Tag: Jean-Pierre Dardenne

  • Crítica | A Garota Desconhecida

    Crítica | A Garota Desconhecida

    Obra dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, A Garota Desconhecida mergulha na intimidade de Jenny (Adelle Haenel), uma médica que tem uma rotina estressante no hospital onde trabalha. Sua vida repleta de infortúnios tem mais um revés ao descobrir que uma moça sem qualquer identificação desfaleceu próxima à porta de sua casa, e a partir daí começa uma jornada para descobrir quem era esta pessoa misteriosa.

    Ao contrário do visto em Dois Dias, Uma Noite e O Garoto da Bicicleta, o método usado no filme é moroso, especialmente no que tange a parte emocional do roteiro. Há uma dificuldade considerável em sentir empatia pelos personagens, e isso inclui também a protagonista, uma mulher com dificuldades em demonstrar os sentimentos que habitam seu interior. As expressões faciais de Haenel não compensam o esforço que as cenas exigem, até mesmo quando ela tem que convencer outras pessoas.

    Mesmo quando trata de temas pesados, como delinquência juvenil, suicídio e depressão há um aprofundamento bem raso, deixando que a superficialidade tome a temática, principalmente ao se levar em conta os trabalhos anteriores dos cineastas.

    A Garota Desconhecida tenciona ser tocante e sentimental, mas soa tedioso e desimportante. A utilização de Haenel é sub aproveitada e não há qualquer importância nas ações dos personagens secundários. Nem mesmo a metalinguagem narrativa de associar o desaparecimento da moça com o encontro da protagonista com sua própria identidade salva o argumento da mediocridade, tornando a dinâmica do filme ainda enfadonha e decepcionante.

  • Top 10 – Maiores Injustiçados pelo Oscar 2015

    Top 10 – Maiores Injustiçados pelo Oscar 2015

     oscar injustiça

    Quase tradicionalmente, após observar a lista de indicados pela Academia para a maior premiação do cinema comercial, notam-se também injustiças, tanto nas ausências de indicações quanto nas premiações. Filipe Pereira, Marcos Paulo Oliveira e Doug Olive prepararam uma lista especial sobre os filmes que ficaram de fora da festa, com categorias variadas:

    10. Uma Aventura Lego, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Animação

    lego batman

    Tudo é incrível. Assim diz a canção-chiclete que é usada como recurso para nos mostrar o modo de produção e vida da cidade Lego. Sim, tudo realmente parece incrível, mas logo vemos que esta não se trata de uma animação tradicional. Com uma energia capaz de abarcar todo tipo de contexto e metalinguagem, aqui a piada é o único refúgio para o trato de temas eventualmente sérios, eventualmente ridículos, mas igualmente importantes. De tão segura a direção, não faltaram críticas à forma como agimos em nossa sociedade, fruto de uma estrutura rígida e autoritária, quando justamente deveríamos ser livres para o que nos cabe. A temática é ligeiramente parecida com o concorrente Os Boxtrolls, que, apesar de mais estiloso, é bem menos ousado. A despeito disso tudo, qualquer filme que é capaz de estapear uma sociedade que compra café a 20 reais e acha tudo incrível, merece toda a atenção.

    9 . Hobbit A Batalha dos Cinco Exércitos, por Doug Olive – Melhor “Descenso de Carreira”

    O-Hobbit-A-Batalha-dos-Cinco-Exercitos 5

    Peter Jackson conseguiu o impensável: esconjurar toda e qualquer credibilidade que conseguiu no mundo do Cinema, graças à primeira e impecável trilogia do anel, com esta segunda empresa trágica e ridícula no mesmo nível de desconstrução. Um fiasco do início ao fim – sendo O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2011) o melhor exemplar da divisão ambiciosa de um folheto adaptado em três intermináveis filmes -, A Batalha dos Cinco Exércitos é a cereja no bolo de jiló de uma receita fadada ao fracasso por motivos óbvios. Filme de nível morto de represa e merecidamente ignorado nas premiações, mesmo em ordem técnica, algo impensável dez anos atrás, Jackson criou seu iceberg ao construir seu terceiro Titanic, desta vez cheio de falhas, tendo no currículo o mediano King Kong de 2005 e um motivo triplo para nos perguntar: como alguém que adapta a e$cala de O $enhor dos Anéi$ pode de$cer tão baixo?

