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  • Review | Titãs – 2ª Temporada

    Review | Titãs – 2ª Temporada

    Titãs 1ª Temporada teve uma recepção bastante controversa, mas ainda assim, era  a atração principal do serviço de streaming DC Universe . Ao passo que foi bastante criticada por conta do seu tom sombrio e diferente demais do material clássico, também tem um fandom muito fiel, o mais volumoso entre as séries do serviço, maior do que é com Patrulha do Destino e Monstro do Pântano.

    Titãs 2ª Temporada começa imediatamente após o season finale, como o Dick Grayson de Brenton Thwaites resolvendo seu embate com Trigon, o demônio pai da jovem Ravena (Teagan Croft). Essa luta inicial é visualmente legal, mas narrativamente há diversas fragilidades tanto no embate como no desenrolar dos fatos posteriores, a extrema facilidade de como o demônio é descartado sendo o maior deles.

    O roteiro da série de Akiva Goldsman é confuso. Se estabelece que houve um grupo anterior, chamado de Titãs, formado pelo antigo Robin, pela Moça Maravilha de Donna Troy (Conor Lesley), Rapina e Columba (feitos por Alan Ritchson e Minka Kelly respectivamente), e aparentemente, mesmo que esses personagens tenham tido outros encontros, isso não foi abordado antes. Também fica implícito que Donna e Estelar/ Koriand’r (Anna Diop) já se conheciam, ao ponto da alienígena tamareana saber tudo sobre a antiga equipe.  Esse conhecimento é tão mal explicado que talvez tenha ocorrido por conta de uma habilidade dela não dita, e isso não é referenciado sequer como possibilidade dentro dos 24 episódios, ou seja, possivelmente terá alguma explicação em forma de retcon (novamente) em uma possível terceira temporada.

    Os mistérios da outra temporada são rapidamente resolvidos, e como se esperava, não foi bem desenvolvido não. O texto que já era ruim piora, demonstra fragilidades e tentativas tolas de restabelecer o tom heroico das revistas na série. Os acertos seguem os mesmos, com os  trajes dos heróis muito bem feitos, além de seguir com boas introduções de personagens novos, o problema é o que se faz com eles logo depois disso. Repentinamente, Grayson decide ser tutor dos meninos, Jason Todd (Curran Walters), Gar/Mutano (Ryan Potter) e claro, a jovem Ravena, e por mais que essa  seja uma decisão não desenvolvida pelo roteiro, a premissa dela não é ruim, e produz até algumas boas discussões no programa.

    Outro problema (recorrente, até) é o apelo a figura de Bruce Wayne, vivido aqui pelo Sir Jorah de GOT, Iain Glen. Ora, Os Novos Titãs ou mesmo sua versão primária a Turma Titã era um grupo onde os ajudantes de heróis se emancipavam, colocar o Batman como mantenedor do grupo não faz sentido, vai contra a essência deles e os faz parecer outro grupo da DC, Os Renegados. Ainda assim, mesmo suspendendo a descrença e acreditando que essa é uma versão totalmente diferente deles, o trabalho de Bruce como mentor nesse sentido não tem lógica, é tolo pois o Morcego sempre foi alguém arredio e difícil de lidar, não um lord inglês inspirador que lembra mais o mordomo Alfred Penyworth do que o playboy perturbado mentalmente oriundo de Gotham.

    A DC parece gostar de utilizar o Batman como muleta, sempre que algum produto seu vai mal se apela para ele, e para todos os efeitos, Glen faz um bom dueto com Thwaites, tanto nos momento de sobriedade, com aconselhamentos entre mentor e pupilo, como nos devaneios de Dick, que imagina seu pai adotivo nos momentos mais comprometedores possíveis. Dadas tantas características patéticas do script, essa relação realmente se salva de todo o resto, mas mesmo ela faz o seriado entrar em várias contradições.

