Filme de Lorene Scafaria, A Intrometida narra a história de Marnie Minervini (Susan Sarandon), uma mãe que está perto da terceira idade e acaba de ficar viúva. Tentando compensar a falta do companheiro, a personagem começa a agir de maneira bastante inconveniente com sua filha, Lore (Rose Byrne), forçando uma intimidade com ela de maneiras criativas e gratuitas.
O desafio de Marnie é conviver com a solidão recém adquirida, e viver seus dias sem se lamentar, para isso sua postura positiva cai muito bem, mas não preenche por completo o vazio que fica por não ter mais os membros de sua família por perto. O paliativo que ela encontra é o de tentar ser uma figura mentora para pessoas comuns, genéricas, as mesmas que estão perto de suas rodas sociais. Quando finalmente entende que aquilo não é o suficiente, decide viajar para Los Angeles, atrás de sua filha.
Esse estado itinerante que ocorre com ela também não a satisfaz, evidenciando a intenção do filme em demonstrar que a busca pela felicidade não necessariamente está em algum outro lugar misterioso, e sim dentro do ideário do sujeito. A questão aqui é que esse desenrolar ocorre de maneira bastante repetitiva e com poucos momentos realmente engraçados.
O quadro melhora um pouco próximo ao final, quando finalmente se assiste uma interação maior entre mãe e filha, mas a sensação de rodar em círculos viciosos não se desprende do imaginário do espectador, que contempla uma trajetória que poderia ser cara e terna, mas que em última análise, aparenta apenas enfado e reincidência dos poucos bons momentos do filme, piorando a situação ao se levar em conta que até esses períodos não são muito inspirados.
Sororidade é um conceito do feminismo sobre mulheres tratando-se como irmãs. É a aliança entre mulheres, buscando companheirismo e apoio. É também um paralelo com as tais fraternidades, as repúblicas americanas tradicionais e formadas por meninos. A definição de fraternidade nos EUA é bastante poderosa, chegando a ser forte influenciadora na vida acadêmica e profissional dos seus moradores. Suas festas também são conhecidas por trotes violentos e situações de abuso.
É irônico iniciar a análise de um filme escrito e protagonizado por Seth Rogen com uma nota informativa, mas Vizinhos 2 (leia nossa crítica sobre Vizinhos) é uma comédia tipicamente maconheira e incorreta que tem muito a informar.
Próximo de ganhar seu segundo filho, o casal Mac (Seth Rogen) e Kelly Radner (Rose Byrne) precisa enfrentar novamente um grupo de adolescentes na vizinhança, e colocar-se novamente como os velhos responsáveis, especialistas em evitar que adolescentes se divirtam, mesmo que a contragosto. Desta vez, uma república feminina. Uma sororidade, liderada por Shelby (Chloë Grace Moretz), disposta a provar e livrar-se das amarras de suas vidas anteriores, em que era sempre e sempre incentivada a ter como membros moças comportadas. Diante do desafio, convoca Teddy (Zac Efron), que está da mesma forma como foi deixado no filme anterior, de futuro incerto, visto como velho do alto dos seus 25 anos e angustiado por ver-se incapaz de progredir na vida.
A passagem da adolescência para a vida adulta tem fronteiras que são difíceis de mapear, ainda mais para a geração Y, que tem a oportunidade de alargar todo tipo de fronteira tradicional. Com a falta de um rito de passagem pré-estabelecido, é possível ver uma grande parcela dos jovens perdidos sobre seu lugar no mundo. O casamento e paternidade/maternidade não são mais rituais tão significativos ou tão cheios de certezas.
Com um humor ainda baseado em maconha, intestino solto e consolos gigantes, o filme continua tão afiado quanto seu anterior, sofrendo, porém, com a falta do excelente Dave Franco para adicionar sua ingenuidade caótica (tal qual seu irmão) ao delivery de piadas feito pelo elenco. Às vezes o resultado é um pouco mais histriônico do que deveria, além de não contar com piadas do nível da “Festa à fantasia dos De Niros” do primeiro filme, suficiente para fazer alguém rir por até três dias. Ainda assim, o resultado é prioritariamente positivo e bastante engraçado.
Sempre atento aos temas que busca, o filme demonstra ser eficiente ao elencar os temores adolescentes e adultos, inclusive do mundo feminino, tirando o ar de clube do bolinha dos filmes de Seth Rogen, Nicholas Stoller e companhia, e abrindo espaço para as meninas se exporem como força humorística. Vem delas as mesmas piadas de intestino solto e maconha, além da reflexão sobre a necessidade que todos temos de demonstrar que não precisamos de babás ou tutores. Ao final, valem como experiência os tropeços da vida.
