Tag: Ryan Gosling

  • Agenda Cultural 69 | Nova Era, esquenta Pré-Oscar e mais Aquaman

    Agenda Cultural 69 | Nova Era, esquenta Pré-Oscar e mais Aquaman

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Jackson Good (@jacksgood) e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para a primeira Agenda Cultural da Nova Era, talkei? Nesta edição, comentamos um pouco sobre as novas polêmicas envolvendo Lars von Trier, o novo filme do Harry Potter sem Harry Potter (é golpe?), como se balançar com fluidez no novo jogo do Homem-Aranha e muito mais.

    Duração: 123 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira e Julio Assano Junior
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Brisa de Cultura
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    Comentados na Edição

    Cinema

    Crítica Nasce uma Estrela
    Crítica O Primeiro Homem
    Crítica Halloween
    Crítica A Casa que Jack Construiu
    Crítica Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald
    Crítica As Viúvas
    Crítica Aquaman
    Crítica Bohemian Rhapsody

    Séries

    Review Demolidor – 3ª Temporada

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  • Crítica | O Primeiro Homem

    Crítica | O Primeiro Homem

    Após o sucesso estrondoso de Whiplash e do oscarizado La La Land, Damien Chazelle não demorou a retornar a feitoria de longas. Em O Primeiro Homem ele faz uma cine biografia diferente, explorando as fragilidades de Neil Armstrong, mostrando ele se preparando nos anos sessenta para a viagem espacial histórica que teria a Lua. O filme começa no começo da década de sessenta e mostra Ryan Gosling se alistando para o concurso da Nasa e sofrendo testes para tal, além obviamente de conviver com a sua família.

    O roteiro de Josh Singer varia bem entre momentos entre os momentos de treinamento e de intimidade da família de Neil, isso confere ao personagem uma aura de naturalidade e humanidade, realmente se acredita que o homem que vai desbravar o espaço é um homem, apesar do feito extraordinário que ele fará.

    O filme é quase onírico ao mostrar a jornada mental e emocional dos astronautas que vão protagonizar  a viagem. Ao mesmo tempo em que Armstrong tem que frequentar festas da alta sociedade e fingir que se interessa por qualquer conversa dessas pessoas, ainda recebe uma ligação exatamente no momento em que está ali, interagindo com as altas rodas, com a noticia de que um dos testes de estabilidade da nave que o levaria até o corpo lunar sofreu um incidente terrível, cujo grafismo da cena tem peso emocional muito grande, com o fogo tomando a cabine, e as consequências sendo vistas na parte de fora do cubículo, onde apenas uma pequena fumaça sai do pequeno buraco que serviria para abrir a cápsula.

    Chazelle não se preocupa em fazer reverência a Armstrong, ao contrário, ele é um sujeito com defeitos, cuja família sofre com sua ausência mesmo quando está de corpo presente, e de certa forma, o diretor e o roteiro de Singer desdenham da corrida espacial e da relação de rivalidade da Guerra Fria. Mesmo quando o personagem principal se emociona no espaço, nada tem a ver com essa tola disputa de egos e vaidades, é a solidão que o faz padecer de emoção e chegar quase ao ponto de chorar no vazio espacial. O conjunto de emoções do filme leva em consideração o conflito, mas não de um modo orgulhoso e preciosista, e sim com um sentimento de lástima por ter sido esse o combustível para e chegada na lua.

    Gosling entende muito bem a intenção do diretor, e consegue representar de maneira muito forte e sentimental a figura  por trás da lenda, e torna palpável a humanidade do sujeito que fez parte da historia, e consegue demonstrar de maneira bem certeira e simples como a construção de lendas vivas pode ser falaciosa e enganadora, e demonstrando que  a culpa disso não necessariamente é da pessoa que se tornou o ícone.

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  • Crítica | Blade Runner 2049

    Crítica | Blade Runner 2049

    Havia muita expectativa em relação a Blade Runner 2049, fosse pelo óbvio fato de Blade Runner – O Caçador de Androides ser um clássico absoluto, injustiçado pelos produtores da Warner Bros à época, ou pelo fato da de Dennis Villeneuve,  uma promessa de grande cineasta desde o começo de sua carreira, assumir a direção. A realidade é que a continuação, lançada 35 anos após o primeiro filme, tenta expandir o conceito pensado por Hampton Fancher e David Webb Peoples, roteiristas do original, utilizando com maior vigor os temas de Phillip K. Dick.

    A história é contada através do olhar do caçador KD6.3-7, ou simplesmente K, vivido por Ryan Gosling. Desde o começo a trama informa que se trata de um replicante mais avançado que os modelos Nexus, da Tyrell Corporation. Uma das criações de Wallace (Jared Leto), um novo eugenista que se valeu dos espólios de seu antecessor para, basicamente, criar outros replicantes, supostamente menos agressivos e predatórios que os anteriores. Parte da base narrativa passa também por Luv (Sylvia Hoeks), um dos modelos mais avançados dessa era.

    K vive sozinho, com uma inteligência artificial holográfica, interpretada por Ana de Armas. O conceito por trás dessa tecnologia e identidade serve para contrapor a coisificação ocorrida com Rachel no primeiro Blade Runner, elevando a discussão para um tema mais progressista, quase significando um pedido de desculpas pela atitude de Deckard (Harrison Ford) ao forçar a replicante a dormir com ele. É a partir das discussões com a holografia que K passa a sonhar com upgrades em seu destino, com sonhos envaidecidos, que poem em cheque a questão desses modelos terem alma ou não.

    A direção de arte tem atenção as referências do primeiro filme, relembrando até mesmo o terrível spin off  Soldado do Futuro em alguns momentos. A tecnologia retro e suja insere a sequência na mesma tônica do primeiro filme, sem exagero e nem fan service. Parte da construção primorosa desse retorno ao universo de Dick é culpa de Roger Deakins, que retorna ao trabalho com Villeneuve para apresentar enquadramentos grandiosos, valorizando a utilização de efeitos práticos. Tudo no cenário tem textura e realismo impressionante.