    De positivo, há a química entre Mutano e Ravena, a forma como eles  se aproximam é bem crível, os atores até parecem ser um par de fato. Outro fator bom são as ações de Dick como mentor, mesmo quando ele esconde algo, afinal, grandes mestres tem segredos e nesse ponto ele não se diferencia de outras lideranças. Quando o programa tenta ser procedural, lidando a cada episódio com uma situação, é bem mais positiva do que a forçação do arco maior, tendo dessas tramas mais elaborados o único positivo em relação ao passado de Estelar, que tem a mitologia tamareana aludida brevemente, melhor expandida até que as questões espirituais de Ravena ou o passado de amazona de Donna, e que, provavelmente, dará a tônica de uma possível terceira temporada.

    Da parte dos vilões, o modo como Slade Wilson é introduzido engana de tão promissor que é. O desempenho de Esai Morales não compromete, mas o mesmo não pode se dizer de Rose Wilson, a Devastadora de Chelsea Zangh,que é bastante irregular, reunindo momentos onde  é segura e outros tantos que parece apenas uma menina confusa e sem qualquer preparo para a vida, fato que não combina com seu passado. Se a atriz fosse mais experimentada, esse drama poderia ser melhor exposto, mas não é o caso, e o roteiro tenta disfarçar isso colocando ela como parte de um inoportuno casalzinho. O destino de ambos personagens, assim como ocorre com Jericho (Chella Man) varia entre a tragédia e a simples confusão mental de quem não tem fortes  motivações, com uma abordagem que recai demais no sensacionalismo barato.

    Titãs é muito refém dos flashbacks, mesmo em momentos interessantes, como a repercussão do destino do Aqualad de Drew Van Acker. Fica a sensação de que falta algo, de que as historias do passado são muito mais importantes que o tempo atual. Também se demora a amarrar as pontas soltas, como o arco do Superboy (Joshua Orpin), que nem é de todo ruim, mas é tão desimportante que parece estar aqui só para fazer volume. Nem as referencias ao Super Homem de Jerry Siegel e Joe Shuester salvam o personagem da péssima abordagem

    No quesito violência, a temporada segue bem na esteira da primeira, e isso nem incomoda, pois ao mesmo passo que tem gore (e muito), as primeiras lutas com o Exterminador são boas, mas as últimas são terríveis, beirando o patético. O seriado continua apelando para violência gráfica a fim de parecer adulto, e nisso, fica claro o quão sem identidade ele. O final da segunda temporada é apelativo, tentando atrelar aos Titãs uma tradição de tragédia inevitável que mal foi construída. Analisando os fatos posteriores ao confronto final , os significados que já não eram grandiosos nos roteiros ficam ainda mais vazios, os rumos e separações forçadas dos personagens não fazem muito sentido. A pergunta que fica mais sem resposta é como Goldsman, com um histórico tão grande de fracassos financeiros e/ou de críticas ainda continua tão relevante. Da sorte de Titãs e sua sobrevida fica a sensação de que a marca Batman é tão forte que influencia até no produto que seu ajudante protagoniza, mas não forte o suficiente para evitar terminar mais uma vez o ano com um gancho torto e que provavelmente, demorara mais meia temporada para ser aludido, em uma temporada provavelmente tão ou mais sensacionalista que esta.

    https://www.youtube.com/watch?v=Y1Hpdre-Hp4

  • Review | Titãs – 1ª Temporada

    Review | Titãs – 1ª Temporada

    Titans inaugurou o serviço de streaming da Warner como uma novidade em matéria de conteúdo original. O trio de produtores Geoff Johns (escritor de quadrinhos e envolvido com Richard Donner na produção de Superman O Filme), Greg Berlanti e Akiva Goldsman (dono do roteiro de pérolas como a franquia Transformers e Torre Negra) resolveu trazer a luz uma versão sombria dos Jovens Titãs, onde Dick Grayson (Brenton Thwaites) evita agir como Robin, já que agora é um policial de Detroit, que basicamente encontra a jovem perturbada Rachel Roth (Teagan Croft), que é a contra parte de Ravena, e logo depois encontra também a prostituta alienígena Koriand’r (Anna Diop), que é a Estelar, e também Garfield Longa (Ryan Potter), o Mutano.

    Nós já analisamos o piloto da série, e Titans prosseguiu sendo exibida, mostrando a inteiração do grupo de pessoas super poderosas ainda que claramente eles não sejam exatamente um grupo como nas historias clássicas de Marv Wolfman e George Perez, talvez o motivo disso seja exatamente fortificar a ideia de que essa uma serie de conteúdo adulto, mas a vagarosidade dela em reunir os personagens faz tudo ficar enfadonho.