A quarta empreitada de Bryan Singer na franquia dos mutantes da Marvel inicia-se um pouco atrapalhada, com a introdução ao personagem de En Sabah Nur, o primeiro mutante conhecido, que vivia no Egito como um deus, acompanhado de seus quatro cavaleiros, referência ao livro bíblico das revelações (Apocalipse). A sequência ocorrida no império egípcio, além de fraca, parece ter sido retirada das cenas adicionais de Deuses do Egito, mas logo recobra a sobriedade da franquia, quando remete a uma citação à abertura de X-Men: O Filme, também dirigido por Singer.
X-Men: Apocalipse segue o rastro do início do reboot em X-Men Primeira Classe, retornando às origens da franquia, praticamente levando em conta somente os filmes que Singer fez parte do controle criativo, ainda que reinventando muito dos momentos clássicos. Já no início é mostrada uma luta na jaula, em muito semelhante à introdução do Wolverine, de Hugh Jackman no filme de 2000. Outro aspecto repetido é a importância do aprendizado, dessa vez usando Scott Summers, de Tye Sheridan, como a Vampira da vez, servindo ao arquétipo de orelha ao espectador como elemento novo desse universo já estabelecido.
Como já havia ocorrido em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, há uma exploração interessante para a discussão da discriminação, nesse caso utilizando o homo superior, ainda que a gravidade do conteúdo das discussões seja um pouco mais fraca. Os dois avatares principais dessa questão são a nova Ororo Munroe (Alexandra Shipp), uma ladra africana que está aprendendo a usar seus breves e pequenos poderes, se esgueirando pelos becos, e a tímida Jean Grey (Sophie Turner), que é vista com maus olhos até por seus colegas, graças às manifestações estranhas de seus poderes magnânimos – aspecto já demarcado em X-Men 2 e mal aproveitado no filme de Brett Rattner – e claro, pela atenção que ela recebia do Professor X (James McAvoy), que serve de mentor a ela e a muitos.
Apesar de consumir um bom tempo com este novo elenco, fazendo funcionar muito bem a transição – que neste caso faz lembrar bastante o espírito de Star Wars: Despertar da Força –, o mesmo não se pode dizer dos membros antigos. Tanto a Mística de Jennifer Lawrence quanto o Magneto de Michael Fassbender se envolvem em tramas desnecessárias, com uma piora no caso da personagem feminina, que se torna uma figura digna de inspiração mas que não consegue sustentar esse ideal de lenda viva, mesmo que tal situação gere um argumento de dicotomia, desconstruindo a figura do herói idealizado.
Nesse ínterim, é até esperado que um vilão que não tem qualquer carisma consiga dominar corações e mentes. A versão ressuscitada de En Sabah Nur (ou Apocalipse) ocorre após uma coincidência incômoda, quando faz despertar o personagem de Oscar Isaac em uma situação boba e que poderia ter ocorrida em qualquer momento da história, bastando somente que o artefato mágico recebesse luz solar, como aconteceu com a invasão de Moira MacTaggert (Rose Byrne).
Dentre os elementos irritantes da trama rivalizam a inteligência limitada de MacTaggert, que tanto nos quadrinhos quanto nos filmes anteriores havia se mostrado uma pessoa hábil e inteligente, enquanto neste revela apenas uma moça com bons contatos. Além disso, claro, o overacting terrível que Isaac desempenha, com direito a distorção de voz comparável aos efeitos usados por programas de entrevistas famosos a fim de esconder a identidade do interrogado. Apocalipse falha como figura de ódio e temor, especialmente quando recruta seus asseclas e exceto no trato com Magneto, convencendo-o não por força, mas por ideologia, se aproveitando da fragilidade de sua alma com a perda recente de sua nova tentativa de vivência normativa.
Ao menos no quesito ação, Bryan Singer está afiado. A cena de aparição de Wolverine é interessante e ajuda a explicar o elo deste com Jean e Ciclope. A violência da curta cena arrebata o público, e não tem qualquer pudor em mostrar sangue, adrenalina e a fúria assassina do personagem selvagem, ainda que seja moderada, quase como uma reprise de X-Men 2.
