Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (Twitter | Instagram), Filipe Pereira (Twitter | Instagram), Bernardo Mazzei (Twitter | Instagram) e Jackson Good (Twitter) se reúnem para comentar sobre as últimas notícias envolvendo o universo cinemático da DC, desde o malfadado Snyderverso ao futuro imprevisível envolvendo James Gunn e Peter Safran.
Duração: 65 min.
Edição: Flávio Vieira Trilha Sonora: Flávio Vieira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
Em 2011, a carreira de Dwayne “The Rock” Johnson transpôs mais um degrau de sucesso. Ao participar do quinto filme da franquia Velozes e Furiosos, o ex-lutador profissional deu vazão ao seu carisma demonstrando um acertado timming cômico e um porte físico propício aos filmes de ação. Seu personagem em Velozes trouxe novidade a franquia; no ano seguinte defendeu com qualidade a aventura Viagem 2: A Ilha Misteriosa e, recentemente, Terremoto: A Falha de San Andreas e Jumanji: Bem-Vindo a Selva demonstram como o ator representa bem o mesmo papel de sempre.
Retomando pela terceira vez a parceria com o diretor Brad Peyton (responsável por Viagem 2 e Terremoto), Rampage: Destruição Total se baseia na franquia de jogos iniciada em 1986 e tinha a intenção de quebrar a antiga maldição de filmes baseados em jogos, um dilema que o próprio ator viveu na adaptação de Doom. Um dos principais argumentos que dificultam a adaptação de games é a ausência de uma boa narrativa. No filme o absurdo conduz a trama. Um fiapo narrativo sobre uma empresa sem escrúpulos realizando experimento genéticos que dão errado, transformando animais em monstros gigantescos que destroem tudo em seu caminho.
A parte inicial da produção estabelece a amizade entre o primatologista David Okoye (The Rock) e o gorila George, um animal que está em seus cuidados desde a infância, quando foi resgatado. Este início não apresenta grande destaque ao ator como um personagem heroico, mas como um homem comum trabalhando naquilo que gosta. Se em Terremoto a ação se desenvolve logo no início, aqui o enfoque inicial é um breve arco dramático que simboliza a amizade entre Okoye e o gorila, ao mesmo tempo em que observamos as ações inescrupulosas da empresa Energyne, responsável pela criação e infecção do patogênico Rampage.
Em cena, tudo parece estruturado para ser simples, sem nenhum destaque além de uma diversão boba. Os vilões são propositadamente caricatos, refletindo personagens semelhantes da década de 80. A inclusão de outros personagens, como o agente do governo interpretado por Jeffrey Dean Morgan se destaca pelas frases de efeito. E os heróis não buscam benefício próprio, apenas evitar o caos.
Como o mote da trama tem como centro as esperadas batalhas entre os experimentos genéticos, o longa se estende em demasia em seu início. Ganha eficiência quando, finalmente, as três feras estão no mesmo local, destruindo grande parte de Chicago, entregando cenas exageradas, divertidas e bem compostas pelos efeitos especiais. The Rock está visivelmente a vontade dando vazão a seu costumeiro personagem, um exército de um homem só que não tem nenhum medo de continuar lutando mesmo com monstros dez vezes maior do que o brucutu.
Ao não se levar a sério, Rampage: Destruição Total funciona como uma boa diversão, reconhecendo sua trama boba e enfocando seus esforços em agradar o público fiel de filmes descerebrados. Além de quebrar a maldição dos filmes de jogos, com uma arrecadação de mais de 280 milhões ao redor do mundo, apresenta uma diversão descompromissada que mantém o ator como um astro carismático, mesmo interpretando o mesmo – e divertido – papel.
No ano de 1995 chegou aos cinemas um filme de aventura digno das matinês, Jumanji, de Chris Van Alsburg. Produto nostálgico de uma época em que jogos de tabuleiro estavam em baixa, o longa se iniciava nos anos setenta mostrando a infância do personagem que se tornaria Robin Williams, na fase adulta. A continuação de Jake Kasdan parte um ano depois do filme original, ou seja, 1996, mostrando o jovem Alex (Nick Jonas) encontrando o jogo, numa praia de Brantford, mas ignorando-o de imediato. O jogo se adapta e vira um cartucho de vídeo game e daí começa o novo drama.
