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  • Crítica | Homem-Aranha: Longe de Casa

    Crítica | Homem-Aranha: Longe de Casa

    O 23º filme do universo compartilhado da Marvel começa no Novo México, mostrando alguns personagens lidando com uma nova figura, Quentin Beck (Jake Gylenhaal), que encarna um vigilante chamado Mysterio. Isso ocorre antes mesmo do logo da Marvel aparecer em tela, e demonstra que a prioridade de Homem-Aranha: Longe de Casa não é exatamente mostrar uma aventura do Cabeça de Teia, e sim prosseguir com a cinessérie iniciada no primeiro Homem de Ferro. Ao menos, Jon Watts conseguiu encaixar uma montagem engraçadíssima, repercutindo e resumindo os acontecimentos pós Vingadores: Ultimato, falando sobre as perdas e sobre os que retornaram após cinco anos.

    O filme busca ser um desafogo, a bonança pós-tempestade, com a escola levando seus alunos para uma viagem pela Europa, onde convenientemente Beck está, e onde ocorrerão ataques massivos. Para o leitor mais atento, nesses momentos há boas referências a sagas e a personagens  secundários, como aos vilões Homem-Hídrico, Magma e até a micro saga Crise de Identidade, quando Parker larga o manto do Aranha e passa a agir com outras alcunhas e uniformes.

    A realidade é que o Cabeça de Teia sempre foi um herói mundano, a classificação de Amigão da Vizinhança transparece isso, mas a realidade que lhe cabe é outra neste universo do cinema, e isso também não é novidade diante do cânone nos quadrinhos. Uma das fases mais aclamadas do herói foi em Guerras Secretas quando ele fez uso da roupa preta que daria origem ao Venom, mas aqui ele quer ser só um adolescente, que busca dar vazão ao seu amor pela MJ de Zendaya, que aliás está muito bem, embora esse interesse mútuo entre ambos tenha sido bem pouco desenvolvido no primeiro filme e se assuma como algo fundamental e que sempre existiu. Talvez o fato dos dois terem sido desintegrados tenha feito a urgência aumentar, mas MJ sequer apareceu no ultimo Vingadores.

    O tom de humor aumentou bastante e o elenco de “adolescentes” parece estar mais solto, embora o Ned de Jacob Batalon aparente ter envelhecido cinco anos. No entanto, esse grau de comédia influencia até o ritmo do longa, que faz questão de repetir muitas vezes as piadas, tornando ele mais jocoso e infantil até que o recente Shazam, que é assumidamente um filme para crianças.  Certamente o filme não precisava interromper tanto sua história só para fazer troça, soando forçado na maioria das vezes.

    O outro defeito terrível é que Peter não parece ter aprendido nada com as outras aventuras que sofreu. Mesmo sendo experimentado ele é muito mais engraçado como adolescente estudante do que como herói, ao utilizar o uniforme, ele trava e não é nada desenvolto e a todo momento parece não estar a vontade. Ora, ele enfrentou criaturas espaciais milenares, inclusive carregou a Manopla do Destino, mas ele não digeriu nada disto, ao contrário. Levando isso em conta, o fato dele tirar a máscara a todo momento nem irrita tanto, mesmo que fira bastante a ideia por trás do personagem. Se ele deixou de ser o garoto sem dinheiro, que passava necessidade e precisava ralar para ser um dos herdeiros de Tony Stark.

    Em Homem-Aranha: De Volta Ao Lar se entende ele precisar de um mentor – ainda que o Homem de Ferro ocupar esse papel não faça quase nenhum sentido, já que ele nunca foi uma bússola moral – mas Longe de Casa não precisa se fundamentar tanto na instabilidade do herói, que recusa o fardo o tempo inteiro. Também não há muito sentido em manter a incógnita em relação a Mysterio não engana qualquer pessoa que tenha lido mais que 5 gibis do Aranha, a abordagem é obvia e extremamente expositiva, embora Gylenhaal faça salvar um bocado.

