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  • Review | Um Maluco no Pedaço

    Review | Um Maluco no Pedaço

    Will Smith ficou famoso graças a série de comédia que protagonizou nos anos noventa, chamada no Brasil como Um Maluco no Pedaço. Produzida por Quincy Jones e criada por Andy Borowitz e Susan Borowitz , o programa trata de maneira engraçada o êxodo de jovens negros de áreas “violentas” para vizinhanças mais tranquilas. O personagem de Smith,  vai para a casa dos Banks em Bel Air, para ficar com sua tia Vivian (Janet Hubert) e seus outros parentes.

    O nome original The Fresh Frince of Bel Air faz jus não só ao apelido que o protagonista tinha na Filadélfia, mas também ao seu nome de rapper. Na narrativa, Will chega fazendo barulho, assustando o mordomo Geofrrey (Joseph Marcell), e de certa forma, se assustando também, uma vez que na sua terra, famílias negras não têm empregados, quanto mais um mordomo britânico. As primeiras temporadas se dedicam a mostrar os choques culturais entre ele, um garoto criado nos guetos, e os mauricinhos californianos.

    Dois personagens resumem bem essa causa, o jovem Carlton (Alfonso Ribeiro), seu primo mimado, e a prima mais velha, Hillary (Karyn Parsons), dois  jovens que não sabem as dificuldades da vida de um negro americano, e que passam o tempo ostentando ou gastando a fortuna de seu pai. O maior segredo da comédia certamente mora na evolução que os personagens acabam tendo, ninguém sai incólume à presença de Smith. O restante da família inclui a caçula Ashley (Tatiana M. Ali), e seu tio o advogado (depois juiz) ricaço Phillip Banks (James Avery), que ajuda a moldar o caráter do jovem ao longo das seis temporadas

    A maior parte da história se passa na mansão da família, fator comum a outras comédias de situação. Esse cenário muda ao longo do tempo, provavelmente para evocar a subida financeira da carreira de Phill, e os lugares frequentemente visitados são o ambiente escolar, e algumas vezes,  o gueto Compton, que é onde o amigo de Will Jazz (Dj Jazz Jeff) mora.

    Mesmo quando passa por esses cenários, os temas mais espinhosos são tocados de forma leve e lúdica. Muito se reclamava das visões estereotipadas que o seriado passava, mas o que se percebia era que essa era uma boa fonte de trabalho para atores negros, que eram bastante incluídos, normalmente passando por assuntos que eram caros à comunidade, como o racismo estrutural, o modo errático com que a polícia lida com as pessoas de pele negra, abandono parental, etc. Mesmo com a condição abastada dos Banks, eles não estavam fora dessa métrica, uma vez que longe da vizinhança em que eram conhecidos, eles eram apenas “negros comuns”, alvos de intolerância racista. Além disso, Will dava espaço para manifestações da cultura hip hop, ditando tendência para os jovens negros consumirem coisas e marcas de negros também.

    Quincy Jones sabia vender o programa como produto. A atmosfera, por mais irreal que seja, tem alguns elementos que trazem o espectador para a realidade do jovem dos anos noventa. Will é fanático por esportes, torcedor do Philadelphia 76ers, o time de sua cidade natal, além disso, há aparições de jogadores famosos, como o campeão e bad boy Isiah Thomas, além de tratar do basquete como algo fundamental para o decorrer da trama. Entre as celebridades aparecem o boxeador Evander Holyfield, o magnata Donald Trump, o apresentador Jay Leno, além de participações pontuais de Richard Roundtree (o Shaft original, um dos heróis de William), Don Cheadle, Queen LatifahPat Morita e Vivica A. Fox.

    O timing de comédia do programa é ótimo, o espectador se vê envolvido nas palhaçadas do personagem, mas não há um descuido com momentos mais sérios. A reunião que Will tem com seus pais, as idas à Filadélfia e as tramas envolvendo suas tias e sua mãe servem para familiarizar o personagem, e mesmo que não haja uma profunda crítica social nos 148 episódios.

    Com o tempo, os créditos finais passam a carregar erros de gravação, fato que ajuda a fortalecer o aspecto de quebra da quarta parede, além de marcar o carisma dos atores e de deixar a sensação de que ali estavam amigos, e não só  colegas de trabalho. Fato é que haviam brigas nos bastidores mesmo que se tentasse colocar outra imagem. Smith e Janet Hubert brigaram tanto na terceira temporada, que ela foi substituída, o motivo atribuído é que ela queria mais destaque para seu personagem e o de seu marido, e a partir da quarta, ela foi substituída por Daphne Reid.

    Os roteiros de Um Maluco no Pedaço são cíclicos, pois basta Will viajar e retornar para Bel Air que os choques culturais com seu tio se repetem. Isso faz trama involuir, e isso é bastante associado ao fato de que na época, as séries não tinham tanto apego a cronologia, mas é injustificável, pois essa não é uma série procedural, até as crianças crescem, algumas até deixando de ser bebê para virar uma criança capaz de andar de um ano para o outro – embora tosco, esse artifício ao menos é engraçado – então esse tipo de trama não se justifica em si.

    Nos últimos anos há uma escalada da gravidade das questões mais emocionais, como quando o protagonista finalmente encontra seu pai biológico, Lou, vivido por Ben Vereen. De fato é bem emocionante o capítulo, e o desempenho dramático de Willard Smith não se deu por ele lembrar de sua possível história triste, já que ele teve um pai bem presente, e só ocorreu de maneira tão intensa graças às provocações de James Avery, que o pressionou até que ele fizesse uma performance que fez até seus colegas de elenco chorarem, fato percebido no áudio dos bastidores, que vazaram na cena que foi ao ar.

    Desde o quarto ano, se tenta terminar a série, não à toa Will quase se muda de volta para a Filadélfia, com um retorno na quinta temporada bem engraçado e metalinguístico (um carro da NBC vai cobrar seu contrato), no entanto, os esforços continuaram para enfim terminar o programa. Umas das graças do personagem morava no fato dele ser um galanteador e solteiro convicto, ele estava sempre com uma menina diferente. A escolha de Nia Long para o papel de Lisa Wilkes não poderia ser mais acertado, não só pela química dos dois (que é inegável) como pela forma que ela é apresentada, evoluindo de alguém que odeia (ou finge odiar) Will, para um par bom o suficiente para conquistar o sujeito, ao ponto de marcar uma data para casar com ele. É uma pena que, para ter mais uma temporada, essa trajetória tenha sido interrompida, pois certamente seria um final mais apropriado que o fim da sexta temporada.

    Os últimos anos abusam da metalinguagem, mostrando até os bastidores das filmagens, com episódios onde isso é mostrado de maneira literal e com pitadas de outros. É curioso que todo o desenvolvimento dos personagens evoluam, e Will não, cada um dos Banks/ Smith tem um rumo definido, menos ele. Essa letargia soa estranha, pois ninguém viveu mais provações que ele, no entanto, é ele que segue como personagem que não conclui suas funções e arcos, e ele então se torna refém do término do seu curso na faculdade, mesmo que não saiba qual será sua especialização até o último capítulo. Novamente o texto se repete, e isso é cansativo. Apesar do final carecer de roteiros razoáveis , Um Maluco no Pedaço deixou uma marca boa na memória do seu espectador, graças às reprises do SBT no Brasil e claro, pela popularidade nos EUA. Por mais que a maioria do elenco não tenha colhido bons frutos, há claramente um carinho muito grande pela série por parte dos que cercavam Smith, além evidentemente do papel bem feito de popularizar temas raciais caros à comunidade negra, e não à toa era tão popular e louvada.

