Tag: Titãs

  • Review | Titãs – 2ª Temporada

    Review | Titãs – 2ª Temporada

    Titãs 1ª Temporada teve uma recepção bastante controversa, mas ainda assim, era  a atração principal do serviço de streaming DC Universe . Ao passo que foi bastante criticada por conta do seu tom sombrio e diferente demais do material clássico, também tem um fandom muito fiel, o mais volumoso entre as séries do serviço, maior do que é com Patrulha do Destino e Monstro do Pântano.

    Titãs 2ª Temporada começa imediatamente após o season finale, como o Dick Grayson de Brenton Thwaites resolvendo seu embate com Trigon, o demônio pai da jovem Ravena (Teagan Croft). Essa luta inicial é visualmente legal, mas narrativamente há diversas fragilidades tanto no embate como no desenrolar dos fatos posteriores, a extrema facilidade de como o demônio é descartado sendo o maior deles.

    O roteiro da série de Akiva Goldsman é confuso. Se estabelece que houve um grupo anterior, chamado de Titãs, formado pelo antigo Robin, pela Moça Maravilha de Donna Troy (Conor Lesley), Rapina e Columba (feitos por Alan Ritchson e Minka Kelly respectivamente), e aparentemente, mesmo que esses personagens tenham tido outros encontros, isso não foi abordado antes. Também fica implícito que Donna e Estelar/ Koriand’r (Anna Diop) já se conheciam, ao ponto da alienígena tamareana saber tudo sobre a antiga equipe.  Esse conhecimento é tão mal explicado que talvez tenha ocorrido por conta de uma habilidade dela não dita, e isso não é referenciado sequer como possibilidade dentro dos 24 episódios, ou seja, possivelmente terá alguma explicação em forma de retcon (novamente) em uma possível terceira temporada.

    Os mistérios da outra temporada são rapidamente resolvidos, e como se esperava, não foi bem desenvolvido não. O texto que já era ruim piora, demonstra fragilidades e tentativas tolas de restabelecer o tom heroico das revistas na série. Os acertos seguem os mesmos, com os  trajes dos heróis muito bem feitos, além de seguir com boas introduções de personagens novos, o problema é o que se faz com eles logo depois disso. Repentinamente, Grayson decide ser tutor dos meninos, Jason Todd (Curran Walters), Gar/Mutano (Ryan Potter) e claro, a jovem Ravena, e por mais que essa  seja uma decisão não desenvolvida pelo roteiro, a premissa dela não é ruim, e produz até algumas boas discussões no programa.

    Outro problema (recorrente, até) é o apelo a figura de Bruce Wayne, vivido aqui pelo Sir Jorah de GOT, Iain Glen. Ora, Os Novos Titãs ou mesmo sua versão primária a Turma Titã era um grupo onde os ajudantes de heróis se emancipavam, colocar o Batman como mantenedor do grupo não faz sentido, vai contra a essência deles e os faz parecer outro grupo da DC, Os Renegados. Ainda assim, mesmo suspendendo a descrença e acreditando que essa é uma versão totalmente diferente deles, o trabalho de Bruce como mentor nesse sentido não tem lógica, é tolo pois o Morcego sempre foi alguém arredio e difícil de lidar, não um lord inglês inspirador que lembra mais o mordomo Alfred Penyworth do que o playboy perturbado mentalmente oriundo de Gotham.

    A DC parece gostar de utilizar o Batman como muleta, sempre que algum produto seu vai mal se apela para ele, e para todos os efeitos, Glen faz um bom dueto com Thwaites, tanto nos momento de sobriedade, com aconselhamentos entre mentor e pupilo, como nos devaneios de Dick, que imagina seu pai adotivo nos momentos mais comprometedores possíveis. Dadas tantas características patéticas do script, essa relação realmente se salva de todo o resto, mas mesmo ela faz o seriado entrar em várias contradições.

    De positivo, há a química entre Mutano e Ravena, a forma como eles  se aproximam é bem crível, os atores até parecem ser um par de fato. Outro fator bom são as ações de Dick como mentor, mesmo quando ele esconde algo, afinal, grandes mestres tem segredos e nesse ponto ele não se diferencia de outras lideranças. Quando o programa tenta ser procedural, lidando a cada episódio com uma situação, é bem mais positiva do que a forçação do arco maior, tendo dessas tramas mais elaborados o único positivo em relação ao passado de Estelar, que tem a mitologia tamareana aludida brevemente, melhor expandida até que as questões espirituais de Ravena ou o passado de amazona de Donna, e que, provavelmente, dará a tônica de uma possível terceira temporada.

    Da parte dos vilões, o modo como Slade Wilson é introduzido engana de tão promissor que é. O desempenho de Esai Morales não compromete, mas o mesmo não pode se dizer de Rose Wilson, a Devastadora de Chelsea Zangh,que é bastante irregular, reunindo momentos onde  é segura e outros tantos que parece apenas uma menina confusa e sem qualquer preparo para a vida, fato que não combina com seu passado. Se a atriz fosse mais experimentada, esse drama poderia ser melhor exposto, mas não é o caso, e o roteiro tenta disfarçar isso colocando ela como parte de um inoportuno casalzinho. O destino de ambos personagens, assim como ocorre com Jericho (Chella Man) varia entre a tragédia e a simples confusão mental de quem não tem fortes  motivações, com uma abordagem que recai demais no sensacionalismo barato.