Apesar de ser um filme de equipe, a jornada heroica certamente é mais focada em Xavier, em uma superação do patamar de herói clássico, que também ajuda a construir a figura de orientador e mestre. Na mesma medida em que Lawrence e Fassbender não são exigidos pelo roteiro, o desempenho de McAvoy consegue sobressaltar, inclusive, a falta de inspiração costumeira de Nicholas Hoult como Fera, servindo como peça fundamental não só da obsessão do vilão – aliás, único aspecto justificável em seu grandiloquente plano master – como também da relação com os alunos, em especial com a jovem Jean.
X-Men: Apocalipse é a prova cabal de que a proximidade entre lançamentos de filmes semelhantes pode denegrir o produto, em especial para o público geral, que pode, ao final da sessão, entrar em outra sala para assistir a Capitão America: Guerra Civil, mesmo que seu tema não tenha tanto a ver com o de seus concorrente. Os retcons e mudanças na concepção soam mais irritantes que no filme anterior dos mutantes, e mesmo a versão de Singer para o mito da Fênix é tímida e explorada fracamente, possivelmente sendo guardada para o futuro.
A pieguice toma a construção da conclusão, sendo o desfecho mais fraco da cine-série, mas que não denigre a parte escapista e descompromissada do drama. Com momentos de ação de tirar o fôlego e apuro bem competente nos efeitos especiais, também possui uma quantidade exorbitante de fan service, que, ao menos, são entregues em momentos cabíveis, compondo um filme óbvio, mas não decepcionante.
De nome traduzido bobamente, A Espiã que Sabia de Menos – do original Spy (Espião) – subverte o nome brasileiro da recente adaptação do livro de John Le Carré, ainda que sua base de paródia seja mais próxima aos filmes de espiões britânicos, como 007. Paul Feig retoma a parceria de sucesso com Melissa McCarthy, vista em Missão Madrinhas de Casamento e As Bem Armadas, ainda que toda a qualidade desta empreitada seja discutível.
A primeira cena é tão atrapalhada quanto a premissa do filme, mostrando uma sequência entregue já no trailer, com um Jude Law usando uma peruca fajuta e fazendo trapalhadas gerais enquanto agente. O personagem Bradley Fine, apesar deste momento em particular, é um exímio espião apoiado por Susan Cooper (McCarthy), sua parceira e auxiliar. A dupla funciona apesar de muitos percalços. Apesar de estimar a parceira, Fine (Law) não consegue deixar de subestimar sua conviva graças a seu avantajo físico, algo que faz agravar os problemas com auto estima da moça, o perfeito arquétipo de gordinha mal de vida, um estereótipo relegado a todo momento para a atriz, recurso cada vez mais irritante enquanto gag de humor.
O espectro de girl power aumenta através da opositora Rayna Boyanov (Rose Byrne) que passa por cima de qualquer inexperiência feminina em sequências de ação, mostrando que nem a CIA ou os agentes ingleses lhe são páreos, aumentando o escopo de propaganda feminina ao percebermos que o responsável ideal para a missão de revanche seria uma mulher, recaindo a missão sobre a invisível gordinha.
Ainda que o disfarce inicial de Cooper seja apenas de observar e relatar os fatos – repetindo as mesmas brincadeiras do seriado Mike And Molly –seu trabalho é cortado pela ação de Rick Ford (Jason Statham), um espião mais experiente, que também deseja desmantelar o clã de terroristas e que começa a agir de modo isolado.
Feig continua escatológico, fazendo sua protagonista ter cenas equivalentes a sequência do cocô na pia em Missão Madrinhas de Casamento, também executada por McCarthy. Ao menos, o protagonismo não foge das figuras femininas do elenco, ainda que a miscelânea de sequências toscas aumente com o acréscimo de cada vez mais figuras grotescas. As cenas em que se exige uma maior perícia em ação são bem construídas com corridas, manobras, golpes e parkour bem executados, ainda que seja perceptível os momentos em que os dublês entram em cena, com closes intrusivos nesses profissionais.
Mesmo com os esforços, o diretor prossegue reprisando os mesmos erros de seus filmes anteriores, somente mudando o cenário e melhorando sutilmente o nível das piadas propostas no roteiro. Há que se notar uma evolução em cenas de aventura, as quais a suspensão de descrença não é tão exigida quanto em As Bem Armadas, mas ainda assim, A Espiã que Sabia de Menos não consegue fugir da mediocridade habitual das caras paródias hollywoodianas. Sendo, no máximo, um divertido filme caso o público se permita não ligar para os graves defeitos de concepção da obra.
