Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (Twitter | Instagram), Filipe Pereira (Twitter | Instagram), Bernardo Mazzei (Twitter | Instagram) e Jackson Good (Twitter) se reúnem para comentar sobre as últimas notícias envolvendo o universo cinemático da DC, desde o malfadado Snyderverso ao futuro imprevisível envolvendo James Gunn e Peter Safran.
Duração: 65 min.
Edição: Flávio Vieira Trilha Sonora: Flávio Vieira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
O Pacificador é um personagem da DC Comics, que ganhou notoriedade após o filme O Esquadrão Suicida de James Gunn. O personagem foi criado por Joe Gill e Pat Boyette, na editora Charlton Comics, em novembro de 1966, na revista Fightin’ 5 #40.
Seu alter-ego, é Christopher Smith, e ele quase fez parte da graphic novelWatchmen, na época em que Alan Moore ainda desejava usar os personagens da Charlton para contar sua história. Com a decisão da DC em preserva-los, seu papel coube ao Comediante, que era consideravelmente mais cínico que Smith, e teve uma boa recepção, não à toa que boa parte da personalidade dele hoje advém do personagem criado por Moore.
Inicialmente, o Pacificador mantinha um código ético inabalável que usava armas estritamente não letais, embora com o tempo tenha se tornado um vigilante mais violento, disposto a fazer sacrifícios pelo bem maior, fato mostrado no longa de Gunn e aprofundado em sua série. Com o tempo, passou a agir tal qual em sua versão live action, como um homem perturbado, com graves questões mentais — isso pode ser observado na minissérie em 4 edições Peacemaker, escrita por Paul Kupperberg e desenhada por Tod Smith, lançada em 1988 nos EUA e 1991 no Brasil em DC Especial #06, publicada pela Editora Abril. Essa versão pós-Crise nas Infinitas Terras remodela o personagem após ser reintroduzido no universo DC, com uma conotação política e psicológica maior, tendo em vista que o personagem acredita que sua mente foi distorcida por seu pai abusivo e nazista quando ainda era jovem, e assim, muitas vezes ele é retratado ora como um herói, ora vilão… ou algo no limiar entre essas duas coisas.
Com a compra Charlton pela DC nos anos oitenta, o Pacificador passa a figurar junto a outros personagens, mas continua ao lado de seus antigos parceiros, como Questão, Besouro Azul e Capitão Átomo — substituídos em Watchmen, respectivamente, por Rorschach, Coruja e Dr. Manhattan.
Seus poderes e habilidades incluem uma condição e resistência física sobre-humana, tecnologia de voo, um capacete de comunicação high tech que confere habilidades — e variam conforme o gosto do roteirista. Além disso, é especializado em combate corporal, espionagem, tática e estratégia, além de possuir acesso a armas militares avançadas e ser um exímio atirador.
Chris Smith era filho de um agente nazista que trabalhou nos campos de concentração durante a ocupação da Polônia pelo III Reich. No seriado a produção fez algumas mudanças, para começar ele está vivo e se chama Auggie Smith, interpretado por Robert Patrick, famoso por ser o T-1000 em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final. Patrick é bastante conhecido nos EUA por seu alinhamento político junto à extrema-direita. Na série, ele recebeu a alcunha de O Dragão Branco, personagem da DC conhecido por ser um terrorista e supremacista branco.
Gunn optou por uma amálgama. O Dragão Branco nos gibis era William James Heller, sujeito criado por seu avô nazista, depois se tornou um ativista da supremacia ariana, assumiu a alcunha de William Hell, e após brigar com um personagem homônimo, decidiu mudar seu nome, e começou a usar uma armadura vermelha e branca, inspirada nas roupas da Klu Klux Klan, grupo historicamente racista e fascista.
O Dragão Branco fez parte de alguns grupos de vilões, entre eles o ajuntamento de bandidos nazistas, IV Reich –
membros como Baronesa Blitzkrieg, Barão Gestapo e Capitão Suástica — e depois no Esquadrão Suicida, onde foi controlado por Amanda Waller e até tentou matá-la. Além de Heller, Daniel Ducannon, vilão do Gavião Negro também utilizou esse nome, mas ao contrário do original, ele tinha poderes pirotécnicos e voava.
O grupo IV Reich
O primeiro Pacificador, Christopher Smith, é comumente retratado como insano. Seu capacete além de possuir sensores de presença e outros aparatos, também captura os pensamentos dos fantasmas de quem ele já matou, ao menos é o que acredita o personagem. Na já citada minissérie de 1988, o personagem é enviado para o Vietnã e se mostra como um soldado bastante eficiente, mas tomado pela culpa pelo passado nazista de seu pai.
Na prática, ele agia como um sujeito que inventava inimigos imaginários, sendo eternamente perseguido, mesmo que somente em sua mente, e essa faceta é muito bem enquadrada por John Cena e pela atmosfera criada pela série de Gunn.
Apesar de ter claros problemas de conduta, o personagem já fez parte de alguns grupos, como a organização secreta Xeque-Mate, Esquadrão Suicida, Shadow Fighters, L.A.W. (Living Assault Weapons) e League Busters. Além de Smith, outros dois personagens usaram a alcunha de Pacificador, como Mitchel Black, que agiu na época da Crise Infinita, além de outra figura, misteriosa e sem identidade revelada, que assumiu o papel em Justice League International #65, de junho de 1994.
Curiosidades:
O personagem apareceu em Reino do Amanhã, num flashback onde ele, junto aos outros heróis da Charlton, brigam contra o vilão Parasita. Vale perceber a influência de Star Wars, pois seu capacete lembra o de um mandaloriano, estilo Boba Fett. Na história Chris morreu com seus companheiros, quando o Capitão Átomo explodiu;
Em algum ponto, ele lideraria um grupo de soldados, chamado Força Pacificadora, que atuaria no Oriente Médio, em busca de “combater o terror”, mas o projeto foi abortado antes mesmo de ser colocado em prática, pelo presidente Gerald Ford;
John Cena é o primeiro ator a interpretar o personagem em carne e osso. O ex-lutador de wrestler, famoso por seu carisma e por ter uma trajetória semelhante a Dwayne “The Rock” Johnson parece ter afeiçoado bastante a Smith e seu alter-ego, tanto que assina a produção executiva dessa série;
Na série, há participações de alguns personagens da DC, como o já citado Dragão Branco, o mascarado Vigilante, introduzido em novembro de 1941 na revista Action Comics # 42,embora no seriado a versão do Vigilante é segunda, Adrian Chase, personagem introduzido em The New Teen Titans Annual #2 de 1983. Outra participação legal é a do Mestre Judoca, personagem também da Charlton, oriundo Special War Series #4 de novembro 1965;
A versão original do personagem pertence à Terra 4 do Multiverso da DC Comics, junto aos outros personagens da Charlton, em PAX Americana, de Grant Morrison e Frank Quitely, podemos acompanhar um pouco desse universo em uma releitura de Watchmen.
Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Bruno Gaspar (@hecatesgaspar), Bernardo Mazzei e Jackson Good (@jacksgood) retornam para mais uma edição do “Diários de Quarentena” se reúnem para comentar sobre os últimos lançamentos do cinema, quadrinhos e TV.
Duração: 91 min. Edição: Flávio Vieira e Rafael Moreira Trilha Sonora: Flávio Vieira e Rafael Moreira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
Vamos aos fatos: por mais que eu seja um grande fã dos quadrinhos da DC e tenha sempre torcido para que seu universo cinematográfico fosse tão bem-sucedido quanto o da Marvel, todos concordamos que a casa de grandes personagens como Batman, Superman e o Esquiador Escarlate vem patinando em suas adaptações live action. Fica muito claro que, para se afastar da concorrente, a DC apostou em retratar seu universo de forma mais realista, sombria, séria… O que se mostrou ser uma tremenda de uma bomba, já que seu universo capitaneado pelo “visionário diretor Zack Snyder” se mostrou muito aquém do esperado. O Homem de Aço, primeiro filme desse universo estendido, mostra um Superman confuso e sombrio, o oposto do que ele deveria ser e representar. Estaria tudo bem se isso fosse arrumado na continuação, mas Batman vs Superman: A Origem da Justiça consegue ser ainda mais confuso e fora de propósito. Os fãs, evidentemente, esperariam que tudo se encaixasse no Liga da Justiça, de 2017, e a lambança foi ainda maior! Para que esse universo faça algum sentido, foram precisas uma versão estendida de BvS e um novo corte de 4 horas de Liga da Justiça de Zack Snyder. Ainda assim, é muito mais fácil acompanhar vinte e tantos filmes da Marvel do que ter que fazer um curso de várias semanas para entender minimamente o tal Universo Estendido da DC.
Mas aí vieram uns pontos fora da curva. Aquaman deu uma banana marinha pra essa linha darkzêra e nos mostrou um filme extremamente colorido e divertido, com uma história aventureira que fez com que o herói mais zoado dos Superamigos se tornasse cool nos dias de hoje! Shazam! foi outra grata surpresa, trazendo um quê de Ben 10 pro personagem e imediatamente criando identificação tanto com o público infantil quanto adulto (que viu ali aquele clima nostálgico do Tom Hanks em Quero Ser Grande, só que com poderes). Arlequina e as Aves de Rapina também foi um filme muito divertido, tendo como principal qualidade o fato de irritar nerdolas que reclamam de “lacração” (hahahahahahahahahaha, eu não me aguento! Hihi!). E logo depois, no mesmo ano, a diretora Patty Jenkins provou que mulheres podem, sim, estar no mesmo patamar de diretores homens que fazem filmes ruins, lançando Mulher Maravilha 1984, que inovou em seu estilo sendo uma bomba de qualidade inversamente proporcional a do primeiro filme da Amazona, de 2017.
E aí temos O Esquadrão Suicida!
Voltemos no tempo um pouquinho antes de falar dessa novo filme. Esquadrão Suicida, filme de 2016 que nos apresentaria pela primeira vez nos cinemas a Força-Tarefa X, foi um fiasco! A história que chegou aos cinemas quase não fazia sentido, a equipe pequena deixava claro que quase ninguém morreria (exceto o injustiçado Amarra) e a ameaça que eles enfrentaram era risível (uma feiticeira rebolante). Fora o Coringa, que andava pelo entorno do filme sem propósito algum para a trama e que não faria falta alguma se fosse completamente limado do corte final. Aliás, dizem que existe um “snydercut” do filme do David Ayer que seria melhor do que aquilo que vimos. Bobagem, não tem conserto não! Mas por alguma razão que ninguém sabe qual (cof, cof, Arlequina, cof), o filme acabou caindo nas graças da galera do marketing e rendeu boas vendas de cadernos, camisetas e tatuagens de palhacinhas. Esquadrão Suicida, afinal, era uma excelente ideia, só que porcamente executada. Merecia uma segunda chance. E aí veio o filme de 2020.
Os primeiros 14 minutos de O Esquadrão Suicida é tudo que o filme inteiro de 2016 deveria ter sido! Uma missão secreta de infiltração com vilões altamente dispensáveis, ação, traição, mortes e execução por deserção, tudo está ali! Em CATORZE minutos! Não é preciso muito tempo de tela pra se explicar do que se trata a Força-tarefa X, nem por quê eles têm o apelido de Esquadrão Suicida, nem muito tempo explicando o background de cada personagem, porque eles são descartáveis. Um cara russo que é proficiente em arremesso de dardos, um que ninguém sabe quais são os poderes, outro que é, literalmente, uma doninha… Ótimo, vamos pra ação!
Uma coisa que vemos muito em filmes de heróis é a economia de personagens, principalmente vilões. Geralmente, não usam muitos para não desperdiçar o que poderia ser usado mais tarde, ou apenas mostram um vislumbre, como foi com o Darkseid no Snydercut, para que se plante a semente de um filme futuro que, na real, nunca acontece. James Gunn faz o oposto disso. Nunca usaram o Starro como vilão em nenhum filme da Liga? Bora botar ele aqui! Pacificador, Sanguinário, Bolinha…? AH, MANDA PRO PAI! Não tem nenhuma vergonha de se utilizar de personagens que, vamos ser sinceros, não teriam outra chance de aparecer no cinema mesmo! Diferente de Snyder, que parece ter vergonha de personagens galhofa como o Jimmy Olsen (que ele matou na versão estendida de BvS), Gunn abraça a estética dos comics em todos os elementos de seu filme, seja nos uniformes bregas como o de Dardo ou do Pacificador, seja na própria narrativa. O diretor não tem vergonha de colocar dois personagens em CGI totalmente irrealistas para os padrões Snyderescos, e nos brinda com Doninha e Tubarão-Rei, sendo esse segundo o mais carismático de todo o filme (com voz do Garanhão Italiano Sylvester Stallone).
O Esquadrão Suicida é um filme que não tem vergonha de suas origens nos gibizinhos. Ao contrário, abraça todo esse absurdo, conta com a suspensão de descrença do público e nos entrega diversão amalucada e violenta da mais alta qualidade! Claro que, passada algumas semanas de seu lançamento, já sabemos que o filme flopou nas bilheterias. Infelizmente, isso se dá mais por questões externas, como o marketing confuso (é uma sequência, um remake ou um reboot?), a classificação indicativa alta, o elenco com grande número de personagens desconhecidos e, obviamente, a pandemia que impossibilita a lotação das salas de cinema. Ainda assim, é possível que o filme tenha lançado algumas das sementes que germinarão nos próximos filmes da DC, tanto no tom quando na estética e, esperamos, com bons roteiros e direção ousada. Pode não ser o melhor filme da DC de todos os tempos, mas com certeza é o mais importante dessa década!
Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) retornam em mais uma edição para bater um papo sobre a DC Fandome, quadrinhos, games e muito mais.
Duração: 105 min. Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira Trilha Sonora: Rafael Moreira e Flávio Vieira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
Nos quadrinhos, o Esquadrão Suicida é uma iniciativa do governo americano, de utilizar criminosos a seu favor, comandados por Amanda Waller, vilões de quinta categoria enviados para missões secretas e muitas vezes… suicida. Em Esquadrão Suicida: Acerto de Contas, a história não tem muitos rodeios, o Pistoleiro, Conde Vertigo, Pierrô e Colombina estão a bordo de uma nave onde recebem ordens de Waller. O diferencial dessa para as outras animações recentes da DC é a violência.
A ideia do filme de Sam Liu não é trazer uma trama ousada, mas a oportunidade de colocar personagens que dificilmente teriam chance de fazer um filme solo. A equipe utilizada na missão de encontrar Maxum Steel conta com Pistoleiro, Nevasca, Tigre de Bronze, Arlequina, Capitão Bumerangue e Cabeça de Cobra.
A busca por Steel envolve alguns fatores estranhos, entre eles a entrada num clube de strip-tease, com direito a um sujeito se exibindo de sunga fio dental, além de uma disputa com outros vilões, como Blockbuster, Banshee Prateada e Flash Reverso. Esse definitivamente não é um produto para crianças, e de certa forma, é basicamente tudo que o Esquadrão Suicida de David Ayer deveria ser, mas falhou miseravelmente.
A trama paralela, envolvendo o Flash Reverso tem uma premissa positiva, traçando um paralelo interessante com Ponto de Ignição, ainda que bastante apressado. Mesmo com esse defeito, ela ainda segue como uma das abordagens menos equivocadas dessa nova fase de animações, ao mostrar Waller escolhendo seus mercenários para resolver uma questão pessoal, e não governamental. Nestes trechos, o roteiro de Alan Burnett é quase tão bem construído quanto A Morte do Superman e O Reino do Superman, mas a maioria dos diálogos e tramas de traição são bobos, causando um certo enfado no espectador.
O final tenta salvar o filme, mas esbarra em uma violência desmedida e bastante sensacionalista. Infelizmente, a animação sofre do mesmo problema de outras do mesmo estúdio, há muito reaproveitamento de cenas e pouca qualidade técnica e narrativa visual.
O filme de Sam Liu (Batman e Arlequina, Titãs: O Contrato de Judas, Batman – A Piada Mortal) é uma animação que faz parte do universo compartilhado pela DC Universe Animated Original Movies a partir de Liga da Justiça – Ponto de Ignição, ou seja, este Suicide Squad: Hell To Pay nada tem a ver com Batman – Assalto Em Arkham, ambientado no universo dos jogos da franquia Arkham. Aqui, Pistoleiro, Tigre de Bronze, Nevasca, Capitão Bumerangue, Arlequina e Cobra Venenosa são comissionados para tentar recuperar um objeto místico, a mando de Amanda Waller.
A historia contada é original, ao contrario de outras animações da saga, como Liga da Justiça – Guerra e Liga da Justiça Dark, também ambientada nesse universo. Curiosamente, outros vilões também estão atrás do mesmo artefato que o Esquadrão procura, e apesar dessa trama não ter nada a ver com a outra versão animada recente do mesmo grupo, o que se assiste são repetições de arquétipos e atitudes, sem nenhum cuidado em representar os vilões com qualquer personalidade, tridimensionalidades ou qualidades únicas. De certa forma, esta é uma versão moderna do que Super Amigos fazia, claro, sem o charme que o desenho da Hanna-Barbera tinha.
Quando não são repetitivas, as caracterizações beiram o bizarro, como na parte em que Maxum Steel (que é o alvo do grupo, segundo um pedido de Waller) descreve parte de suas desventuras no passado, quando ainda era o vigilante Doutor Destino. Mostrado em trajes sumários, a câmera passa de maneira incômoda por suas curvas semi-nuas. Tal situação soa estranha, ainda mais dado o público-alvo principal do filme. Ao final, o longa passa a ser extremamente violento, fato que ajuda a fomentar seu caráter de produto para pessoas mais velhas, ainda que na maior parte dos momentos soe bastante exagerado.
O roteiro de Alan Burnett até tenta trazer alguma importância para os fatos ocorridos em tela, e quando se teme pelo destino dos personagens, certamente o mérito é dele, um roteirista acostumado a obras do antigo DCAU (DC Animated Universe). Mas como a base para essas questões não é muito bem fundamentada, não há muito como esperar algo que fuja muito do comum aqui, visto que não se trabalha minimamente para causar empatia da parte do público nesta animação.
Bem-vindos a bordo.Flávio Vieira (@flaviopvieira), Jackson Good (@jacksgood), Bruno Gaspar, Filipe Pereira, Bernardo Mazzei e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre os piores filmes lançados em 2016 no Brasil.
Duração: 85 min. Edição: Flávio Vieira Trilha Sonora: Flávio Vieira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
2016 foi um bom ano para os amantes de Cinema, ainda assim isso não impediu de nos depararmos com toda a sorte de sacrilégios nas telonas, desde filmes bíblicos a action movies, “artísticos” a adaptações de games, ninguém se viu livrou de assistir algumas das principais bombas do ano que se encerrou.
Como de costume, nossa lista é focada apenas no que foi lançado em 2016 e sua composição se dá de forma coletiva pela equipe do Vortex Cultural, que a partir das escolhas individuais de cada redator é realizada uma lista popular que reflete a opinião de todo o site no que diz respeito aos Piores Filmes de 2016. Vamos à lista!
De um início bastante promissor com Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch: Porcos e Diamantes, alçado a astro de ação que substituiria Arnold Schwarznegger, Sylvester Stallone e outros, e atualmente, dono de um carreira questionável dentro do gênero, Jason Statham segue em frente escolhendo uma série de trabalhos de qualidade duvidosa e roteiros medíocres, mas este é sem dúvida um dos seus pontos mais baixos.
Assassino a Preço Fixo 2: A Ressureição segue a fórmula de tantos outros filmes de ação genérico, conseguindo nem mesmo soar como uma boa diversão, diferente de seu antecessor – remake do filme com Charles Bronson nos anos 1970. A trama sem cabimento, as tentativas rasteiras e infantis de humanização de personagens, CGI malfeitos e utilizados sem moderação, inexpressividade dos atores e o péssimo trabalho de direção ao sequer criar um clímax ou mesmo gerar boas cenas de pancadaria tornam o longa metragem de Dennis Gansel um dos piores exemplares de 2016. Está na hora de trocar de agente, Statham.
