivos variavam entre confraternizar, somente ver uma parcela do campo ou viver a adrenalina de um jogo de futebol in loco, aspectos que normalmente não seriam valorizados por um burocrata que pensa unicamente no lado monetário do esporte.

    As imagens de arquivo remetem a um tempo infelizmente morto, de uma época em que ser pobre e suburbano não era um pecado diante dos que mandavam no velho e bom Maraca. Hoje, o homem comum é relegado a acompanhar a sua paixão clubística no pay-per-view, isso quando consegue dinheiro para assinar esses pacotes, distante do projeto de cidade feita para os turistas, os mais ricos e abastados.

    A sensação de vibração e proximidade do suor e correria dos jogadores ajudava a aumentar a mística em torno do lugar, que se tornou sagrado desde a sua inauguração na Copa de 1950, a primeira ocorrida no Brasil, quando também abrigou a primeira final. A reportagem mescla imagens de um passado em preto e branco bastante distante, com o último Fla-Flu com a Geral. As histórias reais se misturam com a fantasia e alegria da contemplação participativa, em que os espectadores se enxergavam como parte integrante daquele show, e não apenas como plateia. Esse mundo mágico teve fim em 25 de abril de 2005, e a revolta se agravaria.

    Geraldinos poderia ser um ótimo filme sobre a memória afetiva do esporte. Mas seu caráter é maior que isso, sua intenção é destacar os desmandos dos mandatários e a evolução da exploração comercial do esporte bretão. O salto temporal, de 2005 para 2013 e 2014, mostra os mesmos torcedores populares tendo sua rotina de acompanhar o time em casa, ou nos bares, distante do gramado glorioso. A exposição desse terrível banimento do pobre, matando o efeito que existia, cobrando-se de 80 a 150 reais pelo espaço que há poucos anos chegava a ser um real, o lugar que era marginalizado, agora é dos grã-finos, do torcedor tipo plateia de teatro, letárgico, sem vida.

    O choro engasgado de Castro serve de símbolo da reação e indignação do povo, que é impedido de fazer sua festa. Apesar de algumas palavras positivas e otimistas, os momentos pré-créditos finais são bastante melancólicos e desesperançosos, contrariados apenas pelo belo conjunto de fotografias dos geraldinos, que eram a alma da espetacular exibição do futebol carioca nos tempos áureos, e que, insistentemente, se obrigam a ainda acompanhar seu objeto de devoção, ainda que distantes do campo dos sonhos, já inexistente.

  • Crítica | Ídolo

    Crítica | Ídolo

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    Trabalho de pesquisa intensa e devoção extrema a uma das figuras mais importantes do cenário futebolístico brasileiro, Ídolo é um documentário de Ricardo Calvet, mergulhando no culto merecido ao Nilton Santos, lateral esquerdo, enciclopédia do futebol e maior herói da história do Botafogo Futebol e Regatas, ao lado de Garrincha.

    A câmera acompanha um torcedor muito próximo de Nilton, que se torna o primeiro narrador do filme, essencial pela estreita relação com o ex-atleta, em especial nos seus últimos anos de vida, quando Santos estava debilitado. Através das confissões dos entrevistados, constrói-se uma panorama de sua vida, desde a infância até os primeiros passos no futebol. O passado de Nilton é intimamente ligado ao clube, tanto que, por um tempo, ainda garoto, ele vivia alojado nas dependências da instituição.

    O filme expõe momentos espinhosos, através do depoimento de Célia, esposa do ex jogador, que assume sempre achou que Santos se doou muito mais ao time em comparação com os benefícios que a associação desportiva contemplou ao seu ídolo, exceto é claro, os temos de maior necessidade, com o agravamento da saúde deste. A gratidão foi sentida a partir do apoio no momento derradeiro da existência de Nilton Santos, onde as despesas médicos ficaram mais caros. Assistir ao sofrimento de uma pessoa tão iconoclástica é surpreendente, e o caráter do filme dribla a pieguice de exibir um sujeito admirável em posição de pena.

    Há um equilíbrio entre momentos históricos pessoais e os feitos no desporto, desde os lamentos pela derrota em 1950 e sobre sua posição de reserva, até a descoberta de Mané Garrincha, assim que chegou do Bonsucesso para o alvinegro carioca, detalhando os conselhos que o lateral dava ao exímio driblador.

    Como era esperado, o filme faz um intenso estudo sobre tática e raça esportiva, mostrando desde as frustrações de 54 em que a seleção brasileira perdeu para a Hungria de Puskas e Kocsis, bem como o surgimento da primeiro título, na Suécia, onde o time sobrou, principalmente graças ao surgimento de Pelé e Garrincha e, claro, a solidez da defesa capitaneada por Bellini e Nilton. Dedica-se um belo pedaço de filme mostrando os campeonatos estaduais, torneios que resultavam em uma rivalidade bem maior do que a vista atualmente.

    Talvez falte a Ídolo, uma mão uma pouco mais ativa de seu diretor, mas a evolução de seu personagem de estudo é muito bem representada, tanto em informações como em resgate emocional, resultando em um filme tributo bonito, reunindo falas interessantes dos envolvidos com Nilton Santos e dizeres do próprio, formando um quadro nostálgico que faz ainda mais sentido para os torcedores do Botafogo e demais crentes na figura do ídolo.