    8. A 100 Passos de Um Sonho, por Doug Olive – Melhor Fotografia

    THE HUNDRED-FOOT JOURNEY

    Há algo de único neste filme, ainda que desigual quanto à obra como um todo. Não há nada de errado com feel-good movies, e também não há repreensão naquilo que mais se destaca num filme, que neste caso é a fotografia, simplesmente soberba: a obra nos faz sentir, numa simples e esperta aproximação ocular, o cheiro, gosto e textura de determinada comida à nossa frente, quase ao alcance de outros sentidos degustativos, ou o mero prazer de redescobrir o mundo europeu numa ótica indiana mais viva e colorida; tanto faz. Deleite sensorial magnífico que merece reconhecimento do público ao menos, ainda que a história deixe muito a desejar no quesito que mais se esforça para representar: choques culturais. A crítica completa você encontra aqui.

    7. Força Maior, por Filipe Pereira – Melhor Filme Estrangeiro

    Força Maior

    De história bastante reflexiva, Força MaiorForce Majeure, ou Turist, no resto do mundo – conta o drama de uma família, que, ao passar por uma situação limite, vê em seu pai uma figura irresponsável, uma vez que, diante de uma pequena avalanche, ele abandonou todos, levando consigo somente seu smartphone e outros pertences, enquanto mulher e filho ficaram à própria sorte. A tragédia recai sobre o casal de protagonistas, que em uma reunião de férias deve se reinventar e repensar o papel de cada um na relação. O filme do sueco Ruben Östlund foi indicado ao Globo de Ouro na categoria Filme Estrangeiro, e seria um candidato interessante ao Oscar da mesma categoria, especialmente por ser bem diferente de tudo visto no circuito americano.

    6. Jersey Boys: Em Busca da Música, por Doug Olive – Melhor Direção, Roteiro Adaptado

    Jersey Boys

    A frase “Come back when you’re black!” (“Volte quando for negro!”) é sensacional. Registra todo o espírito e estereótipos além do racial ou tendencioso numa única frase, dita durante uma discussão sobre e entre músicos e produtores. O Oscar não apenas ignorou por injusta causa o melhor musical americano de 2014, como renegou o filme diante do status de ser este o melhor de Clint Eastwood desde Cartas de Iwo Jima, há oito anos. Dos números musicais à leve e crescente disputa entre integrantes de uma banda, com inúmeros sons e identidades que colam na cabeça do público ainda hoje, o filme é divertido pelo vigor que vários e bons diretores prematuros não conseguem passar ao público de forma linear, principalmente no número final, clímax redundante em que até o sério Christopher Walken risca o chão e arrisca um gingado com Oh, What a Night!, clássico do grupo Four Seasons.

    5. O Ano Mais Violento, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Atriz

    O Ano Mais Violento

    O longa se passa na Nova York de 1981, e logo no início já reconhecemos o histórico violento da cidade e seu futuro incerto. Usando Oscar Isaac como astro, é notório que, apesar de seu talento, o ator desaparece cada vez que Jessica Chastain aparece em cena. Isso não é por acaso, pois a direção de J.C. Chandor faz questão de iluminá-la e destacá-la em todas suas aparições, demonstrando todo o magnetismo daquela mulher que, ao contrário do marido, faz o que for necessário. Resquício de uma sociedade gângster, ela se mostra capaz de adaptar-se à sociedade atual, mais civilizada e de sobretudo, mas sem deixar suas garras de lado. Subliminarmente perversa desde o início, Chastain faz um belíssimo papel demonstrando que, como disse Mario Puzo, por trás de toda grande riqueza sempre há um grande crime.

