Tag: Danny Boyle

  • Crítica | Yesterday

    Crítica | Yesterday

    Fantasia de estilo dramático misturado com elementos de musicais, Yesterday é o novo filme de Danny Boyle, e foca na historia de Jack Malik (Himesh Patel), um musico fracassado que só tem o publico de Ellie (Lily James), sua paixão platônica (e agente musical) e mais dois amigos. Depois de muito tocar, para plateias cada vez menores, ele chega a conclusão que só um milagre o fará obter o sucesso. Um dia, um apagão pega toda o mundo de surpresa, e algo bizarro acontece. Nesse meio tempo, o herói da jornada é atropelado, perde alguns dentes e tem sua barba cortada, objeto esse que ele amava manter grande.

    É bizarro como nessa historia viajandona, onde todos simplesmente perderam a maior banda de rock da historia de vista e lembrança ainda há muito pragmatismo e semelhanças visuais e de estilo com outros filme de Boyle. A saída de Jack do hospital lembra muito o visto em Extermínio, inclusive na condição de que o herói está isolado e bem diferente do resto do mundo, em uma condição de saúde mental bem distinta dos outros, já que ele continua recordando dos garotos de Liverpool e de outros tantos itens que sumiram, como Cigarro, Coca Cola e a banda Oasis.

    Malik não tem muitas travas morais, ao mínimo sinal de que pode se aproveitar da situação ele vai e o faz. O roteiro de Richard Curtis é muito bem elaborado em torno desse espírito, de ser direto e de mostrar que mesmo um sujeito honesto, quando é tentado a se apropriar do que é de outro, o faz sem muito pensar. Além disso, a transição do homem que só toca em lugares e ambientes terríveis, onde o talento não é valorizado, para o sujeito que ganha oportunidades de desconhecidos também é ultra rápido.

    O carisma dos personagens e a trilha sonora absurda fazem toda a mágica ocorrer facilmente. Patel e James brilham muito, juntos e quando estão sozinhos. Eles são divertidos, tem química e causam simpatia praticamente automática, mas lá pela metade da historia, o filme perde um pouco de sua força. O vigor vai se perdendo, o que é uma pena, pois esse ritmo cai quando o personagem principal está em turnê com as músicas clássicas. Quando se desenrola a gênese do amor dos dois protagonistas já é tarde demais, pois toda a química entre os dois vai pelo ralo quando tentam se tornar um casal, e para um filme baseado em romance, isso é algo que denigre e muito.

    Talvez se pensasse mais em desenvolver os meandros das mudanças que ocorreram após o apagão e fosse menos focado no namorico que não evolui entre Ellie e Jack, o filme faria mais sentido. A discografia dos Beatles tem baladas de amor, mas não se resume a isso, e até a questão dele ser ou não uma farsa é subalterno, tudo para desenvolver só o semi namoro dos dois. Apesar de ambos personagens terem carisma, é pouco, para segurar um longa-metragem de grandes proporções e de orçamento não barato. O final evoca redenção, mas abre espaço para novas fraudes, mostrando um homem acima do bem e do mal que aparentemente não aprendeu sua lição, ao contrário. Yesterday ao menos é uma boa homenagem ao quarteto de Liverpool, uma reverencia tremenda ao trabalho de Paul, Ringo, George e John travestido de uma historia água com açúcar que acerta em alguns pontos em sua exploração de historinha de amor pura e simples.

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  • VortCast 55 | Melhores Filmes de 2017

    VortCast 55 | Melhores Filmes de 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral) e Rafael Moreira (@_rmc) recebem o ouvinte e podcaster Cliff Rodrigo Silva para comentar sobre a lista publicada no site sobre os melhores filmes lançados em 2017 no Brasil.

    Duração: 111 min.
    Edição: Julio Assano Junior
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Piores Filmes de 2017

    Lista Completa dos Melhores Filmes de 2017
    Crítica Mãe!
    Crítica T2 Trainspotting
    Crítica Manchester à Beira-Mar
    Crítica Em Ritmo de Fuga
    Crítica It: A Coisa
    Crítica A Qualquer Custo
    Crítica Planeta dos Macacos: A Guerra
    Crítica Star Wars: Os Últimos Jedi
    Crítica Blade Runner 2049
    Crítica Corra!
    Crítica Logan

    Comentados na Edição

    Lista Piores Filmes de 2017
    VortCast 54 | Piores Filmes de 2017
    VortCast 02 | Darren Aronofsky
    VortCast 45 | Pós-Oscar 2017
    VortCast 08 | Planeta dos Macacos
    VortCast 50 | Star Wars: Os Últimos Jedi
    VortCast 51 | Star Wars e as Polêmicas do Novo Filme
    VortCast 05 | Filmes Marvel
    VortCast 44 | Piores Filmes de 2016
    VortCast 46 | Melhores Filmes de 2016
    Overdrive #17 Androides sonham com ovelhas elétricas?

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  • Melhores Filmes de 2017

    Melhores Filmes de 2017

    Assim como no ano passado, realizamos uma lista coletiva dos melhores filmes do ano a partir da seleção pessoal de cada redator do site. Dessa forma, é natural que, numa equipe heterogênea formada por diversos profissionais e com visões diferenciadas sobre a crítica cinematográfica, uma lista como essa abarque diversos gêneros e estilos. Motivo mais do que necessário para não justificarmos as razões que esse ou aquele filme não integraram a lista final. Espero que gostem do resultado.

    (confira também nossa lista de Piores Filmes de 2017).

    10. Mãe! (Darren Aronofsky, 2017) – Por Felipe Freitas

    Darren Aronofsky talvez tenha sido o maior obstáculo de seu próprio projeto. Quando Mãe! estava próximo de chegar aos cinemas, o diretor já estava dissecando os conceitos do filme em qualquer entrevista que ele tinha oportunidade. Acabou que um dos melhores longas do ano ficou manchado pela fama de prepotência de quem o concebeu e por conta disso não teve o reconhecimento merecido. E bota merecido nisso!

