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  • Review | Titãs – 2ª Temporada

    Review | Titãs – 2ª Temporada

    Titãs 1ª Temporada teve uma recepção bastante controversa, mas ainda assim, era  a atração principal do serviço de streaming DC Universe . Ao passo que foi bastante criticada por conta do seu tom sombrio e diferente demais do material clássico, também tem um fandom muito fiel, o mais volumoso entre as séries do serviço, maior do que é com Patrulha do Destino e Monstro do Pântano.

    Titãs 2ª Temporada começa imediatamente após o season finale, como o Dick Grayson de Brenton Thwaites resolvendo seu embate com Trigon, o demônio pai da jovem Ravena (Teagan Croft). Essa luta inicial é visualmente legal, mas narrativamente há diversas fragilidades tanto no embate como no desenrolar dos fatos posteriores, a extrema facilidade de como o demônio é descartado sendo o maior deles.

    O roteiro da série de Akiva Goldsman é confuso. Se estabelece que houve um grupo anterior, chamado de Titãs, formado pelo antigo Robin, pela Moça Maravilha de Donna Troy (Conor Lesley), Rapina e Columba (feitos por Alan Ritchson e Minka Kelly respectivamente), e aparentemente, mesmo que esses personagens tenham tido outros encontros, isso não foi abordado antes. Também fica implícito que Donna e Estelar/ Koriand’r (Anna Diop) já se conheciam, ao ponto da alienígena tamareana saber tudo sobre a antiga equipe.  Esse conhecimento é tão mal explicado que talvez tenha ocorrido por conta de uma habilidade dela não dita, e isso não é referenciado sequer como possibilidade dentro dos 24 episódios, ou seja, possivelmente terá alguma explicação em forma de retcon (novamente) em uma possível terceira temporada.

    Os mistérios da outra temporada são rapidamente resolvidos, e como se esperava, não foi bem desenvolvido não. O texto que já era ruim piora, demonstra fragilidades e tentativas tolas de restabelecer o tom heroico das revistas na série. Os acertos seguem os mesmos, com os  trajes dos heróis muito bem feitos, além de seguir com boas introduções de personagens novos, o problema é o que se faz com eles logo depois disso. Repentinamente, Grayson decide ser tutor dos meninos, Jason Todd (Curran Walters), Gar/Mutano (Ryan Potter) e claro, a jovem Ravena, e por mais que essa  seja uma decisão não desenvolvida pelo roteiro, a premissa dela não é ruim, e produz até algumas boas discussões no programa.

    Outro problema (recorrente, até) é o apelo a figura de Bruce Wayne, vivido aqui pelo Sir Jorah de GOT, Iain Glen. Ora, Os Novos Titãs ou mesmo sua versão primária a Turma Titã era um grupo onde os ajudantes de heróis se emancipavam, colocar o Batman como mantenedor do grupo não faz sentido, vai contra a essência deles e os faz parecer outro grupo da DC, Os Renegados. Ainda assim, mesmo suspendendo a descrença e acreditando que essa é uma versão totalmente diferente deles, o trabalho de Bruce como mentor nesse sentido não tem lógica, é tolo pois o Morcego sempre foi alguém arredio e difícil de lidar, não um lord inglês inspirador que lembra mais o mordomo Alfred Penyworth do que o playboy perturbado mentalmente oriundo de Gotham.

    A DC parece gostar de utilizar o Batman como muleta, sempre que algum produto seu vai mal se apela para ele, e para todos os efeitos, Glen faz um bom dueto com Thwaites, tanto nos momento de sobriedade, com aconselhamentos entre mentor e pupilo, como nos devaneios de Dick, que imagina seu pai adotivo nos momentos mais comprometedores possíveis. Dadas tantas características patéticas do script, essa relação realmente se salva de todo o resto, mas mesmo ela faz o seriado entrar em várias contradições.

    De positivo, há a química entre Mutano e Ravena, a forma como eles  se aproximam é bem crível, os atores até parecem ser um par de fato. Outro fator bom são as ações de Dick como mentor, mesmo quando ele esconde algo, afinal, grandes mestres tem segredos e nesse ponto ele não se diferencia de outras lideranças. Quando o programa tenta ser procedural, lidando a cada episódio com uma situação, é bem mais positiva do que a forçação do arco maior, tendo dessas tramas mais elaborados o único positivo em relação ao passado de Estelar, que tem a mitologia tamareana aludida brevemente, melhor expandida até que as questões espirituais de Ravena ou o passado de amazona de Donna, e que, provavelmente, dará a tônica de uma possível terceira temporada.

    Da parte dos vilões, o modo como Slade Wilson é introduzido engana de tão promissor que é. O desempenho de Esai Morales não compromete, mas o mesmo não pode se dizer de Rose Wilson, a Devastadora de Chelsea Zangh,que é bastante irregular, reunindo momentos onde  é segura e outros tantos que parece apenas uma menina confusa e sem qualquer preparo para a vida, fato que não combina com seu passado. Se a atriz fosse mais experimentada, esse drama poderia ser melhor exposto, mas não é o caso, e o roteiro tenta disfarçar isso colocando ela como parte de um inoportuno casalzinho. O destino de ambos personagens, assim como ocorre com Jericho (Chella Man) varia entre a tragédia e a simples confusão mental de quem não tem fortes  motivações, com uma abordagem que recai demais no sensacionalismo barato.

    Titãs é muito refém dos flashbacks, mesmo em momentos interessantes, como a repercussão do destino do Aqualad de Drew Van Acker. Fica a sensação de que falta algo, de que as historias do passado são muito mais importantes que o tempo atual. Também se demora a amarrar as pontas soltas, como o arco do Superboy (Joshua Orpin), que nem é de todo ruim, mas é tão desimportante que parece estar aqui só para fazer volume. Nem as referencias ao Super Homem de Jerry Siegel e Joe Shuester salvam o personagem da péssima abordagem

    No quesito violência, a temporada segue bem na esteira da primeira, e isso nem incomoda, pois ao mesmo passo que tem gore (e muito), as primeiras lutas com o Exterminador são boas, mas as últimas são terríveis, beirando o patético. O seriado continua apelando para violência gráfica a fim de parecer adulto, e nisso, fica claro o quão sem identidade ele. O final da segunda temporada é apelativo, tentando atrelar aos Titãs uma tradição de tragédia inevitável que mal foi construída. Analisando os fatos posteriores ao confronto final , os significados que já não eram grandiosos nos roteiros ficam ainda mais vazios, os rumos e separações forçadas dos personagens não fazem muito sentido. A pergunta que fica mais sem resposta é como Goldsman, com um histórico tão grande de fracassos financeiros e/ou de críticas ainda continua tão relevante. Da sorte de Titãs e sua sobrevida fica a sensação de que a marca Batman é tão forte que influencia até no produto que seu ajudante protagoniza, mas não forte o suficiente para evitar terminar mais uma vez o ano com um gancho torto e que provavelmente, demorara mais meia temporada para ser aludido, em uma temporada provavelmente tão ou mais sensacionalista que esta.

    https://www.youtube.com/watch?v=Y1Hpdre-Hp4

  • Crítica | Tempo de Matar

    Crítica | Tempo de Matar

    Após um considerável sucesso adaptando John Grisham em 1994, com O Cliente, o diretor Joel Schumacher se volta novamente para outro livro do autor, dessa vez, trazendo Tempo de Matar, uma história sobre justiça, vingança e intolerância racial. A trama tem início com dois rapazes brancos passeando de carro pelas ruas de Canton, Mississipi, causando terror entre pessoas de minorias étnicas. Dentro de seu veículo há signos e símbolos neonazistas, além da bandeira dos Estados Confederados da América. Ao passo que mostra os dois sujeitos, a trama também apresenta o advogado idealista Jack Tyler Brigance, de Matthew McConaughey (em um dos seus primeiros papéis sérios e de destaque), além de membros da família Lee Hailey, que estão entre os negros atacados pela primeira dupla.

    O roteiro de Akiva Goldsman não demora quase a estabelecer sua ação, mostrando uma criança sendo vitimada pelos personagens da maneira mais baixa e cruel possível, além é claro da repercussão com os familiares da pequena Tonya (Rae’Ven Kelly), em especial, seu pai,  Carl Lee Hailey (Samuel L. Jackson), que se sente indignado e impotente diante do que ocorreu com um dos membros de sua família que, a priori, deveria ser protegido por ele.

    A virada no roteiro acontece com pouco mais de vinte minutos, com o revide de Carl aos homens que violaram sua vida e família, e é seguida de uma tomada sentimental, onde os personagens da força policial se vêem obrigados a executar uma ordem que não queriam. O filme lida com questões espinhosas e bem caras nos tempos atuais, especialmente, no tocante a volta de manifestações de supremacistas brancos nos EUA.

