Tag: channing tatum

  • Crítica | Free Guy: Assumindo o Controle

    Crítica | Free Guy: Assumindo o Controle

    Free Guy: Assumindo o Controle estava programado para lançamento em julho de 2020. Adiado por duas vezes desde o início da pandemia, a película finalmente chegou aos cinemas em agosto de 2021. Os trailers já geravam uma grande expectativa, mas o timing do lançamento foi quase perfeito.

    Do início de 2020 para cá, tivemos vários escândalos envolvendo a indústria dos games: o lançamento de Cyberpunk 2077 entupido de bugs e defeitos pela CD Projekt Red, seu descaso com os consumidores, as denúncias de empregados da produtora de assédio moral, horas extras em demasia sem a mínima remuneração, o escândalo de assédio moral e sexual envolvendo a Activision Blizzard e Ubisoft que foi totalmente ignorado pelos chefões das empresas, além do racismo e sexismo por parte de grandes expoentes da comunidade gamer, para ficar somente nos mais notórios. Tudo bem que Free Guy é uma comédia feita para a família, mas o longa dirigido por Shawn Levy aborda de maneira interessante e leve esses problemas que há bastante tempo vêm assolando o mundo dos videogames.

    No filme, Ryan Reynolds vive Guy, um NPC (personagem não jogável) de um jogo de mundo aberto no estilo de GTA. Guy repete diariamente a sua rotina até que ganha consciência própria e resolve quebrar a sua programação, passando a agir por conta própria. Em um desses momentos, ele encontra uma personagem que age de maneira peculiar dentro daquele mundo. Ao conseguir estabelecer contato, a jogadora mostra para Guy que ele vive em um mundo virtual de um jogo de ação, mas que em breve esse mundo irá ser desligado. É quando o protagonista toma a decisão de ajudar a jogadora a manter esse mundo vivo, plano esse que trará serias repercussões no mundo virtual e no mundo real.

    Roteirizado por Matt Lieberman e Zak Penn se equilibra muito bem com sua narrativa dividida entre os eventos do mundo virtual e real. Enquanto no mundo virtual vemos uma inspirada paródia de jogos como Grand Theft Auto, Fortnite e outros jogos no estilo sandbox, no mundo real a narrativa traz críticas à práticas tóxicas da comunidade gamer, ao consumismo desvairado e à atuação predatória das grandes empresas de videogame. Tudo isso é feito de maneira muito bem acertada, com um deslize mínimo aqui e ali, o que não compromete em nada a narrativa. As piadas visuais são muito bem sacadas e existem diálogos espertíssimos durante todo o filme. Talvez o único ponto capaz de gerar controvérsia é a interpretação extremamente caricata de Taika Waititi. Ainda que a intenção seja mostrar alguém inescrupuloso que não aceita ser contrariado, em muitos momentos o ator/diretor infantiliza demais o personagem.

    A narrativa central em torno de Guy denota uma inspiração em O Show de Truman. Seu despertar e sua jornada de autoconhecimento vai ganhando contornos de reality show à medida que a comunidade começa a observar com atenção suas ações e seu desenvolvimento no mundo virtual. Em paralelo, a subtrama envolvendo Jodie Comer, a programadora que invadia o jogo como Molotov Girl, seu avatar em Free World que desperta o amor de Guy, é feita com bastante sensibilidade, mas sem cair no sentimentalismo barato, já que ela batalha para que sua propriedade intelectual que pode revolucionar todo o mundo dos games não se torne somente uma ferramenta para arrancar dinheiro dos usuários. Dentro disso tudo, são amarradas as críticas mencionadas no parágrafo anterior, que apesar de não serem escancaradas, são evidentes o suficiente para gerar questionamentos internos nos espectadores.

    É muito interessante observar como Ryan Reynolds rende quando tem um diretor que sabe conduzi-lo da forma correta. Nos últimos tempos, o ator vinha sempre interpretando variações de Deadpool e de seu próprio comportamento em redes sociais, o que vem o tornando extremamente repetitivo. Porém, o diretor consegue arrancar uma boa atuação de seu protagonista, com ótimas nuances de comédia e drama quando o momento se faz necessário. Jodie Comer mostra porque vem se destacando em Hollywood, a protagonista de Killing Eve entrega uma atuação comprometida e cativante tanto quando está no mundo real, como quando está no virtual. Já Waititi, como já dito, entrega uma atuação vacilante em certos momentos, mas nada que seja comprometedor. Entretanto, o grande destaque é Lil Rel Howery, o ator que já foi muitíssimo bem como o amigo de Daniel Kaluuya em Corra!, faz uma atuação sensível e divertida, roubando todas as cenas em que aparece, além de ser responsável pelos grandes momentos emocionais do filme. Os demais atores não comprometem e o longa ainda consegue espaço para diversas participações especiais.

    Em resumo, Free Guy é um divertidíssimo filme que vale demais a pena ser assistido. Não posso esquecer de dizer que o filme é um roteiro original, ou seja, não é baseado em nenhum livro, história em quadrinhos ou outra produção. Tomara que no meio da enxurrada de adaptações, remakes e reboots continuem a aparecer ideias originais boas assim.

  • Crítica | Coach Carter: Treino Para a  Vida

    Crítica | Coach Carter: Treino Para a Vida

    Thomas Carter é um diretor especializado em filmes inspiradores e motivacionais. Coach Carter: Treino Para a Vida é um longa que narra a história real de Ken Carter, um dono de loja de artigos esportivos, que assume a tarefa de treinar um time de basquete de sua antiga escola. O personagem icônico de Samuel L. Jackson é um homem rígido, com bastante entendimento do esporte e seu caráter transformador, dentro e fora das quadras.