    Jennifer Lawrence atua no melhor papel de sua carreira e carrega o filme nas costas quase que literalmente, já que 70% dele são planos fechados na atriz, seja em seu rosto ou em suas costas. É um trabalho difícil e cada segundo no filme nos dá a impressão disso. Mas Lawrence não está sozinha: Javier Bardem e Michelle Pfeiffer também estão em alto nível.

    Darren leva adiante suas personagens e sua grande alegoria com muito controle e um clima tão crescente que faz do terceiro ato do longa-metragem um dos mais megalomaníacos e fortes dos últimos anos, com primor técnico e carregado de significados — sejam eles frutos do ego do diretor ou não.

    9. T2 Trainspotting (Danny Boyle, 2017) – Por Flávio Vieira

    Há mais de 20 anos atrás, Danny Boyle adaptou o romance do escocês Irvine Welsh e apresentou Trainspotting (compre aqui) ao mundo. Na trama, acompanhávamos um grupo de jovens absortos em um universo de drogas, e também toda uma toxicidade social que os fazia repudiar o establishment. Por conta disso, apesar de toda ausência de compasso moral existente no filme, era óbvia a conexão do espectador (principalmente os mais jovens) com esses personagens. Somado a isso, Boyle se utiliza de uma subversão do modo de fazer cinema ao utilizar uma direção clássica e instrumental, interconectividades entre cenas aliados a registros visuais fortes, enquadramentos inconvencionais e alegorias oníricas e surreais.

    Em 2002, Welsh escreveu uma continuação para esses personagens em um novo romance: Pornô (compre aqui) — os adictos à heroína agora estavam envolvidos na indústria da pornografia. Apesar do material promissor, Boyle não conseguiu transformar o romance em algo bom o suficiente, mas apenas mais uma continuação comercial como tantas outras. O projeto foi abandonado e engavetado por cerca de dez anos para que finalmente o cineasta encontrasse sua história para Renton (Ewan McGregor) e companhia.

    O longa de 2017 possui um sabor nostálgico evidente, não só pelos personagens, mas também pelo fato dele a todo momento defrontar o seu passado e olhar para trás, some-se a isso ao sarcasmo, as inevitáveis tragédias, jogo de câmera embriagado e os correlatos visuais com o seu antecessor. Contudo, assim como os espectadores cresceram ao longo dessas mais de duas décadas, a evolução acontece com o novo filme. A maneira como o longa o tempo todo nos faz olhar o passado e o presente com outros olhos é um sinal de amadurecimento, ainda que escancare como não somente os personagens perderam muito de suas rebeldias e transgressões, o mesmo acontece conosco. T2 Trainspotting dá continuidade ao retrato cínico de uma geração, suas consequências e seus arrependimentos. Muito além de um retorno ao passado. Destaque para o monólogo de Renton revisitado e o diálogo-desabafo entre ele e Sick Boy (Jonny Lee Miller).

    8. Manchester à Beira-Mar (Kenneth Lonergan, 2016) – Por Fábio Z. Candioto

    Manchester à Beira-Mar foi uma das principais surpresas do ano passado. Inovador por ser uma distribuição da Amazon Studios (de um filme de qualidade, o contrário do que a Netflix vem fazendo) nos grandes cinemas e concorrendo a um grande prêmio, colocando ainda mais lenha na fogueira da discussão “cinema versus streaming”. Curioso também por ter sido realizado apenas pela ajuda financeira e emocional de Matt Damon ao endividado diretor Kenneth Lonergan e também polemico, por ter dado o Oscar de melhor ator a Casey Affleck em meio a acusações de assédio sexual, tudo isso antes do caso Harvey Weinstein e Kevin Spacey.

    Porém o filme não se sustenta por suas polêmicas, mas por sua brutal honestidade e sensibilidade ao lidar com perda, luto, tristeza e uma família destruída por mortes, trágicas ou não. Lee Chandler (Affleck) precisa juntar os cacos do que sobrou de si após a morte de seus filhos para ajudar o sobrinho que perde o pai, seu irmão Kyle Chandler (Joe Chandler). Sem entregar a história de primeira e alternando um feliz e normal ao depressivo e apático Lee Chandler, Kenneth nos guia de forma magistral até o momento que nos mostra a razão pela qual ele é assim, quase nos fazendo ter vergonha de ter sentido raiva do personagem. A partir daí, vários são os momentos que nos conectam cada vez mais àquela história, sem soluções mirabolantes, sem viradas repentinas e sem golpes de roteiro. Apenas pessoas normais tentando sobreviver.

    Talvez aí resida o fato de que o filme, ao mesmo tempo que fez sucesso na crítica, passou desapercebido do grande público. As nossas tragédias já são grandes demais para alguém nos fazer sentir tão fielmente a dos outros.

    7. Em Ritmo de Fuga (Edgar Wright, 2017) – Por Bernardo Mazzei

    A trilha sonora de um filme é uma parte muito grande de toda a experiência. Algumas trilhas são tão grandiosas, que costumam transformar um filme mediano em um filme empolgante. Mas o que dizer de um filme que foi idealizado para se encaixar perfeitamente com a trilha? Edgar Wright nos responde essa questão com o sensacional Em Ritmo de Fuga, um dos mais divertidos filmes de ação dos últimos tempos.

    Wright escreveu o filme para que tudo fosse perfeitamente sincronizado, com o preciosismo de encaixar até mesmo os barulhos dos tiros e das batidas de carro com a música de fundo. O resultado é impressionante. Pesam também a favor do filme o roteiro coeso, o ótimo elenco (com destaque especial pros vilões Jamie Foxx e Jon Hamm) e as cenas de ação que, por mais elaboradas que sejam, são tão bem filmadas que não deixam em nenhum momento o espectador perdido, pelo contrário, conseguem o situar perfeitamente dentro da ação.

