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  • Crítica | Duna

    Crítica | Duna

    Minhas expectativas para Duna estavam em xeque, não li a série de livros do Frank Herbert, tampouco sou um admirador da adaptação cinematográfica de 1984. Não tenho qualquer valor afetivo pelo material, aliás, não tinha, pois o novo longa de Denis Villeneuve me deixou esfaimado por mais. Isso seria bom se o próximo filme já estivesse confirmado, mas é uma estratégia arriscada quando a progressão da história depende de seu sucesso financeiro. Duna (que começa com o subtítulo parte um) é maravilhoso, mas perde o sentido se não tivermos direito a uma continuação.

    Não vejo problema em dividir uma obra em duas ou três partes, mas é preciso uma cautela narrativa em relação à codependência das histórias, pois cada filme precisa funcionar individualmente. Peguemos como exemplo o final de Kill Bill: Volume 1. Todos sabemos que a jornada da personagem de Uma Thurman não acabou, ela quer matar Bill, e precisaremos de mais um filme para isso. Funciona porque a épica batalha contra os crazy 88, e o confronto com O-Ren Isshii dão ao espectador algum senso de desfecho, pelo menos a nível estrutural. A história vai continuar, mas o filme tem um ato final, e isso não acontece com Duna, que abruptamente acaba.

    Nosso protagonista é um jovem duque que vem lidando com sonhos premonitórios, super poderes de persuasão, e que pode ou não ser “o escolhido” de acordo a uma profecia. Ele acompanha seu pai até ao planeta Arrakis (Duna), que possui a cobiçada substância “spice” (funciona basicamente como magia), além de minhocas gigantes e areia. O que segue é um drama político sci-fi grandioso que me fez coçar a cabeça lá e cá. Muitos conceitos são tangencialmente abordados, gestos ou menções que presumem um conhecimento que pode desorientar a quem está explorando esse universo pela primeira vez. Da iconografia meticulosamente criada, às diretrizes culturais do figurino, à fantástica e plausível mitologia, há tanto para explorar aqui que me senti um pouco extraviado, mas não a ponto de perder o foco do conflito central que, como sempre, é motivado pela fortuna (invasão de um planeta para extração um recurso precioso, yada yada yada…).

    Villeneuve não gosta de economizar planos, é um diretor paciente, que exige o mesmo do seu público, e o recompensa com incansáveis ostentações composicionais. É como se ele competisse com ele mesmo a cada corte pelo melhor ângulo, pelo enquadramento perfeito, pela simetria sublime, e ele costuma vencer. Pra melhorar, ele tem Hans Zimmer fazendo a música, que cria um climão de guerra com a percussão (a cinematografia ajuda a compor essa atmosfera, e notam-se as homenagens a clássicos como Apocalypse Now e Lawrence da Arábia). Há uma ou outra batida onde a melodia quis me levar na marra, mas é uma trilha lamuriosa e ao mesmo tempo berrante. A gaita de fole não rolou pra mim, mas lembrei de Coração Valente, então ficou tudo bem.

    Tudo é desbundante em Duna, mesmo sendo todo cinza ou bege. Tecnicamente o filme é perfeito, mas a eutimia narrativa do diretor continua sendo um gosto adquirido. Se Blade Runner 2049 te pôs pra dormir, aqui provavelmente não será diferente. E não é um estilo que favorece as sequências de ação, que apesar de muito vistosas, precisavam de uma energia que quebrasse a melancolia subjacente. As minhoconas, por exemplo, prometem mais do que cumprem.

    Os efeitos visuais são perfeitamente integrados aos práticos, a criação de mundo é um barato (adorei os helicópteros insectóides), e eu preciso enaltecer o simples e eficiente uso do escudo com o contraste azul x vermelho, e como é satisfatório vê-lo no lugar daquela aberração de 84.

    Timothée Chalamet tem carisma de sobra. Ele se porta exatamente como um duque em construção, deixando transparecer a insegurança de quem carrega uma série de incertezas. E o diretor sabe que ele é um fofo, abusando dos close-ups do nosso herói contemplando sobre a vida com seu cabelo formidável. Rebecca Ferguson tem uma intensidade fortíssima nos olhos, o elemento de sua angústia materna é responsável pelas cenas mais emocionalmente carregadas do filme. A comunicação dela com o filho é bem trabalhada, e as camadas da dinâmica desse relacionamento estão apenas começando a cair. Oscar Isaac não atrapalha, mas não parece completamente confortável com o personagem. Ainda assim, uma de suas cenas certamente será lembrada. Jason Momoa tem uma das piadas do filme, é engraçadinha. Ele traz uma energia necessária ao ritmo remansoso, e sua ausência é frequentemente sentida. A outra piada é do Javier Bardem, ele não tem muito mais pra fazer, mas a cena é, de novo, engraçadinha. Há uma baixa dose de humor aqui, suficiente para pequenas descontrações sem afetar o tom austero predominante. A personagem de Sharon Duncan-Brewster é subdesenvolvida, Josh Brolin funciona (seus diálogos não ajudam), e Dave Bautista não. Ele não parece ter um lugar nesse universo, é apenas um bruto que é grandão porque sim, e a cena em que ele precisa demonstrar indignação é difícil de assistir. Stellan Skarsgård faz um vilão excepcionalmente grotesco e genuinamente ameaçador. Quero distância total desse cara, eca! Zendaya está no filme para soltar um trocadilho bem bolado e estimular o público com a possibilidade de mais tempo com sua presença celeste no filme seguinte.

    Duna pode parecer derivado, mas é justamente o contrário. O material fonte é tão influente que se tornou vítima das futuras criações que inspirou. Quando vi o elemento da Voz, lembrei imediatamente de Obi-Wan Kenobi usando a Força em 77, e não me pareceu justo. Mad Max, Alien, Blade Runner… muitos clássicos beberam alguma dose dessa fonte, preciso criar vergonha na cara e ler o primeiro livro.

    Nota: 8.9

  • Crítica | Star Wars – Episódio IX: A Ascensão Skywalker

    Crítica | Star Wars – Episódio IX: A Ascensão Skywalker

    Não é de hoje que vinha sendo afirmado que Star Wars: A Ascensão Skywalker seria o último filme da saga da família Skywalker iniciada lá em 1977 com Uma Nova Esperança. Após uma bem sucedida trilogia marcada também por O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi, anos mais tarde, o criador da saga, George Lucas resolveu responder as questões e os por quês de seus filmes anteriores serem os episódios IV, V e VI, numa nova e contestadíssima trilogia, ao final dos anos 90, onde nos foi mostrado o nascimento do Império e de seu mais importante membro, Darth Vader. Os resultados dos episódios I, II e III não foi nada satisfatório. Mas os fãs sempre tinham algumas perguntas em mente: o que aconteceu após a derrota do Império? O que aconteceu com Luke Skywalker, Leia Organa e Han Solo? Essas perguntas foram respondidas por meios de livros autorizados por Lucas, mas nunca chegamos a ver nada na tela do cinema. E essa era a vontade de muitos, porém, não era a vontade do cineasta, que ao deixar essa enorme marca na história do cinema, praticamente parou de produzir e criar, se concentrando somente em seu próprio império, a Lucasfilm e a Industrial Light & Magic, além de empresas menores, todas elas praticamente criadas para Star Wars, pois na época, não havia quem fizesse o que estava arquitetado na mente do diretor. Foi então que em 2012, uma bomba foi anunciada: A Disney comprou a Lucasfilm e, junto do anúncio, trouxe consigo o renascimento da franquia com uma nova trilogia com o episódio VII já programado para 2015 e mais, com o aclamado diretor J.J. Abrams na cadeira de direção e o aguardadíssimo retorno de Mark Hamill, Carrie Fisher e Harrison Ford. Muita coisa aconteceu desde o anúncio até aqui. Prazos curtíssimos, roteiros não aprovados, troca do time de roteiristas e troca de diretores. Após um correto filme (mas que deixou a desejar em alguns pontos), como foi O Despertar da Força, o oitavo capítulo, Os Últimos Jedi dividiu os fãs. Rian Johnson ousou muito trazendo uma visão bem peculiar sobre aquele universo e coube a J. J. Abrams retornar à direção com a clara missão de tentar “salvar” a franquia, buscando trazer  para o lado da luz aqueles fãs que ficaram extremamente descontentes com o filme anterior. É esse o propósito de A Ascensão Skywalker.

    Ao término de Os Últimos Jedi, podemos perceber que a Primeira Ordem dizimou quase que de uma vez por todas a Resistência. Não se sabe exatamente quanto tempo e passou da Batalha de Crait para o início do filme, mas a película já se inicia com um sanguinário Kylo Ren (Adam Driver) indo em busca de uma misteriosa e horripilante pista, enquanto Poe Dameron (Oscar Isaac) e Finn (John Boyega) estão numa perigosa missão para conseguir coletar informações importantíssimas vazadas por um espião infiltrado na Primeira Ordem. Por pouco a missão quase dá errado e Rey (Daisy Ridley) é duramente criticada por Poe, já que ela preferiu ficar em terra em treinamento Jedi sob os olhos da General Leia (Carrie Fisher). Rey está afobada, com sérios problemas de foco, o que interfere diretamente em seu treinamento e no seu julgamento por todo o transcorrer da fita, sendo que as informações coletadas são profundamente aterrorizantes, pois mostram um plano para um retorno triunfal do Império e a destruição de toda a galáxia.

    O Despertar da Força e Os Últimos Jedi tiveram tempo suficiente para trabalhar o desenvolvimento do trio principal e isso não acontece no novo episódio da saga, uma vez que o filme já começa frenético e urgente, sem tempo para que o expectador tenha uma pausa para respirar, até mesmo porque, com o perdão do trocadilho, os momentos de respiro são de tirar o fôlego. A propósito, algumas das teorias apresentadas são verdadeiras, contudo, acontecem de uma maneira diferente que aquele que assiste espera, deixando A Ascensão Skywalker com aquela impressão de ser um filme que busca o sorriso (e o choro) a cada momento.

    O filme é bem diferente de seus antecessores e muito mais em relação ao anterior, principalmente no que diz respeito ao tom e à fotografia. “Skywalker” é um filme bem mais colorido e leve, com vários momentos de humor e, curiosamente, equilibra bem com o contraste da violência, já que, talvez, seja o filme mais violento da franquia. Como dito no início deste texto, Os Últimos Jedi se desviou muito do “caminho” que a franquia costuma percorrer e aqui nos é mostrado as claras intenções de corrigir o curso e muitas vezes chega a soar forçado, sendo que em outras, parece que o filme é um gigante boneco de vodu de Rian Johnson, onde ele é alfinetado vez ou outra. Mas é importante deixar claro que não estraga em momento algum a experiência, e o sentimento, sinceramente, é de sorrir de maneira sádica ao experienciar certas situações lá apresentadas. Importante destacar que Abrams busca corrigir até seus próprios erros cometidos em O Despertar da Força.

    É interessante como J. J. Abrams e Chris Terrio, ao escreverem o filme, se preocuparam em fazer uma história em que o quarteto principal (Rey, Ren, Finn e Poe) seja o destaque. Se o fã tomar a consciência de que o filme é deles e não de Han, Luke e Leia, as coisas fluem com muito mais leveza. Tanto é verdade que, embora tardiamente, se trata da primeira aventura onde Rey, Finn e Poe aparecem em tela ao mesmo tempo, já que Rey só havia conhecido Poe ao final do filme anterior e junto deles estão novos personagens como Zorii Bliss, vivida por Keri Russel e Jannah, vivida por Naomie Ackie. Os droides que ficaram bastante sumidos tiveram participações significativas, principalmente quando se trata de C-3PO, brilhantemente vivido por Anthony Daniels, o único a gravar todos os filmes. Podemos sentir que A Ascensão Skywalker passa a ter novamente aquele aspecto familiar de amigos que se unem na batalha do bem contra o mal, algo que ficou bem definido e muito elogiado na trilogia original. O resgate desse sentimento é extremamente satisfatório.

    É inegável que o filme ainda divide opiniões, principalmente com relação à ameaça do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid), em sua presença real e assustadora e os rumos tomados pelos personagens, principalmente o caminho de Rey e Kylo Ren, cuja química estabelecida no filme anterior continua sendo bastante explorada, mas de uma maneira que pode fazer com que o fã mais hardcore não aprecie, mas a questão é que o filme é desenvolvido em terreno seguro, sendo totalmente burocrático e em algumas vezes se espelhando em Vingadores: Ultimato.

    Diversos tipos de emoções definem Star Wars: A Ascensão Skywalker. Um filme que não só fecha a saga da família Skywalker, mas coloca um ponto final, fechando um capítulo importantíssimo na história do cinema e na história da cultura pop mundial. Obviamente a Disney tem planos ambiciosos para a franquia, como o já bem sucedido The Mandalorian, além de projetos futuros como a série de Obi-Wan Kenobi, que será protagonizada por Ewan McGregor, além de novas trilogias de longas metragens que devem focar em épocas como a da Velha República. Star Wars cresceu tanto que quase foi vítima de seu próprio crescimento e a nova trilogia, mesmo dentro de suas próprias limitações, nos permite agradecer e dizer “obrigado” por tudo isso ter existido.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • O que esperar de Star Wars: A Ascensão Skywalker

    O que esperar de Star Wars: A Ascensão Skywalker

    Queridos amigos e fãs de todo o mundo, a espera acabou. Nosso país terá o privilégio de poder assistir Star Wars: A Ascenção Skywalker. Chegando por aqui em 19 de dezembro desta semana, o nono capítulo da maior franquia da história do cinema chegará ao seu fim depois de muita ação, batalhas espaciais, reviravoltas e também muitos pontos controvertidos, e nem estou falando da trilogia prequel e sim do penúltimo capítulo da saga, o polêmico Os Últimos Jedi, que dividiu os fãs ao meio, deixando muita gente desacreditada quanto à conclusão da saga. Mas sempre temos aqueles otimistas que confiam cegamente que o diretor J.J. Abrams possa dar um final digno à uma história criada por George Lucas, lá em 1977.

    De maneira estranha, a expectativa para o Episódio IX é altíssima, contudo, os fãs da franquia já sabem que existe a possibilidade do final não ser como todo mundo espera, como por exemplo como ocorreu e Vingadores: Ultimato que, apesar de duas baixas pesadas, foi algo muito mais que bonito ou épico e sim, justo.

    Falaremos disso mais para frente, depois que o filme for digerido pela maioria das pessoas, mas esse que vos escreve acredita que O Despertar da Força já trilhou um caminho que não deveria trilhar, mas uma vez que esse caminho começou a ser percorrido, não havia como voltar atrás, não com o que Rian Johnson fez em Os Últimos Jedi. O cineasta optou por trazer sua própria visão para a história de Luke Skywalker, recebendo críticas de Mark Hamill (que sempre que tem a oportunidade fala a respeito) e mais recentemente do ator John Boyega, responsável por dar vida a Finn. Assim, sobrou para J.J Abrams dar um final digno a história.

    Nós do Vortex optamos por não nos inteirar com relação às teorias e a história do filme, mas, de qualquer forma, alguma das teorias trazidas aqui por nosso time de redatores podem não fugir do óbvio. Então vamos a elas.

    A HISTÓRIA

    Acredita-se que o começo de A Ascenção Skywalker será uma espécie da caça ao tesouro, onde Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver) estarão em busca de algo que poderá mudar a história da galáxia. Ren deverá ir atrás deste artefato para ter poder absoluto, enquanto a jovem Jedi (ou aprendiz) tentará impedir que o artefato caia nas mãos erradas.

