Tag: Rooney Mara

  • Crítica | A Pé Ele Não Vai Longe

    Crítica | A Pé Ele Não Vai Longe

    É curioso como o cineasta francês Gus Van Sant, indicado ao Oscar em 2009 por Milk: A Voz da Igualdade, é curioso como ele tem um projeto de cinema que consegue se sustentar em torno da pura abstração de significados. Enquanto que Wim Wenders, o grande cineasta alemão de Paris/Texas, extrai o sentido do abstrato, do nada, e dá novas possibilidades para que o vazio e o silêncio revelem o que eles escondem, Sant faz exatamente o contrário. O cara reforça o vazio com mais vazio, emudece ainda mais o silêncio, em histórias que, mesmo tão humanas, parecem distantes e com uma comunicação mínima com o espectador que não se sente animado, o bastante, para investir sua atenção a elas.

    Talvez o exemplo mais gritante e bem-sucedido disso, em sua filmografia, seja Gerry, de 2002. Drama bastante desconhecido, e que merece muito mais atenção, justamente pelo interessante exercício narrativo a essa abstração generalizada em torno da história de dois amigos, ambos chamados Gerry, perdidos num deserto do Novo México, em meio a um cenário sufocante, árido e infinito. Mas é claro que, implícito a isso, está a sutil crise existencial presente em todos, repito, todos os filmes do diretor de Elefante, o polêmico vencedor de Cannes em 2003, um conceito pertinente a Gus Van Sant e que é bem trabalhado, em tom jocoso e metafórico, neste bom A Pé Ele Não Vai Longe, o simpático filme de 2018.

    Simpático pode ser sua principal qualidade, já que aqui, pela primeira vez na carreira, Sant escolheu o projeto perfeito para entreter seu espectador, acima de tudo, com a história mais agradável, sorridente e esperançosa possível. A principal importância do filme está na adoração, em todos os sentidos, do capital humano e dos sentimentos de pessoas comuns em situações de conflito pessoal, e coletivo. Após um fatídico acidente de carro, o músico John Callaham, agora de carreira de rodas, precisa se superar. Sozinho não dá, e então, decide entrar para um clube onde a superação é o objetivo a ser alcançado, em várias áreas fraturadas da vida de um ser humano. Tal em A Teoria de Tudo, a questão aqui é simples como uma teoria quântica para muitos: como seguir em frente, após encarar a sua própria morte?

    Nesse clube, Callaham ganha o ar fresco e as inspirações que precisava para descobrir um novo Eldorado que todos nós devemos ter para acordar, sair da cama e andar por ai – no caso dele, desenhos, e um mais divertido que o outro. Lá, ao se deparar com outros dramas e problemas reais, percebemos também como é fácil superestimar nosso sofrimento acima do de outras pessoas, e o peso desse equívoco na nossa consciência. Com o espírito de Callaham sendo cicatrizado muito além do seu corpo semi paralítico, sua produção gráfica passa a ser o principal motivo para que sua alma artística possa respirar, novamente, com novos amigos e novas esperanças fazendo-o sorrir, nessa que parece ser uma nova vida para ele – talvez até com um novo amor a caminho, ou isso seria pedir demais do destino traiçoeiro?

    Baseado na própria história de Callaham (e muitas vezes ilustrada na tela pelos próprios desenhos do artista, que aparecem entre uma cena e outra dando o tom das cenas mais irreverentes do filme), A Pé Ele Não Vai Longe é inesperadamente espirituoso, e cômico, em muitos momentos que poderiam ser dramaticamente pesados, em especial para Gus Van Sant, acostumado a se aprofundar quase que sem limites na problemática dos seus personagens. A crise de Callaham é como uma noite, densa por natureza, mas iluminada pela lua e as estrelas que funcionam como uma luz, no fim do túnel. Alcoólatra, calado, carente e dependente da ajuda dos outros para um simples banho, o corpo se reconstitui a partir e só a partir do próximo, uma vez que somos animais sociais sem um pingo de autonomia desde o nosso nascimento.

    Joaquin Phoenix é um monstro vivo, um dos melhores camaleões de Hollywood, e é ele o responsável pelo naturalismo de seu personagem transitando entre duas vidas diferentes: a desregrada e inconsequente do começo, e a pós-acidente que produz um Callaham 100% ciente dos seus limites, e do valor de uma amizade verdadeira. Phoenix na verdade se sobrepõe, então, a narrativa não-linear que vai e volta nos detalhes mais sutis da vida do artista, e constrói um retrato sensível e emocionante da trajetória tortuosa de um homem amadurecido e reconfigurado pelo destino – a atuação física do ator é apenas uma consequência disso, num trabalho impecável e que poderia ter sido mais celebrado pela temporada de prêmio em 2018, se houvesse justiça nesse mundo.

    Como se não bastasse, o longa ainda tem coragem de zoar Bob Dylan, nos emocionar pra valer com Jonah Hill (sim, o gordinho de Superbad), apresentar um sexo oral hospitalar melhor que muita coisa por ai, e promover o ato nobre de reconstruir um homem a partir do que poderia ter sido seu funeral, no meio de uma estrada noturna suja de sangue, cacos de vidro e um corpo paralítico atirado no chão. Como levantá-lo e fazê-lo ir mais longe, a ponto de brincar com skatistas adolescentes em uma rua ensolarada, é a questão aqui. Um belo filme.

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  • Crítica | Sombras da Vida

    Crítica | Sombras da Vida

    Apesar do terrível nome brasileiro – A Ghost Story, no original – Sombras da Vida é um longa que captura demais a atenção do espectador, ainda mais ávido por boas historias. O longa de David Lowery infelizmente não chegou aos cinemas brasileiros, mas é um belo exemplar de filme intimista e com muito a se discutir.

    O diretor de Amor Fora da Lei e do recente Meu Amigo Dragão traz a história de um ser que não consegue fazer a passagem para o outro mundo de maneira fluida. A história começa mostrando um casal vivido por Casey Affleck e Rooney Mara, que vivem em uma casa ampla, grande demais para um casal, e tem seus dias repletos de uma intimidade que não inclui muita conversa.

    Uma tragédia os acomete, e a moça fica sozinha, na casa e na vida, e a outra parte do casal se levanta, já defunto, levando o lençol que o cobria no leito hospitalar. Seguindo seus instintos mais básicos, ele retorna a tal casa, e fica por ali, por não saber exatamente o que fazer. Nesse ínterim, o tempo se confunde com a existência, há retornos e avanços na linha cronológica, que vão longe e permeiam também os momentos não só da vida do sujeito como pós-morte e até antes de sua existência. É como se a passagem para o limbo entre o mundo espiritual e o carnal propiciasse um novo tipo de existência, embora só sobrem os instintos, e até esse conceito de existir seja absolutamente discutível.

    Incrivelmente o filme tem pouquíssimos diálogos, é contemplativo, mas não parece pretensioso ou enfadonho, ao contrário, mesmo no silêncio é praticamente impossível não se afeiçoar a figura carente e desolada que nem expressão tem, pois o homem a ser reduzido aos mais básicos sentimentos, se torna universal, torna suas dores reais e indiscutivelmente tangíveis e de fácil compreensão, e isso ocorre demais aqui, mesmo que esse não seja um filme feito para o grande público.