    6. Empate

    It: A Coisa (Andy Muschietti, 2017) – Por Dan Cruz

    Remakes de filmes de terror das décadas de 80 e 90 nem sempre são sinônimos de sucesso. Franquias que arrebatavam fãs para salas de cinema no fim do século passado parecem não apresentar o mesmo fôlego nos dias de hoje para gerar continuações rentáveis financeiramente. Assim, as novas versões de Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo ficaram apenas no primeiro filme mesmo, enquanto as novas versões de Chucky, o Brinquedo Assassino nem mesmo chegaram a ser exibidas nos cinemas.

    Não é o caso de It: A Coisa. O filme baseado no romance homônimo de Stephen King (compre aqui) não só fez bonito nos cinemas como já deixou garantida a sua continuação para setembro de 2019, além de bater o recorde de bilheteria para filmes de terror nos Estados Unidos (anteriormente pertencente a O Exorcista, de 1973). Sabiamente, o diretor argentino Andy Muschietti filmou apenas a parte da história que conta a infância do grupo de protagonistas, o que gera uma história mais fluida, sem os flashbacks da versão original, além da garantia de uma sequência.

    No filme, acompanhamos o paradeiro de um grupo de pré-adolescentes assolados por terríveis alucinações causadas pelo assustador palhaço dançarino Pennywise numa cidadezinha do Maine onde os adultos não parecem se importar muito com suas crianças. Se no telefilme (lançado em VHS no Brasil) os personagens eram crianças nos anos 50, o roteiro adapta a história para algo mais próximo do espectador atual, situando-os no final dos anos 80. Além de preparar o próximo capítulo para os dias de hoje, It: A Coisa aproveita o clima de nostalgia oitentista de sucessos atuais, como Stranger Things. Além de garantir bons sustos, temos uma história envolvente e intrigante, com personagens cativantes que nos fazem querer saber mais sobre a vida de cada um. Talvez o filme não chegue ao status de “obra-prima do medo” – como o presunçoso subtítulo  brasileiro da versão anterior afirmava – mas certamente merece um lugar de destaque entre os filmes de terror modernos.

    A Qualquer Custo (David Mackenzie, 2016) – Por Flávio Vieira

    É bastante comum no subgênero western ter como um de seus temas a reação violenta de um personagem sobre a sociedade que o impinge. A Qualquer Custo, ainda que se apresente como um western moderno, não é diferente de outros tantos exemplares do gênero. O longa — por mais que tenha em seu cerne a história de dois irmãos assaltantes de bancos, que moram no Texas, e passam a ser perseguidos por policiais — vai muito além da sinopse que o descreve.

    Essas camadas se dão de forma sutil, ora nos diálogos existentes entre a dupla de policiais Marcus Hamilton (Jeff Bridges) e Alberto Parker (Gil Birmingham), um deles branco, enquanto o outro possui origens mexicanas e indígenas, restando claro a ironia e a contradição existente que os tornam parceiros, dado o genocídio aplicado aos povos indígenas desde a colonização dos EUA e agora a constante perseguição aos mexicanos e outros imigrantes pela elite branca.

    Esse é só um dos estratos desenvolvidos no filme de David Mackenzie, e isso fica claro no desenvolvimento dos irmãos Toby (Chris Pine) e Tanner Howard (Ben Foster), pertencentes às classes massacradas pelo 1% que detém a riqueza no mundo, sendo o Estado apenas um instrumento que garantirá essa exclusão, o que deixa claro na própria figura dos policiais que vão referendar as ações do pessoal do andar de cima, ainda que estes sequer façam parte desse mesmo ambiente. Mackenzie cria um filme envolvente, intenso, com um claro caráter de classe e repleto de camadas sobre a origem de nossa miséria e de nossos futuros cada vez mais incertos. Tudo isso aliado à trilha melancólica de Nick Cave e Warren Ellis.

    5. Planeta dos Macacos: A Guerra (Matt Reeves, 2017) – Por David Matheus Nunes

    Quem diria que um despretensioso reboot faria tanto sucesso? A trilogia de Planeta dos Macacos foi o resultado do comprometimento do diretor Matt Reeves, que assinou os dois últimos filmes, com o amor pela atuação em captura de movimentos de Andy Serkis, aliado à absurda tecnologia que o cinema pode desfrutar hoje em dia.

    Em Planeta dos Macacos: A Guerra, podemos acompanhar o lindo e justo desfecho da história do macaco Caesar (Serkis), o líder da comunidade símio, que agora enfrenta o que talvez seja o último front militar, liderado por um coronel, vivido pelo ótimo Woody Harrelson. O filme desde seu início prende a atenção daquele que assiste e mostra o quanto os macacos evoluíram ao longo dos anos. Sem contar que temos pela primeira vez um alívio cômico: um divertido chimpanzé (Steve Zahn) que atravessa o caminho de Caesar. É, também, o filme mais dotado de cargas dramáticas e emocionais da trilogia, o que faz com que o expectador experimente diversas sensações durante o transcorrer da fita, sendo o destaque, novamente, para a atuação de Serkis, que desde o filme anterior merecia uma indicação ao Oscar pelo papel de Caesar.

    4. Star Wars: Os Últimos Jedi (Rian Johnson, 2017) – Por Pedro Lobato

    Star Wars: Os Últimos Jedi é um divisor de águas e de opiniões. Ao mesmo tempo em que o filme abraça tudo o que a franquia cinematográfica construiu em toda a sua história, leva o universo Star Wars para novos e inesperados lugares.

    Precisa-se de coragem para tomar as decisões do diretor e roteirista Rian Johnson quando se trata de Star Wars. Encontrar um Luke Skywalker (Mark Hamill) que foge do arquétipo clássico do herói construído na trilogia clássica é ousado e eriça os fãs que ainda não aceitaram a morte do universo expandido da franquia. Porém, mesmo sendo o maior jedi do universo, explora-se os lados mais humanos do personagem, além de dar espaço para uma nova geração de heróis e antagonistas. Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver) ganham maior destaque e profundidade emocional, além de contracenarem a melhor cena de combate de sabres do filme (cena que, diga-se de passagem, tem uma fotografia memorável).

