Tag: david mackenzie

  • Crítica | Legítimo Rei

    Crítica | Legítimo Rei

    Quem não recorda de Coração valente (filme de 1995 dirigido e estrelado por Mel Gibson)? Um épico e excelente longa com suas quase três horas, que conta a história verídica do revoltoso escocês William Wallace. Líder popular que liderou um pequeno exército de resistência ao jugo inglês.

    Para quem gostou do filme, há um outro mais recente que é imperdível: Legítimo Rei (Outlaw King). Lançado esse ano, o filme dirigido por David Mackenzie apresenta a história de Robert the Bruce – o oitavo do seu nome (Chris Pine), filho do também chamado Robert the Bruce – o sétimo do seu nome (James Cosmo), Rei de uma Escócia subjugada pela Inglaterra em finais do século XIII e início do XIV. Foi justamente a sanha de domínio de todas as terras britânicas por parte do Rei Edward I (Stephen Dillane), da Inglaterra, que despertou a resistência revoltosa de William Wallace e seus seguidores.

    Depois que o exército do Rei Edward I conseguiu capturar, executar e esquartejar o corpo de Wallace (ponto exato da história onde termina o filme de Gibson), começa a exibir partes de seu corpo pela Escócia. Aproximadamente no mesmo período Robert the Bruce – o pai (o VII) falece. Revoltada com o que o Rei Edward I faz com Wallace, parte da população escocesa, liderada por Robert the Bruce – o filho (o VIII), decide iniciar nova resistência ao Rei inglês. Sem adentrar em muitos detalhes para não gerar informação prévia (spoiler) sobre o filme, importa dizer que ele sofre derrotas, grandes perdas e desterro. Passa anos fugindo até se organizar e retornar para sua terra para lutar contra o Rei inglês (nesse momento já não mais Edward I, falecido, mas seu sucessor Edward II).

    O ponto baixo do filme é a aceleração da trama para ficar dentro do padrão comercial, duas horas de duração. Fosse produzido com mais ousadia, e com trama desenvolvida mais em consonância com o espaçamento temporal da história real, a película alcançaria o nível das inesquecíveis como alcançou a de Gibson.

    Legítimo Rei é uma bela produção. Locações fenomenais (a Escócia tem paisagens naturais deslumbrantes), figurinos e ambientações mais qua adequados e convincentes; fotografia que transmite a sensação de estarmos dentro da época e das cenas, com destacado papel na composição das emoções. Talvez uma pequena falta seja a trilha sonora, praticamente inexistente.

    Como destaque final ficam as atuações de Pine e Dillane. Se a direção de Mackenzie (A Qualquer Custo) não chega a ser um primor, ao menos não compromete a qualidade do filme. A história de Robert the Bruce (o VIII) é fenomenal e cativante. Não há dúvidas de que merecia uma película dedicada a ela; poderia ser um pouco melhor, contudo. Importante saber que Robert the Bruce VIII é ascendente de James I da Inglaterra (reinou os dois países, unificado-os), da casa de Stuart, e que permanece como linhagem direta da atual família real britânica.

    Texto de autoria de Marcos Pena Júnior.

    https://www.youtube.com/watch?v=V6Msl1HFJv0

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  • VortCast 55 | Melhores Filmes de 2017

    VortCast 55 | Melhores Filmes de 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral) e Rafael Moreira (@_rmc) recebem o ouvinte e podcaster Cliff Rodrigo Silva para comentar sobre a lista publicada no site sobre os melhores filmes lançados em 2017 no Brasil.

    Duração: 111 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Piores Filmes de 2017

    Lista Completa dos Melhores Filmes de 2017
    Crítica Mãe!
    Crítica T2 Trainspotting
    Crítica Manchester à Beira-Mar
    Crítica Em Ritmo de Fuga
    Crítica It: A Coisa
    Crítica A Qualquer Custo
    Crítica Planeta dos Macacos: A Guerra
    Crítica Star Wars: Os Últimos Jedi
    Crítica Blade Runner 2049
    Crítica Corra!
    Crítica Logan

    Comentados na Edição

    Lista Piores Filmes de 2017
    VortCast 54 | Piores Filmes de 2017
    VortCast 02 | Darren Aronofsky
    VortCast 45 | Pós-Oscar 2017
    VortCast 08 | Planeta dos Macacos
    VortCast 50 | Star Wars: Os Últimos Jedi
    VortCast 51 | Star Wars e as Polêmicas do Novo Filme
    VortCast 05 | Filmes Marvel
    VortCast 44 | Piores Filmes de 2016
    VortCast 46 | Melhores Filmes de 2016
    Overdrive #17 Androides sonham com ovelhas elétricas?

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  • Melhores Filmes de 2017

    Melhores Filmes de 2017

    Assim como no ano passado, realizamos uma lista coletiva dos melhores filmes do ano a partir da seleção pessoal de cada redator do site. Dessa forma, é natural que, numa equipe heterogênea formada por diversos profissionais e com visões diferenciadas sobre a crítica cinematográfica, uma lista como essa abarque diversos gêneros e estilos. Motivo mais do que necessário para não justificarmos as razões que esse ou aquele filme não integraram a lista final. Espero que gostem do resultado.

    (confira também nossa lista de Piores Filmes de 2017).

    10. Mãe! (Darren Aronofsky, 2017) – Por Felipe Freitas

    Darren Aronofsky talvez tenha sido o maior obstáculo de seu próprio projeto. Quando Mãe! estava próximo de chegar aos cinemas, o diretor já estava dissecando os conceitos do filme em qualquer entrevista que ele tinha oportunidade. Acabou que um dos melhores longas do ano ficou manchado pela fama de prepotência de quem o concebeu e por conta disso não teve o reconhecimento merecido. E bota merecido nisso!