    Em tempos de Atômica e John Wick, é natural que haja uma cobrança por lutas mais realistas. Não é o caso em 2049, já que os personagens são super humano. Assim, os embates físicos são organizados com golpes secos e certeiros, fato que valoriza também o roteiro e as cenas. A trilha de Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer segue a mesma linha de Vangelis, ainda que nos momentos em que a música interfere na trama não sejam tão brilhantes.

    A persona de K lembra muito mais o Deckard de Androides Sonham com Ovelhas Eletrônicas do que o Deckard de Ford no filme de 1982, em especial por ele não ter a dúvida sobre sua identidade genética. Todos os anseios do personagem são próximos de suas posses eletrônicas, seja na relação que tem com a inteligência artificial Joi, como também na necessidade de fazer upgrades no sistema. A fé que o personagem põe no discurso programado da inteligência, nos faz lembrar também a crença do Deckard original de que sua vida melhoraria graças ao animal artificial que compraria, uma vez que a evolução tecnológica é um dos principais motes do livro de Dick.

    O roteiro de Fancher e Michael Green levanta questões filosóficas diferentes do original, em especial no embate entre o legado de Tyrell e a vaidade humana como ponto primordial da vida, mesmo que a inorgânica. O desfecho de K e Deckard gera  discussões válidas, que levam em conta o preço da liberdade e o esforço para travar uma guerra por ela. De certa forma, o filme remonta a discussão ocorrida em um episódio de Jornada nas Estrelas: a Nova Geração, a respeito da individualidade do androide positrônico Data, analisando suas liberdades e escolhas. Caso haja de fato a exploração do cliffhanger de Blade Runner 2049 com continuações vindouras, há um valido argumento para uma sequência. Porém, há chances delas falharem como o péssimo Matrix Revolutions. Como obra fechada, o filme segue de maneira criativa e inspirada, unindo-se com qualidade aos pontos inteligentes do clássico.

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  • Crítica | De Canção em Canção

    Crítica | De Canção em Canção

    O novo trabalho do cineasta Terrence Malick traz à tona um filme que lança mão de suas marcas enquanto diretor, mas que também se ocupa de buscar um diferencial narrativo de seus longas anteriores. Em De Canção em Canção (Song to Song), a história desenrola fatos sobre a cena musical em Austin, Texas. Nesse cenário, dois triângulos amorosos se cruzam, em mais uma elucubração sobre o estilo de vida típico do gênero musical e lema sexo, drogas e Rock and Roll.

    Os trabalhos de Malick dependem muito do ambiente de isolamento que as salas de cinema proporcionam, e seu último longa, Cavaleiro de Copas, foi pouco exibido no Brasil, uma vez que foi lançado direto para o mercado de homevideo/streaming, passando apenas em festivais pontuais. O núcleo explorado em De Canção em Canção envolve primeiramente Cook (Michael Fassbender) e o casal Fayer (Rooney Mara) e BV (Ryan Gosling). Posteriormente, Rhonda (Natalie Portman) é introduzida para expor então outro núcleo de relações a serem mescladas e exploradas.

    O conto sobre rockstars mira a contracultura e a vida sem maiores aprisionamentos morais, mas esbarra em uma construção do sexo um pouco conservadora, faltando inclusive cenas de nudez entre os entes, que são boêmios confessos. De certa forma, a câmera de Malick é bastante moralista ao mostrar as relações. As poucas cenas de sexo são insossas, referenciando (provavelmente) o quão deprimente e sem conteúdo podem ser os enlaces sentimentais dessas personagens. Ainda assim, o puritanismo não se justifica, mesmo nas cenas de sedução entre pessoas do mesmo sexo.

    O elenco está afiado, como normalmente se dá nos filmes de Malick, mas o destaque positivo é a entrega de corpo e alma de Bérénice Marlohe em sua personagem, Zoey. Em meio a tantas personagens que carecem de cor e carisma, sua vibração sobressai, tornando os ambientes acinzentados em aquarelas belas e repletas de vida.

    Apesar das belas cenas e do desempenho bom de seu elenco, Malick não consegue fugir de sua fórmula, parecendo este ser mais uma das continuações de Amor Pleno, o que por si só é uma pena, já que sua filmografia aumentou muito nos últimos anos, no entanto, parece se repetir em temas e narrativas recentemente, piorando bastante neste seu mais recente trabalho, que soa como auto-ajuda na maior parte dos momentos.

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  • Crítica | La La Land: Cantando Estações

    Crítica | La La Land: Cantando Estações

    A carreira de Damien Chazelle ainda está no início. O musical La La Land: Cantando Estações é apenas o terceiro longa metragem até aqui, e o segundo no formato cantado, precedido pelo pulsante  Whiplash: Em Busca da Perfeição. A nova produção do diretor mira uma história metalinguística, levando em conta dois personagens bastante diferentes entre si mas com algo em comum: a paixão não correspondida pelas artes.

    O primeiro personagem mostrado é o pianista e aficionado por jazz, Sebastian (Ryan Gosling), um homem belo, talentoso e genioso, que anseia por construir seu próprio bar de jazz, para poder reverenciar em paz seus ídolos que ficaram no passado. Sua trajetória envolve a aceitação de empregos degradantes e supressão de seus sonhos e talentos em detrimento de ganhar dinheiro com o que gosta de fazer, fator que se repete também na jornada de Mia Dolan (Emma Stone), uma atriz também frustrada que sempre vai mal nas audições de dança e que trabalha em uma cafeteria.

    Já na primeira cena, em meio a estação invernal, há um número belíssimo de canto e dança, com as pessoas se retirando dos carros engarrafados em uma via de Los Angeles, celebrando um dia de sol em meio a estação que deveria ser a mais fria do ano. Nesse momento já se estabelece o cenário de muitas luzes, holofotes e contato direto com as celebridades e com as locações hollywoodianas, soando irônica essa proximidade, uma vez que o fato dos dois personagens – e de tantos outros que o cercam – viverem sob aquela localidade não garante a eles uma facilidade maior para a realização das suas aspirações.

    Diferente de Whiplash, a via crucis para o auge do artista não é mostrada sob um olhar megero e de extremo sacrifício, embora haja sim uma enorme dose de entrega dos protagonistas, que demoram inclusive a engrenar o romance entre ambos, a despeito até da química previamente estabelecida entre Stone e Gosling, que já contracenaram em Caça aos Gângsteres e Amor à Toda Prova. O enlace entre os dois somente ocorre após algumas insistências, dificuldades essas que facilitam a empatia do público com a dupla.