    Vale destacar que esta é a primeira empreitada que Rey, Finn e Poe (Oscar Isaac) estão juntos, já que até agora, o trio principal nunca foi visto juntos numa aventura.

    Essa corrida contra o tempo, colocam os dróides com tempo suficiente em tela e ainda traz novos personagens como Zorii Bliss (Keri Russel) e Jannah, vivida por Naomi Ackie e o retorno de Billy Dee Williams como o homem mais charmoso da galáxia, Lando Calrissian, cuja participação se tornou obrigatória após a morte de Carrie Fischer e da união de Luke Skywalker à Força.

    Por algum motivo que ainda desconhecemos, teremos o aguardado retorno do Imperador Palpatine (Ian McDiarmid), que voltará em grade estilo, liderando uma massiva armada de cruzadores imperiais, com um exército de dar inveja a qualquer um. Com isso, é pouco provável que às antigas naves que aparecem nos trailers sejam descobertas e usadas pelos Rebeldes, como antes se acreditava. Ainda não se sabe se Palpatine estará independente, buscando retomar o controle da galáxia, inclusive acabando com a Primeira Ordem, ou se eles serão aliados.

    Porém, são as atitudes de Palpatine que devem fazer com que Kylo Ren siga os passos de seu avô e retorne para o Lado da Luz, primeiro para salvar Rey e segundo para destruir o maléfico lorde Sith de uma vez por todas. Inclusive, existe a possibilidade deste filme ser mais sobre Kylo Ren do que sobre Rey, cuja jornada, definitivamente será amparada por Luke Skywalker, como fantasma da força.

    RESPOSTAS

    Star Wars: A Ascensão Skywalker deve trazer muitas respostas e sem dúvida, a que mais atiça a curiosidade dos fãs é sobre o parentesco de Rey. Afinal ela é uma Skywalker? Uma Kenobi? Um clone de Anakin Skywalker? Existe a enorme possibilidade de Rey, assim como Kylo Ren já afirmou, ser uma ninguém, uma órfã, abandonada em Jakku. Mas a possibilidade dela ser descendente de Obi-Wan Kenobi é praticamente nula, assim como dela ser uma Skywalker (pelo menos até o final do filme). Uma das teorias mais loucas a respeito, como dito acima, é a da jovem ser um clone de Anakin Skywalker. Ora, em O Ataque dos Clones tomamos conhecimento do maior exército já visto em Star Wars, sendo que, em A Vingança dos Sith, é comprovado que o grandioso exército fez parte de um ambicioso plano de Palpatine para tomar o poder e ainda levou consigo o Jedi mais poderoso da galáxia. Já está comprovado que o exército de cruzadores estará a mando do lorde Sith, devendo ser demonstrado como um plano para um futuro que chegou. Faz bastante sentido ele ter alguém ao seu lado para liderar este novo golpe e esse alguém, poderá ser muito bem Rey (sendo clone ou não).

    MORTES

    Também é possível que tenhamos que nos despedir de personagens queridos, como Chewie (Joonas Suotamo) ou C3PO (Anthony Daniels). O gigante wookie sobreviveu às Guerras Clônicas, foi resgatado por Han Solo e junto de seu amigo ajudou a derrotar o Império. Com a morte de seu querido parceiro, talvez não haja mais nada para ele neste plano, se a hora requerer algum sacrifício de sua parte.

    Embora as imagens dos trailers mostram que C3PO está olhando seus amigos pela última vez, não acho que ele vá morrer ou ser destruído. Em algum momento do filme, talvez seja necessária uma troca de protocolo que talvez faça com que “Threepio” tenha toda sua memória apagada ao voltar ao normal. Obviamente isso o fará esquecer de tudo que passou com seu amigo R2-D2 desde que se lançaram numa cápsula de sobrevivência em Um Nova Esperança, em busca da ajuda de Obi Wan Kenobi

    PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

    J,J. Abrams tem a missão de agradar os fãs da saga. Então é muito provável que o filme traga rostos conhecidos do público e as participações não devem se contentar somente com o retorno de Luke e Lando. Yoda deve aparecer, assim como Obi-Wan (vivido por Ewan McGregor) e por que não, Anakin Skywalker (vivido novamente por Hayden Christensen)?

    E eu não falo tão somente de personagens dos filmes. Os fãs do universo expandido também terão seus egos inflados, uma vez que já vimos a nave Fantasma de Star Wars: Rebels escoltando a Millennium Falcon para a batalha final. Se a Fantasma está lá, quem a estará pilotando? Assim, é possível que veremos ainda que brevemente algum querido personagem do elenco de Rebels.

    Além disso, devemos ter atores conhecidos vestindo o manto dos Stormtroopers, assim como Daniel Craig, que gravou uma cena com Daisy Ridley em O Despertar da Força e Tom Hardy, juntamente com os príncipes William e Harry, que tiveram suas participações cortadas da edição final de Os Últimos Jedi. Fica aqui uma curiosidade: William e Harry foram cortados por causa da altura de William que era superior à altura padrão dos soldados.

    UM FINAL GRANDIOSO

    O final de A Ascensão Skywalker deve ser grandioso, primeiro por conta da batalha final que deve se assemelhar em escopo à batalha de O Retorno de Jedi ou, ainda mais, como a batalha de Coruscant, no início de A Vingança dos Sith.

    Mas as suas últimas cenas deverão arrancar lágrimas dos fãs.

    O cineasta Kevin Smith (um fanático por cultura pop e Star Wars) passou um dia num dos sets de A Ascensão Skywalker e acompanhou as gravações da famosa cena envolvendo C3PO. Ele disse recentemente que, nesse dia, pessoas da produção falaram para ele de um set de filmagens secreto, um set que estava sendo escondido até de outras pessoas envolvidas na produção. Ao questionar J.J. Abrams sobre o set, o diretor, inicialmente, proibiu que Smith visitasse o local, mas em seguida, concordou com a visita, porém, fazendo uma ressalva: Abrams disse a Smith que o set era o da última cena do filme e que algo especial havia sido preparado. Prontamente Smith desistiu de visitar o local.

    Então é isso, pessoal. Star Wars: A Ascensão Skywalker chega aos cinemas brasileiros em 19/12/2019.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

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  • Star Wars: A Ascensão Skywalker | Comentários Sobre o Trailer Final

    Star Wars: A Ascensão Skywalker | Comentários Sobre o Trailer Final

    E o trailer final de Star Wars: A Ascensão Skywalker, o nono capítulo da maior franquia da história do cinema, finalmente foi ao ar.

    O trailer vinha sendo aguardado com ansiedade pelos fãs após o bombástico teaser especial lançado durante a D-23 deste ano, que trazia uma imagem de Rey usando roupas pretas e portando um sabre de luz duplo de cores vermelhas.

    A expectativa era que esse trailer final mostrasse mais dessa Rey do Lado Negro, ou que de fato, Palpatine desse finalmente as caras.

    Mas, não foi isso o que aconteceu. De qualquer forma, o último trailer da saga que conta a história da família Skywalker foi lindo.

    Logo no início das imagens vemos Rey (Daisy Ridley), deixando no chão um capacete enquanto corre por uma floresta e um droid tenta alvejar suas costas, sem sucesso. O capacete e o droid são muito semelhantes aos usados por Luke no início de seu treinamento. Pelas imagens, podemos perceber que a jovem aprendiz já domina a Força consideravelmente. Chama a atenção uma faixa vermelha que ela usa numa das mãos. Essa faixa já havia sido mostrada no trailer anterior.

    Enquanto ouvimos a voz de Finn, dizendo que “é um instinto, uma sensação” e que a Força os reuniu, vemos Rey dentro de uns escombros, muito semelhantes ao destroyer imperial de Jakku em O Despertar da Força. Muito provável que este seja o interior da segunda Estrela da Morte. Vemos também o próprio Finn (John Boyega) num planeta desértico.

    A imagem corta para uma reunião que provavelmente acontece numa base dos rebeldes que deve ser durante uma pré-batalha, talvez a batalha mais importante do filme. Nesta cena, vemos Lando Calrissian (vivido novamente por Billy Dee Williams), Poe Dameron (Oscar Isaac) e C-3PO (Anthony Daniels) e muitos outros personagens, distribuídos entre pilotos e aparentemente civis. As imagens são rápidas e enquanto ouvimos a voz de Poe, dizendo que eles não estão sozinhos e que as pessoas lutarão se eles as liderarem, podemos ver a primeira aparição de Rose (Kelly Marie Tran), que aparece junto do personagem vivido por Dominic Monaghan, e vemos também, no planeta floresta a nave Tantive IV, além de Chewie (Joonas Suotamo), Poe e Finn, junto de uma X-Wing.

    Vemos novamente um novo trecho de Rey do lado de fora dos escombros da Estrela da Morte, com seu sabre de luz em punho aguardando ansiosamente para batalha, quando vemos pela primeira vez Kylo Ren (Adam Driver) saindo de dentro de uma onda que acabou de quebrar. As belas imagens são embaladas pela voz de Rey dizendo que as pessoas dizem que a conhecem, mas que na verdade, ninguém a conhece, para em seguida a voz de Ren proferir que ele a conhece. Essas falas mexeram com o público, não porque existe a possibilidade dos dois ficarem juntos, mas porque talvez seja do momento de uma possível redenção de Ben Solo em tentar salvar Rey, algo que será abordado em outro texto.

    Aí começam a surgir as novidades, como vários caças Tie se dirigindo a uma monstruosa base que parece que fica em um enorme iceberg. A imagem do gelo refletindo na água é maravilhosa, um grande trono de pedra com vários tentáculos, muito semelhante à tiara usada pelo Máscara da Morte, Cavaleiro de Câncer, de Os Cavaleiros do Zodíaco, e um antigo destroyer imperial saindo de dentro da água. A julgar pelo excesso de raios em tela, tanto pelas claridades na sala do trono, quanto pelas imagens do destroyer, é muito possível que seja o mesmo local onde a base iceberg se encontra. Ouvimos também pela primeira vez a maléfica voz de Palpatine (Ian McDiarmid), que diz que esperou muito tempo e que agora essa união será a destruição. Enquanto ouvimos Palpatine, vemos outras imagens como a Millennium Falcon se juntando e liderando uma gigantesca armada, onde podemos ver naves dos mais diferentes modelos, como naves da antiga Aliança Rebelde, naves separatistas, dentre muitas outras, inclusive a Fantasma, de Star Wars: Rebels, que aparece claramente ao lado da Falcon, pronta para a batalha. A nave que anteriormente havia aparecido como um easter egg de Rogue One, finalmente deu as caras e aumentou consideravelmente a possibilidade de vermos na tela grande, mesmo que por alguns segundos, seus integrantes.

    Depois um momento de partir o coração e que levou a maior dos fãs às lágrimas. C-3PO está sofrendo uma manutenção na região de sua cabeça. Ao ser perguntando por Poe o que ele está fazendo, o robô diz que está olhando para seus amigos pela última vez. Rey, e Finn também estão em cena e todos com cara de tristeza. É muito provável que, por algum motivo “Threepio” precisa alterar seu protocolo diplomático, o que justificaria seus olhos vermelhos mostrados no teaser anterior. Na cena, também vemos pela primeira vez a personagem de Keri Russel, a mascarada Zorri Bliss.

    A trilha sonora maravilhosa explode em tela e vemos mais e mais cenas épicas, como Chewie, Finn e Poe dizimando Stormtroopers, um caloroso abraço de Leia (Carrie Fisher) em Rey, enquanto ouvimos Luke Skywalker dizendo que enfrentar o medo é o destino de um Jedi. Vemos Lando comandando a Falcon ao lado de Chewie, além de trechos da enorme batalha que deve ser tão épica quanto à batalha de Coruscant, em A Vingança dos Sith. Sobre a batalha, como dito anteriormente, poderemos matar a saudade de diversas naves da trilogia clássica, já que veremos Y-Wings, B-Wings, entre outras em tela.

    A imagem corta para Rey e Kylo Ren na sala do trono do Imperador mostrada em O Retorno de Jedi, onde Luke enfrenta Darth Vader, vemos também, numa espécie de contraste os mesmos personagens destruindo um artefato, que provavelmente é o totem onde Kylo Ren mantém o capacete de Vader. Na verdade, não se sabe se eles destruíram o artefato juntos ou se foi Rey, enquanto Ren tentava proteger o totem. Curiosamente, é possível ver Rey empunhando uma adaga em sua outra mão. E vemos também um relance de Palpatine que parece se movimentar em alguma cadeira flutuante em direção à Rey, enquanto novamente ouvimos Luke dizer “a Força estará com você”, enquanto Leia completa com um “sempre”.

    O trailer cumpriu o seu papel: é lindo. O curioso é que mostra tudo, mas, em contrapartida, não mostra nada. As imagens que vemos ali, acabam por colocar uma pá de cal em algumas teorias, mas atiçam a curiosidade dos fãs sobre como será esse desfecho, algo que discutiremos em breve aqui no Vortex Cultural.

    Só sabemos que será grandioso. A impressão que o trailer deixou é que Star Wars: A Ascensão Skywalker será visualmente muito bonito e épico, no sentido de escala. Tudo parece ser enorme, com bastante informação em tela.

    O filme estreia no Brasil em 19/12/2019 e os ingressos já estão à venda.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Star Wars: A Ascensão Skywalker | Comentários do Novo Teaser Trailer

    Star Wars: A Ascensão Skywalker | Comentários do Novo Teaser Trailer

    A semana dos dias 20 a 25 de agosto foi cheio de surpresas para os fãs da cultura pop. Mais precisamente para os fãs da Disney, a realização da D23 deste ano de 2019, em Anaheim, deixará um marco na história da convenção. Englobando todas as empresas da gigante casa das ideias, a convenção praticamente marcou a estreia do ambicioso serviço de streaming da Disney, o Disney+, trazendo muitas novidades (muitas mesmo) do que estará por vir, principalmente quando se trata de produções da própria Disney, além da Marvel a, obviamente, da Lucasfilm.

    Sem dúvida, o momento mais aguardado era o painel de Star Wars: A Ascensão Skywalker, o nono e último capítulo da franquia. Se durante a Star Wars Celebration, realizada em maio, nos foi mostrado o primeiro teaser do filme, a esperança aqui era que o primeiro trailer completo fosse apresentado. Após a produtora e atual presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, e o diretor J. J. Abrams darem às boas vindas ao elenco do filme, o que os fãs viram foi um trailer que não tinha nome de trailer propriamente dito, mas sim um “material especial” para os fãs ali presentes. O material foi lançado oficialmente dois dias depois e deixou a internet atônita, como vem sendo feito em todos os trailers lançados desde O Despertar da Força.

    Embora tenhamos aproximadamente dois minutos e treze segundos de imagens, praticamente metade delas são de material inédito. No começo da fita vemos imagens marcantes de toda a história da saga da família Skywalker, desde A Ameaça Fantasma até Os Últimos Jedi. Importante destacar que o trailer respeita a ordem de lançamento dos filmes e não a ordem cronológica da história e novamente ouvimos a fala de Luke Skywalker (Mark Hamill) que diz “passamos adiante tudo que sabemos. Mil gerações vivem em você agora. Mas esta é a sua luta.”