Já na atualidade, quem da o pontapé inicial é Spencer (Alex Wolff), um estudioso e tímido aluno, que faz as lições do esportista Fridge (Ser’Darius Blain). Também são introduzidos a patricinha fútil Bethany (Mathisa Iseman), além da linda garota feia Martha (Morgan Turner). O quarteto fica de detenção , em uma reimaginação do que seria o Clube dos Cincos, e por acaso acham o antigo vídeo game de Alex. A princípio, eles não associam que o aparelho tem algo a ver com a mansão abandonada e com o perturbado Old Man Vreeke (Tim Matheson), pai do rapaz desaparecido, e a partir daí eles passam a jogar por suas vidas.
Apesar de formulaico o roteiro se sai bem em um objetivo: inversão de estereótipos. O nerd vira o exímio aventureiro Dr. Smolder Bravestone, interpretado pelo carismático Dwayne ‘The Rock’ Johnson, o atleta é o ajudante faz-tudo Moose Finbar (Kevin Hart), um sujeito sem muitas habilidades, a garota popular vira o estudioso homem de meia-idade Professor Shelly Oberon (Jack Black) e a garota impopular vira a máquina de matar que se vale da dança e de seu corpo bonito, Ruby Roundhouse, (Karen Gillen, a Nebulosa de Guardiões das Galáxias Vol. 2), em uma crítica visível ao clichê da femme fatale. Praticamente todos os personagens que aparecem a partir daí são NPCs, e tem falas e ações programadas, aos poucos eles vão descobrindo suas habilidades e fraquezas, além de ter que lidar com o número limitado de vidas, como nos games antigos.
Há apenas dois caracteres diferentes do quarteto inicial que tem alguma substância, no caso o vilão, Van Pelt (Bobby Cannavale), que personifica o mal encarnado e dominador de tudo em Jumanji, e Jefferson Seaplane McDonough, avatar de Alex, que é encontrado depois, já bastante combalido e cansado pelas rodadas anteriores. Apesar do novo filme fazer referências ao seu antecessor, este é uma expansão peculiar do material literário de Alsburg, uma vez que ele explora o mundo em torno do jogo, enquanto o outro filme trazia os eventos que Alan Parish viveu para o mundo real. Nesse sentido, o antigo desenho animado também reunia alguns desses elementos, e ver isso mostrado em tela, live action e com um bom orçamento é realmente bastante divertido.
Kasdan consegue aumentar o escopo da aventura e a escalada de suspense se torna ainda mais rica graças ao carisma distribuído entre os jogadores. Black está engraçado como há muito não estava e funciona maravilhosamente como coadjuvante, The Rock apresenta as nuances necessárias para mostrar um personagem inseguro e Gillen desconstrói o perfil de mulher sensual da cultura pop. O escapismo é ainda melhor construído por todos esses fatores citados, e ainda traz um Kevin Hart mais à vontade, diferente Um Espião e Meio, que estrelou junto a Johnson. Jumanji: Bem Vindo à Selva funciona principalmente pelos seus personagens, que ainda que não sejam profundos, são críveis e fáceis de simpatizar.
A coisa que mais chamou atenção quando o primeiro teaser de Velozes e Furiosos 8 surgiu ao mundo foi o fato de Dominic Toretto, ser, aparentemente, o vilão da nova empreitada. Uma decisão ousada, extremamente arriscada e que perdeu sua originalidade no mesmo dia com a apresentação do teaser do quinto filme dos Transformers, intitulado de O Último Cavaleiro, onde o líder dos autobots, Optimus Prime, também se rebela contra seus amigos. No caso de Toretto, os trailers seguintes só confirmavam o antagonismo do anti herói, atraindo a curiosidade até daqueles que conhecem, mas não são tão fãs da multimilionária franquia.
Há tempos, Velozes e Furiosos deixou de ter como tema principal as corridas de carros “tunados”, equipados com dezenas de contadores, caixas de som e muita, muita velocidade. Saiu o tunning e entrou o gênero de assalto, com as mais diversas e loucas perseguições de carro, o que dá espaço para os produtores fazerem o que bem entendem com a franquia, sem se preocupar muito com o roteiro e com os destinos dos personagens. Afinal, o vilão de outrora é o herói de agora e vice-versa, sendo que a mesma regra vale para personagens mortos ou desaparecidos. Essa loucura desenfreada e permitida pelos executivos faz com que os produtores se espelhem em Missão: Impossível, por exemplo, onde, na verdade, se busca colocar Tom Cruise em alguma cena insana que supere sempre a do filme anterior. Velozes e Furiosos 8 possui 3 dessas cenas e é por isso que divido o filme em três grandes terceiros atos.