    Chazelle consegue misturar bem os elementos triviais com os mais rebuscados em seu roteiro. Ao mesmo tempo em que todas as coincidências soam naturais os comentários metalinguísticos também, em especial no destino reservado a Mia, trajetória essa que lembra demais a do próprio cineasta, que antes de conseguir elevar seus textos a um patamar premiável, teve que se submeter a trabalhar nos scripts de filmes visivelmente menos inspirados, como os de Toque de Mestre e O Último Exorcismo Parte 2. As ligações entre autor e obra se dão principalmente na parte final do caminho que Mia percorre, mas os acontecimentos não são descuidados ao ponto de deixar a série de eventos soar banal ou sem emoção, todo o percurso é extremamente cativante e surpreendente em cada fato.

    Muito se fala do desempenho de Stone, que normalmente é deixada de lado por grande parte da crítica por não ter uma beleza típica das mulheres fatais. De fato em La La Land todos os esforços de trabalho e feições da moça funcionam a perfeição, já que ela varia entre a menina comum e de repertório extraordinário e é bonita na medida para deixar qualquer homem encantado com sua docilidade. Mas é a Gosling que resta o melhor papel, e após um hiato de atuações arrebatadoras é muito gratificante observar os seus trejeitos e suas respostas rápidas para as mais diversas situações, principalmente as cômicas. Suas manias e obsessões o tornam um sujeito irresistível e carisma magnético. Apesar dos dois atores já terem uma história de trabalho em conjunto antiga, é aqui que ocorre o ápice da performance romântica, que varia entre o melodrama, a paixão gratuita e o agridoce típico do destino.

    Musicais normalmente tem uma dificuldade para findar suas histórias, e mais uma vez La La Land foge à regra, já que é nos momentos finais que se gera a discussão mais madura e poética do longa, pondo de lado a vaidade e os sonhos mais infantis em comparação com a obrigação adulta de ter uma renda. A aceitação do destino e a visão plena de que para se realizar a maioria dos sonhos é preciso ser pragmático e escolher vias menos agradáveis são elementos que tornam o argumento bem inteligente, tornando-o imune a maioria das críticas ranzinzas que sofreu no início das exibições testes. O modo como é conduzido a cisão com os sonhos idílicos mostra o quão cruel pode ser a vida, expondo uma realidade crua e que não permite que algumas idealizações andem lado a lado.

    A mensagem final é explicita de que é preciso escolher um rumo para prosseguir, e de que observar o passado com nostalgia pode até ser prazeroso, mas ainda assim é um exercício fútil e sem sentido. Impressiona como esse recado soa tão harmônico com uma proposta tão poética e doce, fazendo lembrar o espectador que apesar de doer deixar passar os sentimentos mais profundos da alma humana, ainda é possível suplantar esse vazio com outros suportes emocionais, sem necessariamente se apoiar em placebos ou em discursos fáceis de aceitação da dor e da perda.

  • Crítica | A Grande Aposta

    Crítica | A Grande Aposta

    A Grande Aposta 1

    Baseado em uma premissa humorística, tomando por base a pré-crise financeira que acometeu os Estados Unidos em 2008, A Grande Aposta brinca com o mercado de especulação, usando a bolha imobiliária como ponto de partida de seu drama. O lugar comum da jornada ocorre a partir da visão privilegiada de Michael Burr (feito por um Christian Bale inspiradíssimo) que percebe a aproximação do período terrível para a economia mundial.

    A direção surpreendente de Adam McKay consegue reunir na louca história escrita por ele e Charles Randolph (Sexo, Amor e Outras Drogas) – na adaptação do livro de Michael Lewis, o mesmo autor de Moneyball e Um Sonho Possível – um elenco prolífico e muito talentoso. Outros especuladores, liderados por Steve Eisman (Steve Carell) percebem as mudanças do mercado, mas demoram a ceder aos encantos de Greg Lippman (Ryan Gosling), um sujeito sorrateiro e falacioso, que pioneiramente se atenta para os investimentos que sobreviverão ao ambiente quase apocalíptico que se aproxima.

    A experiência em comédias rasgadas, aliadas quase sempre a Will Ferrell, a exemplo de O Âncora e Tudo Por Um Furo, credenciam o diretor a conduzir uma paródia do efervescente mundo de Wall Street, com uma perversão metalinguística, evoluindo o conceito aberto anteriormente por Martin Scorsese em O Lobo de Wall Street, e uma marca pessoal curiosa, atribuída ao seu produtor, que também atua no filme. Além de um Brad Pitt mais preocupado em equilibrar todas as forças da fita do que tornar seu personagem no galã que comumente apresenta.

    O argumento, jocoso em essência, apresenta um mundo masculinizado, se assemelhando em espírito ao universo proposto por Andrew Dominik em O Homem da Máfia, ainda que seja o cinismo, e não a crueldade, a mola motriz da política do filme. Há alguns momentos de interrupção da trama, apresentando a quebra da quarta parede, unicamente para demonstrar ao espectador que toda a realidade exposta ali é digna de risos, com piadas do sofrimento alheio.

    Dentro do trabalho dos homens de Eisman há um bocado de sequências cafonas, apelando para um sentimentalismo extremamente barato. Olhar para este aspecto como um simples erro, ou tentativa de redenção aos homens cheios de retórica, é uma atitude banal, já que a intenção do texto em fazer tais apelos é aludir à necessidade que as cobras têm em gerar esperança em seu público, povo e consumidores, associando ao jogo político um sentimento que em nada condiz com a realidade e com o pragmatismo com que um regime governamental é levado.

    A estilização dos barões industriais não esconde as suas reais intenções, tampouco salvaguarda os exploradores de seus pecados, ao contrário, humanizando os personagens reais, mostrando-os com defeitos, amores não correspondidos e problemas pessoais, aproximando o espectador de uma história praticamente inacreditável por meio de atuações que beiram a perfeição, com um elenco tão afinado que rivaliza com o recente Spotlight – Segredos Revelados em talento conjunto, ainda que sua trama necessite ainda mais desse aspecto do que o filme de Tom McCarthy, diferenciada em praticamente tudo se comparada com seus primos premiáveis. McKay produz uma comédia negra, que em suma desconstrói todo o seu esforço em sua filmografia anterior, já que este é seu produto mais visceral, realista, pessimista e cru.