    O cinema de Lowery é inteligente, sagaz e repleto de significados. Sombras da Vida talvez seja o ápice de sua curta carreira de cineasta nesse sentido, pois é simples em forma e profundo em conteúdo. O equilíbrio entre pragmatismo e escapismo é impressionante, e indiscutivelmente esta é uma pérola do cinema recente, muito menos falada do que merecia.

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  • Crítica | Maria Madalena

    Crítica | Maria Madalena

    O universo semântico da religião cristã é extremamente enriquecido por simbolismos, e praticamente insondável em suas diversas significações latentes. No campo do cinema, fica difícil lembrar de um cineasta que melhor trabalhou elementos religiosos que o dinamarquês Carl T. Dreyer em seus filmes colossais como em Dias de Ira, ou no seminal A Palavra. Nos títulos aqui lembrados, ou ainda no brasileiro O Pagador de Promessas, o peso e o valor de uma religiosidade onipresente atuando sobre o que é humano chega a ser plenamente inseparável da própria dimensão atmosférica, tanto realista quanto lúdica que esses grandes filmes do passado carregam, e por conta disso, continuam influenciando e insuflando trabalhos de arte contemporâneos na exploração pelo sagrado, nas suas mais variadas interpretações, ao longo de séculos de releituras criativas bem-sucedidas, ou não.

    Dito isso, é possível notar uma digressão e um certo abuso dessa mitologia nesse Maria Madalena, de Garth Davis, diretor do super estimado Lion: Uma Jornada para Casa. Para David, a religião é um desafio constantemente posto à prova, quase um sacrifício dos homens para com um sentido maior, o que rivaliza com a imagem histórica da mulher homônima, vulgo prostituta como passou a ser mais reconhecida que cruzou o caminho do próprio Cristo, em tempos de conflito para ambos. O filme de 2018 trata de sondar a vida pré-envolvimento da mulher com a figura superior cujo contato a transformou num dos ícones femininos mais ligado ao filho de Deus. Pela primeira vez no Cinema, Madalena passa de coadjuvante da história mais famosa de todos os tempos, para a protagonista dos seus desafios pessoais, seu próprio drama e do seu próprio ponto de vista melancólico sobre o tempo presente que viveu, e resistiu, tal qual o homem que tanto admirou.

    Longe de convertê-la numa Jorna D’Arc, o que talvez não seria de todo mal para o empoderamento da personagem, a Madalena de Rooney Mara sente o peso da sua vida como se o aceitasse, como se estivesse ligada permanentemente ao divino; em algo extra mundano que a acalentasse além das agruras da sociedade – em seu primeiro contato com Jesus e seus apóstolos, o vento sopra como se a conduzisse para onde ela anda ao encontro do mar, para onde todos se dirigem. Nesses breves momentos, a expressão da espiritualidade se funde com o avanço da narrativa que, ao final, carece de atitude, de substância, invariavelmente abatida por sutilezas em excesso. Uma sensibilidade que parece indicar o medo do cineasta de investir impactos emocionais em momentos de grande potencial polêmico.

    Uma encenação a favor dos atores, acima de tudo, servindo mais a eles que a história e suas situações, entre inúmeros cenários barrocos e áridos sempre sob uma luz azulada e leitosa, assumindo nessa iluminação a presença do divino. Mara e Joaquin Phoenix, ótimo como sempre, estão contidos e hiper sóbrios no papel do messias e sua seguidora, mas limitados pela própria iconicidade intocável dos seus papéis. Nesse exercício de reler pela enésima vez uma situação fadada ao conflito, e a tragédia, o lado interessante do filme nunca é revelado, sendo assim mais um suspense histórico que o drama que pode se vender para o público que compra sua imagem de “obra devota a figuras emblemáticas”, cujo verdadeiro lado expressivo e simbólico o filme esvazia a cada cena, preferindo manter seu potencial enrustido a cada instante.

    Claro que um tema desses, tão difundido e sensível por toda a humanidade afora, é um desafio e tanto para os atores e para a sua direção, apática e quase inexpressiva, gélida e beirando a preguiça – a sensação é essa em vários momentos –, deixando sempre o peso de algumas sequências falar por si só (saudades de Martin Scorsese), como quando Cristo opera seus milagres e revive um homem já ligado a suas moscas fúnebres, e terminais. Desses momentos já esperados, e mal aproveitados, até a inevitável crucificação tocante do ícone, o filme falha em discutir o poder da fé, e tenta reviver sua própria simbologia para torná-la valiosa e o mais útil possível em prol do desdobramento frouxo da trama. Nisso, Maria Madalena acaba caindo no lugar comum das adaptações bíblicas que se amontoam na tevê, nessas celebrações de fim de ano.

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  • Crítica | De Canção em Canção

    Crítica | De Canção em Canção

    O novo trabalho do cineasta Terrence Malick traz à tona um filme que lança mão de suas marcas enquanto diretor, mas que também se ocupa de buscar um diferencial narrativo de seus longas anteriores. Em De Canção em Canção (Song to Song), a história desenrola fatos sobre a cena musical em Austin, Texas. Nesse cenário, dois triângulos amorosos se cruzam, em mais uma elucubração sobre o estilo de vida típico do gênero musical e lema sexo, drogas e Rock and Roll.

    Os trabalhos de Malick dependem muito do ambiente de isolamento que as salas de cinema proporcionam, e seu último longa, Cavaleiro de Copas, foi pouco exibido no Brasil, uma vez que foi lançado direto para o mercado de homevideo/streaming, passando apenas em festivais pontuais. O núcleo explorado em De Canção em Canção envolve primeiramente Cook (Michael Fassbender) e o casal Fayer (Rooney Mara) e BV (Ryan Gosling). Posteriormente, Rhonda (Natalie Portman) é introduzida para expor então outro núcleo de relações a serem mescladas e exploradas.

    O conto sobre rockstars mira a contracultura e a vida sem maiores aprisionamentos morais, mas esbarra em uma construção do sexo um pouco conservadora, faltando inclusive cenas de nudez entre os entes, que são boêmios confessos. De certa forma, a câmera de Malick é bastante moralista ao mostrar as relações. As poucas cenas de sexo são insossas, referenciando (provavelmente) o quão deprimente e sem conteúdo podem ser os enlaces sentimentais dessas personagens. Ainda assim, o puritanismo não se justifica, mesmo nas cenas de sedução entre pessoas do mesmo sexo.

    O elenco está afiado, como normalmente se dá nos filmes de Malick, mas o destaque positivo é a entrega de corpo e alma de Bérénice Marlohe em sua personagem, Zoey. Em meio a tantas personagens que carecem de cor e carisma, sua vibração sobressai, tornando os ambientes acinzentados em aquarelas belas e repletas de vida.

