Tag: Andy Muschietti

  • Crítica | It – Capítulo Dois

    Crítica | It – Capítulo Dois

    Depois de muita expectativa, e de uma primeira  parte que fez um sucesso considerável, It – Capítulo 2 estreou com uma grande responsabilidade, de atender a expectativa não só de It-A Coisa, mas também da conta de adaptar um dos clássico literários de Stephen King, e Andy Muschietti retorna a direção para mostrar o elenco antes infantil lidando com seus medos, anseios, traumas e com memórias reprimidas, retornando a Derry, depois de magicamente terem perdido as lembranças sobre o combate a Pennywise.

    O começo do filme mostra o grupo dos Perdedores/Fracassados fazendo uma promessa, de que retornariam a cidade do Maine independente de como estariam suas vidas no momento que percebessem, para logo depois, pular para 27 anos depois, com os meninos já adultos, e vividos por atores famosos. Os momentos iniciais mostram um crime de homofobia, situando o espectador dos  horrores terríveis comuns, e mesmo com um mal ancestral e de origem desconhecida, ainda há muito de maléfico no comportamento popular do homem. Pennywise se alimenta da violência, e tem uma ligação forte com o crime de preconceito, e isso é uma ideia boa do roteiro de Gary Dauberman, um dos poucos acertos aliás.

    A partir do momento que se mostram os destinos dos personagens, a qualidade varia muito. Claro, os rumos não são tão mal pensados quanto os mostrados em It- Uma Obra Prima do Medo dos anos 1990, mas ainda assim há alguns momentos bem constrangedores. De positivo, há a apresentação de Bill Denbrough (James McAvoy), como autor de livros famosos, que tem seus textos adaptados por gente grande – há participação de Peter Bogdanovich até – alem de ter um comentário engraçadinho sobre seus finais não serem bons, em um comentário que faz paralelo com o de Stephen King e a opinião geral sobre suas primeiras obras. Outros momentos legais incluem a introdução de Richie (Bill Hader), em um ângulo estranhíssimo exibindo seu vômito antes de um show de comédia, e também do inseguro e alérgico Eddie (James Ransone), que claramente repete ciclos, e se casa com uma mulher idêntica a sua mãe, que alias, o roteiro faz questão de mostrar que isso não é à toa, soando nada sutil desta forma.

    Os problemas do filme começam exatamente no nome mais famoso de seu elenco, que vem a ser Jessica Chastain, a interprete mais velha de Beverly. Seu drama é o mais delicado e o que mais envolve clichês e artificialidades. O relacionamento abusivo e violento é muito mal traduzido, mostrado de forma sensacionalista,quase tão irritante quando os jumpscares baratos que lotam o filme.

    Outro evento péssimo é a gagueira forçada de Billy, que não soa em nada natural. A ideia de resgatar a mentalidade infantil e o trauma é boa, mas exala estranheza. A mistura dos elementos místicos, como as premonições de Bev, as descobertas meio loucas de Mike (Isaiah Mustafa) não funcionam bem, são mal ambientadas e mal explicadas, ficam jogadas no meio do filme. Toda a boa construção de naturalidade do primeiro filme vai se esvaindo aos poucos, e pioram demais com o uso excessivo de CGI, péssimo por sinal, com bonecos bem mal feitos e com textura terrível.

    O conceito de que destino e tragédia tem ambos um caráter inexorável é muito boa, mas se perde demais na quantidade absurda de flashbacks. O filme parece inchado e Muschitetti perde mão até com as poucos cenas que eram boas na adaptação antiga de Tommy Lee Wallace. Bill Hader é o responsável pelos poucos pontos realmente bons principalmente quando seu personagem lida com o de Ranson, exibindo um bromance com elementos até de homo afetividade. Mesmo Bill Skarsgård perde força, pois quando aparece, é assustador e quase tão carismático quanto Tim Curry, mas tem pouco tempo de tela, em detrimento das péssimas aparições digitais de sua forma e de outros monstros.

