Tag: Dave Franco

  • Crítica | Artista do Desastre

    Crítica | Artista do Desastre

    Era uma vez Tommy Wiseau, um sujeito bem peculiar, sotaque diferente e fortuna de origem desconhecida. Fazia aulas de atuação nos Estados Unidos, e foi aí que sua vida se cruzou com outro aspirante a ator: Greg Sestero. Os dois cultivaram uma amizade forte, porém estranha, visto que Tommy se negava a conversar sobre sua própria vida (origem, idade etc). O tempo foi passando, os dois tentaram a sorte em Los Angeles mas sem grandes resultados. Desta forma, obstinado por seu grande sonho, Tommy resolve fazer ele mesmo um filme. O resultado foi o bizarro The Room, considerado um dos piores filmes já feitos.

    Os bastidores de The Room e a relação entre Wiseau e Sestero foram relatados por este no livro The Disaster Artist. A falta de talento e noção do realizador, aliado a diversos outros fatores, resultaram na atrocidade cinematográfica chamada The Room, mas rendeu belas histórias. A partir do livro, temos o filme Artista do Desastre, onde James Franco é o diretor e interpreta Wiseau.

    Logo de cara, temos que destacar a atuação de Franco. Ele conseguiu, de forma surpreendente, incorporar os trejeitos, sotaque, personalidade e o timbre da voz do realizador. Até a aparência física se aproxima com o ser humano original. O resultado é uma atuação excelente e muito divertida.

    Vários atores estão bem parecidos com os reais. Além do próprio Franco, podemos destacar Dave Franco, que interpretou Sestero, e Zac Efron, que viveu o traficante Chris-R, personagem do filme. Outros nomes conhecidos interpretaram personagens, como Alison Brie, Seth Rogen e Judd Apatow, enquanto outros aparecem sendo eles mesmos: Bryan Cranston, Kevin Smith, J. J. Abrams e Kristen Bell.

    O filme se apoiou bastante nos relatos do livro, mas também adicionou outros elementos. Houve uma tentativa maior de humanizar o diretor, só que acabou fazendo com que ele duvidasse dele próprio em alguns momentos, algo que destoa bastante do que é mostrado em grande parte do filme. Wiseau é megalomaníaco e tem uma autoconfiança extrema, beirando ao ridículo, e esses momentos de “Será que eu consigo? Será que sou capaz?” não faz jus à personalidade dele.

    O roteiro consegue mostrar bem as decisões erradas do realizador, que vão desde a compra de duas câmeras até a decisão de filmar em sets toscos ao invés de locações externas reais. O ponto mais interessante de Artista do Desastre é o fato de que ele trouxe ao grande público a existência de The Room, sendo que este voltou aos cinemas catorze anos após seu lançamento. Demorou, mas Wiseau finalmente realizou seu grande sonho de ver seu filme sendo passado além daquela única sala em 2003.

    Artista do Desastre é divertido, bem feito e certamente fará com que muitas pessoas corram atrás de The Room. Aliás, o filme será muito melhor aproveitado se você assisti-lo antes. Eles refilmaram diversas cenas, e se você conhecer o filme original, as coisas ficam bem mais interessantes. Não importa em qual ordem você assistirá, confira ambos que vale muito a pena. E por favor, assista à cena pós-créditos.

    https://www.youtube.com/watch?v=UtzsorjuK-o

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  • Crítica | Vizinhos

    Crítica | Vizinhos

    A complicada relação entre vizinhos já rendeu vários filmes ao longo da história do cinema. Desde filmes de suspense, passando por dramas bastante pesados e algumas comédias rasgadas, como o caso de Meus Vizinhos São um Terror, dirigido por Joe Dante e estrelado pelo grande Tom Hanks. Se formos puxar na memória, chega a impressionar a quantidade de filmes que tem como pano de fundo essa relação cotidiana que caminha na tênue linha do amor e do ódio.

    Dirigido por Nicholas Stoller, diretor de Ressaca de Amor e O Pior Trabalho do Mundo, este Vizinhos é uma divertida comédia sobre um casal (Seth Rogen e Rose Byrne) que vive em uma pacata vizinhança com sua filhinha de poucos meses de vida. Os dois vivem uma vida sem grandes emoções, até que tudo é virado de cabeça para baixo quando a fraternidade Delta Psi Beta, lendária por suas festas de arromba e liderada pelos alucinados Teddy (Zac Efron) e Pete (Dave Franco, o irmão mais novo de James Franco), muda-se para a casa ao lado.

    O filme tem um ritmo e uma dinâmica muito interessantes. Em vez de simplesmente odiarem os novos vizinhos logo de início, os personagens de Rogen e Byrne tentam inicialmente conquistar a simpatia dos membros da fraternidade com o intuito de tentar controlá-los. Essa tentativa rende um momento engraçadíssimo com os dois tentando pateticamente parecer mais jovens. Tal situação fica mais absurda quando os dois resolvem comparecer à festa inaugural da fraternidade. Seth Rogen e Zac Efron protagonizam uma discussão surreal sobre quem é o melhor Batman de todos os tempos enquanto Rose Byrne tenta se enturmar com as meninas que lá estão.