Após uma breve introdução para lembrar que a franquia ainda tem a ver com corridas de rua, Dominic Toretto (Vin Diesel) é escalado por Luke Hobbs (Dwayne Johnson) para uma missão super secreta em Berlim, onde sua equipe deveria recuperar um dispositivo de pulso eletromagnético. A equipe composta pelos rostos já conhecidos de Letty (Michelle Rodriguez), Roman (Tyrese Gibson), Tej (Chris “Ludacris” Bridges) e que ganhou a adição de Ramsey (Nathalie Emmanuel), do filme anterior, obtém sucesso na recuperação do artefato, mas logo é traída por Toretto, que foge com o dispositivo. Por conta do ocorrido, Hobbs é detido numa prisão federal de segurança máxima, enquanto o restante da equipe passa a figurar dentre os 10 mais procurados da lista da Interpol. Com essa premissa, o que se vê daqui pra frente é um filme louco, oitentista e que não se preocupa muito com a qualidade em termos de cinema. Aparentemente, a intenção era somente entreter o público e nada mais. Conseguiram.
Ainda que o filme tenha como objetivo trazer cenas de ação megalomaníacas, o roteiro de Chris Morgan (que assina seu sexto Velozes e Furiosos) se preocupa em amarrar a “nova fase” da franquia iniciada no quarto filme com os acontecimentos que culminaram com o final de Velozes e Furiosos 7. Com isso, muito se especulou sobre o que teria feito Toretto mudar de lado e trair sua própria família e a resposta daqueles que se arriscavam a responder era sempre a mesma: ele está sendo chantageado, o que, de fato é até meio óbvio. E ainda bem que o que motiva Toretto a tomar atitudes drásticas é algo que NINGUÉM esperava.
Por conta de tais acontecimentos, se descobre que Toretto está trabalhando com uma ciber terrorista conhecida como Cipher (Charlize Theron) e se Dwayne “The Rock” Johnson já havia trazido fôlego à franquia como a montanha de músculos, ignorância e carisma, conhecida como Hobbs, agora, outro personagem ganha não só espaço, mas também o público: Deckard Shaw, o temido vilão do filme anterior e novamente vivido por Jason Statham, que pode ter cravado seu lugar como personagem fixo. Por serem rivais e se odiarem, Hobbs e Shaw possuem uma dinâmica e uma química interessante em tela que vai muito além das diversas e incessantes provocações que um tem para com o outro, tirando risadas do público em praticamente todos os momentos em que trocam “carícias verbais”. Aliás, esse filme é de longe aquele que possui mais humor. Roman, como sempre, sofre com as piadas dos colegas e o personagem se assemelha mais ainda com o Roman de Mais Velozes e Mais Furiosos, com sua predileção por veículos chamativos. Kurt Russel também retorna como o Sr. Ninguém, trazendo para o time o personagem de Scott Eastwood, carinhosamente apelidado pela equipe de Sr. Ninguenzinho, um agente novato que acha que sabe tudo, mas que não passa de um menino bobo que cheira a fraldas e que sofre muito bullying dos personagens.
No que diz respeito à justa direção, F. Gary Gray, que tem em seu currículo bons filmes, ousa apenas nas principais cenas de ação, apostando sempre naquilo que já deu certo em algum outro lugar. Portanto, será fácil perceber que muitas das cenas já foram vistas em algum outro filme. Outra coisa que fica clara é a dificuldade que o diretor teve de contar a história em locais onde há muita população ou pouco espaço físico, como é o caso das cenas rodadas em Nova Iorque, onde boa parte dos carros da cidade é controlada remotamente por Cipher. Ironicamente, os fracos acontecimentos na metrópole americana preparam o filme para uma grandiosa cena num mar congelado na Islândia. Se você gosta de Mad Max: A Estrada da Fúria, perceberá que Gray, trouxe toda a loucura no deserto de George Miller para o gelo, não poupando gastos e fazendo tudo com efeitos práticos.
Respondendo o que deve ser a maior dúvida de todas, a ausência de Paul Walker não é sentida. Provavelmente, esse é o maior trunfo do filme, o que faz com que o legado do ator seja mantido, mas também, seguindo em frente com a história, dando lugar a novos personagens e permitindo, também, o retorno de outros. Possivelmente, isso também explica as quase inexistentes referências a Brian O’Conner no filme.