  • Crítica | Eu, Robô

    Crítica | Eu, Robô

    As obras baseadas nos livros e contos de Isaac Asimov sofrem normalmente com uma problemática freqüente: são produções em que o a figura do astro que as protagoniza, é mais comercial e conhecida que a autor. Foi assim em O Homem Bicentenário com Robin Williams, que foi transformado num bobo conto infantil, elogiado pelo publico por afeição ao ator, e foi assim também com Eu, Robô de Alex Proyas, que tem em Will Smith o seu maior chamariz.

    O livro de contos não é adaptado de maneira convencional, o que se vê são elementos do conto Sonhos de um Robô*, jogados em meio a historia de Del Spooner (Smith), um detetive forte, robusto, que toma banho com a mesma pose artificial de Angelina Jolie em Tomb Raider e que está aqui para ser a epítome de algo que Asimov vivia criticando: A Síndrome de Frankenstein.

    Proyas parece mais preocupado em exibir seu astro sem camisa, se exercitando de maneira muscular e em mostrar um cenário repleto de CGIs artificiais do que contar uma historia coesa e com elementos de ação.  A parte filosófica do filme é rasa, se perde em meio as propagandas dos tênis Converse All Star e não são discutidas ou aprofundadas. Em 2004 Smith já estava acostumado a lidar com grandes marcas, em MIB – Homens de Preto ele desenvolveu bem seu papel, foi discreto e não precisava ser o centro das atenções todo o tempo, mesmo em As Loucas Aventuras de James West, que foi muito criticado, ele estava tão canastrão quanto aqui.

    A paranoia de Spooner também é algo clichê e gratuito, a velha historia de um passado com problemas envolvendo o caso central de um filme ou série é tão batido que já causa enfado no espectador antes mesmo de se consumir a tal historia. Os cenários também não envelheceram bem, assim como boa parte dos efeitos nos androides e ciborgues, nada parece natural e isso ajuda a distanciar o filme do ideal asimoviano.

    Excluindo o fato da onde se baseiam os preceitos de Eu, Robô, o roteiro de filme policial também são pobres, os elementos misteriosos não geram uma grande dificuldade em se notar quem são suspeitos, culpados e os auxiliares na historia que Spooner corre. Algumas coisas simplesmente não batem, como a volúpia do personagem humano central por açúcar, se ele é tão preocupado com seu corpo e se a tecnologia não o impede de exercitar para ser tão forte, não faz sentido ele adoçar tanto o café. A necessidade de diferenciar máquina de humano passa por esse tipo de ausência de sutileza.

    Outra caracterização pobre é da doutora Susan Calvin (Bridget Moynahan), uma psicologa robótica  que tenta a todo custo trazer o filme para a lógica não bélica dos livros, mas esbarra na necessidade da historia se mover na direção de um filme de brucutu genérico dos anos 90. Absolutamente tudo está montado para dar chance a Smith de soltar alguma frase de efeito, ou simplesmente se alimenta sua paranoia de fobia contra mecânicos, fato que agrava evidentemente a investigação sobre a morte do Doutor Lanning (James Cromwell), e o envolvimento de Sonny (Alan Tudyk) nisso.

    Os momentos finais buscar ser emocionantes, com a revolta das máquinas ocorrendo motivadas por uma inteligência artificial suprema, cujas motivações não fazem qualquer sentido. Os combates soam genéricos, não tem muito peso, uma vez que o nível tecnológico empregado nos efeitos não era tão acurado sequer para a época, que dirá mais de quinze anos depois. É uma pena que Proyas tenha realizado um filme tão equivocado e com um script tão pobre quanto esse escrito por Akiva Goldsman e Jeff Vintar.

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  • Crítica | Bad Boys: Para Sempre

    Crítica | Bad Boys: Para Sempre

    Por outras duas vezes, Michael Bay se juntou a Will Smith e Martin Lawrence para fazer os episódios cinematográficos da franquia Bad Boys, conseguindo muito sucesso em um e um enorme equívoco no outro. Demorou mais de uma década para que houvesse um terceiro tomo, dessa vez sem Bay. Em Bad Boys Para Sempre, os personagens estão mais velhos, mais falhos e sentimentais e não demora a demonstrar esses sentimentos e sensações.

    No início do filme há uma perseguição de carros, protagonizada obviamente por Mike e Marcus, pelas estradas de Miami, atrás dos malfeitores, e essa tradicional entrada apoteótica é seguida de um momento sentimental, com o nascimento do neto de Burnett, mostrando que para todos os efeitos, a direção de Adil El Arbi e Bilall Fallah emula o estilo do diretor antigo, mas há uma abordagem mais aprofundada do lado mais emocional.

    O problema do longa reside no roteiro mesmo, que se vale de vilões latinos, genéricos ao extremo e que supostamente teria ligação com os bad boys. Ao menos não se dá grande importância para eles, exceto quando tentam execuções e claro, no final. O modo como o texto lida com as dificuldades dos personagens em aceitar o peso da idade e experiência suaviza essas questões.

    O tom dramático ainda soa bobo, mas é mais acertado neste. As tentativas de parecer grave e nos conflitos entre Burnett e Lowrey fazem sentido, além das simples piadas. Eles são falhos, agora mais do que nunca, já que seus dias são mais lentos e mais difíceis de lidar graças ao peso dos anos de ação, e mesmo personagens secundários, como o chefe deles Conrad Howard (Joe Pantoliano) tem mais função aqui do que em Bad Boys II, por exemplo.

    Uma das boas mensagens do filme moram na sabedoria por trás da hora de saber parar, de como a natureza do trabalho do policial pode ser perigosa e de como e quando se deve perceber que o ciclo é finito e que é preciso deixar de lado questões de vaidade, de revanche e quando é o momento de desapego. Para a  dupla de amigos, é um misto de cada uma dessas sensações.

    Os momentos finais são carregados de pieguice, especialmente na questão de legado envolvendo Mike Lowrey. Esse assunto já havia sido levantado no recente Projeto Gemini de Ang Lee, e por mais que Bad Boys: Para Sempre não seja tão equivocado quanto o outro, há problemas sérios, de orçamento e condução do desfecho  no quesito ação, mas assim esse terceiro filme tem mais acertos que o anterior, consegue introduzir bem um novo núcleo de policiais especializados em tecnologia e ação de campo além de desenvolver bem o clima de aventura, fazendo valer o espírito dos personagens pela última vez.

  • Crítica | Bad Boys II

    Crítica | Bad Boys II

    De começo bastante apelativo, Bad Boys II retorna oito anos depois e se inicia com uma sequencia criminal muito elaborada, mostrando traficantes de drogas em Miami com um conjunto de ações submarinas, agindo sobre a maré e com apoio tático de todos os lados. O novo vilão, Johnny Tapia (Jordi Mollà) se assemelha aos vilões genéricos do  programa Miami Vice, mas é ainda mais canastrão e caricato, trata as mulheres mal como bom personagem maniqueísta dos bons exemplares da filmografia de Michael Bay.

    Os Bad Boys jamais foi um filme que tentava reinventar o gênero de ação/aventura, eles se valiam de clichês dos gêneros, unidos a marcas de filmes policiais, munidos de muito humor, e de certa forma, o roteiro de Ron Shelton e Jerry Stahl contempla isso também, mas toda a estética envolvida é evoluída, a linguagem cinematográfica condiz muito com o que se fazia em matéria de ação brucutu e introduz os heróis Marcus Burnett(Martin Lawrence) e Mike Lowry (Will Smith) invadindo uma ação de supremacistas brancos, que pegam emprestados até as indumentárias da Ku Klux Klan.