    O filme é produzido pela MTV e já em seu início fala a respeito de Ty Crane, um jogador fictício do Colégio St. Francis que seria o próximo LeBron James. O drama é apresentado de uma forma rápida e apressada. A narrativa se vale de muitas liberdades criativas, e para uma história biográfica isso é bastante complicado.

    O time do Oilers é formado por alguns garotos jovens, como Jason Lyle (Channing Tatum); Damien Carter (Robert Ri’chard), filho do treinador; o latino metido com bandidos Timo Cruz (Rick Gonzalez); o promissor jogador Junior Battle (Nana Gbewonyo); o esperto e rápido Worm (Antwon Tanner); e claro, Kenyon Stone (Rob Brown) que tem que lidar com questões de paternidade não-planejada. Cada um deles tem um certo tempo de tela, e isso o torna arrastado em diversos momentos e se perca em meio a narrativa.

    Ao menos a abordagem não é simplista quanto a jornada, os jogadores variam entre o receio de sair do time e insubordinações, mas não é uma historia livre de percalços, e os métodos do treinador são constantemente contestados pelos alunos. Além disso tudo, Carter tem dificuldades extracurriculares, pois ele passa da simples função de técnico do time de basquete a educar seus jogadores. A intimidade desses calouros é pesada, alguns tem apenas no basquete uma alternativa para um futuro, como é com Battle e sua mãe, interpretada por Octavia Spencer, e toda a sequência entre a personagem e o professor é um bom exemplo de que não é só a postura dos meninos que é incorreta, e ele também tem que ceder em alguns pontos, dosando isso com suas cobranças contumazes.

    O filme gira todo em torno dos métodos, e mesmo com mais de duas horas de duração, mesmo com momentos dramáticos bem graves, há uma preocupação tão grande em adequar os garotos que boa parte da personalidade deles é tolhida. O fato deles terem que utilizar gravata nos dias de jogo conversa com uma postura que David Stern, ex-comissário da NBA empregou na liga profissional, como modo de reprimir o visual ligado a cultura hip-hop entre os jogadores, e essa escolha, pelo código de vestimenta é discutida até hoje como uma atitude preconceituosa do ponto de vista racial. Ter que esconder seu passado e cultura é no mínimo triste, e é um bocado complicado que um dos valores defendidos aqui seja algo semelhante.

    Coach Carter é um filme irmão de Duelo de Titãs, trocando obviamente o futebol americano pelo basquete, com ambos baseando-se em histórias reais. A MTV faz um serviço bem semelhante ao que os estúdios Disney fizeram, ainda que resulte em mais situações complicadas. Os momentos decisivos são bem diferentes em abordagem, mas até o momento agridoce das finais são utilizadas como forma de aprendizado.

  • Crítica | Logan Lucky: Roubo em Família

    Crítica | Logan Lucky: Roubo em Família

    A família Logan têm uma maldição (metafórica, no filme) de se ferrar em tudo o que fazem para melhorar de vida, alocados em um sistema frustrante chamado capitalismo e que usa de meritocracia para ser o mais deliberadamente exclusivista possível. A saber, esse quadro sociopolítico rende boas tramas desde muito tempo, como a família que abandona tudo em busca de algo melhor em As Vinhas da Ira; só que o ano era 1940, e o demônio chamado Grande Depressão ainda rondava todas as veias de uma gente desesperada, e as veredas de um país nada menos do que continental.

    Há sim um paralelo situacional a se fazer, aqui, uma vez que tal desespero atemporal ainda volta a nos assombrar na nossa tão sonhada estabilidade financeira a cada nova crise, a cada novo impacto a favor de poucos e ao custo de muitos, sendo que a frustração nessa parcela maior do povo combina de ser a mesma do que já foi, a quase cem anos atrás. O irônico mesmo no filme de Steven Soderbergh, um dos melhores diretores americanos em atividade, junto de James Gray e Quentin Tarantino, é que os Logan não são “exatamente” aquela gente de bem do filme de John Ford

    Quem pode dizer que os dois irmãos (Adam Driver e Channing Tatum) e alguns amigos não estavam curtindo ser os Robin Hood’s deles mesmos, roubando toda a grana que circula no subsolo de uma prestigiada corrida de carros para finalmente viverem bem e, no fundo, vingarem o sistema que os limita? Dramatizando e ironizando uma falta de opções simbolicamente destacada pela falta do braço esquerdo de um dos irmãos, veterano de guerra e que volta para os Estados Unidos numa pequena comunidade para ser pobre, amargurado e para trabalhar sendo deficiente físico num boteco cheio de problemas, Logan Lucky: Roubo em Família faz o que cada filmografia nacional pode fazer, representando de formas verídicas (ou não) a cultura e os trejeitos, os sotaques e os valores da sua população em determinada situação, ou período histórico.

    Tudo bem que Soderbergh não é um Sean Baker para retratar a realidade social do seu país da maneira mais hipnoticamente informal possível, mas desde antes do premiado Traffic: Ninguém Sai Limpo, o cara representa tão bem o povo americano ordinário nas telas que é impossível não se identificar, se divertir e tomar apreço pelos irmãos que, dada a astúcia e ousadia empregada nesse assalto mirabolante (um dos envolvidos escapa da prisão, comete o roubo e volta para a enfermaria da penitenciária em menos de 24 horas, sem que ninguém note sua falta), eles não devem em nada àquela turma de ladrões de Onze Homens e Um Segredo. Aliás, os Logan fazem mais, com menos.