    O elenco de apoio funciona bem, em especial Jon Favreau e Zendaya, que tem bastante bons momentos.  Tom Holland claramente merecia ter um roteiro melhor, pois ele faz um Peter Parker interessante e inteligente, mas o filme exagera no caráter episódico,  é divertido mas não parece ter muita alma, mesmo as piadas boas são deslocadas, diante disso o romance dos protagonista parece sem força e o drama soa fraco e totalmente deslocado. O Homem Aranha de Jon Watts não é nem o Amigão da Vizinhança de Stan Lee e Steve Ditko, nem o Homem-Aranha do Sam Raimi, nem o dos desenhos e nem o introduzido em Capitão America: Guerra Civil, Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato, e sim uma paródia de todos esses,  uma amálgama de bons e péssimos elementos, com piores momentos dentro desse  cerne, sendo mais uma vez refém da figura do mentor mesmo que ele não seja mais vivo, além do que tudo que toca a responsabilidade de Stark para com ele mostre uma nada sábia escolha de entregar nas mãos de um rapaz um sistema de monitoramento mundial, em mais uma demonstração de fragilidade no que foi pensado pelos roteiristas deste Longe de Casa e do futuro da Marvel nos cinemas.

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  • Crítica | Animais Noturnos

    Crítica | Animais Noturnos

    Existe um provérbio antigo que diz que a vingança é um prato que se come frio. Um ditado que não possui uma origem exata, mas que se popularizou e ainda serve como uma expressão metafórica servido, por exemplo, como introdução ao clássico recente de Quentin Tarantino, Kill Bill. O novo filme de Tom Ford, Animais Noturnos se vale de uma história em tons mais frios, apontados tanto nos figurinos da protagonista Susan Morrow (Amy Adams), quanto nas relações que ela tem ao longo do filme.

    A carreira da mulher como expositora de arte está em franca decadência, bem como seu casamento com Hutton (Armie Hammer). A relação dos dois é fria, sem espontaneidade ou qualquer emoção além do trivial, fato que a faz ser presa fácil para um sentimento depressivo. Sem muitas ações, ela recebe uma encomenda, que é o original de um livro, nominado igual ao filme, e que seria de autoria de Edward Sheffield (Jake Gylenhaal), um antigo amor seu. O título do romance é igual o apelido que o ex-amante deu para seu antigo par e a leitura daquele thriller mexe com a psique dela.

    A dicotomia entre o visual luxuoso e fashionista da personagem principal, com o interesse em uma literatura pulp mostra o desejo de Ford de mexer com extremos de do consumo da personagem, e essa condição é importada a história também, mostrando que a condução varia entre momentos austeros e pitorescos. Há três linhas narrativas, uma mostrando Edward e Susan no inicio da vida adulta, se relacionando e terminando, a atual e a metalinguagem do livro, que mostra Tony Hastings (Gylenhaal também) e sua esposa e filha viajando e sendo atacado por um grupo de malfeitores. Nesse interim é que moram as melhores atuações, se destacando o policial de poucas facetas Bobby Andes (Michael Shannon) e o asqueroso agressor Ray Marcus (Aaron Taylor-Johnson), que faz um sujeito que consegue fugir o tempo todo das garras da lei.

    Os diálogos no passado mostram um casal jovem, que discute trivialidades. As críticas que relacionam tais conversas a um vazio de conteúdo e sentido talvez não levem em conta de que são esses personagens imaturos, comuns e sem grandes diferenciais em comparação com o resto da humanidade apesar do discurso de Edward e Susan não combinar com isso. A diferença entre vivência e discurso está no abismo entre o pragmatismo hiper realista e o idílico sonho de ser alguém poderoso, e por isso toda a trama entre o antigo casal funciona, ao menos na tentativa de fazer a relação dar certo.