    No segundo episodio são introduzidos Rapina e Columba, feitos por Minka Kelly e Alan Ritchson, que nessa versão são namorados, e tem as identidades civis de Dawn Granger e Hank Hall. Aqui se percebe que Grayson e Granger já se envolveram emocionalmente no passado, e as cenas em flashback são usadas bastante, de uma maneira até exagerada. Ao menos, já no começo se percebe que por mais que o antigo Robin tenha deixado de lado seu mentor, sua mentalidade é parecida com a do Morcego, pois ele também acolhe uma criança em apuros, mostrando uma senso de paternidade muito forte.

    A parte adulta da série, que mereceu elogios no piloto e que parecia ser uma boa e nova exploração de paradigma novo vai aos poucos se perdendo. Estelar encontra Ravena basicamente por que são ambas excluídas, e isso faz sentido, mas a sensação de pertencimento que os personagens tinham em outras encarnações inexiste aqui, eles tem em comum a rejeição, mas são unidos por isso. Talvez o ideal fosse que o grupo já estivesse estabelecido, afinal os fatos poderiam desenvolver melhor e de forma menos lenta.

    O desenrolar da trama é meio mecânico, os encontros não parecem acontecerem por mero acaso e se realmente a ideia era deixar um clima de destino conspirando pela união, deveria ser mais explicito o texto de Akiva Goldman. O que o produtor acertou em não se envolver com  os produtos spin offs de Transformers – Bumblebee foi muito bem sem ele – não acontece aqui.

    Os demônios que atormentam Rachel não assustam, a serie ao tentar ser hiper madura soa apenas cafona e desequilibrada. No entanto, há alguns pequenos acertos, como o episodio com a Patrulha do Destino, que apesar de ser meio como um filler, é absolutamente divertido, seu problema na verdade é o modo como termina, de maneira brusca a apressada.

    Ao menos em uma coisa o publico nerd mais chato e conservador estava errado, o visual e poderes de Estelar não comprometem em nada, são bem utilizados até, assim como a transformação de Mutano em tigre. Não se sabe se o alienígena pode se transformar em outros animais e ao menos nessa temporada ele só vira o felino, graças claro a um orçamento de TV, que é reduzido, mesmo que essa seja bem cara. A grande questão é o tom mesmo, por mais que em boa parte dos  momentos de interação do personagens hajam eventos e situações interessantes e bem filmadas, não há muita justificativa para uma abordagem tão obscura e com tendências adultas, tampouco há como explorar boa parte dos poderes dos heróis, claramente esse era um projeto para ser feito no cinema, com orçamento mais pomposo e robusto, onde Garfield poderia se transformar em outros animais e ser totalmente verde, onde Estelar poderia ter as cores laranja o tempo inteiro e onde Ravena poderia liberar seus demônios quando  precisasse de fato, contra inimigos que não fossem necessariamente os seus parentes, em mais um evento genérico envolvendo daddy issues.

    Há algumas apelações meio desnecessárias, cenas de sexo genéricas, unicamente propostas porque pretende-se atingir um público mais velho, mas em alguns pontos o seriado tenta lidar com outras formas de discutir ciclos, como quando é introduzido Jason Todd (Curra Walters) e há uma relação de mentor e pupilo entre o antigo garoto prodígio e o atual, embora Dick não tenha aposentado seu manto. A rejeição do Morcego nem é um assunto muito discutido, e sim o legado de um sidekick, Thwaites consegue surpreender com uma atuação sóbria e austera, de um homem que quer demonstrar que superou o vigilantismo – afinal virou detetive – mas que se vê tendo sua vocação reavivada com união que faz aos Titãs, ainda com o grupo em formação.

    Incrivelmente Akiva Goldsman introduz bons conceitos, como essa relação de Todd e Grayson, e a Patrulha do Destino (que obviamente está lá só para fazer propaganda da futura série) mas também é incrível como falta foco narrativo a série, que varia entre a trama principal e investigação que Richard Grayson faz e esses capítulos stand alone, envolvendo Rapina e Columba, o segundo Robin e ate Donna Troy. Falta identidade a Titans, eles não sabem escolher nem entre ser uma série de conseqüências tradicionais e historia retilínea ou se é procedural.