    E, por mais que seja um filme de missão mesmo (não tão impossível assim) e estruturado no belo roteiro de Rebecca Blunt para resultar num clímax ou numa possível reviravolta para o sentido geral da história de relações familiares contraditórias, o que talvez dê ao filme a alcunha de ‘dramédia’, Logan Lucky: Roubo em Família é mesmo uma vitrine de boas atuações, algumas surpreendentes, como as do próprio Tatum, incorporando o cansaço, a amargura e parte da brutalidade do cara que só serve para ser pisado (literalmente) pelos outros, e de um Daniel Craig inspiradíssimo e sem glamour nenhum que Soderbergh botou pra atuar de verdade, assim como os Irmãos Coen, Martin Scorsese e outros mestres que retiram o melhor dos seus atores.

    Uma obra sobre o a relação entre o sistema e o cidadão comum, sempre desafiado e que se sente rebaixado pelo mesmo, e que nas piores condições decide enfrentá-lo como pode, dando o troco nos de cima da pirâmide. É claro que os Logan e seus comparsas vão se ferrar, mas ao final, o que vale é o que se faz (e como tudo se desenrola) nessa peripécia bem-humorada entre família e amigos. Desde já, um dos melhores do seu diretor, e segue sendo contemporâneo e sóbrio ao mesmo tempo, feito o ótimo A Qualquer Custo, de 2016. Filmes cujos cenários são praticamente o mesmo, dividindo uma mesma moralidade e um senso de realismo cinematográfico muito parecidos, inclusive.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.

  • Crítica | Magic Mike XXL

    Crítica | Magic Mike XXL

    MAGIC-MIKE-XXL-Poster-05Maio2015

    A arte imitando a vida, por mais que não seja possível saber, realmente, o que é arte aqui. Um Pequena Miss Sunshine com tanquinhos e suor, numa viagem ao (retorno ao) show business. E que bundinha é essa, sr. Tatum? Difícil desgrudar os olhos da tela, mas mais difícil ainda é tentar curtir a sequência de Magic Mike (2012) sem ter meio litro de álcool nos rins. Um desafio, sóbrio, se o que se SEMPRE procura é uma história com algo a mais para contar. Quando um stripper entra num mercadinho para provar que ainda pode seduzir com seu corpo já não tão jovem assim, o filme merece aplausos. Por ser mais raso que uma piscina de 20ml, seria? Não, mas por ser honesto. Explícita e cruelmente honesto, desde o começo até o fim! A putaria é olfativa, é ouvida, quase degustada, mas vista? Jamais.

    Porque é possível sentir essa putaria exalar das músicas de gente como Rihanna, Beyoncé e Lady Gaga. Elas cantam/dançam, fervem sexo e muito mais; despertam a imaginação nos fazendo dançar. Com os strippers é o oposto, e o resultado é o mesmo. Magic Mike XXL é tanto, é essas divas também, e ao mesmo tempo não é nada. É, sobretudo, o extinto (talvez) cine-privê da Band, que começava às 3 da manhã na madruga de sábado e durava meia-hora, atraindo a audiência da molecada ao mostrar um mamilo por minuto, mas sem esquecer uma historinha a envernizar as insinuações. Simples. Produto honesto, e no caso do musical de strippers, Tatum e companhia encarnam o que uma geração inteira sente e ama; puro reflexo de geração. Sorte de Clark Gable e outros cânones do cinema americano antigo. Eles já não precisam assistir cine-privê.

    Todos querem se provar. Em Tampa, Flórida, o povo encontra seu ópio na corda bamba, entre grana e travestis após torneios de hip-hop e sexo primeiro, amor depois – beijo pra Rita Lee. O tesão vibra no ritmo dos passos e cores de um universo misterioso, com muita coisa que nem o filme de 2012, nem este em 2015 ousa mostrar (faz parte do show). O trabalho de câmera nos palcos, seja no inspirado clímax ou onde quer que os dançarinos escolham dançar, é de longe o melhor aspecto do filme. Intimidade é uma coisa difícil de capturar, ainda mais quando a intenção é nos fazer sentir parte dela, e não como observadores, apenas. Von Trier não conseguiu isso, mesmo apostando no formato informal nos seus imbecis Ninfomaníacas, mas por incrível que pareça a sensação de “zero privacidade” é facilmente obtida aqui, talvez pela necessidade de mostrar o proibido até o limite do possível. Rolamos entre as pernas de todos e o suor parece pingar do lado de cá, aliás, porque ninguém pensou no recurso 3D para aproveitar isso? Love, o pornô-francês de Gaspar Noé, provou-se mais perspicaz… O que não quer dizer nada! Sexo pode ser putaria, mas putaria não é erotismo. Não é tão fácil atingir o efeito erótico. Esse erotismo que, no Cinema, um tal de Nagisa Oshima fez dele uma arte.

    Imagina se o Brad Pitt dos tempos de Clube da Luta tomasse formol e continuasse daquele jeito? 1 bilhão de bilheteria, por favor! Os dois Magic Mike são icônicos, na verdade, por não ser milagrosamente protagonizados por mulheres, até porque, na música, nossas divas modernas são divas por isso. Por falar nisso, não havia alguém na produção para a trilha-sonora combinar mais com o estilo do filme, e apelar um pouco na escolha das músicas? Previsíveis e toscas, como som de fim de balada, embaladas, contudo, com o que sabemos que vamos assistir: muita, muita gente rasgando calça e camisa ou falando de fama num Showgirls com testosterona. O filme tenta insuflar a alma de discos como Exile on Main Street, dos Stones, mas não consegue mostrar liberdade: É tudo libertinagem, numa cena mais oca que a outra, mas nenhuma surpreende mais que o close final em Channing Tatum, forte, gostoso, admirando fogos de artifício na praia, e revirando seus olhos para baixo, sentindo, talvez, um vazio insondável, e para si mesmo, um tanto inexplicável.