  • Top 10 | Filmes para o Dia dos Namorados

    Top 10 | Filmes para o Dia dos Namorados

    Uma das forças de movimento do ser humano, o amor é um dos sentimentos mais arrebatadores e controversos que existe, principalmente, por conta de sua potência e de limites naturais que podem transforma-lo em passado e bruma. Presente na maioria das narrativas, os amantes são figuras primordiais e estão presentes no imaginário popular desde a composição do livro da criação, representados por Adão e Eva. Independentemente de seu fruto, os amantes são sempre um tema rico explorado pela sétima arte e, neste dia dedicado aos enamorados, Marcos Paulo, Doug Olive, Filipe Pereira, o recém-chegado Halan Everson e Thiago Augusto Corrêa se reuniram para compor mais uma lista, dessa vez, direcionada a pares unidos pela ficção (Em tempo, a última vez que a equipe se reuniu para o assunto foi no sexto Vortcast, “Ahhhh, O Amor…“. Porém, até mesmo no imaginário, o amor não é eterno posto que é chama. Uma justificativa que explica porque, dentre a lista desenvolvida, algumas obras são um misto de felicidade e tristeza simultânea. Ainda assim, a aventura de um amor é um dos grandes prazeres humanos. Não a toa a canção do quarteto de Liverpool assume que tudo que precisamos é de amor.

    Ela (Spike Jonze, 2013) – Por Marcos Paulo

    Filme de destaque no ano de 2013, conta com um Joaquin Phoenix irreconhecivelmente frágil no papel de Theodore e Scarlett Johansson como Samantha, sua sedutora assistente virtual. Em um mundo surreal, pessoas criam laços profundos com seres virtuais como solução para perda do sentido de contato e afeição em seu mundo físico. Questões sobre amor, necessidades e aquilo que nos faz humanos, são parte desta fábula criada por Spike Jonze refletindo aquilo que um relacionamento, seja como for, traz de mais especial: pertencer a algo maior.

    Azul é a Cor Mais Quente (Abdellatif Kechiche, 2013) – Por Doug Olive

    Uma grande brincadeira (levada a sério por parte do público) com o atual cinema francês. Um filme onde se opta por esquecer trilha sonora, montagem americana ou a tentação de muitos em definir essa “nova” geração. Ao invés disso, Azul é a Cor Mais Quente nos conquista substituindo o ritmo narrativo oriundo dos quadrinhos pelo nível excepcional de todas as atuações; em especial da protagonista, com seus inúmeros monólogos sem palavras. Cada gemido ou sugada de espaguete é sinal verde para a próxima cena, às vésperas de um novo riso ou choro para nos deixar órfãos da insensibilidade – tudo aflora! No universo sem contexto ou decretos de Adéle, nua do começo ao fim, nada é, mas tudo pode ser intencional transvestido de inofensivo. Um furacão que arrasou Cannes em 2012, e um arco-íris de sensações, pintado no limite entre a lucidez e a explosão emocional; uma homenagem crônica, afinal, à liberdade – la voie, la vérité, la vie, o lema político da França e das democracias pertinentes.

    Amor (Michael Haneke, 2013) – Por Filipe Pereira

    Evocando a fase adulta da terceira idade, como pano de fundo, Michael Haneke faz um verdadeiro filme de horror, exibindo as agruras da vida a dois através do drama de Amor. A história é contada a partir dos olhos de Georges, vivido pelo veterano Jean-Louis Trintignant, que assiste a degradação mental de seu par, Anne ( com a inspirada Emmanuelle Riva) que aos poucos perde a consciência e o controle de seus movimentos e de sua consciência mental, graças a uma variação rara de uma doença mental, além de fazer fortes alusões a proximidade da morte. O começo do filme já revela os momentos do último ato, com a decomposição corporal da pessoa do belo sexo, ainda que o ponto de vista seja absolutamente diferente da ideia “romântica” do que é um namoro/casamento. O modo como Georges trata sua combalida companheira passa por todos os estágios inerentes a uma junção de duas pessoas, mortificando qualquer fetiche de que a vida de um casal é repleta de sexo e desejo carnal mútuo, indo desde o carinho extremo a impaciência e esgotamento emocional, em uma monta russa emocional que não deixa qualquer espectador incólume.

    Essa Noite Você é Minha (David Mackenzie, 2011) – Por Halan Everson

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    Quando a música é parte essencial da trama de um romance, me soa muito mais agradável querer acompanhar esse tipo de filme porque certamente a música será utilizada além dos mesmos recursos batidos algo diferente do usual. E é nessa pequena pretensão de ser algo diferente que Essa Noite Você é Minha faz uso da fórmula sem ficar engessada nos clichês dela. Dirigido por David Mackenzie (do excelente Sentidos do Amor, também de 2011), acompanhamos uma fábula de romance acontecendo durante um festival de música, que não existem de hoje, mas acredito ser um dos poucos filmes dedicado a ficar exclusivamente nesse mesmo ambiente espiritual do inicio ao fim. Na trama, um líder de uma banda famosa do evento (Adam, Luke Treadaway) é algemado á uma vocalista de outra banda (Morello, Natalia Teña), que está tentando ganhar seu reconhecimento. Simples assim, essa premissa acontece derrepente e você vai junto ou não engole todo o resto. Geralmente esse tipo de filme está relacionado ao ambiente urbano fazendo essa experiência algo diferente. A música é personagem integrante da trama e realça muito dos momentos mais interessantes do filme, tanto de fundo como cantadas incluindo um incrível duo de Tainted Love feito por Teña e Treadaway. É uma excelente forma de fugir da cidade e viver um conto jovial e musical.