    A luta entre Donna Troy (Conor Leslie), a antiga Moça Maravilha e Estelar é muito bem coreografada, apesar de bastante curta. Donna tem uma maturidade que Grayson não tem, ela já entendeu que o vigilantismo não é um estilo de vida para ela, ao contrário do antigo pupilo do Batman, que já acha que não há mais como ser o Robin, mas também não consegue largar o manto. Nesses últimos episódios claramente se nota uma propensão a se tornar finalmente o Asa Noturna, mas se demora tanto em verbalizar quanto em ser colocado em prática.

    Como era esperado, o ultimo episódio (11º) é chamado Dick Grayson, e começa alegre, em um dia ensolarado na California, com o personagem que dá nome ao capítulo relaxando, enquanto brinca com seu filho, Johnny. Fica claro em todo esse desenrolar que aquilo não corresponde a realidade, pois todo o status de comercial de margarina não combina em nada com as encarnações do Titãs, nem a vista em Titans. O começo da ruptura com a perfeição começa quando Jason Todd aparece na casa do antigo Robin, em uma cadeira de rodas, dizendo que seu mentor enlouqueceu.

    Esse episodio é dirigido por Glen Winter e escrito por Richard Hatem, e a construção da tensão e do futuro alternativo de Dick não é ruim, enquanto ele se propõe a explorar os detalhes dessa versão alternativa há muitos acertos, talvez os mais meritosos de todo o programa, mas os momentos finais são tão apelativos e de certa forma covarde, que fazem lembrar os season finales de The Walking Dead, não pela temática, obviamente, e sim pelo adiamento da resolução do conflito, para algo que só estreará ano que vem.

    É difícil avaliar o que Goldsman, Johns e Berlanti quiseram traduzir nesta primeira temporada de Titans, é tudo tão diferente iconograficamente de tudo que se conhece sobre Robin, Mutano, Estelar, Ravena, e até de Moça maravilha, Rapina e Columba e do grupo de heróis como um todo. Akiva foi um dos escritores de Batman e Robin, e retorna aqui para mais uma vez demonstrar que não entende muito como funciona a psique e comportamento do antigo garoto prodígio, e dessa vez nem com o auxilio de um roteirista experiente como Johns ele conseguiu criar algo nem ligeiramente semelhante (talvez Johns tenha aparado alguns excessos, vá saber), fato é que esta parece mais uma versão genérica, tirada de qualquer Revista Elseworld da DC, onde sequer a cena pós crédito envolvendo personagens do universo do Superman salva o programa da mediocridade. Espera-se que a segunda temporada corrija alguns equívocos, mas a vocação dos personagens certamente seguirá a mesma

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  • Review | Titans (Episódio Piloto)

    Review | Titans (Episódio Piloto)

    Quase tudo que envolveu a série live-action dos Titãs tem relação com a polêmica, primeiro por conta da escalação da bela atriz negra Anna Diop como Estelar, o que não faz sentido algum, já que a alienígena não tem etnia terráquea, depois, ocorreram críticas ao material de divulgação, excessivamente dark. Pois bem, Titans estreou no dia doze de outubro de 2018, e começa mostrando Ravena (Teagan Croft) lidando com sonhos estranhos. A jovem Rachel sonha com a tragédia dos Grayson Voadores, mas percebe que é só um pesadelo, ainda que isso não fique exatamente claro.

    Não demora até o Detetive Richard ‘Dick’ Grayson ser mostrado, como um policial de Detroit, cidade conhecida pela violência. Brenton Thwaites compõe um personagem tímido e sombrio que se mudou para respirar novos ares e agir de maneira solo. Na sua primeira ação ele é debochado pelos malfeitores, que esperam o Morcego, e responde a esses estímulos com muita violência, e cenas em slow motion dignas da filmografia de Zack Snyder. Aparentemente a influência nefasta do diretor segue viva.