    Schumacher não tem receio em apresentar uma história crua, não tem receio em mostrar um conflito aberto em clima de guerra civil, como era comum décadas antes de 1996. O roteiro trata a história de forma cíclica, aparentemente a humanidade tende a repetir alguns conflitos, de tempos em tempos, e isso faz sentido, tanto que movimentos de afirmação dos direitos da população negra precisam retornar como no ano de 2020, após mais um de muitos atos por parte de forças do Estado punirem a população por conta única e exclusivamente do tom da pele. Embora a realidade não tenha tantas licenças poéticas quanto o que ocorre no longa de Schumacher.

    Tempo de Matar tem uma crítica voraz ao modo como uma parte dos Estados Unidos têm lidado com a segregação racial e as diferenças culturais entre os povos, e ainda que apele para a fantasia em alguns pontos, Schumacher consegue tirar ótimos momentos de seu elenco. Jackson, McConaughey, Kevin Spacey e até Sandra Bullock têm boas participações e que ajudam a entender o filme como uma fábula jurídica e de entraves raciais, ainda que infelizmente o quadro político atual recoloque o filme numa posição de mais pragmatismo que uma obra escapista sobre preconceito.

  • Crítica | O Cliente

    Crítica | O Cliente

    Joel Schumacher, dentre os diretores de cinema, talvez tenha sido o que melhor entendeu a literatura de John Grisham – o que não é pouca coisa, já que diretores de alto calibre já haviam feito filmes baseados em seus livros, como Alan J. Pakula, Francis Ford Coppola, Robert Altman e Sidney Pollack. O Cliente começa seguindo os passos de Mark Sway (Brad Renfiro), de 11 anos, e seu irmão caçula, crianças que vivem seus dias entre brincadeiras, com um certo flerte com a delinquência juvenil, como foi em Os Garotos Perdidos.

    Esses aspectos logo se revelam um despiste, uma variação do MacGuffin que Alfred Hitchcock tanto utilizava, já que toda a inteiração entre os meninos resulta no testemunho de um suicídio que os meninos acompanham. Eles testemunham uma movimentação estranha de Jerome ‘Romey’ Clifford (Walter Olkewicz), um advogado que se entorpece com barbitúricos para dar um fim à sua vida, não sem antes contar segredos sobre a morte de um político e o envolvimento de um mafioso. Já no início a tensão é jogada num nível bastante alto, estabelecendo uma situação de perigo urgente.

    Schumacher resolve bem sua obra, estabelecendo o caráter de thriller com uma trilha sonora incidental conduzida por Howard Shore, e com temáticas interessantes o suficiente para atrair a atenção do público nos primeiros 15 minutos, algo bastante típico da literatura de Grisham, como o próprio O Cliente. Ao mesmo tempo que apresenta figuras caricatas, como a do gangster Barry ‘the Blade’ Muldano (Anthony LaPaglia), toda a estrutura de vida dos Sway é mostrada de forma pragmática, como pessoas sem dinheiro, e portanto, sem muito direito à defesa ou cuidados médicos adequados.

    Dentro do elenco, destaque para Will Patton, Mary-Louise Parker, William H. Macy, além da advogada e quase protagonista Reggie Love (Susan Sarandon), e o promotor e celebridade, Roy Foltrigg (Tommy Lee Jones). A história se desenrola de forma fluida e com uma bela construção de suspense e perigo constante de maneira gradual. Schumacher sabe exatamente quando intervir com sua câmera, dosando bem suas intervenções e a simples vazão aos escritos originais, aliás, aqui também se percebe uma atuação bastante assertiva de Jones, que faz um personagem tridimensional, bem o inverso do que seria o seu Harvey ‘Duas Caras’ Dent em Batman Eternamente. O dueto com Susan Sarandon funciona muitíssimo bem, desde sua abordagem machista inicial até o desenvolvimento da trama e a apresentação de novas camadas no texto e interpretação.

    O filme acerta o tom na parte emocional envolvendo o elenco infantil. Outro fator bem encaixado é a tentativa falaciosa de deslegitimar as vítimas por parte da promotoria, com a tentativa de tirar a guarda do rapaz por conta do passado de dependente químico da mãe, além de abrir possibilidade para leituras mais profundas, uma vez que a catatonia do garoto Rick (David Speck) pode representar a letargia da sociedade diante de cenas de violência tão fortes como as que ocorrem no dia a dia das zonas urbanas pelo mundo.

    O último terço não é tão potente quanto o começo, o modo os fatos se desenrolam soam fantasiosos demais, e a fidelidade que o diretor tem ao retratar o texto base tem seu preço. Ainda assim, O Cliente causa furor, seja pelas atuações de Sarandon, Lee Jones e Renfiro ou pelo alto grau de tensão com que é conduzido.

  • Crítica | Eu, Robô

    Crítica | Eu, Robô

    As obras baseadas nos livros e contos de Isaac Asimov sofrem normalmente com uma problemática freqüente: são produções em que o a figura do astro que as protagoniza, é mais comercial e conhecida que a autor. Foi assim em O Homem Bicentenário com Robin Williams, que foi transformado num bobo conto infantil, elogiado pelo publico por afeição ao ator, e foi assim também com Eu, Robô de Alex Proyas, que tem em Will Smith o seu maior chamariz.

    O livro de contos não é adaptado de maneira convencional, o que se vê são elementos do conto Sonhos de um Robô*, jogados em meio a historia de Del Spooner (Smith), um detetive forte, robusto, que toma banho com a mesma pose artificial de Angelina Jolie em Tomb Raider e que está aqui para ser a epítome de algo que Asimov vivia criticando: A Síndrome de Frankenstein.

    Proyas parece mais preocupado em exibir seu astro sem camisa, se exercitando de maneira muscular e em mostrar um cenário repleto de CGIs artificiais do que contar uma historia coesa e com elementos de ação.  A parte filosófica do filme é rasa, se perde em meio as propagandas dos tênis Converse All Star e não são discutidas ou aprofundadas. Em 2004 Smith já estava acostumado a lidar com grandes marcas, em MIB – Homens de Preto ele desenvolveu bem seu papel, foi discreto e não precisava ser o centro das atenções todo o tempo, mesmo em As Loucas Aventuras de James West, que foi muito criticado, ele estava tão canastrão quanto aqui.

    A paranoia de Spooner também é algo clichê e gratuito, a velha historia de um passado com problemas envolvendo o caso central de um filme ou série é tão batido que já causa enfado no espectador antes mesmo de se consumir a tal historia. Os cenários também não envelheceram bem, assim como boa parte dos efeitos nos androides e ciborgues, nada parece natural e isso ajuda a distanciar o filme do ideal asimoviano.

    Excluindo o fato da onde se baseiam os preceitos de Eu, Robô, o roteiro de filme policial também são pobres, os elementos misteriosos não geram uma grande dificuldade em se notar quem são suspeitos, culpados e os auxiliares na historia que Spooner corre. Algumas coisas simplesmente não batem, como a volúpia do personagem humano central por açúcar, se ele é tão preocupado com seu corpo e se a tecnologia não o impede de exercitar para ser tão forte, não faz sentido ele adoçar tanto o café. A necessidade de diferenciar máquina de humano passa por esse tipo de ausência de sutileza.

    Outra caracterização pobre é da doutora Susan Calvin (Bridget Moynahan), uma psicologa robótica  que tenta a todo custo trazer o filme para a lógica não bélica dos livros, mas esbarra na necessidade da historia se mover na direção de um filme de brucutu genérico dos anos 90. Absolutamente tudo está montado para dar chance a Smith de soltar alguma frase de efeito, ou simplesmente se alimenta sua paranoia de fobia contra mecânicos, fato que agrava evidentemente a investigação sobre a morte do Doutor Lanning (James Cromwell), e o envolvimento de Sonny (Alan Tudyk) nisso.

    Os momentos finais buscar ser emocionantes, com a revolta das máquinas ocorrendo motivadas por uma inteligência artificial suprema, cujas motivações não fazem qualquer sentido. Os combates soam genéricos, não tem muito peso, uma vez que o nível tecnológico empregado nos efeitos não era tão acurado sequer para a época, que dirá mais de quinze anos depois. É uma pena que Proyas tenha realizado um filme tão equivocado e com um script tão pobre quanto esse escrito por Akiva Goldsman e Jeff Vintar.

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  • Review | Star Trek: Picard – 1ª Temporada

    Review | Star Trek: Picard – 1ª Temporada

    Star Trek: Picard é uma série revival, criada por Akiva Goldsman, Michael Chabon, Kirsten Beyer e Alex Kurtzman, que segue os movimentos de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, além dos filmes de TNG (abreviação de The Next Generations), em especial Jornada nas Estrelas: Nêmesis. O programa, exibido originalmente pela CBS All Acess e passado no serviço de streaming do Prime Video, começa com uma cena entre Jean Luc (Patrick Stewart) e um de seus principais parceiros, o comandante Data (Brent Spinner), na Enterprise E, em uma clara fantasia de que o jogo que disputam, não acabe jamais, e essa sensação saudosista não ocorre só com Picard, mas também com os fãs que buscavam nessa versão um espelho do que ocorria nas outras séries.