    Apesar das belas cenas e do desempenho bom de seu elenco, Malick não consegue fugir de sua fórmula, parecendo este ser mais uma das continuações de Amor Pleno, o que por si só é uma pena, já que sua filmografia aumentou muito nos últimos anos, no entanto, parece se repetir em temas e narrativas recentemente, piorando bastante neste seu mais recente trabalho, que soa como auto-ajuda na maior parte dos momentos.

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  • Crítica | Una

    Crítica | Una

    Em tese nenhum tópico é tabu, ou ao menos não deveria ser. Afinal, aquilo que é pouco dito costuma esgueirar-se pelas sombras da sociedade, e ao tema é associada apenas obscuridade e medo. Mas o que parece fazer sentido também é que nem toda forma de se abordar um tema é exatamente adequada.

    Una debruça-se sobre uma história de abuso infantil e seus posteriores desdobramentos sobre a vida do abusador, da vítima, e de suas famílias, onde anos após o abuso, a jovem Una confronta seu abusador e expõem os destroços de sua vida marcada por tribunais, olhares tortos, tristeza confusão. O grande problema deste filme, porém, é sua complacência com o abusador. Tal abordagem já foi usada antes, no clássico livro e filmes Lolita. Porém, em Lolita a empatia com o abusador ocorre por conta da história ser contada sobre seu ponto de vista, mas ao final consegue tornar clara o quão patética é aquela figura de um homem moralmente falido e incapaz de controlar seus desejos, e assim expondo a podridão de conceitos entranhados em nossa cultura. Una, ao contrário, quase tem pena do “sofrimento” do abusador, e quase defende sua paixão pela garota.

    O filme é estrelado por Rooney Mara (Os Homens Que Não Amavam as Mulheres) e Ben Mendelson (Rogue One: Uma História Star Wars), e dirigido por Benedict Andrews, diretor de teatro em seu primeiro longa, sendo baseado na peça Blackbird, do mesmo roteirista de Una, David Harrower. Esta ‘mais longa do que deveria’ explanação sobre quem são os envolvidos na produção é para dizer que o egocentrismo é a tônica desta história. Tão autocentrada em si, que percorre boa parte dos seus longos minutos com dificuldades de estabelecer com eficiência seus personagens, apesar de ter uma dinâmica que consiste basicamente em tentar desenvolvê-los, não possuindo assim nenhuma subtrama que justifique este déficit de atenção.

    Incapaz de ser rigoroso com o abusador, o filme explana de forma quase que protocolar que ele teve a condição de refazer sua vida, enquanto a vítima não. Mas nada disso adianta tão logo ele é colocado constantemente como uma vítima. Um homem perdido que cedeu à um erro bobo, e não como sendo aquilo que é, no alto da maldade que seus atos deveriam estar. Ele é um criminoso. Já Una, é eventualmente mostrada como uma moça confusa, que hoje e talvez ontem usava o sexo de forma autodestrutiva, dando a entender que aquilo talvez tenha sido realmente um romance, e não a história de um homem de 40 anos abusando de uma menina de 13.

    As tentativas de fazer de Una uma pessoa forte que sofreu, mas sobreviveu, soam todas equivocadas, protocolares e fora de tom. A única ideia de seu medo constante é quando o filme demonstra que mesmo as voltas de homens de aparente boa índole, ela está constantemente entrando em tocas de lobos, pois tão logo adentra a fábrica onde irá confrontar seu abusador, o simpático Scott insiste em suas cantadas. Ele realmente parece uma boa pessoa, mas ainda assim à vê como algo disponível simplesmente por ser mulher.

    Equivocado, inconsequente, sem atenção e pobre no discurso, Una não é capaz de discutir os temas que se propõem, e erra em forma e conteúdo.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

    https://www.youtube.com/watch?v=UgiN35SC-hM

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  • Crítica | Lion: Uma Jornada Para Casa

    Crítica | Lion: Uma Jornada Para Casa

    Como todos os anos, há sempre as famosas biopics: os filmes biográficos indicados a categoria de melhor filme. São filmes baseados em personagens e empreitadas reais, seja de alguma personalidade conhecida ou não, mas que carregue potencial melodramático, “inspirador”. Esse ano, temos cerca de 3 filmes que seguem esses moldes. E não, ser um filme biográfico não torna qualquer obra definitivamente ruim, mas em época de premiações é o suficiente para levantar algumas sobrancelhas céticas, que confirmam seus pessimismos com filmes como Lion: Uma Jornada Para Casa.

    Lion é um filme de Garth Davis, roteirizado por Luke Davies a partir do livro de Saroo Brierley, que trata de sua própria história de vida. Saroo (Sunny Pawar, na infância, e Dev Patel, quando adulto) se perde de sua família com 5 anos ao adormecer em um trem desconhecido da Índia. A narrativa trata de sua trajetória e foca em seus pontos cruciais e definidores, seja enquanto foge de raptores ou se acostuma a sua realidade na Austrália, até quando adulto e se vê tomado pela necessidade e vontade de voltar para sua terra natal, sua antiga família.

    O filme se divide em dois momentos: a etapa da infância, que lida com a realidade precária de muitas crianças abandonadas da Índia, como fazem para sobreviver e quais os perigos que tomam forma em adultos mal-intencionados, ou que não se importam. Sunny Pawar age como o esperado de uma criança em sua situação, mas exatamente por sua idade e pouca experiência não é nele que se deposita a maior demanda dramática, mas nos adultos a sua volta; foco especial para os Brierley, sua mãe (Nicole Kidman) e pai (David Wenham) adotivos australianos.

    A fase adulta, entretanto, já aborda uma crise de identidade familiar e nacional que o roteiro é incapaz de desenvolver propriamente. É especialmente nessa segunda metade que o telespectador é subestimado, desde os constantes flashbacks até a fotografia excessivamente explanatória. Patel se apresenta aqui limitado pelos diálogos mecânicos e sentimentos que ele deve sentir por conveniência, assim como outros personagens não desenvolvidos além de justificativas narrativas, como Lucy (Rooney Mara). E não importa o quanto o elenco tenha de potencial e experiência, não há salvação para problemas narrativos, pois ao tratar da história como uma sequência de fatos seguros da automática percepção de importância do público, afinal, são momentos “grandes”, “emocionantes”, o filme se mostra genérico, sem impacto.

    Seja na vida ou no cinema, a importância que damos a algo não se mede por questões factuais, e sim pelo quanto que foi construído até ali. O pior que pode acontecer a filmes biográficos é caírem no abismo de abordagens pragmáticas sem personalidade, com momentos coreografados para choro (com trilha sonora de violinos e piano a postos) e conclusões artificiais de desenrolar desleixado. Todos os aspectos cinematográficos em filmes do tipo se baseiam em um desalmado funcional. Falham em perceber que não é por uma história ser importante ou extraordinária que o filme se eleva. É preciso a alma que ele tão prepotentemente assume ter, é preciso rugir.

    Texto de autoria de Leonardo Amaral.