    Jennifer Lawrence atua no melhor papel de sua carreira e carrega o filme nas costas quase que literalmente, já que 70% dele são planos fechados na atriz, seja em seu rosto ou em suas costas. É um trabalho difícil e cada segundo no filme nos dá a impressão disso. Mas Lawrence não está sozinha: Javier Bardem e Michelle Pfeiffer também estão em alto nível.

    Darren leva adiante suas personagens e sua grande alegoria com muito controle e um clima tão crescente que faz do terceiro ato do longa-metragem um dos mais megalomaníacos e fortes dos últimos anos, com primor técnico e carregado de significados — sejam eles frutos do ego do diretor ou não.

    9. T2 Trainspotting (Danny Boyle, 2017) – Por Flávio Vieira

    Há mais de 20 anos atrás, Danny Boyle adaptou o romance do escocês Irvine Welsh e apresentou Trainspotting (compre aqui) ao mundo. Na trama, acompanhávamos um grupo de jovens absortos em um universo de drogas, e também toda uma toxicidade social que os fazia repudiar o establishment. Por conta disso, apesar de toda ausência de compasso moral existente no filme, era óbvia a conexão do espectador (principalmente os mais jovens) com esses personagens. Somado a isso, Boyle se utiliza de uma subversão do modo de fazer cinema ao utilizar uma direção clássica e instrumental, interconectividades entre cenas aliados a registros visuais fortes, enquadramentos inconvencionais e alegorias oníricas e surreais.

    Em 2002, Welsh escreveu uma continuação para esses personagens em um novo romance: Pornô (compre aqui) — os adictos à heroína agora estavam envolvidos na indústria da pornografia. Apesar do material promissor, Boyle não conseguiu transformar o romance em algo bom o suficiente, mas apenas mais uma continuação comercial como tantas outras. O projeto foi abandonado e engavetado por cerca de dez anos para que finalmente o cineasta encontrasse sua história para Renton (Ewan McGregor) e companhia.

    O longa de 2017 possui um sabor nostálgico evidente, não só pelos personagens, mas também pelo fato dele a todo momento defrontar o seu passado e olhar para trás, some-se a isso ao sarcasmo, as inevitáveis tragédias, jogo de câmera embriagado e os correlatos visuais com o seu antecessor. Contudo, assim como os espectadores cresceram ao longo dessas mais de duas décadas, a evolução acontece com o novo filme. A maneira como o longa o tempo todo nos faz olhar o passado e o presente com outros olhos é um sinal de amadurecimento, ainda que escancare como não somente os personagens perderam muito de suas rebeldias e transgressões, o mesmo acontece conosco. T2 Trainspotting dá continuidade ao retrato cínico de uma geração, suas consequências e seus arrependimentos. Muito além de um retorno ao passado. Destaque para o monólogo de Renton revisitado e o diálogo-desabafo entre ele e Sick Boy (Jonny Lee Miller).

    8. Manchester à Beira-Mar (Kenneth Lonergan, 2016) – Por Fábio Z. Candioto

    Manchester à Beira-Mar foi uma das principais surpresas do ano passado. Inovador por ser uma distribuição da Amazon Studios (de um filme de qualidade, o contrário do que a Netflix vem fazendo) nos grandes cinemas e concorrendo a um grande prêmio, colocando ainda mais lenha na fogueira da discussão “cinema versus streaming”. Curioso também por ter sido realizado apenas pela ajuda financeira e emocional de Matt Damon ao endividado diretor Kenneth Lonergan e também polemico, por ter dado o Oscar de melhor ator a Casey Affleck em meio a acusações de assédio sexual, tudo isso antes do caso Harvey Weinstein e Kevin Spacey.

    Porém o filme não se sustenta por suas polêmicas, mas por sua brutal honestidade e sensibilidade ao lidar com perda, luto, tristeza e uma família destruída por mortes, trágicas ou não. Lee Chandler (Affleck) precisa juntar os cacos do que sobrou de si após a morte de seus filhos para ajudar o sobrinho que perde o pai, seu irmão Kyle Chandler (Joe Chandler). Sem entregar a história de primeira e alternando um feliz e normal ao depressivo e apático Lee Chandler, Kenneth nos guia de forma magistral até o momento que nos mostra a razão pela qual ele é assim, quase nos fazendo ter vergonha de ter sentido raiva do personagem. A partir daí, vários são os momentos que nos conectam cada vez mais àquela história, sem soluções mirabolantes, sem viradas repentinas e sem golpes de roteiro. Apenas pessoas normais tentando sobreviver.

    Talvez aí resida o fato de que o filme, ao mesmo tempo que fez sucesso na crítica, passou desapercebido do grande público. As nossas tragédias já são grandes demais para alguém nos fazer sentir tão fielmente a dos outros.

    7. Em Ritmo de Fuga (Edgar Wright, 2017) – Por Bernardo Mazzei

    A trilha sonora de um filme é uma parte muito grande de toda a experiência. Algumas trilhas são tão grandiosas, que costumam transformar um filme mediano em um filme empolgante. Mas o que dizer de um filme que foi idealizado para se encaixar perfeitamente com a trilha? Edgar Wright nos responde essa questão com o sensacional Em Ritmo de Fuga, um dos mais divertidos filmes de ação dos últimos tempos.