    Este versão do capitão  Picard (agora, almirante, semelhante ao movimento de James Kirk em Jornada nas Estrelas: O Filme), tem peculiaridades. Ao mesmo tempo em que ele lembra o Charles Xavier de Logan, por conta do envelhecimento (tem em torno de 90 anos aqui), ele também fala muito em francês, fato que era um bocado ignorado nos episódios anteriores de sua saga pessoal, já que ele era natural da França. Em sua terceira idade, ele mora com um casal romulano, fruto de uma relação um pouco polemica, a respeito do destino do líder da frota estelar pós filmes. Boa parte desse ínterim é explicado no Short Trek denominado Children of Mars, inclusive boa parte dos desdobramentos políticos da série provém deste especial.

    O mote principal dos dez episódios, e que causam no protagonista em sair de sua letargia, envolve um mistério sobre uma forma de vida sintética, ou seja, androides, e isso casa bem com os flashbacks de Data. É introduzida uma personagem vivida por Isa Briones. Pouco tempo depois, são introduzidas outras mulheres feitas pela mesma Briones, entre elas, Soji, uma moça que tem envolvimento com romulanos e depois cai de paraquedas no caminho de Picard.

    O começo do seriado registra um bom potencial, já se descarta a possibilidade de B4, que apareceu no último filme ter recebido os dados de Data, se mostra uma base romulana que vive num cubo borg desativado, e há uma preocupação em não resgatar personagens clássicos tão frequentemente, a que mais aparece, é Sete de Nove (Jeri Ryan), e sempre de maneira parcimoniosa, e bem condizente com subtexto borg, além é claro de Hugh (Jonathan Del Arko). O problema maior é a contra partida da fuga desse possível oportunismo, pois praticamente todos os novos personagens mostrados ou são sem carisma, ou não tem muita função narrativa, ou tem momentos puramente desnecessários em tela, quando não tem sua moral dúbia algumas vezes ligada, em outras não, e em outras tantas, justificada por motivos banais.

    A justificativa para a Federação não ajuda Picard até faz sentido, mas entra em contradição com as inúmeras vezes em que esse ajuntamento foi simplesmente imperfeito. Eles o acham incapaz e senil, graças a uma entrevista que ele dá a imprensa, mas os próprios mandatários não são tão diferentes do personagem principal.

    Além desses problemas, a dinâmica entre a tentativa de fazer algo que não tem costume e a teimosia típica da velhice se desgasta muito facilmente. A maioria dos conceitos novos mostrados ao longo dos episódios – sobretudo do segundo ao sexto – soam genéricos, mesmo com o acréscimo de personagens antes introduzidos. É uma pena que o apuro visual tão belo copie junto boa parte dos defeitos vistos também é Star Trek: Discovery.

    De positivo, há a exploração das redondezas da galáxia, mostrando os lugares onde a federação não é tão presente e poderosa. Os bares, cassinos e demais lugares onde a vida boemia e a escória habitam fazem lembrar os lares dos caçadores de recompensa de Star Wars, inclusive remetendo demais ao visto em Uma Nova  Esperança, O Ataque dos Clones e mesmo Os Último Jedi.

    É um.bocado estranho ver Picard tão idoso lidando com uma equipe hermética e super diferente como essa. Nada ali combina, e por mais que isso até tenha uma justificativa, baseada no fato de serem renegados e excluído formando uma tropa pirata que o acompanha, ainda parece esquisito. De positivo, há as falas pró reabilitados pós domínio Borg, de que por mais que visualmente sejam assustadores, eles são vítimas, e não monstros.

    Quase toda a trama dos romulanos é caricata, o personagem de Narek (Harry Treadway) parece um personagem de série juvenil com foco em namoricos e afins. Sua relação com Narissa (Peyton List) beira o incestuoso, e é gratuita demais. Os dois parecem não ter camada nenhuma. Outro personagem terrível é Rios (Santiago Cabrera), que ganha muito tempo de tela, seja ele com seu jeito insuportavelmente gaiato, ou suas replicas holográficas igualmente pedantes.

    Os conflitos que vão se  estabelecendo nos últimos três episódios seriam facilmente contornados em qualquer série Star Trek dos anos  90. Há muitos subterfúgios convenientes, e apelos para Deus Ex Machina. Ao menos, quando a tripulação encontra o lugar de origem de Soji, há alguma lembrança de que se trata aqui de uma série Jornada nas Estrelas, inclusive com um belo simbolismo, dos habitantes de outra civilização analisando as linhas faciais de Jean Luc como fruto de lembranças e de vivências, sentimentais tais quais Data admirava.

    O season finale começa após uma serie de eventos bizarros, entre eles o receio de um povo em ser exposto, apelando para outro, dos quais mal se conhece hábitos, modos e sistema político social. Essa serie de equívocos empobrece essa parte da trama, e piora quando se observa o destino do personagem-título.

    O simbolismo da conversa de despedida entre Data e Picard é bonita, mas esbarra nas conveniências do roteiro, seja na redenção dos personagens ou na sobrevivência/subsistência do personagem-título. De positivo, há o paralelo com AI – Inteligencia Artificial de Steven Spielberg, em um momento de despedida bonito, como foi com o David de Haley Joel Osment, em ciclo de referencias cruzadas bastante belo. David tinha muito da curiosidade e vontade de ser humano, como era com o Data de TNG, e aqui o fragmento de memória do Comandante tem seu epitáfio tal qual o pequeno Meca menino.

    Os últimos atos são complicados, repleto de situações forçadas, dando vazão a outras possíveis aventuras, mas sem um gancho. O que se espera, é que as próximas duas temporadas já renovadas possam ter menos ingerência de gente graúda na produção, em especial Goldsman que escreveu e dirigiu os últimos dois episódios, fato que dificilmente ocorrerá dado que tem sido ele o responsável por tocar essas novas séries de Star Trek.

  • Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 2)

    Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 2)

    A Uss Discovery entrou em uma dimensão diferente, longe do destino em que estavam, no episódio 9 da parte 1 da temporada de Star Trek Discovery, Into the Forest I Go.  Com quatro minutos decorridos de Despite Yourself, o capitão Lorca (Jason Isaacs) percebe o obvio, que eles não estão no universo prime, e sim no chamada realidade do espelho, conceito introduzido em Jornada nas Estrelas: A Série Classica.

    Curiosamente esse retorno é conduzido por Jonathan Frakes, que originalmente era o intérprete de Riker em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, mas que foi também diretor nesta série, em derivados e em dois dos filmes oficiais. Talvez por isso esse seja um capitulo que faz lembrar demais os conceitos originais de Star Trek, a despeito até das reclamações freqüentes dos fãs.

    Apesar disso, alguns dos mistérios (bastante mal pensados, aliás) plantados na primeira parte são revelados, como a real origem de Ash Tyler (Shazad Latif), como o klingon modificado geneticamente, como antes se havia pensado ser. Toda  essa problemática se arrastada de forma mais demorada do que deveria, variando entre a realidade crua e o apreço do mesmo pela protagonista, Michael Burnham (Sonequa Marti-Green). Essa questão parecia ter um potencial de discussão que não teria muito futuro, e o que se vê é exatamente isso, uma nova gama de questões requentadas, que são pouco interessantes diante de uma nova dimensão explorada aqui.

    A tripulação decide encarar a teoria de Saru (Doug Jones) como real, e muda toda a configuração da embarcação e hierarquia, para se adequar a este novo modo. De qualquer forma, é  bem engraçado ver Syvia Tilly (Mary Wiseman) tentando deixar de ser extremamente insegura para exercer o comando nessa versão do cosmo, assim como assistir os mesmos personagens desfilando com outros trajes. Todo o planejamento de Michael é ardiloso e inteligente, faz lembrar os motivos que fizeram Lorca confiar nela apesar dos problemas no passado.

    Em The Wolf Inside e Vaultin Ambition há uma preocupação de se explorar basicamente três temáticas distintas, que é a viagem mental de Stamets (Anthony Rapp) no interior de sua mente, modificada pelos esporos especiais, o condicionamento de Tyler e a introdução de Burnham nessa nova dimensão. Os episódios miram alto, como nos momentos clássicos da franquia, mas se perdem um pouco por não conseguir desenvolver bem as três discussões paralelas.

    Se a ideia é deixar Saru como líder, há um problema. Ele é inseguro, e os roteiros não são afiados o suficiente para dar sustentação a algo tão complexo como uma nave da federação que é levada por uma capitão interino e que é parte de uma raça que prima pelo medo e receio de morrerem dada sua fragilidade.

    Discovery começou bem, mas já perto do fim da parte 1 de sua temporada se percebia claramente que as historias perderam seu fôlego. As boas idéias eram deixadas de lado, e não é diferente aqui, e mesmo o plot twist ligado ao destino de Lorca, como um comandante bem diferente do esperado não explica muito a fuga do seriado dos temas super otimistas que sempre foram a tônica nos seriados e até nos filmes recentes da franquia.