  • Crítica | Kubo e as Cordas Mágicas

    Crítica | Kubo e as Cordas Mágicas

    Já desde sua primeira produção, é de se admirar os esforços dos Estúdios Laika em levar até o público animações de narrativa rústicas e sombrias, em contrapontos quase que obrigatórios ao sentimentalismo tocante dos Estúdios Ghibli ou a sempre constante fofura da Pixar. Coraline e o Mundo Secreto já denota de forma explícita o desejo em dar vida às velhas “animações para adultos”, se é que assim pode ser dito, uma vez que os filmes do estúdio são (quase) sempre deveras carregados para o público menor.

    E dessa vez ocidentalizando uma história japonesa, Kubo e as Cordas Mágicas, de Travis Knight, mantém o tradicionalismo do stop motion e nos comprova o quanto está técnica ainda carrega tanto para ser dito, independente do quão crua em tela possa parecer. Se o ritmo frenético de aventura de Kubo, aliado às suas constantes tiradas cômicas, pouco lembram alguma produção oriental, é no respeito mitológico e chacoalhar inteligente dos elementos abordados que a animação sobrevive e se firma como um entretenimento para qualquer idade, por mais assustados que os pequenos terminem a projeção.

    De um elenco de vozes que reúne Rooney Mara e Matthew McConaughey, passa por Ralph Fiennes e chega em Charlize Theron (e acreditem, o trabalho vocal dos atores está irreconhecível), Kubo e as Cordas Mágicas faz valer o extenso trabalho de produção que a técnica do stop motion trás, algo do qual, inclusive, o estúdio se orgulha ao exibir uma de suas grandes maquetes durante os créditos finais. Auto-suficiência? Poderia ser, se o próprio espírito da obra não denunciasse que, de fato, Kubo é um filme que acredita em sua história bem contada, em seu deslumbramento visual (que não é pouco, basta reparar nas cenas dos origamis) e em seus próprios simbolismos que, amontoados em cima de transparências sutis aos adultos (temas como morte e sacrifício estão fortemente presentes), deverão passar despercebidos aos olhos mirins. Estes se sentirão mais surpresos com a variedade de criaturas que irão passar diante de seus olhos, num trabalho de composição criativo e cheio de imaginação dos designers gráficos da animação.

    Como qualquer animação passada no Japão mas feita por uma equipe americana, alguns momentos se rendem a resoluções fáceis e uma necessidade de introduzir o máximo de pequenas reviravoltas possíveis para extasiar o público. Kubo não precisa disso, e deixando essa pequena pretensão de lado, Kubo e as Cordas Mágicas representa o que há de mais rico na animação e suas possibilidades de hoje em dia, nem que pra isso seja necessário adotar esta técnica que garante poucos retornos financeiros, é verdade, mas abre as portas da imaginação. E Kubo é isso, um filme imaginativo.

    Texto de autoria de Rafael W. Oliveira.

  • Crítica | Carol

    Crítica | Carol

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    Carol se tornou um dos filmes mais aguardados de 2015 por causa do retorno de Todd Haynes à direção desde Não Estou Lá, além de ser baseado no famoso livro de Patricia Highsmith, a mesma criadora de O Talentoso Ripley.

    O bom roteiro de Phyllis Nagy (amiga de Patricia Highsmith e que lutou mais de 20 anos para a história ser produzida) baseado no livro de mesmo nome (do original The Price of Salt) é pontual no seu recorte: a narrativa pretende discutir a pureza do amor. Como é amar alguém? Mais importante, do que é feito o amor? De um olhar, de um gesto, de um contato físico, da convivência, da doação de uma pessoa à outra ou de tudo junto?

    Por mais que enfrentem as resistências diversas de uma sociedade machista e moralista dos anos 50 que dá mais valor a convenções sociais, o roteiro não vai pelo caminho fácil do melodrama e muito menos pelo maniqueísmo. Ele acertadamente humaniza todos os personagens inclusive os mais rasos, como o marido vingativo amargurado pelo divórcio ou o namorado que não aguenta a rejeição.

    Em tempos de intensa militância virtual, o filme foi acusado de abordar a homofobia de forma superficial. No entanto, parte da premissa do roteiro reside justamente no fato de que a homofobia é um dos grandes obstáculos para um relacionamento homoafetivo, mas não é o único ou o maior deles. Primeiro cada uma das partes precisa estar em sintonia, cada uma delas precisa querer. Desta forma, a história nos mostra que as dificuldades para um relacionamento maduro se encontram em todos os lugares e assim o roteiro consegue ser universal e atemporal.

    Uma das cenas mais bonitas do filme

    A direção de Todd Haynes é muito interessante. A sua escolha por ângulos inusitados em boa parte do filme pretende mostrar ao espectador o quão única é aquela narrativa e aqueles personagens. Ao mostrar os detalhes em cada plano fechado e nos closes, Haynes mostra do que o seu cinema é feito: dos pequenos gestos. O diretor nos dá a grande metáfora da sua obra, na curta cena do trem de montar: ela representa as chegadas e partidas de um relacionamento, os encontros entre as duas, como também os desencontros.

    Hábil como poucos, Todd Haynes também consegue extrair o melhor do seu elenco. As interpretações não são canastronas ou excessivas; mesmo nos momentos mais tensos, elas são contidas e soam críveis. As atuações em Carol vêm do detalhe, como dito acima.

    Cate Blanchett e Rooney Mara entregam uma das maiores atuações de suas carreiras. Impressiona a forma como as duas executam com destreza cada gesto, seja através de como andam, da forma como colocam um casaco, de um sorriso e principalmente de um olhar. Não é exagero dizer que a entrega das duas para este filme chegou perto do sublime. Destaque ainda para Sarah Paulson e Kyle Chandler, que acrescentam o filme nas poucas cenas em que aparecem.

    A boa edição de Affonso Gonçalves manteve a uniformidade da obra, ela está invisível na maioria do filme e se destaca nos detalhes da cena do trem de montar além das cenas íntimas entre as protagonistas.

    A ótima fotografia de Edward Lachmann, que também foi diretor de fotografia do bom Longe do Paraíso, além de ser tecnicamente impecável, a influência das pinturas de Edward Hopper e das fotografias urbanas de Vivian Maier é nítida. A escolha pela paleta de cores amarelo, laranja e marrom, além da falta de saturação, ajuda a ressaltar o intimismo e a melancolia que poucos conseguiram alcançar. Ela se destaca também na cena do trem.

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    Exemplos das referências de Hopper

    Outro grande destaque do filme é a direção de arte na composição da locação e dos cenários, além da maquiagem e figurino. O trabalho competente de Jesse Rosenthal, Sandy Powell e Heather Loeffer conseguiu não somente ambientar os anos 50, mas dar personalidade a cada um dos personagens e ressaltar o conflito interno das duas protagonistas.

    Carol vale a pena por ser um daqueles filmes que marcam o espectador, seja através de boas atuações, de um roteiro bem escrito, ótima direção ou de uma melhores trilhas sonoras dos últimos anos. Isso tudo combinado faz da obra um dos filmes norte-americanos mais bonitos dos últimos 20 anos, desde As Pontes de Madison.

    Texto de autoria de Pablo Grilo.