    Star Wars não se trata apenas de um filme blockbuster. A série de filmes angaria cada vez mais pessoas à sua legião de fãs com uma história empolgante e moderna. Agora só nos resta esperar ansiosamente pela conclusão da trilogia em 2019.

    3. Blade Runner 2049 (Denis Villeneuve, 2017) – Por Rafael Moreira

    Blade Runner 2049 é um animal diferente do seu filme antecessor. Se esse animal é elétrico ou real, um sapo ou uma ovelha, fica pra lista de dúvidas que Blade Runner (compre aqui) nos deixa. Independente disso, é um grande filme mais ligado aos temas da sociedade presente, tal como o livro que dá origem a tudo isso. Enquanto no filme original tínhamos a busca e a destruição do Criador — em função da angústia que a própria existência, e o fim dela, proporciona —, temos aqui a busca da identidade, tema que também era presente no seu antecessor, mas agora menos ambígua no sentido do que de fato somos, e querendo ressaltar o contraste da projeção daquilo que gostaríamos de ser. Outros temas, como a luta pela liberdade que o filme aborda, não me parecem exatamente uma reflexão, mas talvez algo como exposição da luta natural dos seres por ela, sejam humanos ou replicantes. A reflexão do tema fica por conta do que nos dá esse direito a liberdade.

    Se nos temas notamos diferenças consideráveis, a estética é Blade Runner até a alma, comparável a uma grande coruja de carne e osso. A trilha sonora, que era um dos pontos que mais me preocupava, foi uma grata surpresa que, apesar de não contar com Vangelis, ela segue muito bem na linha do que foi feito por ele no filme do Ridley Scott, e tem toques contemporâneos que a modernizaram na medida certa. A direção de arte do filme junto dos efeitos e a trilha sonora criam a atmosfera perfeita que é o coração da série. Os equipamentos eletrônicos e os comerciais nos telões digitais não são mais da Panasonic e sim da Sony, mas pelo menos o Black Label do Deckard foi mantido até com o mesmo copo.

    2. Corra! (Jordan Peele, 2017) – Por Marcos Paulo Oliveira

    Um suspense, com algo de comédia/paródia, com algo de ficção científica. Corra! é uma estranheza em si, um filme que se nega a se enquadrar nas expectativas dos gêneros cinematográficos, fazendo com que quem o assista esteja constantemente desarmado. Embora o filme de suspense se pronunciasse logo no começo, antes mesmo de sermos apresentados ao protagonista do filme, Chris (Daniel Kaluuya), nossas expectativas são constantemente confirmadas à partir da voz de Rod, seu melhor amigo e um cético agente da agência de segurança de transportes, e outrora contestadas na docilidade e forma apaixonada com que a namorada Rose (Alisson Willians) trata seu amado.

    Um dos grandes favoritos do público na premiação da academia, talvez a grande inovação aqui seja a forma inesperada com que se busca tratar do tema do racismo, trazendo para tela não o caipira bronco e tipicamente racista, numa espécie de estereótipo do eleitor de Trump, mas o típico eleitor de Obama. Um filme político mostrando o quão políticas são as relações quando se trata daqueles que consideramos diferentes, em que cada um possui seu próprio “token” para protegê-lo da pecha de racista, afinal toda gente branca tem um amigo negro, normalmente só um mesmo, e para completar o escudo, é fã de Kanye West e foi assistir Pantera Negra na estreia. Ou seja, todas formas de antecipar a proteção às suas ações, mas que ainda vê em primeira instância a cor da pele, se apropriando daquilo que faz a cultura negra ser admirável, mas jogando fora aquilo que faz da pessoa negra ser humano.

    Traduzido para o cotidiano, é a “ficcionalização” daquele reflexo de se colocar revoltosamente contra cada notícia de exposição de racismo e violência contra etnias, mas no dia seguinte mudar de calçada tão logo aviste um representante perfeito daquele mesmo estereótipo, em um reflexo tão imediato quanto o anterior, na suposição do caráter por trás do corpo pele escura. Numa espécie de nova roupa para a escravidão que tantas vezes se apropriou dos corpos das pessoas negras construindo impérios sobre seus esqueletos, a política de agora exige mais sutileza, tornando possível apropriar-se da cultura, da voz, da força e dos talentos das pessoas negras contanto que no fundo no fundo, exista uma pessoa branca no comando.

    Toda essa profunda percepção da política e do racismo, e a capacidade de alternar as peles nas quais nos colocamos coloca Corra! como um dos melhores filmes de 2017, tomando, acertadamente, o lugar dos tradicionais filmes nas premiações e na representação social.

    1. Logan (James Mangold, 2017) – Por Thiago Augusto Corrêa

    Desde a estreia de X-Men nos cinemas, em um longínquo ano 2000, o cinema pipoca se curvou às histórias em quadrinhos. O sucesso garantiu uma fórmula que foi seguida, em maior ou menor grau, pela maioria das adaptações. Com a Disney/Marvel representando grande parte das e, inevitavelmente, produzindo tramas com estruturas similares, a Fox tentou manter em alta sua franquia heroica — os X-Men e seus derivados — procurando novas maneiras de abordar um tema que se tornou tão rentável ao ponto de ser transformado em um sub-gênero.

    Por dois anos consecutivos, o estúdio foi responsável pelo melhor filme de quadrinhos do ano. Em 2016, Deadpool ria das próprias fórmulas criadas nas narrativas fundamentadas nesses mais de dez anos. No ano passado, Logan procurou expandir o gênero ao evitar a repetição da fórmula, procurando construir não um filme de super-herói, mas com super heróis. Adaptando parcialmente O Velho Logan, de Mark Millar e Steven McNiven, a presença de Wolverine na trama é apenas um dos fatores que abrilhantam o roteiro, bem sustentado por um drama situado em um mundo destruído com um personagem central resignado.