    4. Sob a Pele, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Roteiro Adaptado, Efeitos Visuais

    Sob A Pele

    Porque o filme manipula de forma muito competente sua forma de ver pessoas e paisagens, em uma direção kubrickiana de narrativa não linear, capaz de alcançar desejos e aspirações do público. Um diálogo direto justamente com aqueles que dissecaram Scarlet Jonhanson – em uma atuação acertadamente alienígena, ornando com a direção – durante as primeiras imagens do filme. Uma pena que a maioria não percebeu. Um espelho capaz de tornar paisagens e pessoas reféns de si mesmos.

    3. Dois Dias, Uma Noite, por Filipe Pereira – Melhor Filme Estrangeiro, Roteiro Original

    Dois DIas Uma Noite

    Além da óbvia referência à direção dos irmãos Dardenne – factoide comum da Academia em ignorar indicações a estrangeiros – o drama depressivo e reflexivo teve seu emocionante roteiro esquecido. Apesar da indicação de Marion Cotillard, na sua performance mais inspirada desde que ganhou o Oscar, não há qualquer justificativa para o filme não ter ficado entre os cinco finalistas que concorrem em 22 de fevereiro. Acima de tudo, Dois Dias, Uma Noite trata de uma questão real e imediata, contando de forma implacável o quão prejudicial pode ser a doença que apavora o último século, sem amenidade nenhuma, mostrando o viés do doente e do entorno dele.

    2. O Abutre, por Filipe Pereira – Melhor Ator, Fotografia, Edição de Som

    Abutre

    Dan Gilroy traz em sua estreia na direção um filme curioso e nada sutil. A fotografia obscura é pontual ao retratar a atuação irretocável de Jake Gylenhaal – que já havia apresentado uma performance surpreendente em O Homem Duplicado. A amoralidade presente no modus operandi de seu personagem retrata a realidade abissal de um jornalismo que teima em chocar em detrimento da informação. Possivelmente, o assunto tão aviltante não capturou o ideário da Academia, que sequer lembrou-se do ator, fotografia ou edição sonora da fita.

    1. Garota Exemplar, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado

    GONE GIRL, from left: Ben Affleck, Rosamund Pike, 2014. ph: Merrick Morton/TM & copyright ©20th

    O horroroso, divertido e incrível novo filme de David Fincher, Garota Exemplar, conta a história de uma esposa e filha exemplar e adorável que desaparece quase sem deixar vestígios. Adaptação do livro homônimo, vemos todos os elementos para que o estilo sempre instigante de Fincher passeie pela superfície de diversos temas (casamento, mídia manipuladora, a vida de aparências, os medos masculinos) sob uma mesma tese: o poder da imagem. Grande parte do mérito da narrativa impecável está no roteiro, esculpido para ser perfeito, e na direção de Fincher, que faz aqui o Intercine dos Intercines. Sem medo de se render à breguice, ou a gêneros, o cineasta faz uma paródia fortemente marcada por um de seus traços mais marcantes como autor, que é o cinismo mordaz com que trata o espectador. Com tudo tão horrorosamente lindo, o casamento do cínico com o tragicômico é a única união realmente estável desta fita.

    Menções honrosas à atuação de Jennifer Aniston, em Cake, e a Bill Murray em Um Santo Vizinho; Festa no Céu ao prêmio de Melhor Animação; O Segredo das Águas, O Presidente, Blind para Filme Estrangeiro; Tudo Por Justiça, Edição de Som; e Vício Inerente, a inúmeras categorias.

  • Crítica | Dois Dias, Uma Noite

    Crítica | Dois Dias, Uma Noite

    Situado em uma cidade da Bélgica, que emula um lugar qualquer, dadas as características universais de sua locação, Dois Dias, Uma Noite, dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, opta por analisar o viés da depressão, usando uma figura humana e deveras falha para expor o quão séria é a situação de quem convive com a doença, além de expor de modo cru o quão acachapante pode ser a rotina de quem sofre deste mal.