A complicada relação entre vizinhos já rendeu vários filmes ao longo da história do cinema. Desde filmes de suspense, passando por dramas bastante pesados e algumas comédias rasgadas, como o caso de Meus Vizinhos São um Terror, dirigido por Joe Dante e estrelado pelo grande Tom Hanks. Se formos puxar na memória, chega a impressionar a quantidade de filmes que tem como pano de fundo essa relação cotidiana que caminha na tênue linha do amor e do ódio.
Dirigido por Nicholas Stoller, diretor de Ressaca de Amor e O Pior Trabalho do Mundo, este Vizinhos é uma divertida comédia sobre um casal (Seth Rogen e Rose Byrne) que vive em uma pacata vizinhança com sua filhinha de poucos meses de vida. Os dois vivem uma vida sem grandes emoções, até que tudo é virado de cabeça para baixo quando a fraternidade Delta Psi Beta, lendária por suas festas de arromba e liderada pelos alucinados Teddy (Zac Efron) e Pete (Dave Franco, o irmão mais novo de James Franco), muda-se para a casa ao lado.
O filme tem um ritmo e uma dinâmica muito interessantes. Em vez de simplesmente odiarem os novos vizinhos logo de início, os personagens de Rogen e Byrne tentam inicialmente conquistar a simpatia dos membros da fraternidade com o intuito de tentar controlá-los. Essa tentativa rende um momento engraçadíssimo com os dois tentando pateticamente parecer mais jovens. Tal situação fica mais absurda quando os dois resolvem comparecer à festa inaugural da fraternidade. Seth Rogen e Zac Efron protagonizam uma discussão surreal sobre quem é o melhor Batman de todos os tempos enquanto Rose Byrne tenta se enturmar com as meninas que lá estão.
O diretor Stoller dirigiu e escreveu somente comédias em sua carreira. Por isso consegue filmar com bastante competência essa película. As gags nunca parecem gratuitas e o filme ganha em comicidade à medida que a disputa entre os vizinhos se intensifica. As artimanhas usadas pelo casal e pela fraternidade são hilárias, ainda que em alguns momentos rendam momentos absurdos. Méritos também para os roteiristas Andrew J. Cohen e Brendan O’Brien, que conferiram profundidade aos personagens principais e povoaram a tela com coadjuvantes engraçados que acrescentam bastante ao filme, em vez de simplesmente desfilarem em cena.
Seth Rogen está habitualmente engraçado, ainda que interprete um personagem bem semelhante aos anteriores de sua carreira. A australiana Rose Byrne também está muito bem e os dois formam um casal de boa química. Incrivelmente, o maior destaque do filme é Zac Efron. O galã-dançarino que apareceu para o grande público em High School Musical mostra que tem bastante talento e protagoniza algumas das melhores piadas do filme. Além disso, entrega uma interpretação alucinada para um personagem que chega a beirar o sadismo em alguns momentos e forma uma excelente dobradinha com Dave Franco, que também está ótimo em cena. O “bromance” dos dois é muito engraçado. Os coadjuvantes Carla Gallo e Ike Barinholtz estão ótimos, especialmente o último. Seu personagem, Jimmy, protagoniza alguns momentos de pura insanidade. A breve participação de Lisa Kudrow como reitora da universidade também é hilariante.
Ainda que peque por apresentar um final de certa forma redentor, indo de encontro ao tom anárquico da fita, Vizinhos é diversão de primeira qualidade, que não apela para a escatologia e rende boas risadas.
O cinema de Terror sofre de um mal enorme, praticamente desde que foi inventado – vide os filmes de monstros da Universal – quando um filme é sucesso de público e/ou de crítica, praticamente exige-se que se torne uma franquia. O resultado quase sempre é aquém do esperado e a fórmula é cada vez mais desgastada, mas alguns poucos espécimes sobrevivem a este estigma, e o capítulo segundo de Sobrenatural é um bom exemplo.
Mais uma vez capitaneado pelo excelente realizador malásio James Wan, a fita repete o que deu certo no original: câmera passeando por lugares ermos e escuros, casas produzindo sons de ranger por quase todos os cômodos, sustos mil com figuras vestidas a caráter, origem do mal ligada a um mundo paralelo, mas se permite modificar o foco. É natural que em uma sequência de um horror movie mude-se um pouco da fórmula apresentada no primeiro, mas o êxito quase nunca é alcançado, visto que o roteiro dessas produções é quase sempre muito fraco. O efeito surpresa já foi perdido com o episódio original e é necessário mexer na fórmula. O mérito por não ter ocorrido com Insidious 2 um desastre comum aos seus primos pobres, é manutenção da boa equipe criativa, especialmente do roteirista Leigh Whannell, que já havia trabalhado com Wan em Gritos Mortais, Jogos Mortais, Sentença de Morte e Doggie Heaven. O roteiro apresenta pouquíssimas falhas, e justifica cada uma das pirotecnias visuais do diretor.