    Em menos de dez minutos se abrange temática racial, problemas com as drogas e cenas de ação genéricas, com direito a disparo de balas em câmera lenta com conseqüências cômicas. Fora isso, ainda há viagens de ácido mostradas de maneira literal, em boates com muito neon,contemplando as imagens com movimentos de câmera que vem dos pés até a cabeça dos personagens, em uma clara demonstração do cineasta de que ele sabe filmar dessa maneira.

    No meio de toda a bagunça da imbatível dupla há o acréscimo de Syd (Gabrielle Union), irmão de Marcus e que tem um caso secreto com Mike, e também um pedido de transferência de Burnett. Sai a simplicidade do texto anterior para um arremedo de script que junta dezenas de plots e não desenvolve minimamente nenhum, na falta de uma historia coesa ou pretensiosa, Bad Boys II apela para toda sorte de dilema, de situações genéricas e de violência super gratuita. Há semelhanças bizarras com Matrix Reloaded e Mais Velozes e Mais Furiosos, lançados no mesmo 2003, além  de referenciar outras fitas de ação recentes para a época, sendo que nenhuma era boa, e nenhuma é superada por esta.

    A câmera viaja demais pelos cenários, de um modo que quase causa náuseas no espectador. As situações são extremamente genéricas, mesmo que o trabalho da direção de arte tenha cuidado em mostrar detalhes incríveis. Há toda uma sequencia de tiroteio depois dos anti heróis passarem em uma loja de artigos religiosos. A troca de tiros é confusa na maioria das vezes, denegrindo ou dando pouca importância inclusive para a quantidade de entidades religiosas aludidas visualmente, entre santos católicos, orixás e entidades de credos afro-brasileiros.

    É tudo muito confuso e forçado, um exemplo de quão mal pensado é o esquema visto no script é o modo como Marcus se veste. Ele era inseguro no outro filme, mas nesse, é também carente e insuportável, vive utilizando regatas e roupas de esporte, como se precisasse dos torcedores do Miami Heat para transpirar carisma, ele já causava simpatia no espectador, não precisava de nenhuma apelação.

    As minorias GLBT são mostradas de modo muito caricato, forçado e artificial. Quase tudo que funcionava no outro filme é mal replicado aqui, o Capitão Howard de Joe Pantoliano é uma sombra do que era, e o uso de Michael Shannon, como o bandido pé rapado Floyd Poteet não chega nem perto do que era o papel de Michael Imperioli, e claramente ambos fazem a mesma coisa, com algumas diferenças de pano de fundo. Nem a relação familiar dos Burnett segue semelhante. Nem mesmo a pieguice, que antes era charmosa, funciona, aqui é pura gratuidade mesmo.

    A meia hora final é  ainda mais constrangedora, onde se faz piada com necrofilia mais de uma vez, e em uma sequencia tão grande que faz perguntar quando ela acabaria. Os dois protagonistas não conseguem salvar o longa de soar um pastiche do que foi o primeiro, o que é lamentável, dado que havia grandes expectativas sobre os rumos dessa continuação, que já  demonstrava que o cinema de Bay estava desgastado e refém de suas próprias formulas.

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  • Crítica | Os Bad Boys

    Crítica | Os Bad Boys

    Produção de Don Simpson e Jerry Bruckheimer, com direção de Michael Bay, Os Bad Boys é uma comédia de ação policial, protagonizado por Will Smith, recém saído de Um Maluco no Pedaço, e por Martin Lawrence mais conhecido por seus shows de Stand Up Comedy nos idos de 1995, além é claro da série Martin, que protagonizava. O filme brinca com clichês de programas e seriados policiais, munido é claro de uma linguagem mais adulta e sacana, aproveitando o carisma de seus astros.

    O filme se passa em Miami, e em pouco tempo a câmera trata de utilizar o lugar como um dos personagens centrais da trama, com tomadas aéreas que correm o por do sol, mostrando a beleza das cores alaranjadas sobre as praias, baia e prédios. Tudo que envolve a historia prima por um descompromisso com a seriedade, os vilões que são apresentados são caricatos e repletos de clichês, ao mesmo tempo, a ultra violência é bastante utilizada aqui, com assassinatos e tiros ocorrendo já nos primeiros momentos do longa. É como se a obra de Bay fosse uma continuação espiritual dos filmes de ação dos anos 80, como Máquina Mortífera ou Duro de Matar, mas com um estilo bem diferente.

    Marcus Burnett (Lawrence) e Mike Lowrey (Smith) tem vidas bem diferentes, um é casado e outro um bon vivant solteiro e com receio de ter compromisso, possivelmente com diferenças cabais de rotina para compensar o fato de serem dois negros agindo como os tiras clássicos dos filmes de brucutu, como não há a química inter racial.

    Como o roteiro de Michael Barrie, Jim Mulholland e Doug Richardson (com argumento de George Gallo) não é um primor e nem busca reinventar nada, a personalidade dos personagens acaba sendo muito básica, Lowrey lembra muito o Will da série que ainda não havia acabado, principalmente por ser um mulherengo muito charmoso, e Burnett é o típico negro inseguro

    A música é um elemento importante no filme, tanto a trilha composta por Mark Mancina, que dá o tom para as andanças de Mark e Mike, quanto o tema do Inner Circle, que era utilizado como abertura da série COPS, e é cantarolado pelos dois tiras enquanto seguem o rastro dos traficantes de heroína. Não há muita complexidade nos vilões e opositores, eles são basicamente amontoados de clichês e visualmente assustadores, não apresentam muitas camadas, são mafiosos genéricos, assustados e violentos, como era bem típico dos programas como o já citado COPS, Miami Vice etc, e todo esse clima funciona, por causa no espectador uma sensação de familiaridade.

    Os personagens secundário ao menos são repletos de carisma, seja o capitão Howard, de Joe Pantoliano, um sujeito pilhado, engraçado e viciado em basquete, ou a família de Marcus, o porteiro de Milke ou a testemunha de um assassinato, Julie Mott, interpretada por sua vez por Tea Leoni inciante, mas ainda assim muito importante para toda a trama, graças entre outras cisas por sua forte presença. Alem deles, há o borracheiro Jojo, vivido por Michael Imperioli quatro anos antes de Família Soprano.

    Os momentos contem uma série de eventos frenético, e são fortificados pelas muitas explosões, pela edição e claro pelo slow motion. A essa altura estes não eram aspectos que determinavam a marca que Bay imprimiria em seu cinema, então não era uma formula desgastada, e dada toda a cafonice do filme, simplesmente funciona.

    Os Bad Boys é muito fruto do seu tempo, não tenta ser revolucionário, é apenas uma fita divertida, repleta de ação, humor e violência, uma nova versão do que seria o cinema brucutu, para um novo público, mas sem esquecer os fãs do sub gênero, mostrando os vigilantes e defensores da lei como pessoas de moral dúbia, com defeitos, reféns de seus sentimentos egoístas, mostrando dificuldades claras em ceder ou não a vaidade ou a vingança, em uma trama com múltiplas reviravoltas.

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  • Crítica | MIB: Homens de Preto

    Crítica | MIB: Homens de Preto

    O longa de Barry Sonnenfeld começa tímido em sua exploração psicodélica, com imagens de insetos voando pelas estradas americanas, batendo no para-brisas de um carro que carrega imigrantes ilegais. O roteiro engraçadinho de Ed Solomon resumiria em seus minutos iniciais os motes do filme, a questão da vida curta e sofrida dos insetos, a tentativa de entrar ilegalmente em um lugar desejável, e a interferência governamental nisso, tudo ao som da característica trilha de Danny Elfman.