  • Crítica | Campo de Jogo

    Crítica | Campo de Jogo

    Campo de Jogo 1

    O campo do Sampaio é palco de um campeonato muito menos suntuoso do que o certame abrigado em seu vizinho Maracanã em meados de 2014. Localizado no subúrbio carioca, montado com orçamento completamente diferente do mundial da FIFA, o campeonato anual de favelas conta com catorze times, devidamente registrados pelo documentarista Eryc Rocha, que mergulha na intimidade dos jogadores amadores e claro, em seu entorno, exibindo paixão, raça e suor no evento que marca a final do torneio.

    O modo escolhido pelo diretor para retratar o jogo entre os times Geração e Juventude faz engrandecer os atletas, utilizando ângulos que se originam de baixo, tornando-os tão míticos quanto as figuras dos ídolos que se tornam estátuas. Outro enquadramento comumente usado envolve o andar dos jogadores em campo, com a câmera como espécie perseguidora dos passos dos atletas.

    Campo de Jogo 3

    A experiência visual proposta é visceral e emocionante, visa enquadrar o público dentro de todos os detalhes do jogo, sepultando o velho sofisma comumente usado para criticar o futebol, contrariando a máximo de que “é apenas um jogo”, mostrando preleções, concentrações, o brado e a bateria da torcida, unindo esses elementos aos esforços de quem entrará em campo.

    A relação simbiótica entre time e torcedores, perdida há muito pela necessidade de modernizar o futebol profissional, não conhece fronteiras dentro do campeonato de comunidades carentes, abrindo espaço assim para um outro futebol, para uma tradição há muito esquecida.

    A mistura do discurso simples, dos instrutores técnicos humildes, baseado na pura motivação repleta de frases lugar comum, dão lugar a cenas intimistas, que exalam uma poesia típica do classicismo de um futebol mais antigo e condizente com os anseios do povo. A ode de Eryc Rocha é a um público mais humilde, ao geraldino e arquibaldo, ao torcedor de radinho de pilha que tinha no coração unicamente a paixão por seu time ou por sua seleção, e que tinha na pelota de domingo a sua diversão garantida. Campo de Jogo é um filme tocante, mas também possui um caráter de denúncia e repúdio a elitização do esporte que sempre foi uma manifestação popular, fugindo de qualquer panfletarismo barato.

  • Crítica | E:60 Reports – Sepp Blatter and FIFA

    Crítica | E:60 Reports – Sepp Blatter and FIFA

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    O começo intimista do filme mostra o discurso do atual mandatário da FIFAJoseph Blatter, em meio a paisagens curiosas que remontam a simplicidade destoante da falta de transparência do modus operandi da empresa, apesar de todos os esforços da entidade e do suíço em realizarem uma imagem diferenciada. E:60 Reports – Sepp Blatter and FIFA do documentarista e repórter Jeremy Schaap se preocupa em revelar a real face do dirigente, bem como a quantidade de escândalos envolvendo a organizadora mundial do esporte mais popular do globo, antes mesmo da recente caça às bruxas da justiça a políticos envolvidos em corrupção.

    O primeiro caso analisado foi a decisão em 2010 de fazer do Qatar a sede da Copa do Mundo de 2022, cuja maior polêmica é a informação desvelada de que houve suborno junto aos votantes que elegeram o país devastado como sede do evento. O filme-denúncia foi exibido ainda em 2015, regatando documentos e depoimentos que ajudam a compor o quão grotesco é o caso mais recente de favorecimento ilícito da entidade.

    O relato sobre a origem de Blatter, que tentou a todo custo trabalhar com futebol, é de um tom agridoce único, ambicioso mesmo diante das primeiras recusas que tomou, especialmente dentro de casa, quando seu pai rasgou um contrato que foi oferecido quando tencionava ser atleta. A fala de que “você jamais ganhará dinheiro com o futebol” não poderia estar mais errada, por não prever a aproximação gradativa do jovem Joseph do brasileiro João Havelange, que via no suíço o melhor candidato a sucessor.

    A subida de nível do político faz quase afeiçoar a sua figura, que é deteriorada pelas cenas “fofas” do economista se envolvendo em hábitos dos países que visita, os mesmo com que faz conchavos. As homenagens que lhe rendem servem para tornar sua controversa figura em algo ainda mais pitoresca.

    Outras tantas indiscrições são mostrada, como a polêmica eleição da Rússia como sede do mundial de 2018, ainda a acontecer, especialmente pelo lobby realizado através das figuras carismáticas do Príncipe William e do ex-jogador David Beckham, que, juntos, só conseguiram angariar míseros dois votos. O surpreendente não foi a derrota, mas sim a disparidade entre os votos dos candidatos, visto que desde a Copa de 2010, só foram escolhidos países subdesenvolvidos, com históricos largos de corrupção governamental, o que aumenta a esfera de suspeitas ao modo de operar da organização.

    As gravações da Sunday Times, de compras de favores junto à federação nigeriana de futebol, faz perceber que a prática é bastante comum no meio. O estudo é amparado por materiais literários, como nos estudos de Andrew Jennings e pela coleção Ugly Game. A conclusão tirada pelo documentarista e por seu feitor é a de que um esporte que é lazer, tanto em prática quanto em acesso pelo mundo inteiro, não deveria ser de posse de uma empresa, ainda mais uma que constantemente se dobra aos desígnios e desejos de quem pagar mais. Ainda que seja utópico, o reclame vale muito, especialmente em território brasileiro, uma vez que o futebol sempre foi um evento consumido naturalmente pelas massas, recentemente elitizado de modo hediondo e mal feito. Ao menos, é reconfortante que os casos recentes estejam sendo investigados, ao menos neste primeiro momento.