  • Crítica | O Destino de Júpiter

    Crítica | O Destino de Júpiter

    311151id1a_JupiterAscending_FinalRated_27x40_1Sheet.indd

    A premissa do filme parecia clara: uma space opera ambientada em um grande planeta alaranjado e na qual questões puramente humanas eram abordadas em localidades inóspitas, por vezes hostis. Ação, perseguições, aparatos tecnológicos e demais recursos seriam de grande importância para somar fluidez ao roteiro, afinal até as melhores histórias precisam de progressão, de ritmo, senão estariam fadadas a desinteressar seu receptor. No entanto, em O Destino de Júpiter tais modos de dinamizar a trama acabam por suprimi-la, aumentando o espetáculo visual em detrimento do conteúdo.

    Com o nome incomum dado pelo pai, um astrólogo já falecido, Júpiter (Mila Kunis) é uma jovem que sonha com uma vida melhor para si e sua família, trabalhando arduamente ao lado da mãe limpando banheiros para se sustentar. Ainda nos minutos iniciais, descobrimos que a família teve a casa invadida por bandidos, e o pai, ao não deixá-los levar um telescópio, seu instrumento de trabalho, é assassinado por um dos ladrões. Além disso, a moça explica o fato de estar destinada a grandes feitos, pois nasceu sob o signo de Leão, com Júpiter ascendendo a 23 graus. Uma antecipação medíocre de sua “realeza galáctica” ainda não descoberta.

    Na sequência, um grupo de caçadores de recompensa segue um caçador de recompensa (!?), enquanto este vasculha arquivos de uma clínica de fertilização. O renegado Caine Wise (Channing Tatum), um híbrido metade humano, metade lobo, busca uma redenção junto a um velho amigo, Stinger (Sean Bean), que foi destituído de suas asas (sim, asas!) ao assumir sua culpa pelo homicídio de um nobre literalmente de outro mundo.

    A partir daí, a trama segue um caminho difícil de argumentos fracos, em que Júpiter é a reencarnação de uma rainha, morta há milhares de anos e dona da Terra. Dois de seus três filhos descobrem a “recorrência” na terráquea e resolvem levá-la de volta ao lugar que lhe era direito, para que pudesse governar e reaver o astro. Por outro lado, Balem (a figura insana interpretada por Eddie Redmayne) quer dar um fim à vida da moça, pois o retorno da mãe tiraria seu poder sobre o corpo celeste.

    Um detalhe importante é que eles são uma família de industriais, que povoam planetas com o intuito de coletar genes humanos para comercializá-los, como um elixir, uma forma de prolongar a existência de quem fizer seu uso. Inclusive, Stinger conta a Júpiter sobre esse comando superior exercido por eles também sobre outros mundos, e como os utilizam como plantação, além de relatar uma gênese humana fora da Terra esdrúxula, ideia igualmente mal desenvolvida em Prometheus.

    Os cenários intergalácticos (e nenhum deles é em Júpiter, sinto muito!) enchem os olhos por sua beleza criada em CGI e pelos momentos de contemplação, até nos esquecemos da protagonista engessada e levada pelo braço a qualquer lugar, sem questionar para onde vai ou aceitando tranquilamente ser a nova dona do mundo. Uma pena, pois Kunis não fez feio em Cisne Negro. Channing Tatum consegue se sair bem, não compromete em nada, e ainda tem os apetrechos mais legais do filme inteiro: um par de botas flutuantes. O destaque fica mesmo por conta de Redmayne que, de forma brilhante, traz à tona o filho ingrato, louco e assassino da mãe… duas vezes! Digo, quase duas vezes. Os demais coadjuvantes fazem seu devido papel, apesar de alguns simplesmente sumirem sem motivo aparente, como é o caso dos outros filhos.

    Nas duas horas de reprodução do filme, não é difícil se perguntar o que continuar esperando da obra. Fora as raras atuações louváveis, batemos de frente com piadas mal colocadas, figurinos e maquiagens de gosto duvidoso e uma epopeia espacial sem sentido. Para não dizer que a película é totalmente equivocada, a sequência em que Júpiter e Caise partem por vários planetas e setores visando reconhecer legalmente o título real da personagem me lembrou O Guia do Mochileiro das Galáxias, onde os personagens também esbarram na burocracia, nas papeladas e carimbos etc. Uma referência interessante que os irmãos Andy e Lana Wachowski empregaram.

    No final, assumindo sua nova vida e enfatizando não mais permitir colheitas de DNA humano onde quer que seja, Júpiter e Caise voam juntos pelos céus. Ele com suas asas restituídas; ela usando as botas flutuantes. E o mundo embaixo dos arranha-céus se mantém estático e indiferente a tudo o que se passou nas nuvens e além delas. Mesma sensação que o espectador tem ao ver os créditos subirem.

    Compre aqui: Dvd | Blu Ray | Blu Ray 3D

    Texto de autoria de Carolina Esperança.

  • Crítica | Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo

    Crítica | Foxcatcher: Uma História Que Chocou o Mundo

    Foxcatcher 1

    O piano que predomina na trilha remete a uma singeleza espiritual bastante diferente dos golpes presentes nos membros superiores e inferiores dos personagens de Foxcatcher, nova aventura de Bennet Miller na direção. A história, baseada em eventos reais, começa exibindo a rotina de Mark Shultz, interpretado por Channing Tatum, claramente afetado pelas condições que envolvem o proceder das lutas, com o pensamento e modo de caminhar afetados pelos materiais comuns aos lutadores profissionais, e abalado emocionalmente pela ausência de seu irmão, Dave (Mark Ruffalo). A presença do caçula, em um discurso em uma escola primária, já prenuncia a tragédia que ocorrerá na família, sem necessidade de sinopse ou qualquer aviso prévio.