    Wright escreveu o filme para que tudo fosse perfeitamente sincronizado, com o preciosismo de encaixar até mesmo os barulhos dos tiros e das batidas de carro com a música de fundo. O resultado é impressionante. Pesam também a favor do filme o roteiro coeso, o ótimo elenco (com destaque especial pros vilões Jamie Foxx e Jon Hamm) e as cenas de ação que, por mais elaboradas que sejam, são tão bem filmadas que não deixam em nenhum momento o espectador perdido, pelo contrário, conseguem o situar perfeitamente dentro da ação.

    6. Empate

    It: A Coisa (Andy Muschietti, 2017) – Por Dan Cruz

    Remakes de filmes de terror das décadas de 80 e 90 nem sempre são sinônimos de sucesso. Franquias que arrebatavam fãs para salas de cinema no fim do século passado parecem não apresentar o mesmo fôlego nos dias de hoje para gerar continuações rentáveis financeiramente. Assim, as novas versões de Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo ficaram apenas no primeiro filme mesmo, enquanto as novas versões de Chucky, o Brinquedo Assassino nem mesmo chegaram a ser exibidas nos cinemas.

    Não é o caso de It: A Coisa. O filme baseado no romance homônimo de Stephen King (compre aqui) não só fez bonito nos cinemas como já deixou garantida a sua continuação para setembro de 2019, além de bater o recorde de bilheteria para filmes de terror nos Estados Unidos (anteriormente pertencente a O Exorcista, de 1973). Sabiamente, o diretor argentino Andy Muschietti filmou apenas a parte da história que conta a infância do grupo de protagonistas, o que gera uma história mais fluida, sem os flashbacks da versão original, além da garantia de uma sequência.

    No filme, acompanhamos o paradeiro de um grupo de pré-adolescentes assolados por terríveis alucinações causadas pelo assustador palhaço dançarino Pennywise numa cidadezinha do Maine onde os adultos não parecem se importar muito com suas crianças. Se no telefilme (lançado em VHS no Brasil) os personagens eram crianças nos anos 50, o roteiro adapta a história para algo mais próximo do espectador atual, situando-os no final dos anos 80. Além de preparar o próximo capítulo para os dias de hoje, It: A Coisa aproveita o clima de nostalgia oitentista de sucessos atuais, como Stranger Things. Além de garantir bons sustos, temos uma história envolvente e intrigante, com personagens cativantes que nos fazem querer saber mais sobre a vida de cada um. Talvez o filme não chegue ao status de “obra-prima do medo” – como o presunçoso subtítulo  brasileiro da versão anterior afirmava – mas certamente merece um lugar de destaque entre os filmes de terror modernos.

    A Qualquer Custo (David Mackenzie, 2016) – Por Flávio Vieira

    É bastante comum no subgênero western ter como um de seus temas a reação violenta de um personagem sobre a sociedade que o impinge. A Qualquer Custo, ainda que se apresente como um western moderno, não é diferente de outros tantos exemplares do gênero. O longa — por mais que tenha em seu cerne a história de dois irmãos assaltantes de bancos, que moram no Texas, e passam a ser perseguidos por policiais — vai muito além da sinopse que o descreve.

    Essas camadas se dão de forma sutil, ora nos diálogos existentes entre a dupla de policiais Marcus Hamilton (Jeff Bridges) e Alberto Parker (Gil Birmingham), um deles branco, enquanto o outro possui origens mexicanas e indígenas, restando claro a ironia e a contradição existente que os tornam parceiros, dado o genocídio aplicado aos povos indígenas desde a colonização dos EUA e agora a constante perseguição aos mexicanos e outros imigrantes pela elite branca.

    Esse é só um dos estratos desenvolvidos no filme de David Mackenzie, e isso fica claro no desenvolvimento dos irmãos Toby (Chris Pine) e Tanner Howard (Ben Foster), pertencentes às classes massacradas pelo 1% que detém a riqueza no mundo, sendo o Estado apenas um instrumento que garantirá essa exclusão, o que deixa claro na própria figura dos policiais que vão referendar as ações do pessoal do andar de cima, ainda que estes sequer façam parte desse mesmo ambiente. Mackenzie cria um filme envolvente, intenso, com um claro caráter de classe e repleto de camadas sobre a origem de nossa miséria e de nossos futuros cada vez mais incertos. Tudo isso aliado à trilha melancólica de Nick Cave e Warren Ellis.

    5. Planeta dos Macacos: A Guerra (Matt Reeves, 2017) – Por David Matheus Nunes

    Quem diria que um despretensioso reboot faria tanto sucesso? A trilogia de Planeta dos Macacos foi o resultado do comprometimento do diretor Matt Reeves, que assinou os dois últimos filmes, com o amor pela atuação em captura de movimentos de Andy Serkis, aliado à absurda tecnologia que o cinema pode desfrutar hoje em dia.

    Em Planeta dos Macacos: A Guerra, podemos acompanhar o lindo e justo desfecho da história do macaco Caesar (Serkis), o líder da comunidade símio, que agora enfrenta o que talvez seja o último front militar, liderado por um coronel, vivido pelo ótimo Woody Harrelson. O filme desde seu início prende a atenção daquele que assiste e mostra o quanto os macacos evoluíram ao longo dos anos. Sem contar que temos pela primeira vez um alívio cômico: um divertido chimpanzé (Steve Zahn) que atravessa o caminho de Caesar. É, também, o filme mais dotado de cargas dramáticas e emocionais da trilogia, o que faz com que o expectador experimente diversas sensações durante o transcorrer da fita, sendo o destaque, novamente, para a atuação de Serkis, que desde o filme anterior merecia uma indicação ao Oscar pelo papel de Caesar.