    Aliás, a violência é algo bem comum nesse universo. Rachel, quando decide sair de sua cidade Traverse City e ir para Detroit, se depara com a violência extrema ao ser perseguida por assaltantes, mas também sendo encarada pelos demônios que a cercam nos quadrinhos. Enquanto isso, Koriand’r, uma prostituta que usa cores fortes em seus cabelos e em suas vestes – além de ter olhos verdes-claros, que chamam muita atenção – é mostrada ao lado de um homem morto, no banco do motorista de um carro. O nome que usa, Kory Anders, serve como identidade civil desse ente misterioso e extra-terrestre.

    Ao menos na intimidade da personagem, se vê prosperidade, pois esta contraparte humana estava alocada na cobertura de um hotel luxuoso, por conta da natureza do trabalho que exerce como garota de programa. Ainda assim, esses detalhes são sugeridos e não jogados de forma didática, aliás, ao menos nesse começo, todo o desenrolar dramático é gradativo, o encontro entre os personagens centrais demora a acontecer e ao menos até aqui tudo funciona de forma fluida.

    O capítulo é conduzido por Brad Anderson, acostumado a dirigir longa-metragens em Hollywood como O Operário e Chamada de Emergência. Anderson esbarra nas limitações orçamentárias televisivas, em especial quando coloca Koriand’r/Estelar expelindo seus poderes cósmicos. Soa falso, mas em comparação com outras séries de heróis, não deixa a desejar. No final do episódio há outro uso de efeitos especiais, dessa vez mais acertado, com uma fotografia escurecida que favorece a dificuldade orçamentária típica de alguns programas de TV.

    Mesmo com os pontos positivos, ainda soa estranho apreciar as aventuras dos Titãs com um tom tão violento e sombrio, diferente demais do visto em Os Jovens Titãs, primeira série animada, além de Jovens Titas em Ação! Nos Cinemas. Ao menos se a toada seguir tão bem construída quanto nesse episódio inicial, terá sido essa uma boa e grata surpresa.  No final do episódio, há uma introdução bem legal de Mutano, de forma curiosa e até engraçada, e que deverá ser explorada mais à frente. Até aqui, a parceria de Akiva Goldsman, Greg Berlanti e Geoff Johns conseguiu manter os pés no chão e usar um pouco dos quadrinhos como base de uma discussão bem diferente da proposta clássica de Marv Wolfman e George Perez.

    https://www.youtube.com/watch?v=-PPofXaJ4go

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  • Crítica | Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

    Crítica | Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar

    Há um pensamento encrustado no ideário popular de que o bom jogador de poker sabe a hora de parar de apostar. Ao que tudo indica, Jerry Bruckheimer e os estúdios Disney ainda não chegaram a essa conclusão a respeito da franquia Piratas do Caribe e do destino de seu personagem principal, Jack Sparrow (Johnny Depp). Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar é o quinto volume da série já bastante desgastada, e coube aos noruegueses Espen Sandberg e Joachim Rønning conduzir esta que estava prevista para ser o último evento da saga.

    Há dois elementos novos que dividem a centralização da trama, o primeiro deles é o casal da vez, formado por Henry Turner (Brenton Thwaites) e Carina Smith (Kaya Scoledario), uma dupla de jovens que tem motivações ligadas aos seus pais desaparecidos, e que buscam ambos tentar alcançar o auge da geração anterior. O outro elemento é Salazar (Javier Bardem) um homem que foi ludibriado por Sparrow no passado e que busca vingança, por conta de mais uma maldição genérica, como visto nos outros quatro filmes da franquia. Dessas ideias, a que mais funciona é presente na personificação de Carina, que consegue ser a única personagem forte e com qualquer substância, compondo uma bela e forte heroína, graças muito ao talento de Scoledario, que já tinha se mostrado uma boa atriz em Maze Runner.

    Sandberg e Rønning não podem ser encarados como novatos em Hollywood. O primeiro longa em parceria foi Bandidas, lançado há mais de dez anos, em 2006, e os erros apresentados nesse se assemelham demais ao filme citado anteriormente. Os acertos que ambos tiveram em Kon-Tiki não se reprisam, ao contrário, já que claramente se percebe uma falta de carisma geral nos personagens novos, em especial Henry, que não convence em nenhuma de suas ações, fazendo Thwaites soar como um Orlando Bloom genérico, comprovando que sozinho ele não segura o filme, como já era ensaiado em outras de suas participações no cinema, como Doador de MemóriasMalévola e Deuses do Egito.