    Mark e Dave trabalham arduamente em um ginásio, onde as posições distintas de ambos são exibidas, mais uma vez reforçadas pelos belos ângulos em que a câmera se insere, fazendo com que cada golpe proferido e esquivado tenha texturas e significados diferentes entre si. Cada movimento exprime sentimentos, vontades e sensações diferentes, agravadas pelas diferenças entre o sonho olímpico de Mark e os rumos profissionais que Dave pensa para a dupla.

    Como se fosse um evento do destino, o cotidiano de Mark é interrompido pela ligação de um homem rico e famoso: John Du Pont, interpretado por um modificado Steve Carrell, quase irreconhecível pela maquiagem que o faz parecer um brutamontes. Seu comportamento envolve alguns métodos simples, mas com uma ambição sem igual. Sua fama e ostentação material seriam frutos de um passado de investimento explorando o espetáculo das lutas pagas. Cada palavra que sai de sua boca mantém um conteúdo de motivação e inspiração, traçando paralelos entre o wrestling e as guerras travadas pelos americanos, tendo em comum a supervalorização da honra, o que claramente seduz Mark e o faz tentar conversar com seu irmão.

    A recusa da proposta causa um racha entre os irmãos, com o caçula acreditando ser o comodismo o principal fator da estabilidade, mas eles encerram as discussões em paz, cada um seguindo o seu rumo. O modo curioso como os lutadores se movimentam lembra um comportamento primário, repleto de selvageria, quase animalesco, como se seres irracionais tentassem com todo esforço possível se adequar ao mundo civilizado, invertendo o paradigma, por exemplo, de histórias como O Planeta dos Macacos.

    Aos olhos de Du Pont, o alvo prioritário era o irmão mais velho, que, preso a sua família, demonstra-se pouco seduzido pelas propostas do aposentado homem rico. As conversas, travadas entre os personagens, são quase sempre executadas sem música, em um silêncio que inquieta o espectador, maximizando a sensação incômoda ao exibir o amor de Du Pont por armas raras. Seu comportamento, passivo agressivo com os que deveriam ser seus pupilos, faz perguntar a todo momento quando será o momento em que ele explodirá, como um barril repleto de pólvora, com um furo que permite um lastro prestes a explodir e desgraçar tudo a sua volta, sob o risco de ocorrer uma fatalidade ao sinal de qualquer mínima faísca.

    Entre financiador e empregado nasce uma relação diferente, de interdependência, incluindo treinamentos físicos e um compartilhar sentimental que engloba segredos e vícios químicos, mesmo os que são tratados pelos esportistas como pecados globais. O salário desses atos logo é cobrado, com uma derrocada de seus desempenhos atléticos, e uma entrada superficial no ambiente depressivo, que faz com que seu novo mentor o deprecie, movendo seu antigo tutor para perto de si novamente. Logo, Du Pont e Dave se veem frente a frente disputando a atenção de Mark, claro, com o irmão mais próximo do protagonista, que retribui ao magnata um pouco da rejeição sofrida anteriormente.

    A preparação física do lutador é semelhante à carreira odisseica de Ulisses, pautada na superação física e mental e repleta de reveses, fazendo com que as vitórias sejam ainda mais valorizadas. O trio de personagens focados pela lente mostra indivíduos com limitações físicas e espirituais, todas contidas em tudo o que representa o grupo Foxcatcher. A entidade é claramente posta acima do fraquejar humano, perfeita, sem possibilidade de nuances humanas, o que faz dificultar ainda mais a já atribulada relação entre John e Mark, que se deteriora cada vez mais no decorrer da fita.

    As desavenças têm suas resoluções baseadas na simplicidade, sendo possivelmente resolvidas caso o estado mental dos que brigaram estivesse em perfeitas condições. O que sobra no certame é a vaidade, e a principal vítima do arbítrio gratuito, a ponta do “triângulo amoroso”, que se mostrava a mais compreensiva, paciente e condescendente.

    O tom dourado da medalha de Mark não esconde a sensação de tristeza absoluta e amargura proveniente das perdas. O andar de cabeça baixa finalmente justifica-se, possivelmente pela vergonha e culpa que sente por agir tardiamente.

    Foxcatcher é um relato sensível que confunde a ordem de seus fatores, oras sendo mais um relato de uma versão, para, em outro momento, ser uma cinebiografia realista, que resgata o sentimental de seu objeto de análise. Semelhante ao vencedor do prêmio acadêmico Capote, a obra tem o agravar de serem três os espécimes analisados pela câmera de Miller, todos igualmente interessantes e bem interpretados, vivendo em uma atmosfera crível e bastante emotiva.

  • Crítica | Festa No Céu

    Crítica | Festa No Céu

    As cabeças protuberantes dos personagens fazem com que abordagem cartunesca de Festa no Céu se assemelhe visualmente a uma quantidade significante de outras animações, desde Jimmy Neutron até os seriados em duas dimensões, como Meninas Super Poderosas, herdando destes o ponto em comum, o de conter muita cor, saturando a imaginação infantil e algum subtexto, entendido na maioria das vezes por quem tem um maior repertório e vivência. A jornada de “livro da vida” começa em um museu, numa jornada protagonizada por alunos problemáticos obrigados a visitar o local, onde são sendo recebidos por uma bela guia, levemente sexualizada, que começa a contar uma história sobre o México, usando as figuras folclóricas do país norte-americano para cooptar a atenção dos que excursionam e da plateia.