    Se fossem encurtadas as aparições espirituais e ilusões, o longa provavelmente teria um ritmo melhor , seria mais palatável e menos enfadonho, além do que toda a parte do núcleo de Henry Bowers (Teach Grant), tanto no hospício quanto em seu retorno a casa beira o risível. O desenvolvimento de It – Capítulo Dois é como um pesadelo dos mais extensos, uma tortura para personagens e para quem acompanha esse drama. O roteiro de Dauberman é excessivo em dar as vitimas uma chance de se redimir, além do que o gore é moderado demais para o que se esperava, além de soar artificial em cada uma de suas manifestações.

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  • VortCast 55 | Melhores Filmes de 2017

    VortCast 55 | Melhores Filmes de 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral) e Rafael Moreira (@_rmc) recebem o ouvinte e podcaster Cliff Rodrigo Silva para comentar sobre a lista publicada no site sobre os melhores filmes lançados em 2017 no Brasil.

    Duração: 111 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Piores Filmes de 2017

    Lista Completa dos Melhores Filmes de 2017
    Crítica Mãe!
    Crítica T2 Trainspotting
    Crítica Manchester à Beira-Mar
    Crítica Em Ritmo de Fuga
    Crítica It: A Coisa
    Crítica A Qualquer Custo
    Crítica Planeta dos Macacos: A Guerra
    Crítica Star Wars: Os Últimos Jedi
    Crítica Blade Runner 2049
    Crítica Corra!
    Crítica Logan

    Comentados na Edição

    Lista Piores Filmes de 2017
    VortCast 54 | Piores Filmes de 2017
    VortCast 02 | Darren Aronofsky
    VortCast 45 | Pós-Oscar 2017
    VortCast 08 | Planeta dos Macacos
    VortCast 50 | Star Wars: Os Últimos Jedi
    VortCast 51 | Star Wars e as Polêmicas do Novo Filme
    VortCast 05 | Filmes Marvel
    VortCast 44 | Piores Filmes de 2016
    VortCast 46 | Melhores Filmes de 2016
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  • Melhores Filmes de 2017

    Melhores Filmes de 2017

    Assim como no ano passado, realizamos uma lista coletiva dos melhores filmes do ano a partir da seleção pessoal de cada redator do site. Dessa forma, é natural que, numa equipe heterogênea formada por diversos profissionais e com visões diferenciadas sobre a crítica cinematográfica, uma lista como essa abarque diversos gêneros e estilos. Motivo mais do que necessário para não justificarmos as razões que esse ou aquele filme não integraram a lista final. Espero que gostem do resultado.

    (confira também nossa lista de Piores Filmes de 2017).

    10. Mãe! (Darren Aronofsky, 2017) – Por Felipe Freitas

    Darren Aronofsky talvez tenha sido o maior obstáculo de seu próprio projeto. Quando Mãe! estava próximo de chegar aos cinemas, o diretor já estava dissecando os conceitos do filme em qualquer entrevista que ele tinha oportunidade. Acabou que um dos melhores longas do ano ficou manchado pela fama de prepotência de quem o concebeu e por conta disso não teve o reconhecimento merecido. E bota merecido nisso!

    Jennifer Lawrence atua no melhor papel de sua carreira e carrega o filme nas costas quase que literalmente, já que 70% dele são planos fechados na atriz, seja em seu rosto ou em suas costas. É um trabalho difícil e cada segundo no filme nos dá a impressão disso. Mas Lawrence não está sozinha: Javier Bardem e Michelle Pfeiffer também estão em alto nível.

    Darren leva adiante suas personagens e sua grande alegoria com muito controle e um clima tão crescente que faz do terceiro ato do longa-metragem um dos mais megalomaníacos e fortes dos últimos anos, com primor técnico e carregado de significados — sejam eles frutos do ego do diretor ou não.