    Os poucos momentos inspirados são os focados especialmente na trajetória dos personagens. Michael tem uma jornada bonita e inspiradora de redenção e muito disso é mérito de Sonequa Martin-Green, que consegue executar isso independente até dos roteiros atrapalhados que Akiva Goldsman comandou. As perdas que ocorrem com Paul Stamets também são bem explorados, mas para cada momento sentimental dos dois personagens há outras tantas tramas terríveis envolvendo os klingons, que tem aqui certamente uma das piores adaptações suas.

    O fato de Discovery ter um início que tropeça em suas próprias pernas não necessariamente é motivo para acreditar que serie estará morta. Talvez só Deep Space Nine tenha começado bem, alem da série Clássica. Enterprise, A Nova Geração e Voyager demoraram a encontrar suas identidades e a esperança para a segunda temporada mora nesse otimismo, e em um possível retorno a temática heroica mais clássica, de preferência que não precise apelar para saídas e referencias sensacionalistas ou muletas ligadas as outras séries do cânone de Jornada nas Estrelas.

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  • Crítica | Batman & Robin

    Crítica | Batman & Robin

    A primeira fala do Batman de Val Kilmer em Batman Eternamente, envolve ele e Alfred discutindo sobre a janta do herói, com Bruce se negando a comer em casa, dizendo que irá em um drive thru, quebrando já no inicio a ideia de que aquele poderia ser um filme sério. A abordagem que o novo diretor dava a franquia iniciada por Tim Burton em Batman se distanciava cada vez mais daquele tom dark e violento, e seguiria nesse estilo, na nova versão de Batman e Robin, com um início igualmente esdrúxulo, onde após os créditos iniciais e uma apresentação que deveria ser épica – mas que soa patética – do batmóvel é cortada por uma conversa infantil, entre o Robin de Chris O’Donnel, que agora usa um uniforme que lembra o de Asa Noturna nos quadrinhos, com o novo morcego de George Clooney, onde o jovem deseja usar o carro, por conta das gatinhas se amarrarem, enquanto o cruzado encapuzado diz que é por isso que o Superman trabalha sozinho. Essa piada infame talvez tenha sido a pá de cal em cima da pretensão da Warner em usar esse e Superman Lives como iniciativa do seu universo compartilhado no cinema.

    É comum entre fãs do personagem criado por Bill Finger e Bob Kane, dizer que o arqui inimigo do Batman é Joel Schumacher e não o Coringa, e isso talvez seja uma grande injustiça. Claramente a culpa do que foi cometido em Batman e Robin é não única e exclusivamente dele. Em materiais de divulgação dos DVDs e Blurays do filme, o diretor pede desculpas se ofendeu alguém, mas a realidade é a que a responsabilidade que lhe foi imposta era árdua, pois produtores e roteiristas  pareciam embuidos em sabotar essa quarta versão da saga.

    Nos cinco primeiros minutos de filme, Alfred (Michael Gough) faz piada com pizzas, Batman conversa com o Comissário Gordon (Pat Hingle) em um dispositivo televisivo em seu carro, claramente para vender brinquedos não só do carro, como também desse visor, e o Senhor Frio de Arnold Schwarzenegger – que é aliás o primeiro nome nos créditos – é capaz de entre a minutagem de 4:19 e 5:08 ele consegue proferir três frases com trocadilhos relacionados a frio, e seriam 27 ao longo dos 124 minutos de exibição. A obrigação em vender merchandising é da Warner, e esses diálogos artificiais foram escritos por Akiva Goldsman.

    Evidente que Schumacher poderia ter recusado voltar, diante do texto que tinha em mãos e diante das exigências imbecis que o estúdio propunha, mas a realidade é que recusar a realização de um sonho, de poder traduzir no cinema uma historia do seu personagem favorito não é uma decisão fácil, vide Nicolas Cage aceitando ser o Superman e fazendo Motoqueiro Fantasma, mas a dura realidade é que praticamente nada faz sentido aqui.

    Ainda na cena inicial do museu, os capangas de Frio jogam hockei com o diamante que ele roubou, o mesmo que precisaria estar intacto para formar a máquina que tentaria trazer sua esposa a vida. Os exageros continuam, Victor Fries lança uma rajada de gelo na direção do herói, o suficiente para matar de hipotermia o personagem, mas ele basicamente só manieta o Morcego, levemente, cobrindo suas mãos com um gelinho muito bem talhado. Mas em um filme onde patins saem das botas do Batman, onde a dupla dinâmica surfa com as portas da nave do vilão, desliza na cauda de dinossauros de um museu e onde Schwarzenneger faz cosplay de pomba congelada, com direito a asinha estilizada como as de uma mariposa, pode absolutamente tudo.

    Não bastasse um cenário super bizarro ligado a vilões, há um segundo, envolvendo a versão do Homem Florônico com John Glover fazendo experimentos contra a vontade de suas cobaias, no entanto, cabe a Pamela Isley a primeira inteiração daqui, com a sua interprete Uma Thurman lamentando que ainda não conseguiu fundir a estrutura animal com a das plantas. Enquanto isso, é criado Bane, um homem franzino, que é anabolizado por uma droga chamado Veneno, e que está lá para ser vendido entre soberanos de países, com pastiches de reis africanos, sósias de Fidel Castro, de chineses e outros asiáticos,e esse é só o início dos exageros.

    O tal doutor Woodrue de Glover interrompe seu leilão, para tentar convencer Pamela a se juntar a ele, mesmo ela já sendo sua empregada, e a resposta dela é ideológica, de que não servirá ao mal, falando que sua missão na Terra é cuidar da não extinção das plantas. É tudo tão bobo e pueril que jogar prateleiras cheias de líquidos coloridos e acreditar que uma pessoa morrerá só com isso nem é tão absurdo, no final das contas.

    Mas o filme é ousado, tenta estabelecer algumas sub tramas emocionais, duas em especifico, uma explorando a decadência emocional de Fries, tomando por base a boa construção do personagem trágico e viúvo feita durante Batman The Animated Series, além claro da problemática em relação a saúde de Alfred, fato que permite que Clooney e Gough possam dividir algumas poucas cenas de ternura. É uma pena que ambos os aspectos sejam banalizados, com Freeze mandando os capangas dançarem, e com o advento de Barbara Wilson, de Alicia Silvertone, que mais tarde, se tornaria a nova  Batgirl, repetindo quase todo o arco de Dick Grayson em Batman Eternamente.

    A construção das personagens femininas são terríveis. Pamela retorna dos mortos como a Mulher Gato de Michelle Pfeiffer em Batman o Retorno, mas sem metade do charme daquela versão, apesar de estar lindíssima a partir daí. Julie Madison, que foi um primeiros amores do personagem principal nos quadrinhos é sub aproveitada , e Elle Macpherson só aparece em tela com 35 minutos de exibição. Barbara que foi mudada de filha de Gordon para sobrinha do mordomo também não tem um bom desempenho, é só a menina com ideal de libertar o parente dos grilhões de servidão/escravidão que os Wayne o impuseram, mas usufrui da fortuna deles sem receios, e até aceita entrar o bat-squad, apesar de claramente não concordar com os métodos de Bruce. Mais uma vez essas construções de personagem não fazem sentido.

    Talvez se a trama de Alfred em tentar encontrar seu irmão Wilfred para substitui-lo fosse levada mais a sério, daria certo, fato é que achar que Barbara levaria seu legado a frente, além do que seria mais uma preconceituosa conclusão de que a menina aceitaria a condição de faz tudo de bom grado, já que pela ideia dos quatro filmes, é Alfred que cuida sozinho de toda a mansão. Não fosse Silverstone – uma atriz fraca, escolhida basicamente por ser bonita e famosa – a porta voz do plot sobre a condição de saúde de Alfred, possivelmente seria este o cerne emotivo mais forte do filme, ou ao menos um aspecto positivo em meio a toda a péssima execução do combalido roteiro de Goldsman. O fato de Dick ser insensível (ou apenas desatento) com a condição de seu mordomo faz sentido, pois ele é jovem, impulsivo, e um pouco egoísta, como boa parte dos pós adolescentes, enquanto Bruce, que enxerga Alfred como a sua figura paterna, percebe a tentativa do idoso de ludibria-lo.

    O quadro ainda iria piorar, com uma festa temática africana, uma festa a fantasia que conta com Batman e Robin como convidados, que trabalham em prol da caridade a instituições que precisam de recursos. Assistindo os filmes de Chris Nolan atualmente, se entende por que fizeram tanto sucesso, pois o Batman dele não se permite ser usado para fins lucrativos e nem faz aparições publicas assim tão esdrúxulas. Claro que essa sequencia toda é montada para dar vazão aos fetiches de Schumacher por neon, e para apresentar homens musculoso, de tanga e óleo sobre o tórax e bíceps, que lá estão servindo a versão mais sensual de Pamela, a Hera Venenosa, como um pretexto para pôr  para fora fetiches e exibicionismos.