    Produzido por Steven  Spielberg – em uma época em que suas produções tinham mais a ver com sua filmografia como diretor – MIB: Homens de Preto tem sequência com uma ação de Kay, personagem de Tommy Lee Jones neuralizando seu antigo parceiro, além  de um grupo de pessoas. Paralelos a isso, James, o policial do NYPD de Will Smith se mostra atlético, correndo atrás de um alienígena (cefalopóide), à paisana.

    Smith vinha de uma popularidade monstruosa, sua série Um Maluco no Pedaço ainda era largamente reprisada, além de sua participação em Independence Day, outro filme de temática alienígena. Seu personagem seria um candidato perfeito para a vaga da Homens de Preto, embora fosse bem diferente do K dos quadrinhos, e embora também tivesse um perfil diferente de J, seu mentor.

    O filme tem uma historia simples, mas brilha muito ao introduzir seus elementos. O personagem Edgar, vivido por Vincent D’Onofrio é  muito engraçado, sobretudo quando é tomado pela figura insetóide. Ele tem personalidade e conversa muito bem com o montante de figurantes que assassina. Os outros coadjuvantes também são divertidos, Linda Fiorentino faz a legista Laurel Weaver e passa muito mais ao público do que apenas o conceito de colírio aos olhos masculinos, assim como Rip Torn funciona bem como o chefe bufão que Zed é, aliás a escolha por mostrar Zed foi muito acertada, em detrimento do mistério de quem ele é nas HQs de Lowell Cunningham, e isso só funciona bem graças ao fato de Torn cair como uma luva aqui, exalando leveza e carisma.

    Toda a questão do recrutamento de J é muito bem orquestrada, e ela não demora muito a ocorrer. O ritmo do filme tem muitas semelhanças com outra adaptação de quadrinhos dos anos 90, o Maskara, consegue ser direto e sem enrolações, ao contrário dos filmes recentes de Marvel e DC. Pelo vidro dupla face, Kay observa seu pupilo, que é engraçado, espirituoso, inadequado e que arrasta a mesa de centro, interrompendo o silêncio. É por ser diferente que ele é selecionado, é preciso sangue novo e diferenciado.

    Sonnenfeld capta bem o clima da cidade cosmopolita, com muitas imagens panorâmicas de Nova York, é curioso como ele é bem local mesmo em uma historia que abre possibilidades  de muitos universos conviverem ali. O panorama político também é bem inteligente, ter de lidar com incidentes envolvendo membros da nobreza, ou com partos de refugiados é uma boa alternativa, mesmo que tenha um cunho humorístico nessa abordagem. Os bonecos mecatrônicos são excelentes, sobretudo o do bebê lula, assim como as excreções que solta. Há muita textura nas figuras aliens.

    Smith faz muito uso de humor físico, reclama da comida e bebida que recebe, finge rir de piadas mal encaixadas, zoa o físico de outros personagens. Isso faz com que a sua comicidade soe um bocado infantil, o que não é exatamente um equívoco, já que o MIB tenta ser um objeto universal. A melhor das piadas bobas que ele profere certamente são as novas memórias personalizadas que ele passa a dar para os neuralizados. Contra o seu personagem, reza também uma piada sobre tamanho peniano, vista na bronca que J tem com o fato de sua arma ser minúscula, mesmo tem um tiro estrondoso e um coice, a graça obviamente

    É simbólico como entre todos os vilões extra terrestres para os Homens de Preto enfrentar foi escolhido uma barata gigante, que representa um animal pequeno, nojento que causa muito asco nos humanos, um ser rastejante, que na Terra vive em lugares imundos, no lixo, e que reflete essa condição sendo um ser com complexo de inferioridade severo, além do que, mesmo sendo mutilado, ele ainda não está fora de combate, como a maioria dos insetos terráqueos são.

    Legal que, na despedida emocional entre os parceiros, Jay e Kay conseguem dar uma pausa, tomar um banho, para não ocorrer a ultima conversa entre eles sujos dos restos mortais de seu opositor (nem mesmo a personagem de Linda Fiorentino está limpa), e tal “erro” é obviamente bem aceito, uma vez que registra uma sequência bem emotiva, que mesmo apelando um pouco para pieguice, funciona como uma bela despedida, que obviamente seria contrariada pelas continuações, que não funcionam tão bem quanto este, mesmo com o retorno do diretor. Mib – Homens de Preto varia bem entre os gêneros comédia e aventura, transitando bem e brincando com os clichês da ufologia e paranoia com muita leveza e sem levar a humanidade tão a sério.

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  • Crítica | Projeto Gemini

    Crítica | Projeto Gemini

    Projeto Gemini é um projeto de blockbuster que reúne em si muitos projetos que a priori, não tem muito a ver uma com a outra. A primeira delas é a dificuldade pós As Aventuras de Pi que Ang Lee tem em emplacar um filme elogiável, a segunda tem Will Smith como protagonista, vivendo o assassino do governo americano e atirador de elite Henry Brogan (seus últimos produtos também não foram muito bem recebidos) e claro, a nova tecnologia em 3d, que promete entregar cenas de ação mais nítidas.

    No Brasil, infelizmente o filme é exibido em 60 frames por segundo ao invés de 24, como é o usual, mas não consegue corresponder ao que a tecnologia nova pede. Com todos esses fatores, o projeto tenta parecer algo além do cinema de ação e aventura genéricos, mas esbarra em questões básicas. Já na gênese do filme, há uma estranha (e péssima) referencia involuntária. Lee faz as vezes de David Ayer e começa mostrando Smith preparando seu rifle para um tiro a distância como foi em Esquadrão Suicida, mas aqui as intenções são diferentes, Henry diferente de Floyd Lawton é um homem de escrúpulos, só mata bandidos e terroristas e a comando do governo. Mal sabe ele (ainda) que há mais semelhanças com o Pistoleiro do que a premissa prega.

    A culpa do personagem é um bom aspecto, dá a ele humanidade e até um pouco de profundidade, pois mostra ele como um sujeito que tem problemas em aceitar sua condição, pesando é claro as mais de setenta mortes que já cometeu. Evidentemente que há uma conspiração em torno do personagem principal, que passa a ser alvo de perseguição de seus antigos superiores.

    As ideia do roteiro de Billy Ray, Darren Lemke e David Benioff (sim, o mesmo de GOT) são boas, mas a mão pesada do diretor e a quantidade enorme de coincidências e relações artificiais pesam contra o filme. A união dele com Danny Zakarweski, personagem de Mary Elizabeth Winstead não parece realista, tanto na rivalidade quanto na parceria dos dois.  Os demais personagens secundários aparecem e desaparecem com uma conveniência monstruosa, e alem disso, ainda se apela para um clichê que já era batido nos quadrinhos e cinema dos anos 90, e que hoje, é ainda mais obvio e raso, a questão da clonagem.

    A exibição em 60 frames demora a acostumar o olho, mas tirando esse inconveniente, a violência e as sequencias de ação são bem legais. Lee emula bem o estilo de Paul Greengrass e mistura com elementos dos filmes de David Leitch e Chad Stahelski (De Volta ao Jogo, Hobbs e Shaw, Atômica e John Wick 3), ainda que não tenha o mesmo brilhantismo, até porque a maioria das falas são baseadas em frases de efeito, e diferente das fitas de ação da dupla de diretores citadas, esse é um produto audacioso, que mira a alta ficção científica, sem jamais alcançá-la.