    9. T2 Trainspotting (Danny Boyle, 2017) – Por Flávio Vieira

    Há mais de 20 anos atrás, Danny Boyle adaptou o romance do escocês Irvine Welsh e apresentou Trainspotting (compre aqui) ao mundo. Na trama, acompanhávamos um grupo de jovens absortos em um universo de drogas, e também toda uma toxicidade social que os fazia repudiar o establishment. Por conta disso, apesar de toda ausência de compasso moral existente no filme, era óbvia a conexão do espectador (principalmente os mais jovens) com esses personagens. Somado a isso, Boyle se utiliza de uma subversão do modo de fazer cinema ao utilizar uma direção clássica e instrumental, interconectividades entre cenas aliados a registros visuais fortes, enquadramentos inconvencionais e alegorias oníricas e surreais.

    Em 2002, Welsh escreveu uma continuação para esses personagens em um novo romance: Pornô (compre aqui) — os adictos à heroína agora estavam envolvidos na indústria da pornografia. Apesar do material promissor, Boyle não conseguiu transformar o romance em algo bom o suficiente, mas apenas mais uma continuação comercial como tantas outras. O projeto foi abandonado e engavetado por cerca de dez anos para que finalmente o cineasta encontrasse sua história para Renton (Ewan McGregor) e companhia.

    O longa de 2017 possui um sabor nostálgico evidente, não só pelos personagens, mas também pelo fato dele a todo momento defrontar o seu passado e olhar para trás, some-se a isso ao sarcasmo, as inevitáveis tragédias, jogo de câmera embriagado e os correlatos visuais com o seu antecessor. Contudo, assim como os espectadores cresceram ao longo dessas mais de duas décadas, a evolução acontece com o novo filme. A maneira como o longa o tempo todo nos faz olhar o passado e o presente com outros olhos é um sinal de amadurecimento, ainda que escancare como não somente os personagens perderam muito de suas rebeldias e transgressões, o mesmo acontece conosco. T2 Trainspotting dá continuidade ao retrato cínico de uma geração, suas consequências e seus arrependimentos. Muito além de um retorno ao passado. Destaque para o monólogo de Renton revisitado e o diálogo-desabafo entre ele e Sick Boy (Jonny Lee Miller).

    8. Manchester à Beira-Mar (Kenneth Lonergan, 2016) – Por Fábio Z. Candioto

    Manchester à Beira-Mar foi uma das principais surpresas do ano passado. Inovador por ser uma distribuição da Amazon Studios (de um filme de qualidade, o contrário do que a Netflix vem fazendo) nos grandes cinemas e concorrendo a um grande prêmio, colocando ainda mais lenha na fogueira da discussão “cinema versus streaming”. Curioso também por ter sido realizado apenas pela ajuda financeira e emocional de Matt Damon ao endividado diretor Kenneth Lonergan e também polemico, por ter dado o Oscar de melhor ator a Casey Affleck em meio a acusações de assédio sexual, tudo isso antes do caso Harvey Weinstein e Kevin Spacey.

    Porém o filme não se sustenta por suas polêmicas, mas por sua brutal honestidade e sensibilidade ao lidar com perda, luto, tristeza e uma família destruída por mortes, trágicas ou não. Lee Chandler (Affleck) precisa juntar os cacos do que sobrou de si após a morte de seus filhos para ajudar o sobrinho que perde o pai, seu irmão Kyle Chandler (Joe Chandler). Sem entregar a história de primeira e alternando um feliz e normal ao depressivo e apático Lee Chandler, Kenneth nos guia de forma magistral até o momento que nos mostra a razão pela qual ele é assim, quase nos fazendo ter vergonha de ter sentido raiva do personagem. A partir daí, vários são os momentos que nos conectam cada vez mais àquela história, sem soluções mirabolantes, sem viradas repentinas e sem golpes de roteiro. Apenas pessoas normais tentando sobreviver.

    Talvez aí resida o fato de que o filme, ao mesmo tempo que fez sucesso na crítica, passou desapercebido do grande público. As nossas tragédias já são grandes demais para alguém nos fazer sentir tão fielmente a dos outros.

    7. Em Ritmo de Fuga (Edgar Wright, 2017) – Por Bernardo Mazzei

    A trilha sonora de um filme é uma parte muito grande de toda a experiência. Algumas trilhas são tão grandiosas, que costumam transformar um filme mediano em um filme empolgante. Mas o que dizer de um filme que foi idealizado para se encaixar perfeitamente com a trilha? Edgar Wright nos responde essa questão com o sensacional Em Ritmo de Fuga, um dos mais divertidos filmes de ação dos últimos tempos.