  • Crítica | Peter Pan

    Crítica | Peter Pan

    Peter Pan 1

    A intenção de Joe Wright em refilmar o clássico literário e de animação Peter Pan é bem clara, e muito ligada a sua filmografia, comumente retratando cenários suntuosos e tramas que primam pelo visual. Como em Anna Karenina e no curioso Hanna, este Pan de 2015 consegue exprimir nuances no imaginário do público, distantes demais do que a maioria dos espectadores sabe a respeito do rapaz que não cresce.

    A trama se passa antes da época de As Aventuras de Peter Pan, filme animado premiado de Walt Disney, e se distancia muito da versão em live action da década passada, especialmente pelo esmero de seu diretor em dar ares de grandeza ao conto. Levi Miller dá vida ao personagem-título de uma maneira interessante, apoiado em um roteiro que apela para orfandade, claramente no intuito de universalizar ainda mais sua história. Pecados de clichês à parte, os defeitos do filme passam longe da personificação do ator mirim.

    Os efeitos especiais da trama são ligados às coincidências e às uniões que Pan faz ao chegar a Terra do Nunca. A construção de cenários e atmosferas do lugar mágico são curiosas, misturando pop, anarquia e crossdresser, fatores que fazem do caricato Barba Negra de Hugh Jackman um personagem que não prima pelo conteúdo, mas que funciona em quase todas as vezes em que é acionado, especialmente nos momentos musicais, onde os renegados entoam hinos grunge e punk.

    No entanto, a personificação de James Hook poderia ser melhor trabalhada. Garret Hedlund não tem qualquer carisma – vide Tron O Legado e Na Estrada – a ponto de seu personagem não dizer nada absolutamente ao público. Quando ele não está em tela, quase não se sente sua falta. A ausência de qualquer complexidade em seu comportamento o torna genérico, como qualquer anti-herói que se vira para o “lado do bem” repentinamente. O cuidado em construir um 3D que acrescenta á trama passa longe de ser o mesmo na atmosfera em volta do pretenso Capitão Gancho, pouco fazendo crer que ele se tornaria o antagonista de uma possível continuação.

    Apesar de tropeços na construção de cenários da terra dos nativos, onde habitariam os Garotos Perdidos e onde habitam aves esdrúxulas que mais lembram pokemóns deformados,  não há muito a se lamentar. As escolhas para retratar a matança de seres místicos são tão inocentes que beiram a poesia. Wright mais uma vez abusa das cores, o que faz pensar em certa ambiguidade de seu texto, referenciando não só à psicodelia, como também ao flerte com questões graves, como dislexia infanto-juvenil. Peter Pan não consegue o intento de ser uma obra-prima, em razão de algumas licenças textuais ruins, mas funciona como versão em carne e osso de uma história conhecida por ser animada, especialmente em comparação com as péssimas adaptações recentes, como Branca de Neve e o CaçadorAlice No País Das Maravilhas, Cinderela e o musical Caminhos da Floresta.

  • Crítica | A Rede Social

    Crítica | A Rede Social

    A Rede Social 3

    Maior fenômeno da internet dos últimos anos, o Facebook sempre esteve envolto em controvérsias desde sua criação pelo estudante de Harvard Mark Zuckerberg em 2003. Atualmente, devido à dinâmica e velocidade da informação, entender a complexidade das relações que fazem algo tão grande existir, assim como as mudanças que tais eventos causam na sociedade, nunca é fácil. O Facebook caracteriza-se por essas mudanças. Alterou, junto com outras empresas, a dinâmica do empresariado jovem americano, além de ter mudado para sempre o comportamento e as formas de relacionamento de toda uma geração. É dentro do contexto de criação do Facebook que foi publicado, em 2009, o livro Bilionários por Acaso, escrito por Bem Mezrich, contando uma versão sobre o surgimento da rede social e as brigas judiciais pelos seus direitos criativos. O livro teve a consulta de Eduardo Saverin, o que impactará o resultado final do filme. Em 2010, o conhecido roteirista Aaron Sorkin e o diretor David Fincher adaptam o livro para o cinema, dando origem ao filme A Rede Social.

    O filme começa contando a história do jovem e complicado estudante Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) em Harvard, com um diálogo – típico das produções de Aaron Sorkin, rápido e difícil de acompanhar – com sua namorada Erica Albright (Rooney Mara). Após ser insensível e condescendente de uma forma quase brutal com ela, o namoro termina, e, com raiva, Mark retorna a seu dormitório e resolve criar, com a ajuda dos colegas de quarto Eduardo Saverin (Andrew Garfield) e Dustin Moskowitz (Joseph Mazzello), um site com um catálogo de fotos de garotas, também estudantes de Harvard, em que as pessoas poderiam entrar e dar notas a elas. Tudo isso era feito enquanto Mark escrevia a respeito em seu blog, detalhando o processo de hackeamento dos bancos de dados das páginas das fraternidades em busca das fotos. A quantidade de acessos derruba a rede de Harvard e trará consequências para o estudante.

    Após enfrentar os problemas, Mark tem contato com os irmãos gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss (Armie Hammer), este que dá a ele a ideia de criar uma rede exclusiva para alunos de Harvard. Após aceitar a proposta, Mark desaparece por semanas até o seu site thefacebook.com estar no ar, o que enfurece os irmãos. Os acessos ao site se expandem exponencialmente em várias universidades americanas, até chamar a atenção do jovem e excêntrico empreendedor Sean Parker (Justin Timberlake), criador do polêmico Napster alguns anos antes. Parker fornece a Mark uma visão nova e diferente sobre a modernidade dos negócios e das possibilidades a respeito do Facebook, causando tantos problemas entre ele e Saverin que acabarão indo para a Justiça.

    A estrutura do filme alterna momentos do passado dos jovens e momentos nos quais estão se enfrentando nos tribunais americanos a respeito dos direitos de criação do Facebook. Em um primeiro momento, essa alternância causa uma certa confusão e estranheza no espectador, mas após alguns minutos a estrutura é reconhecida e tudo fica mais claro, favorecendo o desenvolvimento da história.

    Apesar de os diálogos de Aaron Sorkin por vezes se atrapalharem na história por conta de sua rapidez e da quantidade de termos, piadas e referências, é interessante ver sua proposta de, em momento algum, rebaixar esses diálogos para um público geralmente tão acostumado a receber tudo mastigado das produções cinematográficas. O exercício de tentar acompanhar os diálogos e compreendê-los em sua totalidade é desafiador e instigante.

    A direção de David Fincher, com sua capacidade técnica recorrente, fornece uma recriação daquele momento único na história de maneira pujante. Utilizando o frio e a escuridão do inverno de Massachusetts, o (auto?) isolamento social de Mark é sempre reforçado em sua postura corporal e posicionamento da câmera. As cores escuras, azuladas e em tons pastéis também compõem o cenário rico e ao mesmo tempo frio e distante da juventude atual, onde todos estão sempre juntos, conectados, mas afastados.