Vencedor de dois Oscars e renomado ator, já faz algum tempo que Robert De Niro parece se esforçar pra acabar com sua carreira. Mas Tirando o Atraso parece ir além de ser apenas um filme ruim. É um filme péssimo que se orgulha disso, foi feito pra ser assim! Zac Efron faz o papel do jovem advogado que precisa escoltar seu recém-viúvo avô em uma viagem na qual ele descobre logo de início que o velhinho despirocou de vez e agora só pensa em depravações. Só que nunca o vimos antes como um bom velhinho, com exceção da rápida tomada no funeral! Não existe uma desconstrução da figura do avô, apenas um velho racista, machista e homofóbico soltando impropérios durante o filme inteiro. A primeira vez em que De Niro realmente aparece o vemos constrangedoramente se masturbando. E daí pra frente, só piora. Aparentemente, o veterano ator descobriu uma maneira fácil de ganhar dinheiro com filmes medíocres e pseudo-atuações já faz algum tempo. Tirando o Atraso chega a ser mais constrangedor que sua atuação em As Aventuras de Alceu e Dentinho!
O ano de 2016 começou com uma triste notícia, do falecimento de David Bowie, nas vésperas do lançamento de seu último disco, Black Star. O pai de Duncan Jones, teria visto um corte inicial do filme que conta a história do qual Jones é fã, apaixonado, admirador, inveterado: O encontro de dois mundos, dos Orcs e dos Humanos, em uma batalha pela vida, princípios e pelo futuro.
Neste contexto tão emocional, torna-se uma missão complicada não gostar de Warcraft: O Encontro de Dois Mundos, mas nem crítica e nem público abraçou aquilo que é visto em tela, gerando um pequeno fracasso e a primeira marca na carreira de Duncan Jones. Com grande sucesso na China, hoje pra alguns filmes um mercado quase tão grande quanto o americano, é viva a possibilidade de uma sequência, mais lúcida e interessante do que este filme, que só causou mesmo é sono e tristeza pelo que poderia ser.
É triste, pois vê-se lá a admiração que a equipe nutri pelo material. Vê-se, desde trabalhos anteriores, a seriedade com que Jones trabalha suas histórias. Mas temos aqui um caso clássico de quando a paixão ultrapassa nossas ações, e faz notas mirradas e dissonantes soarem como trombetas distorcidas e cintilantes, mesmo sem a mínima pressão sonora. O som está nos ouvidos do apaixonado, e as vezes só ele é capaz de ouvir.
A Garota Dinamarquesa está entre piores do ano não só pelo desserviço que faz dentro da temática LGBT, mas por ser, acima de tudo, um filme ruim. Eddie Redmayne entrega uma performance caricata de Lily, enquanto o elenco de apoio não tem material o suficiente para trabalhar algo mais aprofundado. A única que se salva é Alicia Vikander, o que demonstra sua capacidade como atriz, mesmo com um roteiro como esse. Graças ao desenvolvimento narrativo precário, piorado por uma condução brega e sem personalidade, Tom Hooper ingressa a lista com uma história que merecia um diretor melhor.
Contrato Vitalício, é como o filme do terremoto. Acontece algumas coisas interessantes, você até quer dar uma chance ao filme e tudo mais, mas no fundo você preferia ter ido ver o filme do Pelé. E aparentemente o Fábio Porchat também tava mais interessado em interpretar o Pelé, e o Gregório Duvivier, talvez uma versão em que o Pelé abraça árvore e não fala merda, e convenhamos, nenhuma merda que o Pelé falou até hoje, chega aos pés da cagada que é esse filme.
Desde que a emissora Record foi comprada por um conglomerado religioso, suas pretensões mudaram, a tentativa do canal é desbancar a liderança que a Globo tem no monopólio das comunicações e para isso se investiu não só em jornalismo como teledramaturgia. Entre os eventos recentes dos mandatários há o ingresso na política e também a veiculação de novelas, séries de temática bíblica, sendo Dez Mandamentos a primeira em formato de telenovela, terminada com duas temporadas. Quando a notícia de que o folhetim se tornaria filme foi confirmada, surgiu o receio de que o longa tivesse problemas de ritmo e ele de fato o tem, já que o filme dirigido por Alexandre Avancini tem um roteiro confuso, cujas relações não fazem sentido exatamente por ser este um resumo das centenas de capítulos exibidos durante as noites de meses inteiros. É inegável o sucesso de público do programa televisivo, visto que em muitas vezes ele desbancou a novela global da liderança, no entanto, analisar o fenômeno de bilheteria do filme não é assim tão simples, uma vez que grande parte dos ingressos foi vendido enquanto as mesmas salas não necessariamente estavam ocupadas. Como filme Dez Mandamentos falha tanto que é mais fácil e cômodo falar sobre tudo, menos sobre suas qualidade cinematográficas. Fotografia, edição, montagem, trilha e roteiro não foram feitos para o formato da tela grande, fatores que fazem tudo nele soar extremamente patético e desimportante, além de ser moroso, chato e muito aquém de tantos outros clássicos de temática cristã.
É notório, feito doença crônica e incurável, a forma catastrófica e bandida que o cinema dos EUA vem catalogando e regurgitando, no pior sentido do termo, releituras de histórias que pertencem ao imaginário do mundo desde muito antes da possibilidade do Cinema existir sem manifestada pela aurora das novas mentes tecnologias do século XIX e XX. A bravura dos 300 de Esparta. O Mistério sobre a construção da Muralha da China, a glória e queda de Cleópatra, e muitos outros mitos ocidentais e orientais, como se esses eventos reencarnados e miseravelmente revitalizados pelo cinemão blockbuster (não em alma, mas em forma), por não terem direitos autorais, estivessem a disposição de qualquer visão (ou falta de) para revirar e abusar de seus fatores lendários e fabulosos como a magia do CGI bem entender, sem nenhuma responsabilidade decente com o prestígio de uma ideia, com a sanidade do público que por X motivo se submete a essas incógnitas que a pobremente rica cultura pop produz, ou à essência da própria arte cujo potencial tanto machuca, humilha e vulgariza ao investir em monstruosidades cancerígenas como Deuses do Egito; um desses tristes e caros (à arte e à produção) tumores anuais que, por pior que o romântico e tolo Ed Wood fosse (e foi), com seus cenários de isopor, sua paixão pelo filmar e sua ficção tão pecadora, quanto inocente, jamais iria ousar pôr em prática.