    O Gemini que está no título é um grupo paramilitar estranho, comandado pelo vilão que Clive Owen vive, o senhor Clay Varris, e impressionantemente os agentes americanos super bem treinados acham estranho que ele e sua equipe lance mão de clones, mesmo que uma variação da palavra “gêmeo” sempre estivesse na alcunha do grupo, desde os anos noventa. Aliás, o fato dos heróis demoraram a chegar a conclusão de que o homem que os persegue ser de fato clone do personagem principal não faz qualquer sentido, e os faz parecer burros.

    Ao menos, as perseguições de carro são alucinantes, bem construídas e encaixadas. Há também uma preocupação bem moderna, de fazer com que as incursões dos personagens pareçam verossímeis, mas até esses momentos são cortados pela artificialidade que impera em toda historia, com a presença de um boneco digital que não parece nada realista. A tecnologia de rejuvenescimento e de dublê digital é fraquíssima nesses combates, e piora demais no final, quando ocorre o epílogo.

    As ideias que permeiam Projeto Gemini misturam a pretensão de soar tecnologicamente na vanguarda, com a utilização de um tema já bem gasto que é a questão da clonagem, assusta como ainda se aposta nesse filão, assim como também surpreende que o longa tenha tantas semelhanças com Star Wars: Episódio I, A Ameaça Fantasma, no sentido de ser um filme que tenta parecer avançado visual e tecnologicamente e com fragilidades de concepção textual, com a pequena diferença de que Will Smith parece acreditar no filme, enquanto todo o resto da produção só parece querer entregar um produto puramente comercial.

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  • Crítica | Bright

    Crítica | Bright

    bright

    Em um presente alternativo onde humanos e criaturas de fantasia – Orcs, Fadas, Elfos, Centauros, etc. – coexistiram desde o início dos tempos, o oficial Dale Ward (Will Smith) e o orc Nick Jakoby (Joel Edgerton) embarcam em uma noite de patrulha de rotina. Acabam descobrindo um artefato antigo, mas poderoso: uma varinha mágica, que pensava-se que havia sido destruída. E encontram uma escuridão que poderá alterar o futuro e seu mundo tal como o conhecem.

    Com roteiro de Max Landis e direção de David Ayer (Corações de Ferro, Esquadrão Suicida), o filme mostra uma Los Angeles em que humanos e criaturas fantásticas convivem, mas não em harmonia. Os orcs se dividem em guetos e disputam território entre si. Os elfos se acham superiores, frequentando apenas locais privilegiados da cidade. Por conta de um programa de inclusão, Ward é obrigado a trabalhar diariamente com Jakoby, orc que sonhava em ser policial. Usando a ideia clássica de parceiros antagônicos obrigados a conviver, no primeiro terço do filme o roteiro empurra goela abaixo uma série de obviedades e clichês sobre preconceito racial, bullying, violência policial e estratificação da sociedade. Esses assuntos são tratados de forma tão expositiva e didática que faz parecer que nunca tinham sido abordados antes.

    A narrativa não chega a ser chata, mas Ayer erra mais uma vez no ritmo e, principalmente, na ação. Apesar de alguns momentos de tiroteio e perseguições intensas, não há cenas memoráveis. Várias delas bem previsíveis e não provocam qualquer emoção. Não há nada memorável ou marcante. O terceiro ato tenta compensar a falta de ritmo do restante com cenas de ação em excesso, o que acaba sendo cansativo para o espectador.

    O estrelismo de Smith atrapalha, mas não chega a estragar o filme. Edgerton convence bem como orc, auxiliado, obviamente, pela ótima maquiagem. O que realmente importa é que a parceria funciona, a química entre os personagens (e os atores) funciona bem. E por ser tão convincente, faz o espectador se importar e querer saber o desenrolar da história.

    A premissa é bastante interessante, mas a narrativa é um tanto confusa. O roteiro peca pela falta de coerência e de clareza em vários momentos. A história mistura elementos demais sem ter o cuidado de amarrar as pontas soltas. É uma ideia que seria muito bem aproveitada em um formato mais extenso. Comecei a assistir achando que era uma série. E terminei tendo certeza que deveria ser uma série.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Esquadrão Suicida

    Crítica | Esquadrão Suicida

    Esquadrão Suicida

    Criado no fim dos anos 1950, mas só popularizado na saga pós-Crise Lendas, o Esquadrão Suicida era um grupo composto por vilões do segundo escalão, montado por Amanda Waller, uma das mentes que dominavam o cenário escuso do universo DC, responsável entre outras coisas pelo Projeto Cadmus. De fato, a equipe jamais havia sido alvo de uma popularidade indiscutível e funcionava melhor como elemento coadjuvante (como feito na segunda temporada de Arrow) do que como centro das atenções, inclusive com um péssimo evento audiovisual no longa animando Batman: Assalto em Arkham, que trata exatamente dos mesmos protagonistas do filme de David Ayer.

    Há dois pilares de confiança para o filme, o primeiro é o prestígio de Viola Davis interpretando Waller, desde sempre sendo ela a escolha perfeita para o papel. Apesar de ter pouca oportunidade de brilhar – e de conter para si um grande número de equívocos estratégicos – a atriz consegue fugir da mediocridade que permeia o filme. Já o outro parâmetro de qualidade recairia sobre Ayer, que desnecessariamente emula traços do estilo de filmagem de Zack Snyder, uma vez que seus trabalhos são em muito superiores aos do visionário realizador de Watchmen. O slow motion é excessivo e irritante, fazendo o tom bastante genérico.

    Uma das maiores discussões a respeito do filme era em relação a Arlequina de Margot Robbie. Quanto a isto, não há tanta exploração sexual quanto se imaginava antes da exibição, ainda que toda a vigilância não tenha sido em vão por futuras passagens com a personagem. Robbie permanece com muito mais pele à mostra do que deveria, especialmente comparando a versão original da esquizofrênica personagem pensada por Bruce Timm na série animada do Batman, com esta nova faceta pós-novos 52, hiper-sexualizada. Os inúmeros erros de roteiro não mostram uma personagem forte emocionalmente, e sim uma mulher que foi muito abusada e que sofre desse mal o tempo inteiro. Sua performance é a mais rica e profunda do longa e só perde força graças ao preciosismo do Coringa.

    O palhaço e príncipe do crime de Gotham soa patético e faz rir pelos motivos errados, não por possíveis gracejos e sim pela construção extremamente caricata e deslocada que Jared Leto emprega. A culpa pela participação pífia parece dividida entre o texto atrapalhado de Ayer e a necessidade do ator em tentar a todo custo superar seu antecessor, Heath Ledger. Não havia qualquer necessidade para tal, tanto no Batman de 1989 quanto em Cavaleiro das Trevas há boas apresentações do criminoso insano. Ambas conseguem atingir uma boa expectativa quadrinística do Coringa, mas esta não. As cenas com Leto parecem enxertadas às pressas para trazer algum rosto conhecido ao filme, e quase banaliza o pouco de argumento que funciona em relação a Harley.

    A ideia de se fazer um filme de equipe não passa de uma premissa não alcançada. O que se vê é um sub-aproveitamento dos personagens. Rick Flag (Joel Kinnaman) consegue alguns momentos condizentes com a figura de militar inspirador, mas logo perde força ao executar um momento de irreal cafonice, contendo em mãos a chave para convencer o protagonista Pistoleiro/Floyd Lawton (Will Smith) de segui-lo até a morte. Mesmo o sentimentalismo barato – marca registrada de Smith em muitos de seus filmes – neste soa desimportante.