A ousadia em trocar a abordagem da figura amedrontadora foi uma das melhores escolhas de Wan e Whannell, pois reprisar os clichês do primeiro seria um suicídio para a obra, e repetiria o erro de franquias das quais os dois já participaram, vide a bagunça que se tornou Saw. Mais surpreendente é a competência com que ambos conseguiram executar tais modificações, enquanto Sobrenatural é um filme sobre paranormalidade e traumas infantis, mas focado em assombrações, o capítulo 2 mantém o esqueleto da história e acrescenta o fator serial killer, numa invenção que claramente não estava pensada na ideia primordial, mas que é equilibrada o suficiente para não soar falsa. Encaixa de forma perfeita.
A câmera é pródiga em aumentar o escopo do suspense, cada movimentação sua é milimetricamente pensada. Os closes e os detalhes são pontuais e junto a trilha sonora, ajudam o público a imergir dentro da temível história. O aprofundamento na psique do assassino é muito bem urdida, sua abordagem vai além dos ambientes esfumaçados e classificações clichês ligadas a abusos na infância – tais coisas até são mostradas, mas em momento algum o vilão é retratado como uma vítima inocente de maus tratos e não responsável por seus atos. O mashup com o primeiro capítulo explica bem muitos dos sustos oriundos dele, mas não trata o expectador como imbecil, ao mesmo tempo que não fica inexplicado para quem não assistiu o original.
A carreira de James Wan é bastante relevante, por ter em si uma quantidade substancial de filmes, 7 até agora, sem que nenhuma destas películas sejam execráveis como um todo. Sua pouca idade faz acreditar que ainda terá muitas oportunidades de surpreender o público e crítica, com boas peças de terror e horror. Em cada filme que produz ele parece evoluir em algum aspecto distinto, até mesmo na condução dos atores, em especial Patrick Wilson, que em Sobrenatural ainda não se destacava muito da mediocridade, em Invocação do Mal melhora um pouco, fazendo um personagem austero e neste, desempenha de forma espetacular duas personalidades muito distintas, oras vestindo o arquétipo do herói, oras fazendo um dos guardiões de limiar, e ambos de forma muito competente, sua evolução dramatúrgica caminha junto com a evolução de James Wan a frente das câmeras. Sobrenatural: Capítulo 2 é assustador, aterrorizante e amedrontador, mas além disso, possui uma boa história e que faz dele um dos melhores filmes de horror da década atual.
Extermínio 2 é uma grata surpresa. A continuação de Extermínioé inesperadamente superior ao seu antecessor. O filme começa com o estado de caos instaurado, assim como no primeiro, e é tão auto-contido que para se entender a trama não é necessário sequer assistir a prequência. As cenas de perseguição agora são fechadas, claustrofóbicas e amedrontadoras, a velocidade dos ataques continua, mas aqui elas são melhor realizadas.
Após o prólogo, é mostrada uma Inglaterra em reconstrução, após inúmeras etapas de descontaminação. É feito um cerco onde os não infectados são postos separados dos doentes, numa espécie de área segura – ainda que essa segurança seja muito discutível.
O ponto alto da narrativa é a relação familiar construída entre os protagonistas, e por mais que haja mil macguffins, é nesse ponto que o espectador atento deve focar. Juan Carlos Fresnadillo demonstra não só um bom tato com a câmera, mas também com as atuações. O elenco está em suas mãos e mesmo nas pequenas participações só há acertos.
Extermínio 2 é muito competente em causar pavor em quem o vê, não é pretensioso e passa uma mensagem final um pouco catastrófica, mas ainda assim real: a de que a esperança por uma descontaminação – e consequente retorno a um estado de vida normal – é quase nula.
A direção de Fresnadillo é algo extraordinário, a variação de estilos de filmagens com a câmera em primeira pessoa em determinado momento, em outros se utiliza de steadicam, se valendo de ambientes fechados e com pouca luz. Esses artifícios enriquecem demais a película, e proporciona a quem assiste um clima de pavor e suspense poucas vezes visto. Há outros elementos dentro do roteiro também interessantes, como a questão primordial sobre a proteção e o cerco que se faz ao Reino Unido, se este seria eficaz ou não, e se os métodos empregados pelo grupo de militares funcionariam numa condição tão calamitosa – estas indagações servem como metáfora para muitas questões cotidianas, e deixa uma resposta pouco agradável para a pergunta principal da franquia: A humanidade teria condições reais de combater uma praga tão avassaladora quanto a retratada na franquia?