    Titãs é muito refém dos flashbacks, mesmo em momentos interessantes, como a repercussão do destino do Aqualad de Drew Van Acker. Fica a sensação de que falta algo, de que as historias do passado são muito mais importantes que o tempo atual. Também se demora a amarrar as pontas soltas, como o arco do Superboy (Joshua Orpin), que nem é de todo ruim, mas é tão desimportante que parece estar aqui só para fazer volume. Nem as referencias ao Super Homem de Jerry Siegel e Joe Shuester salvam o personagem da péssima abordagem

    No quesito violência, a temporada segue bem na esteira da primeira, e isso nem incomoda, pois ao mesmo passo que tem gore (e muito), as primeiras lutas com o Exterminador são boas, mas as últimas são terríveis, beirando o patético. O seriado continua apelando para violência gráfica a fim de parecer adulto, e nisso, fica claro o quão sem identidade ele. O final da segunda temporada é apelativo, tentando atrelar aos Titãs uma tradição de tragédia inevitável que mal foi construída. Analisando os fatos posteriores ao confronto final , os significados que já não eram grandiosos nos roteiros ficam ainda mais vazios, os rumos e separações forçadas dos personagens não fazem muito sentido. A pergunta que fica mais sem resposta é como Goldsman, com um histórico tão grande de fracassos financeiros e/ou de críticas ainda continua tão relevante. Da sorte de Titãs e sua sobrevida fica a sensação de que a marca Batman é tão forte que influencia até no produto que seu ajudante protagoniza, mas não forte o suficiente para evitar terminar mais uma vez o ano com um gancho torto e que provavelmente, demorara mais meia temporada para ser aludido, em uma temporada provavelmente tão ou mais sensacionalista que esta.

    https://www.youtube.com/watch?v=Y1Hpdre-Hp4

  • VortCast 72 | Diários de Quarentena II

    VortCast 72 | Diários de Quarentena II

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe PereiraJackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) retornam em mais uma edição para comentar um pouco do dia-a-dia de cada um desde que a pandemia de COVID-19 passou a fazer parte da nossa realidade e o que temos feito nesse período conturbado.

    Duração: 110 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner:
     Bruno Gaspar

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  • Crítica | Jovens Titãs: Contrato de Judas

    Crítica | Jovens Titãs: Contrato de Judas

    Jovens Titãs: Contrato de Judas tem um início de filme, entre os melhores nas animações recentes do universo animado da DC, com os personagens ainda bem novos salvando uma mulher que está sendo atacada por seres monstruosos. A vítima era Estelar, que ao ser salva, beija Robin para entender seu idioma, tal qual ocorre nas HQs e até nas animações, como Jovens Titãs.

    Já na linha do tempo do presente, Dick Grayson deixa de ser o Robin e passa a atuar como Asa Noturna, mas continua liderando os Titãs, ainda com uma formação parecida ao filme anterior Liga da Justiça e Jovens Titãs, que conta com Robin (Damian Wayne), Ravena, Estelar, Besouro Azul, Mutano e a nova integrante, Terra.

    É um pouco estranho que o Rapaz Fera não tenha crescido tanto entre as linhas temporais, pois Logan Garfield era contemporâneo ao Robin de Dick Grayson, e  o segundo já é adulto, enquanto Mutano ainda parece criança . Talvez o DNA alienígena pudesse explicar o retardo em seu crescimento, mas segue um pouco estranho seu flerte com Terra, aparentemente ele só não cresceu para não parecer pedofilia o flerte. A situação piora, pois Mutano ainda parece um adolescente, mas Terra não, é claramente uma criança, e tudo que tange sua relação com o Exterminador é no mínimo questionável eticamente falando.

    O ardil dos vilões é um pouco mal construído. O que se trata do Exterminador com Terra, faz sentido e é detalhado de modo tão adulto e  doentio quanto nos quadrinhos, mas o que envolve o Irmão Sangue soa estranho. As lutas também não empolgam muito, e ha momentos onde a animação é bem feia. O desfecho é um bocado emocionante, embora Liu não acerte tanto quanto a tradução que Os Jovens Titãs fazem da mesma saga. Ainda assim, as adaptações referentes a formação do grupo e as participações de outros heróis que não são Titãs são acertadas, embora se sinta falta de Cyborg por exemplo, mas diante da mediocridade das animações da DC feitos para o mercado de vídeo, essa se destaca positivamente, muito por conta do roteiro original, que Ernie Altbacker acerta em não mexer muito.

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  • Review | Titans (Episódio Piloto)

    Review | Titans (Episódio Piloto)

    Quase tudo que envolveu a série live-action dos Titãs tem relação com a polêmica, primeiro por conta da escalação da bela atriz negra Anna Diop como Estelar, o que não faz sentido algum, já que a alienígena não tem etnia terráquea, depois, ocorreram críticas ao material de divulgação, excessivamente dark. Pois bem, Titans estreou no dia doze de outubro de 2018, e começa mostrando Ravena (Teagan Croft) lidando com sonhos estranhos. A jovem Rachel sonha com a tragédia dos Grayson Voadores, mas percebe que é só um pesadelo, ainda que isso não fique exatamente claro.