    4. Star Wars: Os Últimos Jedi (Rian Johnson, 2017) – Por Pedro Lobato

    Star Wars: Os Últimos Jedi é um divisor de águas e de opiniões. Ao mesmo tempo em que o filme abraça tudo o que a franquia cinematográfica construiu em toda a sua história, leva o universo Star Wars para novos e inesperados lugares.

    Precisa-se de coragem para tomar as decisões do diretor e roteirista Rian Johnson quando se trata de Star Wars. Encontrar um Luke Skywalker (Mark Hamill) que foge do arquétipo clássico do herói construído na trilogia clássica é ousado e eriça os fãs que ainda não aceitaram a morte do universo expandido da franquia. Porém, mesmo sendo o maior jedi do universo, explora-se os lados mais humanos do personagem, além de dar espaço para uma nova geração de heróis e antagonistas. Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver) ganham maior destaque e profundidade emocional, além de contracenarem a melhor cena de combate de sabres do filme (cena que, diga-se de passagem, tem uma fotografia memorável).

    Star Wars não se trata apenas de um filme blockbuster. A série de filmes angaria cada vez mais pessoas à sua legião de fãs com uma história empolgante e moderna. Agora só nos resta esperar ansiosamente pela conclusão da trilogia em 2019.

    3. Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve, 2017) – Por Rafael Moreira

    Blade Runner 2049 é um animal diferente do seu filme antecessor. Se esse animal é elétrico ou real, um sapo ou uma ovelha, fica pra lista de dúvidas que Blade Runner (compre aqui) nos deixa. Independente disso, é um grande filme mais ligado aos temas da sociedade presente, tal como o livro que dá origem a tudo isso. Enquanto no filme original tínhamos a busca e a destruição do Criador — em função da angústia que a própria existência, e o fim dela, proporciona —, temos aqui a busca da identidade, tema que também era presente no seu antecessor, mas agora menos ambígua no sentido do que de fato somos, e querendo ressaltar o contraste da projeção daquilo que gostaríamos de ser. Outros temas, como a luta pela liberdade que o filme aborda, não me parecem exatamente uma reflexão, mas talvez algo como exposição da luta natural dos seres por ela, sejam humanos ou replicantes. A reflexão do tema fica por conta do que nos dá esse direito a liberdade.

    Se nos temas notamos diferenças consideráveis, a estética é Blade Runner até a alma, comparável a uma grande coruja de carne e osso. A trilha sonora, que era um dos pontos que mais me preocupava, foi uma grata surpresa que, apesar de não contar com Vangelis, ela segue muito bem na linha do que foi feito por ele no filme do Ridley Scott, e tem toques contemporâneos que a modernizaram na medida certa. A direção de arte do filme junto dos efeitos e a trilha sonora criam a atmosfera perfeita que é o coração da série. Os equipamentos eletrônicos e os comerciais nos telões digitais não são mais da Panasonic e sim da Sony, mas pelo menos o Black Label do Deckard foi mantido até com o mesmo copo.

    2. Corra! (Jordan Peele, 2017) – Por Marcos Paulo Oliveira

    Um suspense, com algo de comédia/paródia, com algo de ficção científica. Corra! é uma estranheza em si, um filme que se nega a se enquadrar nas expectativas dos gêneros cinematográficos, fazendo com que quem o assista esteja constantemente desarmado. Embora o filme de suspense se pronunciasse logo no começo, antes mesmo de sermos apresentados ao protagonista do filme, Chris (Daniel Kaluuya), nossas expectativas são constantemente confirmadas à partir da voz de Rod, seu melhor amigo e um cético agente da agência de segurança de transportes, e outrora contestadas na docilidade e forma apaixonada com que a namorada Rose (Alisson Willians) trata seu amado.

    Um dos grandes favoritos do público na premiação da academia, talvez a grande inovação aqui seja a forma inesperada com que se busca tratar do tema do racismo, trazendo para tela não o caipira bronco e tipicamente racista, numa espécie de estereótipo do eleitor de Trump, mas o típico eleitor de Obama. Um filme político mostrando o quão políticas são as relações quando se trata daqueles que consideramos diferentes, em que cada um possui seu próprio “token” para protegê-lo da pecha de racista, afinal toda gente branca tem um amigo negro, normalmente só um mesmo, e para completar o escudo, é fã de Kanye West e foi assistir Pantera Negra na estreia. Ou seja, todas formas de antecipar a proteção às suas ações, mas que ainda vê em primeira instância a cor da pele, se apropriando daquilo que faz a cultura negra ser admirável, mas jogando fora aquilo que faz da pessoa negra ser humano.

    Traduzido para o cotidiano, é a “ficcionalização” daquele reflexo de se colocar revoltosamente contra cada notícia de exposição de racismo e violência contra etnias, mas no dia seguinte mudar de calçada tão logo aviste um representante perfeito daquele mesmo estereótipo, em um reflexo tão imediato quanto o anterior, na suposição do caráter por trás do corpo pele escura. Numa espécie de nova roupa para a escravidão que tantas vezes se apropriou dos corpos das pessoas negras construindo impérios sobre seus esqueletos, a política de agora exige mais sutileza, tornando possível apropriar-se da cultura, da voz, da força e dos talentos das pessoas negras contanto que no fundo no fundo, exista uma pessoa branca no comando.

    Toda essa profunda percepção da política e do racismo, e a capacidade de alternar as peles nas quais nos colocamos coloca Corra! como um dos melhores filmes de 2017, tomando, acertadamente, o lugar dos tradicionais filmes nas premiações e na representação social.