    Da parte do roteiro, é curioso como se acerta muito na tentativa de fazer uma história com pessoas tão medíocres soar tão grandiloquente, apontando em especial para o luxo do vestuário feminino, e ainda mais surpreendente o quanto o argumento escorrega em suas próprias armadilhas, sendo didático em momentos em que seria muito melhor só sugerir as teorias.

    A construção da revanche pelos eventos do passado é curiosamente bem urdida pelo personagem que enviou o original, pondo dentro da sua narrativa escrita todos os detalhes sórdidos da relação antiga, tocando em temas como repetição de ciclo familiar, melodrama barato e erros de expectativas. Os personagens chave possuem olhos claros, e a câmera de Ford faz questão de dar detalhes dessas cores, mergulhando nas tonalidades e nas almas magoadas de praticamente todos os personagens, que em suma, variam entre o egoísmo extremo e a frustração de não acreditar no potencial de seus pares. Desse crime, todos os personagens de linha temporal mais atual padecem.

    O terror de Animais Noturnos reside na sensação de remorso, e esse é o aspecto mais rico do texto, sem dúvida, por destacar o quão rica e triste pode ser a complexidade da alma humana, repleta de sensações dicotômicas e difíceis de explicar. O drama que aparentava ser sobre reencontros tem coragem de mudar seu gênero e consegue se sustentar bem apesar de alguns momentos de sensacionalismo, mas que em suma, não denigrem o encerramento de seu drama.

  • Crítica | Donnie Darko

    Crítica | Donnie Darko

    donnie

    A perturbação mental de Donnie Darko já é anunciada por elementos que não são verbais. A música de Michael Andrews ajuda a criar uma atmosfera que junto a câmera de Richard Kelly e a fotografia escurecida de Steven Poster, formam um ambiente escuro, dúbio, cuja moral não é exatamente normativa. A entrega de Jake Gylenhaal para o papel título é total, já demonstrando nas primeiras interações com outras pessoas uma extrema misantropia e falta de preocupação com qualquer opinião que não seja a sua.

    Donald tem surtos durante a noite, fato que o faz vagar pela cidade quando deveria estar dormindo. Sua reação é sempre passiva agressiva com os que o cercam, em especial sua família, que é a versão clássica do modo de vida americano, conservadora. Graças ao quadro clínico de esquizofrenia, o rapaz toma remédios tarja preta, fato que ajuda a entender seu comportamento indócil e as fugas/saídas noturnas. Sua vida é cortada por um canto sedutor, passando a estabelecer contato com um homem fantasiado de coelho – chamado de Frank – que o faz se afastar da casa assim que ocorre o acidente com a turbina de avião que cai misteriosamente sobre seu quarto.

    O protagonista é o tempo tratado como louco, mas o ambiente que o cerca também não é exatamente o mais saudável do mundo. Quando a câmera passa pelos corredores da escola, a música de Andrews mais uma vez toca acompanhada de um slow motion típico dos clipes da MTV, mostrando que os colegas de Darko se utilizam de cocaína e outras drogas mesmo em ambiente escolar.

    O filme se localiza no final dos anos oitenta (1988) e a falta de paciência de Donnie com tudo e todos que o cercam combina bastante com a virada cultural ocorrido pelos idos de 1990, onde até a música se tornou mais crua. Darko não tem um visual gótico, até porque suas companhias não são exatamente assim e faltava-lhe referência para abraçar o estilo, mas sua postura encurvada, olhar longínquo e decepção total com a humanidade o faz parecer assim. A única pessoa que parece romper com isso é o interesse romântico, que tem como avatar Gretchen Ross (Jena Malone), uma moça bonita e tão tímida quanto ele. O roteiro de Kelly usa muito bem os arquétipos que tem em mão, tornando o drama universal apesar do largo uso de personagens pasteurizados, que dão ao espectador a mesma sensação de tédio que o perturbado jovem tem.