  • Crítica | Memórias do Chumbo: O Futebol nos Tempos do Condor

    Crítica | Memórias do Chumbo: O Futebol nos Tempos do Condor

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    Unindo dois assuntos primos, o jornalista Lúcio de Castro organizou quatro episódios exibidos no canal ESPN Brasil, onde seria explorado a proximidade entre as ditaduras direitistas que tomaram a America do Sul, e o futebol. Memórias do Chumbo – O Futebol Nos Tempos de Condor. As sedes dos estudos seriam Argentina, Uruguai, Brasil e Chile, e escrutinaria a influência semelhante ao ópio que o esporte – e mania – faria no povo, assim como o uso indiscriminado deste como arma governamental.

    A análise sobre o regime que tomou a Argentina começa por depoentes de idades variadas, alguns que presenciaram o início da tomada do poder, e outros que relatam as experiências de pais e outros parentes. O enfoque dado as gravações é muito mais emocional que didático, graças a sensibilidade do feitor em entrevistar as pessoas próximas das vítimas dos desmandos dos militares, sempre ligados ao futebol. No episódio Argentina a Operação Condor é esplanada, com o detalhamento da completa falta de educação, crueldade e violência, mesmo a pessoas que nada tinham a ver com os desígnios socialistas.

    A Copa de 1978 pareceu ao grupo de poderosos uma boa alternativa para retirar da opinião pública mundial a imagem de uma país opressor, mesmo que o custo fosse absurdo, beirando os setecentos milhões de dólares, incluindo nesta equação, o então presidente da FIFA, o brasileiro João Havelange, recentemente investigado por gigantescos escândalos de corrupção. É curioso como a uma distância mínima dos estádios, onde a torcida pulava e gritava, comemorando com Villa, Houseman e Kempes, havia salas de tortura, onde os cidadãos eram humilhados, fazendo daquela conquista a mais contestada da história das Copas. As falas das vítimas revelam um temor ainda existente, mesmo após décadas do acontecido, fortificando a sensação de que eram os militares os “donos da morte” dos prisioneiros, que nada fizeram, a não ser discordar do modo de governo.

    No episódio do Uruguai os depoimentos começam com as falas de Eduardo Galeano, com a revelação de que o país era campeão em torturados e mortes durante os anos negros da América Latina, inclusive com participação, conivência e patrocínio do governo brasileiro. Segundo o autor de Veias Abertas da América Latina, a tortura não era útil para colher informações, mas sim para incutir medo na população e em qualquer oposicionista, semeando e disseminando o pânico.

    O primeiro momento em que Castro se permite exibir-se para a câmera de Rosemberg Faria, é a conversar com Galeano, com quem tinha uma amizade bastante próxima. A intimidade faz com que os relatos do escritor sejam ainda mais intensos, agravados pelos detalhes do tratar dos poderosos, associando a esquemas de supostos favorecimentos, como num campeonato nacional para o Defensor Sporting, e um mundialito para a seleção uruguaio, associado a um campeonato inventado para desvirtuar a atenção do povo. Curioso é que nos relatos de Eduardo, revela-se uma das primeiras e mais notórias ações populares de torcida/sociedade, que gritava quase em uníssono “se va acabar, se va acabar, la ditadura militar”, fazendo da plebe finalmente um braço contrário aos desejos dos poderosos.

    Chega de Saudade, executada por Tom Jobim remete ao fim dos anos cinquenta, que apresentavam uma nova era de glorias para os brasileiros, especialmente pela Bossa Nova. Na esteira do receio de os discursos de Ernesto Guevara tornar-se verdade, e apoiado pelo presidente dos Estados Unidos Lyndon Johnson, os militares assumem o poder após a renúncia de Jânio Quadros. Subitamente, toda a informação passaria a ser controlada pelos militares recém “empossados”.

    No futebol não foi diferente, visto que ocupava uma boa parte do imaginário popular. Grande parte dos mandantes de federações estaduais, era aliada ou amiga dos poderosos, homens de confiança, que ajudava a alastrar a mentalidade dos governantes. Segundo o historiador Carlos Fico, o número menor de mortes em comparação com os outros pais do cone sul não fazia dos ditadores brasileiros menos implacáveis, piorando muito pela mentalidade reacionária se propagar no imaginário civil também.

    A perseguição ao técnico João Saldanha é revelada, focando em práticas covardes dos censores, que o encaravam como informante comunista, com a suspeição de que ele fornecia documentos a estrangeiros nas viagens com a seleção canarinho, pós Copa de 1966. O extenso monitoramento abarcava toda a população, o que vinha de encontro também ao futuro time tricampeão mundial com a introdução de um major dentro da comissão técnica.

    A tramoia do episodio varia entre os ditos sobre a guerra psicológica via slogans, como o “Brasil, ame ou deixe-o”, e claro, os relatos de torturados, como o de Cid  Benjamin, professor e jornalista, motivador do grupo MR-8, que sequestrou o embaixador estadunidense Charles Elbrick. Os detalhes sobre as condições insalubres do cárcere assustam, especialmente pela sujeira, frequentemente deixando os presos chafurdados em seus próprios excrementos.

    O estudo piora com a exposição da Operação Condor, onde se exportava tecnologias de tortura, pontuadas emocionalmente pela narração do funcionário da ESPN Luis Alberto Volpe, que imprime um caráter de denúncia mesmo em questões não tão espinhosas, agravado em momentos como nestas narrações. O episódio se encerra com a participação de Galeano expondo alguns detalhes das atividades de João Havelange e seu então genro, Ricardo Teixeira, que lucravam muito ainda nos tempos de chumbo, o que agravava ainda mais o martírio dos brasileiros comuns.