    A coloração ganha contornos belíssimos ao se misturar ao gráfico tridimensional, sob comando de Jorge R. Gutierrez, para compor um quadro singular, valorizando os aspectos espiritualistas da tradição mexicana. A escolha do diretor foi pródiga, especialmente por sua experiência com a série El Tigre: As Aventuras de Manny Rivera. Quando Manolo Sanchez (Diego Luna) aparece, o carisma do filme já é estabelecido, fortificando ainda mais seu drama como órfão de mãe, que tem de conviver com a ausência da progenitora e com a inevitabilidade da morte, caracterizada por De La Muerte (Kate Del Castillo), a qual, por sua vez, acompanha a trajetória dos seres mostrados em tela.

    Manolo cresce em meio a expectativas de sua família quanto ao seu futuro. Seu violão e sua arte representam a doçura da infância, como um modo de comunicação poético em essência que o faz relembrar as perdas que teve. Este ideal esbarra na condição de toureiro, um ofício que está ligado tradicionalmente ao clã Sanchez e ao seu vilarejo. Manolo cresceu com dois amigos, Joaquin (Channing Tatum), que se tornou um exímio manipulador de touradas, e Maria (Zoe Saldana), que deixou a cidade há muitos anos para retornar já adulta. Obviamente, instaura-se um triângulo amoroso.

    Já adulto, o trio de protagonistas é vigiado pelas entidades espirituais La Muerte e Xibalba (Ron Perlman), que veem desabrochar a sexualidade — claro, suavizada para os infantes –, eufemisticamente tratada como amor e paixão. Maria percebe a abissal diferença entre as posturas de seus antigos amigos, um com pompa, fama e muito dinheiro, enquanto outro é munido de sentimentalismo, singeleza e inspiração. A aposta entre as figuras sobrenaturais chega ao cúmulo de ferir a moça, musa dos dois antigos parceiros. Afim de perseguir sua amada, Manolo se submete a morte, viajando para o além-vida, onde pode finalmente reencontrar sua finada mãe.

    A viagem ao mundo incorpóreo é bela, ainda mais repleta de cores. Seu encontro com toda a família Sanchez é bonito, revelando honrarias bem distantes do fracasso econômico de quando eram todos vivos, representando a fuga da decadência e retorno a glória, ainda que o viés de negação esteja implícito. Logo, ele percebe o ardil que sofreu, sendo enganado ao ser levado a Terra das Lembranças.

    A estratégia de trapaça logo se prova um erro, em ambas as dimensões. Enquanto a cidade de San Angel é atacada por um malfeitor, sem qualquer perspectiva de salvação, mesmo com o bravo Joaquin presente, Manolo é obrigado a enfrentar seus maiores medos no além-vida, tendo de combater ao mesmo tempo todos os touros que seus familiares assassinaram. Além da discussão óbvia da sensibilidade contra a brutalidade, há uma perene crítica às touradas e à fútil prática de assassinato de animais unicamente por entretenimento, cujos significados não são pasteurizados ou transformados em discursos baratos, transmitindo uma reflexão ligada ao perdão, mais forte do que qualquer panfletarismo exacerbado.

    Apesar de apresentar alguns pares de clichês em seu desfecho, utilizando um fechamento repleto de música e felicidade, toda a construção do romance e da felicidade mútua é feita de modo natural, formando o quadro gradativamente, cuja mensagem não subestima o entendimento, sequer o das crianças. A história de Festa no Céu torna-se eterna e até encorajadora, apresentando uma atmosfera semelhante à vista nos filmes de seu produtor, Guillermo Del Toro, com um caráter edificante que faz refletir além do lugar comum das animações norte-americanas.

  • Crítica | Anjos da Lei 2

    Crítica | Anjos da Lei 2

    Na atual era dos remakes e reboots, o receio de tantas produções serem lançadas apenas como caça-niqueis acaba afastando uma parte do público das salas de cinema. Porém, o grande público parece não se importar muito com isso e acaba consumindo vorazmente essas produções, o que incentiva os estúdios a investirem nesse caminho. Em sua grande maioria, essas produções são feitas a toque de caixa, sem muita preocupação estética ou com roteiro e personagens, gerando cópias e mais cópias cada vez mais genéricas e descaracterizadas.

    “Anjos da Lei 2” vem dentro deste contexto. É uma sequência de uma adaptação de uma série de TV dos anos 80, onde jovens policiais se infiltravam na escola como estudantes para investigar o tráfico de drogas. Dando sequência ao bom filme de estreia em 2011, os diretores Phil Lord e Chris Miller mantêm na segunda parte toda a fórmula que se consagrou na primeira: a relação atrapalhada, mas sempre amorosa, entre os amigos Schmidt (Jonah Hill) e Jenko (Channing Tatum), os conflitos com o chefe, Cap. Dickinson (Ice Cube), a dificuldade de Schmidt ao se relacionar com pessoas enquanto Jenko tira isso de letra, e por aí vai.

    O filme conta a história de Schmidt e Jenko sendo novamente direcionados à unidade de infiltrados para investigar a distribuição de uma nova droga antes que ela se espalhe pelo país, mas dessa vez na universidade, já que se provaram incapazes de fazer o trabalho policial convencional. Após várias tentativas frustradas de identificar a origem da nova droga e de brigarem entre si por conta das novas amizades que aparecem em suas vidas, Schmidt e Jenko precisam deixar de lado todas as suas diferenças para solucionar esse caso.