    1. Logan (James Mangold, 2017) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Desde a estreia de X-Men nos cinemas, em um longínquo ano 2000, o cinema pipoca se curvou às histórias em quadrinhos. O sucesso garantiu uma fórmula que foi seguida, em maior ou menor grau, pela maioria das adaptações. Com a Disney/Marvel representando grande parte das e, inevitavelmente, produzindo tramas com estruturas similares, a Fox tentou manter em alta sua franquia heroica — os X-Men e seus derivados — procurando novas maneiras de abordar um tema que se tornou tão rentável ao ponto de ser transformado em um sub-gênero.

    Por dois anos consecutivos, o estúdio foi responsável pelo melhor filme de quadrinhos do ano. Em 2016, Deadpool ria das próprias fórmulas criadas nas narrativas fundamentadas nesses mais de dez anos. No ano passado, Logan procurou expandir o gênero ao evitar a repetição da fórmula, procurando construir não um filme de super-herói, mas com super heróis. Adaptando parcialmente O Velho Logan, de Mark Millar e Steven McNiven, a presença de Wolverine na trama é apenas um dos fatores que abrilhantam o roteiro, bem sustentado por um drama situado em um mundo destruído com um personagem central resignado.

    Com a classificação etária restrita para menores, a produção entrega toda a violência do mutante, característica fundamental de sua criação,  ao mesmo tempo em que apresentava um forte desfecho ao personagem interpretado pelo sempre bom Hugh Jackman, em sua última atuação como Wolverine (ao menos, é o que tudo indica). Se entre críticas profissionais e o entusiamos do público o filme tem se destacado como um marco, com uma narrativa diferente da habitual responsável por uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, Logan deverá ser visto no futuro como uma das poucas obras de qualidade da época em que o cinema descobriu as histórias em quadrinhos. Se considerarmos que trata-se de um dos personagens mais populares da Marvel, não poderia ser diferente.

    Participaram dessa votação: Bernardo Mazzei, Cristine Tellier, Dan Cruz, David Matheus Nunes, Doug Olive, Fábio Z. Candioto, Felipe Freitas, Filipe Pereira, Flávio Vieira, Jackson Good, José Fontenele, Marcos Paulo Oliveira, Pablo Grilo, Pedro Lobato e Tiago Lopes.

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  • Crítica | Terra Selvagem

    Crítica | Terra Selvagem

    Taylor Sheridan teve uma carreira de pouco expressão como ator. Talvez ele seja lembrado por seu xerife David Hale na série Sons of Anarchy. Entretanto, como roteirista, Sheridan vem tendo uma carreira de grande sucesso. Terra Selvagem é seu segundo filme a estrear no circuito nacional no ano de 2017 – o primeiro foi o sensacional A Qualquer Custo que lhe uma indicação ao 02 de melhor roteiro – e o seu primeiro filme como diretor. Mais uma vez, Sheridan desempenha um grande trabalho como roteirista e mostra que é capaz de ser um grande diretor.

    Na trama, uma jovem agente do FBI é designada para investigar a misteriosa morte de uma jovem dentro da reserva indígena Wind River, localizada no Wyoming. A vítima possui sinais de violência sexual, mas nenhum outro que possa indicar a sua causa mortis. Devido à natureza hostil do lugar, a agente solicita a ajuda de um rastreador radicado no local, uma vez que o local é extremamente frio e isolado. Entretanto, ao passo que a investigação se aprofunda, a dupla começa a perceber que as implicações desse assassinato são muito maiores do que imaginavam.

    O agora também diretor Taylor Sheridan bebe muito da fonte de David Mackenzie e Denis Villeneuve, diretores de A Qualquer Custo e Sicario (filmes baseados em roteiros seus), o que significa longos planos que delineam as gélidas e desoladoras paisagens da reserva Wind River.  Ao passo que tudo se desenrola, novos elementos são introduzidos à trama. O que poderia vir a fazer o filme perder o rumo, vai o tornando cada vez mais intrigante, muito graças à mão firme do diretor e ao seu roteiro conciso. Interessante observar que os longos discursos explanativos, sempre presentes no cinema hollywoodiano, não tem lugar aqui. A história vai sendo contada sem que o espectador seja subestimado, com um desenvolvimento bem ágil, entremeado por algumas sequências tensas e eletrizantes.

    O roteiro trabalha com esmero as questões polêmicas e pertinentes a respeito da falta de estatística sobre mortes em reservas indígenas e, principalmente, da morte de mulheres indígenas. Tanto que a película é baseada em eventos reais. Porém, existe uma questão que é trabalhada de uma forma muito comovente e com uma sutileza difícil de ser encontrada: o luto. O personagem de Jeremy Renner é apresentado como um homem que sofreu algumas grandes perdas pessoais. Ao ser integrado à investigação, seu personagem funciona como fio condutor de vários eventos que decorrem a partir daí. Entretanto, ele é o elemento principal que ajuda na empatia do espectador com o que é apresentado em tela. Sua interação com o pai da moça morta, vivido pelo excelente Gil Birmingham (que trabalhou em A Qualquer Custo) rende os grandes momentos do filme, pois retratam dois homens enlutados cada qual à sua maneira, destruídos pela vida tentando se apoiar da maneira que for possível no momento. Outro ponto bem interessante são os diálogos breves sobre a perda dos valores culturais dos indígenas. Ainda no concernente às atuações, Elisabeth Olsen entrega um grande trabalho como a agente novata e idealista do FBI destacada para a investigação e o veteraníssimo Graham Greene entrega a habitual competência como o xerife cético que deixou suas raízes indígenas, mas que ainda possui grande consideração pelos seus pares.