    Não demora até o Detetive Richard ‘Dick’ Grayson ser mostrado, como um policial de Detroit, cidade conhecida pela violência. Brenton Thwaites compõe um personagem tímido e sombrio que se mudou para respirar novos ares e agir de maneira solo. Na sua primeira ação ele é debochado pelos malfeitores, que esperam o Morcego, e responde a esses estímulos com muita violência, e cenas em slow motion dignas da filmografia de Zack Snyder. Aparentemente a influência nefasta do diretor segue viva.

    Aliás, a violência é algo bem comum nesse universo. Rachel, quando decide sair de sua cidade Traverse City e ir para Detroit, se depara com a violência extrema ao ser perseguida por assaltantes, mas também sendo encarada pelos demônios que a cercam nos quadrinhos. Enquanto isso, Koriand’r, uma prostituta que usa cores fortes em seus cabelos e em suas vestes – além de ter olhos verdes-claros, que chamam muita atenção – é mostrada ao lado de um homem morto, no banco do motorista de um carro. O nome que usa, Kory Anders, serve como identidade civil desse ente misterioso e extra-terrestre.

    Ao menos na intimidade da personagem, se vê prosperidade, pois esta contraparte humana estava alocada na cobertura de um hotel luxuoso, por conta da natureza do trabalho que exerce como garota de programa. Ainda assim, esses detalhes são sugeridos e não jogados de forma didática, aliás, ao menos nesse começo, todo o desenrolar dramático é gradativo, o encontro entre os personagens centrais demora a acontecer e ao menos até aqui tudo funciona de forma fluida.

    O capítulo é conduzido por Brad Anderson, acostumado a dirigir longa-metragens em Hollywood como O Operário e Chamada de Emergência. Anderson esbarra nas limitações orçamentárias televisivas, em especial quando coloca Koriand’r/Estelar expelindo seus poderes cósmicos. Soa falso, mas em comparação com outras séries de heróis, não deixa a desejar. No final do episódio há outro uso de efeitos especiais, dessa vez mais acertado, com uma fotografia escurecida que favorece a dificuldade orçamentária típica de alguns programas de TV.

    Mesmo com os pontos positivos, ainda soa estranho apreciar as aventuras dos Titãs com um tom tão violento e sombrio, diferente demais do visto em Os Jovens Titãs, primeira série animada, além de Jovens Titas em Ação! Nos Cinemas. Ao menos se a toada seguir tão bem construída quanto nesse episódio inicial, terá sido essa uma boa e grata surpresa.  No final do episódio, há uma introdução bem legal de Mutano, de forma curiosa e até engraçada, e que deverá ser explorada mais à frente. Até aqui, a parceria de Akiva Goldsman, Greg Berlanti e Geoff Johns conseguiu manter os pés no chão e usar um pouco dos quadrinhos como base de uma discussão bem diferente da proposta clássica de Marv Wolfman e George Perez.

    https://www.youtube.com/watch?v=-PPofXaJ4go

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  • Review | Os Jovens Titãs

    Review | Os Jovens Titãs

    Após o sucesso decorrido do Universo Animado Compartilhado da DC, algumas outras animações envolvendo os heróis da editora ocorreram, entre elas, Os Jovens Titãs, ou Teen Titans, iniciada em 2003, com cinco temporadas. A primeira delas começa mostrando uma escola de super dotados, chamada de A Academia, sendo esse um paralelo bastante curioso pela semelhança que tem com os X-Men, equipe que alegavam ser plágio dos Titãs. O fato dessa força-tarefa se opor aos heróis faz a comparação ganhar ainda mais força.

    O programa que David Slack produzia tinha um traço semelhante aos desenhos animados japonesas e uma aura mais infantil que Batman – A Série Animada e Liga da Justiça Sem Limites. O grupo formado por Robin, Estelar, Cyborg, Ravena e Mutano já vivem juntos na Torre Titã desde o início dos episódios, e não se perde tempo mostrando a origem do grupo. Aqui também se estabelece O Exterminador – ou Slade, como é chamado na dublagem brasileira – como o grande vilão do grupo.

    Já no primeiro dos 65 capítulos, Robin é raptado e isso ajuda a pavimenta-lo como o personagem que concentra o foco dramático dessa primeira temporada, inclusive no fato dele ser um par com a princesa Estelar, que inclusive, foi um dos pilares do bom desempenho de Marv Wolfman e George Perez à frente do título. Esse primeiro tomo é marcado por sentimentos muito conflitantes, entre eles a liderança de Robin é discutida, pois para Estelar ele não confia nos seus companheiros para valer. É curioso notar como, apesar de mal se citar a figura do Batman, o seu pupilo na encarnação de Dick Grayson (que também não é citado como identidade secreta do herói, mas se intui isso por mostra-lo como Asa Noturna em versões alternativas do futuro) guarda e herda boa parte das obsessões e defeitos do seu mentor. Ainda que Slack não tenha intenção de seguir no trabalho de Bruce Timm e Paul Dini na série animada de Batman, claramente há a exploração de boa parte dos mesmos dramas, e para quem é aficionado por este universo, tais coisas fazem um enorme sentido.