    Sandra, interpretada belamente por Marion Cotillard, é uma mulher comum, cujo salário ajuda a equilibrar as contas de sua casa; seu marido, o sempre presente Manu (Fabrizio Rongione) possui um trabalho cuja remuneração é baixa, frutos da crise econômica que acometeu o continente europeu. Diante do drama já instaurado, pelo diagnóstico de depressão, Sandra vê no chamado à aventura uma oportunidade para se afundar ainda mais em seu inferno mental, já que sua demissão do serviço que presta é quase certa, mudada em última hora pela possibilidade de seus colegas a salvarem, caso abram mão do bônus de mil euros a que cada um tem direito.

    O chamado da aventura ocorre a despeito dos muitos remédios controlados que Sandra ingere, sem qualquer discriminação ou bom senso, recriminado o ato somente por seu preocupado cônjuge, que, com medo, não insiste muito em criticá-la. Convencida por uma das poucas pessoas que votaram a seu favor, Sandra passa a caminhar pela cidade em busca de seus companheiros e fazê-los mudar de ideia, para não só salvar seu salário, como também sua conturbada estabilidade mental. A busca da personagem não é só por visitar cada um dos operários ou para convencê-los a aderir a sua causa, mas também vai de encontro à fuga para entrada no estado de desespero.

    Após três recusas, Sandra prossegue consumindo a droga dos tempos de doença, símbolos de uma ansiedade mal tratada junto à negligência de um vício. Os sinais da problemática são notados em seu rosto, os olhos fundos fazem até da bela Marion Cotillard uma figura digna de pena e comiseração, distante demais do usual arquétipo de musa que ocupa fora das telas.

    O preço da cura de Sandra teria que ser pela miséria de muitos. A Escolha de Sofia seria obviamente um desmando do patronado, mas a câmera convém explorar o lado de baixo da pirâmide, com dilemas da base. Os motivos de tais condições parecem não só financeiros, mas também ligados à reabilitação da personagem. A balança ora pesa para a crise financeira, ora para a doença de Sandra, exibindo um triste quadro em que os números sobrepujam as necessidades e a saúde humana.

    Após quase alcançar a meta, é feita uma proposta a Sandra, que prontamente recusa em virtude da queda de um dos seus colegas. Sua escolha é tomada pela ética, moralmente certa. Se este último ato fosse um objeto isolado, possivelmente a escolha dela teria sido encarada como um ato piegas ou cafona, mas dada toda a angustiante trajetória que fez, é natural que a opção tenha sido esta, o que condiz com todo o discurso que ela fez no decorrer de seu intenso drama, dando uma sobrevida e alento a sua lamuriosa existência. A compleição da moça muda completamente, como se o fechamento do ciclo colaborasse para a vitória sobre sua condição, a prova de que conseguiria lutar contra as adversidades que se sobrepõem a ela, aceitando a condição de que eventualmente sofrer faz parte da experiência de viver.

  • Crítica | O Garoto da Bicicleta

    Crítica | O Garoto da Bicicleta

    Rejeição. Quem consegue lidar bem com ela?
    Todos já fomos rejeitados por alguém. Sabemos o quanto isso pode magoar, machucar e deixar marcas que levam tempo para serem cicatrizadas. Isso quando a cicatrização é possível.

    No entanto, na maioria das vezes, e sobretudo depois que nos tornamos adultos, as regras do jogo social nos obrigam a disfarçar esse mal estar e não deixar transparecer os efeitos devastadores que a rejeição de alguém que amamos pode provocar. Rejeição paterna, então…

    Sinceramente, ninguém nasceu ou está totalmente preparado para conviver facilmente com essa emoção.

    O que aconteceria, porém, se pudéssemos acompanhar a vida de alguém que não tem a menor preocupação em ocultar o quanto lhe transtorna o fato de ser rejeitado por uma pessoa fundamental em sua vida?