    Toda essa composição das cenas é novamente auxiliada pela fantástica trilha sonora da já conhecida dupla Trent Reznor e Atticus Ross. Os músicos, que já trabalharam com Fincher em outros projetos, atingem seu nível máximo de qualidade ao inserir em cada momento os elementos certos, ajudando a compor o tom das sequências e das atuações, ajustando-os em um encaixe perfeito com a narrativa. Ela funciona tão bem que vale a pena ouvi-la separadamente.

    Jesse Eisenberg consegue compor um Mark Zuckerberg que vai além da semelhança física. Traço marcante de suas atuações, a fala rápida e a postura de “nerd” ajudam o espectador a acreditar. a todo o instante, que aquele é o criador do Facebook. Sua falta de empatia e emoção ao lidar com amigos e pessoas que eram tão queridas vão transformando-o, pouco a pouco, em um vilão semitrágico, pois sua postura moral e seus valores estão todos inseridos nas regras de utilização da rede social: ao mesmo tempo que fotos e vídeos de violência, e páginas que propagam discursos de ódio contra minorias são permitidos, fotos expondo minimamente o corpo feminino são logo retiradas do ar, assim como conteúdos políticos que possam se opor ao establishment. Todas essas características de sua personalidade estão claras na composição de seu personagem, assim como sua arrogância e falta de conhecimento e prática em lidar com a diversidade de pensamento e de pessoas.

    Portanto, o maior mérito de A Rede Social não é a discussão judicial sobre quem teve a ideia de criar o Facebook, ou mesmo que fim levou tudo isso. Esse tema é usado como pano de fundo para se discutirem as relações humanas em épocas em que a humanidade, e seu contato real, parece ter cada vez menos valor frente a um mundo dominado pelo mercado dos valores simbólicos, no qual é mais importante parecer do que ser. É mais importante mostrar o que está se fazendo do que realmente aproveitar o momento, alterando até mesmo todo o significado da experiência humana.

    Dentro deste contexto, acompanhar a degeneração do relacionamento de Mark com todos os que o cercam é sintomático, pois vemos que alguém sem muitas noções de relacionamento com outras pessoas foi capaz de criar uma rede que une milhões de pessoas ao redor do mundo, de várias línguas e culturas. A prova definitiva de que o relacionamento virtual é um simulacro nem sempre confiável a respeito de nossa humanidade. A análise do comportamento humano é interessante, e a visão de Fincher e Sorkin sobre esse caso tão emblemático da humanidade nos auxilia não só a compreendermos um pouco mais a época e as pessoas que nela vivem, mas também ajuda a nos entendermos. Talvez um pouco mais do que gostaríamos.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Trash: A Esperança Vem do Lixo

    Crítica | Trash: A Esperança Vem do Lixo

    Rafael (Rickson Tevez) treme com um revólver na mão, uma ânsia de fazer ou não justiça com as próprias mãos. O drama certamente seria melhor aceito caso não predominasse na retórica de Trash: A Esperança Vem do Lixo uma abordagem artificial, em uma das menos inspiradas fitas de Stephen Daldry. O tema da violência urbana, com uma perseguição de policiais a pessoas de classes menos favorecidas e secularmente marginalizadas surge com dois dos atores brasileiros com mais sucessos comercias no currículo.

    Wagner Moura vive José Angelo, um morador do subúrbio, perseguido por ter informações importantes sobre um poderoso político. Ao se livrar de sua carteira, ele condena o menino Rafael, que acha a bolsa com dinheiro e outros objetos misteriosos. O lado repreensivo do filme começa por apresentar arquétipos muito estereotipados dos moradores da favela, que embalam seu trabalho no lixão ao som do sugestivo Rap da Felicidade, cujo conteúdo é ofensivamente óbvio. A situação piora com as crianças da comunidade nadando em um rio imundo, repleto do mesmo lixo que os moradores de lá coletam, como se entre os meninos e homens não houvesse qualquer noção de saúde ou civilização. A postura de um dos garotos é de completa subserviência com a polícia, fundamentado em cima de um vocábulo pobre, baseado em gírias que mais taxam pejorativamente os jovens do que os faz parecer reais e com voz ativa.

    A sucessão de preconceitos segue, apresentando personagens sem profundidade, pessoas que moram no subterrâneo de uma estação de trem (Central do Brasil), semelhantes aos Morlocks das revistas mutantes da Marvel, mas com a pretensão de mostrar uma história real, mas que evita a todo custo o uso de palavrões, já que seria esta uma história para toda a família. Demonstrar mazelas sociais e delinquência juvenil com uma abordagem conservadora só piora o escopo do filme, que simplifica todas as relações com soluções muito fáceis.

    O Brasil para exportação exibe a civilização dentro da comunidade para os estrangeiros, vividos por Rooney Mara (Olivia) e Martin Sheen (Padre Julliard), que são os únicos dentro do complexo com acesso a internet, o que não impede os meninos de acessarem o Google como se fossem especialistas nisto, mesmo não tendo acesso a internet em casa. A verossimilhança não parece ser a pauta principal do filme, já que não há a mínima preparação de background dos personagens, ou uma maior preocupação com os cenários envolvidos. A concepção de República das bananas é a base para a maioria das ações dentro do cenário do país.

    Uma vez que o entorno é mal construído, nem os atos ultra violentos de tortura conseguem retornar a fita a uma séria abordagem. As injustiças sociais mostradas no país são tão pueris como eram em Velozes e Furiosos 5, tendo em comum com o filme de assalto até a ingerência de estadunidenses como os portadores máximos da justiça, arautos de uma civilização que a subdesenvolvida nação jamais conseguiria alcançar sozinha.

    A ótica das crianças talvez seja a maior desculpa para as incongruências, falhas de concepção e falta de lógica, mas até isto esbarra na tacanha narrativa, que é cortada pelas falas dos meninos, que quebram a quarta parede e ajudam a revelar ainda mais os problemas da história. Para alcançar o vilão e deputado Santo (Stepan Nercessian), os meninos agem como miquinhos amestrados, que invadem casas e passeiam pelos esgotos da cidade; na cadeia, mais parecidas com as dos filmes americanos do que com a realidade dos presídios de Bangu. Tudo isso para exibir uma mensagem emocional, de cunho redentor, de luta pelo povo, ainda que retratar bem a população mazelada não fosse a prioridade de Daldry.

    A tentativa de explicar tudo por meio de um documentário filmado por Olivia é o tiro de misericórdia nas motivações e intenções do filme em se levar a sério, já que convenientemente consegue registrar não só as palavras dos meninos, mas também um dos muitos pecados de Frederico (Selton Mello), um policial que faz da justiça a justificativa para qualquer miséria que pense em impingir aos personagens. Nem mesmo ante a destruição de seu mísero patrimônio os jovens conseguem se emocionar de um modo que pareça real. A triste realidade brasileira que tencionava ser finalmente exposta é risível ante toda a fantasia presente no guião de Richard Curtis.