    Há uma tentativa de resgatar a honra de Barbossa, há muito achincalhado no filme anterior. Os rumos de seu destino são diferenciados e ainda assim fracos, mas nada tão desrespeitoso como havia sido sua transformação em agente da coroa britânica no tomo quatro. Geoffrey Rush tenta dar uma maior profundidade ao seu personagem, uma vez que os holofotes também estão sobre ele. O veterano não faz feio, e consiste em si as melhores participações, ao contrário de Bardem, que durante todo o longa-metragem se mostra no “piloto-automático”.

    O capítulo cinco peca por não empolgar ou divertir seu público. Esse é claramente o filme que depende menos de Depp, possivelmente motivado pelos escândalos extra-tela que o ator protagonizou. A realidade é que a carreira do ator já vinha perdendo popularidade, graças ao abuso de seus trejeitos e projetos controversos. Quase nada que ele fez nos últimos anos foi digno de entusiasmo ou nota, nem no retorno a parceria com Gore Verbinski em Cavaleiro Solitário. O que já era decadente tornou-se morto após as acusações que sofreu e nem em seu campo de domínio há uma unanimidade.

    Os ganchos e cenas pós-créditos são terríveis e covardes, brincando mais ainda com a expectativa do público. Do ponto de vista técnico, se nota um trabalho de som competente, fator que acrescenta um tom épico as cenas de escalas grandiosas, ajudando criar um clima fantástico fantástico que funciona basicamente só nesses momentos. No entanto, esses aspectos não salvam o filme da fórmula medíocre típica da Hollywood atual, tornando Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar mais uma obra dispensável e esquecível, ainda que levemente superior as outras continuações. É muito tarde para quaisquer mudanças nessa saga que insiste em não se deixar encerrar.

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  • Crítica | O Doador de Memórias

    Crítica | O Doador de Memórias

    Um filme se torna sucesso com boa bilheteria, vira tendência comercial, e o estilo é reproduzido em diversas outras produções. É a natural demanda do mercado, que fornece histórias similares, consumidas pelo público. Tramas tão parecidas e inseridas dentro de um sistema narrativo padrão que é possível deduzir sua fórmula básica em um breve raciocínio.

    Uma distopia futurista apresenta, normalmente, um mundo estéril em que as liberdades pública e pessoal foram cerceadas e onde regras rígidas são a base do bom funcionamento da sociedade. Um personagem ou um grupo são avessos a esta situação e tentam modificar tais estruturas. Há uma tendência grande desta personagem ser um adolescente, um símbolo de uma nova visão de mundo e da força de luta. Ele será imprescindível para batalhas eventuais, se não resolver tudo com as próprias mãos. São histórias com estruturas semelhantes, consumidas pelo público, que reconhece esta jornada e, filme após filme, revive a mesma aventura. O que difere uma obra de outra é a maneira com que se conduz a narrativa.

    Dirigido por Phillip Noyce e baseado na obra homônima de Lois Lowry, O Guardião de Memórias é considerado, pela crítica, um bom romance infanto-juvenil. Lançada em 1993, a obra é a primeira de uma série de livros chamada The Quartet (O Quarteto) e somente agora, na vertente de futuros distópicos, ganhou uma adaptação para as telas, demonstrando que, à procura em agradar ao público, estúdios buscam tanto novos materiais quanto obras mais antigas e elogiadas.

    Na trama, a sociedade, que possui vigilância constante, desenvolveu um sistema em que nenhuma lembrança do passado é transmitida de geração para geração. Neste mundo perfeito, não há mais espaço para guerras, fome e sentimentos como a tristeza ou felicidade. Trata-se de um mundo ascético e estruturado sobre regras radicais e igualitárias. Como o passado deve ser preservado para que se evitem erros anteriores, há um representante conhecido como O Doador (Jeff Bridges), que retém toda a história memorial da humanidade e guarda o segredo do passado para eventuais consultas em momentos de crise.