    Com a classificação etária restrita para menores, a produção entrega toda a violência do mutante, característica fundamental de sua criação,  ao mesmo tempo em que apresentava um forte desfecho ao personagem interpretado pelo sempre bom Hugh Jackman, em sua última atuação como Wolverine (ao menos, é o que tudo indica). Se entre críticas profissionais e o entusiamos do público o filme tem se destacado como um marco, com uma narrativa diferente da habitual responsável por uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, Logan deverá ser visto no futuro como uma das poucas obras de qualidade da época em que o cinema descobriu as histórias em quadrinhos. Se considerarmos que trata-se de um dos personagens mais populares da Marvel, não poderia ser diferente.

    Participaram dessa votação: Bernardo Mazzei, Cristine Tellier, Dan Cruz, David Matheus Nunes, Doug Olive, Fábio Z. Candioto, Felipe Freitas, Filipe Pereira, Flávio Vieira, Jackson Good, José Fontenele, Marcos Paulo Oliveira, Pablo Grilo, Pedro Lobato e Tiago Lopes.

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  • Crítica | Trainspotting: Sem Limites

    Crítica | Trainspotting: Sem Limites

    Lançado em 1996, Transpotting: Sem Limites funciona como um manifesto sobre parte da da juventude junkie britânica, focalizado em tempos modernos, na contemporaneidade da década de noventa. As escolhas estéticas de Danny Boyle evidenciam uma afeição a psicodelia, seja nas cores gritantes utilizadas nos figurinos dos personagens de idade precoce, como também nos cenários construídos em volta dos meninos e meninos que se picam de heroína e outras substâncias.

    A câmera mergulha no torpor de Rent (Ewan McGregor), Spud (Ewen Bremner), Sick Boy (Jonny Lee Miller), Tommy (Kevin McKidd), Begbie (Robert Carlyle), e Diane (Kelly Macdonald), em especial do primeiro, que é o contador da história principal. A rotina destes é a de habitar o mesmo local sempre, usando todo tipo de entorpecente, vivendo seus dias de maneira insalubre, sufocando seus dias e sonhos com a maior quantidade de heroína possível.

    O aspecto empalecido dos personagens faz com que pareçam os mortos vivos de George A. Romero, e o visual ajuda a compor a aura de pena e lástima pelo que vivem. Ainda assim, tanto o roteiro de John Hodge – por sua vez baseado no romance de Irvine Welsh – quanto a direção de Boyle se cuidam para não soar exacerbadamente moralista ou algo que o valha, ao contrário, o que se assiste é a deterioração da vida sem cortes, sem rodeios e sem medo de pôr o dedo na ferida.

    A dicotomia se mostra por exemplo na comparação do cartaz do filme, onde os personagens são exibidos eufóricos e cheios de vida, em comparação com um dos momentos mais acachapantes e desconfortáveis do longa, que se passa por volta dos quarenta minutos, quando ocorre um óbito inesperado por eles entre eles, que deixou em seus corações mentes uma marca indelével e duradoura.

    A miséria existencial, o vazio e sensação de não viver mesmo falam muito mais alto que qualquer discurso autoritário, e de certa forma, a vivência de Rent e dos outros é mais uma mostra do quão equivocada é a política anti-drogas adotada na Europa e no restante do mundo, uma vez que a caça as bruxas instaurada a partir do período que rondava a Guerra Fria só ajudava a marginalizar e isolar os adictos, ao invés inclui-los no ambiente social dito saudável.

    Trainspotting dialoga muito com Kids, primeiro filme de Larry Clark, que foi lançado um ano antes, cujo diretor se dedicaria seu cinema a falar de delinquência juvenil e termos semelhantes. A narração de Rent não expõe mais do que deveria, ao contrário, complementa as ações mostradas em tela, e ajudam a formar o background dos personagens, bem como todo o entorno. O filme de Danny Boyle não busca traçar soluções fáceis para as questões propostas, ao contrario, sua função é elucubrar sobre uma fração da sociedade, tentando julgá-la o menos possível, servindo quase como um produto documental.

  • Crítica | T2 Trainspotting

    Crítica | T2 Trainspotting

    Mais de vinte anos depois, Mark “Rent” Renton (Ewan McGregor), Simon “Sick Boy” Williamson (Johnny Lee Miller), Frank “Franco” Begbie (Robert Carlyle) e Daniel “Spud” Murphy (Ewen Bremner) retornam suas vidas e dramas em T2 – Trainspotting, continuação direta do filme Trainspotting: Sem Limites, de Danny Boyle, que retorna também à direção da continuação. Já em seu início, o diretor resgata seu estilo despojado de misturar cinema com uma estética de videoclipes, mostrando o personagem central anterior, Rent, tentando viver seus dias normalmente, sem os fantasmas que antes o cercavam, até que um baque acontece e o mesmo decide voltar a cidade da sua infância.

    Ao chegar em seu destino, Mark tem alguns confrontos, e vê cada um de seus antigos comparsas em uma situação-limite diferente. Cada um, a sua maneira, mantem o vício como pode, mostrando que todos ali permanecem usuários, ainda que não seja necessariamente da heroína que co-protagonizava o filme anterior. A nostalgia entra em contraponto com a mudança de alcunha de cada um deles, saindo assim os antigos apelidos para saltar aos olhos do espectador a identidade civil de cada um, com nome, sobrenome e novas ocupações para eles.

    Nenhum dos personagens investigados conseguiu um futuro minimamente decente, e cada um guardou um dos pecados anteriores como fardo na atualidade. A geração junkie dos anos noventa não conseguiu superar seus próprios problemas e vícios, substituindo um evento terrível por outro, tendo o insucesso como fator propulsor na vida de cada um deles.

    Ao contrário do que é comum em filmes de drama, em T2 Trainspotting cada um dos intérpretes, seja eles coadjuvantes ou não, tem seus momentos dentro da sequência, seja na dúvida crucial que McGregor reproduz, após sua personagem tentar uma vida normal; seja Miller com sua tentativa nada corretar de fazer negócios marginais com sua amante, a bela Veronika (Anjela Nedyalkova); como também na performance raivosa de Carlyle, que mesmo com o passar dos anos, não teve grandes mudança no comportamento de Franco. Mas a surpresa positiva certamente é a de Bremmer, que se dedica a trabalhar fundo a personalidade suicida de sua personagem, que assim como o ator, também tem uma subida de significado imensa, sendo a sua trajetória a mais metalinguística até então.