Grande sensação “nerd” do ano, Batman vs Superman: A Origem da Justiça foi o filme mais odiado que arrecadou mais dinheiro. Enquanto seus críticos apontavam os inúmeros buracos de roteiro, trama desconexa e personagens insossos, seus defensores mostravam um filme que arrecadou quase 1 bilhão de dólares pelo mundo e dominou o debate por alguns meses. O fato é que Zack Snyder, desde seu Homem de Aço de 2013, mostra dificuldades em contar uma história simples quando não tem um material fonte específico para copiar. Apesar da fortuna arrecadada, o filme foi considerado um fracasso pois tinha os dois maiores heróis da cultura pop e arrecadou quase o mesmo que Deadpool, um ilustre desconhecido com orçamento de filme B. Nem mesmo uma atuação interessante de Ben Affleck como Batman em suas cenas de ação conseguem salvar o marasmo total de um Superman depressivo, um Lex Luthor “on cocaine”, uma Mulher Maravilha enfiada no filme apenas para promover o vindouro filme da Liga da Justiça e uma história completamente confusa do “Save Martha”, que virou piada nas redes sociais graças a solução preguiçosa do roteiro para transformar Batman e Superman em amigos. Agora nos resta esperar os próximos filmes, e torcer para que não precisemos ver Thomas e Martha Wayne sendo mortos novamente.
Em um determinado ponto de X-Men: Apocalipse, Jean Grey e seus amigos saem de uma sessão de O Retorno de Jedi e dizem que a terceira parte é sempre a pior. O terceiro filme da segunda trilogia não foge à regra: Apocalipse é o pior deles. Me atrevo a dizer que é o pior de todos das duas trincas de filmes com os heróis mutantes. Bryan Singer erra a mão em praticamente tudo. A direção é frouxa, o filme é enorme em escala e minúsculo em conteúdo, a cena de ação protagonizada por Mercúrio é a única que presta, ainda que seja uma reedição em maior escala de uma sequência de Dias de Um Futuro Esquecido, personagens excelentes dos quadrinhos não são desenvolvidos e um bom vilão é desperdiçado. Sem contar a judiação que é feita com Magneto, Xavier e Mística. Singer devia largar o osso da franquia mutante e passar pra mãos menos megalomaníacas.
Depois do inesperado e estrondoso sucesso de Guardiões da Galáxia, o ótimo e divertido filme produzido pela Marvel, a DC/Warner viu potencial nos seus personagens “expendables” e trouxe o Esquadrão Suicida dos quadrinhos à vida no cinema. O projeto foi tratado como ambicioso e trouxe nomes de peso como Viola Davis, Will Smith e outros bons atores como Margot Robbie, Jay Courtney e Joel Kinamman. Foi criado um buzz absurdo em torno do Coringa, de Jared Leto e da maneira quase doentia e ameaçadora que o ator, adepto do método, agia no set de filmagens. A expectativa só aumentava por causa dos dois ótimos trailers que traziam uma versão obscura de I Starded a Joke, do Bee Gees, além de Bohemian Rhapsody, do Queen, deixando quase como certo que o filme seria um sucesso, fazendo as pessoas esquecerem do controverso Batman Vs Superman: A Origem da Justiça. Infelizmente, o que se viu foi um desastre completo. Esquadrão Suicida tem problemas sérios de ritmo, com roteiro ruim, sobre um vilão com potencial, mas com uma resolução péssima e que apresenta personagens fracos e mal desenvolvidos. A performance criticada de Leto, por sorte, não tem espaço de tela o suficiente para mais reclamações, deixando somente como ponto positivo Viola Davis, como Amanda Waller, e Margot Robbie, como Harlequina (que vai liderar um filme solo de uma equipe de vilãs, ou seja, outra bomba anunciada). De qualquer forma, o demérito do diretor David Ayer, junto de toda a equipe por trás da produção, foi tentar copiar sem escrúpulos Guardiões da Galáxia, o que deixa o filme forçado, com uma trilha sonora descabida e desencaixada, que parece ter sido colocada de última hora. Uma pena.
Participaram desta votação: Flávio Vieira, David Matheus Nunes, Halan Everson, Fábio Candioto, Leonardo Amaral, Douglas Olive, Bernardo Mazzei, Filipe Pereira, Marlon Faria e Marcos Paulo Oliveira.
No Brasil, o ano de 2017 começou com um assassino de extrema direita invadindo uma festa de final de ano e matando 12 pessoas da mesma família (9 mulheres, 2 homens e 1 criança). Entre essas pessoas, estavam sua ex-mulher e seu filho de nove anos. Porque ele fez isso? Bem, segundo sua cartinha, o imbecil estava cansado das vadias que estragaram sua vida, ele não suportada mais a Lei “Vadia da Penha”, e queria matar todas as vadias… Vadias, vadias, vadias. Você sabe, o tipo de falta de raciocínio que faria um fã fervoroso de Jair Bolsonaro chorar de orgulho.
No hemisfério Norte, a Nova Guerra Fria está prestes a acabar em 20 de janeiro, quando o novo presidente-fantoche dos EUA, Donald Trump (ex-apresentador de realities shows idiotas e cabeça de esquemas de fraude e estelionato), “assumir” a presidência do maior poderio industrial-militar da história para obedecer aos mandos e desmandos de seu novo mestre: Vladimir Putin (pessoalmente, eu acho essa situação toda hilária e extremamente irônica).
E esse é só o começo de 2017.
Mas não se engane, 2017 é só uma consequência. A verdadeira causa de tudo que estamos vivendo e vamos viver pelas próximas décadas é o ano de 2016, que será lembrado como o ano em que o século XXI ficou literalmente louco. Se esse século fosse uma pessoa, poderíamos dizer que ele teve uma infância difícil desde 2001, mas que, apesar dos pesares, ele ainda tinha potencial para crescer e se tornar um século respeitável. Infelizmente 2016 foi o ano em que esse adolescente chamado século XXI descobriu sua paixão incontrolável pelas pedras de crack.
Esse tópico vai ser difícil. 2016 foi o ano em que nossa política passou de péssima para porra!
Tudo começou em dezembro de 2015, quando o ex-presidente da câmara de deputados federais e atual presidiário Eduardo Cunha decidiu aceitar um pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Roussef, porque descobriu que sua barra não seria limpa no Conselho de Ética pelos crimes que acabaram cassando-o posteriormente.
O parecer do impeachment foi desenvolvido pela desvairada e descontrolada advogada Janaína Paschoal, que recebeu 45 mil reais do PSDB para fazê-lo (de maneira apartidária, é claro). O argumento usado foi o de “pedaladas fiscais”, termo criado por entusiastas de futebol para se referir à operações orçamentárias realizadas pelo Tesouro Nacional. Mas ninguém liga para isso.