    O diretor Stoller dirigiu e escreveu somente comédias em sua carreira. Por isso consegue filmar com bastante competência essa película. As gags nunca parecem gratuitas e o filme ganha em comicidade à medida que a disputa entre os vizinhos se intensifica. As artimanhas usadas pelo casal e pela fraternidade são hilárias, ainda que em alguns momentos rendam momentos absurdos. Méritos também para os roteiristas Andrew J. Cohen e Brendan O’Brien, que conferiram profundidade aos personagens principais e povoaram a tela com coadjuvantes engraçados que acrescentam bastante ao filme, em vez de simplesmente desfilarem em cena.

    Seth Rogen está habitualmente engraçado, ainda que interprete um personagem bem semelhante aos anteriores de sua carreira. A australiana Rose Byrne também está muito bem e os dois formam um casal de boa química. Incrivelmente, o maior destaque do filme é Zac Efron. O galã-dançarino que apareceu para o grande público em High School Musical mostra que tem bastante talento e protagoniza algumas das melhores piadas do filme. Além disso, entrega uma interpretação alucinada para um personagem que chega a beirar o sadismo em alguns momentos e forma uma excelente dobradinha com Dave Franco, que também está ótimo em cena. O “bromance” dos dois é muito engraçado. Os coadjuvantes Carla Gallo e Ike Barinholtz estão ótimos, especialmente o último. Seu personagem, Jimmy, protagoniza alguns momentos de pura insanidade. A breve participação de Lisa Kudrow como reitora da universidade também é hilariante.

    Ainda que peque por apresentar um final de certa forma redentor, indo de encontro ao tom anárquico da fita, Vizinhos é diversão de primeira qualidade, que não apela para a escatologia e rende boas risadas.

  • Crítica | Meu Namorado é um Zumbi

    Crítica | Meu Namorado é um Zumbi

    meu namorado é um zumbi

    Meu Namorado é um Zumbi começa com uma narração feita por um morto-vivo, que parece resgatar o raciocínio e algumas memórias. Apesar do público alvo ser a adolescente teenager assídua compradora de Capricho e afins, as cenas com os undeads não são farofa, ao contrário, são agressivas e com uma caracterização um pouco gore, ainda que seja uma versão amenizada da estética de zumbis. O filme se utiliza da mesma fórmula de Smallville e diversos sub-produtos: corpos sarados aliado a um tema canônico para a cultura pop.

    As incursões no modo de vida dos zumbis, que andam devagar e vão atrás de seu alimento constituem alguns dos pontos mais engraçadas do filme. Jonathan Levine utiliza-se muito do humor presente no seu filme anterior 50/50. A forma como “R” (Nicholas Hoult) recobra a consciência é curiosa e sua afeição por Julie – Teresa Palmer – é justificada, até porque o roteiro pouco se leva a sério (neste início somente), tornando todas as coincidências e clichês tragáveis.

    As piadas chupinhadas de Todo Mundo Quase Morto são reinterpretadas e até ridicularizadas, o filme é mais uma extrapolação do tema Fim do Mundo do que um filme de humor. A trama pega emprestado conceitos de Terra dos Mortos – quarto filme da antologia dead-alives de George Romero – como o aprimoramento dos infectados com o decorrer do tempo, o modo de vida dos sobreviventes se amontoando e formando cercos em volta dos acampamentos etc.

    Apesar de acertar no começo, a obra de Levine perde o fôlego com o desenrolar das tramas paralelas e cai nos mesmo problemas de seus primos da Saga Crepúsculo, torna-se sentimentalóide  e descerebrada, ignorando as boas coisas do começo. A motivação de Julie e a não existente contestação do cativeiro a que é submetida são demonstrações de como a história é mal construída. A empatia dela por R é automática e forçada demais, e sem nenhuma razão plausível. Para piorar a situação, a jornada do protagonista que deveria ser rumo ao alimento de carne humana torna-se moralista, R vira um zumbi sentimental, articulado e arrependido.

    O realizador não consegue decidir se este é uma pastiche dos filmes adolescentes açucarados, que se disfarçam com uma aura “dark” ou se é mais um fruto do meio. No desfecho, a união entre humanos e zumbis é muito forçada, e contradiz todo o enredo galhofa mostrado anteriormente. É uma ode ao amor e em como a vida desaparece sem a presença deste sentimento, a mensagem é piegas e genérica demais. Ainda assim, Meu Namorado é um Zumbi é bem menos constrangedor que Crepúsculo e suas crias, mas é igualmente irritante, principalmente devido ao começo ser muito superior ao desfecho do filme.