    Há algo de poético e inocente nos beijos de Hera. A morte, vindo através dos lábios de uma dama é um requinte de crueldade bem pensado, ainda mais se o foco é apresentar a fúria vingativa de Gaia ante os humanos. Juntando isso, ao luto que Fries sofre, ao ser enganado por sua nova parceira, quase se compõe um pequeno respiro de humanidade e inteligência no longa, que obviamente é cortado por um plano esdrúxulo, onde a era glacial invadiria Gotham, através do roubo de uma tecnologia espacial pelo Senhor Frio, onde jamais as plantas de Ivy poderiam sobreviver, além de apresentar a cena mais patética de Pat Hingle em toda a franquia, onde ele é seduzido por Pamela, que se recusa a beijá-lo por conta dele ser idoso. É melancólico que esse seja seu ultimo momento dentro da franquia.

    Os trinta minutos finais formam um caminho de uma ladeira percorrida por um veículo de pneus carecas, por mais que parecesse que esses níveis eram ruins, havia uma rota que poderia piorar tudo, e ela foi tomada com muita vontade por parte de quem ajudou a realizar essa obra. Robin Sinal, Barbara abrindo o cd-rom com as informações da bat caverna com o logo do filme ilumando sua face, a briga para medir quem tem pênis maior encerrada com um pedido fraternal de Bruce para que Dick não cedesse a sedução de Hera claramente com ciúmes, não se sabe se da mulher ou do garoto prodígio.

    Hera e Robin quase consumam seu “amor”, em mais uma sequencia das mais vergonhosas. O gesto recatado de ósculo labial, que deveria ser um paralelo equivalente a ousadia de colocar sexo em um filme feito para crianças é cortado por lábios de borracha do sidekick do morcego, e o causo só é resolvido pelo girl Power de Barbara, em uma série de eventos tão toscos que fazem o inicio parecer sério. A classificação que o Newsweek deu para o filme de Grande, Ousado  e Magnifico poderia facilmente por Espalhafatoso, Excessivo e Patético.

    Nem mesmo a música de Elliot Goldenthal funciona, mesmo que tocada sozinha tenha um significado, ao compor o quadro com as imagens. Quando ela é tocada apenas para embalar os carros e veículos que deslizam sobre o gelo, e para ajudar a vender mais bonecos com uniformes diferentes, tudo se banaliza. Mamilos protuberantes, close em partes genitais e o CGI mal empregado não irritam tanto quanto essa necessidade de vender os tais brinquedos, que por sinal, nem eram tão legais, os que eram feitos para os filmes de Burton eram infinitamente mais legais, se comparar então com os dos desenhos, é covardia.

    Robin é o herói impotente, ao ver seu amigo e parceiro cair, ele diz a Batgirl que a eles resta rezar. A vontade de fazer piada passa por cima inclusive da essência dos personagens, não se pensa duas vezes antes. Há muitos momentos vergonhosos para escolher como o preferido no final, se é a quase cena pós crédito entre Hera e Victor, que não faz sentido, se é o neon que invade até a casa de Bruce, ou se é o Senhor Frio guardando a cura para a doença de sua amada consigo em sua armadura, e que serve para ajudar Alfred a viver. No entanto, há algo mágico na obra que Schumacher dirigiu, algo que faz toda essa besteirada cafona funcionar como algo tão ruim que se torna divertido acompanhar o desastre. O objetivo do diretor era fazer o que James Wan conseguiu em Aquaman, um filme de herói histriônico, brega e que funciona por não se levar a sério, mas as muitas influencias da Warner e sua passividade – sem trocadilhos com orientação sexual, obviamente – não permitiram isso, e fizeram ele enterrar a franquia por muito tempo, até Batman Begins, enterrando também o possível filme cinco  Batman Triunfante e Superman Lives de Tim Burton, o que é uma pena, pois o fã mais curioso e merdeiro. Nem a falta de identidade de Batman e Robin sepulta a curiosidade do que viria a partir daqui, ao menos a esse que vos fala. Sempre imaginei como seria um quinto filme, com Fries do lado dos mocinhos, ou com Alfred entrando em ação, mas obviamente que esses absurdos pensados pela minha cabeça quando criança não estavam a altura do que poderiam construir Schumacher e sua equipe.

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  • Review | Titãs – 1ª Temporada

    Review | Titãs – 1ª Temporada

    Titans inaugurou o serviço de streaming da Warner como uma novidade em matéria de conteúdo original. O trio de produtores Geoff Johns (escritor de quadrinhos e envolvido com Richard Donner na produção de Superman O Filme), Greg Berlanti e Akiva Goldsman (dono do roteiro de pérolas como a franquia Transformers e Torre Negra) resolveu trazer a luz uma versão sombria dos Jovens Titãs, onde Dick Grayson (Brenton Thwaites) evita agir como Robin, já que agora é um policial de Detroit, que basicamente encontra a jovem perturbada Rachel Roth (Teagan Croft), que é a contra parte de Ravena, e logo depois encontra também a prostituta alienígena Koriand’r (Anna Diop), que é a Estelar, e também Garfield Longa (Ryan Potter), o Mutano.

    Nós já analisamos o piloto da série, e Titans prosseguiu sendo exibida, mostrando a inteiração do grupo de pessoas super poderosas ainda que claramente eles não sejam exatamente um grupo como nas historias clássicas de Marv Wolfman e George Perez, talvez o motivo disso seja exatamente fortificar a ideia de que essa uma serie de conteúdo adulto, mas a vagarosidade dela em reunir os personagens faz tudo ficar enfadonho.

    No segundo episodio são introduzidos Rapina e Columba, feitos por Minka Kelly e Alan Ritchson, que nessa versão são namorados, e tem as identidades civis de Dawn Granger e Hank Hall. Aqui se percebe que Grayson e Granger já se envolveram emocionalmente no passado, e as cenas em flashback são usadas bastante, de uma maneira até exagerada. Ao menos, já no começo se percebe que por mais que o antigo Robin tenha deixado de lado seu mentor, sua mentalidade é parecida com a do Morcego, pois ele também acolhe uma criança em apuros, mostrando uma senso de paternidade muito forte.

    A parte adulta da série, que mereceu elogios no piloto e que parecia ser uma boa e nova exploração de paradigma novo vai aos poucos se perdendo. Estelar encontra Ravena basicamente por que são ambas excluídas, e isso faz sentido, mas a sensação de pertencimento que os personagens tinham em outras encarnações inexiste aqui, eles tem em comum a rejeição, mas são unidos por isso. Talvez o ideal fosse que o grupo já estivesse estabelecido, afinal os fatos poderiam desenvolver melhor e de forma menos lenta.

    O desenrolar da trama é meio mecânico, os encontros não parecem acontecerem por mero acaso e se realmente a ideia era deixar um clima de destino conspirando pela união, deveria ser mais explicito o texto de Akiva Goldman. O que o produtor acertou em não se envolver com  os produtos spin offs de Transformers – Bumblebee foi muito bem sem ele – não acontece aqui.

    Os demônios que atormentam Rachel não assustam, a serie ao tentar ser hiper madura soa apenas cafona e desequilibrada. No entanto, há alguns pequenos acertos, como o episodio com a Patrulha do Destino, que apesar de ser meio como um filler, é absolutamente divertido, seu problema na verdade é o modo como termina, de maneira brusca a apressada.

    Ao menos em uma coisa o publico nerd mais chato e conservador estava errado, o visual e poderes de Estelar não comprometem em nada, são bem utilizados até, assim como a transformação de Mutano em tigre. Não se sabe se o alienígena pode se transformar em outros animais e ao menos nessa temporada ele só vira o felino, graças claro a um orçamento de TV, que é reduzido, mesmo que essa seja bem cara. A grande questão é o tom mesmo, por mais que em boa parte dos  momentos de interação do personagens hajam eventos e situações interessantes e bem filmadas, não há muita justificativa para uma abordagem tão obscura e com tendências adultas, tampouco há como explorar boa parte dos poderes dos heróis, claramente esse era um projeto para ser feito no cinema, com orçamento mais pomposo e robusto, onde Garfield poderia se transformar em outros animais e ser totalmente verde, onde Estelar poderia ter as cores laranja o tempo inteiro e onde Ravena poderia liberar seus demônios quando  precisasse de fato, contra inimigos que não fossem necessariamente os seus parentes, em mais um evento genérico envolvendo daddy issues.

    Há algumas apelações meio desnecessárias, cenas de sexo genéricas, unicamente propostas porque pretende-se atingir um público mais velho, mas em alguns pontos o seriado tenta lidar com outras formas de discutir ciclos, como quando é introduzido Jason Todd (Curra Walters) e há uma relação de mentor e pupilo entre o antigo garoto prodígio e o atual, embora Dick não tenha aposentado seu manto. A rejeição do Morcego nem é um assunto muito discutido, e sim o legado de um sidekick, Thwaites consegue surpreender com uma atuação sóbria e austera, de um homem que quer demonstrar que superou o vigilantismo – afinal virou detetive – mas que se vê tendo sua vocação reavivada com união que faz aos Titãs, ainda com o grupo em formação.