Após o fim do processo na Câmara, Eduardo Cunha foi convenientemente afastado de seu cargo como presidente pelo STF, e o novo presidente da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão, anulou o impeachment. Menos de 12 horas depois, ele anulou a anulação. Não entendeu? Tudo bem, ninguém entendeu também.
Após a aprovação pela Câmara, o processo rodou no Senado, onde a perícia chegou a conclusão que Dilma autorizou 3 decretos incompatíveis com a meta fiscal (lembrando que essa meta foi revista pela PLN 5/2015), mas não havia cometido nenhuma pedalada fiscal. Mas isso é irrelevante, porque Dilma sofreu o impeachment devido o “conjunto da obra“, o novo crime (?) do momento. E para surpresa de todos, especialmente Fernando Collor, ela perdeu seu cargo mas manteve seus poderes políticos.
Após a provação do impeachment pelo Senado, Michel Temer assumiu definitivamente a cadeira de presidente do Brasil, para a alegria de sua esposa, Marcela Temer, que se veste muito bem. Ah, e talvez ele seja satanista. Talvez.
Tivemos também (novamente) o surgimento da figura do Salvador da Pátria. O homem que vai limpar esse Brasil sozinho, com o poder da Lei e da Ordem. O inigualável e incrível juiz Joaquim Bar… Sérgio Moro. Aquele juiz implacável do caso Banestado, lembra? Que sua graça divina nos ilumine! (E por favor, Pai Moro, se estiver me ouvindo, não divulgue meu histórico de navegação da internet)
Esse ano de 2016 foi também agraciado pela nova dupla sertaneja, Marx e Hegel. Com participação do novo princípio legal de convicção sobre provas e, meu favorito, o PowerPoint do mau! É impressionante perceber o que um estagiário pode fazer com um computador nesses dias.
“Podemos ver nessa fotografia que o ex-presidente Lula destruiu a cidade de Tóquio em 1954. ”
E quanto a economia? Não se preocupe, tudo ficará resolvido com uma reforma da previdência em que você terá que trabalhar ininterruptamente desde os seus 16 anos até os 65 para conseguir o teto da aposentadoria (militares e policiais estão fora dessa, porque eles não são cidadãos de segunda classes como nós). A justificativa para isso é que previdência social está quebrada, segundo o governo. Mas os Auditores Fiscais da Receita Federal afirmam que a previdência é superavitária (eles têm até uma cartilha!). Se eu não soubesse com quem estou lidando eu poderia pensar que o Governo que nos ferrar, né?
Tivemos a maravilhosa proposta da PEC 55, que pretende congelar por 20 anos nosso orçamento na saúde e educação, algo sem precedente na história da humanidade. Bem, espero que nesses próximos 20 anos a população não aumente, senão podemos ter um probleminha em nossas mãos. Sem falar no benefício de 100 bilhões que o Governo queria dar para as empresas de telecomunicações. (Mas o Brasil não estava quebrado?)
Em 2016 tivemos também o melhor momento da história do STF: a tentativa patética de retirada de Renan Calheiros de seu cargo como presidente do Senado. Renan Calheiros, a cobra que é, mostrou aos deuses do STF como funciona a política em uma república de bananas. Contemple a humilhação que esse oficial de justiça sofreu ao tentar fazer seu trabalho e ser tratado como um nada pelo velho Renan. Ele nunca se sentiu assim em toda sua vida. Tenho que admitir, é um feito e tanto.
E eu nem vou falar da maravilhosa atuação da Rede Goebbels nisso tudo. Eles merecem um post só sobre eles.
Resumindo: é por isso que eu parei de assistir “House of Cards” em 2016.
EUROPA: Apertem os cintos, a Inglaterra sumiu!
Vou deixar isso bem claro desde o início: ingleses são babacas. Isso não é uma ofensa, é a constatação de um fato. Não é culpa deles, eles não fazem de propósito, eles não querem ser babacas… Mas eles são. Faz parte da cultura deles. Se eles não fossem babacas, não poderiam ser ingleses. Entendido? OK. Então, estamos realmente surpresos que os ingleses disseram não à União Europeia? O que você esperava? Eles são babacas.
O BREXIT talvez tenha sido o único evento desse ano maldito que faz sentido. Quer dizer, não é como se os britânicos jamais gostassem da Europa. Ou se sentissem parte dela. Ou se identificassem com ela. Eles permanecem isolados do continente, quase como se fossem… uma ilha.
Somando isso à crise dos refugiados, a crise econômica que erodiu o bloco econômico e o crescente número de atentados terroristas em capitais europeias… Bem, vamos dizer que as empresas de armamento militar estão bastante otimistas.
EUA: Donald Trump, ou como eu parei de me importar a passei a amar a bomba.
Nas eleições ianques de 2016 o mundo todo se voltou para os EUA e disse, em tom de preocupação: “Você não pode ser tão idiota assim”. Em resposta, a grande nação norte-americana olhou para o resto do mundo com desdém e falou: “Você não pode me dizer o quão idiota eu posso ser”.
E aqui estamos nós: Donald Trump foi eleito presidente dos EUA. O que dizer dessa criatura?
Então por que eles votaram nele? Porque aparentemente eles não gostaram de Hillary Clinton, o novo bicho papão da direita norte-americana. Se você perguntar a um republicano convicto porque ele não gosta de Hillary ele vai dizer que é porque ela voa em uma vassoura e joga praga nas pessoas. E logo depois dessa declaração vai haver uma reportagem completa na Fox News explicando como ela faz essas coisas. Dica: ela vendeu sua alma imortal para Lúcifer.
A parte mais triste foi que os democratas tiveram medo de colocar Bernie Sanders, um socialista convicto, para concorrer com o palhaço laranja. Eles pensaram que Sanders não tinha chance de vencer. E agora eles devem estar dando chutes nas próprias cabeças ao perceberem que sim, você pode eleger qualquer pessoa nos EUA.
Mas a melhor parte dessa eleição não foi a vitória da pessoa mais inepta da história ianque a assumir o cargo do maior poderio militar do planeta. Mas o fato dessa pessoa estar trabalhando para os interesses russos. Especificamente, os interesses de Vladimir Putin. Aquele ex-agente da KGB, lembra? Isso mesmo, a Rússia tem um novo presidente… Na Casa Branca.
Você consegue imaginar Putin sentado com seus amigos (?), bebendo a vodka mais cara do mundo, olhando ao redor e perguntando com um sorriso incrédulo: “Alguém imaginou que iríamos estar aqui nesse momento? ”. Eu posso, porque no momento que Donald Trump foi eleito, eu pude ouvir a risada maligna do velho Vlad à um hemisfério de distância.
As eleições ianques de 2016 foram como a reversal russa. Na Rússia, a queda do seu país não acaba com a Guerra Fria… É a Guerra fria que acaba com o seu inimigo.