    A percepção de uma outra dimensão, não alcançada por praticamente ninguém e que se ocorre quando o tal coelho reaparece une em semelhança o filme de Richard Kelly com o clássico de Stephen King, Carrie – A Estranha, principalmente pela interferência paranormal (ao menos aparentemente) que ocorre quando o menino inunda a escola, mesmo sem sair de sua casa, a quilômetro de distância do local. O interesse do menino em relação a discussões sobre viagens no tempo, fazendo-o estudar o livro de Roberta Sparrow (Patience Phillips), chamado a Filosofia da Viagem no Tempo, que era vizinha dos Darkos, e apelidada de Vovó Morte.

    As discussões estabelecidas entre o personagem principal e o professor Jim Cunningham (Patrick Swayze, em um dos seus últimos bons papeis) resumem muito bem o niilismo da película, uma vez que coloca em perspectiva uma juventude problemática e frustrada contra o pensamento simplista que a literatura de auto ajuda tanto louva. É bizarro como mundos tão díspares convivem no mesmo espaço e lugar, reunindo perfis de junkies na escola e adultos suburbanos completamente caretas.

    A trilha sonora faz o filme se tornar um pouco datado, especialmente por ele ter se tornado um fenômeno de popularidade e ter tido as músicas executadas em diversos programas e festas que ocorriam no início da década de 2000. Há uma versão do diretor para Donnie Darko, mas a maior parte das novas cenas são dispensáveis, uma vez que ela tencionam explicar os mistérios por trás dos momentos mais viajandões do corte original feito para o cinema, em um movimento completamente oposto no visto dentro da versão de Ridley Scott para Blade Runner. Vale somente pelas inserções do livro de Sparrow e mesmo assim a sensação é que o ônus é muito maior que o bônus.

    Uma das maiores discussões a respeito do clássico instantâneo que é Donnie Darko é se as visões com Frank são manifestações da insanidade do jovem rapaz ou se elas ocorrem com ele graças a uma suscetibilidade provinda desse quadro clínico. A crença de que essa capacidade de andar por linhas temporais diversas provém do Deus entra em contradição com os dizeres bíblicos/cristão, de que o Criador só dá aos seus filhos provações que os mesmos podem suportar, já que para Donnie, perceber a chegada do fatídico e conviver com o destino que recai sobre ele é demasiado pesado, fazendo até sentido a escolha do mesmo, próximo do final.

    Donnie Darko é um filme que ganhou uma popularidade tardia, quando entrou no circuito de home vídeo, especialmente graças ao fator replay, uma vez que possuem detalhes muito ricos em seu texto, e que tendem a ser melhor absorvidos depois de uma revisão. Apesar de o tema paradoxo temporal possuir em si uma discussão válida e bem rica, mas a mensagem mais interessante certamente é a da visão do protagonista sobre aqueles que habitam sua cidade, desdenhando da mediocridade tipicamente suburbana e dos subterfúgios hipócritas que o homem comum usa.

  • Crítica | Nocaute

    Crítica | Nocaute

    Nocaute 1

    A consequente trajetória do inconsequente e metido lutador poderia render um enredo e uma construção de personagem interessante, que fugiria aos estereótipos já vistos em Rocky e Jake LaMotta. O ponto triste é que eu não gosto de usar esta probabilidade, mas poderia.

    Nocaute narra a história de Billy Hope (Jake Gylenhaal), um exímio e feroz lutador de boxe já consolidado no circuito mundial, mas que demonstra irresponsabilidade e displicência, tanto no ringue quanto fora dele. Ele é casado com Maureen (Rachel McAdams), que poderia ter maior tempo no filme, já que seu papel é morto justamente para trazer o aditivo emocional e o ponto principal para a contextualização de Billy. Ambos possuem uma filha, Leila (Oona Laurence), que aos poucos no filme vai entendendo a questão do pai ser violento e irresponsável consigo mesmo. A partir da morte de Maureen, é iniciada a derrocada de Billy em sua vida pessoal e profissionalmente.