    As imagens inéditas começam com Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega), Poe Dameron (Oscar Isaac), Chewbacca (Joonas Suotamo) e C-3PO (Anthony Daniels), num planeta desértico observando uma cidade que parece estar comemorando algum tipo de carnaval. Os figurinos de Rey pouco mudaram desde o usado em O Despertar da Força, mas de Finn e Poe Dameron parecem muito bem trajados para uma aventura estilo Indiana Jones, principalmente Poe que parece que saiu direto do jogo Uncharted. Rapidamente temos a General Leia (Carrie Fischer), lembrando que esta é a última vez que a veremos a atriz em tela, sendo que sua participação foi feita por imagens descartadas dos outros filmes, já que infelizmente, Carrie Fisher nos deixou após terminar sua participação nas filmagens de Os Últimos Jedi.

    O trailer continua com uma bela imagem de diversas naves rebeldes pairando no ar pós velocidade da luz e vemos, também uma infinidade de cruzadores imperiais preparados para batalha. A quantidade é tão grande que chega a lembrar a armada de Agamenom, em Tróia. Observando os cruzadores, está Finn juntamente com Jannah, a nova personagem vivida por Naomi Ackie. Após vemos C-3PO com olhos vermelhos e um tipo de raio destruindo o que pode ser parte do planeta desértico do começo do trailer, para então vermos Rey praticando com o sabre de luz de Luke restaurado e Kylo Ren (Adam Driver) saindo furioso de sua nave, empunhando também sua arma. Vale destacar que as imagens não possuem nenhuma relação, porém vemos uma linda imagem dos dois duelando violentamente em cima de uma peça que provavelmente faz parte dos destroços da Estrela da Morte mostrada no primeiro teaser. Enquanto essas últimas cenas enchem os olhos dos espectadores, ouvimos a voz do Imperador Palpatine (Ian McDiamird) que diz “a sua jornada está próxima do fim”. A tela fica totalmente preta para logo então revelar uma maligna Rey, toda trajada de preto, empunhando um sabre de luz de lâmina dupla na cor vermelha, semelhante ao usado por Darth Maul.

    Obviamente, o destaque do trailer ficou por conta de Rey possivelmente flertando com o Lado Negro da Força e isso sugere o que pode ser parte da trama do novo filme, que poderá retratar a queda de Rey e a ascensão de Ben Skywalker, algo que será discutido no texto sobre as expectativas sobre o filme, dias antes do lançamento. Mas também, outras coisas chamaram bastante a atenção. A festa mencionada no início deste texto sugere que possa estar sendo realizada por Maz Kanata, já que o retorno de Lupita Nyong’o está confirmado. A quantidade de naves da Aliança Rebelde é significativa se levarmos em conta que a rebelião foi praticamente extinta no filme anterior. A imagem dos milhares de cruzadores imperiais no meio a uma tempestade de raios é incrível e pode se tratar somente de um desfile militar sob a liderança do General Hux (Domhnall Gleeson), que até agora não apareceu em uma imagem sequer. Os olhos vermelhos de C-3PO pode não ter siginificado algum, uma vez que o robô vem sofrendo trocas de peças constantemente e ele pode estar acordando justamente do procedimento em que seus olhos foram trocados após ser ferido em batalha.

    Aliás, vários personagens confirmados ainda não deram as suas caras. Luke Skywalker e Palpatine, provavelmente são aqueles que causam as maiores expectativas, além deles e de Maz Kanata, não vimos ainda Rose (Kelly Marie Tran) e a nova personagem vivida por Kerri Russel.

    Star Wars: A Ascensão Skywalker chega ao Brasil em 19 de dezembro de 2019.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Operação Fronteira

    Crítica | Operação Fronteira

    O cinema de ação, ao contrário de vários gêneros e subgêneros compreendidos pelo cinema, não é um sobrevivente, e sim uma constante; se há variações de estilo e graus de comprometimento com certas estéticas e abordagens narrativas, há também a segurança de que sempre haverá espaço, tanto nas telonas quanto nos serviços de streaming e demanda, para tiroteios, explosões e dinâmicas agressivas para personagens igualmente agressivos (se não em essência, ao menos em método). Desta forma, os filmes de ação carregam um estandarte de entretenimento que só é rivalizado pela fantasia, e nos últimos anos, a cruza entre ambos promovida pelo boom de filmes de super-heróis e super-heroínas tem sido o padrão deste tipo popular (em todos os sentidos) de produção; de filmes da Marvel a Velozes & Furiosos e John Wick, personagens icônicas e sagas crescentes tomam os holofotes, mesmo que não existam super-poderes em cena. Às vezes, no entanto, há tentativas de valorizar maneiras diferentes e mais tranquilas de se realizar ação – e Operação Fronteira, novo filme de J. C. Chandor, responsável por Margin Call, Até o Fim e O Ano Mais Violento, é um bom exemplo da contramão a estes exemplares recentes em voga.

    Protagonizado por um elenco carismático e mais estrelado do que o normal para produções (em tese) mais modestas, puxado por Oscar Isaac e Ben Affleck, Operação Fronteira traz um grupo de ex-combatentes de elite das forças armadas estadunidenses, liderados por Redfly (Affleck) e reunidos por Santiago (Isaac), tentando empreender um roubo à mansão de um narcotraficante, situada em uma tripla fronteira sul-americana, com base nas informações obtidas por uma informante de Santiago (Adria Arjona) enquanto este atuava como consultor para as polícias colombianas (a frequente adesão de soldados dos Estados Unidos a PMCs, private military contractors, ou seja, mercenários de exércitos de aluguel, é brevemente citada pelo personagem de Charlie Hunnam, William Ironhead Miller). Redfly, um estrategista nato que tenta (e fracassa em) levar uma vida pacata, é convencido por Santiago, e logo se junta a Ironhead, Ben (vivido por Garrett Hedlund, irmão de Ironhead) e Francisco Catfish Morales (Pedro Pascal, continuando sua onipresença hollywoodiana) para o golpe no criminoso local, Lorea (Rey Gallegos).

    Obviamente nem tudo sai conforme o planejado e mesmo que a competência dos envolvidos seja à prova de balas, suas fibra moral e resiliência não são, e é neste aspecto que Operação Fronteira consegue se libertar um pouco das amarras de um roteiro medíocre e de uma trama francamente desinteressante. A casualidade do planejamento do roubo e a violência (muitíssimo bem orquestrada e demonstrada) contida porém impactante desencadeada pelas ações dos ex-militares tornados em ladrões lembra alguns dos melhores momentos de Michael Mann em filmes como Colateral e Miami Vice, mas as semelhanças são mais espirituais do que visuais ou técnicas; Chandor não parece interessado em compor cenas emblemáticas e grandes sequências de ação, e sim nas consequências imediatas das deturpações à ordem natural dos lugares por onde Santiago e sua equipe passam, e o fato de Operação Fronteira ser em grande parte um filme suspeitosamente mais silencioso e marásmico do que a imensa gama do cinema de ação dá suporte a esta impressão. O filme não entra em excessivos detalhes acerca de suas personagens e dos procedimentos que estas conduzem, nem mesmo no ato que motiva a reunião dos soldados desiludidos e dá nome (extraoficial) à produção.

    Se por um lado a superficialidade da construção das personagens, de suas motivações, e as próprias preparação e execução dos planos soa mais sossegada (ou até preguiçosa) do que se espera, a própria falta de estofo dos protagonistas e o empenho trivial em suas ações denota a estatura social e emocional lastimável na qual se encontram, especialistas em serviço de ideias efêmeras e improdutivas, de acordo com suas (expositivas) falas. Ainda assim, a história de Mark Boal (colaborador de Kathryn Bigelow em filmes igualmente dúbios mas bem mais aflitos), roteirizada em conjunto com o diretor, não investe muito na desilusão do grupo de militares ao léu — apenas o suficiente pra impulsionar a curta trama e contextualizar certas atitudes (e até alguns atalhos dramatúrgicos meio esquisitos). Além desta franqueza roteirística, existe uma curiosa e irônica honestidade para um filme a respeito de um roubo perpetrado por soldados norte americanos em solo latino. O espectador é poupado de visões redentoras e de discursos sociopolíticos sobre a intervenção de gringos em solo brasileiro, paraguaio, colombiano ou peruano, sobretudo de tentativas de explicar ou mesmo compreender os panoramas do crime organizado e do narcotráfico regional. Nem haveria tempo para palestras fora de propósito: o ritmo de Operação Fronteira também consente sua proposta; embora pautado por vários eventos de extrema urgência, todas as sequências tomam um tempo suficiente e compreensível, sem muitos apelos artificiais aos comuns momentos de frenesi e corrida contra o tempo que caracterizam o nicho que ocupa.

    É positivamente surpreendente, aliás, que esta obra seja tão despida de ambições e tentativas de fazê-la emplacar de qualquer maneira; Operação Fronteira vagou num limbo hollywoodiano por pelo menos oito anos, tendo diversos nomes e estúdios associados à sua produção, e só ganhando tração a partir da aquisição de seus direitos pelo Netflix. Nem sempre estes construtos cinematográficos ganham vida, e quando ganham, costumam exibir as marcas de tantas ideias diferentes acopladas ao longo do tempo (além de pressa nas suas realizações, o que raramente permite resultados acima da média).

    Evitando construir e concluir o filme ao redor de momentos de catarse, e emprestando uma dignidade quieta mesmo aos instantes mais impactantes e enérgicos, J. C. Chandor acabou concebendo Operação Fronteira como um filme de ação desprovido de solenidade e eficiente em encapsular heist movies e militaria sem glorificar, suavizar ou exagerar os cacoetes das obras de mesmo gênero e/ou subtipo. Seus filmes anteriores compartilham componentes similares de andamento e parcimônia, e seu mais que bem-vindo acerto foi comandá-lo da mesma forma, sem dar espaço a certas distrações e tendências. Sem dúvida um tempero mais forte nas personagens e na tensão poderia dar a quem assiste uma forma mais impressionante, mas é possível celebrá-lo tanto pelo que Operação Fronteira é quanto pelo que não é, e se a norma é fazer filmes pretensamente ribombantes e espetaculares, entupidos de *camadas* e elementos a descobrir (sequer sabendo se vale a pena fazê-lo), é bom o suficiente que este título a desafie.

    Texto de autoria de Henrique Rodrigues.

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  • Crítica | Operação Final (2)

    Crítica | Operação Final (2)

    Chris Weitz é um homem de cinema com trabalhos bem diversos. Seu trabalho como roteirista está presente em Rogue One, FormiguinhaZ e Cinderela, filmes bem diversos em temática, e ele conduziu A Bússola de Ouro, O Céu Pode Esperar e Lua Nova. Sete anos após realizar o drama Uma Vida Melhor, ele dá a luz a Operação Final, em parceira com a Netflix. A história do filme retorno a 1960, onde uma força militar israelense vai atrás de um fugitivo nazista da Segunda Guerra Mundial, Adolf Eichmann, que era o responsável pelo gabinete de assuntos judaicos na época e que diferente de Himmler, Goebbels e Hitler, não havia tirado a própria vida.

    A história acompanha Peter Malkin, transitando em um carro antigo, munido de sua farda e de um desejo intenso de fazer justiça. O personagem executado por Oscar Isaac é determinado, e faz um serviço detetivesco para achar os fugitivos do Julgamento de Nuremberg.

    Malkin e Eichmann tem uma história pessoal juntos, e isso é explorado através das idas e vindas do roteiro, que retorna ao passado para mostrar o destino que as outras gerações tiveram, em meio a isso se percebe o avanço de grupos nazistas na América do Sul, em especial no cenário argentino, que é onde se passa a maior parte da história Malkin é um sujeito exemplar, sempre calado e observador, seu olhar é cheio de compaixão com os que sofreram com o holocausto, e essa solidariedade é as vezes confundida por terceiros como pena , fato que deixa alguns israelenses envergonhados. Sua rotina é a de jantar com sua mãe , uma senhora bastante idosa e que não está mas tão plena de suas faculdades mentais.

    Toda essa excessiva necessidade de humanização do personagem faz o filme soar um pouco maniqueísta. O trabalho de investigação a respeito da pessoa que possivelmente é Eichmann envolve uma garota, chamada Sylvia (Haley Lu Richardson), que se envolve com Klaus, filho de Ricardo Klement, que aparenta ser somente um pacato senhor vindo da Palestina, interpretado por Ben Kingsley. Quando o grupo de soldados o acha não demora até ele se permitir ter orgulho pela patente que tinha, lembrando até o número de seu alistamento e aceitando seu destino.

    O suspense do filme e a construção da desventura de Eichmann é muito bem feita, mas as camadas exploradas vão muito além disso, compreendem uma ideia por parte dos israelenses que não consegue ter paz enquanto os responsáveis pelos atos do holocausto não estejam devidamente julgados e punidos, mesmo que isso não traga nem as pessoas que se foram e nem a paz dos que ficaram. O consolo de ver a justiça sendo feita ainda que seja em partes funciona como um breve alívio de uma dor que acompanhou todo um povo, o roteiro de Mathew Orton faz questão de não desumanizar o personagem, ainda que seja preocupante para o espectador que tenha qualquer simpatia pela digital de Adolf / Ricardo, pois o tempo ter passado não aplaca qualquer ato nefasto anterior, ainda mais os que foram cometidos por ele. Acreditar que ele era só uma máquina na engrenagem é sinônimo de ingenuidade e até imaturidade.

    No entanto, sentimento é até esperado, de certa forma, pois Weitz propõe tantas camadas no personagem de Kingsley e amarra isso tão bem na relação com Malkin que não é inesperado que o espectador mais desatento ao quadro histórico não duvide dos crimes que Eichmann cometeu. As faces que o fascismo toma normalmente apelam para sentimentos muito humanos e para comportamentos típicos do homem comum, sendo falacioso e dissimulado para parecer um homem como outro qualquer e esse é um dos maiores perigos do nazi fascismo.

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  • Crítica | No Portal da Eternidade

    Crítica | No Portal da Eternidade

    No Festival de Veneza de 2018 um filme chamou muita a atenção do público e crítica. No Portal da Eternidade é um filme biográfico pouco convencional, começa narrado pelo herói, interpretado por Willem Dafoe, que é extremamente indelicado e aborda uma mulher de maneira brusca e bruta, pedindo para que a mesma pose para uma pintura sua. O filme de Julian Schnabbel se passa em 1888 e mostra Vincent Van Gogh morando em Arles, época em que ele mais trabalhou em suas obras artísticas, época em que ele se sentia extremamente triste, solitário e desamparado por não ter qualquer compreensão do mundo e sequer dos que o amavam.

    O filme não segue uma linha narrativa muito organizada, os fatos vão se avolumando a medida que o tempo passa e os encontros de Vincent são aleatórios. O encontro entre o protagonista e Gauguin de Oscar Isaacs por exemplo ocorre após ele ser expulso de um bar assim que o sujeito que permitiu que ele expusesse quadros de artistas ali perceber que ele monopolizou o espaço, colocando somente suas peças de arte. Sem nem perceber, o grito incontido do artista comunicava o seu desejo de ser exibido e ser compreendido por publico e pelos apreciadores da arte.

    Schnabbel tem um registro bastante poético do processo e preparação do homem biografado, desde a lenta montagem do ateliê até a hora que o pincel toca a tela. Tudo é muito certeiro e bem pensado, com o roteiro emulando todo o processo metódico de Van Gogh. Impressiona como um sexagenário consegue encarnar tão bem uma figura icônica que morreu balzaquiana. Dafoe da um grande sopro de vida ao personagem e não é à toa que ele ganhou prêmios em Veneza, assim como Schnabbel.