Ура, товарищи!
AMÉRICA LATINA: Jogos, Trapaças e Dois Países Fumegantes
Na Colômbia, um plebiscito popular mostrou que diante da possibilidade de paz com as FARC, parece que o povo quer mesmo é ver bandido no chão. Mas parece que a Lei de Anistia foi aprovada pelo Congresso mesmo assim. Aparentemente foi mais uma terça-feira na Colômbia. Aliás, eles não estavam enviando ônibus cheios de comunistas para Brasília? Não? Ok.
E a Venezuela nos provou que ter petróleo em quantidade não significa porra nenhuma se você for imbecil. Ponto para a direita batedora de panelas, que nos avisou que os comunistas bolivarianos sanguinários do djabo são incompetentes e assassinos. E pensar que o Brasil sofreu com uma ditadura comunista dessas por 13 anos… Quer saber, esses venezuelanos estão reclamando de boca cheia.
E nossos hermanos argentinos? Bem, estão daquele jeito.
Pelo menos sempre teremos o Uruguai.
CORÉIA DO SUL: Cara, cadê meu presidente?
Quando fiquei sabendo dos acontecimentos políticos na Coréia do Sul no ano passado, devo admitir que minha primeira reação foi achar que a coisa toda era um hoax ruim, criado para pessoas facilmente impressionáveis e fanáticos por teorias da conspiração. Acreditar em teorias da conspiração, tudo bem. Acreditar que a política é influenciada por variados fatores culturais e econômicos, é óbvio. Agora, acreditar que a presidente eleita da Coréia é fantoche de uma seita chamada Igreja da Vida Eterna e que praticamente todas as decisões presidenciais eram resultado dessa influência religiosa… Você tem que estar de brincadeira, certo?
Mas eu estava totalmente errado. Era real… Ou melhor, é real. E quando eu me dou conta disso, eu percebo que o que aconteceu na Coréia só demonstra como ano de 2016 foi o ano em que a humanidade ultrapassou a barreira da ficção e está vivendo uma espécie de simulacro bizarro, provavelmente escrito por David Lynch. O que aconteceu na Coréia do Sul foi tão surreal que eu não ficaria surpreso se após o impeachment da presidenta Park Geun-hye, Rod Serling aparecesse na televisão explicando que o que acabamos de ver foi mais um episódio de Além da Imaginação.
“E se Alexandre Frota desse conselho sobre a Educação de um país? E se o Kojak fosse ministro da Justiça? Isso e muito mais nesse episódio de… 2016 – Um ano do Barulho. ” (Fonte)
Tivemos Capitão América: Guerra Civil, onde vários personagens amados da Marvel desceram a porrada uns nos outros e todo mundo se divertiu no final. Tivemos o Dr. Estranho boladão, com suas macumbas doidas e inimigos merdas, mas que também foi divertido no final. E Stranger Things, a série que nos fez lembrar porque os anos 80 foram tão bons conosco (exceto por Ronald Reagan).
Mas também tivemos Batman V Superman. Nossa, tivemos Batman vs Superman. Caralho. Eu poderia começar a falar desse atentado ao cinema perpetrado pelo Visionário, mas se eu começar eu não vou parar até estar espumando pela boca e falando Aklo.
Bem, acho que se aprendermos alguma coisa em 2016 é que a única chance da DC dar certo no cinema a partir de agora é contratando a Marvel.
FUTEBOL: Apocalipse Gol
Poderíamos dizer que 2016, apesar de muito ruim, não foi o pior ano de todos. Exceto se você for torcedor da Chapecoense.
Não há mais nada a dizer sobre essa tragédia que já não tenha sido dito centenas de vezes anteriormente. Os mortos foram enterrados, mas as mágoas continuam. Força Chape.
(Menção Honrosa ao Internacional, com seu timing perfeito. O time de Porto Alegre conseguiu cair para a Série B no mesmo ano em que seu rival, o Grêmio, ganhou um título de relevância nacional… Depois de 15 anos. Parabéns, nem operações militares são tão precisas assim.)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Eu gostaria de escrever algo engraçado no final desse texto para dar alguma esperança a você, leitor… Mas eu não posso. Se tem uma coisa que eu aprendi com Max Rockatansky é que a esperança é um erro. Se você não consegue consertar o que está quebrado, você acaba ficando insano. Portanto eu vou terminar esse texto com um clipe irônico: It´s the end of the World, do REM. Porque realmente é o fim do mundo como o conhecemos, mas eu não me sinto bem. Na verdade, acho que nunca mais vou me sentir bem de novo.
Bem-vindos a bordo.Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Carlos Brito, Rafael Moreira (@_rmc) e Mario Abbade (@fanaticc) se reúnem para comentar sobre os novos filmes do universo expandido da DC Comics iniciado pelo “visionário” Zack Snyder.
Duração: 82 min. Edição: Victor Marçon Trilha Sonora: Victor Marçon
Arte do Banner: Bruno Gaspar
Criado no fim dos anos 1950, mas só popularizado na saga pós-Crise Lendas, o Esquadrão Suicida era um grupo composto por vilões do segundo escalão, montado por Amanda Waller, uma das mentes que dominavam o cenário escuso do universo DC, responsável entre outras coisas pelo Projeto Cadmus. De fato, a equipe jamais havia sido alvo de uma popularidade indiscutível e funcionava melhor como elemento coadjuvante (como feito na segunda temporada de Arrow) do que como centro das atenções, inclusive com um péssimo evento audiovisual no longa animando Batman: Assalto em Arkham, que trata exatamente dos mesmos protagonistas do filme de David Ayer.
Há dois pilares de confiança para o filme, o primeiro é o prestígio de Viola Davis interpretando Waller, desde sempre sendo ela a escolha perfeita para o papel. Apesar de ter pouca oportunidade de brilhar – e de conter para si um grande número de equívocos estratégicos – a atriz consegue fugir da mediocridade que permeia o filme. Já o outro parâmetro de qualidade recairia sobre Ayer, que desnecessariamente emula traços do estilo de filmagem de Zack Snyder, uma vez que seus trabalhos são em muito superiores aos do visionário realizador de Watchmen. O slow motion é excessivo e irritante, fazendo o tom bastante genérico.
Uma das maiores discussões a respeito do filme era em relação a Arlequina de Margot Robbie. Quanto a isto, não há tanta exploração sexual quanto se imaginava antes da exibição, ainda que toda a vigilância não tenha sido em vão por futuras passagens com a personagem. Robbie permanece com muito mais pele à mostra do que deveria, especialmente comparando a versão original da esquizofrênica personagem pensada por Bruce Timm na série animada do Batman, com esta nova faceta pós-novos 52, hiper-sexualizada. Os inúmeros erros de roteiro não mostram uma personagem forte emocionalmente, e sim uma mulher que foi muito abusada e que sofre desse mal o tempo inteiro. Sua performance é a mais rica e profunda do longa e só perde força graças ao preciosismo do Coringa.