    Neste instante, o roteiro e o enredo começam a ficar pautados por clichês de filmes do clássico lutador que busca motivações, redenção e se recolocar no papel de pai, irmão, filho, seja lá qual for o grau parentesco/familiar que é apresentado. A direção do Antoine Fuqua é muito boa. Um diretor que tem uma boa estética noturna e urbana, sabe usar controle de câmeras, o que além de intensificar a emoção e o sentimento da cena em si traz uma movimentação bem presente, que te coloca numa posição boa nos momentos de clímax e nas lutas. A atuação de Gylenhaal é, mais uma vez, espetacular. Mesmo seu personagem não trazendo características novas ou algum drama peculiar que talvez lhe escapasse da identificação casual, ele sustenta bem e se entrega não só fisicamente, mas também com cargas dramáticas bem impostas.

    Sua relação com a filha é impressionante, talvez o ponto principal do filme. A atuação da Oona é brilhante, destaca um talento bem natural. As cenas de diálogo e principalmente de revolta com o pai fluem muito bem, são orgânicas e tensas. Há uma cena entre eles, que marca a transgressão do 3º ao 4º quarto, que visceralmente choca por ela não ser boba e ter uma construção e capacidade de percepção que surpreende até mesmo Billy. A participação de Forest Whitaker, como treinador Tick Wills, potencializa o filme, no entanto a história fica mais uma vez presa em arquétipos já analisados e vistos em outros filmes que possuem essa fórmula na semântica da motivação e redenção.

    Fuqua é um diretor bem cotado em filmes de ação mais independentes. Lágrimas do Sol e até o interessante O Protetor dá a credibilidade de alguém que surpreendeu a academia por trazer uma comunicação mais urbana e concentrada em ideologias e universos periféricos em Dia de Treinamento. Ele perdeu acentualmente ao calcar os personagens em cima do já caricato lutador renegado em busca de redenção, mas compensou ao humanizar mais esse universo que é perceptivelmente frio, assim como é a atuação do rapper 50 Cent.

    Texto de autoria de Adolfo Molina Neto.

  • Top 10 – Maiores Injustiçados pelo Oscar 2015

    Top 10 – Maiores Injustiçados pelo Oscar 2015

     oscar injustiça

    Quase tradicionalmente, após observar a lista de indicados pela Academia para a maior premiação do cinema comercial, notam-se também injustiças, tanto nas ausências de indicações quanto nas premiações. Filipe Pereira, Marcos Paulo Oliveira e Doug Olive prepararam uma lista especial sobre os filmes que ficaram de fora da festa, com categorias variadas:

    10. Uma Aventura Lego, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Animação

    lego batman

    Tudo é incrível. Assim diz a canção-chiclete que é usada como recurso para nos mostrar o modo de produção e vida da cidade Lego. Sim, tudo realmente parece incrível, mas logo vemos que esta não se trata de uma animação tradicional. Com uma energia capaz de abarcar todo tipo de contexto e metalinguagem, aqui a piada é o único refúgio para o trato de temas eventualmente sérios, eventualmente ridículos, mas igualmente importantes. De tão segura a direção, não faltaram críticas à forma como agimos em nossa sociedade, fruto de uma estrutura rígida e autoritária, quando justamente deveríamos ser livres para o que nos cabe. A temática é ligeiramente parecida com o concorrente Os Boxtrolls, que, apesar de mais estiloso, é bem menos ousado. A despeito disso tudo, qualquer filme que é capaz de estapear uma sociedade que compra café a 20 reais e acha tudo incrível, merece toda a atenção.