    Até os detalhes da rotina ordinária de Van  Gogh são bem exploradas e tem seus motivos poetizados. Vincent não tem o costume de tomar banho e peregrina sempre mesmo sem essas condições de higiene. O odor forte representa a sua derrota existencial, exemplificando o quanto ele se sente deslocado socialmente e do restante da civilização.

    O filme só rompe a barreira do ordinário e passa a ser extraordinário graças a câmera estar em cima do ator , em especial quando detalha as mãos que pretensamente tanto pintaram. O ato de registrar em tela as raízes é acompanhado de uma agorafobia (e misantropia) típica do personagem. Quando cercado de crianças que fazem um passeio pela mata, ele tem sua arte mal julgada e sua reação é hostil, e selvagem, como a de um animal irracional quando está acuado.

    A angustia do artista é mostrada de múltiplas formas, seja na solidão que normalmente o incorre, ou nos questionamentos a respeito de seu modo expressar sua arte. Suas válvulas de escape são pessoas distantes, como seu irmão, que vende suas obras e suas paixões são pessoas proibidas, casadas. Nesse ponto se explora bastante o desejo suicida do homem, manifestada não só no auto mutilamento, mas também no olhar desolado de Dafoe. Há uma cena em especifico muito bem feita, onde ele tenta fugir pelo descampado, onde Schnabbel mostra o quão soberbo é o seu domínio de câmera, conseguindo acompanhar a corrida do homem sem cortar, maximizando a sensação de desespero do sujeito.

    Gauguin está certo em uma de suas falas, Vincent  está mesmo cercado de pessoas vis e ignorantes que se escondem atrás da falsa crença de serem simples para serem egoístas e para se sentirem superiores, então o retiro de Van Gogh até faz sentido por ele se afastar desse tipo de gente, mas sua aproximação das novas pessoas não é muito diferente. A trajetória que No Portal da Eternidade propõe é de um homem que não se encaixava na sociedade e que nem com um talento grandioso fazia sentir-se bem ou ao menos aplacado minimamente. Ser reconhecido após a morte torna-se uma grande ironia e o iguala a Jesus que só foi falado 30 40 anos após a cruz ( Edgar Allan Poe TB só foi conhecido postumamente), e de certa forma conversa  com a fé que Vincent professava. Schnabbel consegue montar um belo retrato do pintor, que conseguiu neste período analisado fazer 75 quadros em 80 dias mas que não conseguiu encontrar a si mesmo em meio a esse desespero.

    https://www.youtube.com/watch?v=iMsN_tNznUY

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  • Crítica | Operação Final

    Crítica | Operação Final

    Ainda sob os vestígios ultra recentes de uma segunda grande guerra mundial, agentes secretos israelenses descobrem que um oficial nazista, responsável por inúmeras mortes e tragédias, está refugiado na Argentina. Nisso, uma operação toma forma para capturar o perigoso e calculista Adolf Eichmann, a fim de levá-lo a responder por seus crimes em Israel, e evitar assim a impunidade que pode parecer existir a qualquer outro que queira seguir os seus exemplos homicidas. E é justamente essa busca ambígua por justiça que norteia a trama do melhor filme da carreira de Chris Weitz, o cineasta de O Céu Pode Esperar e A Saga Crepúsculo: Lua Nova.

    Pela sua narrativa cheia de pequenos grandes episódios, todos preocupados a explicar cada detalhe de uma história de perseguição por meio de diálogos expositivos, Operação Final parece, em inúmeros momentos, ser baseado em algum livro semi ou totalmente desconhecido sobre as consequências do maior conflito da humanidade a ferir seus direitos básicos, e provocar mazelas civilizatórias e culturais ainda muito sentidas, principalmente nos idos que o filme de Weitz se passa. Todos ainda lidam com seus traumas, e tocam a vida como podem, principalmente em solo israelita, entre bares e casas de família ainda sob uma tensão que parece, aos poucos, dar lugar a uma paz ainda que ilusória.

    Na verdade, pode-se fazer aqui um paralelo bastante curioso e deveras específico com O Espião que Sabia Demais, outro exemplar desse mundo de agentes secretos cuja atmosfera de desconfiança e de paranoias onipresentes é bastante similar a obra, em questão. Ambos os filmes conseguem nos seduzir facilmente, e com muito charme e elegância, para esse mundo onde tudo é uma pista em potencial rumo a um alvo único, ou não, e ninguém é confiável nas trevas onde esses agentes operam. Uma realidade na qual seus profissionais estão condenados a ter uma vida pessoal interrompida por qualquer ligação chamando ao dever, a qualquer hora, e seria por isso que Oscar Isaac encaixa-se perfeitamente no papel de Peter Malkin, peça-chave na operação rumo ao paradeiro de Eichmann. Poucos atores conseguem atuar sem alma nos olhos igual Oscar. Eis então o típico homem de gelo.

    Junto de um pequeno grupo de aliados infiltrados na América Latina, Malkin chega a Argentina e rapidamente captura o oficial nazista, conseguindo prendê-lo sem dificuldades tamanha a precisão da operação título, só para descobrir que tudo ficaria mais difícil a partir de agora, pois Eichmann não se propõe a ajudar ninguém através de suas declarações, mesmo sendo deixado vivo e alimentado pelo povo que ajudou a executar. Ben Kingsley encarna o vilão com maestria esperada para um velho mestre do seu naipe, e nas cenas de reclusão, em seu quarto escuro manipulando oficiais israelenses com mil e uma palavras, sua atuação certamente torna-se a coisa mais preciosa de Operação Final, e quando nazista e israelense começam a estreitar laços de afinidade, e amizade, a linha entre pessoalidade e profissionalismo desfoca em todos os sentidos. A forma como Weitz acha humanidade na sua história é interessante, extraindo um drama saudável tanto de uma relação imprevista, quanto de uma fatia histórica praticamente impossível de se ignorar.

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  • Crítica | Aniquilação

    Crítica | Aniquilação

    Ao assistir The Cloverfield Paradox, a fantasia lançada na Netflix em 2018, depois da Paramount jogar a bomba no colo da plataforma online já visando o fracasso que tinha em mãos, tive a certeza retumbante em poucos minutos de exibição, o que se concretizou no final de uma trilogia que começou de forma decente, e acabou de maneira vergonhosa: Hollywood está vivendo desde alguns bons anos a síndrome das boas ideias em mãos completamente equivocadas. Essa cria de J.J. Abrams talvez seja um dos auges desta epidemia, mas há outros exemplos tão simbólicos a esse problema quanto o longa em questão que a Netflix aceitou alojar.

    Entre tantos títulos que deixaram a desejar nos últimos anos, um número que só cresce entre boas e poucas ideias mal germinadas pela qualidade da produção atual do mainstream, lembro-me ainda sobre a expectativa em torno de Elysium, em 2013. Essa destacou-se por envolver um filme de premissa fantástica, mas ambiciosa demais para o cineasta que ousou projetá-la na tela, com toda a parafernália de efeitos digitais, contexto sociopolítico e grande elenco que usou como muletas e meros atrativos para um distopia frustrante, e absolutamente esquecível.

    Contudo, o problema aqui vai além. A escala dos eventos no filme de Alex Garland são muito menores que o épico espacial estrelado por Matt Damon, e por não ter responsabilidades em fazer uma aventura explosiva para atrair o grande público, o tratamento inteligente dos temas e subtemas empregados em Aniquilação, adaptação do livro homônimo de Jeff VanderMeer (leia nossa resenha sobre o romance), torna-se muito mais enfático, simples e preciso na abordagem dos mesmos, seguindo os passos de cinco mulheres cientistas enviadas à zona, um local inabitado onde inúmeros mistérios desamparados pelas leis da física as aguardam. Uma premissa tão curiosa, e tão poderosa em sua significação, que mesmo para um diretor iniciante cujo currículo nota-se um Ex-Machina, a melhor ficção científica da década, profundamente contemplativa, filosófica e inteligentemente econômica em tudo que induz a nossa reflexão, o resultado poderia facilmente estar mais uma vez acima de qualquer média qualitativa recente.

    Natalie Portman, Oscar Isaac (sofrendo nessa segunda vez na parceria com o cineasta) e a ótima atriz Jennifer Jason Leigh fazem o que podem, perdidas no suspense que o elemento metafísico produz nas relações e destinos das suas personagens. O longa se passa numa espécie de lugar-situação, um plano paralelo despreparado para a humanidade e a sobrevivência no local, mas é incrível como o filme desaba quando aposta na expansão dos seus temas e vai além do minimalismo do começo, ou melhor dizendo, das primeiras cenas. Garland, talvez se presumindo genial, um Nolan da vida, usa seu filme em raros e tímidos momentos para trilhar o caminho entre a ficção científica sensata, e o tudo-pode da fantasia ilógica, explorando com brevidade e insegurança o limiar entre uma e outra. O resultado é insosso, inconstante e completamente incompleto, não importa em qual plataforma o filme esteja disponível.

    Salvo uma sequência ou outra lá pelo meio do filme, como quando as cientistas se deparam pela primeira vez com uma forma de vida típica da zona que investigam, tudo é de um mau gosto irritante e mais vasto que os territórios por onde nos aventuramos. Já tivemos, em 2014, um Solaris para o grande público chamado Interestelar, e agora temos um Stalker enlatado para as massas que desconhecem o valor de um Andrei Tarkovski, gênio do cinema que não chegou a assistir a desglamourização de uma de suas mais inconfundíveis assinaturas, muito além do talento de um principiante que não se chama Orson Welles: a construção profundamente cinematográfica de um pensamento filosófico sobre determinado tema, sempre a favor de uma ação enigmática na tela encenada para ser revista inúmeras vezes, e com a mais devota das percepções possível, sendo este o exato oposto desta farsa intitulada de Aniquilação.

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  • Crítica | Suburbicon: Bem-Vindos Ao Paraíso

    Crítica | Suburbicon: Bem-Vindos Ao Paraíso

    Em sua sexta incursão por detrás da câmeras em um longa-metragem, George Clooney se reúne a dois roteiristas de peso, Joel e Ethan Coen, e ao parceiro Grant Heslov (Caçadores de Obras-Primas, Tudo Pelo Poder, Boa Noite e Boa Sorte) para uma narrativa de humor negro situada em 1959, em um subúrbio que reflete o sonho americano.

    Suburbicon: Bem Vindos Ao Paraíso se inicia como um anuncio antigo, informando sobre esse local quase idílico em que é possível viver com os mesmos confortos de uma cidade grande, sem os problemas enfrentados por grandes metrópoles. É neste local que residem os Lodge, uma família tradicional que após sofrer uma invasão por assaltantes, destroem a imagem de um grupo perfeito cedendo a vingança, chantagem e traição.

    Escrito na década de 80 pelos Irmãos Coen, dois anos após o lançamento de Gosto de Sangue em 1984, o roteiro foi desengavetado por Clooney, além de ter sido alterado com novas subtramas, como a presença da primeira família negra no bairro, um evento baseado em um fato real que culminou em violência e agressão contra a família.  Em pouco tempo de exibição, é possível perceber o estilo narrativo dos irmãos, a crítica estabelecida sobre a falsa perfeição da sociedade americana e as consequências de um crime que destroem a família, revelando as camadas podres por debaixo da pintura. A conhecida comédia de erros tão bem definida no clássico Fargo – Uma Comédia de Erros.

    A reescrita do antigo roteiro com acréscimos de subtramas para encorpá-lo é um feito visível na tela. A história envolvendo a família negra é mal aproveitada, funcionando mais como um pano de fundo mostrando as tensões da época do que mais uma denúncia contra o falso moralismo americano. Enquanto a trama central parece esconder inicialmente a índole dos personagens, como se o público não soubesse se tratar de uma trama crítica. Ao evitar abordar a família como um grupo corrupto, salvo o pequeno garoto Nicky, o filme perde tempo excessivo decompondo o pai de família. Se desde o início ele fosse desenvolvido como um homem imoral, a crítica poderia ser mais eficiente.

    O universo estabelecido em cena sobre um bairro idílico é funcional, a paranoia e o preconceito envolvendo a família de negros é perceptível como se o bairro sob a grama aparada e os sorrisos representasse um mundo as avessas. Matt Damon e Juliane Moore dão um pouco mais de cor há um roteiro mal desenvolvido, bem como o coadjuvante Oscar Isaac brilha em suas únicas duas cenas. Porém, nada parece suficiente para causar incômodo nem estabelecer uma crítica profunda como era a intenção inicial.

    A ideia de Clooney em restaurar um antigo roteiro dos Coen é interessante e seria bem representativo como crítica se sua trama não parecesse desequilibrada. Como uma comédia de erros, a própria execução da trama se tornou também um erro. Suburbicon se destaca apenas por poucos bons momentos, lembrando-nos que tanto o diretor quanto os roteiristas já estiveram em melhor forma.

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  • Crítica | Star Wars – Episódio VIII: Os Últimos Jedi

    Crítica | Star Wars – Episódio VIII: Os Últimos Jedi

    No final de outubro de 2012, a Disney anunciou a compra do grupo Lucasfilm e, de cara, anunciou uma nova trilogia e o retorno do cast original para concluir a saga da família Skywalker criada por George Lucas. Coube a J.J. Abrams a dura tarefa de colocar as primeiras marchas no projeto, dirigindo e escrevendo (aqui, com o auxílio de Lawrence Kasdan), o sétimo episódio da franquia, O Despertar da Força. A dura tarefa da qual me refiro é que, por uma questão de mercado, talvez pura e simplesmente, o Episódio VII, não deveria agradar somente os fãs da saga, que são aqueles que fizeram de Star Wars o maior fenômeno da cultura pop desde o século passado, mas sim, angariar novos fãs, dos mais novos aos mais velhos. Com isso, a decisão de praticamente espelhar O Despertar da Força com Uma Nova Esperança, algo bastante controverso, diga-se, foi a decisão mais acertada. Porque agora faz todo sentido.

    O universo de Star Wars é extremamente rico, e com o novo capítulo entregue e direcionado por Abrams, fez com que o diretor Rian Johnson pudesse explorar uma enorme tela em branco com os pincéis entregues em O Despertar da Força, saindo do usual, entregando um filme diferente, mas que ainda assim, traz aquela sensação de estar em casa.

    Star Wars: Os Últimos Jedi parte exatamente de onde o anterior parou. Poe Dameron (Oscar Isaac) se engaja numa missão quase suicida, liderada pela General Leia (Carrie Fisher), com a finalidade de dar mais tempo para a frota da Resistência fugir da temível Primeira Ordem, que ganhou ainda mais força após a destruição da República no filme anterior. A missão gera o argumento principal da trama e abre espaço para que o elenco principal se separe em suas missões pessoais, assim como O Ataque dos Clones e O Império Contra-Ataca (os segundos capítulos de suas respectivas trilogias), liberando o caminho para as boas participações dos novos personagens, como a Vice Almirante Holdo (Laura Dern, se doando ao máximo), Rose (a simpática Kelly Marie Tran) e DJ (Benicio Del Toro). Enquanto isso, Rey (Daisy Ridley), ainda extremamente preocupada sobre suas origens e parentescos, tenta convencer o recluso e desacreditado mestre Jedi, Luke Skywalker (Mark Hamill), a treiná-la e a ajudá-la a derrotar a Primeira Ordem. Já no lado vilanesco, o cada vez mais caricato, General Hux (Domhnall Gleeson), continua sua rivalidade com Kylo Ren (Adam Driver), que vem sofrendo pesadas retaliações de seu mestre, o Supremo Líder Snoke (Andy Serkis). Importante ressaltar que tanto Driver quanto Gleeson (que tiveram antes suas atuações contestadas) se destacaram em seus papeis, merecendo reconhecimento aqui.