    Em suma, Terra Selvagem é mais um espetacular trabalho do talentoso roteirista Taylor Sheridan e que também demonstra seu  potencial para consolidar uma bela carreira como um grande diretor.

    https://www.youtube.com/watch?v=CVElCdD4rtw

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  • VortCast 45 | Pós-Oscar 2017

    VortCast 45 | Pós-Oscar 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira, Carlos Brito e Mario Abbade (@fanaticc) se reúnem, com o atraso habitual, para comentar sobre a cerimônia do Oscar, os principais filmes indicados, as polêmicas e o futuro da premiação mais importante de Hollywood.

    Duração: 108 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
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    Filmes comentados

    Crítica Estrelas Além do Tempo
    Crítica Até o Último Homem
    Crítica Manchester à Beira-Mar
    Crítica Moonlight: Sob a Luz do Luar
    Crítica Lion: Uma Jornada para Casa
    Crítica Um Limite Entre Nós
    Crítica A Qualquer Custo
    Crítica A Chegada
    Crítica La La Land: Cantando Estações

    Comentados nesta edição

    Oscar 2017 – Indicados e Vencedores
    Agenda Cultural 40 – Hugo, Drive, O Artista e tudo mais
    VortCast 18: James Dean

    Monólogo Jimmy Kimmel

    Tweets de Jimmy Kimmel à Donald Trump

    Discurso Gael Garcia Bernal

    https://www.youtube.com/watch?v=ykpXwPEKTzM

    Leitura da carta-protesto de Asghar Farhadi no recebimento do Oscar de melhor filme estrangeiro 

    Anúncio de melhor filme e toda a confusão envolvida

    Montagem – Referências de La La Land

  • Crítica | A Qualquer Custo

    Crítica | A Qualquer Custo

    O western talvez seja o gênero mais emblemático do cinema americano. As histórias ambientadas no velho oeste dos EUA povoaram durante décadas os cinemas do mundo, atéperder força na década de 1970 e praticamente sumir do circuito comercial. Com exceção de algumas obras pontuais, o gênero deixou de ter a atenção dos espectadores, sendo substituído por películas de ação. Porém, essas mencionadas obras pontuais sempre foram capazes de reavivar o carinho e interesse do público, com direito a modificações precisas, caso desse A Qualquer Custo, situado no tempo presente mas, ainda ainda, um western. E daqueles muito bons.

    Na trama escrita por Taylor Sheridan,  dois irmãos, interpretados por Chris Pine e Ben Foster, iniciam uma série de assaltos a um banco específico do Texas. Eles procuram sempre roubar pequenas quantias de dinheiro com o intuito de usar o montante para quitar dívidas referentes à fazenda da família para dar uma vida melhor para seus filhos. Jeff Bridges vive o policial no crepúsculo de sua carreira que aceita a incumbência de detê-los.

    O filme é passado nas terras áridas do Texas e as paletas de cores utilizadas ajudam a acentuar a característica. O roteiro de Sheridan nos apresenta um Texas empobrecido, quase decrépito, onde os habitantes das cidades semi-fantasmas ainda carregam costumes antigos, como os chapéus e as armas no coldre o tempo todo. É nesse mundo que somos apresentados a arquétipos clássicos dos antigos westerns, o bandido impulsivo que está sempre a um passo de colocar tudo a perder, seu parceiro inexperiente e comedido que só entrou na jogada para tentar proporcionar uma vida melhor, o xerife aposentado que disfere insultos e piadas ao seu melhor amigo que é membro de alguma minoria étnica (no caso, o personagem é meio índio e meio mexicano). O texto demonstra grande habilidade ao delinear muito bem os personagens e sustentar seu roteiro principalmente nas relações humanas, uma vez que a trama é linear e concisa.

    O diretor David Mackenzie, auxiliado pela linda fotografia de Giles Nuttgens e pela linda trilha sonora composta por Nick Cave e pelo musicista Warren Ellis, explora com maestria esse mundo apresentado, usando de longas tomadas panorâmicas que explicitam toda a imensidão do Texas ao passo que mostra toda a sua aridez e opressão. Interessante observar também que o diretor estabelece um ritmo constante ao seu filme, com momentos de ação ao final de cada arco. Além disso, ao contrário de produções que em um determinado ponto se esquecem das personagens para se concentrarem somente na ação em busca de um clímax megalomaníaco, A Qualquer Custo mantém-se fiel à sua origem em um filme sobre suas personagens.

    No que tange às atuações, Bridges se destaca, ainda que seu personagem pareça demais com o de Bravura Indômita. O ator cria uma ótima interpretação para um personagem relutante em encerrar sua carreira na força policial e que faz da investigação aos assaltos empreendidos pelos irmãos uma espécie de seu canto do cisne como homem da lei. Ainda vale ressaltar que a dobradinha com Gil Birmingham, que interpreta seu parceiro descendente de índios e americanos, rende alguns diálogos povoados de incorreção política, mas impagáveis. Pine mostra a habitual competência como Toby, o irmão assaltante que quer dar uma vida melhor pros filhos e Foster, como o irascível Tanner, também está muito bem em cena. Entretanto, Foster está se tornando um ator de um papel só, visto que o personagem se assemelha a vários outros da carreira do ator.

    Indicado ao Oscar de melhor filme, ator coadjuvante (Bridges), roteiro original e edição, A Qualquer Custo é um grande faroeste, com direito a estar no mesmo patamar de grandes clássicos do gênero.