    Wright escreveu o filme para que tudo fosse perfeitamente sincronizado, com o preciosismo de encaixar até mesmo os barulhos dos tiros e das batidas de carro com a música de fundo. O resultado é impressionante. Pesam também a favor do filme o roteiro coeso, o ótimo elenco (com destaque especial pros vilões Jamie Foxx e Jon Hamm) e as cenas de ação que, por mais elaboradas que sejam, são tão bem filmadas que não deixam em nenhum momento o espectador perdido, pelo contrário, conseguem o situar perfeitamente dentro da ação.

    6. Empate

    It: A Coisa (Andy Muschietti, 2017) – Por Dan Cruz

    Remakes de filmes de terror das décadas de 80 e 90 nem sempre são sinônimos de sucesso. Franquias que arrebatavam fãs para salas de cinema no fim do século passado parecem não apresentar o mesmo fôlego nos dias de hoje para gerar continuações rentáveis financeiramente. Assim, as novas versões de Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo ficaram apenas no primeiro filme mesmo, enquanto as novas versões de Chucky, o Brinquedo Assassino nem mesmo chegaram a ser exibidas nos cinemas.

    Não é o caso de It: A Coisa. O filme baseado no romance homônimo de Stephen King (compre aqui) não só fez bonito nos cinemas como já deixou garantida a sua continuação para setembro de 2019, além de bater o recorde de bilheteria para filmes de terror nos Estados Unidos (anteriormente pertencente a O Exorcista, de 1973). Sabiamente, o diretor argentino Andy Muschietti filmou apenas a parte da história que conta a infância do grupo de protagonistas, o que gera uma história mais fluida, sem os flashbacks da versão original, além da garantia de uma sequência.

    No filme, acompanhamos o paradeiro de um grupo de pré-adolescentes assolados por terríveis alucinações causadas pelo assustador palhaço dançarino Pennywise numa cidadezinha do Maine onde os adultos não parecem se importar muito com suas crianças. Se no telefilme (lançado em VHS no Brasil) os personagens eram crianças nos anos 50, o roteiro adapta a história para algo mais próximo do espectador atual, situando-os no final dos anos 80. Além de preparar o próximo capítulo para os dias de hoje, It: A Coisa aproveita o clima de nostalgia oitentista de sucessos atuais, como Stranger Things. Além de garantir bons sustos, temos uma história envolvente e intrigante, com personagens cativantes que nos fazem querer saber mais sobre a vida de cada um. Talvez o filme não chegue ao status de “obra-prima do medo” – como o presunçoso subtítulo  brasileiro da versão anterior afirmava – mas certamente merece um lugar de destaque entre os filmes de terror modernos.

    A Qualquer Custo (David Mackenzie, 2016) – Por Flávio Vieira

    É bastante comum no subgênero western ter como um de seus temas a reação violenta de um personagem sobre a sociedade que o impinge. A Qualquer Custo, ainda que se apresente como um western moderno, não é diferente de outros tantos exemplares do gênero. O longa — por mais que tenha em seu cerne a história de dois irmãos assaltantes de bancos, que moram no Texas, e passam a ser perseguidos por policiais — vai muito além da sinopse que o descreve.

    Essas camadas se dão de forma sutil, ora nos diálogos existentes entre a dupla de policiais Marcus Hamilton (Jeff Bridges) e Alberto Parker (Gil Birmingham), um deles branco, enquanto o outro possui origens mexicanas e indígenas, restando claro a ironia e a contradição existente que os tornam parceiros, dado o genocídio aplicado aos povos indígenas desde a colonização dos EUA e agora a constante perseguição aos mexicanos e outros imigrantes pela elite branca.