    O espécime que analisa o quadro do Chile começa mostrando o motim que vitimou Salvador Allende, um complô que – mais uma vez – envolvia os governantes brasileiros, sendo a embaixada palco até de reuniões dos golpistas. O roteiro é prodigioso ao comparar a hipocrisia dos atos com o bom mocismo das atitudes pragmáticas dos homens fortes do Mercosul, exibindo a contradição entre teoria e prática.

    O episódio é tomado por muitos depoimentos dos ex-jogadores da seleção chilena, que assumiram se sentirem como palhaços, graças a prática comum da ditadura em tornar o esporte como um circo. Ao mesmo tempo em que os atletas eram “protegidos”, seus familiares não o eram, então qualquer ato de rebeldia sofria represálias por torturas indiretas, a entes queridos, incluindo até suas mães.

    Mas foi em um jogo, que uma das maiores manifestações ocorreu, ainda que por “acaso”. Um dos jogadores, que exercia mal seu papel tinha seu nome gritado, por coincidência, homônimo do ditador, e o “Fora Pinochet” tomou os pulmões das arquibancadas, que refutavam claro, um dos soberanos mais nefastos daqueles tempos.

    Apesar de não haver uma ordem cronológica prévia para assistir a Memórias do Chumbo, é interessante tomar o capítulo chileno por último, por ser este encerrado de modo emocional, com depoentes prestes a chorar, em virtude do genocídio que ocorreu em seu país, quando os atletas corriam em atividades desportivas, com a certeza de que eventos como o túnel que ligava o campo de futebol a um local de fuzilamento, não se repetiria. O costume no Chile, Uruguai, Argentina e outros países é o de total desprezo por quem defende tais regimes, até por valorizar os homens que lutaram em favor da vida. Apesar do otimismo em seu final, não há qualquer aplacamento da realidade, ao contrário, a apresentação é visceral, informativa e emotiva, da parte de um estudioso que leva a sério o ofício de informar o espectador a qualquer preço.

    Episódio Argentina

    Episódio Uruguai

    Episódio Brasil

    Episódio Chile

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  • Crítica | 12 de Junho de 93: O Dia da Paixão Palmeirense

    Crítica | 12 de Junho de 93: O Dia da Paixão Palmeirense

    O filme de Jaime Queiroz e Mauro Beting resgata as tristes memórias dos torcedores palestrinos, que amargaram uma seca de quase dezessete anos sem títulos, quebrada finalmente em 1993 através de uma geração de jogadores fenomenais. O gol de Evair liberou um grito há muito enterrado na garganta: a vontade de gritar “campeão” que teimava em não sair da boca de nenhum dos alviverdes paulistas.

    Os depoimentos de torcedores ilustres revelam a ânsia dos fanáticos pela Sociedade Esportiva Palmeiras, que teve após a geração de Ademir da Guia um período de entressafra. O desmonte ocorrido após o ano de 1975 foi o prenúncio da tragédia, com as transferências internacionais de Leivinha e Luís Pereira, com poucos remanescentes, tendo Ademir e Jorge Mendonça como os principais nomes. Uma lesão faria Da Guia não ser mais o mesmo. Mal fisicamente, ele não conseguiria repetir os momentos de sucesso, sendo o Paulista de 1976 o último dos títulos por muito tempo.

    Declarações do próprio Beting e de outros jornalistas, como Roberto Avallone, Paulo Vinícius Coelho (PVC) e de outras pessoas ilustres, como Paulo Nobre (atual presidente do clube), e membros das comissões técnicas, além de antigos jogadores, afirmam e reafirmam todo o sofrimento que fora aquela seca. Dentre os momentos mais melancólicos estavam a disputa contra o Corinthians, na semi-final do Paulistão de 83, o dito jogo mais roubado da história, e, claro, a final de 1986, completando uma década de jejum vencido pelo XV de Novembro de Jaú.

    Pelos idos de 1991, a história começaria a ser mudada. Evair seria contratado, com o medo de ser este um jogador bichado. O atacante foi afastado por deficiência técnica, mais retornaria um tempo depois. Em 1993, viria a parceria com a Parmalat, considerada pelas narrações como a maior das parecerias esportivas da história brasileira, sob a tutela de José Carlos Brunoro. Com a contratação de grandes jogadores, como Mazinho, Edilson, Roberto Carlos, Antonio Carlos Zago, Edmundo Zinho, o elenco passaria a enriquecer-se, tendo na chegada de Vanderlei Luxemburgo um divisor de águas, já que o promissor e moderno técnico deixou reinar a democracia pelos quatro cantos do Parque Antártica.

    A história trataria de mostrar que a parceria com a Parmalat não seria um mar de rosas, mas o viés do filme era muito mais de memória afetiva que de discussão econômica, ou algo que o valesse. O caráter era de absoluta festa, até aplacarem nos torcedores dos tempos atuais as sensações de vergonha ocorridas pelo revés atual, do rebaixamento à série B, duplamente repetido.

    O choro de Edmundo ao ouvir a torcida gritando “Au, au, au, Edmundo é Animal!” faz relembrar os tempos áureos do auge de sua carreira e a forma com que foi abraçado por uma torcida de um estado e cidade que o adotou como se fosse um conterrâneo. O amor do atacante seria provado em outros momentos de sua carreira, até renasceria no Palestra, após os anos 2000.

    A provocação de Viola, no primeiro jogo da decisão de 1993 ecoava pela lembrança dos torcedores, jogadores e comissão técnica. A angústia causada por aquele simples gesto de imitação de um porco, após o gol, marcou a alma do palmeirense: Era como mexer com a família, como ofender de modo pessoal e íntimo. A decisão de Luxemburgo e Brunoro foi de isolar o grupo em Atibaia, para isolar o grupo dos dezesseis anos de fila, tentando eximi-los de qualquer culpa ou pressão externa.