  • Top 10 | Filmes para o Dia dos Namorados

    Top 10 | Filmes para o Dia dos Namorados

    Uma das forças de movimento do ser humano, o amor é um dos sentimentos mais arrebatadores e controversos que existe, principalmente, por conta de sua potência e de limites naturais que podem transforma-lo em passado e bruma. Presente na maioria das narrativas, os amantes são figuras primordiais e estão presentes no imaginário popular desde a composição do livro da criação, representados por Adão e Eva. Independentemente de seu fruto, os amantes são sempre um tema rico explorado pela sétima arte e, neste dia dedicado aos enamorados, Marcos Paulo, Doug Olive, Filipe Pereira, o recém-chegado Halan Everson e Thiago Augusto Corrêa se reuniram para compor mais uma lista, dessa vez, direcionada a pares unidos pela ficção (Em tempo, a última vez que a equipe se reuniu para o assunto foi no sexto Vortcast, “Ahhhh, O Amor…“. Porém, até mesmo no imaginário, o amor não é eterno posto que é chama. Uma justificativa que explica porque, dentre a lista desenvolvida, algumas obras são um misto de felicidade e tristeza simultânea. Ainda assim, a aventura de um amor é um dos grandes prazeres humanos. Não a toa a canção do quarteto de Liverpool assume que tudo que precisamos é de amor.

    Ela (Spike Jonze, 2013) – Por Marcos Paulo

    Filme de destaque no ano de 2013, conta com um Joaquin Phoenix irreconhecivelmente frágil no papel de Theodore e Scarlett Johansson como Samantha, sua sedutora assistente virtual. Em um mundo surreal, pessoas criam laços profundos com seres virtuais como solução para perda do sentido de contato e afeição em seu mundo físico. Questões sobre amor, necessidades e aquilo que nos faz humanos, são parte desta fábula criada por Spike Jonze refletindo aquilo que um relacionamento, seja como for, traz de mais especial: pertencer a algo maior.

    Azul é a Cor Mais Quente (Abdellatif Kechiche, 2013) – Por Doug Olive

    Uma grande brincadeira (levada a sério por parte do público) com o atual cinema francês. Um filme onde se opta por esquecer trilha sonora, montagem americana ou a tentação de muitos em definir essa “nova” geração. Ao invés disso, Azul é a Cor Mais Quente nos conquista substituindo o ritmo narrativo oriundo dos quadrinhos pelo nível excepcional de todas as atuações; em especial da protagonista, com seus inúmeros monólogos sem palavras. Cada gemido ou sugada de espaguete é sinal verde para a próxima cena, às vésperas de um novo riso ou choro para nos deixar órfãos da insensibilidade – tudo aflora! No universo sem contexto ou decretos de Adéle, nua do começo ao fim, nada é, mas tudo pode ser intencional transvestido de inofensivo. Um furacão que arrasou Cannes em 2012, e um arco-íris de sensações, pintado no limite entre a lucidez e a explosão emocional; uma homenagem crônica, afinal, à liberdade – la voie, la vérité, la vie, o lema político da França e das democracias pertinentes.

    Amor (Michael Haneke, 2013) – Por Filipe Pereira

    Evocando a fase adulta da terceira idade, como pano de fundo, Michael Haneke faz um verdadeiro filme de horror, exibindo as agruras da vida a dois através do drama de Amor. A história é contada a partir dos olhos de Georges, vivido pelo veterano Jean-Louis Trintignant, que assiste a degradação mental de seu par, Anne ( com a inspirada Emmanuelle Riva) que aos poucos perde a consciência e o controle de seus movimentos e de sua consciência mental, graças a uma variação rara de uma doença mental, além de fazer fortes alusões a proximidade da morte. O começo do filme já revela os momentos do último ato, com a decomposição corporal da pessoa do belo sexo, ainda que o ponto de vista seja absolutamente diferente da ideia “romântica” do que é um namoro/casamento. O modo como Georges trata sua combalida companheira passa por todos os estágios inerentes a uma junção de duas pessoas, mortificando qualquer fetiche de que a vida de um casal é repleta de sexo e desejo carnal mútuo, indo desde o carinho extremo a impaciência e esgotamento emocional, em uma monta russa emocional que não deixa qualquer espectador incólume.

    Essa Noite Você é Minha (David Mackenzie, 2011) – Por Halan Everson

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    Quando a música é parte essencial da trama de um romance, me soa muito mais agradável querer acompanhar esse tipo de filme porque certamente a música será utilizada além dos mesmos recursos batidos algo diferente do usual. E é nessa pequena pretensão de ser algo diferente que Essa Noite Você é Minha faz uso da fórmula sem ficar engessada nos clichês dela. Dirigido por David Mackenzie (do excelente Sentidos do Amor, também de 2011), acompanhamos uma fábula de romance acontecendo durante um festival de música, que não existem de hoje, mas acredito ser um dos poucos filmes dedicado a ficar exclusivamente nesse mesmo ambiente espiritual do inicio ao fim. Na trama, um líder de uma banda famosa do evento (Adam, Luke Treadaway) é algemado á uma vocalista de outra banda (Morello, Natalia Teña), que está tentando ganhar seu reconhecimento. Simples assim, essa premissa acontece derrepente e você vai junto ou não engole todo o resto. Geralmente esse tipo de filme está relacionado ao ambiente urbano fazendo essa experiência algo diferente. A música é personagem integrante da trama e realça muito dos momentos mais interessantes do filme, tanto de fundo como cantadas incluindo um incrível duo de Tainted Love feito por Teña e Treadaway. É uma excelente forma de fugir da cidade e viver um conto jovial e musical.