    Esse é só um dos estratos desenvolvidos no filme de David Mackenzie, e isso fica claro no desenvolvimento dos irmãos Toby (Chris Pine) e Tanner Howard (Ben Foster), pertencentes às classes massacradas pelo 1% que detém a riqueza no mundo, sendo o Estado apenas um instrumento que garantirá essa exclusão, o que deixa claro na própria figura dos policiais que vão referendar as ações do pessoal do andar de cima, ainda que estes sequer façam parte desse mesmo ambiente. Mackenzie cria um filme envolvente, intenso, com um claro caráter de classe e repleto de camadas sobre a origem de nossa miséria e de nossos futuros cada vez mais incertos. Tudo isso aliado à trilha melancólica de Nick Cave e Warren Ellis.

    5. Planeta dos Macacos: A Guerra (Matt Reeves, 2017) – Por David Matheus Nunes

    Quem diria que um despretensioso reboot faria tanto sucesso? A trilogia de Planeta dos Macacos foi o resultado do comprometimento do diretor Matt Reeves, que assinou os dois últimos filmes, com o amor pela atuação em captura de movimentos de Andy Serkis, aliado à absurda tecnologia que o cinema pode desfrutar hoje em dia.

    Em Planeta dos Macacos: A Guerra, podemos acompanhar o lindo e justo desfecho da história do macaco Caesar (Serkis), o líder da comunidade símio, que agora enfrenta o que talvez seja o último front militar, liderado por um coronel, vivido pelo ótimo Woody Harrelson. O filme desde seu início prende a atenção daquele que assiste e mostra o quanto os macacos evoluíram ao longo dos anos. Sem contar que temos pela primeira vez um alívio cômico: um divertido chimpanzé (Steve Zahn) que atravessa o caminho de Caesar. É, também, o filme mais dotado de cargas dramáticas e emocionais da trilogia, o que faz com que o expectador experimente diversas sensações durante o transcorrer da fita, sendo o destaque, novamente, para a atuação de Serkis, que desde o filme anterior merecia uma indicação ao Oscar pelo papel de Caesar.

    4. Star Wars: Os Últimos Jedi (Rian Johnson, 2017) – Por Pedro Lobato

    Star Wars: Os Últimos Jedi é um divisor de águas e de opiniões. Ao mesmo tempo em que o filme abraça tudo o que a franquia cinematográfica construiu em toda a sua história, leva o universo Star Wars para novos e inesperados lugares.

    Precisa-se de coragem para tomar as decisões do diretor e roteirista Rian Johnson quando se trata de Star Wars. Encontrar um Luke Skywalker (Mark Hamill) que foge do arquétipo clássico do herói construído na trilogia clássica é ousado e eriça os fãs que ainda não aceitaram a morte do universo expandido da franquia. Porém, mesmo sendo o maior jedi do universo, explora-se os lados mais humanos do personagem, além de dar espaço para uma nova geração de heróis e antagonistas. Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver) ganham maior destaque e profundidade emocional, além de contracenarem a melhor cena de combate de sabres do filme (cena que, diga-se de passagem, tem uma fotografia memorável).

    Star Wars não se trata apenas de um filme blockbuster. A série de filmes angaria cada vez mais pessoas à sua legião de fãs com uma história empolgante e moderna. Agora só nos resta esperar ansiosamente pela conclusão da trilogia em 2019.

    3. Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve, 2017) – Por Rafael Moreira

    Blade Runner 2049 é um animal diferente do seu filme antecessor. Se esse animal é elétrico ou real, um sapo ou uma ovelha, fica pra lista de dúvidas que Blade Runner (compre aqui) nos deixa. Independente disso, é um grande filme mais ligado aos temas da sociedade presente, tal como o livro que dá origem a tudo isso. Enquanto no filme original tínhamos a busca e a destruição do Criador — em função da angústia que a própria existência, e o fim dela, proporciona —, temos aqui a busca da identidade, tema que também era presente no seu antecessor, mas agora menos ambígua no sentido do que de fato somos, e querendo ressaltar o contraste da projeção daquilo que gostaríamos de ser. Outros temas, como a luta pela liberdade que o filme aborda, não me parecem exatamente uma reflexão, mas talvez algo como exposição da luta natural dos seres por ela, sejam humanos ou replicantes. A reflexão do tema fica por conta do que nos dá esse direito a liberdade.