    O revide começaria com uma união muito estreita, encabeçada pelo treinador – segundo o próprio craque do time, Edmundo – passando confiança aos seus legionários, inserindo uma pilha enorme neles, elevando seu nível de concentração como se estivessem indo à guerra, sendo o estádio o grande campo de batalha, e, como leões famintos, entrariam no gramado. Evair diria que, de um jeito ou de outro, eles sairiam do Morumbi carregados.

    O modo como Evair e Brunoro descrevem a finalíssima é muito emocionado: percebe-se um embargo na voz, mesmo passadas duas décadas do ocorrido. O gol de Zinho foi uma catarse, como se a zona entre o possível e o impossível fosse transposta. A emoção era tamanha que os arquibaldos mal acreditavam.

    A expulsão do corintiano Henrique pioraria a situação e aumentaria as especulações em torno do “esquema Parmalat”, que seria para a manipulação do resultado, supostamente pela compra do árbitro José Aparecido, muito por conta do placar elástico que somente evidenciava a diferença da qualidade dos dois elencos.

    Os versos do batedor de pênalti pareciam ser corridos a partir de 1976 para somente converterem-se em gol em 1993. Emocionado, Evair retira o peso das costas, de si e de toda a massa verde. O grande símbolo daquela época, saindo da mediocridade para finalmente ser reconhecido como um dos melhores centroavantes da história do futebol nacional. A sensação era a de que nenhum título superaria aquela festa, com a maldição encerrada contra o seu principal rival.

    As últimas cenas mostram a reunião em 2011 do time campeão, encerrada com uma partida que tencionava repetir os momentos emocionantes daquele jogo, com um saudosismo que tomou cada um dos integrantes daquele mágico time, que mudou o astral e o destino de 16 milhões de pessoas. A verve de toda a torcida e dos apaixonados pelo Palmeiras é registrado de modo emotivo e comovente.

  • Crítica | Democracia em Preto e Branco

    Crítica | Democracia em Preto e Branco

    Democracia em P e B

    Cuidadosamente focado em sua introdução sem cores – em preto e branco -, o filme de Pedro Asbeg emula a barra pesada da época, com a repressão do Regime Militar ainda sem as “novidades europeias” do futebol, e da democracia. O medo tomava conta da vida dos cidadãos, os mandantes não tinham qualquer pudor em demonstrar o seu poderio, humilhando as pessoas comuns, que não tinham acesso aos mesmos direitos dos que impunham fardas. O contra-ataque precisava acontecer em alguma instância, e sob o som de Núcleo Base do IRA!. uma destas facetas é mostrada, sob os campos de São Paulo; uma outra luta, ligada a igualdade, ao esporte e a música.

    A narração de Rita Lee grafa o quanto havia um não-desejo pela alternância no poder, tanto dos presidentes nacionais militares, quanto no certame do Corinthians, com Vicente Matheus no posto mais alto. A realidade aviltante que ocorria no quadro político brasileiro gritava mais do que qualquer receio “clubístico”, uma vez que a insegurança que tomava os não-poderosos, por sua vez era motivada pela “segurança” dos governantes.

    A derrocada do Brasil fez com que os integrantes da nova chapa do poder no Sport Club Corinthians Paulista se interessassem por um maior progressismo não condizente com os outros tempos, os de Matheus especialmente. Com o tempo, o laranja do antigo presidente, Waldemar Pires. O catalisador desta mudança viria primeiro pela figura de Sócrates, um jogador elegante, inteligente, letrado e inconformado, mas ainda sem um norte, sem uma direção para lutar. Este paradigma mudaria com o acréscimo do lateral Wladimir. O rapaz de pele negra acompanhava as greves no ABC Paulista, se via então como um operário da bola. Dali começava uma discussão mais profunda a respeito dos direitos civis, ainda no elenco de um time de futebol. O último fator para que o grito fosse completo viria com a juventude, com Walter Casagrande Júnior, o centro-avante de apenas 19 anos, que trazia a polêmica do Rock’n Roll na postura, cabelos e na pele para dentro de campo, paro algo além do simples “tatibitate” do futebol.

    Os jogadores passaram a ganhar voz, se valendo até da queda de divisão do time, uma vez que eles disputavam a Taça de Prata. A inflação piorava, o medo de faltar alimento na mesa do pobre aumentava, enquanto o modo de reger via repressão parecia cada vez mais tacanho, com uma trilha sonora que começava a falar mais abertamente sobre a hipocrisia da lei. Viriam Edgard Scandurra com o seu IRA!, a letra de Selvagem dos Paralamas, que louvava o monstro que somente crescia, e claro, o disco de Paulo Miklos e seus Titãs Cabeça Dinossauro, que não mais via o amor como a via para caminhar o povo, e sim mostrava através dos riffs de guitarra como era truculenta a realidade do país. O rock de Frejat, Cazuza, Renato Russo, Ultraje e outras turmas mostravam o que era o pensamento do jovem, como ele via as direções sociais que a nação tomava.

    Sob a tutela do administrador técnico – e também sociólogo – Adilson Monteiro Alves e de Sócrates, começava o que Juca Kfouri e o publicitário Washington Olivetto nomeariam como Democracia Corintiana, onde todos tinham o mesmo poder de voto e peso. Jogadores como Zenon, Wladimir e Casão eram politizados, e ajudariam a quebrar os paradigmas de concentração pré-jogo e do bom-mocismo como método de tratar o esporte. A civilização do time de Parque São Jorge não era obrigatoriamente moralista, ao contrário: Era evoluída, madura, sabendo bem o que se queria.