    Incrivelmente Akiva Goldsman introduz bons conceitos, como essa relação de Todd e Grayson, e a Patrulha do Destino (que obviamente está lá só para fazer propaganda da futura série) mas também é incrível como falta foco narrativo a série, que varia entre a trama principal e investigação que Richard Grayson faz e esses capítulos stand alone, envolvendo Rapina e Columba, o segundo Robin e ate Donna Troy. Falta identidade a Titans, eles não sabem escolher nem entre ser uma série de conseqüências tradicionais e historia retilínea ou se é procedural.

    A luta entre Donna Troy (Conor Leslie), a antiga Moça Maravilha e Estelar é muito bem coreografada, apesar de bastante curta. Donna tem uma maturidade que Grayson não tem, ela já entendeu que o vigilantismo não é um estilo de vida para ela, ao contrário do antigo pupilo do Batman, que já acha que não há mais como ser o Robin, mas também não consegue largar o manto. Nesses últimos episódios claramente se nota uma propensão a se tornar finalmente o Asa Noturna, mas se demora tanto em verbalizar quanto em ser colocado em prática.

    Como era esperado, o ultimo episódio (11º) é chamado Dick Grayson, e começa alegre, em um dia ensolarado na California, com o personagem que dá nome ao capítulo relaxando, enquanto brinca com seu filho, Johnny. Fica claro em todo esse desenrolar que aquilo não corresponde a realidade, pois todo o status de comercial de margarina não combina em nada com as encarnações do Titãs, nem a vista em Titans. O começo da ruptura com a perfeição começa quando Jason Todd aparece na casa do antigo Robin, em uma cadeira de rodas, dizendo que seu mentor enlouqueceu.

    Esse episodio é dirigido por Glen Winter e escrito por Richard Hatem, e a construção da tensão e do futuro alternativo de Dick não é ruim, enquanto ele se propõe a explorar os detalhes dessa versão alternativa há muitos acertos, talvez os mais meritosos de todo o programa, mas os momentos finais são tão apelativos e de certa forma covarde, que fazem lembrar os season finales de The Walking Dead, não pela temática, obviamente, e sim pelo adiamento da resolução do conflito, para algo que só estreará ano que vem.

    É difícil avaliar o que Goldsman, Johns e Berlanti quiseram traduzir nesta primeira temporada de Titans, é tudo tão diferente iconograficamente de tudo que se conhece sobre Robin, Mutano, Estelar, Ravena, e até de Moça maravilha, Rapina e Columba e do grupo de heróis como um todo. Akiva foi um dos escritores de Batman e Robin, e retorna aqui para mais uma vez demonstrar que não entende muito como funciona a psique e comportamento do antigo garoto prodígio, e dessa vez nem com o auxilio de um roteirista experiente como Johns ele conseguiu criar algo nem ligeiramente semelhante (talvez Johns tenha aparado alguns excessos, vá saber), fato é que esta parece mais uma versão genérica, tirada de qualquer Revista Elseworld da DC, onde sequer a cena pós crédito envolvendo personagens do universo do Superman salva o programa da mediocridade. Espera-se que a segunda temporada corrija alguns equívocos, mas a vocação dos personagens certamente seguirá a mesma

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  • Review | Titans (Episódio Piloto)

    Review | Titans (Episódio Piloto)

    Quase tudo que envolveu a série live-action dos Titãs tem relação com a polêmica, primeiro por conta da escalação da bela atriz negra Anna Diop como Estelar, o que não faz sentido algum, já que a alienígena não tem etnia terráquea, depois, ocorreram críticas ao material de divulgação, excessivamente dark. Pois bem, Titans estreou no dia doze de outubro de 2018, e começa mostrando Ravena (Teagan Croft) lidando com sonhos estranhos. A jovem Rachel sonha com a tragédia dos Grayson Voadores, mas percebe que é só um pesadelo, ainda que isso não fique exatamente claro.

    Não demora até o Detetive Richard ‘Dick’ Grayson ser mostrado, como um policial de Detroit, cidade conhecida pela violência. Brenton Thwaites compõe um personagem tímido e sombrio que se mudou para respirar novos ares e agir de maneira solo. Na sua primeira ação ele é debochado pelos malfeitores, que esperam o Morcego, e responde a esses estímulos com muita violência, e cenas em slow motion dignas da filmografia de Zack Snyder. Aparentemente a influência nefasta do diretor segue viva.

    Aliás, a violência é algo bem comum nesse universo. Rachel, quando decide sair de sua cidade Traverse City e ir para Detroit, se depara com a violência extrema ao ser perseguida por assaltantes, mas também sendo encarada pelos demônios que a cercam nos quadrinhos. Enquanto isso, Koriand’r, uma prostituta que usa cores fortes em seus cabelos e em suas vestes – além de ter olhos verdes-claros, que chamam muita atenção – é mostrada ao lado de um homem morto, no banco do motorista de um carro. O nome que usa, Kory Anders, serve como identidade civil desse ente misterioso e extra-terrestre.

    Ao menos na intimidade da personagem, se vê prosperidade, pois esta contraparte humana estava alocada na cobertura de um hotel luxuoso, por conta da natureza do trabalho que exerce como garota de programa. Ainda assim, esses detalhes são sugeridos e não jogados de forma didática, aliás, ao menos nesse começo, todo o desenrolar dramático é gradativo, o encontro entre os personagens centrais demora a acontecer e ao menos até aqui tudo funciona de forma fluida.

    O capítulo é conduzido por Brad Anderson, acostumado a dirigir longa-metragens em Hollywood como O Operário e Chamada de Emergência. Anderson esbarra nas limitações orçamentárias televisivas, em especial quando coloca Koriand’r/Estelar expelindo seus poderes cósmicos. Soa falso, mas em comparação com outras séries de heróis, não deixa a desejar. No final do episódio há outro uso de efeitos especiais, dessa vez mais acertado, com uma fotografia escurecida que favorece a dificuldade orçamentária típica de alguns programas de TV.

    Mesmo com os pontos positivos, ainda soa estranho apreciar as aventuras dos Titãs com um tom tão violento e sombrio, diferente demais do visto em Os Jovens Titãs, primeira série animada, além de Jovens Titas em Ação! Nos Cinemas. Ao menos se a toada seguir tão bem construída quanto nesse episódio inicial, terá sido essa uma boa e grata surpresa.  No final do episódio, há uma introdução bem legal de Mutano, de forma curiosa e até engraçada, e que deverá ser explorada mais à frente. Até aqui, a parceria de Akiva Goldsman, Greg Berlanti e Geoff Johns conseguiu manter os pés no chão e usar um pouco dos quadrinhos como base de uma discussão bem diferente da proposta clássica de Marv Wolfman e George Perez.

    https://www.youtube.com/watch?v=-PPofXaJ4go

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  • Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 1)

    Review | Star Trek Discovery – 1ª Temporada (Parte 1)

    Cercada de muitas expectativas, Star Trek – Discovery finalmente estreou mundialmente em setembro via streaming , começando por uma entrada animada belíssima, que viaja pelo espaço até a discussão de uma horda de klingons, evidenciando um dos temas polêmicos pregressos a essa série, que seria a aparência dessa raça alienígena. Além dos aspectos visuais não incomodarem – diferente do que é normalmente visto em Jornada nas Estrelas, sobretudo a série Clássica – claramente há um enfoque diferenciado nos primeiros episódios dessa nova fase, além de uma preocupação legítima em parecer atrativa aos olhos das novas plateias, levando em conta todo o grafismo estabelecido no início da parte da saga da Kelvin Timeline, iniciada em Star Trek de J.J. Abrams.

    Assinada em criação por Alex Kurtzman, Akiva Goldsman e Bryan Fuller(que não é mais um dos showrunners), os eventos se passam após a série Enterprise, e anteriormente a Série Clássica (aproximadamente dez anos, ao menos no prelúdio) fato que faz ser curiosa a tecnologia e visual, como ironicamente ocorreu com a saga cujos fãs mantém uma certa rivalidade com Trekkers, em especial no advento do Star Wars Episódio 1 – A Ameaça Fantasma, capitaneado por George Lucas.

    A nave que batiza a série não é mostrada de início, e sim a Uss Shenzhou, que é comandada pela Capitã Phillippa Georgiou (Michelle Yeoh) e tem como imediato (ou número um) Michael Burnham , cuja interprete Sonequa Martin-Green saiu recentemente de The Walking Dead. A primeira inteiração entre as duas é na superfície de um planeta arenoso, que faz lembrar demais a introdução de Além da Escuridão, também em um ambiente diferenciado.