    Obviamente, o retratado no parágrafo acima é apenas uma projeção bem longínqua daquilo que aconteceu no filme, uma vez que o segredo com relação ao enredo e demais tramas paralelas foi tão grande que nem os atores foram a autorizados a revelar qualquer coisa por menor que seja.

    O desejo de Johnson para com esse filme era que o espectador pudesse ter uma experiência total, provando todas as sensações que o filme oferece e causa. E é justamente esse o maior mérito do diretor, que ao escrever uma história, ao longo de suas longas duas horas e meia de fita, focou em conexões muito fortes entre os personagens, dando o destaque individual de cada um de maneira bem justa, além de conseguir fazer com que aquele que assistia experimentasse as mais diversas sensações do primeiro ao último ato. O diretor brinca o tempo todo com o espectador: coloca desconfiança onde se deveria haver confiança, lealdade onde deveria ser o contrário, além de diversas suspeitas com relação às atitudes de diversos personagens, além de plot twists fortes, certeiros e totalmente dentro do contexto, o que faz com que não soem gratuitos em momento algum. Algo que merece uma atenção especial é a atuação de Mark Hamill, já que vemos Luke Skywalker dialogando pela primeira vez desde O Retorno de Jedi. Em muitos momentos é possível viajar no tempo e ouvir a voz do “bom e velho jovem Luke” da trilogia original, contrastando com o homem que se tornou.

    Toda esse mix de experiência faz com que o Episódio VIII tenha, ao menos, cinco ou seis momentos que, se não forem os melhores de toda a franquia, estão entre os melhores. São momentos que vão causar gritos, aplausos, risos (muitos deles) e choros dentro da sala do cinema.

    Além do elenco totalmente entregue ser causador de parte dessas sensações, outras delas são causadas pelas sensacionais batalhas, cenas de luta e diálogos que vão fazer você se arrepiar. Não é a toa que o planeta conhecido como Crait foi o escolhido para ilustrar os temas dos pôsteres de divulgação do filme, sempre vermelhos, contrastando com o branco, o que ilustra de maneira lúdica e abstrata, as “pinturas” de Johnson mencionadas parágrafos acima. Tudo muito bonito e bem feito, juntamente, claro, da fantástica trilha sonora, assinada, mais uma vez, pelo mestre John Williams, que conseguiu cravar em nossas mentes os novos temas apresentados no filme anterior, complementando com os clássicos que já conhecemos desde 1977.

    Star Wars: Os Últimos Jedi é o resultado do cérebro megalomaníaco de Johnson, aliado pelo amor que possui pela franquia e o resultado não poderia ser melhor, uma vez que o filme tem tudo que o gênero precisa, na dose certa. Agora, o desafio maior é preparar o terreno para o encerramento na história que marcará o retorno de J.J. Abrams na direção, após o afastamento de Colin Trevorow. Ainda há muitas pontas soltas e várias perguntas que só serão respondidas em 2019. Até lá olharemos para frente, sempre buscando o horizonte, assim como Luke Skywalker.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Star Wars: Episódio VIII | Comentamos o novo trailer de Os Últimos Jedi

    Star Wars: Episódio VIII | Comentamos o novo trailer de Os Últimos Jedi

    Rian Johnson bem que tentou avisar, mas aposto que ninguém deu ouvidos e muita gente se arrependeu. Quando perguntado no Twitter sobre o novo trailer, o diretor de Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi foi categórico: “estou legitimamente dividido. Se você quiser vir limpo, absolutamente o evite. Mas está booooooooom…”. Ou seja, o fã deveria evitar assistir ao trailer se quisesse ter uma experiência emocional completa. Não adiantou e o trailer, em pouco mais de dois minutos e meio rachou o planeta nas mais variadas sensações. Só nos resta saber se a prévia entregou demais a trama ou, se no fundo, a Lucasfilm estava apenas jogando com as palavras e com as imagens. Nossa aposta é a segunda opção, mas ainda assim, a sensação de cansaço pós trailer existe e perdura.

    Logo de início vemos um plano mostrando Kylo Ren (Adam Driver), de costas, observando as instalações da Primeira Ordem. Nota-se uma estranha semelhança com Anakin Skywalker. Além deste plano, demais imagens, como a primeira aparição dos andadores, que são uma evolução dos AT-AT de O Império Contra-Ataca se preparando pra batalha. Enquanto isso, a voz em off do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis) dizendo para alguém que quando encontrou aquela pessoa, viu nela um poder bruto e incontrolável e que além disso, algo verdadeiramente especial. A imagem corta para Rey (Daisy Ridley) acionando o sabre de luz e as imagens a partir daí mostram ela entregado o sabre a Luke Skywalker (Mark Hamill), onde também uma voz em off da personagem ecoa entre as imagens, dizendo que algo esteve sempre dentro dela e que agora essa coisa despertou e ela precisa de ajuda. Enquanto essas palavras são proferidas, vemos imagens de Rey praticando com o sabre e visitando uma árvore, que, aparentemente é uma árvore da Força, algo que já foi discutido em Rebels. Mas o que mais assusta é quando a jovem aprendiz, durante uma meditação, consegue rachar o local de pedra em que Luke e se encontram, deixando o mestre Jedi apavorado.

    Não dá pra saber ao certo em que momento do filme isso acontece e é muito provável que essas cenas não se comunicam entre si, mas Luke, com um olhar preocupante, aparece dizendo que já viu esse poder bruto uma vez, enquanto imagens de flashback do ataque de Kylo Ren ao templo Jedi de Luke aparecem na tela. Skywalker completa dizendo que aquele poder não o assustou na época, mas que agora o assusta. As imagens se voltam para Kylo Ren, onde o jovem, num momento shakesperiano, olha para sua máscara para, imediatamente, destruí-la na parede com todo ódio possível. Enquanto isso, sua voz, também em off, fala sobre deixar o passado morrer, matá-lo se for preciso, sendo o único jeito de cumprir o seu destino. Outro momento assustador é que enquanto Ren profere as palavras, ele aparece pilotando de forma habilidosa seu caça Tie numa incursão contra a Resistência, outro momento que deve ser um dos 3 grandes do filme.

    Kylo percebe que Leia (Carrie Fisher) está na nave e ela o confronta com a Força. Podemos perceber claramente que o filho da general fica abatido, mas ainda assim, não o suficiente para travar a arma na nave e colocar o dedo sobre o botão de disparo, o que deixa Kylo e Leia agoniados. Vemos em seguida Chewbacca à bordo da Millennium Falcon, fugindo de caças Tie dentro de uma caverna bem apertada (algo já bem estabelecido na franquia) para em seguida vermos imagens de Poe Dameron (Oscar Isaac) provavelmente estando junto da mesma frota em que Leia se encontra, onde o ótimo piloto diz em off que eles são a faísca que acenderá a chama que destruirá a Primeira Ordem e o que vemos a seguir é uma linda imagem onde Finn (John Boyega) e Capitã Phasma (Gwendoline Christie) partem para cima um do outro. A fotografia desse trecho é algo fora do comum.

    O trailer continua com imagens bem mais rápidas da batalha que se dá no espaço, de Rey numa caverna, dentro do refúgio de Luke, além de trechos da batalha no deserto do planeta Crait, onde os AT-AT se preparavam. Podemos ouvir Luke dizendo (provavelmente para Rey) que as coisas não vão acontecer do jeito que ela imagina, para em seguida Snoke aparecer pela primeira vez em carne e osso, enquanto tortura Rey com o uso da Força, dizendo para ela completar seu destino. E aí acontece o que pode ser a maior pegadinha do trailer. Rey diz que precisa de alguém que mostre o lugar dela nisso tudo para Kylo Ren estender a mão para ela.

    De fato, o primeiro trailer completo de Os Últimos Jedi é bastante obscuro e enche a cabeça do fã de dúvidas, anseios e interrogações. Mas, analisando friamente as imagens, a única conclusão é que Rey e Kylo são os dois de suas gerações e ponto. A Força é extremamente poderosa neles e Snoke, por algum motivo, sentiu isso ao descobrir Kylo Ren, remetendo à Rey como algo especial, ou vice-versa, uma vez que Snoke pode ter chegado em Kylo com o único objetivo de chegar, na verdade, em Rey.

    Outro ponto que se deve ter bastante atenção é que Luke parece sim estar assustado com o tamanho do poder de Rey, remetendo, portanto, ao sentimento que teve quando seu templo Jedi foi destruído. É bastante provável que ele estivesse falando de Kylo (naquela altura, Ben, seu sobrinho) e que dali para frente, ao conhecer o poder de Rey, se negar a dar continuidade ao treinamento da aprendiz por ter falhado uma vez. A julgar pelo que Snoke fala sobre o poder bruto e incontrolável que veio com uma agradável surpresa e pelo fato de Luke ter visto tamanho poder duas vezes, se tem a conclusão que Rey e Kylo possuem uma forte conexão um com o outro, o que pode indicar algum possível parentesco.

    No que diz respeito ao emotivo momento entre Leia e Kylo, acredita-se que o jovem cavaleiro, ao hesitar em atirar na nave de sua mãe (sendo que já matou o próprio pai), não tomará ação alguma e isso, de certa forma, poderá permitir que Kylo tenha uma possível salvação para o lado da luz em contrapartida à Rey, que poderá ceder ao lado negro da Força após ser capturada. Mas, ainda assim, com relação ao final do trailer, é muito provável que a jovem estivesse falando com Luke sobre precisar de alguém que mostre o lugar dela nisso tudo, pois podemos perceber que tanto a luz, quanto o cenário em que Kylo Ren aparece estendendo sua mão são levemente diferentes em relação a onde Rey se encontra.

    Como a Lucasfilm tem seguido um padrão com a franquia, acredita-se que um segundo trailer poderá ir ao ar um tempo antes da estreia do filme.

    Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi chega no Brasil dia 14 de dezembro de 2017.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Star Wars Celebration | O painel de Os Últimos Jedi, o primeiro pôster e o primeiro teaser

    Star Wars Celebration | O painel de Os Últimos Jedi, o primeiro pôster e o primeiro teaser

    Por volta do meio dia, horário de Brasília, desta sexta-feira, teve início o painel de Star Wars: Os Últimos Jedi, na Star Wars Celebration, em Orlando. Como o próprio nome diz, o evento anual busca celebrar Star Wars em todas as plataformas, seja cinema, televisão, games e etc. Durante todo o final de semana teremos novidades a respeito de muita coisa bacana, como foi o caso do painel de Os Últimos Jedi, que assim como em 2015, por causa de O Despertar da Força, trouxe ao palco parte do elenco principal, que nos apresentou curiosidades acerca da produção, encerrando a festa com um belo teaser.

    O apresentador da vez foi o ator Josh Gad, que há meses, vem atormentando Daisy Ridley pelas redes sociais implorando por qualquer informação sobre o mais novo filme da franquia, cujas informações, até então, eram mantidas em absoluto sigilo. O painel teve pouco a relevar, mas, de qualquer forma, para quem não tinha nenhuma notícia, foi bem elucidativo.

    De início, Gad chama ao palco a presidente da Lucasfilm, Kathleen Kennedy, e o diretor Rian Johnson que teve uma recepção calorosa por parte do público. Johnson estava visivelmente desacreditado naquilo que estava vendo (e se manteve assim por todo o painel). O diretor, que esteve presente no painel sobre os 40 anos da saga, somente para assisti-la, ficou até as 3 horas da manhã atendendo todos os fãs lá presentes, o que é incrível.

    Ao ser perguntado sobre o atual status do filme, o diretor respondeu que Os Últimos Jedi se encontra em fase de pós produção, editando e juntando as peças para a edição final. Kennedy adicionou que Johnson está no caminho certo e já figura na lista dos principais diretores com quem ela já trabalhou. Johnson é um diretor muito único e escreve tão bem quanto dirige, principalmente quando se trata de escrever sobre mulheres independentes e destemidas.

    No mesmo tempo em que davam informações sobre o processo de filmagem, fomos apresentados a algumas fotos de bastidores tiradas pelo próprio diretor com sua câmera analógica particular. Ele explicou que era o único que tirava fotos das coisas sem levar um chute na cara.

    Com relação à Carrie Fisher, Johnson conta algo interessante: passava horas sentado na cama da atriz discutindo sobre o roteiro e a General Leia e que após 6 horas de conversa, riscava tudo que havia escrito e mudava o roteiro.

    Era o momento oportuno para Josh Gad chamar Daisy Ridley ao palco. A atriz usando o coque samurai de Rey estava visivelmente sem graça com tamanha recepção. Gad pede perdão por te-la pentelhado por diversas vezes e avisa que ela deverá tomar cuidado, já que a plateia é muito agressiva. O apresentador continua brincando com Daisy, fazendo as perguntas mais ridículas, querendo saber se Rey e Luke são conectados pelo sangue, se o sobrenome dela é Skywalker ou Kenobi, ou se ela somente se chama Rey e mais nada, como se ela fosse a Madonna de Jakku. Passadas as brincadeiras, Ridley foi perguntada se ela se divertiu trabalhando em Os Últimos Jedi e a atriz comenta que o que ela pode dizer é que a trama se aprofunda mais ainda na história de Rey e que ela tem uma certa expectativa em relação a Luke e que muitas pessoas podem passar por isso quando conhecem algum herói e que a experiência pode não ser exatamente como você espera.

    Após uma graça com BB-8 no palco, John Boyega é chamado e o ator teve, o que seja, talvez, a recepção mais calorosa da noite. Boyega explicou que Finn está passando por um processo de recuperação de suas costas gravemente feridas em O Despertar da Força, mas que o personagem voltará com força total e que, desta vez, não está para brincadeiras. Contudo, Boyega afirma que Finn pode estar passando por incertezas sobre o tipo de pessoa que ele quer ser. O personagem, pelo visto, não sabe se quer se juntar à Resistência, ou se continua fugindo da Primeira Ordem.

    Já no que diz respeito à Primeira Ordem, Rian Johnson explica que a destruição da base Starkiller foi uma grande perda, porém, com a República destruída, a galáxia está um caos e as coisas podem ficar feias por conta disso.

    Falando sobre novos personagens, Johnson explica que Os Últimos Jedi traz alguns novos rostos e ele chama ao palco Kelly Marie Tran, um desses rostos que tem grande participação no filme. O diretor adverte que o público vai amá-la. A sorridente atriz disse que escondeu da família por 4 meses que estava no filme. Tran interpreta Rose, uma mulher que faz parte da Resistência e que é da área de manutenção. Johnson traça um paralelo com Luke Skywalker e Rey, que são puxados pra fora da vida que levam e são colocados numa aventura inesperada. Nem Luke, Rey ou Rose eram heróis, ou soldados antes de se tornarem as pessoas que são.