    9 . Hobbit A Batalha dos Cinco Exércitos, por Doug Olive – Melhor “Descenso de Carreira”

    O-Hobbit-A-Batalha-dos-Cinco-Exercitos 5

    Peter Jackson conseguiu o impensável: esconjurar toda e qualquer credibilidade que conseguiu no mundo do Cinema, graças à primeira e impecável trilogia do anel, com esta segunda empresa trágica e ridícula no mesmo nível de desconstrução. Um fiasco do início ao fim – sendo O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (2011) o melhor exemplar da divisão ambiciosa de um folheto adaptado em três intermináveis filmes -, A Batalha dos Cinco Exércitos é a cereja no bolo de jiló de uma receita fadada ao fracasso por motivos óbvios. Filme de nível morto de represa e merecidamente ignorado nas premiações, mesmo em ordem técnica, algo impensável dez anos atrás, Jackson criou seu iceberg ao construir seu terceiro Titanic, desta vez cheio de falhas, tendo no currículo o mediano King Kong de 2005 e um motivo triplo para nos perguntar: como alguém que adapta a e$cala de O $enhor dos Anéi$ pode de$cer tão baixo?

    8. A 100 Passos de Um Sonho, por Doug Olive – Melhor Fotografia

    THE HUNDRED-FOOT JOURNEY

    Há algo de único neste filme, ainda que desigual quanto à obra como um todo. Não há nada de errado com feel-good movies, e também não há repreensão naquilo que mais se destaca num filme, que neste caso é a fotografia, simplesmente soberba: a obra nos faz sentir, numa simples e esperta aproximação ocular, o cheiro, gosto e textura de determinada comida à nossa frente, quase ao alcance de outros sentidos degustativos, ou o mero prazer de redescobrir o mundo europeu numa ótica indiana mais viva e colorida; tanto faz. Deleite sensorial magnífico que merece reconhecimento do público ao menos, ainda que a história deixe muito a desejar no quesito que mais se esforça para representar: choques culturais. A crítica completa você encontra aqui.

    7. Força Maior, por Filipe Pereira – Melhor Filme Estrangeiro

    Força Maior

    De história bastante reflexiva, Força MaiorForce Majeure, ou Turist, no resto do mundo – conta o drama de uma família, que, ao passar por uma situação limite, vê em seu pai uma figura irresponsável, uma vez que, diante de uma pequena avalanche, ele abandonou todos, levando consigo somente seu smartphone e outros pertences, enquanto mulher e filho ficaram à própria sorte. A tragédia recai sobre o casal de protagonistas, que em uma reunião de férias deve se reinventar e repensar o papel de cada um na relação. O filme do sueco Ruben Östlund foi indicado ao Globo de Ouro na categoria Filme Estrangeiro, e seria um candidato interessante ao Oscar da mesma categoria, especialmente por ser bem diferente de tudo visto no circuito americano.

    6. Jersey Boys: Em Busca da Música, por Doug Olive – Melhor Direção, Roteiro Adaptado

    Jersey Boys

    A frase “Come back when you’re black!” (“Volte quando for negro!”) é sensacional. Registra todo o espírito e estereótipos além do racial ou tendencioso numa única frase, dita durante uma discussão sobre e entre músicos e produtores. O Oscar não apenas ignorou por injusta causa o melhor musical americano de 2014, como renegou o filme diante do status de ser este o melhor de Clint Eastwood desde Cartas de Iwo Jima, há oito anos. Dos números musicais à leve e crescente disputa entre integrantes de uma banda, com inúmeros sons e identidades que colam na cabeça do público ainda hoje, o filme é divertido pelo vigor que vários e bons diretores prematuros não conseguem passar ao público de forma linear, principalmente no número final, clímax redundante em que até o sério Christopher Walken risca o chão e arrisca um gingado com Oh, What a Night!, clássico do grupo Four Seasons.

    5. O Ano Mais Violento, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Atriz

    O Ano Mais Violento

    O longa se passa na Nova York de 1981, e logo no início já reconhecemos o histórico violento da cidade e seu futuro incerto. Usando Oscar Isaac como astro, é notório que, apesar de seu talento, o ator desaparece cada vez que Jessica Chastain aparece em cena. Isso não é por acaso, pois a direção de J.C. Chandor faz questão de iluminá-la e destacá-la em todas suas aparições, demonstrando todo o magnetismo daquela mulher que, ao contrário do marido, faz o que for necessário. Resquício de uma sociedade gângster, ela se mostra capaz de adaptar-se à sociedade atual, mais civilizada e de sobretudo, mas sem deixar suas garras de lado. Subliminarmente perversa desde o início, Chastain faz um belíssimo papel demonstrando que, como disse Mario Puzo, por trás de toda grande riqueza sempre há um grande crime.