    É justamente esta experiência que temos em O Garoto da Bicicleta, longa mais recente dos irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne. Uma observação aguda dos efeitos da rejeição e do poder transformador que o amor de uma mulher pode provocar na vida de um jovem perdido.

    Ao externar a tristeza pelo afastamento de seu pai, o jovem Cyril Catoul – interpretado de forma magnífica por Thomas Doret – expressa toda a fúria e frustração da forma mais intensa, violenta e descontrolada possível. As emoções mais agressivas e viscerais vêm à tona sem qualquer tipo de freio.

    Ele quer encontrar e ser aceito pelo pai. E nada, nem ninguém, pode ficar no seu caminho. Por isso, Cyril é grosseiro, indisciplinado, agressivo e incontrolável. Um desafio para os educadores que trabalham no internato onde está trancado há um mês. Um teste pesado no exercício de tolerância e amor posto em prática pela cabeleireira Samantha (Cécile de France).

    Logo no início, os dois se encontram de forma acidental, quando Cyril tenta entrar no apartamento do seu pai. Há uma identificação entre ambos quando Samantha devolve ao jovem a bicicleta que lhe havia sido roubada – único símbolo da união paterna que lhe restou. Os dois – o jovem e a mulher – passarão a se ver nos fins de semana.

    A história deslancha.

    Cyril é retratado quase que todo o tempo com uma camisa ou casaco vermelhos. Símbolo visual da raiva que há dentro dele. Há apenas dois ou três momentos ao longo da película nos quais ele está vestido de azul – quando está dormindo e durante uma cena num tribunal.

    Ou seja, quando não está ligado às suas emoções, uma vez que não se encontra desperto, ou já mais à frente, quando sua própria personalidade está em transformação. Logo, é possível entender que, durante todo o tempo no qual está consciente, Cyril é guiado pela raiva e frustração. E esse sentimento de fúria só piora quando finalmente encontra a figura paterna que, ao invés de aceitação e carinho, dá ao garoto apenas a certeza de que ele não o deseja. Que quer vê-lo o mais longe possível.

    O mal estar e o constrangimento da cena do encontro entre pai e filho são transmitidos de forma tão honesta, que fica difícil não sentir pelo menos um certo desconforto. O corte dado pelo pai levará o jovem à substituição dele por uma perigosa figura paterna e às consequências dessa aproximação.

    A raiva, por ser cega, sempre pode ser direcionada para o mal. Basta que alguém mais malicioso e observador perceba isso. E essas consequências também chegam à vida de Samantha, que ignora os problemas causados pelo jovem e insiste em acolhê-lo movida por um sentimento que talvez nem ela mesma consiga descrever. Amor materno? Talvez…

    Os irmãos Dardenne registram toda a trama de forma naturalista. Sua câmera é quase voyeurística – parece estar espiando secretamente a vida dos personagens. Preste atenção especial às cenas gravadas dentro do carro de Samantha. A maneira como a lente passeia da direita para a esquerda e vice-versa, extremamente próxima, contrapondo os rostos dela e do jovem.

    De um lado, amor. Do outro, cólera.

    Há um embate emocional. Atenção especial também à cena retratada no pôster do filme, quando ambos passeiam num dia ensolarado à beira de um lago. Pouco mais à frente do fotograma usado no cartaz, eles trocam de bicicletas. Essa troca, entretanto, guarda um significado bem maior que a cessão de um veículo.

    Ao pedalar a bicicleta de Samatha, Cyril mostra – de forma metafórica – que os sentimentos de amor oferecidos a ele pela cabelereira desde o início da trama finalmente estão fazendo efeito. Ele está se transformando. E essa transformação é testada na sequência final, quando o próprio garoto é vítima de um ato de violência.

    Ao fim, os dois cineastas deixam uma mensagem: a rejeição vai te fazer sofrer e sentir raiva. Mas o amor da pessoa certa pode te transformar. No fim das contas, a escolha é pessoal. E Cyril faz a dele.

    Texto de autoria de Carlos Brito.