De fato, Velozes e Furiosos 8 aposta na vitória jogando em casa contra o lanterna do campeonato, o que injeta ânimo (e dinheiro) para o nono e o décimo filme que já estão em fase de desenvolvimento. O único problema fica por conta dos problemas entre Vin Diesel e The Rock, publicamente admitidos nas redes sociais, o que alimenta ainda mais a expectativas (mais uma vez, de novo e de novo).
O nome brasileiro, demasiadamente extenso, busca uma incessante vontade de esticar a falta de conteúdo do filme a partir de seu título. Na primeira cena, o grafismo da catástrofe é mostrado, com um deslizamento leve em uma montanha, que remonta a perícia de Brad Peyton em assinalar imagens visualmente deslumbrantes. Ray é o chefe da equipe de resgate, sendo a rocha que fundamenta a equipe, comprovada pelos músculos de Dwayne Johnson. A tônica do filme é intimamente ligada à verossimilhança moderada do serviço de auxílio, incluindo a ação intempestiva do chefe, que não resiste a uma cena de ação e já se lança rumo a momentos de adrenalina extrema.
A vida pessoal de Ray é bagunçada: enfrentando um difícil divórcio, o rompimento com Carla Gugino (Emma), e um forçado afastamento de sua filha Blake, vivida por Alexandra Daddario, o que já demonstra a maravilha genética em que o personagem esteve envolvido. Qualquer remorso é pouco. O ressentimento piora ao perceber que Emma se mudará para a casa de seu novo namorado. A tramoia rivaliza tempo e importância com a premonição de terremotos feita por Lawrence Hayes (Paul Giamatti) e Kim Park (Will Yun Lee), um advento interessante que revela uma tragédia ainda pior que a prevista anteriormente.
O heroísmo repleto de clichês não é exclusividade de Ray, pois a maioria dos que envolvem Blake age impulsivamente querendo salvá-la de qualquer modo, especialmente os que têm pretensão de pleiteá-la como par romântico. No entanto, ainda cabe a Ray os resgates gerais, mesmo com ajudas eventuais de personagens genéricos, que demonstram talentos incomensuráveis do mero acaso. O letreiro de Hollywood novamente destruído é o clichê que representa o intenso fim da indústria cinematográfica repetitiva, vista em espécimes como Terremoto.
O brutamontes super avantajado segue sua trajetória de tosca evolução apolínea, repleta de julgamentos morais e justiçamento a quem merece punição, fazendo uma valorização absurdamente moralista por tabela. As preces a deus, feitas por cientistas, fazem lembrar o quão pueril e contraditório é o roteiro, que atrela a tragédia natural ao trauma comum da perda de um ente querido, pondo as duas celeumas em níveis de igualdade, piorado pelo recente retorno do casal estabelecido. A espiral de pieguice ganha mais força ao demonizar a ação dos covardes, tratando o desespero como algo totalmente maniqueísta.
Os relatos do futuro Adão Negro não poderiam ser mais cafonas. É assustador como um filme que reúne Gugino e Daddario em poses moderadamente provocantes consegue não entusiasmar seu público, nem com o decréscimo das roupas das duas. Terremoto: A Falha de San Andreas não serve nem como conteúdo de inspiração para “amor próprio”, tampouco faz afeiçoar pelos personagens e seus dramalhões, e sequer faz rir.
O antigo The Rock é tão gigantemente poderoso que revela ao final poderes extra sensoriais, chegando a ponto de ressuscitar sua filha na marra, mostrando que a esperança é a base da vida, e, claro, que deus é pai, e não padrasto. O disparate só não é pior que a imbecil propaganda estadunidense, com a bandeira tremulando, fator que eleva a pieguice a níveis estratosféricos, destruindo qualquer hype em relação ao filme catástrofe de Peyton.
O terceiro filme da primeira trilogia X-Men só não foi mais criticado porque nenhum fã do universo Marvel pensou em formar uma religião anti-Brett Ratner. O diretor levantou a cólera de quem se acostumou à excelência e amor-de-fã de Bryan Singer e de quem não engoliu uma história que não tratava tal universo de forma especial. Com os pingos nos is, é certo que a estética de Ratner não possui muita personalidade e outros atrativos destoantes das demais, quiçá superior, a ponto de honrar certas lendas populares que, vez ou outra, superam em potencial e vigor o próprio toque de Midas desse ou daquele cineasta, corajoso o bastante pra desmentir profecias negativas a seu respeito, no tratamento de certo universo. É o caso de Hércules, o último Batman Beginsdo semi-deus.