    Se a proposta do filme soa genérica e um tanto quanto inverossímil, o grande mérito de “Anjos da Lei 2” vem justamente de não se levar a sério. Ao saber que se trata de uma comédia com sátiras de vários filmes e seriados do gênero (além do próprio fato de ser uma continuação), as piadas auto-referenciais não são economizadas, especialmente nos créditos finais. As situações embaraçosas em que os protagonistas se metem durante a investigação também são muito mais exageradas do que no filme anterior, o que arranca gargalhadas do público devido, principalmente, a química entre a dupla de atores.

    Tatum não é dos melhores atores, mas ao encarnar justamente um jovem forte fisicamente, com habilidades sociais, mas não muito inteligente (características inclusive reforçadas na continuação), e com a ajuda de Hill, consegue criar um personagem carismático, interessante e engraçado. Quem também cresce no filme é o capitão Dickinson, que ganha mais espaço ao aparecer como o pai de uma aluna da mesma universidade onde os protagonistas estão infiltrados, mas que acaba dormindo com Schmidt, para aumentar ainda mais a tensão entre eles.

    Dentro disso tudo, o desfecho da história principal é o menos importante, e todos os outros personagens inseridos, como os traficantes, servem apenas de trampolim para as crescentes situações absurdas surgidas entre Schmidt e Jenko. Podemos destacar também como é positivo o fato de um filme, teoricamente de comédia, em momento algum desliza para o humor baixo, recurso tão fácil e sempre muito usado. Em momento algum as mulheres, gays ou qualquer outro grupo minoritário é tratado com desdém, muito pelo contrário. Schmidt fica uma noite com uma mulher, que logo o manda embora. Jenko começa a ter aulas sobre sexualidade e logo se posiciona a respeito dos gays, corrigindo termos ofensivos como “faggot” com um discurso politicamente correto, mas sem parecer caricato ao ponto de desvalorizar o próprio discurso.

    Anjos da Lei 2, então, repete as mesmas fórmulas consagradas do primeiro filme, mas sem se repetir como uma cópia descarada. Há evoluções na história que são interessantes de acompanhar, além das piadas e situações engraçadas que acontecem durante o longa. Quem gostou do primeiro, certamente irá se divertir também com este.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | G. I. Joe: Retaliação

    Crítica | G. I. Joe: Retaliação

    GI-JOE-Retaliação

    Em 2009, G. I. Joe – A Origem do Cobra esteve em minha lista de piores estreias do ano. Mesmo para um filme pipoca, o roteiro mal executado me incomodou, em destaque para os diálogos risíveis e as cenas de ação que equivaliam personagens do bem compatíveis com suas versões malvadas.

    A qualidade duvidosa não impediu que a história dirigida por Stephen Sommers fosse rentável. Alcançou o primeiro lugar nos mais assistidos por semanas consecutivas e sua receita foi de aproximadamente 300 milhões de dólares. A quantia necessária para que uma continuação fosse obrigatória.

    Não é necessário ter assistido ao primeiro longa metragem para se compreender G. I. Joe – Retaliação. Logo após a cena inicial, em que vemos a equipe dos Joe, uma narrativa em off anuncia o grupo e seus principais soldados, com bom grau de didatismo. Também porque, embora sequência da trama anterior, a história é parcialmente renovada quando, em um atentado, quase todo o grupo é dizimado. Tirando de cena um elenco liderado por Channing Tatum e colocando um dos atores de ação mais divertidos dos últimos tempos depois de Jason Statham: Dwayne “The Rock” Johnson.

    O minguado grupo sobrevivente sai a procura dos responsáveis pela retaliação e se deparam com a organização Cobra que tomou o lugar do presidente dos Estados Unidos e, como bons e antigos vilões da década de oitenta, tem como pretensão o domínio global através do medo da destruição nuclear.

    A produção de G. I. Joe 2 sofreu com diversos atrasos.  Foi convertida em terceira dimensão e, por conta de exibições-teste negativas, a trama foi modificada, criando um novo personagem para sustentá-la. Coube ao veterano Bruce Willis trazer um pouco de atenção para o filme, sendo a representação máxima da trama como o soldado que inspirou o grupo dos Joe e que ajuda-os a realizar a ação.

    A presença de Willis em cena é bem burocrática. Está situada em poucos momentos da trama apenas para que se compreenda sua presença como um mentor que volta ativa. A leve mudança estrutural do roteiro deixa-o melhor e prova que Willis, mesmo repetindo o papel de sempre, ainda consegue ter um publico fiel.

    Ao contrário das cenas de ação da primeira produção, que exageram em colocar personagens emparelhados para lutar entre si, há pouca luta corporal nesta sequencia e muito menos efeito em câmera lenta. A ação é mais fluida e acompanha o desenvolvimento da trama, centrada em derrubar a ascenção dos Cobra, um grupo mais interessante do que o dos mocinhos, alias. Além da boa substituição de Tatum pelo combo The Rock + Bruce Willis que dá mais credibilidade a história de ação pipoca.

    Sem nenhum arroubo criativo, mas também sem cair em clichês demasiadamente risíveis e sem graça, o filme entrega a ação e o divertimento descerebrado que promete, deixando no ar a possibilidade de que o velhinho Willis esteja presente em mais uma continuação futura.

  • Crítica | Terapia de Risco

    Crítica | Terapia de Risco

    terapiaderisco

    Steven Soderbergh é diretor que trabalha com diferentes facetas em sua carreira. Há o diretor alternativo, que realiza produções de baixo orçamento como aquelas feitas em seus primórdios. Há o lado comercial e divertido que, ao lado do amigo George Clooney, produz histórias divertidas. E há uma terceira, que vem realizando panoramas temáticos em bons filmes como Traffic (sobre o tráfico de drogas) e Contágio (uma epidemia dissecada).