    Mesmo as piadas que funcionam no material promocional ficam mal encaixadas, soam fracas e sem peso, jogadas em uma edição confusa, que por sua vez provém de um texto final nada sólido. Alguns poucos momentos de ação são salvos pela competente mão de Ayer, mas ainda assim é pouco, muito pouco. Falta lógica na maioria das táticas de guerra, e isso faz toda a diferença para a suspensão de descrença de um público ávido por uma abordagem mais certeira da Warner e DC no cinema.

    O resultado final carece de um bom vilão. E, fora Harley, os personagens femininos são fracos. Katana aparenta ser um cosplay, dada que sua motivação é tão ruim quanto a da Magia de Cara Delevingne, que faz uma vergonha tremenda nos instantes finais. Sua apresentação rivaliza com a do Crocodilo em matéria de caricatura, e é péssima em caráter de pieguice, acompanhada, claro, do restante do elenco nesse quesito. Esquadrão Suicida é aprisionado no limiar entre um filme de ação genérico dos anos 1980, um produto trash da Asylum, transitando entre Falcão, o Campeão dos Campeões e Sharknado, ainda que não haja, nem em seu orçamento quanto mais em expectativa, qualquer semelhança com quaisquer dos dois gêneros ou os dois exemplos citados.

  • Crítica | Um Homem Entre Gigantes

    Crítica | Um Homem Entre Gigantes

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    Um Homem Entre GigantesConcussion em inglês, em uma das raras vezes onde a inventiva tradução do título no Brasil acerta — conta a história do genial neuropatologista forense nigeriano Dr. Bennet Ifeakandu Omalu e o dia em que se deparou com uma morte misteriosa e sem muitas explicações, e viu se imbuído do espírito científico da ética na busca pela verdade e compreensão. Trata-se da morte de um famoso jogador de futebol americano pelo Pittsburgh Steelers Mike Webster, morto em 2002 devido a um ataque cardíaco e sofrendo sintomas de depressão, esquizofrenia e Alzheimer, apesar de tomografias não apresentarem nenhum indícios de tais transtornos, e rejeitado pela família, incapaz de lidar com a dificuldade de ter um homem de quase 2 metros e mais de 100 kg sem controle de si.

    Morta no plantão de Dr. Omalu, as características da vítima lhe chamaram atenção, e desta forma decidiu bancar do próprio bolso exames do cérebro do astro, chegando a conclusão, a partir de insights sobre casos de doenças semelhantes no boxe, de que as repetidas pancadas na cabeça chacoalhando o cérebro geram traumas internos que liberam proteínas tóxicas no cérebro capazes de deteriorarem-no de dentro para fora, fazendo com que a mente da pessoa definhe. Apesar das represálias e falta de entendimento do corpo médico da cidade, Dr Omalu submeteu os resultados a revistas científicas e batizou sua descoberta de ETC, ou Encefalopatia Traumática Crônica, transtorno que levou à morte de outros grandes astros do esporte, muitos deles por suicídio devido a confusão mental. Estima-se que um jogador de futebol americano da defesa leve cerca de 70 mil pancadas na cabeça ao longo dos anos com uma intensidade duas vezes maior do que o suficiente para que uma pessoa sofra uma concussão. É um trauma físico análogo a ser submetido a 25 mil batidas de carro ao longo da vida, de acordo com resultados publicados pela Universidade de Oklahoma.

    Dr. Omalu formou-se em medicina na Nigéria, epidemiologia na Universidade de Washington, uma série de mestrados em saúde e MBA’s e hoje é professor na Universidade da Califórnia. Mas Dr Omalu é um homem excêntrico. Extremamente sério, comedido e educado, falava com seus pacientes por tratá-los com o respeito devido e por sua formação católica.

    Uma preocupação central no filme era com a acurácia científica e histórica do caso, apelando para ferramentas narrativas fictícias em casos bem específicos, como o colega de trabalho Dr. Omalu, inserido na trama para representar as vozes da cidade que se opuseram à autópsia do astro Mike Webster. Devido a essas vozes e a falta de orçamento, Dr. Omalu teve de pagar os exames, que geraram os resultados da autópsia de seu paciente zero, valor que chegou alcançar os U$ 100 mil. A NFL tentou descriminá-lo e descredenciar sua formação e resultados em razão do impacto que isso poderia provocar no esporte.

    Will Smith entrega-se ao papel com grande propriedade — já tirando o elefante da sala, sim, ele merecia sua indicação no Oscar de 2016—, inserindo um olhar gentil, mas levemente oprimido pelo gigantismo do que o cerca, trazendo um sotaque bem ensaiado e que demonstra a óbvia convivência com o verdadeiro Dr. Omalu, embora todo o poder de sua interpretação não entre em ressonância com seu porte físico. Sua interpretação vai crescendo conforme se opõe à ignorância e se estabelece como alguém que merece o devido respeito por tudo que é, sem se abalar com a insistência das pessoas de não o reconhecerem como médico. O papel também foi aparentemente o responsável por conectar Will Smith com suas raízes africanas e ver a dificuldade que as pessoas de sua etnia enfrentam no dia a dia para conseguir demonstrar-se capazes, apesar de sua origem. Sua tristeza vem da incompreensão da inversão de importância das coisas e sentimento de engano quanto ao sonho americano.

    Não é filme sobre o futebol, embora faça um meio-campo evitando colocar o amado esporte como vilão, mas é basicamente um filme sobre força. Ao iniciar o filme com um belo discurso de Mike Webster, o diretor Peter Landesman demonstra reconhecer o domínio transformador e motivador do esporte, bem como sua beleza. Mas através da narrativa trata de demonstrar um outro poder que contrasta com o apresentado em campo e que não vem da luta corporal. O poder em questão é da busca do entendimento da realidade e a verdade. Dissolver os problemas, dirimir as dificuldades, compreender os processos e apresentar ao mundo por que este é o dever de quem pode fazê-lo e o direito de quem não sofre por não saber. O poder da ciência contra a ignorância dos negócios é sempre exaltado de forma apaixonada, principalmente em comparações entre os desmandes da NFL (Liga Nacional de Futebol Americano) com as atitudes da indústria do cigarro durante épocas anteriores.

    As grandes dificuldades do filme, no entanto, surgem na direção, fotografia e edição. A primeira não foi capaz de livrar-se de diálogos excessivamente expositivos para descrever o que os grandes atores em cena poderiam realizar muito bem, e nem sente vergonha de repeti-los, imaginando, talvez, que o assunto seja muito complexo. Em conjunto com a edição, não há esmero em dar algum tom ou ritmo em cenas mais intimistas, forçando cortes desnecessários e close-ups que só servem para oprimir e não aproximar. Nas transições de cena, principalmente naquelas que visam mostrar eventos simultâneos, não é claro que são acontecimentos ligados de alguma forma e deixam as cenas mais truncadas do que deveria. E se há um outro pecado é o fato de a cinematografia ser óbvia, e não se esmerar em criar quadros interessantes para a narrativa ou até mesmo bonitos. Por fim, Um Homem Entre Gigantes traz certa estranheza aos mais conhecedores do mundo do cinema ao trazer atores conhecidos em papéis que mal têm uma fala completa, deixando um suspense improdutivo sobre os atos daqueles personagens, sendo que na verdade estão apenas fazendo uma figuração de luxo mesmo.

    É com certeza um filme necessário, tanto pela sua história quanto como mensagem de empoderamento do povo negro e do racionalismo no combate do poder irracional e pragmático das máquinas financeiras, algo necessário em tempos onde mineradoras e indústrias petrolíferas têm voz na negação de seus impactos. Todo esse conteúdo é capaz de fazer relevar com facilidade as duas horas de filme e revigorar a fé na verdade.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Crítica | Golpe Duplo

    Crítica | Golpe Duplo

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    No início de 2000, roubos e assaltos com temática cinematográfica voltaram à tona e se tornaram uma vertente popular. Diversos filmes, sendo o remake Onze Homens e Um Segredo o mais significativos destes, pontuaram as telas com ladrões charmosos, grandes feitos glamourosos e reviravoltas como uma constante em suas histórias.