    É chegada a hora de Mark Hamill subir ao palco e uma nova foto de Luke Skywalker é mostrada. Vale destacar que todos os personagens tiveram fotos oficiais apresentadas durante o painel. O ator, que parecia estar muito cansado, mas muito atencioso e brincalhão, disse que Rian Johnson foi até sua casa para conversar sobre o roteiro e coisas do filme e que Hamill disse a Johnson que uma das coisas que ele mais gosta de Rogue One e da trilogia prequel, é que Luke Skywalker não está lá e que ele podia relaxar e aproveitar, sem sofrer a ansiedade em saber se estava fazendo a coisa certa ou não e que ele, naquele momento, estava apavorado. A resposta de Johnson foi que ele também estava apavorado por ter um filme de Star Wars na mão e que por tais motivos, confiou tudo em Johnson e que se o diretor estivesse satisfeito, Hamill também estaria. O ator foi perguntado como foi achar a voz de Luke Skywalker novamente após tantos anos, tanto vocalmente, quanto metaforicamente e Hamill disse que em O Despertar da Força, tudo que se sabia era que Luke era um eremita vivendo num local isolado e que não se tinha nem ao menos informações sobre seu passado e sobre o que aconteceu desde os acontecimentos de O Retorno de Jedi e ele, como ator, gostaria de saber sobre o background de seus personagens, mesmo não sendo importante para a trama, somente com o intuito de desenvolver o personagem. Esse tipo de pensamento foi muito importante para Luke em O Despertar da Força, então, Hamill escreveu sobre o próprio passado de Luke e deu a entender que o filme não é mais sobre Luke Skywalker, mesmo ele sendo uma peça importante para o desenvolvimento da história e que ainda vai existir muito mistério sobre sua participação, mesmo ele estando realmente no filme. Neste momento, Hamill foi interrompido por Kathleen Kennedy e a presidente assegura aos fãs que Luke Skywalker é significativamente importante para o filme.

    Perguntado por Gad se trouxe algum material para mostrar, Rian Johnson joga um banho de água fria na plateia, dizendo que trouxe o primeiro teaser pôster do filme e o que se vê é a fantástica imagem abaixo que traz Rey, Luke e Kylo Ren:

    Após a epifania causada pelo pôster, Johnson avisa que vai ter trailer, sim e o exibe duas vezes para o público. Confira abaixo:

    Johnson, visivelmente emocionado, agradece o público pelo apoio e encerra o painel.

    Star Wars: Os Últimos Jedi estreia no Brasil em 14 de dezembro de 2017.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | X-Men: Apocalipse

    Crítica | X-Men: Apocalipse

    x-men apocalipse posterA quarta empreitada de Bryan Singer na franquia dos mutantes da Marvel inicia-se um pouco atrapalhada, com a introdução ao personagem de En Sabah Nur, o primeiro mutante conhecido, que vivia no Egito como um deus, acompanhado de seus quatro cavaleiros, referência ao livro bíblico das revelações (Apocalipse). A sequência ocorrida no império egípcio, além de fraca, parece ter sido retirada das cenas adicionais de Deuses do Egito, mas logo recobra a sobriedade da franquia, quando remete a uma citação à abertura de X-Men: O Filme, também dirigido por Singer.

    X-Men: Apocalipse segue o rastro do início do reboot em X-Men Primeira Classe, retornando às origens da franquia, praticamente levando em conta somente os filmes que Singer fez parte do controle criativo, ainda que reinventando muito dos momentos clássicos. Já no início é mostrada uma luta na jaula, em muito semelhante à introdução do Wolverine, de Hugh Jackman no filme de 2000. Outro aspecto repetido é a importância do aprendizado, dessa vez usando Scott Summers, de Tye Sheridan, como a Vampira da vez, servindo ao arquétipo de orelha ao espectador como elemento novo desse universo já estabelecido.

    X-Men-Apocalipse

    Como já havia ocorrido em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, há uma exploração interessante para a discussão da discriminação, nesse caso utilizando o homo superior, ainda que a gravidade do conteúdo das discussões seja um pouco mais fraca. Os dois avatares principais dessa questão são a nova Ororo Munroe (Alexandra Shipp), uma ladra africana que está aprendendo a usar seus breves e pequenos poderes, se esgueirando pelos becos, e a tímida Jean Grey (Sophie Turner), que é vista com maus olhos até por seus colegas, graças às manifestações estranhas de seus poderes magnânimos – aspecto já demarcado em X-Men 2 e mal aproveitado no filme de Brett Rattner – e claro, pela atenção que ela recebia do Professor X (James McAvoy), que serve de mentor a ela e a muitos.

    Apesar de consumir um bom tempo com este novo elenco, fazendo funcionar muito bem a transição – que neste caso faz lembrar bastante o espírito de Star Wars: Despertar da Força –, o mesmo não se pode dizer dos membros antigos. Tanto a Mística de Jennifer Lawrence quanto o Magneto de Michael Fassbender se envolvem em tramas desnecessárias, com uma piora no caso da personagem feminina, que se torna uma figura digna de inspiração mas que não consegue sustentar esse ideal de lenda viva, mesmo que tal situação gere um argumento de dicotomia, desconstruindo a figura do herói idealizado.

    Nesse ínterim, é até esperado que um vilão que não tem qualquer carisma consiga dominar corações e mentes. A versão ressuscitada de En Sabah Nur (ou Apocalipse) ocorre após uma coincidência incômoda, quando faz despertar o personagem de Oscar Isaac em uma situação boba e que poderia ter ocorrida em qualquer momento da história, bastando somente que o artefato mágico recebesse luz solar, como aconteceu com a invasão de Moira MacTaggert (Rose Byrne).

    X-Men Apocalipse ciclope noturno jean grey

    Dentre os elementos irritantes da trama rivalizam a inteligência limitada de MacTaggert, que tanto nos quadrinhos quanto nos filmes anteriores havia se mostrado uma pessoa hábil e inteligente, enquanto neste revela apenas uma moça com bons contatos. Além disso, claro, o overacting terrível que Isaac desempenha, com direito a distorção de voz comparável aos efeitos usados por programas de entrevistas famosos a fim de esconder a identidade do interrogado. Apocalipse falha como figura de ódio e temor, especialmente quando recruta seus asseclas e exceto no trato com Magneto, convencendo-o não por força, mas por ideologia, se aproveitando da fragilidade de sua alma com a perda recente de sua nova tentativa de vivência normativa.

    Ao menos no quesito ação, Bryan Singer está afiado. A cena de aparição de Wolverine é interessante e ajuda a explicar o elo deste com Jean e Ciclope. A violência da curta cena arrebata o público, e não tem qualquer pudor em mostrar sangue, adrenalina e a fúria assassina do personagem selvagem, ainda que seja moderada, quase como uma reprise de X-Men 2.

    X-Men-Apocalipse magneto

    Apesar de ser um filme de equipe, a jornada heroica certamente é mais focada em Xavier, em uma superação do patamar de herói clássico, que também ajuda a construir a figura de orientador e mestre. Na mesma medida em que Lawrence e Fassbender não são exigidos pelo roteiro, o desempenho de McAvoy consegue sobressaltar, inclusive, a falta de inspiração costumeira de Nicholas Hoult como Fera, servindo como peça fundamental não só da obsessão do vilão – aliás, único aspecto justificável em seu grandiloquente plano master – como também da relação com os alunos, em especial com a jovem Jean.

    X-Men: Apocalipse é a prova cabal de que a proximidade entre lançamentos de filmes semelhantes pode denegrir o produto, em especial para o público geral, que pode, ao final da sessão, entrar em outra sala para assistir a Capitão America: Guerra Civil, mesmo que seu tema não tenha tanto a ver com o de seus concorrente. Os retcons e mudanças na concepção soam mais irritantes que no filme anterior dos mutantes, e mesmo a versão de Singer para o mito da Fênix é tímida e explorada fracamente, possivelmente sendo guardada para o futuro.

    A pieguice toma a construção da conclusão, sendo o desfecho mais fraco da cine-série, mas que não denigre a parte escapista e descompromissada do drama. Com momentos de ação de tirar o fôlego e apuro bem competente nos efeitos especiais, também possui uma quantidade exorbitante de fan service, que, ao menos, são entregues em momentos cabíveis, compondo um filme óbvio, mas não decepcionante.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (3)

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força (3)

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    Maior fenômeno da cultura pop, maior franquia da história do cinema e com o filme mais esperado do ano (possivelmente da década), Star Wars dispensa comentários sobre sua importância. A decepção dos fãs com a nova trilogia encerrada em 2005 era nítida. Tamanha expectativa com a estreia de A Ameaça Fantasma em 1999 só foi igualada pelo tamanho da decepção com filmes tão ruins e que desrespeitavam praticamente todas as premissas estabelecidas na trilogia original. É dentro desse turbilhão de emoções que a franquia ganha em 2015 o primeiro de seus novos episódios, chamado “O Despertar da Força”, dessa vez sob o comando da Disney e direção de J.J. Abrams, com roteiro de Lawrence Kasdan, Michael Arndt e do próprio Abrams.

    Atingir uma expectativa tão grande não era tarefa fácil, e ciente da cobrança (provavelmente injusta) em cima de si, Abrams desde o início resolveu focar justamente onde a nova trilogia falhou: o respeito pela saga original, sua mitologia e simbologia. Dentro deste aspecto, o Episódio VII é muito eficiente. O visual se assemelha muito aos filmes originais, tanto nas cores, vestimentas e designs, como nos pequenos detalhes de botões em centros de comandos, luzes de painéis e toda a arquitetura interna e externa da chamada “Primeira Ordem”, que se assemelhava a do Império, quanto do restante da galáxia.

    A história gira em torno basicamente de dois personagens, Rey e Finn. Rey (Daisy Ridley), residente do planeta Jakku e que sobrevive juntando peças de antigas naves caídas em seu planeta, tanto do império quanto da aliança rebelde, em troca de rações de alimento. Dotada de um espírito perseverante e determinado, Rey sofre naquele cotidiano árduo, ela sonha com a volta de sua família para resgatá-la, já que vimos um flashback onde ela é ali abandonada. Finn (John Boyega) é um stormtrooper que deserta por se recusar a cumprir as ordens que recebe para executar habitantes de Jakku em sua primeira missão, que era recuperar o mapa da possível localização do antigo Jedi Luke Skywalker, em posse do piloto rebelde Poe Dameron (Oscar Isaac) e também buscado pelo vilão do filme, Kylo Ren (Adam Driver). Dameron o esconde em uma unidade BB, chamda BB-8, que encontra Rey, que encontra Finn, que encontram a Millenium Falcon, que é encontrada por Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew/Joonas Suotamo), e de onde a história principal se desenvolve como apresentada nos créditos iniciais: o objetivo é encontrar Luke Skywalker. Os rebeldes querem o retorno do antigo Jedi para ajuda-los, e a Primeira Ordem quer encontrar para destruí-lo, afinal enquanto um jedi estiver vivo, é uma ameaça a seus objetivos.

    Um ponto que o novo filme acerta em cheio é na escolha do novo elenco. Daisy Ridley e John Boyega possuem uma química raras vezes vista em filmes do gênero, o que mostra a noção perfeita dos produtores no casting, e como eles sabiam exatamente o que estavam buscando no filme (ponto positivo para escolherem como protagonistas um negro e uma mulher, tentando tornar o universo de Star Wars mais diverso). Atores mais conhecidos como Oscar Isaac e Domhnall Gleeson (General Hux) também agregam um enorme valor devido a seu talento, mas sempre ajudados por cenas construídas especificamente para os atores darem vida a seus personagens da melhor forma possível. Já Harrison Ford não consegue transmitir de novo o mesmo carisma do Han Solo que vimos na trilogia original. Notório carrancudo a respeito de Star Wars, Ford parece a todo tempo estar em modo automático, e apesar de seu papel funcionar bem na maior parte do tempo, parece não ver a hora de tudo acabar, até mesmo seu figurino demonstra essa preguiça, se assemelhando mais a um cosplay de Han Solo do que o legendário piloto. Tanto que seu destino no filme parece até mesmo saído de uma sugestão sua. Também retornam a seus papéis clássicos Carrie Fisher como a agora General Leia Organa e Anthony Daniels como C-3PO, além de R2-D2 (Kenny Baker).

    Star Wars: The Force Awakens Ph: Film Frame ©Lucasfilm 2015

    Porém, se em todo o respeito ao universo o novo episódio é irretocável, onde ele falha é justamente no excesso de cautela na fórmula da franquia. O Episódio VII recicla praticamente inteira a trama principal do Uma Nova Esperança de 1977. De novo vemos planos escondidos em um robô por um membro da resistência que é capturado pelo vilão principal e por ele torturado. De novo (pela terceira vez) temos uma arma grandiosa capaz de destruir planetas usada como forma de impor a força da “Primeira Ordem” no universo. De novo o plano dos rebeldes é montado em um diálogo expositivo rápido em frente a uma projeção. De novo o plano constituído é destruir essa arma com um ataque aéreo. De novo alguém precisa desabilitar um escudo internamente. De novo temos uma sequência aérea com direito a voos em uma trincheira e a arma é explodida. Tudo filmado de forma muito eficiente e empolgante, sem o marasmo dos episódios I, II e III. Porém, que ainda deixa o fã, lá no fundo, um pouco decepcionado, porque parece que tudo em Star Wars gira em torno de uma arma que precisa ser destruída. Se nos primeiros filmes ao menos o desenvolvimento dessa trama seguia um andamento mais lento, neste capítulo da saga o ritmo frenético do filme mal deixa o espectador respirar para absorver tudo o que está vendo na tela. Não há um momento de pausa, e talvez seja sinal dos tempos, mas um equilíbrio maior neste sentido poderia ter dado mais espaço aos personagens para se desenvolverem de forma mais subjetiva.

    Outro ponto também mal explicado é a origem da “Primeira Ordem”, organização que substituiu o antigo Império. Também não é falado nada a respeito de Kylo Ren e sua ordem, assim como seu mestre, Supremo Líder Snoke (Andy Serkis), o que reflete não uma tentativa de não contar muito da história, e sim um certo descuidado com o roteiro, afinal, essa falta de informação faz com que ambos os vilões não representem uma ameaça tão grande quanto Darth Vader no primeiro filme. Porém, a relação entre o braço militar da Primeira Ordem, representado pelo General Hux (em alusão clara ao nazismo) e o braço místico representado por Ren é muito bem construída, e a crescente tensão e disputa entre os dois personagens pela aprovação de Snoke serve como catalisador para diversas situações interessantes no filme, especialmente para Ren, que mostra uma fragilidade interessante ao se dizer tentado pela luz. Mesmo Adam Driver não entregando uma atuação maravilhosa, seus melhores momentos ainda ficam enquanto usa a máscara e entoa a voz mecanizada e assustadora que emula, propositalmente, Darth Vader. Outro personagem muito esperado pelos fãs, a Capitã Phasma (Gwendoline Christie), possui uma participação reduzida no filme, o que se pode extrair daí dois pontos: a menção a Boba Fett, personagem construído pelos fãs e que nunca fez muita coisa nos filmes, e que ela irá voltar nos próximos episódios, possivelmente com um papel maior.

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    Mas, mesmo com esses pontos negativos, o principal objetivo do filme é mantido, que era resgatar o espírito da franquia e a magia de se contar uma história dentro da mitologia que cativa tanta gente ao redor do mundo. A excelente cena de Rey tocando no sabre de Luz de Luke e tendo seu primeiro contato com a força utiliza de efeitos especiais como deve ser, em favor de se contar uma história. A Força é explicada a ele na cena seguinte por Maz Kanata (Lupita Nyong’o) relembrando os ensinamentos de Yoda em O Império Contra-Ataca, deixando de lado a bobagem pseudo-científica dos midi-chlorians inventada por Lucas em “A Ameaça Fantasma”. Outras pequenas homenagens ao universo também são feitas, quando Finn enfrenta com o sabre de luz um stormtrooper que empunha uma arma que lembra uma vibroblade em um duelo muito bem construído. A opção de Abrams pelos cenários reais ao invés do tão criticado CGI foi louvada por praticamente todos, e o resultado é nítido. Tudo parece real (e é!), nos fazendo acreditar em todo momento em tudo o que está acontecendo na tela. Em momento algum da projeção a credibilidade do filme é quebrada por conta de algum efeito especial mal acabado. Tanto os monstros mais simples quanto as excelentes e bem trabalhadas sequencias de confronto entre as X-Wings e os TIE Fighters passam um realismo que o fã de Star Wars sempre quis ver novamente, mas devidamente atualizado. A leveza do humor também consegue apagar o marasmo das tramas políticas da nova trilogia, e tanto BB-8 (sabiamente utilizado) quanto Finn (e também várias cenas com os stormtroopers) possuem cenas que tiram risos naturais da platéia.