Uma figura icônica e previsível em tudo que faz, onipotente em imagem e não-semelhança perante o elenco de apoio, que, obviamente, gira ao seu redor feito o sol da produção que é, de fato. Só que o que já foi transportado mais de 25 vezes ao Cinema merece, ou em tese merecia, uma visão bastante particular para justamente tratar melhor sua mitologia e atualizar certas questões através de um cenário extremamente rico e vasto de símbolos de uma forma ímpar e contra a semelhança da overdose de iniciativas tomadas ao longo dos anos. A simbologia é imediata à vista de Dwayne Johnson, bom moço, leal e confiável, que dá presente às crianças enquanto as ensina sobre o que é ser um herói e fazer o certo, um verdadeiro político ancestral, cujos atos e músculos falam por suas ideologias. No caso, sua atuação SylvesterStallone do ano, mesmo com a poeira das explosões de Os Mercenários 3 ainda por abaixar em 2014.
Contudo, Johnson foi a escolha certa para o papel. Perante a (divertida e clichê) proposta de ação, exala virilidade e convicção durante suas missões homéricas em nome de um reino obtuso, comparável aos 300 de Esparta apenas pelo guerreiro mortal aparentemente invencível na linha de frente, inspirado no Gladiador de Russell Crowe– mas sem um Russell Crowe para interpretá-lo, essa é a verdade. O guerreiro olímpico de Johnson é um cérbero perturbado por não poder descansar suas três cabeças ao mesmo tempo – um conflito que rende uma única boa cena, já na reta final do contexto, mas antes tarde do que nunca.
Se as concepções visuais e as alegorias sonoras de Mel Gibson em Coração Valente ainda inspiram inúmeros épicos, uma nova e inédita apresentação da estética de grandes cenas de ação ao ar livre, sob o luar ou à luz do sol, parece ser uma tarefa maior no Cinema que as doze clássicas às quais Hércules sobreviveu em sua mitologia original. É louvável, ao menos, o leque de referências empregado nos belos cenários de Tróia, O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia (quem precisa de coerência?) em contraposição ao decadente reaproveitamento do fraco estilo de Fúria de Titãs, Os Imortais e Percy Jackson (que Zeus perdoe os envolvidos no último exemplo), enquanto num básico uso do formato widescreen, exércitos e impérios liderados pelo fortão marcham no que parece, em algumas cenas, um faroeste americano, sem armas ou viúvas, mas com bigas, flechas, gregos e centauros no lugar (o que é coerência?). É tudo uma questão de adaptação, de influências positivas, com um personagem-título mais limitado do que à vontade, num figurino de bronze que não empolga muito ou faz deslumbre visual.
Brett Ratner evoluiu (um tantinho assim, ó!) desde o ultra-criticado O Confronto Final, de 2007, e suas outras tentativas, desde então, na realmente árdua tarefa de empolgar uma plateia cada vez mais exigente, como naturalmente tende e deve ser – precisa ser, pois é sempre o público o estímulo principal para que a revitalização de ideias não seja adiada, de tempos em tempos, seja quanto tempo durar uma tendência –, mas ainda não poderia caber ao diretor de A Hora do Rush 3 a tradução, em uma visão moderna de uma figura milenar, a ser melhor explorada em projetos futuros. No final, Ratner não ofende ninguém com seu Hércules, pelo contrário, diverte e conta uma história de forma competente – em determinada cena importante, a sonoplastia e edição ganham até uma nítida e direta inspiração do gigante Era Uma vez no Oeste, o que mostra até onde foram as intenções de quem fez a obra acontecer. Sem contar a meia dúzia de momentos bacanas ao longo da projeção e um final que faz justiça ao poder físico e moral do primeiro Schwarzenegger da história.
Após passar alguns anos dedicando-se aos blockbusters de uma popular e milionária franquia, um cineasta resolve respirar novos ares. Orçamento baixo (estimado em 26 milhões de dólares), roteiro baseado em fatos reais… é de se imaginar algo mais intimista, mais “cabeça”, talvez? Não quando estamos falando do explosivo Michael Bay. Dinheiro e efeitos especiais à parte, a alma do diretor permanece em Sem Dor, Sem Ganho – uma divertida comédia de ação que até surpreendeu os detratores deste gênio incompreendido.
