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  • Crítica | Bad Boys II

    Crítica | Bad Boys II

    De começo bastante apelativo, Bad Boys II retorna oito anos depois e se inicia com uma sequencia criminal muito elaborada, mostrando traficantes de drogas em Miami com um conjunto de ações submarinas, agindo sobre a maré e com apoio tático de todos os lados. O novo vilão, Johnny Tapia (Jordi Mollà) se assemelha aos vilões genéricos do  programa Miami Vice, mas é ainda mais canastrão e caricato, trata as mulheres mal como bom personagem maniqueísta dos bons exemplares da filmografia de Michael Bay.

    Os Bad Boys jamais foi um filme que tentava reinventar o gênero de ação/aventura, eles se valiam de clichês dos gêneros, unidos a marcas de filmes policiais, munidos de muito humor, e de certa forma, o roteiro de Ron Shelton e Jerry Stahl contempla isso também, mas toda a estética envolvida é evoluída, a linguagem cinematográfica condiz muito com o que se fazia em matéria de ação brucutu e introduz os heróis Marcus Burnett(Martin Lawrence) e Mike Lowry (Will Smith) invadindo uma ação de supremacistas brancos, que pegam emprestados até as indumentárias da Ku Klux Klan.

    Em menos de dez minutos se abrange temática racial, problemas com as drogas e cenas de ação genéricas, com direito a disparo de balas em câmera lenta com conseqüências cômicas. Fora isso, ainda há viagens de ácido mostradas de maneira literal, em boates com muito neon,contemplando as imagens com movimentos de câmera que vem dos pés até a cabeça dos personagens, em uma clara demonstração do cineasta de que ele sabe filmar dessa maneira.

    No meio de toda a bagunça da imbatível dupla há o acréscimo de Syd (Gabrielle Union), irmão de Marcus e que tem um caso secreto com Mike, e também um pedido de transferência de Burnett. Sai a simplicidade do texto anterior para um arremedo de script que junta dezenas de plots e não desenvolve minimamente nenhum, na falta de uma historia coesa ou pretensiosa, Bad Boys II apela para toda sorte de dilema, de situações genéricas e de violência super gratuita. Há semelhanças bizarras com Matrix Reloaded e Mais Velozes e Mais Furiosos, lançados no mesmo 2003, além  de referenciar outras fitas de ação recentes para a época, sendo que nenhuma era boa, e nenhuma é superada por esta.

    A câmera viaja demais pelos cenários, de um modo que quase causa náuseas no espectador. As situações são extremamente genéricas, mesmo que o trabalho da direção de arte tenha cuidado em mostrar detalhes incríveis. Há toda uma sequencia de tiroteio depois dos anti heróis passarem em uma loja de artigos religiosos. A troca de tiros é confusa na maioria das vezes, denegrindo ou dando pouca importância inclusive para a quantidade de entidades religiosas aludidas visualmente, entre santos católicos, orixás e entidades de credos afro-brasileiros.

    É tudo muito confuso e forçado, um exemplo de quão mal pensado é o esquema visto no script é o modo como Marcus se veste. Ele era inseguro no outro filme, mas nesse, é também carente e insuportável, vive utilizando regatas e roupas de esporte, como se precisasse dos torcedores do Miami Heat para transpirar carisma, ele já causava simpatia no espectador, não precisava de nenhuma apelação.

    As minorias GLBT são mostradas de modo muito caricato, forçado e artificial. Quase tudo que funcionava no outro filme é mal replicado aqui, o Capitão Howard de Joe Pantoliano é uma sombra do que era, e o uso de Michael Shannon, como o bandido pé rapado Floyd Poteet não chega nem perto do que era o papel de Michael Imperioli, e claramente ambos fazem a mesma coisa, com algumas diferenças de pano de fundo. Nem a relação familiar dos Burnett segue semelhante. Nem mesmo a pieguice, que antes era charmosa, funciona, aqui é pura gratuidade mesmo.

    A meia hora final é  ainda mais constrangedora, onde se faz piada com necrofilia mais de uma vez, e em uma sequencia tão grande que faz perguntar quando ela acabaria. Os dois protagonistas não conseguem salvar o longa de soar um pastiche do que foi o primeiro, o que é lamentável, dado que havia grandes expectativas sobre os rumos dessa continuação, que já  demonstrava que o cinema de Bay estava desgastado e refém de suas próprias formulas.

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  • Crítica | Blue Chips

    Crítica | Blue Chips

    William Friedkin é um diretor diferenciado, capaz de trazer a luz obras como O Exorcista, Parceiros da Noite e Operação França, e em 1994, ele deu a luz a Blue Chips, uma historia sobre o esporte, que começa com um rompante de raiva e loucura do técnico Pete Bell (Nick Nolte), discutindo com os atletas universitários do time da Western University Dolphins. Ele entra no vestiário, começa a gritar, praguejar, agir como um louco, depois sai, deixa todos desesperados, ai volta mais calmo, logo, perde a razão de novo e sai, para fazer esse processo novamente.