    Apesar de lançados no mesmo dia, os dois primeiros episódios The Vulcan Hello e Battle at The Binary Stars servem para introduzir a personagem principal e outros integrantes da Discovery que viria, entre eles, o alienígena kalpien Saru, executado por Doug Jones, o mesmo que trabalha com Guillermo Del Toro frequentemente, em Hellboy, O Labirinto de Fauno e A Forma da Água, por exemplo. Sua compleição é o de ser fruto de uma raça que é normalmente predada, e ele age sempre com cautela e receio, inclusive externalizando seus medos através de guelras que surgem em seus pescoços, quando está perto de um perigo iminente. Já no início se estabelece uma dicotomia entre ele e Michael, que é uma personagem impulsiva, apesar de sua criação vulcana e da proximidade com seu pai adotivo, Sarek (James Frain), que já foi apresentado antes na franquia.

    Os nervosismos e tensões ocorridas com os klingons nesse grande episódio piloto se explica entre outras coisas pelo passado de Michael, que perdeu seu pais através de um ataque desse vilões. A partir dali ela foi obrigada a deixar de lado sua humanidade, por ser criada em um ambiente onde se reprime as emoções, em Vulcano. Além dos confrontos entre naves grandiosos em comparação com quase todos os outros produtos da marca Jornada nas Estrelas, há um prevalecimento de uma paranoia traumática, que começa com Michael tentando tomar o controle da Shenzoou a fim de atacar os seus inimigos tradicionais e termina com um confronto inevitável entre o Império Klingon e a Federação. O fim desse arco é trágico…

    Grande parte do corpo de fãs trekkers chiou bastante com as mudanças, entre elas a compleição dos klingons, a camuflagem das naves adversárias e os hologramas utilizados para comunicação interna. De fato, cada uma dessas características realmente saltam aos olhos dos que estudam o canône de Star Trek, em especial a linha do Universo Prime (que é a linha do tempo das séries clássicas), no entanto se apegar a isso é uma prática sobretudo fútil, há mais mistérios e posturas estranhas do que as simples corruptelas dos detalhes que só são caros aos fãs hardcore. Mais preocupante que isso certamente é a postura do Capitão Gabriel Lorca, vivido por Jason Isaacs, sob quem está a tutela da nave título do seriado. Ao ser remanejada, como prisioneira após os atos extremos que cometeu em Battle at The Binary Stars, Michael tem novos desafios, os de tentar se reabilitar diante da frota, de ter de lidar com antigos colegas que comandou, como Saru que agora é Comandante Oficial, além de ter que se submeter as ordens pouco ortodoxas de seu capitão.

    A tripulação da Discovery é diferenciada, mesmo em tempos de guerra, onde se há um maior estresse e conflitos frequentes, há de se guardar alguma cordialidade e mínima diplomacia e o que se vê é uma tensão forte entre os tripulantes, com trocas de ofensas que pouco tem a ver com a utopia pregada por Gene Ronddenberry. Apesar de incomoda, há alguns fatos que atenuam tal situação, como a postura de Lorca como um sujeito indócil e pouco inspirador de confiança. Sua forma de comando é agressiva e nada acalentadora. Ele é grosso e completamente diferente dos outros capitães, inclusive de Archer (Scott Bakula) de Enterprise, que é o mais próximo do século atual, já que suas aventuras são no século XXII. Tal postura faz perguntar uma série de questionamentos, que por sua vez geram especulações entre os trekkers, de que possivelmente essa fosse uma série no Universo Espelho, dado o comportamento agressivo geral, ou a simples ligação deles com a vindoura Seção 31, que é uma divisão de assuntos secretos introduzida em Deep Space Nine.

    Os episódios apesar de terem eventos procedurais – como os famosos casos da semana – são caracterizados por ter uma narrativa contínua, onde os eventos dos capítulos anteriores tem muita influência sobre o que ocorre posteriormente. A questão ética envolvendo o uso da critatura que Michael começa a chamar de Tardígrado é muito bem vinda, em especial por mostrar as inconsequências de Lorca, como chefe de equipe e claro, todas as questões morais que cercam o usufruir das capacidades de um ser que mesmo com uma atitude selvagem e bárbara pode ser inteligente, como se prova com o tempo.

    Em Choose your Pain, Lorca se vê em situação de prisioneiro, onde se depara com dois personagens enigmáticos, sendo o primeiro Ash Tayler (Shazad Latig), um sujeito preso no cárcere dos klingons, que depois é admitido entre a equipe da Discovery e claro, Harry Mudd (Rain Wilson), que já havia sido mostrado em Mudd’s Women e I, Mudd da série Classica. Essa versão é bastante diferente do visto no capitulo antigo. Claramente há uma tentativa de tornar Discovery na série mais pessimista dentro do canône, e em se tratando de uma época bélica, mais próxima da realidade do século XXI, natural que assim o seja

    O arquétipo de Burnham envolve dois personagens anteriores, primeiro Worf, o klingon interpretado por Michael Dorn, em TNG e DS9 que foi adotado por humanos, e Tom Paris (Robert Duncan McNeill), de Voyager, que é um sujeito párea, um criminoso em reabilitação que embarca na nave que acabou por se perder, comandada pela capitã Janeway (Kate Mulgrew). Ainda assim, o comportamento guarda características únicas, que normalmente a aproximam do ideal vulcano, tão intensa em si que ela tem uma ligação de alma com Sarek,

    O fato de fazer um diário de bordo faz Michael usar uma narração em off um pouco didática, mas é uma boa lembrança em Magic to make the sanest man go mad, que é um dos poucos momentos procedurais até então. Apesar de pouco compor a história geral, esse certamente é o mais rico e divertido capítulo até aqui, por resgatar a ideia jocosa original de Mudd, por brincar de maneira criativa com um clichê do gênero sci-fi e também por mostrar um lado curioso do engenheiro Paul Stamets (Anthony Rapp), que se mostra um personagem rico e envolvido com quase todas as sub-tramas importantes da temporada, uma vez que é ele quem tem contato direto com os esporos que permitem viajar no tempo e que terão sua razão e funcionamento melhor explorados na segunda parte dessa temporada, além de ser um personagem de personalidade dura, mas com um coração sensível. Já o momento seguinte foi complicado, em Si Vis Pacem Para Bellum, com uma sequência que conseguiu reunir todos os defeitos na confecção de Saru em um só episódio, piorando-os ainda mais, seja com as motivações torpes e ilógicas dele, ou com o CGI mal encaixado e artificial.

    Talvez a problemática mais discutível em qualidade desse primeiro momento em Discovery passe pelo uso dos klingons como antagonistas, não por eles serem factualmente os adversários, poderiam ser romulanos, andorianos, vulcanos, tanto faz, mas sim porque é um clichê tremendo dentro da franquia usá-los como contraponto, e também porque a serie anterior Enterprise mostra que não há tensões tão grandes entre a federação e esse povo. Além disso, as maquiagens dos personagens foram tão mal pensadas que alguns dos klingons que aparecem recorrentemente nem parecem que são os mesmo, a exemplo de L’rell (Mary Chieffo), que só se nota quem é graças as manchas de seu rosto.

    Ao menos, Into the Fores I Go consegue equilibrar bem os elementos bons de Discovery até aqui, que é o nervosismo comum diante de uma situação de guerra contra um adversário desconhecido, além da paranoia de Michael sendo justificada para um momento que lembra demais o comentário visto no piloto dividido em duas partes, onde se relembra o pecado da antiga imediata da Sheenzu, dessa vez com a oportunidade de se fazer um acordo mais amistoso com os seus adversários tradicionais.

    A discussão travada entre Burnham e Kol (Keneth Mitchell) tem algumas camadas, inclusive na simples questão do tradutor universal, que para a humana é a mostra da tentativa pacifica e estabelecer diálogo e para o general é apenas mais uma tática para fazer o seu povo perder sua identidade. Até mesmo o a briga entre os dois personagens é surpreendentemente condizente com a realidade estabelecida para os klingons nas outras series do que tudo o que foi visto até então no que toca esta espécie em Discovery. A honra e o caráter klingon sempre passou pelo desempenho dos seus no campo de batalha e nada mais justo do que haver um confrontamento nesses moldes, para provar que alguém tem valor, a questão é que não há qualquer mínima chance de redenção ou de acordo amistoso, ao menos não nesse período, ainda há de se explorar bastante o tema, infelizmente.

    De qualquer forma, o potencial de desastre que rondou Star Trek – Discovery ainda não se justificou de fato. Como dito antes, romper com o canône não é exclusividade da serie de Goldsman e Kurtzman, tampouco a má recepção por parte dos fãs mais xiitas, basta ver o como grande parte dos trekkies viram Jornada nas Estrelas a Nova Geração. Ainda que tardiamente, o senso de aventura escapista e utópica foi resgatada, mesmo com tantas corruptelas, que em parte, são explicadas por serem esses tempos mais difíceis e menos maniqueístas. Questões éticas como saltos no tempo, uso franco de habilidades da tripulação para se favorecer em um momento de confronto são tratadas de forma parecida com o que faziam Brannon Braga e Rick Berman.