Situada em meados dos anos 1990, a trama acompanha um trio de fisiculturistas de Miami que decide tentar um grande golpe pra mudar de vida. Daniel Lugo (Mark Wahlberg) é um personal trainer que assiste a uma palestra de auto-ajuda e sai iluminado: ao invés de ficar reclamando da vida, ele vai agir para ter aquilo que julga merecer. Com isso, entenda-se sequestrar um endinheirado frequentador da sua academia (TonyShalhoub) e “convence-lo” a transferir seus bens pra ele. Os parceiros de crime de Lugo são Adrian Doorbal (Anthony Mackie), um simplório marombeiro que enfrenta problemas de disfunção erétil; e o ex-presidiário arrependido e hoje cristão, Paul Doyle (Dwayne “The Rock” Johnson). Atrapalhados até dizer chega, os fortões agem na base do improviso e tentativa e erro (e são muitos, muitos erros), e acabam tendo que se dedicar mais a consertar as próprias furadas do que a aproveitar o sucesso do plano.
Como citado anteriormente, Michael Bay não deixou de lado suas marcas. Aspectos visuais impecáveis, apesar do orçamento reduzido, algo que faz lembrar da estreia de Bay em longa-metragens. O primeiro Bad Boys, de 1995, também se passava em Miami e trazia a ensolarada fotografia que aqui se repete. Ainda que Sem Dor, Sem Ganho tenha consideravelmente menos cenas de ação (pelo menos para o padrão do diretor), o ritmo ainda é frenético, com cortes e diálogos rápidos. Mesmo em cenas expositivas, a sensação de correria permanece. E claro, estão lá as câmeras lentas, a luz do sol estourando em diversos reflexos, e até mesmo uma explosãozinha básica, com direito ao trio de “heróis” de costas para ela, andando lentamente.
O que acaba sendo um diferencial do filme é que o roteiro justifica – ou pelo menos acompanha – esses exageros visuais. Quando algo se anuncia como “baseado em fatos reais”, nossa reação normal é ligar o desconfiômetro e considerar a velha “magia do cinema”. Mas neste caso isso não afeta tanto, primeiramente porque ninguém duvida que os norte-americanos sejam capazes de maluquices. E depois, porque o filme se assume, desde o início, como um causo insanamente divertido, sem exibir qualquer pretensão documental/moralista.
Nessa pegada, é uma diversão à parte especular até que ponto foram intencionais as zoações com o Sonho Americano. Começando com o protagonista dizendo que os EUA passaram de “um punhado de colônias mirradas” para “o país mais bombado do mundo” através de muito suor e trabalho duro. Conceitos de auto-ajuda tipicamente rasos se fundem tão bem, não só com o ideal capitalista estadunidense do “self-made man“, mas também com o simples (e povoado por mentes simples) universo da musculação. Impagável. E provavelmente involuntário, ou alguém acredita que Bay e os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely se preocuparam em trabalhar camadas de ironia?
Os atores que acompanham toda essa proposta escapista estão muito bem encaixados em seus papéis. Mark Wahlberg meio que repete seu papel em Ted, como um palerma que não se toca do quanto é estúpido. E, por se levar a sério e agir de acordo, acaba sendo muito mais engraçado do que seria se tentasse fazer humor. Abandonando um pouco a pose de fodão, The Rock também diverte como o incrivelmente ingênuo Doyle. Seja se entregando a Jesus ou à cocaína, ele consegue ser o mais tapado do grupo. Anthony Mackie e Rebel Wilson, ambos estereótipos, nada de especial. Ed Harris, ok trabalhando no automático. E Tony Shalhoub, o único que atua no filme, consegue fazer um personagem tão asqueroso que não desperta simpatia em momento algum, mesmo sendo uma vítima inocente. Ah, sim: a gatíssima Bar Paly confirma a habilidade de Michael Bay de transformar magrelas em deusas da gostosura na telona.
Sem Dor, Sem Ganho não é, como alguns exagerados apontaram, o melhor trabalho de Michael Bay (isso só mostra que chega a ser irracional o ódio que muitos têm dele). É uma aventura descompromissada, um entretenimento bem executado. E deixa a interessante lição de que limites podem fazer bem ao diretor. Resta saber se ele entendeu isso, afinal, o quarto Transformers vem aí.
Em 2009, G. I. Joe – A Origem do Cobra esteve em minha lista de piores estreias do ano. Mesmo para um filme pipoca, o roteiro mal executado me incomodou, em destaque para os diálogos risíveis e as cenas de ação que equivaliam personagens do bem compatíveis com suas versões malvadas.