    Para Sócrates, foi o movimento político dos jogadores que manteve o time bem dentro das quatro linhas. Esta era a base do bom futebol deles, além claro do acesso aos shows de músicos amigos, Blitz, Rita Lee, Maria Bethânia entre outros. A relação dos esportistas com os músicos era bastante intrínseca e íntima, de modo que era quase indistinguível a identidade de um e de outro. A busca pela liberdade de expressão era comum aos dois segmentos, a música era o canal para a liberação, o que não ocorria desde 1968, com o jovem falando para o jovem.

    O pensamento evolui, como dito na narração por Lula, e o advento da Democracia Corintiana passaria a falar também do voto do povo, do voto direto que finalmente ocorreria. A campanha mudaria para DIA 15 VOTE, grafada acima dos números dos jogadores de futebol, o que visava quebrar a deseducação política do torcedor comum, desde os geraldinos e arquibaldos até aos já conscientes de que era preciso modificar o quadro político, e mobilizar a opinião pública.

    Os comícios para as Diretas Já começaram bastante tímidos, com poucas pessoas. E aos poucos o movimento aumentaria, até desembocar no comício da Praça da Sé, de um caráter suprapartidário, com discursos de Ulysses Guimarães, Brizola, Lula, Fernando Henrique, em uma união completamente impensável atualmente, unidos pela quebra da tutelagem do povo brasileiro, para que a população pudesse enfim andar sozinha, reconquistando sua democracia. A rejeição da emenda em 1984 foi um duro golpe na população brasileira; o sentimento de comoção logo deu lugar a sensação de que foram iludidos, inclusive Sócrates, que aceitaria a proposta de venda para a Fiorentina, da Itália.

    Os integrantes daquele time preferem encarar todo aquele tempo com um saudosismo tocante, de que o país voltaria a sorrir, e que havia começado ali a redemocratização do Brasil. No entanto, a sensação de que o pior da ditadura ainda permanecia não poderia ser ignorado, uma vez que o modus operandi policial prossegue semelhante ao do Regime. Até pela última música executada – Até Quando Esperar, da Plebe Rude -, a sensação de Democracia em Preto e Branco não é de otimismo, e sim de uma amálgama entre a melancolia e a objeção, de um país que apesar de um pequeno progresso, ainda tem muito a evoluir; muito esforço a ser executado para que se torne uma república minimamente digna, sendo esse viés o que faz da fita ser algo muito a frente dos documentários contemporâneos.

  • Crítica | Destino Futebol: O Inferno dos Rangers

    Crítica | Destino Futebol: O Inferno dos Rangers

    Rangers Football Club

    A série Destino Futebol, da ESPN Originals analisa figuras da bola, e o episódio em questão é o naufrágio do Rangers Football Club, o time mais tradicional da Escócia. O documentário, de 30 minutos de duração, se inicia mostrando torcedores, famosos e anônimos, louvando a tradição do time, declarando sua paixão e fanatismo, valorizando a enormidade do clube dentro do seu próprio país. O clube ganhou 54 taças da Scottish League Championships contra 44 do maior rival, Celtic F. C., mas sofreu uma derrocada enorme nos últimos anos.

    Em 2012, descobriu-se uma dívida de 134 milhões de libras, sendo 93 milhões somente de impostos. Os credores exigiam que sanassem os débitos, e tudo, estádio, jogadores, patrimônios do clube, estava à venda. Em pouquíssimo tempo, 28 jogadores foram vendidos de uma só vez. Craig Whyte, antigo cartola, era apontado como o responsável pelo não pagamento dos impostos. Em 2012, o clube enfim falira e todos os envolvidos com a história do time são mostrados desolados; de funcionário a ídolos, os apaixonados pela camisa azul e branca mergulharam num estado depressivo enorme.

    O futuro era nebuloso, e, por pouco, as portas do clube não fecharam, graças a Charles Green. O ex-jogador e empresário foi contatado por antigos membros do clube e, motivado por estes, comprou as ações do time, que estava em baixa, encabeçou um novo projeto, que tinha o intuito de reerguer o clube do zero, com nova administração de negócio, novo nome e postura desportiva completamente diferente. O Rangers foi excluído da Liga Escocesa e deveria solicitar autorização para se inscrever de novo na federação, o que simplesmente não ocorreu, sequer era permitida a contratação de novos jogadores.

    Houve uma votação com os sócios do time e 78% decidiram por uma decisão pouco ortodoxa: jogar a 4ª divisão da Liga, a fim de limpar o nome do clube endividado e para que não o acusassem de qualquer pecado moral. O novo time para a Division 3 foi montado a 3 dias do início do campeonato. Com todas as dificuldades, com  jogo mais “físico” se comparado ao das divisões anteriores, o Rangers vai se reerguendo, com um esquete mais modesto, mas muito mais identificado com o clube.

    A Scottish League Championships ficou sem o clássico de Glasgow. Até mesmo a torcida do Celtic lamentava, com o tempo, o fim da rivalidade no campeonato, apesar do discurso inicial de alguns alviverdes escoceses. O destaque do documentarista é a fidelidade do torcedor, que, mesmo após a descida ao inferno, permaneceu fiel, acompanhando o clube na dura subida ao campo, sem atalhos. Quando há jogos no Ibrox Stadium, o torcedor retorna seu orgulho. A 4ª divisão se disfarça de primeira, a média de torcida representa o orgulho dos adeptos às cores, com uma média de 49.000 pagantes, superior a do Celtic. “A Razão do clube existir são as pessoas, por isso o clube nunca morre” – o narrador, João Castello Branco, afirma que o reerguer é complicado e o mais difícil é o 1° passo, mas o Rangers finalmente está no caminho certo.