    Prestes a completar 16 anos, Jonas (Brenton Thwaites) deve passar pela cerimônia de adequação em que a cúpula da sociedade o orienta sobre a profissão que irá seguir de acordo com sua aptidão – outra repetição do gênero, a divisão em castas utilizando algum elemento específico; a cerimônia em questão é exatamente igual a de Divergente, o que nos levar a crer que o livro de Veronica Roth se inspirou neste. Por ser apto em mais de um local, o garoto é escolhido para ser o novo receptador de memórias, muito devido à velhice do doador anterior.

    Em seu treinamento, o jovem contempla recortes do passado e, ao descobrir a beleza escondida pelo Estado, tenta despertar da ignorância as pessoas ao seu redor, assumindo a jornada de redentor, presente na cartilha básica de outros filmes do gênero. A fórmula prossegue até mesmo na estrutura de elenco: atores famosos em papéis importantes para dar credibilidade; uma obra adaptada e elogiada por algum veículo ou premiada em algum lugar; e um grupo de adolescentes como salvadores da pátria.

    Há pouca originalidade nesta história. Devido à uniformidade exigida pelo sistema, o início é eficiente e diferenciado ao ser filmado em preto e branco, mostrando de maneira explícita um mundo regrado onde não dá espaço para o improviso. Uma visão literalmente “preto no branco” da própria realidade, cuja paleta de sentimentos humanos foi renegada. Conforme Jonas recebe as memórias do passado, as cores entram em cena, primeiro levemente, depois em tons naturais.

    Afora este interessante recurso estético, a narrativa repete os mesmos estratagemas de seus semelhantes, sem uma contraposição dramática a ser superada. Em nenhum momento, os anciões responsáveis pela ordem  e liderados por Meryl Streep – demostram força para deter o garoto. Não são ativos e opressores como em outras distopias, que demonstram a mão de ferro de um sistema autoritário, o que facilita a jornada do garoto que deseja sair do domínio vigiado.

    O desfecho da trama, além do eventual e óbvio gancho para uma continuação – se a bilheteria tiver um bom retorno, claro –, é risível, como se um elemento mágico fosse inserido na obra. Não traz nenhuma explicação ao público e, novamente, parece contradizer a ideia de um sistema totalitário. Talvez reconhecendo que seu público-alvo seja os jovens, a autora tenha escolhido amenizar a violência da trama. Porém, a ausência desta contraposição sabota a própria história, repetida em tantas outras obras mas sem a primordial simpatia estabelecida pelos protagonistas e suas aventuras.

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  • Crítica | O Espelho

    Crítica | O Espelho

    oculus

    Introduzido por um sonho do paciente Tim Russell em que impinge o terror da morte a duas crianças num cenário soturno e habitado por espíritos incorpóreos, O Espelho, de Mike Flanagan, se inicia. A sutileza não parece ser uma escolha do realizador, haja vista os maneirismos que faz questão de exibir em cenas nas quais o elenco demonstra inabilidade atroz em expressar sentimentos por meio de suas faces.

    A produção trata de uma dupla de irmãos: Tom (Brenton Thwaites) e a bela ruiva Kaylie (Karen Gillan), que eram as mesmas crianças do sonho mostrado no início. Kaylie namora um curador de arte, e logo depois de levar seu irmão de volta para casa, após uma longa estadia fora, ela vai dormir com seu namorado. Um dos artefatos que está na casa dele é um misterioso espelho, cujo vidro está empoeirado e enferrujado, mas que guarda coisas ainda mais aviltantes.

    Os sustos falsos permeiam todo o filme, como os autênticos clichês do gênero terror, irresistíveis para quem quer causar um medo fácil. A protagonista passa a ter pesadelos terríveis, que se intercalam com as lembranças de sua infância junto ao seu irmão e aos seus falecidos pais. Logo, ela resolve procurar a origem do artefato, e descobre que ele sofre um tipo de maldição. A partir daí, passa a gravar alguns vídeos, explanando os fatos à volta dos assassinatos de quem possuiu o tal espelho, o que fomenta ainda mais a completa falta de suspense no roteiro de Flanagan e Jeff Howard. Um texto que, por sua vez, é uma adaptação de um curta do próprio diretor e de Jeff Seidman.