    O costume de habitar a sujeira é comum aos personagens infanto-juvenis, uma máxima tão torta quanto a ideia genial de que o dinheiro puro e simples resolveria os problemas sociais de um país tão atrasado que permite os mandos e desmandos de estrangeiros em sua própria terra. O modo estúpido como a renda é redistribuída só é superada em tosquice pela ingênua noção de que basta a boa vontade para vencer o mal da corrupção instaurada no país. Trash revela muito de como a opinião pública internacional vê o brasileiro, de maneira xenófoba, evidenciando o quanto subestimam a inteligência do cidadão médio, se valendo de uma trama fraca sobre uma realidade que não pode ser modificada, tampouco reavivando as manifestações de Junho de 2013 através deste viés tão simplista, e pueril.

  • Crítica | Amor Fora da Lei

    Crítica | Amor Fora da Lei

    amor fora da lei

    Poetas e contadores de histórias gostam de relacionar o amor ao proibido, e a evolução da associação do sentimento ao que a sociedade vê como reprovável é natural. Tal conceito é utilizado no cinema largamente; por mais repetitivo que seja, o clichê ainda chama a atenção. Recentemente, Amor Bandido atraiu a atenção de quem era fã de Matthew McConaughey e Jeff Nichols ao dar uma abordagem mais diversificada e de ângulo diferente do mito de Bonny e Clyde e do que foi visto em Uma Rajada de Balas. Em Amor Fora da Lei, David Lowery apresenta um clima mais rural e até white trash à máxima, apresentando um casal apaixonado não tão normal quanto a maioria.

    Após uma bela introdução, que põe os cônjuges em uma corriqueira troca de carícias e farpas, Robert Muldoon e Ruth Guthrie (Casey Affleck e Rooney Mara, respectivamente) se põem em um tiroteio, fazendo com que um dos policiais seja baleado. Como um autêntico cavaleiro de armadura, “Bob” assume a autoria do atentado e é levado à penitenciária em uma cena de despedida que transita entre o tocante e o grotesco, com a câmera enquadrando um beijo terno e as vestes imundas pela poeira e pelo pecado de suas ações, que foram causadas de forma direta ou negligentemente.

    Bob não se sente o réu sentenciado que na realidade é, e em virtude disso tenta arranjar a sua liberdade à força, tencionando sua própria fuga em cinco oportunidades, finalmente tendo êxito no sexto tiro. Uma vez na área aberta novamente, ele procura encontrar sua amada numa jornada país adentro, mudando drasticamente a vida de quem ele encontra em sua estrada rumo à perdição.

    Apesar de aparentar no começo o contrário, Ruth aguarda ansiosamente a chegada de seu amado. Fazer os terceiros pensarem que ela teme pela vida de sua filha faz parte da atuação teatral para afastar qualquer suspeita de envolvimento com a fuga de Bob. O nome original da película, Ain’t Them Bodies Saints, remete à ausência de santidade nos envolvidos da trama, qualidade esta que também pode ser interpretada pela falta de inocência e até por certa responsabilidade pelo crime, independente do julgamento parecer desigual.

    A trajetória do fugitivo rumo ao seu destino final o faz praticar o que ele foi acusado de fazer outrora. O rastro de sangue que ele deixa é acompanhado de um sentimento de sobrevivência, mas que não o resguarda da culpa de ter que ameaçar as pessoas e matá-las quando isso se mostra necessário. Sua ida para casa se faz por vias tortuosas; o personagem percorre o caminho sentindo sua vida escorrer pelos dedos. Ignorando o bom senso, ele prossegue em busca de sua musa, mal pensando na própria sobrevivência.

    A cena em que Ruth e Bob finalmente se encontram é singela. A moça tenta guardar suas lágrimas, mas é quase inevitável que ao menos algumas escorram em seu rosto, especialmente depois de toda uma vida esperando por ele. Por estar quase convalescendo, a enfim restrita reunião ocorre, variando entre o presente, nada pessimista e calcado no real, e uma imaginação de ambos abraçados em tempos mais simples, sem toda a arquitetura de bandidos em fuga. Em seus sonhos, Bob vive em uma casa idílica onde o casal poderia morar e ser feliz, num paraíso intocado, distante demais dos áridos dias que ambos sofriam. A sensibilidade com que Lowery trabalha o roteiro é ímpar ao utilizar o conceito de “falar de modo leve de coisas graves” a potências altíssimas, sem recorrer a um sentimentalismo banal.

  • Crítica | Terapia de Risco

    Crítica | Terapia de Risco

    terapiaderisco

    Steven Soderbergh é diretor que trabalha com diferentes facetas em sua carreira. Há o diretor alternativo, que realiza produções de baixo orçamento como aquelas feitas em seus primórdios. Há o lado comercial e divertido que, ao lado do amigo George Clooney, produz histórias divertidas. E há uma terceira, que vem realizando panoramas temáticos em bons filmes como Traffic (sobre o tráfico de drogas) e Contágio (uma epidemia dissecada).

    Terapia de Risco parecia ser mais uma dessas produções que exploram um tema específico transformando-o em história, normalmente dividida em diversas frentes para produzir um panorama crítico. Dessa vez, porém, o diretor optou por concentrar-se em uma única história sobre a relação entre médico e paciente e o uso de remédios controlados.

    Na trama, devido a uma críse de ansiedade, Emily arremete o carro contra uma parede e é tratada pelo psiquiatra Jonanthan Banks, que, à procura de melhorar a condição da paciente, lhe receita um novo medicamento ainda em fase de testes.

    Tem-se a impressão de que vamos assistir a uma crítica pontual a respeito da relação entre a psiquiatria e o uso excessivo de remédios controlados. Há estatísticas que apontam que o número de usuários destes medicamentos aumentam a cada ano, nos fazendo refletir que ou a população está se tornando mais infeliz ou médicos têm receitado tratamentos em excesso, mesmo quando outros processos mais amenos, como uma terapia tradicional, fossem suficientes para resolvê-los.

    Médico e paciente estão em cena sem escolhermos um lado propriamente, até um grave acidente envolvendo a paciente que muda também a narrativa apresentada até aqui. O que poderia ser uma excelente trama sobre a potência industrial e comercial dos remédios controlados se torna uma trama de suspense em que médico tenta investigar o que de fato levou a paciente a provocar o acidente. Não bastando a mudança brusca, há uma reviravolta incômoda que parece improvisada.

    Até um momento inicial a narrativa permanece neutra, apontando fatos e deixando o julgamento para o público. Mas a imparcialidade muda, dando espaço para o tom policialesco e conspiracional que eclode em uma boba cena de revelação, com elementos tão melodramáticos que não possuem verossimilhança nenhuma.

    É como se o roteiro tivesse unido duas tramas distintas ou feitas por um roteirista que muda de personalidade no meio da escritura. Será essa a intenção de Soderbergh? Produzir um meta roteiro com um escritor bipolar para apontar como as doenças mentais estão presentes no mundo e que remédios podem ou não ajudar? Provavelmente não.

    Mas, compostas de uma maneira a causar um impacto ativo no público, a trama perdeu a potência de produzir mais um panorama crítico como aconteceu nos dois citados filmes anteriores, resultando em uma história de final tão rasteiro que a qualidade da direção de Soderbergh pode passar desapercebida por alguns.