    Ainda nesses primeiros arcos há uma micro ideia de continuidade, mesmo sendo essa uma serie quase procedural, e boa parte da narrativa é mostrada baseada nos conflitos entre os heróis, que em suma, são o resumo da fase conturbada e difícil da adolescência e puberdade. Fora isso, há também algumas boas participações, como a de Aqualad  ainda na primeira temporada, que tem uma rivalidade inicial com Mutano, apelando mais uma vez para o clichê da aparição de super-seres novos e o confronto iminente de alguns deles.

    Os últimos capítulos desse primeiro ano põem o Exterminador e Robin frente à frente, comparando suas semelhanças e brincando até com a situação de manipulação e legado, com o herói sendo usado pelo bandido, que o faz de herdeiro de sua carreira como malfeitor, e essa dicotomia faz um sentido enorme dentro da trama, surpreendentemente madura para um programa infantil, isso tudo sem sequer mencionar o Batman, trabalhando uma nova relação de aprendiz-mestre com um rival.

    O primeiro capítulo da segunda temporada mostra Estelar lidando com uma viagem no tempo, ao tentar deter o vilão Warp, aqui se vê o futuro dos Titãs, com Ravena se isolando a luz, Cyborg necessitando de muitas manutenções, Mutano como atração circense se colocando em uma jaula para não ser incomodado e Robin como Asa Noturna. Vinte anos faz uma diferença terrível e praticamente só o líder do quinteto consegue driblar a decadência. O arco mais famoso dos Titãs certamente é O Contrato de Judas e os últimos episódios da segunda temporada se dedicam a adapta-lo, mostrando o acréscimo de Terra ao time e consequentemente, sua traição. Apesar de tentar ser fiel, não há tantra dramaticidade quanto a versão original mas ainda assim é bem marcante.

    A maior parte da terceira temporada é descompromissada com cronologia, mas nos dois últimos capítulos são mostrados os Titãs da Costa Leste, formados por Ricardito, Aqualad, Abelha, Más e Menos, um grupo que está tentando se entrosar para agir tal qual o outro quinteto. Eles recebem a visita do Cyborg, a fim de se aprimorarem e de lidar com o vilão Irmão Sangue. Eles de certa forma repetem alguns dos estereótipos, Aqualad não aceita comer nada derivado de peixe, os gêmeos corredores Más e Menos são o alivio cômico (papel de Mutano e Estelar), Abellha é a personagem negra super responsável como Cyborg e Ricardito se acha autossuficiente, assim como o Robin quando mais imaturo.

    Cyborg decide ficar com a  nova equipe, para só depois perceber que isso era na verdade uma ardil do vilão, Irmão Sangue, que fez seduzir o rapaz meio-homem, meio-máquina para que tivesse uma crise de vaidade, criando o desejo de liderar seu próprio grupo de heróis. Pode parecer bobo, mas o tema é tratado de um modo maduro em comparação ao restante da obra, pois trata de egocentrismo, necessidades familiares e trabalho em equipe. Os episódios, escritos por Marv Wolfman captam bem o espírito por trás do grupo de adolescentes super-poderosos.

    As influencias de animes e mangás não se veem somente no traço dos personagens ou na música de abertura, mas também em algumas figuras de inspiração. Em The Quest, mostra o garoto prodígio indo na direção de um grande mestre, após perder uma batalha para o vilão Kitarou, e nesse ínterim ele tem uma jornada rumo a um novo treinamento diferenciado, que faz paralelos com o visto em Yoda, de Star Wars, e Pai Mei, de Kill Bill.

    Os momentos finais da quarta temporada, mostram o retorno de Trigon e a consequente chegada do fim do mundo, através de sua filha, Ravena. Robin e os outros querem proteger a amiga tentando isola-la para que não se torne o portal que traria de volta esse demônio, mas obviamente ela não permite isso, acreditando piamente que o destino pré-estabelecido acontecerá. Mesmo com a recusa da menina, a ideia por trás dos três episódios nomeados The End é voltada para o espírito de equipe, explicitando que ele é a chave para resolução dos problemas. Trigon só poderia ser enfrentado por Cyborg, Estelar, Mutano e Robin, que possuem um pouco do poder dela, e se potencializa quando reunidos, e nem mesmo em Liga da Justiça Sem Limites se viu um drama de equipe tão bem explorado, talvez seja aqui o maior exito da DC nesse quesito.

    Cada uma das temporadas focou em ao menos um personagem, primeiro Robin, depois Terra, Cyborg, Ravena e a quinta em Mutano. Já no início é mostrada a Patrulha do Destino, grupo do qual ele fazia parte e onde foi rejeitado pelo mentor. As gracinhas que o garoto faz claramente são um mecanismo de defesa, um modo de esconder sua insegurança por ter sido descartado antes, e mesmo que guarde algumas semelhanças com o que já havia ocorrido com Ravena, há muitos acertos ao dar um plano de fundo para o personagem cômico. Há ainda outros momentos bem legais, como quando os Titãs vão atrás da Irmandade Negra, os Titãs da Costa Leste cuidam da cidade , enquanto o Maluco do Controle invade a Torre dos heróis. O combate é divertido e finalmente pode-se ver mais desses personagens tão carismáticos.