    A Bela e a Fera (Gary Trousdale e Kirk Wise, 1991) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Bela e a Fera

    Considerado um dos clássicos supremos da Walt Disney Pictures, A Bela e a Fera dá continuidade as histórias adaptadas de fábulas e a trajetória de personagens femininas denominadas popularmente de princesas Disney. Composta por uma bela e simples história, a narrativa tem alcance em adultos e crianças, cada um lendo a obra de maneira diferente, conforme sua experiência. Como fábula, a história é conduzida pelo contraponto entre virtudes e vícios, deixando explícito a moral de nunca julgar pela aparência. A sensibilidade da trama e o crescimento da relação entre as personagens centrais é o principal enlace com o público, uma relação que se modifica na magnífica – e perfeitamente produzida – cena do salão de dança enquanto a canção A Bela e a Fera (Tale As Old As Time) é entoada.

    Namorados Para Sempre (Derek Cianfrance, 2010) – Por Marcos Paulo

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    Embora seu título original, Blue Valentine, pareça distante de sua tradução, o título é bastante adequado à este anti romance estrelado por Ryan Gosling e Michelle Williams, como o casal Cindy e Dean. Unidos por um acaso, a paixão do amor desintegram-se num relacionamento incapaz de se doar e amadurecer para além de um namoro juvenil, tornando os para sempre namorados. A falta de perspectiva, cobranças ocultas e a insatisfação os tornam amargurados e perdidos entre o que foram e o que gostariam de ser.

    Desencanto (David Lean, 1945) – Por Doug Olive

    desencanto

    Em 2015, o diamante em estado bruto de David Lean completa setenta anos, com o tempo o fazendo cada vez melhor, e mais relevante que nunca, no Olimpo do gênero que representa fácil e esplendorosamente bem, a medida que é lapidado pela evolução do Cinema. A fumaça do trem separando um casal, porém, ainda não abaixou na estação, enquanto os olhos de lua da atriz Celia Johnson aguardam para sempre o eterno amor do passado, naquela mesa de bar, sozinha. Mesmo com Lawrence da Arábia e A Ponte do Rio Kwai, épicos devido a escala de produção, é o sentido mais puro e cru de épico, do tipo que chega a tocar na perfeição, que torna Desencanto, primo tímido de Casablanca, um dos mais sensíveis e amargos romances da Era de Ouro em Hollywood, o testamento supremo de Lean. Chico Buarque, no álbum de 1968, canta no hino. Desencontro a definição perfeita a um dos mais doces e fatalistas romances, onde o preço do amor é cobrado a partir de suas polaridades, valor e capacidade de colorir vidas condenadas ao mundo preto e branco dos desejos não-correspondidos.

    Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (Daniel Ribeiro, 2014) – Por Filipe Pereira

    A singela historieta pensada por Daniel Ribeiro, primeiro em seu curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, ganha ares de maturidade no belo longa Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, contando a história do duplamente excluído Leonardo (Guilherme Lobo) que, além de cego, começa a explorar vagarosamente sua sexualidade, no apogeu de sua puberdade, eclodindo uma paixão improvável com seu novo amigo, Gabriel (Fabio Audi), que também passa a descobrir os próprios desejo e pulsões de paixão e sexo na prática. A condução de atores tão jovens é belíssima, dá ainda mais sentido para a trama, relembrando filmes semelhantes de descoberta das manifestações de amor, com a obra que alude ao quadrinho de Julie Maroh, Azul é a Cor Mais Quente, ainda que a identidade da fita de Ribeiro seja carregada de brasilidade e identidade visual típica do país, unindo o formato bem urdido com um drama interessante e sensível ao extremo.

    Romances e Cigarros (John Turturro, 2005) – Por Halan Everson

    romances e cigarros

    John Turturro é um cara que é muito mais lembrado por ser coadjuvante. Pode ser por uma dessas que quando ele resolve tomar as rédeas de um projeto saiam peças tão únicas quanto esse belo romance/musical produzido com a ajuda dos Irmãos CoenJames Gandolfini vive o marido infiel de Susan Sarandon que tem um caso com Kate Winslet. É nessa simples trama de adultério que temos excelentes performances musicais dos protagonistas e dos coadjuvantes usando de uma sutil sincronia com as músicas originais enquanto cantam. Obviamente uma ideia que quebra toda a seriedade de uma discussão ou uma briga não poderia se levar a sério, e Turturro faz questão de brincar com o surreal de maneira agradável com aparição de mortos que quebram a quarta parede, conversas aleatórias numa obra e montagens de videoclipe dão o tom mais que divertido para o filme. Ele não perde o compasso entre a seriedade e os momentos de comédia em nenhuma das suas passagens, sabendo dosar cada uma da melhor forma o possível até o final.  Certamente um filme para rever varias vezes.

    Casablanca (Michael Curtiz, 1942) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Image: FILE PHOTO: 70 Years Since The Casablanca World Premiere Casablanca

    Presente nas listas de Melhores Filmes de Todos os Tempos, Casablanca também é uma grande história de amor explorando, com a ironia característica de  Rick Blane, a beleza e a amargura de uma relação. O roteiro de Julius J. EpsteinPhilip G. EpsteinHoward Koch é uma das composições mais perfeitas da sétima arte, construindo uma gama de temas profundos sem desequilibrar nenhum aspecto narrativo. A guerra se contrapõe ao amor como metáfora fatalista de afastamento, o par central que se enlaça e se afasta representa a potência da união em contrapartida ao repertório interno de cada ser amado. A personagem de Bogart é tão miserável que é quase impossível não se identificar simultaneamente.

  • Crítica | Caça aos Gângsteres

    Crítica | Caça aos Gângsteres

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    Imagine-se em um bar. Daí aparece aquela mulher linda e maravilhosa. Você fica olhando de longe, admirando seu charme, seu sorriso, sua beleza estonteante e começa a achar que ela é especial. Única. Então você se aproxima e começa a conversar com ela. Em poucos minutos percebe que ela é superficial e comum. Essa é a sensação provocada por Caça aos Gângsteres. O filme tem muito estilo e apresentação pra pouco conteúdo.

    Passado em 1949, o impiedoso mafioso nova iorquino Mickey Cohen, vivido por Sean Penn, comanda com braço de ferro o crime organizado na cidade de Los Angeles. Sua influência vai além dos criminosos comuns, chegando ao escalão da polícia e aos políticos da região. Porém, um pequeno grupo de policiais liderados pelos sargentos John O’Mara e Jerry Wooters, vividos respectivamente por Josh Brolin e Ryan Gosling, resolve desmantelar a organização de Cohen.