    A retomada é levada por pessoas identificadas com o clube, mas que não abrem mão do profissionalismo em suas gestões. O treinador do time é Ally McCoist, maior artilheiro da história do Rangers; dentro de campo, o comando é do capitão Lee Mcculoch, que já defendeu as cores da seleção 18 vezes. Os relatos de alguns torcedores também são muitíssimo emocionantes, seja da responsável pelo museu do Rangers,  ou de Alex Hamilton que, ao ter sua perna amputada, só se preocupava em quantos jogos do time perderia.

    O relato é interessante, principalmente devido aos acontecimentos recentes no Brasil, e reacende a discussão sobre a moral dentro e fora dos gramados, relativa à disputa desportiva justa e, claro, é um exemplo de como uma torcida não abandona o seu time e luta bravamente para reconquistar seu destaque de forma limpa e justa. 

    O Rangers venceu a Division 3 e atualmente lidera a Scottish League One (equivalente à série C). Seu elenco conta com o artilheiro irlandês Jon Daly e o zagueiro brasileiro Edmilson Cribari, (com boas passagens por Empoli, Lazio, além de ter jogado no Cruzeiro de Belo Horizonte), e prossegue em ascensão no intuito de limpar o próprio nome, com uma torcida apaixonada e sem medo de perder sua grandiosidade ao disputar as divisões inferiores.

    O documentário ainda está na programação do ESPN (veja horários) e ainda conta com um artigo e video do jornalista Mauro Cezar Pereira destacando o filme.

  • Crítica | Heleno

    Crítica | Heleno

    66 - Heleno

    Heleno de Freitas foi uma das figuras emblemáticas de um Brasil pré-campeão da Copa do mundo, onde o futebol era vivido, mas sentido de forma diferente, ainda saindo do amadorismo e dando seus primeiros passos em direção ao profissionalismo.

    Assim como muitas figuras do futebol, Heleno viveu glórias dentro de campo e dificuldades fora dele. Sua personalidade narcisista e egocêntrica lhe arrumou inimigos e só foi suportada enquanto rendia frutos dentro do campo. Depois disso, passou a entrar em uma espiral de autoconsumo que culmina com sua morte em um sanatório em MG.

    Está aí uma história que daria um excelente filme, caso bem conduzido. O que não acontece com o longa de José Henrique Fonseca. Apesar de ter uma fotografia de grande qualidade (a escolha de filmar em preto e branco foi acertada) e uma produção também eficiente, o filme peca naquilo em que filmes brasileiros costumam pecar: na narrativa novelística e que carrega exageradamente no drama, deixando de lado outras características dos personagens, tornando-os unidimensionais. Não conseguimos acompanhar muito bem o Heleno mito, não sabemos por que ele se expressa tão bem, ou como fala um inglês tão perfeito, ou de onde vem tamanha educação e refinamento que sustentam seu ego. O personagem nos é dado já pronto.

    O filme conta a história de Heleno de forma entrecortada, desde seu auge no Botafogo até sua decadência, mas falha em ambientar melhor o espectador, que, caso não tenha conhecimento de história do futebol, poderá se perder em meio às poucas dicas da época retratada. Sua passagem pela Colômbia é citada, por exemplo, em uma única cena de poucos segundos.

    As melhores sequências do filme são quando Heleno já é uma figura decadente, internado em um sanatório. A maquiagem e as atuações de Rodrigo Santoro são fenomenais e nos convencem da condição em que o ex-atleta se encontrava então. Mas, como jogador de futebol, faltam justamente momentos retratando sua genialidade e visão dentro de campo, com menos cenas estilizadas (como câmera lenta na chuva) e mais clássicas do esporte.

    Com um roteiro que se preocupa mais em retratar a decadência da pessoa, sobra pouco tempo para nos relacionarmos com o atleta, já que essa decadência ocupa muito tempo de tela. Quando Heleno termina, fica a sensação de que não chegamos a conhecer de verdade o jogador e o mito.

    Com vários outros jogadores fenomenais com histórias ricas do Brasil antes de Pelé, como Friedenreich e Leônidas, fica a dúvida se produções para tamanhos ícones não terão um tratamento melhor.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Review | New Star Soccer 5

    Review | New Star Soccer 5

    New Star Soccer 5 é quase uma raridade, pois jogos independentes de esportes em geral já são poucos, e os que têm uma base de jogadores são menos ainda. O fato é que New Star Soccer 5 não pretende ser o novo Fifa ou PES, apenas traz alguns elementos interessantes pra um gênero que pouco inova, a não ser em gráficos melhores e física melhor. Mas os objetivos pouco mudam.

    O primeiro sentimento que eu tive com o jogo foi uma espécie de volta ao passado. Algo como voltar a 1994 e jogar o primeiro Fifa Soccer ou Soccer Shootout do SNES. Afinal, os gráficos são comparáveis a esses: uma visão geral do campo, com os personagens desenhados com sprites. A própria movimentação dos jogadores, o domínio de bola e a jogabilidade em si também têm grandes semelhanças. Tudo muito simples. Os uniformes, em sua maioria, são apenas uma ou duas cores sólidas com alguns pequenos detalhes, por exemplo a faixa transversal do uniforme do Vasco. Portanto, se para você o que conta é a fidelidade de um jogo ao tentar se aproximar da realidade, passe longe de New Star Soccer 5.