    Próximo do final, em Go, é mostrado uma versão do que seria o primeiro encontro do grupo sem que nenhum deles se conhecesse previamente. Estelar aparece com algemas de Tamaran, seu povo, Mutano ainda é somente um ex-membro da Patrulha, Cyborg usa um moletom escondendo sua identidade. A mais próxima da atualidade da série é Ravena, que se sente monstruosa, mas nada que não fosse condizente com o já visto. Aqui acontece algo que não havia acontecido no decorrer das dezenas de episódios que apareceram: Estelar beija Robin quando ele a ajuda a se livrar das algemas. Em comum todos os personagens tem a questão de serem párias, distantes das expectativas que o mundo adulto tem sobre eles, são flagelados cada um a seu modo e a gravidade das situações pontua bem a intenção de David Slack ao fazer esse programa.

    Calling all Titans mostra uma convocação de todos os personagens mirins que apareceram e até alguns que eram inéditos até aqui, uma reunião que visa se unir contra a Irmandade Negra. Apesar de meio desimportante é obviamente bem divertido ver tantos personagens famosos juntos, mas o ponto alto realmente ficou por conta da exploração da origem do grupo.

    Houve ainda um longa, chamado Missão Tokyo, de 2007, que visava fechar algumas pontas soltas da quinta e última temporada. As forças das circunstâncias fazem os heróis viajarem até o Japão, e sem ter um tradutor, Estelar decide beijar os lábios de um menino, assim aprendendo instantaneamente o idioma. Isso explica porque Robin foi beijado por ela, na primeira vez que se encontraram, e faz todo esse pretenso romance se tornar ainda mais complexo. O filme é divertido, mas parece de fato uma colagem de episódios, não resolve e sequer cita a questão da Irmandade Negra, mas serve para pavimentar a relação de Robin e Estelar.

    Os Jovens Titãs foi descontinuado por motivos até hoje não muito claros, há quem diga que era por conta da baixa venda de brinquedos, mas verdade é que Slack fez um trabalho potente no programa que propôs, traduzindo bem a ideia por trás dos quadrinhos clássico de Marv Wolfman e George Perez, acertando em cheio no que diz respeito ao trabalho de equipe e as discussões de aceitação. Titãs sempre foi uma publicação que discutiu tais coisas e quando seus personagens cresciam, substituíam boa parte deles para reprisar esses dramas, e mesmo sem ter a pretensão de ser um programa adulto, esta versão acerta e entretém tanto na parte lúdica, como em suas tramas mais elaboradas.

    https://www.youtube.com/watch?v=7e_GM7XLdlc

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  • Crítica | Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas

    Crítica | Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas

    Quando LEGO Batman: O Filme foi lançado, alguns fãs do universo DC (em especial os que tem senso crítico) brincavam dizendo que o que vale dentro das histórias de Batman, Superman e cia está nas animações. Desde que Bruce Timm e Paul Dini fizeram Batman: A Série Animada a Warner tem dedicado um bom esforço a fazer desenhos animados para a televisão e algumas em longa-metragem lançadas para home video de qualidade indiscutível, mas no filão do cinema isso parecia não ser tão prolífico, até agora…

    O longa de Aaron Horvath e Peter Rida Michail é oriundo da série homônima, que basicamente pegou o outro sucesso Teen Titans e transformou-o em um produto para um público ainda mais jovem, mudando o estilo e o tom da animação de uma maneira bastante divertida, e  jeito bem divertido, e com algumas sacadas para o público mais adulto. No roteiro de Michael Jelenic e Horvath isso se torna ainda mais presente, com uma harmonia de temas muito diferentes, como as famigeradas piadas com flatulência unidas a discussões mais sérias sobre o que faz de um vigilante um herói. Há uma dedicação à desconstrução do ideal heroico através do deboche aos erros constantes dos filmes que a Warner produz, servindo assim de certa forma como um mea culpa do estúdio, embora em uma escala não tão grandiosa quanto em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, Mulher-Maravilha ou Liga da Justiça.

    Desde o começo Robin, Cyborg, Estelar, Ravena e Mutano têm de lidar  com o fato de serem subestimados o tempo todo. O fato de não serem levados a sério curiosamente têm muito a ver com os motivos que fizeram o grupo de sidekicks formarem a primeira Turma Titã nos primórdios do grupo nos quadrinhos, mas aqui ela é apenas uma das muitas referências do filme.

    O foco narrativo é muito maior em Robin  e isso já é esperado uma vez que ele é o personagem mais conhecido e sempre foi o líder ou um dos personagens principais de quase todas as encarnações do grupo. Apesar de obviamente ter uma veia humorística muito forte, o roteiro foca em um aspecto muito caro a vida humana, o sentimento da vaidade. Robin e os outros se sentem menosprezados por absolutamente todos os heróis terem destaque e protagonizarem seus filmes. Nesse ponto outra característica forte do roteiro sobressai, o comentário metalinguístico e a conseqüente quebra da quarta parede, e por mais engraçado e infantil que soe, não há forçação nesse caso, toda a desconstrução é bastante fluida e natural, palatável para crianças e adultos.

    Uma das riquezas do roteiro é a construção gradual da rivalidade de Robin e de seu amigos com o Exterminador – Slade Wilson – fato que é natural uma vez que ele sempre foi o principal vilão do grupo de heróis. Apesar das piadas muito primárias que acompanham o mercenário dublado no original por Will Arnet, a demonstração do quanto ele é manipulador e ardiloso é eficaz ao extremo. Ao final da apreciação há uma sensação semelhante a que se tinha ao analisar profundamente a série do Batman de 1966, protagonizada por Adam West, pois ambas, aos seus modos, eram bem fiéis a essência das historias de seus protagonista, sendo esse Jovens Titãs reverencial à obra de Marv Wolfman e George Perez.