A qualidade duvidosa não impediu que a história dirigida por Stephen Sommers fosse rentável. Alcançou o primeiro lugar nos mais assistidos por semanas consecutivas e sua receita foi de aproximadamente 300 milhões de dólares. A quantia necessária para que uma continuação fosse obrigatória.
Não é necessário ter assistido ao primeiro longa metragem para se compreender G. I. Joe – Retaliação. Logo após a cena inicial, em que vemos a equipe dos Joe, uma narrativa em off anuncia o grupo e seus principais soldados, com bom grau de didatismo. Também porque, embora sequência da trama anterior, a história é parcialmente renovada quando, em um atentado, quase todo o grupo é dizimado. Tirando de cena um elenco liderado por Channing Tatum e colocando um dos atores de ação mais divertidos dos últimos tempos depois de Jason Statham: Dwayne “The Rock” Johnson.
O minguado grupo sobrevivente sai a procura dos responsáveis pela retaliação e se deparam com a organização Cobra que tomou o lugar do presidente dos Estados Unidos e, como bons e antigos vilões da década de oitenta, tem como pretensão o domínio global através do medo da destruição nuclear.
A produção de G. I. Joe 2 sofreu com diversos atrasos. Foi convertida em terceira dimensão e, por conta de exibições-teste negativas, a trama foi modificada, criando um novo personagem para sustentá-la. Coube ao veterano Bruce Willis trazer um pouco de atenção para o filme, sendo a representação máxima da trama como o soldado que inspirou o grupo dos Joe e que ajuda-os a realizar a ação.
A presença de Willis em cena é bem burocrática. Está situada em poucos momentos da trama apenas para que se compreenda sua presença como um mentor que volta ativa. A leve mudança estrutural do roteiro deixa-o melhor e prova que Willis, mesmo repetindo o papel de sempre, ainda consegue ter um publico fiel.
Ao contrário das cenas de ação da primeira produção, que exageram em colocar personagens emparelhados para lutar entre si, há pouca luta corporal nesta sequencia e muito menos efeito em câmera lenta. A ação é mais fluida e acompanha o desenvolvimento da trama, centrada em derrubar a ascenção dos Cobra, um grupo mais interessante do que o dos mocinhos, alias. Além da boa substituição de Tatum pelo combo The Rock + Bruce Willis que dá mais credibilidade a história de ação pipoca.
Sem nenhum arroubo criativo, mas também sem cair em clichês demasiadamente risíveis e sem graça, o filme entrega a ação e o divertimento descerebrado que promete, deixando no ar a possibilidade de que o velhinho Willis esteja presente em mais uma continuação futura.
Era uma vez uma franquia cinematográfica na qual roteiro e até mesmo cenas de ação eram apenas uma “costura” pra exibir veículos tunados em corridas clandestinas pelas ruas. Após um primeiro filme interessante, vieram dois abaixo da crítica, que agradaram apenas os aficionados por masturbação (visual ou não) com carros super estilizados. A bem-vinda virada veio a partir do quarto filme, quando as tramas passaram a mostrar uma equipe de ladrões gente boa promovendo assaltos em alta velocidade. Os carros continuam lá, lógico, mas a ação deixou de focar tanto nos rachas e abraçou o estilo “massa véio” com explosões e até porradaria.
Os “puristas” podem até reclamar, mas é inegável que Justin Lin (diretor) e Chris Morgan (roteirista) souberam revitalizar a série Velozes e Furiosos, consolidando-a como o maior sucesso da Universal Pictures nos últimos anos. Não é à toa que um sétimo filme está confirmado – e já para 2014! Porém, os produtores poderiam fazer uma mudança. Ao invés de no final exibir o tradicional aviso alertando para não tentar reproduzir as cenas etc., seria mais válido mostrar no começo uma mensagem do tipo “Atenção: desligue seu cérebro antes de assistir. Bom entretenimento”.
Nesta sexta aventura, Toretto (Vin Diesel) e sua turminha do barulho estão espalhados pelo mundo, curtindo os milhões que roubaram no Rio de Janeiro. Eis então que ressurge o o agente Hobbs (Dwayne “The Rock” Johnson, cada vez mais determinado a interpretar o Hulk sem precisar de CGI), pedindo ajuda da gangue para capturar um perigoso grupo de criminosos/terroristas internacionais. Além de prometer perdão total para todos os crimes cometidos pelo bando – sabe-se lá como ele teria poder pra isso –, Hobbs revela a Dom que Letty (Michelle Rodriguez) está viva e trabalhando com o vilão da vez, Owen Shaw (Luke Evans).