    As explicações excessivas produzem um desequilíbrio imenso na trama. O único mistério preservado é como os Russell se dissolveram e deixaram de ser uma família para tornar-se algo completamente desassociado da unidade familiar. Mesmo quando tal assunto é abordado, o proselitismo de Kaylie trata logo de tomar a ação novamente, derrubando as oportunidades de surpresa com planos repletos de armadilhas caseiras que remetem à tosca lembrança da franquia Esqueceram de Mim.

    A verborragia segue como o maior problema para manter minimamente uma aura assustadora. Os retornos à infância ficam cada vez mais constantes, como num processo mental de regressão, ainda que não se assuma que isto ocorre de fato. Longas sequências dos Russell no passado são mostradas. No final do filme, a ordem dos fatos se repete, como num círculo vicioso e inexorável, que até seriam bem aceitos, se fossem os tropeços realizados do início ao fim da película. Uma pena, porque O Espelho tinha potencial para ser um filme de terror calcado em um interessante mistério.

  • Crítica | O Espelho

    Crítica | O Espelho

    oculus

    Acusado de matar os pais quando criança, Tim Russell (Brenton Thwaites) sai sob custódia preventiva, onze anos depois, do hospital psiquiátrico em que estava preso. Tim quer apenas retomar sua vida e esquecer o que houve, mas sua irmã mais velha, Kaylie (Karen Gillan), tem certeza de que o responsável pelas mortes é um espelho mal-assombrado que existia na casa em que moravam e convence o irmão a ajudá-la a comprovar isso e destruir o objeto.

    Não há como negar que a atmosfera do filme é um diferencial em relação a tantos outros filmes de terror convencionais, focados apenas nos sustos. A cena inicial em que o espectador vê, pelos olhos das crianças, o pai delas transtornado perseguindo-as, dá uma boa ideia do que vem a seguir. Colocar em dúvida se o que realmente aconteceu é o que Tim vivenciou ou o que Kaylie viu é um ótimo artifício narrativo. Enquanto Tim via a mãe doente e o pai enlouquecido, Kaylie via um objeto inanimado controlando o comportamento dos pais. Ele (o insano?) vai preso por ter usado a arma contra o pai. Ela (a sã?) segue sua vida procurando o espelho obsessivamente, convencida de seu poder sobrenatural. O questionamento da sanidade dos dois contribui para deixar o espectador ainda mais tenso e desconfortável na poltrona. Infelizmente, o roteirista e diretor, Mike Flanagan, parece desistir dessa abordagem por volta da metade da história que, a partir daí, passa a ser mais um filme que quer, ou melhor, tenta assustar o público.

    É uma pena, pois o início é muito promissor. A tensão evolui lentamente, enquanto o passado dos dois irmãos é aos poucos revelado através de flashbacks. Aliás, apesar das idas e vindas entre passado e presente serem excessivas, causando certa confusão em alguns trechos, as transições entre um e outro são muito bem construídas, com algumas soluções visuais bastante interessantes. Em alguns momentos é quase como se as memórias se consolidassem no presente e interagissem com ele, transformando a lembrança dos pais em algo quase palpável e, por que não dizer, em fantasmas assombrando os irmãos.

    Mesmo sendo difícil julgar o elenco em filmes de terror, já que a maior parte do tempo passam fazendo caras e bocas de susto e apreensão, pode-se dizer que tanto Thwaites quanto Gillan estão bem convincentes em seus papéis. Rory Cochrane como o pai, Alan, está ok. E Katee Sackhoff, como a mãe, Maria, também não faz feio, principalmente nas cenas mais aterrorizantes. Mas o destaque mesmo é o casal de atores-mirins Annalise Basso e Garrett Ryan.

    Tecnicamente, não há o que reclamar. Seja pela fotografia, pelo cenário e mesmo pelos efeitos especiais, o resultado final é muito bom. Mas o filme peca mesmo é pelo roteiro com um ótimo início, que perde o rumo na metade e que chega num desfecho mais brochante que o pior dos clichês.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.