    Curiosamente todas essas qualidades positivas lembrar de LEGO Batman: O Filme, mas a toada aqui é completamente diferente e original, conseguindo traduzir para plateias diversas um estilo de animação que está muito em voga hoje com Adventure Time, Apenas um ShowSteven Universe e outros produtos, sem abrir mão de um nonsense que faz bastante sentido para quem acompanhou por anos os quadrinhos da DC Comics.

    Os Jovens Titãs Em Ação! Nos Cinemas não tem vergonha de assumir sua identidade e caráter jocoso, absolutamente tudo vira piada, há muitos números musicais – muito bem traduzidos na versão dublada – e não há pudor algum em referenciar diversos clássicos, inclusive da Disney. O longa não tem vergonha em se assumir como entretenimento, divertido e escapista, sendo uma bela repaginação de vários elementos de literatura pulp e da era de ouro dos quadrinhos, sem descuidar do visual hiper colorido e de um humor que entretêm demais o publico infantil.

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  • Crítica | Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94

    Crítica | Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94

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    Você se lembra de que, quando numa conversa, o assunto caía em música brasileira dos anos 90? Provavelmente vai pensar em Tchakabum, É o Tchan, Leandro e Leonardo, Daniela Mercury, Mamonas Assassinas, entre tantos outros grandes hits que passavam na TV e tocavam no rádio.

    Sou de 92. E isso não ia dizer nada, a não ser pelo fato de que sou uma toupeira quando o assunto é música nacional. Do pouquíssimo que conheço, não está nem longe de ser relacionado a rock. Então, qual foi o aproveitamento em ver algo como Sem Dentes: Banguela Records e a Turma de 94? É difícil dizer que não foi 100%.

    O documentário, dirigido e roteirizado pelo jornalista Ricardo Alexandre e por Alexadre Petillo, inicia sua primeira tomada trazendo exatamente os grandes chavões que fizeram a década de 90: axé, sertanejo, o presidente Collor e a banheira do Gugu. Tudo isso para nos dizer, ao longo das próximas duas horas, que o todo realmente é muito maior que o buraco musical que muitas vezes é vendido pelos principais veículos de comunicação do Brasil, como a TV e o rádio, principalmente com o rock, que é o protagonista dessa história. Sem Dentes na verdade vem para comemorar e registrar 20 anos da Banguela Records, selo independente da Warner Music do Brasil, chefiado pela banda Os Titãs e com direção artística do jornalista e produtor musical Carlos Eduardo Miranda. Esse último especialmente fornece muitos depoimentos, não só muito bem humorados, mas ricos em detalhes, e que nos ajudam a construir uma linha do tempo clara que contextualiza a sua participação evidente no cenário musical da época.

    Não somente Miranda mas como o próprio Charles Gavin e Nando Reis dão seus depoimentos inúmeras vezes. Temos muitos comentários e considerações das próprias bandas que foram representadas pelo selo, como Raimundos, Little Quail and The MadBirds, Maskavo Roots, Mundo Livre S/A, além de trazer declarações de jornalistas como André Forastieri, a banda Pato Fu, o vocalista Samuel Rosa (Skank), entre muitos outros. É muito visível, pela quantidade de depoimentos, recortes musicais e a naturalidade com que são feitos, a intenção que o diretor Ricardo Alexandre tem em contar um episódio muito importante da história da música brasileira. Mas mais importante, antes de tudo, é reunir um leque de lembranças que traçam um capítulo da vida de uma geração que está presente até hoje e que precisava registrar dessa maneira o que passou, deixando de lado qualquer possível sentimento saudosista ou certa maneira didática de contar aquela história.

    A importância de criar uma produção cultural independente é um ponto essencial que é passado durante o filme. É de certa forma simples dizer que hoje isso é mais do que óbvio, porém não faz muito tempo que essa dependência de um intermediário em todo tipo de mercado cultural era existente – e não somente aqui no Brasil, como é rapidamente exemplificado na iniciativa da Image Comics nos EUA (também fruto dos anos 90).

    Eu poderia fazer vários comentários sobre todos os detalhes exibidos nas duas horas de vídeo do documentário. Mas, como dito anteriormente, sou uma toupeira nesse assunto. A real importância de Sem Dentes, antes de tudo, foi abrir minha mente para conhecer um pouco mais sobre todo esse universo musical nacional, que é muito rico e para o qual eu nunca olhei realmente. O documentário é fluido, divertido e principalmente instigante sobre os assuntos que ele aborda, e fecha com uma bela homenagem à música Tempestade da banda Maskavo Roots. Espero que seja a porta de entrada de muitas pessoas que, como eu, não fizeram parte de nada disso. Não é difícil encontrar nada hoje em dia.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Democracia em Preto e Branco

    Crítica | Democracia em Preto e Branco

    Democracia em P e B

    Cuidadosamente focado em sua introdução sem cores – em preto e branco -, o filme de Pedro Asbeg emula a barra pesada da época, com a repressão do Regime Militar ainda sem as “novidades europeias” do futebol, e da democracia. O medo tomava conta da vida dos cidadãos, os mandantes não tinham qualquer pudor em demonstrar o seu poderio, humilhando as pessoas comuns, que não tinham acesso aos mesmos direitos dos que impunham fardas. O contra-ataque precisava acontecer em alguma instância, e sob o som de Núcleo Base do IRA!. uma destas facetas é mostrada, sob os campos de São Paulo; uma outra luta, ligada a igualdade, ao esporte e a música.