    O filme registra magistralmente o clima dos campeonatos universitários de basquete, mostrando não só a adrenalina e loucura do jogo, como também o entorno, a atmosfera e todas as pessoas que são envolvidas pela paixão nacional que o basquete ocasiona. Outro aspecto curioso são os motivos em azul e amarelo, as cores do time de Bell, que estão nas  fontes dos créditos e demais letreiros dentro do filme e até no material de divulgação. Durante as cenas mais bonitas, Friedkin faz as duas cores predominarem, obviamente, seja pelos jogos em casa ou pela manifestação das torcidas.

    O roteiro de Ron Shelton (o mesmo que conduziu pouco tempo antes Brancos Não Sabem Enterrar) mostra um homem obcecado  desesperado, que não tem qualquer estabilidade financeira e mental, que não consegue sequer manter-se calma a beira de quadra, e não consegue manter seu casamento vivo. Quando ele retorna do jogo, tenta dormir na casa de sua ex-esposa, Jenny (Mary McDonnell), que prontamente o coloca para fora e relembra o quanto ele é insuportável na convivência comum.

    Ao perceber que seu time era muito ruim, Pete resolve apelar e fazer uma prática contra as regras, contratando jogadores que seriam pagos por fora para atuar em seu time como se estudassem em sua escola, ele então passeia pelo país, em paisagens diferentes e interioranas e traz três, Neon Boudeaux (Shaquille O’Neal), Butch McRae (Anfernee ‘Penny’ Hardaway) e Ricky Roe (Matt Nover), os três seriam o diferencial no time perdedor, a promessa de algo mais dentro da mediocridade dos campeonatos.

    O curioso realmente é onde eles encontra os moços, com um ele simula o jogo na sala de estar com as irmãs deles (duas crianças), a mãe e a avó, no caso do terceiro ele vai até a fazendo, e com o personagem de Shaq, ele vai a uma quadra clandestina, ver ele jogando, e percebe no gigante de 2,16 metros a possibilidade de um pivô infalível, mesmo que ele seja burro e praticamente analfabeto. Friedkin quis colocar atletas de verdade pois ao ver atores fazendo jogadores novatos, não se convencia de seus movimentos, e é curioso, pois Shaq estava em começo de carreira, foi draftado em 1993 (o filme é de 94) junto a Hardaway, que foi para o Orlando Magics – Shaq foi para o Magics e Hardaway para o Golden State Warriors, depois o time foi convencido pelo gigante a trocar com o GS. Essa escolha ocorreu enquanto eles filmavam Blue Chips, e a dupla teve o feito de eliminar o Chicago Bulls de Michael Jordan, na temporada 94-95, pouco após o filme ser lançado. Já Nover se tornou jogador e jogou um bom tempo na Europa, entre Itália, Espanha, Portugal etc, e também na Austrália.

    Não há o que reclamar da atuação ou da entrega de Nolte, ele faz um treinador dedicado, parece realmente ter noções táticas e dos fundamentos básicos do basquete. Ele se preparou para o papel acompanhando o técnico Bobby Knight durante a temporada de 92 em Indiana e absorveu bem o espírito, tudo isso para traduzir bem como teria sido parte da personalidade de Tates Locke, o treinador da Clemson Univerty de 70 a 75 – Locke também foi para NBA, no Buffalo Braves num período curto entre 76-77. A virada que ele tem que fazer, ao aceitar finalmente pagar os jogadores por fora mostra um homem com espírito quebrado, mas que já havia ido longe demais para voltar atrás.

    A trilha sonora, repleta de sucessos de Rock internacional embala boa parte das curvas dramáticas pelas quais passam Bell, e apesar de Blue Chips conter um caráter bem moralista, e isso não é à toa, pois para  muitos estadunidenses, o basquete é o mais manipulável dos esportes populares, seja no caso de apostas (jogadores são proibidos de praticar apostas, por exemplo) e também no caso de manipulação de resultados ou de uso de drogas.

    Friedkin acerta demais na composição de personagem do treinador que Nick Nolte vive, um homem nervoso, irascível, que briga muito pelo que acredita  e que é sobretudo apaixonado demais pelo esporte, não conseguindo fugir disto sequer quando se auto denuncia, e essa essência e beleza de caráter é muito bem exemplificada no filme, que além de toda essa discussão ética, ainda mostra um jogo de basquete muito bem feito e verossímil, com méritos totais ao seu realizador.

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