    Se nos temas notamos diferenças consideráveis, a estética é Blade Runner até a alma, comparável a uma grande coruja de carne e osso. A trilha sonora, que era um dos pontos que mais me preocupava, foi uma grata surpresa que, apesar de não contar com Vangelis, ela segue muito bem na linha do que foi feito por ele no filme do Ridley Scott, e tem toques contemporâneos que a modernizaram na medida certa. A direção de arte do filme junto dos efeitos e a trilha sonora criam a atmosfera perfeita que é o coração da série. Os equipamentos eletrônicos e os comerciais nos telões digitais não são mais da Panasonic e sim da Sony, mas pelo menos o Black Label do Deckard foi mantido até com o mesmo copo.

    2. Corra! (Jordan Peele, 2017) – Por Marcos Paulo Oliveira

    Um suspense, com algo de comédia/paródia, com algo de ficção científica. Corra! é uma estranheza em si, um filme que se nega a se enquadrar nas expectativas dos gêneros cinematográficos, fazendo com que quem o assista esteja constantemente desarmado. Embora o filme de suspense se pronunciasse logo no começo, antes mesmo de sermos apresentados ao protagonista do filme, Chris (Daniel Kaluuya), nossas expectativas são constantemente confirmadas à partir da voz de Rod, seu melhor amigo e um cético agente da agência de segurança de transportes, e outrora contestadas na docilidade e forma apaixonada com que a namorada Rose (Alisson Willians) trata seu amado.

    Um dos grandes favoritos do público na premiação da academia, talvez a grande inovação aqui seja a forma inesperada com que se busca tratar do tema do racismo, trazendo para tela não o caipira bronco e tipicamente racista, numa espécie de estereótipo do eleitor de Trump, mas o típico eleitor de Obama. Um filme político mostrando o quão políticas são as relações quando se trata daqueles que consideramos diferentes, em que cada um possui seu próprio “token” para protegê-lo da pecha de racista, afinal toda gente branca tem um amigo negro, normalmente só um mesmo, e para completar o escudo, é fã de Kanye West e foi assistir Pantera Negra na estreia. Ou seja, todas formas de antecipar a proteção às suas ações, mas que ainda vê em primeira instância a cor da pele, se apropriando daquilo que faz a cultura negra ser admirável, mas jogando fora aquilo que faz da pessoa negra ser humano.

    Traduzido para o cotidiano, é a “ficcionalização” daquele reflexo de se colocar revoltosamente contra cada notícia de exposição de racismo e violência contra etnias, mas no dia seguinte mudar de calçada tão logo aviste um representante perfeito daquele mesmo estereótipo, em um reflexo tão imediato quanto o anterior, na suposição do caráter por trás do corpo pele escura. Numa espécie de nova roupa para a escravidão que tantas vezes se apropriou dos corpos das pessoas negras construindo impérios sobre seus esqueletos, a política de agora exige mais sutileza, tornando possível apropriar-se da cultura, da voz, da força e dos talentos das pessoas negras contanto que no fundo no fundo, exista uma pessoa branca no comando.

    Toda essa profunda percepção da política e do racismo, e a capacidade de alternar as peles nas quais nos colocamos coloca Corra! como um dos melhores filmes de 2017, tomando, acertadamente, o lugar dos tradicionais filmes nas premiações e na representação social.

    1. Logan (James Mangold, 2017) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Desde a estreia de X-Men nos cinemas, em um longínquo ano 2000, o cinema pipoca se curvou às histórias em quadrinhos. O sucesso garantiu uma fórmula que foi seguida, em maior ou menor grau, pela maioria das adaptações. Com a Disney/Marvel representando grande parte das e, inevitavelmente, produzindo tramas com estruturas similares, a Fox tentou manter em alta sua franquia heroica — os X-Men e seus derivados — procurando novas maneiras de abordar um tema que se tornou tão rentável ao ponto de ser transformado em um sub-gênero.