    A narração de Rita Lee grafa o quanto havia um não-desejo pela alternância no poder, tanto dos presidentes nacionais militares, quanto no certame do Corinthians, com Vicente Matheus no posto mais alto. A realidade aviltante que ocorria no quadro político brasileiro gritava mais do que qualquer receio “clubístico”, uma vez que a insegurança que tomava os não-poderosos, por sua vez era motivada pela “segurança” dos governantes.

    A derrocada do Brasil fez com que os integrantes da nova chapa do poder no Sport Club Corinthians Paulista se interessassem por um maior progressismo não condizente com os outros tempos, os de Matheus especialmente. Com o tempo, o laranja do antigo presidente, Waldemar Pires. O catalisador desta mudança viria primeiro pela figura de Sócrates, um jogador elegante, inteligente, letrado e inconformado, mas ainda sem um norte, sem uma direção para lutar. Este paradigma mudaria com o acréscimo do lateral Wladimir. O rapaz de pele negra acompanhava as greves no ABC Paulista, se via então como um operário da bola. Dali começava uma discussão mais profunda a respeito dos direitos civis, ainda no elenco de um time de futebol. O último fator para que o grito fosse completo viria com a juventude, com Walter Casagrande Júnior, o centro-avante de apenas 19 anos, que trazia a polêmica do Rock’n Roll na postura, cabelos e na pele para dentro de campo, paro algo além do simples “tatibitate” do futebol.

    Os jogadores passaram a ganhar voz, se valendo até da queda de divisão do time, uma vez que eles disputavam a Taça de Prata. A inflação piorava, o medo de faltar alimento na mesa do pobre aumentava, enquanto o modo de reger via repressão parecia cada vez mais tacanho, com uma trilha sonora que começava a falar mais abertamente sobre a hipocrisia da lei. Viriam Edgard Scandurra com o seu IRA!, a letra de Selvagem dos Paralamas, que louvava o monstro que somente crescia, e claro, o disco de Paulo Miklos e seus Titãs Cabeça Dinossauro, que não mais via o amor como a via para caminhar o povo, e sim mostrava através dos riffs de guitarra como era truculenta a realidade do país. O rock de Frejat, Cazuza, Renato Russo, Ultraje e outras turmas mostravam o que era o pensamento do jovem, como ele via as direções sociais que a nação tomava.

    Sob a tutela do administrador técnico – e também sociólogo – Adilson Monteiro Alves e de Sócrates, começava o que Juca Kfouri e o publicitário Washington Olivetto nomeariam como Democracia Corintiana, onde todos tinham o mesmo poder de voto e peso. Jogadores como Zenon, Wladimir e Casão eram politizados, e ajudariam a quebrar os paradigmas de concentração pré-jogo e do bom-mocismo como método de tratar o esporte. A civilização do time de Parque São Jorge não era obrigatoriamente moralista, ao contrário: Era evoluída, madura, sabendo bem o que se queria.

    Para Sócrates, foi o movimento político dos jogadores que manteve o time bem dentro das quatro linhas. Esta era a base do bom futebol deles, além claro do acesso aos shows de músicos amigos, Blitz, Rita Lee, Maria Bethânia entre outros. A relação dos esportistas com os músicos era bastante intrínseca e íntima, de modo que era quase indistinguível a identidade de um e de outro. A busca pela liberdade de expressão era comum aos dois segmentos, a música era o canal para a liberação, o que não ocorria desde 1968, com o jovem falando para o jovem.

    O pensamento evolui, como dito na narração por Lula, e o advento da Democracia Corintiana passaria a falar também do voto do povo, do voto direto que finalmente ocorreria. A campanha mudaria para DIA 15 VOTE, grafada acima dos números dos jogadores de futebol, o que visava quebrar a deseducação política do torcedor comum, desde os geraldinos e arquibaldos até aos já conscientes de que era preciso modificar o quadro político, e mobilizar a opinião pública.

    Os comícios para as Diretas Já começaram bastante tímidos, com poucas pessoas. E aos poucos o movimento aumentaria, até desembocar no comício da Praça da Sé, de um caráter suprapartidário, com discursos de Ulysses Guimarães, Brizola, Lula, Fernando Henrique, em uma união completamente impensável atualmente, unidos pela quebra da tutelagem do povo brasileiro, para que a população pudesse enfim andar sozinha, reconquistando sua democracia. A rejeição da emenda em 1984 foi um duro golpe na população brasileira; o sentimento de comoção logo deu lugar a sensação de que foram iludidos, inclusive Sócrates, que aceitaria a proposta de venda para a Fiorentina, da Itália.