Se alguém ainda tinha dúvidas sobre Velozes e Furiosos se passar em um universo paralelo, onde até as leis da Física são diferentes (como esquecer o cofre de várias toneladas sendo arrastado por dois carros como se fosse aquelas latinhas de recém-casados?), este sexto filme acaba com elas. Um tanque de guerra andando numa rodovia a uns 180 km/h; Toretto VOANDO a la Superman pra salvar sua amada – e capôs de carros amortecem quedas, lembrem-se disso; uma pista de aeroporto com no mínimo uns 100 km de extensão… Impossível levar qualquer coisa a sério. Seja pela empolgação visual das cenas ou pelo humor involuntário, é diversão garantida.
Outro fator a ser louvado é o respeito pela própria mitologia. Nesse mundo de tantos remakes, reboots, prequels e o diabo a quatro, é muito legal ver uma franquia chegar ao sexto capítulo como uma única história em progressão, refereciando o tempo todo os filmes anteriores (sim, é vital ter assistido aos outros para se situar no que está acontecendo). Tudo bem, a história não é nenhum primor e os personagens são caricatos e rasos, mas ei, é o que tem pra hoje. Paul Walker ainda está lá, mas perdoemos a produção por isso. Um filme que nos brinda com Michelle Rodriguez vs. Gina Carano certamente tem crédito.
E até mesmo o complicado terceiro filme, Tokyo Drift, finalmente é encaixado na cronologia. A cena pós-créditos cuida disso e já apresenta o próximo vilão, ninguém menos que O ATOR MAIS LEGAL DO MUNDO. Mesmo com Justin Lin fora da direção, Velozes e Furiosos 7 já é o melhor da série.
Mais uma tentativa de Dwayne Johnson de encarar um papel sério num drama, não sendo apenas “o fortão” do elenco. Infelizmente, a tentativa não passou disso. The Rock não consegue dar peso e presença a seu personagem. Contudo, esse problema não é exclusividade sua. Mesmo que não fosse dele o papel de John Matthews, o pai empenhado em ajudar o filho de qualquer forma, o filme ainda estaria longe de ser considerado bom. Os demais personagens, assim como a trama, carecem de verossimilhança e carisma. É difícil dar credibilidade a uma estória em que o protagonista procura informações sobre cartéis e chefões do tráfico na Wikipedia.
Matthews tem uma construtora e, coincidentemente, um dos funcionários – Daniel James (Jon Berntha, o Shane de The Walking Dead) – é um ex-presidiário que, coincidentemente, foi preso por tráfico e, coincidentemente, conhece um traficante local e topa (sem muita resistência) apresentar o patrão ao traficante que, também sem muita resistência, aceita testar o serviço de transporte proposto por Matthews, e por aí vai. As coincidências se sucedem de maneira quase vergonhosa e a maioria dos eventos se desenrola de modo tão simplista e óbvio que os momentos de tensão – se é que podem ser chamados assim – passam praticamente despercebidos.
Os personagens são rasos, boa parte deles não parecem ter uma motivação para seus atos, alguns aparecem e desaparecem do roteiro de acordo com a necessidade – a ex-esposa de Matthews, assim como a esposa atual e sua filha, por exemplo, não têm qualquer relevância, sua presença (ou ausência) simplesmente não mudam em nada o rumo da narrativa. Fica difícil para o espectador criar qualquer identificação e sequer se importar com o destino dos personagens, mesmo de Matthews ou de seu parceiro circunstancial, James – cuja família também pouco influencia no rumo dos fatos.
Some-se a isso a atuação em “piloto automático” de Susan Sarandon, o excesso de closes e planos-detalhes, as cenas desnecessárias, a insistência e a frequência exagerada de discurso anti-drogas nos diálogos, além de o espectador ser obrigado a ver o protagonista apanhando de quatro drogados – algo inadmissível em se tratando de The Rock – e tem-se uma estória que se arrasta por intermináveis 112 minutos.
Neste filme, é tudo tão moderado (pejorativamente falando), tão morno que dá saudades daquela selvageria estilizada dos filmes de Braddock. É um daqueles roteiros que ficaria bom se tivesse sido feito nos anos 80, com algum dos brutamontes da época – Charles Bronson, Chuck Norris, Stallone ou Schwarzenegger – no melhor estilo “um destemido contra tudo e contra todos”. Desse modo, ao menos, os furos de roteiro, os clichês, a falta de consistência seriam mais facilmente perdoados e sem dúvida o filme seria muito mais divertido.