O palhaço e príncipe do crime de Gotham soa patético e faz rir pelos motivos errados, não por possíveis gracejos e sim pela construção extremamente caricata e deslocada que Jared Leto emprega. A culpa pela participação pífia parece dividida entre o texto atrapalhado de Ayer e a necessidade do ator em tentar a todo custo superar seu antecessor, Heath Ledger. Não havia qualquer necessidade para tal, tanto no Batmande 1989 quanto em Cavaleiro das Trevas há boas apresentações do criminoso insano. Ambas conseguem atingir uma boa expectativa quadrinística do Coringa, mas esta não. As cenas com Leto parecem enxertadas às pressas para trazer algum rosto conhecido ao filme, e quase banaliza o pouco de argumento que funciona em relação a Harley.
A ideia de se fazer um filme de equipe não passa de uma premissa não alcançada. O que se vê é um sub-aproveitamento dos personagens. Rick Flag (Joel Kinnaman) consegue alguns momentos condizentes com a figura de militar inspirador, mas logo perde força ao executar um momento de irreal cafonice, contendo em mãos a chave para convencer o protagonista Pistoleiro/Floyd Lawton (Will Smith) de segui-lo até a morte. Mesmo o sentimentalismo barato – marca registrada de Smith em muitos de seus filmes – neste soa desimportante.
Mesmo as piadas que funcionam no material promocional ficam mal encaixadas, soam fracas e sem peso, jogadas em uma edição confusa, que por sua vez provém de um texto final nada sólido. Alguns poucos momentos de ação são salvos pela competente mão de Ayer, mas ainda assim é pouco, muito pouco. Falta lógica na maioria das táticas de guerra, e isso faz toda a diferença para a suspensão de descrença de um público ávido por uma abordagem mais certeira da Warner e DC no cinema.
O resultado final carece de um bom vilão. E, fora Harley, os personagens femininos são fracos. Katana aparenta ser um cosplay, dada que sua motivação é tão ruim quanto a da Magia de Cara Delevingne, que faz uma vergonha tremenda nos instantes finais. Sua apresentação rivaliza com a do Crocodilo em matéria de caricatura, e é péssima em caráter de pieguice, acompanhada, claro, do restante do elenco nesse quesito. Esquadrão Suicida é aprisionado no limiar entre um filme de ação genérico dos anos 1980, um produto trash da Asylum, transitando entre Falcão, o Campeão dos Campeões e Sharknado, ainda que não haja, nem em seu orçamento quanto mais em expectativa, qualquer semelhança com quaisquer dos dois gêneros ou os dois exemplos citados.
De começo simplista, Batman: Assalto em Arkham segue a nova onda de animações da DC Comics pós-reboot, e diferentemente de outros pares como Liga da Justiça: Guerra e O Filho do Batman, esta foca personagens secundários do universo do Morcego, mais especificamente os vilões. A toada é diferenciada da estética dos Novos 52, já que logo no início é mostrada uma Amanda Waller ainda obesa, com a costumeira e bela construção de sua personagem antes da última “reinvenção”. A violência também é inserida no filme de maneira mais acentuada se comparada a de seus primos, com direito a sangue e dilacerações.
O mote da história varia nas referências, com momentos que lembram a série recente de games de Batman relacionados a Franquia Arkham e, claro, a formação do Esquadrão Suicida, idealizada pela membro do Projeto Cadmus. A velha máxima do grupo de bandidos é reafirmada, cuja sentença aparece em duas formas: a total cooperação deles em troca da remissão de seus pecados ou a morte.
A missão desta vez caracteriza-se por uma invasão ao asilo de Amadeus Arkham para recuperar o cajado do Charada, que poderia conter uma arma de destruição em massa. A desculpa para a ausência de Batman na história se dá por ele estar em outra missão, ainda que tal prioridade seja muito discutível.
O submundo de Gotham é um campo muito fértil para as desventuras do grupo de marginais, ao exibirem toda a a sua misantropia à procura das condições mínimas para a execução da missão a qual foram comissionados. No entanto, a postura dos personagens do ideário da cidade é curiosa e contrastante com a violência gráfica mostrada anteriormente.
O mafioso superpoderoso Pinguim é apresentado como um selvagem se alimentando de uma pilha de peixes crus, como fazia sua contraparte deformada e monstruosa em Batman: O Retorno – tal caracterização além de datada é contraditória por ser demasiada imatura, especialmente quando é precedida por uma cena de cunho sexual envolvendo Arlequina e o Pistoleiro.
Os ares do universo pré-Novos 52 são notados na escolha de dubladores, especialmente com o retorno de Kevin Conroy como dublador do Cruzado Encapuzado, o que não ocorria em longas desde Liga da Justiça: Ponto de Ignição. É curioso como o diretor Jay Oliva prossegue reverenciando o segundo filme de Tim Burton à frente do herói, com cenas literalmente copiadas e com o design do batmóvel muito semelhante ao veículo pilotado por Michael Keaton. Por mais que não seja o personagem que mais aparece em tela, o Morcego ainda envolve-se em cenas de luta impressionantes se analisadas sob o ponto de vista gráfico.
Alguns outros easter eggs são mostrados, entre eles máscaras dos palhaços capangas do Coringa de Heath Ledger. Do meio para o final da exibição, a tônica volta para os personagens mais conhecidos e carismáticos, primeiro remetendo à óbvia rivalidade de Batman com seu nêmese, depois com a reativação do romance protagonizado por Coringa e Arlequina – é esta relação, aliás, a responsável para que o caótico plano do Palhaço do Crime fosse às vias de fato. O caos do manicômio ganha as ruas da cidade, pondo-se além dos portões da casa de loucos.
O Coringa rouba a cena, fazendo do Asilo e seus arredores um zoológico ao liberar todas as feras enjauladas para desviar a atenção da bomba de Nygma, que ele resolve ativar só por diversão. Tudo ocorre em tempo o suficiente para o herói destravar todas as traquitanas de seu rival. Se por um lado há uma sobra de violência nos primeiros momentos, o roteiro de Heath Corson não consegue desenvolver algo mais elaborado quando se cobra uma visão mais adulta dos fatos.
Esse desequilíbrio entre o juvenil e o infantil denigre muito a fita, fazendo dela uma peça de gosto duvidoso e de público não definido. Seu caráter é de difícil distinção, e fora a bela coordenação de vozes de Andrea Romano e seu atores, pouco há para se elogiar no filme, claro, destacando a melhora aparente quando comparado com as animações que emulam os Novos 52.