    O circulo vicioso onde estão inseridos Mark, Simon, Franco e Danny é trágico e as cenas repetidas do primeiro filme reforçam a ideia de que o destino dos rapazes/homens é inexorável, não importando as circunstâncias que os cercam, bem como as pessoas que os acompanham ou acompanharam. A felicidade definitivamente não existe, não há redenção possível ou qualquer possibilidade de desfecho, sequer agridoce, quanto mais positivo. As almas carentes do quarteto têm a necessidade de reaproximar o espírito dos antigos amigos, mesmo que os laços de intimidades deles estejam longe de serem os mesmos, tanto pelo hiato que a relação sofreu, quanto pelo amargor causado pela atitude final de Renton em Trainspotting. Os momentos finais de T2 Trainspotting misturam o frenesi típico dos picos de heroína que habitaram a vida dos quatro, com a adrenalina típica da vida comum, mostrando que a existência deles se resume na interseção entre esses dois universos distintos.

  • Crítica | Steve Jobs

    Crítica | Steve Jobs

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    1. “Vão te frustar quando tentar o seu melhor,
    2. Vão te frustar exatamente como disseram que iriam.
    3. Vão te frustar quando tentar ir pra casa,
    4. Vão te frustar quanto estiver na solidão…” 

    Versos de Rainy Day Women, de Bob Dylan (Blonde on Blonde).

    Danny Boyle adora gente desconectada. Curte jogar o peixe fora d’água e filmar o que acontece, na esteira do que o (um dos) fundador(es) da Apple acreditava ser: “Criatividade é conectar as coisas“. Seja numa Londres de zumbis ou numa índia de underdogs, a pegada de Boyle é primeiro entender o estranho, e depois, o ninho. O maior nome da tecnologia nos anos 2000 construiu seu próprio habitat, e foi demitido de sua própria empresa por ser indomável, nas palavras do próprio comitê da companhia. O cara era inflexível, consigo e com todos em sua coleira de disciplina e utopia graças a necessidade individual de mudar o contato entre as pessoas, mas Jobs não devia se olhar no espelho como ser humano (“Tô cercado de idiotas!”), e tampouco Boyle deve ter seus amiguinhos pra conversar, de igual pra igual. Daí fica fácil perceber como as intenções se casam em mais um filme hiper-cerebral sobre um ícone que não merecia ser reduzido a suas capacidades penianas, no caso de um ator pornô. Steve Jobs não vem do entender os pilares do mundo moderno, e sim incorpora as necessidades existenciais de um cara que não se sente parte deste mundo, e mesmo assim precisa aprimorá-lo já!

    Notável é o equilíbrio entre o pessoal, como a treta do gênio com sua filha, e o trabalho onde o gênio sai da lâmpada e faz acontecer, ao custo de perder o amigo, mas a piada, jamais… O filme é leve, ganhando nossa simpatia por esculpir uma selva complexa de forma tranquila e mastigada, tal o superior Margin Call faz com o mercado financeiro. Cosmos intrincados e decifrados numa tela de Cinema; distantes, ainda que avistados por uma lente de aumento onde tudo é de fato mais bonito, só que na ótica de Aaron Sorkin, conhecido por escrever diálogos destruidores no estilo pingue-pongue, a fórmula de mostrar uma personalidade cheia de camadas e mistério funciona no paralelo com a Apple, fundação egocêntrica feito criança que não quer dividir seus brinquedos, mas já começa a cansar, sem aquele frescor de A Rede Social e outros ensejos – aliás, o próprio Sorkin se trai aqui em vários momentos, percebendo que, quando a lógica de suas histórias começa a cansar, pula do exagero para a licença poética como no confronto de ideologias versus emoções, entre Jobs e sua assistente (Kate Winslet, melhor atuação do filme), num corredor abaixo de uma plateia louca por outra de suas épicas palestras.

    A figura de Jobs e o interesse que surge dela jamais o sugere ser um computador humano, Steve Hardware, mas vem do que fala, uma dialética que nutre o comportamento de quem vive ao redor de um assumido workaholic, a partir de uma atuação cirurgicamente precisa de Michael Fassbender, ironicamente fora das mãos de seu mentor, Steve McQueen (12 Anos de Escravidão). Na pele do ator, o homem e o gênio sente seu Q.I. em cada batimento daquilo que parece não bater em seu peito humanoide – é nos diálogos que Fassbender nos remete ao Zuckerberg de Jesse Eisenberg, em 2010, na forma seca, introvertida e objetiva que encaram as pessoas como conquistas, e não semelhantes. Um gênio sabe que é um gênio, mas talvez genialidade ande de mãos dadas com a humildade de não admiti-la. Bill Gates, Bob Dylan e Da Vinci não nos atraem pelos seus triunfos, mas pela coragem para erguê-los, no caso, o elixir da megalomania em suas veias. “Estamos aqui para fazer a diferença no universo, se não, porque estamos aqui?”, alegava Jobs. Como diria Carl Sagan: Humildade.

    Como diria a Globo: A gente vê por aqui. Um filme que sabe muito o que é, e ainda melhor: O que não pode ser. Boyle consegue nos passar o efeito unidimensional da história (pro bem e pro mal) combinando com o sentimento que temos diante de um potente notebook. Steve Jobs é isso, uma ferramenta para conhecermos os componentes de uma vida de lutas e batalhas em busca de um futuro visado por um homem que, feito Boyle e Sorkin, cineasta e escritor, sabia quem era e o que precisava fazer para chegar lá. São as decorrências do caminho até o “lá”, o El Dorado de Jobs (o reconhecimento (a duras penas) do público) que o filme aborda, e nos conduz de boa adentro dos corredores da Apple, apostando senão no carisma visionário do gênio de calça jeans para impedir o filme de ser frio tal suas invenções. O filme aposta mesmo é no caráter benéfico da tecnologia, como essa pode mudar o mundo, e acerta em cheio nisso, na abordagem direta em honrar a simetria do passado que traçou o amanhã, hoje vivido por todos nós.