    A trama é um completo decalque de Os Intocáveis, o já clássico filme dirigido por Brian De Palma. Porém, as semelhanças param por aí. Não vou comparar os dois filmes, vou apenas estabelecer alguns paralelos. Enquanto Eliot Ness e seus companheiros eram personagens bem delineados, com motivações profundas e críveis, nesse aqui as motivações são as mais mundanas possíveis. Um não quer que o filho ache que ele não fez nada enquanto a máfia dominava, o outro é o detetive que reluta em entrar no grupo e por aí a banda segue.

    O elenco estelar encabeçado por Gosling e Brolin tem atuações rasas, ainda que existam alguns breves momentos inspirados, mas nada além disso. Em nenhum momento o espectador consegue sentir empatia pelos heróis, chegando até mesmo a uma certa indiferença ser despertada.  É possível que os personagens profundos como um pires tenham influenciado nesse aspecto. Nem Sean Penn se destaca em meio às interpretações desfiladas na tela. Aliás, chega a dar pena a sequência em que o oscarizado ex-marido da Madonna tenta emular o icônico Tony Montana (Al Pacino em Scarface, outro filme do Brian De Palma). O diretor Ruben Fleischer não soube aproveitar o material humano que tinha em mãos. As cenas de ação são genéricas e não empolgam. Fora que a trilha sonora é completamente equivocada. Em vez de elevar a tensão da cena, dá nos nervos do espectador.

    O ritmo do filme é até interessante, sem muita enrolação, indo direto ao ponto. O diretor faz um uso interessante da câmera lenta em algumas cenas. Porém, os clichês vão se amontoando pelo caminho. Um fato é intrigante: os personagens são policiais, estão trabalhando à margem da lei, são conhecidos pelos bandidos da cidade, não usam máscaras pra fazer as batidas nos locais “secretos” onde a bandidagem opera, e custam a ser identificados mesmo frequentando bares e restaurantes apinhados de meliantes. É algo que não faz muito sentido e acaba passando batido no roteiro. Como ponto positivo, temos a impecável ambientação de época. A Los Angeles recriada é maravilhosa e os  figurinos são de encher os olhos. A direção de arte, de efeitos especiais e a cenografia merecem parabéns.

    Caça aos Gângsteres poderia ter sido um filmaço. Só conseguiu ser esteticamente lindo. Faltou cérebro nele. Cultuaram demais o corpo e esqueceram da mente.

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  • Crítica | O Lugar Onde Tudo Termina

    Crítica | O Lugar Onde Tudo Termina

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    Segundo longa-metragem de Derek Cianfrance, este The Place Beyond the Pines traz um drama com uma história pouco convencional, cheia de reviravoltas e magistralmente filmada.

    O filme é dividido em três atos que são protagonizados por personagens diferentes. O primeiro deles é estrelado por Luke Glanton, interpretado por Ryan Gosling que já havia trabalhado com Cianfrance no excelente Blues Valentine. A situação familiar indesejada em que o personagem se mete o leva a tomar atitudes precipitadas e impensadas, fazendo-se valer de seu talento como dublê de motocicletas – papel muito semelhante a um de seus recentes sucessos, Drive. A tatuagem no rosto de Glanton prevê as lágrimas que viriam a cair sobre o seu rosto – um paralelo interessante entre sua antiga e desregrada vida, e seu novo estilo “familiar”. A decisão que o personagem toma por impulso o leva a uma série de ocorrências cada vez mais perigosas, Glanton parece não conseguir medir a gravidade das coisas que faz e das consequências que elas trariam.

    A perseguição policial em que o dublê se envolve é uma sequência impressionante, oras em primeira pessoa e em outros momentos com câmera na mão. Cianfrance evolui cada vez mais em suas realizações. Ao apresentar o próximo protagonista, o diretor registra uma lágrima caindo da janela do segundo andar, o que não poderia ser mais emblemático. Mudar o foco e mostrar histórias distintas no mesmo filme é uma tarefa complicadíssima, e o roteiro não peca, ao contrário, mostra a evolução dos envolvidos sobre outra ótica. A trama de Avery Cross – Bradley Cooper – é bastante diferente da de Luke Glanton, seus dramas e problemas são o completo inverso do criminoso.  Em todo momento, o policial é reticente em praticar atos ilícitos, seu Ethos parece incorruptível, e seu pecado, ao menos em sua própria interpretação é o de conivência e não corrupção pura e simples.

    O terceiro ato ocorre após 15 anos e registra as ações da geração posterior a de Luke e Avery. O passado de Cross – que agora ocupa o cargo de promotor público – vem para assombrá-lo e ele tenta mais uma vez remediar a situação de forma equivocada.

    As atuações certamente são o ponto forte do filme, Derek Cianfrance trabalha muito bem com o que tem em mãos. Coadjuvantes como Robin – Ben Mendelsohn – marcam presença de forma eficiente e abrilhantam demais o produto final. O trio de protagonistas também exerce seu oficio de maneira belíssima, Gosling faz o que já está habituado – o que é sempre bom – Cooper encarna muito bem o policial honesto e o político ganancioso e isolado, seus problemas são reais e fazem o espectador sentir a sua dor e  isolamento. Dani DeHaan faz um papel riquíssimo e é a boa surpresa do filme. Em muitos momentos emula as características de seu pai, agindo como uma bomba prestes a explodir, e em outros ele tem atitudes como as de sua mãe e seu pai adotivo, seu personagem é uma amálgama muito bem feita e mesmo com tudo isso possui personalidade própria.

    Os 15 minutos finais são de uma tensão absurda. O Lugar Onde Tudo Termina fala sobre como um péssimo dia pode gerar uma cadeia de eventos  caótica, e acabar com toda uma (ou mais) vida(s) “correta(s)”. Não trata o espectador como imbecil e não faz concessões morais, seus personagens são tridimensionais e cheios de falhas.

  • Crítica | Drive

    Crítica | Drive

    Que preço estamos dispostos a pagar para vivermos pautados por um código? Até onde nos é possível negar nossa própria natureza? Podemos colocar as pessoas que mais amamos em risco em troca de nossa própria felicidade?