    Vindo de um fracasso de bilheteria dirigido por M. Night Shyamalan, Depois da Terra, o carismático Will Smith retorna às telas ao lado de Margot Robbie (O Lobo de Wall Street) formando uma dupla de golpistas nesta produção que segue a fórmula do roubo de maneira genérica. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, o filme estreou em primeiro lugar na bilheteria, demonstrando que, apesar do enredo simples, a popularidade de Smith é capaz de garantir uma base de público nos cinemas.

    A dinamicidade didática de Golpe Duplo se apresenta desde o título brasileiro. A trama é dividida em dois atos passados entre um período de três anos, justificando, portanto, os dois golpes citados, e nos dando a impressão de que a fraqueza da história inicial promove uma segunda de maior impacto.

    De maneira rápida, o golpista Nicky conhece Jess e descobre sua habilidade em roubar. As cenas partem do pressuposto de que o personagem é um especialista no que faz, e não só demonstra superioridade de furtos em relação à moça como faz um jogo cênico apresentando tudo que é capaz de roubar. Em seguida, faz uma rápida introdução à técnica do crime para Jess – arte que o próprio disse denotar tempo para aprender – com pseudo-conceitos teóricos sobre distração, teatralidade e outras maneiras de conquistar pessoas, logo aceitando-a no bando.

    Como ladrão charmoso, a personagem vive de pequenos roubos e esquemas locais que exploram uma cidade de grande rotação turística, dentro de um sistema de furtos generalizados entre cartões, dinheiro, joias, roupas e tudo o que pode ser furtado e revendido por uma grande equipe de especialistas. As apostas estão no sangue de Nicky, assim cenas frívolas, como a do apostador viciado que não resiste à tentação, surgem como um conflito para uma trama que não possui nenhum.

    O primeiro ato da trama encerra em uma hora e salta temporalmente para três anos depois. Surge um novo golpe que, coincidentemente, reúne o mesmo casal, separado após o último. Em cena, entra Rodrigo Santoro como Garriga, dono de uma equipe de carros de corrida na Argentina. O destaque da imprensa brasileira é feito em demasia: Santoro destaca os cartazes brasileiro, e, de fato, é louvável que o ator prossiga na carreira internacional. Porém, seu papel ainda se mantém próximo do estereótipo, o de um latino-americano representando um hermano argentino.

    A obra é voltada para o entretenimento rápido. Sem profundidade de nenhuma personagem, o enfoque está centrado nos roubos, no glamour que o cinema produziu dos furtos, e nas naturais reviravoltas que parecem surgir para subjugar o público, como se dissessem: sim, nosso roteiro é superficial mas será capaz de te surpreender.

    Durante a exibição, o público pode ser divertir. Mas desde já é possível observar que Golpe Duplo não será o grande redentor de Smith que, há dez anos, começava uma excelente fase com Eu, Robô, Hitch – Conselheiro Amoroso, À Procura da Felicidade e Eu Sou a Lenda, filmes que fundamentaram ainda mais sua credibilidade, o que justifica a boa bilheteria de sua mais recente aparição.

  • Crítica | Um Conto do Destino

    Crítica | Um Conto do Destino

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    Nova Iorque, 1895. Nesta época e local ambienta-se a história rememorada pela narradora, que a inicia com uma releitura do mito de Moisés, usando a cidade americana como o oásis da perfeição, o lugar onde o rebento do casal de protagonistas poderia viver a despeito de tudo: da deportação de seus pais imigrantes (motivada pela tuberculose) e da irrealidade dos fatos e acasos, que influi diretamente no destino da criança, solta em alto mar e sobrevivendo à tragédia. Há um tanto de fantasia em Um Conto do Destino, de Akiva Goldsman.

    As salas palaciais, grandiosas e suntuosas guardam espaço espiritual para que a luz mágica atravesse-as e faça delas cenários semelhantes aos dos clássicos da Disney. Até os personagens são simples, mas não necessariamente vazios, lembrando os arquétipos presentes nos contos infantis. A fotografia de Gary Capo — acostumado a filmes grandiosos, como O Último Samurai, Missão: Impossível 2, Além da Linha Vermelha  flagra ainda mais o caráter de conto de fadas da história amplificado pelos cenários da neve, com cores frias, em contraste com os corpos dos personagens, de cores quentes. A direção de arte de Peter Rogness também é competentíssima, sua experiência em dramas que equilibram emoção e beleza exuberante (Tão Forte e Tão Perto) certamente pesaram na escolha deste para trabalhar no filme.

    Peter Lake (Colin Farrell) é o filho da promessa, mas, por ser descapitalizado, tem de roubar para conseguir seu sustento. No entanto, ele em momento algum é retratado com a máscara da vilania, pelo contrário, salienta-se sua necessidade de fazer os crimes ao mostrar a miséria que vivencia e os milagres que o mantiveram vivo. A honra do personagem é tamanha que um alazão branco de capacidades homéricas aceita ajudá-lo em sua jornada — argumento semelhante aos presentes que Perseu recebeu de Atena —, referência  que se torna óbvia no decorrer da película. Russel Crowe faz o maligno “deformado” Pearly Soames, o vilão de intenções escusas que busca a morte do injustiçado herói, guardando um poder enorme e uma fúria sanguinária, a qual nem sempre é vista em histórias de princesas. A mocinha é Beverley Penn, feita pela bela ruiva Jessica Brown Findlay (de Downton Abbey), que não parece ter ligação com a nobreza mas cujos desejos e desígnios são ligados à honra e dedicação ao sonho, ao infinito e a um mundo ideal. Mesmo que, a priori, o repertório visual e o roteiro lembrem uma história infantil, a trama não poderia ser mais voltada para o público juvenil e adulto, não por tratar temas espinhosos, mas sim por subverter os clichês de fairy tales e associá-los a questões mundanas, como a guerra de classes.

    No pôster do filme, em tradução livre, diz-se que “esta não é uma história de verdade, esta é uma história de um amor de verdade“, como se em nome de mostrar tal sentimento ganhando a vida todo o restante fosse perdoado, até  mesmo a filmagem do impossível e a transposição do realismo, pois a poesia do amor é maior que a frágil barreira da verossimilhança. A realidade pode ser enfadonha e desinteressante quando comparada ao incomensurável tamanho do apego ligado ao sentimento eterno. Os exageros dramáticos do casting não são capazes de destoar do espírito da obra, nem mesmo o over-acting de Will Smith que faz o aprisionado Lúcifer, o qual, demonstrando que o mal é reduzido ao menor denominador comum, é levado à fácil associação ao mito maniqueísta cristão.

    O desenvolvimento da narrativa é tão articulado aos conceitos básicos da moral contidos nos contos de fadas que seu cunho moralista faz a mocinha sucumbir após entregar-se de corpo inteiro ao amor de sua vida, ato de consequências definitivas. A época pedia um findar trágico que abalou a percepção de Peter Lake sobre a vida, jogando-o num limbo desmemoriado e fazendo de sua imortalidade uma vivência de sofrimento na busca de uma musa que não mais existe.