    Os integrantes daquele time preferem encarar todo aquele tempo com um saudosismo tocante, de que o país voltaria a sorrir, e que havia começado ali a redemocratização do Brasil. No entanto, a sensação de que o pior da ditadura ainda permanecia não poderia ser ignorado, uma vez que o modus operandi policial prossegue semelhante ao do Regime. Até pela última música executada – Até Quando Esperar, da Plebe Rude -, a sensação de Democracia em Preto e Branco não é de otimismo, e sim de uma amálgama entre a melancolia e a objeção, de um país que apesar de um pequeno progresso, ainda tem muito a evoluir; muito esforço a ser executado para que se torne uma república minimamente digna, sendo esse viés o que faz da fita ser algo muito a frente dos documentários contemporâneos.

  • Resenha | Bellini e o Labirinto – Tony Bellotto

    Resenha | Bellini e o Labirinto – Tony Bellotto

    O titânico Tony Bellotto iniciou sua carreira literária em 1995 com um romance policial que originou a personagem Remo Bellini, um improvável investigador particular residente na cidade de São Paulo, ouvinte voraz de blues e – como uma espécie de requisito exigido pelo gênero – um homem incompreendido e desejado por diversas mulheres.

    Três de seus oito romances apresentam o detetive Bellini. Uma dedicação comum aos escritores da narrativa policial que escolhem uma personagem-chave para suas histórias e, romance após romance, aprofundam suas dimensões, ampliam o universo que os envolve, não raro apresentando visões diferentes de pressupostos que o leitor imaginava imutáveis.

    Distante de seu personagem há mais de cinco anos, Bellotto foi convidado para escrever um roteiro de duas histórias em quadrinhos para o álbum Bellini e o Corvo, um projeto a ser lançado pela Quadrinhos da Cia, selo da Companhia das Letras, responsável pela edição de sua obra. Em textos publicados no blog da editora, foi este o estímulo que o impulsionou a retornar ao universo da personagem, como se reencontrasse  um velho amigo. Motivação suficiente para elaborar um novo romance.

    Neste hiato entre um Bellini e outro, o autor escreveu dois romances oscilantes fora do âmbito policial. Mesmo distante deste universo, a ironia da personagem e o estilo narrativo pareciam vazar para estes outros livros, como se não houvesse limitação aparente ou um apuro consciente que produzissem vozes diferenciadas a cada romance.

    Bellini e o Labirinto demonstra a evolução narrativa de Bellotto, que finalmente entrega um romance bem executado tanto em sua estrutura policial quanto na narrativa madura e equilibrada. Além de uma história investigativa, a trama utiliza-se de uma vertente comum nas sequências policiais, a de introduzir o próprio detetive como elemento da investigação, não sendo mais o policial um ser à parte que produz luz em acontecimentos de maneira imparcial. Ao dividir o foco entre a investigação padrão e o drama da personagem, a história duplica de intensidade.

    Na trama, Bellini viaja até Goiânia para investigar o desaparecimento de um famoso cantor sertanejo, mas, conforme adentra as investigações, descobre que nem tudo parece óbvio, algo que toda boa narrativa policial carrega em suas linhas.

    Bellini se tornou um personagem mais crível e coerente. Se antigamente sua erudição destoava de um estilo que se pretendia mais próximo da oralidade mas que se revelava sem muito arrojo, o amadurecimento notável da prosa do autor foi suficiente para equilibrar os elementos internos da personagem – divagações eruditas sobre mitologia, música e a vida em si – e o refinamento narrativo, que ainda mantém a intenção da linguagem coloquial mas que produz uma estabilidade que nenhuma de suas obras anteriores foi capaz.

    Aos quarenta anos de idade, a personagem de Bellini, também narrador em primeira pessoa da trama, permanece estagnada. Mora na mesma kitnet das histórias anteriores, ganha o suficiente para sobreviver e faz da música a paixão e objeto de fuga. Sem perder a ironia, sua devastação tem maior reflexo na maturidade natural da idade, que parece ter alinhado melhor as vozes narrativas citadas dentro do texto.

    Dividido em capítulos curtos que cercam os eventos de maneira pontual, o romance foi bem construído entre as filosofias da personagem e a ação da obra em si. O estilo irônico do autor está apurado, mantendo a erudição, sem que isso retire a característica de sua prosa rápida sustentada pela fluidez. Destaca-se também o gosto pela utilização de nomes estranhos que causam desconforto no leitor. Alcunhas vindas de palavras estrangeiras e traduzidas em incômodas grafias abrasileiradas demonstram a tonalidade canhestra de que esta história – e seus personagens – são autenticamente brasileiros (uma das personagem do enredo chama-se Riboquinha, nome originado a partir da marca de tênis Reebok).

    Como um bom romance policial que, até então, fora somente sugerido ou emulado nas obras anteriores, Bellotto insere camadas profundas na história, consciente de que imergirão mais à frente na narrativa com maior potência, conduzindo um ato final espetacular entre o desfecho da investigação, recursos narrativos externos e reflexões inerentes da personagem central.

    Dentro de um labirinto narrativo, esta obra parece o início de uma nova fase, claramente mais madura, do autor, ciente das tensões necessárias para compor um bom romance. Após diversas histórias entre altos e baixos, Bellini e o Labirinto situa-se em seu melhor, ainda que seja cedo demais para batizar esta obra de provável Cabeça Dinossauro – em referência aos álbuns dos Titãs – de sua carreira literária.

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