    Ao fim de Drive, filme mais recente do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn (Pusher, Bronson, Guerreiro Silencioso), o motorista vivido por Ryan Gosling terá – ainda que apenas para ele mesmo – as respostas para todas essas dúvidas. Até lá, entretanto, ele terá de atravessar e, se possível, conseguir sair vivo de uma espiral de violência, frustração e desilusão.

    Logo no início, somos apresentados ao motorista vivido por Gosling. Todos à volta veem que ele ganha a vida em dois empregos: como piloto para cenas de acidentes em filmes de ação e também como mecânico. No entanto, o piloto – sim, ele em momento algum do filme será chamado pelo próprio nome e o motivo ficará claro ao longo da trama – também conduz carros em assaltos. E é justamente nesse período – na tensa cena do roubo ocorrida no começo da película – que ele estabelecerá uma série de regras a serem cumpridas por seus contratantes.

    Sabemos, portanto, que o motorista vive por meio de regras. Normas. Um código de conduta. O que, numa alusão simbólica, o aproxima por demais da figura do samurai e seu Bushidô. A associação ao “homem silencioso” criado por Clint Eastwood para a Trilogia dos Dólares de Sergio Leone também é bastante adequada.

    O piloto é contido. Calmo. Fala pouco. E mesmo as raríssimas palavras que saem de sua boca são emitidas num baixíssimo volume. Ele não tem nome. Não há individualidade. O motorista é a personificação de uma maneira particular de enxergar a vida. No entanto, essa postura plácida é apenas aparente. Só uma contenção. Ao olhar nos olhos do homem, sabemos desde o início que ali dentro se encontra uma bomba-relógio prestes a explodir.

    E o gatilho desse explosivo é acionado em dois momentos.

    O primeiro é quando ele encontra e se envolve com a garçonete Irene (Carey Mulligan) e seu filho, Benicio (Kaden Leos). Os dois representam algo que ele nunca teve: redenção. A possibilidade de uma família e de laços afetivos. O distanciamento do mundo violento e arriscado no qual o motorista vive. O personagem se humaniza.

    No entanto, esse estágio chega ao fim com o retorno do marido de Irene, que até então estava na cadeia. A partir daí, uma série de fatores – todos envolvendo o dinheiro roubado inadvertidamente de mafiosos – vai acionar o segundo detonador. Quando a garçonete e o menino passam a correr risco, a explosão do motorista é inevitável e devastadora. Sua natureza, enfim, vem à tona. A justiça precisa ser feita. E terá que ser a seu modo.

    Aqui, o código de conduta do piloto predomina. Ele não quer o dinheiro. É sujo demais. Deseja apenas proteger a mulher e a criança pelos quais se apaixonou.

    Winding Refn demonstra um impressionante domínio da composição. Não há um fotograma sequer que seja menos que excelente. As belíssimas tomadas aéreas de Los Angeles (lembrando muito as produções de Michael Mann), a manipulação de luz e sombras, o contraste acentuado entre claro e escuro – aqui, méritos também para o diretor de fotografia Newton Thomas Sigel.

    Tudo funciona perfeitamente, inclusive – e principalmente – a condução dos atores. Ainda há espaço para uma cena de perseguição perfeita – para ser mais específico, a que envolve um Mustang GT preto e um Chrysler.

    Há claras referências aos filmes e séries de ação da década de 1980. Reparem nos caracteres cor de rosa usados na abertura do filme e percebam como lembram as letras utilizadas em seriados como Miami Vice. Isso sem mencionar a trilha sonora – grande parte calcada em composições dominadas por teclados e sintetizadores.

    O autor também é hábil ao sugerir, por meio de uma série de metáforas, a essência do personagem principal. Isso é particularmente notado numa cena de extrema violência – sempre filmada de maneira direta e seca – dentro de um elevador. Nela, após um ato violento – motivado inteiramente por um instinto de autodefesa – o motorista permanece no interior, enquanto Irene vai para o lado de fora.

    Assustada com a carnificina que acabou de presenciar, ela se afasta. Em segundos, a porta do elevador os separa. O recado é claro: ambos vivem em mundos separados.

    A metáfora maior, no entanto, está na jaqueta usada pelo piloto. Há a imagem de um escorpião costurado às suas costas. E o diretor propositalmente realiza uma série de closes na figura do artrópode. Calmo e silencioso. Letal quando forçado a agir. Assim é o escorpião. Assim também é o motorista.

    E ainda sobre o escorpião, cabe citar outra metáfora. Esta, no entanto, está ligada a uma velha fábula que talvez já tenham ouvido falar.

    Com uma ou outra variação, a história conta mais ou menos o seguinte: certa vez, um escorpião se aproximou de uma rã (em algumas versões é uma tartaruga) e pediu que ela o levasse ao outro lado de um rio. A rã rejeitou o pedido, argumentando que certamente o escorpião a picaria. O artrópode a tranquilizou, afirmando que jamais faria aquilo, uma vez que, como estaria nas suas costas, e ambos estavam no meio de um rio, se a picasse e ela se afogasse, ele certamente também morreria. Portanto, não fazia sentido que a rã desconfiasse de que ele poderia matá-lo.

    Diante de tamanha lógica, a rã aceita a proposta, coloca o escorpião em suas costas e começa a travessia. No meio do rio, entretanto, para espanto da rã, o escorpião a pica com seu ferrão.

    “Você enlouqueceu?”, pergunta a rã. “Agora eu vou morrer e você, que está nas minhas costas e não sabe nadar, vai se afogar junto comigo”. O escorpião olha para a rã e responde calmamente: “Sinto muito. Esta é a minha natureza”.

    Ambos morrem.

    É justamente uma menção a essa fábula que o motorista usa para dar ao bandido Bernie Rose (Albert Brooks, excelente) a noção exata de sua própria natureza.

    Como as melhores obras de arte, “Drive” está aberta a interpretações. No entanto, as duas principais mensagens transmitidas pelo seu escritor – o filme é uma adaptação do romance homônimo escrito por James Sallis – são bem claras:

    – Paga-se um preço alto por viver por meio de um código.