    Terapia de Risco parecia ser mais uma dessas produções que exploram um tema específico transformando-o em história, normalmente dividida em diversas frentes para produzir um panorama crítico. Dessa vez, porém, o diretor optou por concentrar-se em uma única história sobre a relação entre médico e paciente e o uso de remédios controlados.

    Na trama, devido a uma críse de ansiedade, Emily arremete o carro contra uma parede e é tratada pelo psiquiatra Jonanthan Banks, que, à procura de melhorar a condição da paciente, lhe receita um novo medicamento ainda em fase de testes.

    Tem-se a impressão de que vamos assistir a uma crítica pontual a respeito da relação entre a psiquiatria e o uso excessivo de remédios controlados. Há estatísticas que apontam que o número de usuários destes medicamentos aumentam a cada ano, nos fazendo refletir que ou a população está se tornando mais infeliz ou médicos têm receitado tratamentos em excesso, mesmo quando outros processos mais amenos, como uma terapia tradicional, fossem suficientes para resolvê-los.

    Médico e paciente estão em cena sem escolhermos um lado propriamente, até um grave acidente envolvendo a paciente que muda também a narrativa apresentada até aqui. O que poderia ser uma excelente trama sobre a potência industrial e comercial dos remédios controlados se torna uma trama de suspense em que médico tenta investigar o que de fato levou a paciente a provocar o acidente. Não bastando a mudança brusca, há uma reviravolta incômoda que parece improvisada.

    Até um momento inicial a narrativa permanece neutra, apontando fatos e deixando o julgamento para o público. Mas a imparcialidade muda, dando espaço para o tom policialesco e conspiracional que eclode em uma boba cena de revelação, com elementos tão melodramáticos que não possuem verossimilhança nenhuma.

    É como se o roteiro tivesse unido duas tramas distintas ou feitas por um roteirista que muda de personalidade no meio da escritura. Será essa a intenção de Soderbergh? Produzir um meta roteiro com um escritor bipolar para apontar como as doenças mentais estão presentes no mundo e que remédios podem ou não ajudar? Provavelmente não.

    Mas, compostas de uma maneira a causar um impacto ativo no público, a trama perdeu a potência de produzir mais um panorama crítico como aconteceu nos dois citados filmes anteriores, resultando em uma história de final tão rasteiro que a qualidade da direção de Soderbergh pode passar desapercebida por alguns.

  • Crítica | Magic Mike

    Crítica | Magic Mike

    Magic Mike

    Steven Soderbergh tem utilizado a crise econômica dos EUA para abordar algumas de suas histórias, e dessa vez não é diferente. Assim como abordado anteriormente em Confissões de uma Garota de Programa, Soderbergh utiliza o submundo de um dos ramos do entretenimento adulto para sua análise da recessão econômica. Magic Mike transita por esse universo de maneira débil e nada subversivo, como poderia ter sido.

    Assim como em 2009, onde Soderbergh traz Sasha Grey, famosa atriz de filmes pornôs para ambientar sua história, agora em 2012 o diretor utiliza a mesma ideia, já que o protagonista do longa-metragem é Channing Tatum, ator em evidência no momento, mas que já teve de trabalhar como um stripper. Ambos os filmes acabam sendo, de certa forma, experiências reais desses atores, seja Grey ou Tatum.

    Na trama, acompanhamos a vida de Mike (Tatum), um sujeito perto dos seus trinta anos, que ganha a vida consertando telhados durante o dia, e a noite é uma das atrações de uma casa de stripper dirigida por Dallas (Matthew McConaughey). Em um de seus dias de trabalho como consertador de telhados ele conhece Adam (Alex Pettyfer), um jovem sem perspectivas que abandonou a faculdade e vive de favores com sua irmã enfermeira, Brooke (Cody Horn). Adam acaba descobrindo o trabalho noturno de Mike e logo ganha um lugar no show.

    O roteiro de Reid Carolin acerta em alguns momentos e erra em muitos. O filme segue uma estrutura digna de comédia romântica, diálogos terríveis e uma trama que se move do ponto A ao B sem nenhuma reviravolta e com uma previsibilidade que não deveria ser o caso de um material como esse. No entanto, no meio de soluções previsíveis, bobas e mal elaborados, o longa por nenhum momento soa enfadonho.

    No meio de personagens estereotipados, Channing Tatum revela uma maturidade interpretativa, principalmente quando está distante do seu trabalho como stripper, mantendo o controle do seu personagem sem se tornar um clichê. McConaughey também merece destaque entre o elenco, entregando um personagem egocêntrico, desconfiado e extremamente intenso em sua interpretação, muito longe de seus papéis nas dezenas de comédias românticas que tem feito, sendo provavelmente o ponto alto do longa metragem. O restante do elenco é bastante inexpressivo, beirando atuações sofríveis.

    A direção de Soderbergh utiliza uma montagem preguiçosa, intercalando sequências de atores em shows, dignas de videoclipes sem nenhuma originalidade, para cenas que não vão a lugar algum. Se mantendo dessa forma até o seu aguardado fim.

    O tema ousado de Magic Mike é extremamente mal aproveitado, e fica mais difícil de defendê-lo depois de obras como Boogie Nights, de Paul Thomas Anderson, por exemplo. Se isso ainda não fosse o bastante, o discurso do diretor sobre a recessão fica cada vez mais moralista e conservador à medida que o filme avança, o que não deixa de ser frustrante para alguém como o Soderbergh.