    As cenas de luta também são outro ponto positivo, sendo muito bem feitas e distantes do balé estéril mostrado na nova trilogia, como o próprio Abrams havia deixado claro que iria fazer. Com pouco treinamento, não seria possível os personagens exibirem tamanha técnica nos duelos, o que torna a emoção e a visceralidade dos golpes e defesas ainda maiores. O duelo entre Rey e Kylo Ren, apesar de causar estranhamento inicial (afinal, como ela empunhando um sabre pela primeira vez iria competir com um mestre da ordem Ren?), consegue transmitir em poucos minutos uma carga dramática muito grande, e a superação de Rey utilizando a Força estabelece-a como o que era desde o início, um campo de energia que depende da pessoa usá-la e canalizá-la corretamente, não importando você ter décadas de treinamento de esgrima. O que importa é a Força, sua vontade, determinação e o quanto você acredita fielmente nela. Neste filme a Força é realmente importante e um de seus maiores méritos é justamente mostrar como ela é poderosa. Kylo Ren parando no ar um raio do blaster de Poe Dameron é fenomenal. O uso que faz da Força a todo momento nos mostra mais detalhes do que a saga havia mostrado até então. O mesmo acontece com Rey conforme ela vai descobrindo seus poderes enquanto vai sentindo-os.

    Portanto, “O Despertar da Força” entrega justamente aquilo que os fãs esperavam tanto. Um filme fiel as suas origens e que tratasse todo o seu legado com respeito. J.J. Abrams se declarou fã da franquia por diversas vezes, e talvez esse excesso de respeito tenha tornado o filme seguro demais, sem praticamente tomar nenhum risco sob o ponto de vista narrativo. Porém, com o tamanho estrago feito pelos três filmes anteriores da franquia, essa escolha é perfeitamente compreensível. O que podemos esperar agora é, com o universo novamente consolidado, que novos objetivos sejam traçados e que possamos ver novas histórias ser contadas de outras formas. O Império Contra-Ataca é o que é justamente porque a sua frente tem alguém que entende a linguagem cinematográfica mais do que entende de Star Wars. Entende a motivação por trás de cada personagem e as ações condizentes que eles deveriam tomar. Entende que pequenos detalhes fazem a diferença entre algo comum e algo fenomenal. Não fosse Irvin Keshner, Han Solo nunca teria dito “Eu sei” ao ouvir que Leia o amava. É isso que a franquia precisa.

    O Episódio VIII já tem seu diretor contratado, o novato e promissor Ryan Johnson, que sempre carrega uma atmosfera noir em seus filmes. Com tempo, um bom roteiro e um pouco de sorte, talvez tenhamos algo novo neste sentido. As expectativas agora estão mais altas do que nunca (ainda mais pela cena final do Episódio VII), pois a comparação da sequência ser melhor que o anterior, relembrando os episódios IV e V, será feita. Ao menos agora estaremos felizes esperando o próximo, e não mais apreensivos.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

    Crítica | Star Wars – Episódio VII: O Despertar da Força

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    Após um recomeço informal mas ainda assim acertado na franquia Missão Impossível e misturar novidade e reverência a um seriado laureado em Star Trek, J. J. Abrams finalmente dá vazão ao objeto que era seu sonho e o de muitos aficionados. Star Wars – O Despertar da Força começa tradicional, acompanhado do famoso letreiro vertical, iniciando sua trama novamente com uma perseguição espacial desigual, atendendo finalmente ao anseio de uma legião de seguidores, após péssima última trilogia.

    A condução do filme beira a excelência. Se em Star Trek os exageros de Abrams fez torcer o nariz de grande parte dos fãs, em Despertar da Força as injeções de adrenalina funcionaram muito bem. A começar pelo fato de o projeto nascer a partir de um roteiro de Lawrence Kasdan, que também escreveu os textos de O Retorno de Jedi, Império Contra Ataca e Os Caçadores da Arca Perdida, além do trabalho de Michael Arndt.

    O produto final também contou com a colaboração do diretor, que conseguiu imprimir um equilíbrio visual pontual, dando destaque para os restos do império, sobrevoando Star Destroyers caídos sobre a areia, usando o cenário como elemento da narração, e não despiste como nos últimos filmes de George Lucas. O diretor é equilibrado, emulando uma escola de cinema americana clássica, a um estilo semelhante de Clint Eastwood e John Ford, claro, guardadas as devidas proporções ao gênero blockbuster, trazendo harmonia entre visual e textual, fugindo de o histrionismo imagético  que povoou o cinema recente de Star Wars.

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    O argumento trata de um período complicado politicamente, claramente não explicitado em detalhes minuciosos, possivelmente para exploração do novo Universo Expandido autorizado pela Disney, que, a priori, considerará tudo como canônico. As lacunas temporais servem de estofo para o mistério, fomentando a curiosidade de público e de personagens com o paradeiro de Luke Skywalker (Mark Hammill). A história dessa vez é contada a partir do olhar de Finn (John Boyega), um personagem repleto de carisma e ligado ao lado negro. Sem demora, seu destino é entrelaçado com o do exímio piloto Poe Dameron (Oscar Isaac), e de seu “mascote” BB8, em Jakku, um planeta arenoso, como Tatooine. Nesses momentos, são introduzidos também o vilão Kylo Ren (Adam Driver), em cenas belíssimas e repletas do massa véio fan service esperado da parte de um diretor que um dia já foi também um fanboy da saga de Lucas.

    Apesar de Finn  unir o alívio cômico a uma personalidade valente, é a jornada de uma personagem feminina a de maior destaque. A Rey composta pela até então desconhecida Daisy Ridley é a heroína, sendo esta a principal semelhança entre todos os espelhamentos deste roteiro ao de Nova Esperança, já que ela também é orfã,  de profissão simplória (catadora de sucata), habitante de um lugar desolado e sem esperança e que ainda assim, insiste em ter sonhos e anseios. Além das óbvias referências a Luke, lhe cabe também o intervencionismo da antiga princesa Leia e o caráter voluntarioso de Mara Jade, a jedi do lado sombrio introduzida em Herdeiro do Império. Seus enfrentamentos e as surpresas do roteirosão de encher os olhos e a composição de suas características são pontuais, acentuadas pelos closes que Abrams usa em suas cenas, que invadem sua psique e revelam pouco a pouco o seu ideário, além  de claro, trazer uma história detalhada em imagens.

    Talvez o problema mais flagrante – e não o maior – em Despertar da Força seja o cenário político. Nos filmes, a apresentação da sociedade era maniqueísta: existia o Império, malvado e cruel, em contraponto ao mambembe grupo de revolucionários da Rebelião. Quando Lucas tentou tornar complexo, soou pueril, e nesta, os detalhes são muito mais sugeridos do que trabalhados,  soando mais rico do que qualquer filme tocado por seu criador. O pouco que se sabe é que Nova República foi instaurada e sofreu um duro golpe a partir de um traidor que se alistou aos resquícios do Império Galáctico, unidos sobre o nome da Primeira Ordem, que tem no General Hux (Domhall Gleeson) um líder ideológico, e em Kylo Ren a figura religiosa, reprisando a dupla Tarkin/Vader, ainda que bem menos inspirados. Os mistérios ao redor do tal líder supremo Snoke, dublado e executado por Andy Serkis são tão grandes quanto o entorno de Luke, e parecem só ser revelados ao longo desta nova saga.

    As referências ao III Reich são ainda mais escrachadas com a Primeira Ordem do que eram com o Império, com cenas de discursos inflamados que soaram tão semelhantes a persona de Hitler em A Queda: As Últimas Horas de Hitler que pareciam inclusive serem pronunciados no idioma alemão. Apesar da distância ideológica, há uma intimidade implícita entre os distintos lados, com uma revelação familiar revelada logo de início, fugindo da possibilidade de gerar um burburinho de uma cópia do impacto ocorrido no episódio V.

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    A participação dos personagens clássicos varia entre momentos épicos e futuros plausíveis, mas um pouco decepcionantes. Han Solo finalmente retornaria a pele de Harrison Ford, que consegue com maestria expressar sentimentos de remorso e culpa, pelos rumos que a galáxia e que sua vida pessoal tomaram, mas seu ofício atual é muito pouco para o potencial que sempre apresentou, ainda assim, é menos incoerente que os rumos do antigo Universo Expandido. Leia Organa interpretada por Carrie Fischer consegue equilibrar o papel de líder político resignada e mulher forte que sobreviveu a tantas mágoas. Chewbacca (Peter Mayhew) tem menos momentos de ação e mais de comédia, bem como C3PO (Anthony Daniels), que se destaca em uma engraçada cena para os fãs que conheciam a lenda da perna dourada, que permeou os filmes originais. Nenhum destes ofusca a trajetória de Rey, Finn, Dameron e BB8.

    A edição de som é primorosa em mais um trabalho dedicadíssimo de Ben Burtt, que dá consistência e volume a todo o aspecto mecânico da obra, incluindo até sons da fuselagem da Milenium Falcon e outras naves. O equilíbrio entre efeitos práticos também ajuda a textura do filme em relação aos produtos antigos e a propensão de easter eggs soa interessante também.

    J. J. Abrams usa extensivamente planos longos, ao estilo de Terence Malick, ainda que os significados sejam diferenciados, já que os cenários não são exatamente personagens da trama, e sim complementos de um ambiente já vasto. As ligações com o antigo Universo Expandido servem para inserir no antigo fã algum consolo pela destituição de todo o ideário construído por anos e consumido por muitos. A estrutura social que deverá ser explorada em livros e spin-offs tem em sua base o conceito pensado por Timothy Zhan em sua trilogia Thrawn e eventos posteriores, especialmente na figura de Kylo Ren, ainda que sua concepção encontre alguns problemas, não da sedução para o lado da força, e sim por detalhes que precisavam de uma minúcia maior. Ainda assim, nas cenas em que revela seu rosto, Adam Driver consegue soar dúbio e cruel.

    Apesar de não ter uma batalha tão equilibrada quanto em Yavin ou Endor, os momentos finais são carregados de emoção, em especial nas cenas de ação. O final, com clima de cena pós-crédito, sobra em emoção e edificação, trazendo um nostalgia semelhante a vista em toda a postura do Ben Kenobi de Alec Guiness. A ideologia e espiritualidade da força retorna como nunca, repleta de alma, nostalgia e aura lendária, finalmente revivida após trinta e dois anos sem qualquer resquício do rastro dos bravos jedi, da aliança rebelde – chamada agora de resistência – e de todo o ideário que geraram sonhos em tantas gerações. Um capítulo primordial do que pode ser uma saga tão clássica quanto a primeira.

     

  • Crítica | Ex-Machina: Instinto Artificial

    Crítica | Ex-Machina: Instinto Artificial

    Ex Machina - Poster

    “Life perpetuates itself through diversity and this includes the ability to sacrifice itself when necessary. Cells repeat the process of degeneration and regeneration until one day they die, obliterating an entire set of memory and information. Only genes remain. Why continually repeat this cycle? Simply to survive by avoiding the weaknesses of an unchanging system.” (Puppet Master)

    O diálogo acima referenciado ocorre quando Puppet Master, ao encontro de Major Kusanagi, nos faz refletir sobre o conceito de vida e, principalmente, o que é estar vivo. Essa é uma das grandes questões levantadas em Ghost in the Shell (1996) – filme a que pertence o diálogo acima referenciado -, Blade Runner (1982) e em diversos outros trabalhos cinematográficos e literários de ficção científica ao longo da história. Mais uma vez, é hora de revisitar tão importante e histórico questionamento, mas dessa vez essa questão nos é posta em Ex Machina (2015), filme dirigido por Alex Garland (roteirista de filmes como Dredd e Extermínio).

    O cenário para a história se passa em um futuro próximo. O jovem programador Caleb Smith (Domhnall Gleeson) é selecionado para participar de uma visita de uma semana à casa do CEO da empresa que trabalha, Nathan Bateman (Oscar Isaac), uma das maiores empresas de tecnologia do mundo. Vivendo em uma casa isolada nas montanhas, Nathan convida Caleb a participar de um experimento diferente: Caleb teria que aplicar um teste de Turing em uma androide desenvolvida por Nathan, Ava (Alicia Vikander) com intuito de determinar se a inteligência artificial de Ava pode ser comparada (ou se é melhor) à de um humano.

    Nathan é um gênio alcoólatra e recluso. Caleb é um jovem inteligente e ingênuo. Ava é uma androide. Basicamente esses três personagens sustentam sozinhos todo o filme em um ambiente claustrofóbico, onde o silêncio dos personagens reverbera em seus pensamentos. Quem mais sofre com isso é Caleb, pois quanto mais se aproxima de Ava, mais ele começa a duvidar sobre si mesmo e o mundo à sua volta. Afinal, o que é estar vivo?

    A atuação de Alicia Vikander é visceral à medida que confere profundidade em sua personagem androide.Vikander é sutil e cria uma linha tênue para Nathan, Caleb e todos os espectadores ao refletir sobre a condição de Ava. Ao mesmo tempo que ela claramente não é humana, sua representação do medo, sonhos e esperanças são precisos e praticamente naturais. Nathan e Caleb são brilhantes e carismáticos, com personalidades profundas e interessantes, mas ainda assim não tão profundos quanto Ava, que nos faz ficar inquietos e ansiosos com suas nuances de personalidade.

    Ex Machina não pode ser considerado um thriller de ficção científica mainstream. Muito pelo contrário, é um filme reflexivo e provocante do começo ao final. A mistura de liveaction e CGI, a trilha sonora inquietante e a fotografia impecável fazem com que seja um filme importante na ficção científica contemporânea.

    Sua conclusão acompanha perfeitamente o compasso de toda a obra. Toda a informação que acumulamos em uma vida é apenas uma gota em um oceano de informação, de modo que, talvez, uma criatura que consiga coletar mais informação e guardar por mais tempo possa ser considerada mais do que humana? Ainda nos inquietamos com esses questionamentos e continuaremos a nos inquietar se dependermos de ficções científicas tão excelentes como Ex Machina.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | O Ano Mais Violento

    Crítica | O Ano Mais Violento

    Um Ano Mais Violento 1

    O Ano Mais Violento se passa no árido inverno de 1981 em Nova York, e inicia-se já apresentando o histórico violento da cidade bem como o seu futuro incerto e desajustado. Índice de assassinatos em alta, roubos não investigados, e um sistema judiciário inchado e coberto de interesses políticos.

    É neste cenário que o empresário e imigrante Abel Morales (Oscar Isaac) e sua esposa Anna (Jessica Chastain) lutam para progredir no negócio de venda de combustível enquanto tentam lidar com suas éticas internas e com a violência opressora da cidade. Vítimas constantes de roubos e da vigilância do ambicioso promotor local (David Oyelowo), os personagens empalidecem sua aparência civilizada a cada novo golpe que sofrem, cada vez mais tendendo à opção de moldarem-se ao modus operandi da cidade.