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  • Crítica | Insurgente

    Crítica | Insurgente

    Divergente - Insurgente- poster

    Segunda parte da trilogia escrita por Veronica Roth, a sequência de Divergente, lançado há apenas um ano, chega aos cinemas revelando a urgência de produções-pipoca com bilheteria garantida, mesmo que uma trama sem fôlego seja um ponto crítico.

    Como resumo dos fatos anteriores, um vídeo institucional em que a líder, Jeanine Matthews (Katie Winslet), apresenta ao povo, pontua os preceitos básicos desta série distópica na qual a sociedade é divida em facções de acordo com os dominantes psicológicos de cada um: altruísmo (abnegação), amizade (generosidade), audácia (coragem), franqueza (sinceridade) e inteligência (erudição). Entre eles, há quem não se encaixe em nenhuma destas categorias: são os Divergentes, considerados párias por não se adequarem às divisões da sociedade, e por isso são retirados do sistema.

    A trajetória de Tris segue em Insurgente com maior pressão psicológica pelos fatos sucedidos anteriormente. A personagem compreende que representa uma exceção dentro de seu universo, mas não sabe como agir de fato para modificá-lo. Difícil não equipar esta heroína com a personagem central de Jogos Vorazes, Katniss Everdeen. Afinal, narrativas contemporâneas focadas em futuros distópicos com jovens como grandes salvadores têm sido uma tendência literária e, por consequência, cinematográfica. Katniss e Tris possuem personalidades distintas, mas a composição de Tris é feita de maneira menos intensa do que a da outra franquia, resultando em uma empatia proporcional ao carisma e urgência que a atriz Shailene Woodley trabalha em seu papel.

    Tris não soa como uma ameaça urgente ao sistema de governo como Katniss, bem como seu povo parece satisfeito com o sistema de facções. Sendo assim, uma eventual mudança parece seguir mais a vontade interior da garota e do grupo de Divergentes do que um aclame geral da população. Reconhecendo que a personagem central tem pouco carisma, Roth e, consequentemente, os roteiristas Brian Duffield, Akiva Goldsman e Mark Bomback desenvolvem uma intriga sobre um artefato antigo que traria uma mensagem dos fundadores. Porém, para abri-lo é necessário a presença de um divergente. É natural que a única pessoa capaz de abrir o dispositivo seja Tris. O elemento de predestinação é mais um argumento que prova a falta de força desta história que precisa de um incentivo extra para criar conflitos entre os supostos bandidos e mocinhos.

    Mesmo este conflito com uma possível mensagem reveladora é estranho, pois a princípio a garota deseja destruir o artefato e depois desvendá-lo, mesmo que para isso quase perca a vida. Além do argumento frágil, as cenas de ação são bem simples, sem nenhum bom aproveitamento do recurso da terceira dimensão, além dos óbvios e já intoleráveis ângulos de cena que explicitam a imersão com objetos indo de encontro a tela. Mesmo com uma boa verba para produção, nenhuma cena de ação se destaca, e a bonita e potencialmente interessante cena do pôster nem mesmo está presente, sendo uma provável boa cena cortada da produção.

    De qualquer maneira, a última parte está em fase de adaptação para os cinemas e, seguindo a tendência atual, será dividida em duas partes, exibidas uma a cada ano. Difícil saber se haverá tanta história necessária para a produção de mais dois filmes, visto que nesta segunda parte há um vazio que enfraquece ainda mais a trajetória da personagem principal e seu grupo divergente.

  • Crítica | Um Conto do Destino

    Crítica | Um Conto do Destino

    um conto do destino

    Nova Iorque, 1895. Nesta época e local ambienta-se a história rememorada pela narradora, que a inicia com uma releitura do mito de Moisés, usando a cidade americana como o oásis da perfeição, o lugar onde o rebento do casal de protagonistas poderia viver a despeito de tudo: da deportação de seus pais imigrantes (motivada pela tuberculose) e da irrealidade dos fatos e acasos, que influi diretamente no destino da criança, solta em alto mar e sobrevivendo à tragédia. Há um tanto de fantasia em Um Conto do Destino, de Akiva Goldsman.

    As salas palaciais, grandiosas e suntuosas guardam espaço espiritual para que a luz mágica atravesse-as e faça delas cenários semelhantes aos dos clássicos da Disney. Até os personagens são simples, mas não necessariamente vazios, lembrando os arquétipos presentes nos contos infantis. A fotografia de Gary Capo — acostumado a filmes grandiosos, como O Último Samurai, Missão: Impossível 2, Além da Linha Vermelha  flagra ainda mais o caráter de conto de fadas da história amplificado pelos cenários da neve, com cores frias, em contraste com os corpos dos personagens, de cores quentes. A direção de arte de Peter Rogness também é competentíssima, sua experiência em dramas que equilibram emoção e beleza exuberante (Tão Forte e Tão Perto) certamente pesaram na escolha deste para trabalhar no filme.

    Peter Lake (Colin Farrell) é o filho da promessa, mas, por ser descapitalizado, tem de roubar para conseguir seu sustento. No entanto, ele em momento algum é retratado com a máscara da vilania, pelo contrário, salienta-se sua necessidade de fazer os crimes ao mostrar a miséria que vivencia e os milagres que o mantiveram vivo. A honra do personagem é tamanha que um alazão branco de capacidades homéricas aceita ajudá-lo em sua jornada — argumento semelhante aos presentes que Perseu recebeu de Atena —, referência  que se torna óbvia no decorrer da película. Russel Crowe faz o maligno “deformado” Pearly Soames, o vilão de intenções escusas que busca a morte do injustiçado herói, guardando um poder enorme e uma fúria sanguinária, a qual nem sempre é vista em histórias de princesas. A mocinha é Beverley Penn, feita pela bela ruiva Jessica Brown Findlay (de Downton Abbey), que não parece ter ligação com a nobreza mas cujos desejos e desígnios são ligados à honra e dedicação ao sonho, ao infinito e a um mundo ideal. Mesmo que, a priori, o repertório visual e o roteiro lembrem uma história infantil, a trama não poderia ser mais voltada para o público juvenil e adulto, não por tratar temas espinhosos, mas sim por subverter os clichês de fairy tales e associá-los a questões mundanas, como a guerra de classes.

    No pôster do filme, em tradução livre, diz-se que “esta não é uma história de verdade, esta é uma história de um amor de verdade“, como se em nome de mostrar tal sentimento ganhando a vida todo o restante fosse perdoado, até  mesmo a filmagem do impossível e a transposição do realismo, pois a poesia do amor é maior que a frágil barreira da verossimilhança. A realidade pode ser enfadonha e desinteressante quando comparada ao incomensurável tamanho do apego ligado ao sentimento eterno. Os exageros dramáticos do casting não são capazes de destoar do espírito da obra, nem mesmo o over-acting de Will Smith que faz o aprisionado Lúcifer, o qual, demonstrando que o mal é reduzido ao menor denominador comum, é levado à fácil associação ao mito maniqueísta cristão.

    O desenvolvimento da narrativa é tão articulado aos conceitos básicos da moral contidos nos contos de fadas que seu cunho moralista faz a mocinha sucumbir após entregar-se de corpo inteiro ao amor de sua vida, ato de consequências definitivas. A época pedia um findar trágico que abalou a percepção de Peter Lake sobre a vida, jogando-o num limbo desmemoriado e fazendo de sua imortalidade uma vivência de sofrimento na busca de uma musa que não mais existe.

    A trama é levada à contemporaneidade, e a magia do não envelhecimento de Lake só é questionada por uma das filhas dos novos tempos, Virginia — feita por Jennifer Connelly, estonteante como sempre —, a qual não compreende toda a consentaneidade que acometeu a época do início da película, não sabendo como as coisas eram mais simples e menos “discutíveis”. A modernidade destruiu um pouco a percepção do que é possível e do que não é, da possibilidade de milagres acontecerem, mas o encontro entre Lake e ela é o primeiro indício de que tal máxima pode mudar. A tangível condição médica de Abby (Ripley Sobo), a pequena menina cancerosa, também ajuda a derribar a fé de Virginia, mas é este o gatilho que faz Peter Lake retornar às suas atividades como o herói da jornada, levando-o, inclusive, a reencontrar os seus antigos aliados mesmo na urbana Nova Iorque.

    A cavalaria de Soames mudou: ele está fortemente armado e paramentado com as tecnologias contemporâneas, e sua obsessão como guardião de limiar, por fazer o destino do herói encantado algo trágico, prossegue. Em determinado momento, parece que o intuito do mal ganharia mais uma vez a batalha, ampliando a aflição e a dor do mágico protagonista, mas, como na maioria dos contos que inspiraram Um Conto do Destino, o final reúne uma mensagem edificante, igualitária e otimista, de amor correspondido e de encontro dos amantes.

    A estreia de Akiva Goldsman no cinema é emotiva, mas equilibrada, não caindo no pecado do pieguismo e evidenciando uma história que contém muito das suas influências, enquanto artista, de forma reverencial e enxuta.