    4. Sob a Pele, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Roteiro Adaptado, Efeitos Visuais

    Sob A Pele

    Porque o filme manipula de forma muito competente sua forma de ver pessoas e paisagens, em uma direção kubrickiana de narrativa não linear, capaz de alcançar desejos e aspirações do público. Um diálogo direto justamente com aqueles que dissecaram Scarlet Jonhanson – em uma atuação acertadamente alienígena, ornando com a direção – durante as primeiras imagens do filme. Uma pena que a maioria não percebeu. Um espelho capaz de tornar paisagens e pessoas reféns de si mesmos.

    3. Dois Dias, Uma Noite, por Filipe Pereira – Melhor Filme Estrangeiro, Roteiro Original

    Dois DIas Uma Noite

    Além da óbvia referência à direção dos irmãos Dardenne – factoide comum da Academia em ignorar indicações a estrangeiros – o drama depressivo e reflexivo teve seu emocionante roteiro esquecido. Apesar da indicação de Marion Cotillard, na sua performance mais inspirada desde que ganhou o Oscar, não há qualquer justificativa para o filme não ter ficado entre os cinco finalistas que concorrem em 22 de fevereiro. Acima de tudo, Dois Dias, Uma Noite trata de uma questão real e imediata, contando de forma implacável o quão prejudicial pode ser a doença que apavora o último século, sem amenidade nenhuma, mostrando o viés do doente e do entorno dele.

    2. O Abutre, por Filipe Pereira – Melhor Ator, Fotografia, Edição de Som

    Abutre

    Dan Gilroy traz em sua estreia na direção um filme curioso e nada sutil. A fotografia obscura é pontual ao retratar a atuação irretocável de Jake Gylenhaal – que já havia apresentado uma performance surpreendente em O Homem Duplicado. A amoralidade presente no modus operandi de seu personagem retrata a realidade abissal de um jornalismo que teima em chocar em detrimento da informação. Possivelmente, o assunto tão aviltante não capturou o ideário da Academia, que sequer lembrou-se do ator, fotografia ou edição sonora da fita.

    1. Garota Exemplar, por Marcos Paulo Oliveira – Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado

    GONE GIRL, from left: Ben Affleck, Rosamund Pike, 2014. ph: Merrick Morton/TM & copyright ©20th

    O horroroso, divertido e incrível novo filme de David Fincher, Garota Exemplar, conta a história de uma esposa e filha exemplar e adorável que desaparece quase sem deixar vestígios. Adaptação do livro homônimo, vemos todos os elementos para que o estilo sempre instigante de Fincher passeie pela superfície de diversos temas (casamento, mídia manipuladora, a vida de aparências, os medos masculinos) sob uma mesma tese: o poder da imagem. Grande parte do mérito da narrativa impecável está no roteiro, esculpido para ser perfeito, e na direção de Fincher, que faz aqui o Intercine dos Intercines. Sem medo de se render à breguice, ou a gêneros, o cineasta faz uma paródia fortemente marcada por um de seus traços mais marcantes como autor, que é o cinismo mordaz com que trata o espectador. Com tudo tão horrorosamente lindo, o casamento do cínico com o tragicômico é a única união realmente estável desta fita.

    Menções honrosas à atuação de Jennifer Aniston, em Cake, e a Bill Murray em Um Santo Vizinho; Festa no Céu ao prêmio de Melhor Animação; O Segredo das Águas, O Presidente, Blind para Filme Estrangeiro; Tudo Por Justiça, Edição de Som; e Vício Inerente, a inúmeras categorias.