    Por dois anos consecutivos, o estúdio foi responsável pelo melhor filme de quadrinhos do ano. Em 2016, Deadpool ria das próprias fórmulas criadas nas narrativas fundamentadas nesses mais de dez anos. No ano passado, Logan procurou expandir o gênero ao evitar a repetição da fórmula, procurando construir não um filme de super-herói, mas com super heróis. Adaptando parcialmente O Velho Logan, de Mark Millar e Steven McNiven, a presença de Wolverine na trama é apenas um dos fatores que abrilhantam o roteiro, bem sustentado por um drama situado em um mundo destruído com um personagem central resignado.

    Com a classificação etária restrita para menores, a produção entrega toda a violência do mutante, característica fundamental de sua criação,  ao mesmo tempo em que apresentava um forte desfecho ao personagem interpretado pelo sempre bom Hugh Jackman, em sua última atuação como Wolverine (ao menos, é o que tudo indica). Se entre críticas profissionais e o entusiamos do público o filme tem se destacado como um marco, com uma narrativa diferente da habitual responsável por uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, Logan deverá ser visto no futuro como uma das poucas obras de qualidade da época em que o cinema descobriu as histórias em quadrinhos. Se considerarmos que trata-se de um dos personagens mais populares da Marvel, não poderia ser diferente.

    Participaram dessa votação: Bernardo Mazzei, Cristine Tellier, Dan Cruz, David Matheus Nunes, Doug Olive, Fábio Z. Candioto, Felipe Freitas, Filipe Pereira, Flávio Vieira, Jackson Good, José Fontenele, Marcos Paulo Oliveira, Pablo Grilo, Pedro Lobato e Tiago Lopes.

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  • Crítica | It: A Coisa

    Crítica | It: A Coisa

    Pennywise (Bill Skarsgård), o palhaço mais assustador da cultura pop, está de volta em mais uma adaptação da obra de Stephen King (Leia nossa crítica de IT – Uma Obra Prima do Medo). Com roteiro de Chase Palmer, Cary Fukunaga e direção de Andy Muschietti, o filme conta a história do autodenominado “Losers Club” (clube dos perdedores), um grupo de amigos, pré-adolescentes, que moram na pequena cidade de Derry, no estado de Maine, que começa a investigar o desaparecimento de várias crianças e adolescentes.

    Enquanto tentam descobrir o que aconteceu aos desaparecidos, se deparam com Pennywise, o palhaço – uma encarnação do mal que tem espalhado mortes e violência na cidadezinha há séculos, desde sua fundação.

    Grupo de crianças e/ou adolescentes são personagens recorrentes nas histórias de King. Quem não se lembra de Conta Comigo? Não há dúvida que a identificação do público com os personagens é facilitada, ocorrendo de forma mais intensa, pois as situações vividas pelas crianças sempre encontram correspondência na própria vivência do espectador. E, lógico, devido a essa identificação, o público se importa muito mais com o destino dos personagens, com o risco que correm. Em consequência, os sustos e as situações de perigo provocam reações potencialmente maiores.

    O escritor também aproveita suas histórias para falar das dificuldades de ser criança/adolescente, dos percalços que a passagem à vida adulta traz. Em suma, suas histórias tratam basicamente dos ritos de passagem. No caso desta, todos os medos e anseios dos personagens são personificados de forma assustadora nas visões causadas por Pennywise. É um recurso bastante eficiente, que J.K. Rowling também usou – o Bicho-papão assumia a forma do maior medo de quem olhasse para ele. Mas com Pennywise, esse conceito é aplicado de modo exponencialmente mais horripilante, principalmente pelo fato de as visões serem muito mais realistas.

    Bons sustos não faltam ao filme. E, o que é melhor, mesmo para os espectadores de filmes de terror mais “experientes”, nem sempre é possível antever o momento em que irão ocorrer. Muitos filmes o gênero sofrem do que se pode chamar de “clichê precoce”: situações recorrentes em que é quase certo que o personagem tomará um susto e, talvez, o público também. A cena clássica do susto ao abrir a cortina do chuveiro é um bom exemplo disso. Contudo, o roteiro consegue manejar bem os sustos, não só por não deixar óbvio o momento em que ocorrerão, mas também por gerar o susto de formas inusitadas, em locais tão inusitados quanto um ralo de pia.