    A Bela e a Fera (Gary Trousdale e Kirk Wise, 1991) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Bela e a Fera

    Considerado um dos clássicos supremos da Walt Disney Pictures, A Bela e a Fera dá continuidade as histórias adaptadas de fábulas e a trajetória de personagens femininas denominadas popularmente de princesas Disney. Composta por uma bela e simples história, a narrativa tem alcance em adultos e crianças, cada um lendo a obra de maneira diferente, conforme sua experiência. Como fábula, a história é conduzida pelo contraponto entre virtudes e vícios, deixando explícito a moral de nunca julgar pela aparência. A sensibilidade da trama e o crescimento da relação entre as personagens centrais é o principal enlace com o público, uma relação que se modifica na magnífica – e perfeitamente produzida – cena do salão de dança enquanto a canção A Bela e a Fera (Tale As Old As Time) é entoada.

    Namorados Para Sempre (Derek Cianfrance, 2010) – Por Marcos Paulo

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    Embora seu título original, Blue Valentine, pareça distante de sua tradução, o título é bastante adequado à este anti romance estrelado por Ryan Gosling e Michelle Williams, como o casal Cindy e Dean. Unidos por um acaso, a paixão do amor desintegram-se num relacionamento incapaz de se doar e amadurecer para além de um namoro juvenil, tornando os para sempre namorados. A falta de perspectiva, cobranças ocultas e a insatisfação os tornam amargurados e perdidos entre o que foram e o que gostariam de ser.

    Desencanto (David Lean, 1945) – Por Doug Olive

    desencanto

    Em 2015, o diamante em estado bruto de David Lean completa setenta anos, com o tempo o fazendo cada vez melhor, e mais relevante que nunca, no Olimpo do gênero que representa fácil e esplendorosamente bem, a medida que é lapidado pela evolução do Cinema. A fumaça do trem separando um casal, porém, ainda não abaixou na estação, enquanto os olhos de lua da atriz Celia Johnson aguardam para sempre o eterno amor do passado, naquela mesa de bar, sozinha. Mesmo com Lawrence da Arábia e A Ponte do Rio Kwai, épicos devido a escala de produção, é o sentido mais puro e cru de épico, do tipo que chega a tocar na perfeição, que torna Desencanto, primo tímido de Casablanca, um dos mais sensíveis e amargos romances da Era de Ouro em Hollywood, o testamento supremo de Lean. Chico Buarque, no álbum de 1968, canta no hino. Desencontro a definição perfeita a um dos mais doces e fatalistas romances, onde o preço do amor é cobrado a partir de suas polaridades, valor e capacidade de colorir vidas condenadas ao mundo preto e branco dos desejos não-correspondidos.

    Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (Daniel Ribeiro, 2014) – Por Filipe Pereira

    A singela historieta pensada por Daniel Ribeiro, primeiro em seu curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, ganha ares de maturidade no belo longa Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, contando a história do duplamente excluído Leonardo (Guilherme Lobo) que, além de cego, começa a explorar vagarosamente sua sexualidade, no apogeu de sua puberdade, eclodindo uma paixão improvável com seu novo amigo, Gabriel (Fabio Audi), que também passa a descobrir os próprios desejo e pulsões de paixão e sexo na prática. A condução de atores tão jovens é belíssima, dá ainda mais sentido para a trama, relembrando filmes semelhantes de descoberta das manifestações de amor, com a obra que alude ao quadrinho de Julie Maroh, Azul é a Cor Mais Quente, ainda que a identidade da fita de Ribeiro seja carregada de brasilidade e identidade visual típica do país, unindo o formato bem urdido com um drama interessante e sensível ao extremo.

    Romances e Cigarros (John Turturro, 2005) – Por Halan Everson

    romances e cigarros

    John Turturro é um cara que é muito mais lembrado por ser coadjuvante. Pode ser por uma dessas que quando ele resolve tomar as rédeas de um projeto saiam peças tão únicas quanto esse belo romance/musical produzido com a ajuda dos Irmãos CoenJames Gandolfini vive o marido infiel de Susan Sarandon que tem um caso com Kate Winslet. É nessa simples trama de adultério que temos excelentes performances musicais dos protagonistas e dos coadjuvantes usando de uma sutil sincronia com as músicas originais enquanto cantam. Obviamente uma ideia que quebra toda a seriedade de uma discussão ou uma briga não poderia se levar a sério, e Turturro faz questão de brincar com o surreal de maneira agradável com aparição de mortos que quebram a quarta parede, conversas aleatórias numa obra e montagens de videoclipe dão o tom mais que divertido para o filme. Ele não perde o compasso entre a seriedade e os momentos de comédia em nenhuma das suas passagens, sabendo dosar cada uma da melhor forma o possível até o final.  Certamente um filme para rever varias vezes.

    Casablanca (Michael Curtiz, 1942) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Image: FILE PHOTO: 70 Years Since The Casablanca World Premiere Casablanca

    Presente nas listas de Melhores Filmes de Todos os Tempos, Casablanca também é uma grande história de amor explorando, com a ironia característica de  Rick Blane, a beleza e a amargura de uma relação. O roteiro de Julius J. EpsteinPhilip G. EpsteinHoward Koch é uma das composições mais perfeitas da sétima arte, construindo uma gama de temas profundos sem desequilibrar nenhum aspecto narrativo. A guerra se contrapõe ao amor como metáfora fatalista de afastamento, o par central que se enlaça e se afasta representa a potência da união em contrapartida ao repertório interno de cada ser amado. A personagem de Bogart é tão miserável que é quase impossível não se identificar simultaneamente.