  • Crítica | Marcados para Morrer

    Crítica | Marcados para Morrer

    A onda de filmes com o estilo handcam parece longe de acabar. Depois de virar praticamente o padrão em produções de terror, e algumas tentativas em outros gêneros, como Poder Sem Limites e Projeto X, a bola da vez é o policial Marcados Para Morrer. David Ayer, roteirista de filmes como Dia de Treinamento e o primeiro Velozes e Furiosos, escreve e dirige o longa sobre uma dupla de jovens policiais de Los Angeles (vividos por Jake Gylenhaal e Michael Peña). Apesar desta já ser a terceira vez de Ayer na direção, a impressão é que o negócio dele é só escrever mesmo.

    Ao optar pela estética de câmera na mão, o diretor parece ter apenas seguido uma modinha, e não tentado oferecer uma experiência até então inédita no gênero ação. Os problemas começam quando não apenas os policias gravam seu dia-a-dia (a desculpa que é o projeto acadêmico de um deles), mas os bandidos também se filmam só pra tirar onda. Então não há uma única filmagem, e sim uma colagem de várias só pra possibilitar que outros ambientes sejam mostrados sem quebrar a proposta. Até aí, nada demais, vários filmes fazem o mesmo. Só que em vários momentos temos ângulos de handcam que não fazem o menor sentido considerando as câmeras presentes no local. E em outros, uma câmera assumidamente convencional toma conta, ou seja, fugindo da ideia inicial. Essa esquizofrenia da direção, também aplicável à edição, aliás, acaba privando o filme daquilo que o estilo câmera na mão oferece de melhor, a imersão total na narrativa. Ficam somente os aspectos negativos, como qualidade de imagem inferior e lacunas na história.

    Caso tivesse sido filmado inteiro de maneira convencional, Marcados Para Morrer poderia ter sido um ótimo filme. Isso porque o roteiro é muito bem trabalhado, em especial em relação aos protagonistas. Amigos de infância, praticamente irmãos, os dois policiais revelam toda sua humanidade de modo bastante crível. Durante as patrulhas, eles conversam sobre tudo de suas vidas pessoais com um tom de intimidade e camaradagem que só parceiros de longa data poderiam ter. Alternando-se a isso, as situações tensas e até macabras que o trabalho joga diariamente pra cima deles, e como ambos reagem, lutando pra não serem afetados mais do que o suportável.

    A dura realidade impacta diretamente na visão romântica, principalmente de Brian (Gylenhaal), de que eles são super-heróis que vão salvar o mundo. Patrulhando as regiões mais barra-pesada da cidade, os personagens acabam se destacando e entrando na mira de um perigoso cartel mexicano. A presença violenta de gangues latinas, em conflito com os já estabelecidos negros, criou um cenário bem interessante e inclusive realista. Pena que isso, até pelo tempo e proposta, não foi tão desenvolvido.

    Em relação aos atores, os dois se saíram muito bem, há uma inegável “química” (totalmente heterossexual) entre eles. Gylenhaal se esforça e consegue convencer como durão, mas seria exigir demais dele a ausência de sua marca registrada: o olhar de cachorrinho triste está lá, nas cenas mais emotivas. Peña, não tão famoso de nome mas com um rosto reconhecível (de filmes como Invasão do Mundo, Crash, Torres Gêmeas, etc.) teve um trabalho consideravelmente mais fácil, viver um latino expressivo e tagarela. O resto do elenco está dentro do esperado no pouco espaço que tem, apelando pra estereótipos do gênero. Vale destacar a presença de Anna Kendrick, que já provou ser uma atriz competente, apesar de estar na Saga Crepúsculo.

    Naquilo que pretendia inovar, Marcados Para Morrer sinaliza que handcam talvez não combine com filmes de ação. Contudo, se enquanto experiência do ponto de vista técnico, o resultado não foi dos melhores, não deixa de ser uma boa pedida por cumprir a função básica do cinema: contar boas histórias.

    Texto de autoria de Jackson Good.