    A trama é levada à contemporaneidade, e a magia do não envelhecimento de Lake só é questionada por uma das filhas dos novos tempos, Virginia — feita por Jennifer Connelly, estonteante como sempre —, a qual não compreende toda a consentaneidade que acometeu a época do início da película, não sabendo como as coisas eram mais simples e menos “discutíveis”. A modernidade destruiu um pouco a percepção do que é possível e do que não é, da possibilidade de milagres acontecerem, mas o encontro entre Lake e ela é o primeiro indício de que tal máxima pode mudar. A tangível condição médica de Abby (Ripley Sobo), a pequena menina cancerosa, também ajuda a derribar a fé de Virginia, mas é este o gatilho que faz Peter Lake retornar às suas atividades como o herói da jornada, levando-o, inclusive, a reencontrar os seus antigos aliados mesmo na urbana Nova Iorque.

    A cavalaria de Soames mudou: ele está fortemente armado e paramentado com as tecnologias contemporâneas, e sua obsessão como guardião de limiar, por fazer o destino do herói encantado algo trágico, prossegue. Em determinado momento, parece que o intuito do mal ganharia mais uma vez a batalha, ampliando a aflição e a dor do mágico protagonista, mas, como na maioria dos contos que inspiraram Um Conto do Destino, o final reúne uma mensagem edificante, igualitária e otimista, de amor correspondido e de encontro dos amantes.

    A estreia de Akiva Goldsman no cinema é emotiva, mas equilibrada, não caindo no pecado do pieguismo e evidenciando uma história que contém muito das suas influências, enquanto artista, de forma reverencial e enxuta.

  • Crítica | Depois da Terra

    Crítica | Depois da Terra

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    Muitos anos depois de os humanos serem responsáveis por uma catástrofe de proporções suficientes para destruir as condições de sobrevida na Terra, obrigando-os a se retirar do planeta, a humanidade encontra-se estabelecida em Nova Prime. Cypher Raige (Will Smith), general lendário que foi peça importante na colonização do novo planeta, garante à sua esposa, Faia (Sophie Okonedo), que após mais uma missão irá se aposentar. Na tentativa de aproximar-se do filho de 13 anos, Kitai (Jaden Smith), leva-o junto na viagem. Ao ser atingida por uma tempestade de asteroides, a nave em que estão realiza um pouso forçado – ou, melhor, cai – num planeta perigoso que, por acaso, é a Terra.

    Aliás, acasos, ou pré-condições para a trama se desenrolar, não faltam. Vejamos. Por acaso, pai e filho são os únicos sobreviventes humanos. Por acaso, o dispositivo para acionar o resgate está destruído. Por acaso, existe outro, mas está na traseira da espaçonave que, por acaso, caiu a 100 km de distância. Por acaso, Cypher fraturou ambas as pernas na queda e não tem condições de acompanhar o filho na busca. E, por acaso, um monstro predador de humanos, um(a) Ursa, que estava sendo transportado na nave, conseguiu sobreviver à queda. E, também por acaso, Cypher foi um dos primeiros a dominar a técnica necessária para derrotá-los.

    E com essa introdução, não é muito difícil antever o que se segue. Aliás, o roteiro não decepciona nesse quesito, pois é totalmente previsível. Não há qualquer surpresa, ou reviravolta súbita durante todo o filme. Não há ousadia alguma. Os clichês se acumulam – o filho que tenta impressionar o pai, o pai que o julga culpado pela morte da irmã, a necessidade de interação, o confronto, e por aí vai. Há até uma frase de efeito – “Danger is real, fear is a choice”, dita por Cypher – que tenta sem sucesso transformar a corrida contra o tempo de Kitai numa espécie de jornada espiritual ou num ritual de passagem. Certamente, por esses motivos (e mais alguns), apesar de se desenrolar em pouco mais de uma hora e meia de filme, a trama dê a impressão de se arrastar por infindáveis minutos.

    Quanto aos absurdos, há vários, mas dois especificamente abusam da suspensão de descrença e fazem o espectador comentar irritado: “Isto não faz o menor sentido!”. Um deles refere-se a uma auto-cirurgia que Cypher faz em uma das pernas para reverter um problema circulatório devido à fratura. E outro é digno de um filme Disney, quando Kitai consegue um amigo/protetor improvável, durante a sua jornada. Se o espectador ainda estiver tentando levar a estória a sério, esses dois momentos se encarregam de fazê-lo desistir.

    Num filme em que o desenvolvimento da estória se apoia em apenas dois personagens, espera-se que ao menos as atuações sejam memoráveis. Contudo isso não ocorre. Will Smith passa praticamente todo o tempo tentando assumir um ar autoritário e arrogante, mas consegue apenas fazer cara de quem comeu e não gostou. Enquanto que Jaden Smith não vai muito além, e passa a maior parte do tempo com cara de cachorro perdido, se lamentando.

    Enfim, se o espectador abstrair a enorme quantidade de acasos e relevar os absurdos, o filme consegue cumprir a função de entreter. Mas apenas isso. M. Night Shyamalan, mais uma vez, decepciona.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Homens de Preto 3

    Crítica | Homens de Preto 3

    Após um hiato de 10 anos a série Homens de Preto retorna aos cinemas, agora com uma trama envolvendo viagens no tempo. O tema apesar de já estar batido até que foi bem utilizado nesse filme, mas gostaria de levantar somente um aspecto que eu acho essencial nesse tipo de filme.

    Quando falamos de filmes como MIB a única coisa que prezo é o fator diversão, se de fato aquele dinheiro que gastei no ingresso valeu a pena, se o filme realmente me divertiu. Assim como o primeiro filme saí do cinema satisfeito, me apresentaram um roteiro simples e sem muitas complicações. O agente J. (WIll Smith) perde seu parceiro K. (Tommy Lee Jones) após um prisioneiro chamado “Boris, o animal”  (que perdeu seu braço após um confronto com k, gerando assim aquele sentimento gostoso de vingança) fugir de uma prisão de máxima segurança na Lua. Boris consegue voltar no tempo e mata K, a morte muda toda continuidade no tempo-espaço fazendo com que só J. se lembre do seu parceiro como ele era. Após isso J. tem que voltar no tempo para salvar a vida de K. (agora interpretado por Josh Brolin) e também o destino da terra que está sendo ameaçada por uma invasão de alienígenas da mesma raça de Boris.

    A premissa deixa na cara que o filme não veio pra revolucionar nada ou qualquer coisa do tipo, é simplesmente um filme para você ver e relaxar. O roteiro se desenvolve com J, tentando se relacionar melhor com seu parceiro, que no seu presente era totalmente rude e sem nenhuma expressão emocional. Acaba que o K. do passado é um cara muito extrovertido e até mesmo brincalhão, solidificando assim a relação entre os dois.

    O roteiro não explora muito os outros personagens, e nem precisa. Você tem aquele plot principal que vai se desenrolando até chegar em seu desfecho, é uma história totalmente linear. Mas como disse ela não precisa de grandes reviravoltas (apesar de ter uma bem legal no final) desde que prenda sua atenção do início ao fim.

    No primeiro MIB eu achei muito maneiro a ideia inicial de que existia uma agência que mediava conflitos extraterrestres e regulava a entrada de qualquer ser aqui na terra. Inclusive um dos grandes baratos do filme é a aparição de celebridades meio “anormais” na tela de comunicação de alienígenas infiltrados na terra, que nesse filme tem uma participação hilária, mas tem que prestar muita atenção pra notar.

    Enfim, como disse antes, é um filme divertido. Com todo esse clichê de viagem no tempo o filme mesmo assim consegue se sustentar. E no final temos a explicação do porquê de K. ser tão rude na timeline inicial, e algumas coisas que não falarei porque seriam claramente um belo de um spoiler.

    Texto de autoria de Raphael Wisnesky.