O casal primeiramente mostrado – Robert Carlyle e Catherine McCormack – está ótimo, tanto na química, quanto no decorrer da história, mesmo com todos os desdobramentos e agruras pelas quais seus personagens passam. A dupla de crianças – Mackintosh Muggleton e Imogen Poots – também estão a vontade em seus papéis, emprestando ao drama familiar uma carga enorme de verossimilhança. No fim das contas, a história é quase que exclusivamente uma perseguição particular dentro do grupo de parentes citados. A relação entre eles é recheada de escolhas entre a vida e a morte (de seus membros) e a consequente dicotomia entre abandonar os entes queridos ou permanecer unidos como uma família normativa, ainda que o mundo – e a vida – tenha mudado totalmente.
Sunshine – Alerta Solar é uma ficção científica de 2007, dirigido por Danny Boyle (dos excelentes Extermínio e Cova Rasa). Já tinha ouvido falar bem do filme, e por ser fã do gênero sci-fi, resolvi conferir.
Na trama, a Terra do futuro corre o risco de ter toda a vida extinta, pois o sol está para desaparecer. A última esperança é a nave espacial Icarus II e sua tripulação de 8 pessoas (Michelle Yeoh, Cillian Murphy, Chris Evans, Rose Byrne, Cliff Curtis, Troy Garity, Hiroyuki Sanada e Benedict Wong), que transporta uma bomba atômica do tamanho da ilha de Manhattan, que teoricamente alimentará uma nova vida dentro do Sol. Porém, durante a viagem e sem contato com a Terra, eles descobrem o sinal de S.O.S. da Icarus I, a nave enviada 7 anos antes com o mesmo objetivo e cuja causa do fracasso é desconhecida. A tripulação fica dividida entre alterar a trajetória da missão, de forma a obter a bomba existente na Icarus I, o que traria à missão mais uma chance de sucesso, ou seguir o plano original. A decisão recai sobre Capa (Murphy), o físico da tripulação, que decide ir à outra nave. Porém a mudança de trajetória causa avarias à Icarus II, iniciando uma série de problemas enfrentados na reta final da missão.
A princípio, o filme começa bem, falando sem explicar muito que, num futuro mais ou menos distante, o sol brilha menos, a terra é um lugar congelado, e uma segunda missão (já que a primeira sumiu sem deixar rastro) foi enviada para tentar detonar uma mega-bomba atômica no sol na tentativa de fazê-lo voltar a brilhar.
As explicações sutis de como a nave funciona, as razões pelas quais estão ali, algumas neuras de personagens a tanto tempo isolados no espaço são bem encaixadas, e a falta de explicações tão comuns no gênero não incomoda, por realmente não importar, naquele momento, as razões pelas quais o sol está acabando. O problema é que, a partir do 2º ato, a história passa de uma ficção científica bem construída para um terror-espacial ao estilo Alien um pouco pobre, com alguns toques de 2001 – Uma Odisséia no Espaço.
Está tudo lá. A nave antiga abandonada sem razão aparente, a tensão gerada pelo silêncio, a Inteligência Artificial que é desligada, o ocupante misterioso que caça cada um dos tripulantes e tudo mais. Porém, no meio de todos os fatores conhecidos, o espectador ainda consegue se perder em meio a tantos acontecimentos. A escolha do uso expressivo da cor amarela em tantas cenas (para demonstrar a força e potência do sol) é boa e causa um impacto interessante, mas prejudica a narrativa pois nos impede, também pelo trabalho precário de câmera, de entendermos realmente o que está acontecendo. O filme também peca ao abordar diálogos grandiosos sobre Deus e o Homem, e a tentativa de negarmos o nosso destino, de uma forma um pouco infantil e clichê, em um “deus ex machina” que não traz muita coisa de novo a quem conhece bem o gênero.
Apesar de toda a virtuosidade técnica e do excelente início, o que marca o filme é o seu final, deixando no espectador essa marca, fazendo-o esquecer um pouco dos conflitos e motivações de cada personagem, deixando o drama de lado e favorecendo mais as cenas de ação e tensão, que também poderiam ter sido melhor construídas se respeitassem a premissa inicial.