    – As pessoas podem até fingir para si mesmas e se adaptar às situações por um tempo. Mas, no fim, a sua natureza, a sua verdadeira essência, virá à tona.

    O anti-herói interpretado por Ryan Gosling traduz perfeitamente as afirmações acima.

    No fim, este filme cumpre um papel importantíssimo: dá um belo soco no estômago de todos aqueles que argumentam que “filmes de ação não precisam de conteúdo, argumento ou um bom roteiro”. Argumento muito comum entre os fãs de produções como “Transformers”…

    Assista “Drive” pelo menos 10 vezes para entender que ação e uma história extremamente bem construída e dirigida não precisam – e nem devem – estar dissociados.

    Texto de autoria de Carlos Brito.

  • Crítica | Tudo pelo Poder

    Crítica | Tudo pelo Poder

    Pouco depois do início de Tudo pelo Poder, o personagem Tom Duffy (Paul Giamatti) tenta convencer Stephen Meyers (Ryan Gosling) a mudar de lado na campanha das primárias para escolher o futuro candidato democrata às eleições presidenciais dos Estados Unidos.

    Ambos trabalham para concorrentes dentro do mesmo partido. Impressionado com o carisma do jovem e ambicioso assessor interpretado por Gosling, Giamatti quer contratá-lo a todo custo e, para isso, argumenta que o candidato de quem o jovem é empregado dificilmente vai vencer a disputa.

    “Não posso aceitar a oferta”, recusa o assessor. “Trabalho para Mike Morris (George Clooney). Acredito nas propostas dele. Acredito que ele realmente pode fazer diferença na vida das pessoas. E, além do mais, ele é meu amigo”.

    A resposta do personagem de Giamatti – na forma de uma pergunta – não poderia ser mais direta: “Você quer trabalhar para o seu amigo ou para o futuro presidente?”. A fagulha que incendeia a ambição e a vaidade de Stephen Meyers é lançada aí. As chamas desses sentimentos vão se espalhar e virar sua vida do avesso.

    Na verdade, esse exercício de retórica apenas abre espaço para o assunto sobre o qual George Clooney – que dirige o filme e também interpreta o candidato Mike Morris – quer colocar sua lente de aumento: a perda definitiva da inocência. O personagem de Gosling não é bobo. Sabe que está num jogo. Que todas as palavras de cada discurso, entrevista ou debate são fundamentais para que seu candidato chegue à vitória. No entanto, percebemos que ele possui uma visão limitada da máquina monstruosa da qual faz parte. A realidade é percebida por um filtro de credulidade devotada a seu chefe. Um grande erro, sem dúvida.

    Em pouco tempo, entretanto, ele vai aprender da pior maneira que, dentro do jogo político, não há espaço para sentimentos. Não há espaço para falhas. E também não há espaço para deslealdades, como o chefe da campanha de Clooney, interpretado por Philip Seymour Hoffman, o lembra num momento crucial do filme.

    As campanhas estão acima de tudo. E mesmo supostos inquebráveis laços de amizade podem ser partidos sem maiores preocupações em favor da vitória do candidato defendido. Isso fará toda a diferença ao longo da trama. A inocência do personagem principal será arrancada pedaço por pedaço de forma impiedosa.

    No começo da história, os dois candidatos democratas disputam as primárias no estado de Ohio. A conquista do apoio de um senador de posições radicais é fundamental para saber quem será o vencedor. Clooney, apesar dos esforços de seus dois assessores principais para convencê-lo, não está disposto a aceitar.

    Gosling o olha com respeito e admiração.

    No entanto, o envolvimento romântico que ele terá com a estagiária interpretada por Evan Rachel Wood vai lhe colocar em contato com o choque de realidade que despedaçará sua visão idílica dos fatos. Seus olhos serão abertos à força. Mesmo ídolos aparentemente perfeitos possuem máculas. Algumas delas, bem graves.

    Não há heróis em “Tudo pelo Poder”. Mesmo o protagonista é capaz de mudar radicalmente de posicionamento quando está de posse do principal segredo do enredo. Tudo para obter uma vantagem. Suas convicções iniciais, outrora defendidas com tanta veemência, são descartadas por ele mesmo sem maiores traumas. A mudança de posicionamento é valorizada pela interpretação de Ryan Gosling – a partir desse ponto, sua postura física e olhar mudam visivelmente.

    O diretor faz uma apropriação de termos usados durante a disputa da última eleição para a Casa Branca. O termo “socialistas” usado pelos Republicanos – principalmente pela então candidata à vice-presidência Sarah Palin – para se referirem aos democratas está lá. Até mesmo o “We are ready to lead” proferido por Obama encontrou eco no personagem no representado por Clooney. A incorporação de um dos fatos mais marcantes da gestão Bill Clinton também é visível no roteiro. É impossível não notar a influência de cineastas proeminentes no cinema norte-americano nos anos de 1970, como Norman Jewison e Alan J. Pakula, na estética adotada por Clooney.

    A composição é limpa. Seus planos, na maioria das vezes, são estáticos. A ênfase não é no trabalho de movimentação de câmera, mas na interpretação dos atores. Coerente, uma vez que o próprio Clooney é um ator. Preferências estéticas que já haviam sido evidenciadas em seus trabalhos anteriores: “Confissões de Uma Mente Perigosa” e “Boa Noite e Boa Sorte”.

    Ainda sobre a composição de “Tudo pelo Poder”, os personagens são reduzidos quando comparados ao ambiente que os cerca. O homem aparece sempre pequeno diante de grandes prédios, palcos e salões. A metáfora é clara: dentro da política, o indivíduo é minúsculo. Apenas uma peça frente aos interesses e poderes que o sobrepõem largamente.

    Além disso – e mais uma vez volto a Pakula – luz e sombra são definidos claramente. Em boa parte das cenas, dentro do mesmo quadro, há espaços iluminados e outros sombrios. É o simbolismo do homem dividido entre a luz e a sombra. E que, no final, descobre de forma dolorosa que ter uma visão dualista da vida – e mais especificamente dos bastidos res da política – pode ser limitante e perigoso.

    Vivemos num grande cinza. E na luta pelo poder político, esse cinza é ainda mais intenso. George Clooney sabe disso. Nós deveríamos, também.

    Texto de autoria de Carlos Brito.