    Fato é, positivo ou negativo, que a biografia moderna no molde americano já foi definida pelos méritos de A Rede Social, filme fruto de quem é visionário (David Fincher) e não de quem pensa ser (Boyle), o que não é mero detalhe, ok? Steve Jobs não será referência no futuro, mas o criador do iPad merecia um bom filme em torno do que seu nome representa, sugere e fez crescer, cultivando uma era de tecnologia e tal, mas não em torno de sua ambição. Falta a ousadia do cara no filme homônimo de sua vida, os próprios funcionários que trabalharam diretamente com ele eram intimidados pelo Corleone da Apple a cada dia. Talvez é o que faltou, aqui: Um verdadeiro gênio, exigindo o máximo de todos neste bom filme, previsivelmente certinho e correto até mesmo na edição, mas é claro, celebremente aquém das várias frases inspiradoras do crânio.

  • Crítica | Extermínio

    Crítica | Extermínio

    28 days

    Danny Boyle  em 2002 lançava 28 Days Later, sua interpretação do que seria um mundo pós-apocalíptico. O filme encaixa-se nos gêneros de Ação e Terror e é muitas vezes excluído das listas de filmes de zumbis – e  essa é uma polêmica que nem vale a pena ser discutida, apesar de nele conter uma série de semelhanças com filmes de sobrevivência aos mortos: isolamento, medo de infecção, perseguição, mundo contaminado, ausência de meios de comunicação e condições de vida extremas. A diferença mais gritante entre as criaturas (Zumbis x Infectados) é que em Extermínio os seres não tem corpos putrefatos.

    Logo nos primeiros minutos é mostrado o motivo da contaminação. O espectador acompanha o personagem Jim, interpretado por Cillian Murphy, que sai de um hospital e percebe-se só, até encontrar alguns opositores, que obviamente querem sua vida. Ele é resgatado por um pequeno grupo de sobreviventes. Aos poucos mais pessoas vão se achegando.

    No topo de um prédio, uma dupla de sobreviventes é mostrada tentando captar água da chuva, distribuindo baldes e recipientes plásticos pelo terraço – estratégia interessante e quase exitosa, não fosse à falta de chuva que acometia Londres.

    A edição do filme é frenética, quase todas as execuções são em alta velocidade até porque os infectados são muito velozes, isso faz com que os combates fiquem engraçados em determinados momentos. Nos outros filmes de zumbi existe um motivo crível para ainda haver alguma resistência por parte dos humanos, pois mesmo que os infectados estejam em um número esmagadoramente maior, os mortos ainda sim são estúpidos, e em Extermínio não é o caso, pois as criaturas são ágeis e muito fortes, seria impossível resistir a eles sem armas, e na maioria das situações os personagens estão de mãos nuas.

    As cenas de ação poderiam ser amedrontadoras, mas sempre há um evento externo para quebrar o clima de suspense. Talvez a ideia que Boyle tentou passar seja que tal calamidade causaria sérias mudanças na humanidade e no mundo, o modo de vida conhecido até então entraria em colapso.

    A evolução dos personagens também deixa a desejar. Jim torna-se um assassino a sangue frio calculista e super poderoso de um instante para o outro, ao ponto de aniquilar um grupo inteiro de soldados treinados, desarmado na maior parte do tempo. Naomie Harris atua de forma sofrível, seu personagem é sem profundidade e sua execução é muito fraca. Ponto positivo são as participações de Brendan Gleeson e Megan Burns como dois sobreviventes que ajudam os protagonistas e do major West, um vilão reticente, bem personificado por Christopher Eccleston.

    A mensagem final do filme é esperançosa, mas não muita, e não fica clara se a contaminação aconteceu em escala global ou somente no Reino-Unido. Extermínio é um exercício de um diretor iniciante, muito aquém de seus trabalhos vindouros.

  • Agenda Cultural 53 | Angeli, Demolidor e Guerra Mundial Z

    Agenda Cultural 53 | Angeli, Demolidor e Guerra Mundial Z

    agenda53

    Bem vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Isa Sinay (@isasinay), Jackson Good (@jacksgood), Filipe Pereira e Bruno Costa (@zumbirosca), dos blogs/podcasts Os Cinefilos e  Cruzador Fantasma, além da participação pontual de Mario Abbade (@fanaticc) em nosso bloco de cinema, se reúnem para comentar sobre o que rolou no circuito cultural das últimas semanas.

    Duração: 108 min.
    Edição: Rafael Moreira e Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Comentados na Edição

    Quadrinhos

    Resenha Toda Rê Bordosa – Angeli (compre aqui)
    Resenha O Lixo da História – Angeli (compre aqui)
    Resenha Demolidor 1 – Mark Waid (compre aqui)
    Actions Comics – Novos 52 – Grant Morrison

    Literatura

    Roberto Bolãnos – Chamadas Telefônicas (compre aqui)

    Cinema

    Crítica Em Transe
    Crítica Um Golpe Perfeito
    Crítica Elena
    Crítica O Grande Gatsby
    Crítica Guerra Mundial Z
    Crítica Antes da Meia-Noite
    Crítica O Lugar Onde Tudo Termina
    Crítica O Cavaleiro Solitário

  • Crítica | Em Transe

    Crítica | Em Transe

    Em Transe

    A narração de Simon – personagem de James McAvoy – conta como eram os assaltos a obras de arte no decorrer dos tempos. O recurso introduz satisfatoriamente o público no filme de assalto a seguir, no gênero, é comum ver uma estilização munida de uma aura cool e moderna, e Danny Boyle consegue passar isso muito bem, melhor do que a maioria de exemplares recentes.