    Os roteiristas optaram por deslocar a história temporalmente para os anos 80 – no livro de Stephen King, ela se passa em 1958. E pode-se dizer que foi uma ótima escolha, já que essa década certamente gera um saudosismo muito maior do público atual. A reconstrução da época foi muito bem feita, desde o figurino, passando pelo cenário e até os programas de TV e as músicas tocando no rádio. Os espectadores que foram assistir E.T. – O Extraterrestre ou Conta Comigo no cinema se sentirão em casa.

    O elenco infantil é sensacional. A sinergia que possuem faz com que consigam transmitir tanto a força dos laços de amizade quanto dos conflitos entre eles. E vale destacar a atuação de Skarsgård, irreconhecível sob a maquiagem de Pennywise e simplesmente aterrorizante.

    Se você tem medo de palhaços, este filme definitivamente não é para você. E se você não tem, há grande probabilidade de passar a ter.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Mama

    Crítica | Mama

    mama

    Atualmente, o que mais tem por aí é gente dizendo que o cinema (e a produção cultural em geral) está em crise, tanto pela falta de criatividade e homogeneização do pensamento em Hollywood quanto pela massificação e velocidade de reprodução e consumo dos bens produzidos pela indústria cultural.

    O fato é que o cinema de terror vive uma crise maior que a do cinema. Desde os clássicos dos anos 70, como O Bebê de Rosemary e O Exorcista, que levaram e assustaram multidões aos cinemas, não vimos mais fenômenos tão marcantes ou duradouros. Com algumas raras exceções, os anos 80 e 90 produziram uma quantidade enorme de títulos no gênero, um mais genérico que o outro, e apesar de algumas tentativas recentes mais realistas, intimistas e autorais, como as levadas a cabo por Guillermo del Toro, o cinema de terror ainda patina frente a uma população mais cínica, esclarecida e acostumada com a violência que desdenha de grande parte das produções que aparecem.

    Mama, filme de Andy Muschietti baseado em um curta do mesmo autor, se situa na descrição acima. Ao mesmo tempo em que tenta invocar um terror intimista, falha ao pecar justamente na progressão das cenas e dos personagens, não fazendo jus as suas quase duas horas de duração. O filme conta a história de duas crianças abandonadas pelo pai, que some de forma bem clara e nem um pouco misteriosa, colocando já de cara as cartas do filme na mesa. (Não é interpretação. O sobrenatural existe mesmo. Ponto para a coragem da abordagem.) As duas crianças sobrevivem por cinco anos na casa com a ajuda de uma entidade misteriosa até serem descobertas pelo tio Lucas (Nikolaj Coster-Waldau), irmão do pai delas, que as leva para criar junto com sua namorada Annabel (Jessica Chastain).

    A história se desenvolve a partir de situações que vão do leve incômodo (como em filmes de terror qualquer funcionário de cartório é especialista em fantasmas) até o mais absurdo (como da cena final, onde qualquer possibilidade real de final resolvido, só caberia justamente em uma plateia dos anos 70, sem o atual vício realista).

    Em momento algum acreditamos na relação das personagens, que passam, de uma hora para outra, de estranhos a um amor incondicional, ou mesmo na sucessão de eventos que exige uma crença do espectador que ele dificilmente dará. Pessoas se encontram em estradas desertas sem combinarem, personagens resolvidos fazem pós-aparições provocativas sem resultado algum na trama, são só alguns exemplos de incongruências da história, que não é salva pela bela e assustadora fotografia de inverno no início do filme, que remete aos Irmãos Grimm.

    Guillermo del Toro produz o longa, e parece ter chamado para si toda a responsabilidade a respeito dos filmes de terror na última década, após belas realizações como Labirinto do Fauno. No entanto, suas últimas produções têm deixado a desejar, pois parecem seguir um roteiro formatado e estabelecido (“filme independente europeu de um diretor jovem e desconhecido adaptado para o público americano”), que nos trouxe também coisas positivas, como REC e O Orfanato, mas que agora definitivamente parece ter chegado à exaustão.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.