    Agora um ponto bastante negativo do jogo, independente de qual era o seu real intento com relação aos gráficos, fica por conta da resolução. Nem tanto das partidas em si, que realmente ocupam a tela inteira do computador na resolução correta. Mas toda a parte de menus e simulação do jogo é envolta em uma moldura para ocupar a tela toda em fullscreen, e as letras e todas as informações ficam centralizadas na tela, tudo muito pequeno, tendo que em momentos me aproximar para conseguir ler o que estava escrito.

    Um pouco da estrutura do jogo, para depois destacar alguns pontos: New Star Soccer 5 é um jogo de futebol em que você não controla o time todo, apenas um jogador, e deve seguir a carreira ludopédica dele. Além disso, os times não são formados pelos jogadores atuais da equipe de que você participa, e sim por outros jogadores reais – mas que não jogam ao mesmo tempo, são usadas apenas as estatísticas deles, ou seja, é completamente single player.

    Outro ponto são todas as atividades que ocorrem no entorno da partida em si. Uma delas são os treinamentos, que desenvolvem diversas habilidades do seu personagem e que influenciarão na partida. Esses treinamentos, são interessantes, porém têm problemas sérios. O maior deles, a meu ver, é o nível de dificuldade: enquanto alguns treinos são simples e fáceis (velocidade e drible, por exemplo), outros beiram o impossível de completar todos os níveis, como chute, desarme e cabeceio. Você vai ter que recorrer, se quiser completá-los, não ao jogo natural, mas sim a mamatas e estratégias pré estabelecidas. Quando digo mamata, não falo de cheats, mas de pequenos macetes. No fim das contas o modo de treinamento, que prometia ser algo interessante e alguma inovação, acaba se tornando apenas frustrante.

    Outra atividade paralela à partida são os relacionamentos. Você tem vários tipos de relacionamentos, com seu treinador, com seus companheiros de equipe, amigos, namoradas, patrocinador. Enfim, é outro caso que é uma adição interessante, porém mal executada a meu ver. Para você aumentar o nível, você tem que fazer mini-games de jogo da memória, cassino, corridas de cavalo. Depois de aprender como gerenciar para deixar todos os relacionamentos em alta, você simplesmente deixa de dar importância para eles. Uma pena, pois esses relacionamentos influenciam o seu nível de felicidade, e este influencia o seu desempenho durante o jogo. Ou seja, se está infeliz, tem mais chance de errar um chute e por aí vai.

    Além disso ainda existem alguns outros elementos, como nível de fama, gerenciamento do seu contrato, o seu valor de mercado (que define também o seu ranking dentre todos os jogadores reais), transferências, apelo com os fãs, estilo de vida (em que você pode comprar carros, casas etc.)… Tudo muito legal nas primeiras horas de jogo, mas no momento em que não são mais novidade perdem o apelo, e com isso a graça.

    Agora um pouco da jogabilidade do ludopédio. Por ser extremamente simples, é muito divertida. Praticamente uma volta aos velhos jogos, como Super Star Soccer Deluxe (Inclusive o nome é bem inspirado nisso), Fifa 94, entre outros. Existem dois modos de jogo: o simples e o “avançado”. No simples apenas um botão faz tudo, chuta, passa, pede bola, dá carrinho. No avançado, as coisas ficam mais próximas dos jogos a que estamos acostumados, mas com 3 botões apenas, além do direcional: chute, passe e cruzamento. Não há dribles mirabolantes, chute de bicicleta, voleio, nada disso. Apenas um jogo de futebol muleque, pé descalço, que pode render boas horas de diversão, se o que você busca é essa simplicidade.

    No geral, New Star Soccer 5 tem um apanhado de boas ideias, mas que na maioria das vezes são mal executadas e acabam deixando o jogo enjoativo ou frustrante em um curto espaço de tempo. Ainda que eu tenha me divertido por algumas horas com as partidas simples e despretensiosas de New Star Soccer 5, não acredito que ele mereça uma indicação sem ressalvas, principalmente pelo fato de que fazemos grandes concessões no quesito gráficos e produção, para jogos independentes, justamente para que haja uma jogabilidade interessante e criativa – mas nesse caso, é quase uma volta aos jogos do passado com algumas pitadas de criatividade “importada” de jogos mais recentes e de outros gêneros, ainda com um agravante: um eventual bug, que simplesmente fecha o jogo do nada, e me ocorreu diversas vezes.

    Apesar de não indicar o jogo de imediato, ele tem um modo grátis, em que você tem 5 partidas iniciais e depois 2 partidas por dia para jogar sem pagar nada. Vale a pena criar sua conta, baixar e testar se o apelo do jogo é o suficiente para você gostar. Caso goste, uma dica válida: o Steam vende o jogo mais barato do que o site oficial.

    New Star Soccer 5 é desenvolvido pela New Star Games e está disponível para PC, por Steam ou compra direta.

  • Agenda Cultural 09 | Fábulas da copa, Esquadrões Especiais e Crise de Idade no Fim do Mundo

    Agenda Cultural 09 | Fábulas da copa, Esquadrões Especiais e Crise de Idade no Fim do Mundo

    Atendendo a pedidos contamos novamente com a participação de Carlos Voltor (@CarlosVoltor) ele se junta a Amilton Brandão (@amiltonsena)e Mario Abbade (@fanaticc) para completar o time deste episódio. Se reúnem para comentar tudo o que está rolando no circuito cultural dessa semana, com as principais dicas em cinema, teatro, seriados, quadrinhos e cenário musical.  Não perca tempo e ouça agora o seu guia da semana.

    Duração: 67 min
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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