  • Crítica | Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011)

    Crítica | Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011)

    O primeiro plano que o espectador vê, logo no início de Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, é a paisagem de uma vila sueca. Branca, fria e nevada. Tudo é perfeito. Tudo está em ordem.

    Pela beleza e “asseio”, o local remete muito mais a um cenário adequado a histórias natalinas ou a um conto de fadas infantil que a um thriller policial, costurado por assassinatos em série, esquartejamentos, estupros e relações incestuosas.

    E esse é justamente o truque. As coisas aqui não são o que parecem. Aliás, quase nunca são. É sabido que as ações mais sombrias costumam se disfarçar sob uma fachada de civilidade, gentileza e harmonia. Embora não pareça, o pior do ser humano está escondido naquela ilha de beleza gélida.

    Além de um conto policial muito bem construído, “Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres” é uma crítica contundente à hipocrisia imposta pela aparência. Ao quanto as percepções podem ser enganadas – muitas vezes de forma até letal – por noções superficiais de perfeição e normalidade. Neste caso, o clichê é mais que válido: imagem não é nada.

    O diretor David Fincher (Seven, Alien 3, Clube da Luta, O Quarto do Pânico, Zodíaco, A Rede Social) escancara essa noção ao adaptar a obra de Stieg Larsson – criador do best-seller que deu origem ao filme e das outras duas partes que formam a trilogia Millenium, A Garota que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar. A trama começa quando o jornalista Mikael Blomkvist (Daniel Craig) recebe um telefonema em plena noite de Natal. Seu interlocutor, do outro lado da linha, o convida a ir até uma ilha afastada, na parte mais fria do território sueco, para ouvir uma proposta.

    Blomkvist acabou de sofrer uma derrota nos tribunais por ter feito acusações sem provas contra um financista. Sua carreira e credibilidade, bem como sua vida pessoal, estão abaladas. Ele não tem muito a perder. Por issso, decide ir até o local.

    Ao chegar lá, conhece o industrial Henrik Vanger (Christopher Plummer). Ele quer que o jornalista conduza uma investigação para descobrir quem é o assassino de sua neta, Harriet, desaparecida desde 1966. O milionário está convencido de que ela foi assassinada por um dos integrantes da própria família – todos moradores da mesma ilha – e quer provar sua tese.

    O repórter reluta. Mas diante dos benefícios oferecidos por Vanger – um deles diretamente ligado a seus probelamas com a Justiça -, acaba aceitando.

    A partir daí, a trama avança sobre dois trilhos que acabarão se unindo: a investigação feita pelo jornalista e o desenvolvimento de Lisbeth Salander (Rooney Mara, excelente), disparada a melhor e mais profunda personagem da história, e que também irá auxiliar o repórter na solução do mistério.

    Hacker e investigadora com habilidades raras, Lisbeth não guarda espaço para sentimentos ternos. Eles existem, mas ela os mantém presos o mais fundo possível. A única coisa que importa é seu trabalho, ao qual se entrega com uma objetividade obsessiva. De fato, a jovem de 23 anos é tão direta e objetiva que transfere essa abordagem até mesmo para sua vida sexual. Ela tem as respostas. Ela precisa estar no comando.

    É uma personagem de emoções primárias acentuadas – raiva, medo, timidez e fúria. Ao mesmo tempo, é possuidora de um forte senso moral. Certamente o mais sólido entre todos os que compõem a história.

    Ao longo do filme, Lisbeth aparecerá em quatro cenas sexuais – dessas, apenas duas são consentidas. Repare como nessas últimas, é ela quem dá as cartas. Já a primeira mostra o que ela está disposta a tolerar para continuar com o seu trabalho. A segunda, é um ato de violência – pelo qual a hacker e sua particular noção de Justiça farão com que o perpetrador pague da pior forma possível.

    A abordagem visual escolhida por Fincher reflete a frieza e aparência de normalidade que formam o cenário ao redor dos personagens. A estética é “clean”. A luz é dura e branca, fazendo um paralelo com o ambiente coberto de neve da ilha.

    As exceções ficam por conta das imagens referentes ao dia do desaparecimento de Harriet, quando todas as cenas são banhadas por um filtro dourado. Metáfora visual para dias mais ensolarados e felizes que já foram vividos naquela ilha.

    Repare como, em pelo menos dois momentos, o cineasta retrata Blomqvist em planos gerais, pequeno diante de um ambiente nevado e frio. Nessas duas situações, o repórter tenta, sem sucesso, usar seu telefone celular. Não é possível. Não há sinal. A mensagem é clara: o jornalista está isolado na sua busca pela verdade e diante do enigma que precisa decifrar.

    Craig empresta a fragilidade necessária à construção do repórter. Nem pense em ver o atual intérprete de James Bond realizando as mesmas ações dos filmes de 007. De jeito nenhum. Aqui, ele está até mesmo fisicamente mais fraco e magro. Uma aparência que ressalta o quanto ele pode ser uma presa fácil naquela trama.

    A cenografia contribui para a sensação de frieza e isolamento. Quer exemplos? Na ilha, há dois tipos de imóveis: os muito pequenos, velhos e frios e os novos e modernos – esses últimos, principalmente a casa do personagem Martin (Stellan Skarsgärd) – são assépticos e extremamente impessoais. Quase sem traços de humanidade.

    A trama é desenvolvida no ritmo de uma locomotiva: começa lenta e pausada – como todo bom início de investigação – e depois acelera rumo à solução definitiva do mistério, onde se chega por meio de uma longa e exaustiva análise de provas, informações cruzadas, entrevistas e imagens. Mas atenção. Fique atento. Este filme possui dois finais. Não se preocupe. Não se trata de anticlímax. É apenas a amarração de todas as pontas do enredo.

    Vale uma menção muito especial à trilha incidental criada por Trent Reznor, o líder da banda de Rock/Tecno/Industrial Nine Inch Nails. Repare na tensão e agonia que seus teclados etéreos e ruídos eletrônicos provocam em cada cena. Isso sem falar na excelente versão que ele e Karen O (a vocalista dos Yeah Yeah Yeahs) fazem para “Immigrant Song”, do Led Zeppelin, que já podia ser ouvida no primeiro trailer e que aqui está nos créditos iniciais do filme.

    Aliás, por falar na presença de Reznor, nesse sentido o próprio Fincher faz questão de dar uma piscadela para o público: logo no início do filme, um especialista em informática aparece usando uma camisa com o logotipo do Nine Inch Nails (NIN).

    Ao fim de “Millenium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, pelo menos duas mensagens ficam muito claras: a primeira é que o mal de verdade é insidioso e está mais perto do que imaginamos.

    A segunda – e aqui não há qualquer intenção de pieguice ou conselhos de auto-ajuda – é que não importa quanto dinheiro você tem, quais roupas você veste ou quão alto você está na escala social. São suas ações que farão de você uma pessoa boa ou ruim.

    Duvida?

    Assista o filme e depois reflita…

    Texto de autoria de Carlos Brito.