    Em plena ascensão, Abel é mostrado como um homem rígido e eventualmente caridoso que subiu na vida através do seu talento e do casamento com Anna, e tendo como carta final a compra de um terreno de logística privilegiada que lhe garantirá o poder que tanto almeja. Seu destaque empresarial e resiliência pessoal contrastam-se, porém, com a trajetória de seu jovem empregado Julian, que se quebra frente à pressão de suas próprias incapacidades até apresentar-se como um problema para Abel e suas ambições.

    Uma das preocupações do roteiro é não mostrar apenas a violência urbana. Está claro que na verdade estamos falando de uma época mais civilizada que antes. Esse “antes” é a época dos gângsteres, que dominavam o mercado na violência e na troca de tiros. O que faz desse ano descrito o mais violento não é a violência física em si, mas a recente desinstitucionalização dessa violência.

    Não é incomum pessoas que viveram sua infância na década de 1940, por exemplo, rascunharem o relato de uma época mais pacífica, saudável e solidária que a atual, mesmo que esta tenha sido a década em que 40 milhões de pessoas morreram tão violentamente em uma guerra mundial. O motivo é que, quando sob aval social, a violência perde impacto, e com o tempo acaba por ser digerida pelo sistema.

    Usando Oscar Isaac (Inside Llewyn Davis – Balada de um Homem Comum) como astro, é notório que, apesar de seu talento, o ator desaparece cada vez que Jessica Chastain (A Hora Mais Escura) aparece em cena. Isso não é por acaso, pois a direção de J.C. Chandor faz questão de iluminá-la e destacá-la em todas suas aparições, demonstrando todo o magnetismo daquela mulher que, ao contrário do marido, é capaz de fazer o que é necessário. Cria de uma sociedade gângster, ela se mostra capaz de adaptar-se à sociedade atual, mais civilizada e de sobretudo, mas sem deixar suas garras de lado.

    Subliminarmente perversa desde o início, Chastain faz um belíssimo papel demonstrando que, como disse Mario Puzo, por trás de toda grande riqueza sempre há um grande crime, fazendo do “American Dream” tudo, menos um sonho.

    Texto de autoria de Marcos Paulo Oliveira.

  • Top 10 – Maiores Injustiçados pelo Oscar 2015

    Top 10 – Maiores Injustiçados pelo Oscar 2015

     oscar injustiça

    Quase tradicionalmente, após observar a lista de indicados pela Academia para a maior premiação do cinema comercial, notam-se também injustiças, tanto nas ausências de indicações quanto nas premiações. Filipe Pereira, Marcos Paulo Oliveira e Doug Olive prepararam uma lista especial sobre os filmes que ficaram de fora da festa, com categorias variadas:

    10. Uma Aventura Lego, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Animação

    lego batman

    Tudo é incrível. Assim diz a canção-chiclete que é usada como recurso para nos mostrar o modo de produção e vida da cidade Lego. Sim, tudo realmente parece incrível, mas logo vemos que esta não se trata de uma animação tradicional. Com uma energia capaz de abarcar todo tipo de contexto e metalinguagem, aqui a piada é o único refúgio para o trato de temas eventualmente sérios, eventualmente ridículos, mas igualmente importantes. De tão segura a direção, não faltaram críticas à forma como agimos em nossa sociedade, fruto de uma estrutura rígida e autoritária, quando justamente deveríamos ser livres para o que nos cabe. A temática é ligeiramente parecida com o concorrente Os Boxtrolls, que, apesar de mais estiloso, é bem menos ousado. A despeito disso tudo, qualquer filme que é capaz de estapear uma sociedade que compra café a 20 reais e acha tudo incrível, merece toda a atenção.

    9 . Hobbit A Batalha dos Cinco Exércitos, por Doug Olive – Melhor “Descenso de Carreira”

    O-Hobbit-A-Batalha-dos-Cinco-Exercitos 5

    Peter Jackson conseguiu o impensável: esconjurar toda e qualquer credibilidade que conseguiu no mundo do Cinema, graças à primeira e impecável trilogia do anel, com esta segunda empresa trágica e ridícula no mesmo nível de desconstrução. Um fiasco do início ao fim – sendo O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2011) o melhor exemplar da divisão ambiciosa de um folheto adaptado em três intermináveis filmes -, A Batalha dos Cinco Exércitos é a cereja no bolo de jiló de uma receita fadada ao fracasso por motivos óbvios. Filme de nível morto de represa e merecidamente ignorado nas premiações, mesmo em ordem técnica, algo impensável dez anos atrás, Jackson criou seu iceberg ao construir seu terceiro Titanic, desta vez cheio de falhas, tendo no currículo o mediano King Kong de 2005 e um motivo triplo para nos perguntar: como alguém que adapta a e$cala de O $enhor dos Anéi$ pode de$cer tão baixo?

    8. A 100 Passos de Um Sonho, por Doug Olive – Melhor Fotografia

    THE HUNDRED-FOOT JOURNEY

    Há algo de único neste filme, ainda que desigual quanto à obra como um todo. Não há nada de errado com feel-good movies, e também não há repreensão naquilo que mais se destaca num filme, que neste caso é a fotografia, simplesmente soberba: a obra nos faz sentir, numa simples e esperta aproximação ocular, o cheiro, gosto e textura de determinada comida à nossa frente, quase ao alcance de outros sentidos degustativos, ou o mero prazer de redescobrir o mundo europeu numa ótica indiana mais viva e colorida; tanto faz. Deleite sensorial magnífico que merece reconhecimento do público ao menos, ainda que a história deixe muito a desejar no quesito que mais se esforça para representar: choques culturais. A crítica completa você encontra aqui.

    7. Força Maior, por Filipe Pereira – Melhor Filme Estrangeiro

    Força Maior

    De história bastante reflexiva, Força MaiorForce Majeure, ou Turist, no resto do mundo – conta o drama de uma família, que, ao passar por uma situação limite, vê em seu pai uma figura irresponsável, uma vez que, diante de uma pequena avalanche, ele abandonou todos, levando consigo somente seu smartphone e outros pertences, enquanto mulher e filho ficaram à própria sorte. A tragédia recai sobre o casal de protagonistas, que em uma reunião de férias deve se reinventar e repensar o papel de cada um na relação. O filme do sueco Ruben Östlund foi indicado ao Globo de Ouro na categoria Filme Estrangeiro, e seria um candidato interessante ao Oscar da mesma categoria, especialmente por ser bem diferente de tudo visto no circuito americano.

    6. Jersey Boys: Em Busca da Música, por Doug Olive – Melhor Direção, Roteiro Adaptado

    Jersey Boys

    A frase “Come back when you’re black!” (“Volte quando for negro!”) é sensacional. Registra todo o espírito e estereótipos além do racial ou tendencioso numa única frase, dita durante uma discussão sobre e entre músicos e produtores. O Oscar não apenas ignorou por injusta causa o melhor musical americano de 2014, como renegou o filme diante do status de ser este o melhor de Clint Eastwood desde Cartas de Iwo Jima, há oito anos. Dos números musicais à leve e crescente disputa entre integrantes de uma banda, com inúmeros sons e identidades que colam na cabeça do público ainda hoje, o filme é divertido pelo vigor que vários e bons diretores prematuros não conseguem passar ao público de forma linear, principalmente no número final, clímax redundante em que até o sério Christopher Walken risca o chão e arrisca um gingado com Oh, What a Night!, clássico do grupo Four Seasons.

    5. O Ano Mais Violento, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Atriz

    O Ano Mais Violento

    O longa se passa na Nova York de 1981, e logo no início já reconhecemos o histórico violento da cidade e seu futuro incerto. Usando Oscar Isaac como astro, é notório que, apesar de seu talento, o ator desaparece cada vez que Jessica Chastain aparece em cena. Isso não é por acaso, pois a direção de J.C. Chandor faz questão de iluminá-la e destacá-la em todas suas aparições, demonstrando todo o magnetismo daquela mulher que, ao contrário do marido, faz o que for necessário. Resquício de uma sociedade gângster, ela se mostra capaz de adaptar-se à sociedade atual, mais civilizada e de sobretudo, mas sem deixar suas garras de lado. Subliminarmente perversa desde o início, Chastain faz um belíssimo papel demonstrando que, como disse Mario Puzo, por trás de toda grande riqueza sempre há um grande crime.

    4. Sob a Pele, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Roteiro Adaptado, Efeitos Visuais

    Sob A Pele

    Porque o filme manipula de forma muito competente sua forma de ver pessoas e paisagens, em uma direção kubrickiana de narrativa não linear, capaz de alcançar desejos e aspirações do público. Um diálogo direto justamente com aqueles que dissecaram Scarlet Jonhanson – em uma atuação acertadamente alienígena, ornando com a direção – durante as primeiras imagens do filme. Uma pena que a maioria não percebeu. Um espelho capaz de tornar paisagens e pessoas reféns de si mesmos.

    3. Dois Dias, Uma Noite, por Filipe Pereira – Melhor Filme Estrangeiro, Roteiro Original

    Dois DIas Uma Noite

    Além da óbvia referência à direção dos irmãos Dardenne – factoide comum da Academia em ignorar indicações a estrangeiros – o drama depressivo e reflexivo teve seu emocionante roteiro esquecido. Apesar da indicação de Marion Cotillard, na sua performance mais inspirada desde que ganhou o Oscar, não há qualquer justificativa para o filme não ter ficado entre os cinco finalistas que concorrem em 22 de fevereiro. Acima de tudo, Dois Dias, Uma Noite trata de uma questão real e imediata, contando de forma implacável o quão prejudicial pode ser a doença que apavora o último século, sem amenidade nenhuma, mostrando o viés do doente e do entorno dele.

    2. O Abutre, por Filipe Pereira – Melhor Ator, Fotografia, Edição de Som

    Abutre

    Dan Gilroy traz em sua estreia na direção um filme curioso e nada sutil. A fotografia obscura é pontual ao retratar a atuação irretocável de Jake Gylenhaal – que já havia apresentado uma performance surpreendente em O Homem Duplicado. A amoralidade presente no modus operandi de seu personagem retrata a realidade abissal de um jornalismo que teima em chocar em detrimento da informação. Possivelmente, o assunto tão aviltante não capturou o ideário da Academia, que sequer lembrou-se do ator, fotografia ou edição sonora da fita.

    1. Garota Exemplar, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado

    GONE GIRL, from left: Ben Affleck, Rosamund Pike, 2014. ph: Merrick Morton/TM & copyright ©20th

    O horroroso, divertido e incrível novo filme de David Fincher, Garota Exemplar, conta a história de uma esposa e filha exemplar e adorável que desaparece quase sem deixar vestígios. Adaptação do livro homônimo, vemos todos os elementos para que o estilo sempre instigante de Fincher passeie pela superfície de diversos temas (casamento, mídia manipuladora, a vida de aparências, os medos masculinos) sob uma mesma tese: o poder da imagem. Grande parte do mérito da narrativa impecável está no roteiro, esculpido para ser perfeito, e na direção de Fincher, que faz aqui o Intercine dos Intercines. Sem medo de se render à breguice, ou a gêneros, o cineasta faz uma paródia fortemente marcada por um de seus traços mais marcantes como autor, que é o cinismo mordaz com que trata o espectador. Com tudo tão horrorosamente lindo, o casamento do cínico com o tragicômico é a única união realmente estável desta fita.

    Menções honrosas à atuação de Jennifer Aniston, em Cake, e a Bill Murray em Um Santo Vizinho; Festa no Céu ao prêmio de Melhor Animação; O Segredo das Águas, O Presidente, Blind para Filme Estrangeiro; Tudo Por Justiça, Edição de Som; e Vício Inerente, a inúmeras categorias.

  • Crítica | As Duas Faces de Janeiro

    Crítica | As Duas Faces de Janeiro

    As Duas Faces de Janeiro 1

    Em sua primeira aventura solo como diretor de longas-metragens, Hossein Amini pretende construir uma história em que os participantes têm fortes pecados morais, restando quase nenhuma opção para o público torcer. No passado de Amini como roteirista, incluem-se filmes como Drive, 47 Ronins e Branca de Neve e o Caçador. Essa miscelânea que compreende sua filmografia ajuda a traçar o esboço do que seria seu As Duas Faces de Janeiro, que trata da criminalidade – vista no filme com Gosling –, assim como mostra-se o intuito comercial – presente no filme com Reeves – e a desconstrução de mitos do conto de fadas repaginado, ao adaptar o livro homônimo de Patrícia Highsmith.

    O tripé de personagens centrais envolve o casal de americanos Chester MacFarland (Viggo Mortensen) e Colette MacFarland (Kirsten Dunst), os quais viajam pela Grécia em um encontro romântico. A diversão que os acomete é interrompida pela presença de Rydal (Oscar Isaac), um guia turístico bastante carismático, mas que esconde em seu sorriso e no verniz social um comportamento de vigarice, se aproveitando freneticamente dos viajantes carentes, e vendo no casal MacFarland, uma boa possibilidade de golpe quase certo, dada a ingenuidade dos dois.

    Ao visitar a dupla, Rydal acaba se deparando com um evento entrópico, com Chester saindo de seu quarto com um cadáver, tentando enganar a ele e a qualquer outra pessoa que viu a cena, fingindo estar cuidando de um amigo bêbado. Logo, o destino do casal e o do malandro se conectam, fazendo da união algo necessário, porém não muito agradável, fato consumado ao analisar as feições tensas de cada uma das partes.

    A tarifa cobrada a Chester pelo segredo que guarda é demasiado alta. Seus níveis de tensão e ansiedade aumentam com o tempo, deixando sua psiquê frágil e seu comportamento errático. Devaneios provindos da insegurança o fazem desconfiar até de seu par, com o marido achando que sua cônjuge tem um caso com seu cúmplice. A ambiguidade da questão é levada por grande parte da fita, o que proporciona ao filme um clima de teoria da conspiração durante toda sua duração.

    Logo, a crise acomete o trio de viajantes, como em um Na Estrada, cuja bad trip é ainda mais exagerada e calcada na inconfiabilidade. Os papéis de fidelidade se invertem, visto que Colette não olha mais para seu marido com o mesmo respeito de antes; em seu lugar, entram questões básicas, como o questionamento da lealdade, que são tão fortes na argumentação que fariam até do possível adultério algo muito subalterno comparado ao crime cometido.

    Aos que restam, fica a necessidade de apoio mútuo. Em uma sociedade macabra, semelhante a da premissa do hitchcockiano Pacto Sinistro (outra obra de Highsmith), e emulando-se também a relação eufemisticamente abordada em um pacto de sangue presente em Festim Diabólico, a básica diferença que há neste, As Duas Faces de Janeiro, é que a credibilidade entre os criminosos é nula.

    A conclusão da trama é salientada por uma perseguição frenética, cujo suspense predomina no drama e nos personagens. Os dois homens, antes simpáticos um ao outro, chegam ao ponto de tornarem-se inimigos mortais, para, então, reatar o coleguismo, enxergando-se mutuamente como errados, mas ainda assim, iguais, análogos àquele universo errático, onde até a moral e ética são conceitos discutíveis. A entrega de Chester a Rydal exibe uma compreensão madura de que, mesmo ante a possibilidade de traição, o sentimento que deveria predominar era a cumplicidade, para o bem e para o mal.