    A princípio, Em Transe é um filme de roubo, que acompanha o bando que surrupiou uma obra de arte de valor pornograficamente alto, e as agruras do plano que falhou. O erro acontece por meio de um dos membros, que havia perdido o quadro e para lembrar-se onde o “deixou”, lança mão de um tratamento terapêutico a base de hipnotismo.

    A forma como são sugeridas as repressões psicológicas são bastante críveis e verossímeis, sem apelar para o lugar comum. O inconsciente é mostrado de forma pouco mística – sem clichês como ambiente esfumaçado e cheio de neblina, ou apelações nonsense gratuitas.

    No decorrer da trama, a hipnóloga Elizabeth – Rosario Dawson, irretocável em múltiplos sentidos – decide entrar no “esquema”. Os motivos que a levam a entrar na situação são obscuros, e talvez, este seja o maior motivo de desconfiança, tanto dos personagens, quanto para quem acompanha do lado de fora da tela. É bom frisar, suas cenas de nu frontal são absurdamente bem registradas!

    A ambiguidade do filme passa por muitos estágios, e é muito devido à ótima atuação de James McAvoy, pois Simon transita entre a realidade e a sua inserção no inconsciente. Isso só se dá em virtude do talento de seu intérprete. Ainda assim em alguns momentos, o observador pouco desatento pode acompanhar através dos signos e sinais quando Simon está hipnotizado ou acordado. O roteiro flerta de forma interessante com anomalias mentais, como transferência, paranoia, megalomania, auto-isolamento e suscetibilidade de mente.

    Os repentes da música de Rick Smith ajudam a tirar o fôlego do espectador, o que não aconteceria certamente sem a perícia de seu diretor. Boyle filma esplendorosamente, sua lente e edição cooperam demais com a narrativa que permite uma inserção perfeita e sem interferência externa, é como mergulhar nas tranquilas águas de uma piscina, e sentir o líquido sufocando o sistema respiratório e, subitamente, conseguir ar para respirar. Os closes, os planos abertos e as viagens que a câmera faz pelos interiores dos cenários são realizados com um esmero magnífico, e o resultado final é deslumbrante, nada é filmado sem um significado ou por acaso.

    O último ato reserva surpresas ótimas, e expõe uma verdade patética e até deprimente para um dos protagonistas. Possibilita ao espectador escolher o lado que quiser. Seus personagens são tridimensionais e sem compromissos com uma moralidade boba. As cenas de ação são implacáveis, cruéis e até violentas. É um thriller dos mais bem feitos e é uma das obras mais bem executadas de Danny Boyle.

  • Crítica | Sunshine: Alerta Solar

    Crítica | Sunshine: Alerta Solar

    sunshine

    Sunshine – Alerta Solar é uma ficção científica de 2007, dirigido por Danny Boyle (dos excelentes Extermínio e Cova Rasa). Já tinha ouvido falar bem do filme, e por ser fã do gênero sci-fi, resolvi conferir.

    Na trama, a Terra do futuro corre o risco de ter toda a vida extinta, pois o sol está para desaparecer. A última esperança é a nave espacial Icarus II e sua tripulação de 8 pessoas (Michelle Yeoh, Cillian Murphy, Chris Evans, Rose Byrne, Cliff Curtis, Troy Garity, Hiroyuki Sanada e Benedict Wong), que transporta uma bomba atômica do tamanho da ilha de Manhattan, que teoricamente alimentará uma nova vida dentro do Sol. Porém, durante a viagem e sem contato com a Terra, eles descobrem o sinal de S.O.S. da Icarus I, a nave enviada 7 anos antes com o mesmo objetivo e cuja causa do fracasso é desconhecida. A tripulação fica dividida entre alterar a trajetória da missão, de forma a obter a bomba existente na Icarus I, o que traria à missão mais uma chance de sucesso, ou seguir o plano original. A decisão recai sobre Capa (Murphy), o físico da tripulação, que decide ir à outra nave. Porém a mudança de trajetória causa avarias à Icarus II, iniciando uma série de problemas enfrentados na reta final da missão.

    A princípio, o filme começa bem, falando sem explicar muito que, num futuro mais ou menos distante, o sol brilha menos, a terra é um lugar congelado, e uma segunda missão (já que a primeira sumiu sem deixar rastro) foi enviada para tentar detonar uma mega-bomba atômica no sol na tentativa de fazê-lo voltar a brilhar.

    As explicações sutis de como a nave funciona, as razões pelas quais estão ali, algumas neuras de personagens a tanto tempo isolados no espaço são bem encaixadas, e a falta de explicações tão comuns no gênero não incomoda, por realmente não importar, naquele momento, as razões pelas quais o sol está acabando. O problema é que, a partir do 2º ato, a história passa de uma ficção científica bem construída para um terror-espacial ao estilo Alien um pouco pobre, com alguns toques de 2001 – Uma Odisséia no Espaço.

    Está tudo lá. A nave antiga abandonada sem razão aparente, a tensão gerada pelo silêncio, a Inteligência Artificial que é desligada, o ocupante misterioso que caça cada um dos tripulantes e tudo mais. Porém, no meio de todos os fatores conhecidos, o espectador ainda consegue se perder em meio a tantos acontecimentos. A escolha do uso expressivo da cor amarela em tantas cenas (para demonstrar a força e potência do sol) é boa e causa um impacto interessante, mas prejudica a narrativa pois nos impede, também pelo trabalho precário de câmera, de entendermos realmente o que está acontecendo. O filme também peca ao abordar diálogos grandiosos sobre Deus e o Homem, e a tentativa de negarmos o nosso destino, de uma forma um pouco infantil e clichê, em um “deus ex machina” que não traz muita coisa de novo a quem conhece bem o gênero.

    Apesar de toda a virtuosidade técnica e do excelente início, o que marca o filme é o seu final, deixando no espectador essa marca, fazendo-o esquecer um pouco dos conflitos e motivações de cada personagem, deixando o drama de lado e favorecendo mais as cenas de ação e tensão, que também poderiam ter sido melhor construídas se respeitassem a premissa inicial.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.