Havia uma grande expectativa em torno da estreia de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, por conta da possibilidade de apresentar finalmente uma versão do multiverso no cinema da Marvel e, claro, pela possibilidade da aparição de Tobey Maguire e Andrew Garfield. Esta terceira parte conduzida por Jon Watts começa no momento final de Homem-Aranha: Longe de Casa, onde o vilão Mysterio revela a identidade do herói.
O ponto de partida do filme é o caos total, causado pela revelação do vilão, e a opinião pública se divide em relação à culpa do Aranha nesse caso. Pela primeira vez o personagem do UCM parece ter dificuldades tangíveis. Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar ele passa a maior parte da história sob a tutela de Tony Stark, como se fosse um trainee de herói, e não o mais popular personagem de histórias em quadrinhos da Marvel Comics.
Os roteiros dos filmes da Marvel normalmente não são primorosos, não é raro perceber uma reciclagem de conceitos, com um ou outro vilão clássico representado no cinema em uma aventura genérica e presa a fórmula, tendo como diferencial as cenas pós créditos, que por sua vez, geram a expectativa de que a próxima produção será épica. Sem Volta Para Casa acaba tropeçando em alguns desses problemas, mas se diferencia pelo modo emocional com que é levado. Dessa vez, há vilões realmente perigosos, assassinos sádicos, não versões “água-com-açúcar”.
O Peter de Tom Holland não tem um código moral bem estabelecido até essa historia, o caráter dele é posto à prova de maneira bem mais explícita, e sem a diluição de ter a responsabilidade dividida com outros heróis, como foi nos filmes anteriores e Guerra Infinita. Pela primeira vez nessa encarnação há peso em suas atitudes. Suas reflexões se dão sem interferência de personagens externos ao seu universo, ele sozinho se dá conta disso. Essas questões emancipatórias e de amadurecimento são bem observadas, mas não se descuida dos momentos de ação típicas de aventuras de super-heróis de quadrinhos.
A ação do filme é frenética, e Watts resgata boa parte dos melhores momentos do herói na grande tela, inclusive emulando cenas clássicas dos filmes de Marc Webb e Sam Raimi. As lutas são ótimas, sobretudo o embate contra o Dr. Octopus de Alfred Molina. Os efeitos em computação gráfica também tiveram um upgrade, tanto nas lutas quanto no rejuvenescimento do elenco veterano de vilões que, aliás, são tão presentes aqui que faz perguntar se a intenção não era a de referenciar o malfadado filme do Sexteto Sinistro que jamais saiu do papel.
A produção trabalhou bastante para guardar seus segredos, tanto que na exibição para imprensa havia um pedido do elenco para que não houvesse spoilers de modo algum. Ainda assim, mesmo sem falar dos rumos que o roteiro toma, é possível afirmar que a versão amaldiçoada do herói está bastante presente, assim como o fardo de carregar o mundo de responsabilidades em suas costas. Em vários pontos o desempenho dramático de Holland é exigido, e ele simplesmente não decepciona. Outras figuras como Zendaya e Marisa Tomei também tem grandes aparições e ajudam o protagonista a brilhar, certamente seu papel não seria tão elogiado se ambas não estivessem tão afiadas quanto ele.
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa é de fato um filme que busca romper com o céu de brigadeiro que ocorria nas aventuras dessa versão do Aranha. Logicamente, ainda existem algumas conveniências e pieguices, algo bastante recorrente em suas histórias em quadrinhos. De qualquer modo, finalmente a essência de quem é Peter Parker é contemplada, e honra o ideal que Steve Ditko e Stan Lee pensaram para o seu personagem mais famoso.
Depois de uma temporada inicial apoteótica, The Mandalorian retorna em 2020 repleta de expectativas por parte dos espectadores e da crítica. O destino do caçador de recompensas e da criança que lhe serve de parceiro e pupilo é explorado em cenários que lembram os bons momentos dos western spaghetti, e claro, aventuras de ficção científica.
Em menos de dez minutos do primeiro episódio, Din Djarin se mete em um cenário de luta livre com diversos personagens alienígenas já conhecidos, inclusive os “suínos” gamorreanos que serviam de guardas de Jabba brigando e arrumando confusão. A sensação de que se expandiu o mundo introduzido em Uma Nova Esperança na cantina de Mos Eisley segue viva, claro, com pitadas do novo cânone e muitas referências a The Clone Wars e Rebels.
Jon Favreau sempre disse que era um apaixonado pela trilogia clássica e tudo que foi produzido a respeito da saga, e isso se vê tanto na escolha de estender essa parceria com Dave Filoni, responsável pelas séries animadas em 3D que se localizavam entre os filmes, como também no retorno aos cenários clássicos e no uso de feitos visuais práticos, como era nos longas dos anos 70 e 80. O cuidado em dar volume e substância aos confins e subúrbios da galáxias fomenta a importância da jornada estabelecida entre o Mandaloriano e a criança, resultando numa boa releitura dos mangás do Lobo Solitário.
A estrutura dos episódios segue a mesma da primeira temporada: há uma linha guia, mas alguns episódios são ligados a questões pontuais. A presença de velhos conhecidos dos fãs permanece neste ano, ainda que ocorra de forma breve. Essas aparições garantem fôlego a série e dão um pouco da dimensão do quanto o antigo universo expandido maltratou os personagens, especialmente Boba Fett, embora haja um resgate de elementos de quadrinhos antigos do selo Legends como em Boba Fett: Engenhos da Destruição e Jango Fett: Temporada de Caça.
Entre os diretores dos oito episódios, há de destacar Bryce Dallas Howard, que rege de maneira ainda mais firme do que havia sido na primeira temporada em The Sancturay, e também Robert Rodriguez, que produz um capítulo curto, mas repleto de ação e diversão, fato que rendeu ao diretor de Alita: Anjo de Combate a produção executiva da nova série da Disney +, The Book of Boba Fett. A presença de Rosario Dawson também é ótima, finalmente trazendo à luz um personagem que só tinha aparecido em versão animada.
Os dois episódios finais são frenéticos, mostram boa parte dos personagens secundários com muito destaque, além de conter boas referências ao cinema recente, como uma clara alusão a cena do jogo de adivinhação em Bastardos Inglórios, e claro, o resgate a um conceito do universo expandido, os robôs de combate Dark Troopers. Para quem gosta de Star Wars,The Mandalorian é um prato cheio. Simples, direta, divertida e cheio de personagens carismáticos.
Meus amigos, a Disney não está para brincadeira! A data de dez de dezembro de 2020 poderá entrar para uma das principais da história desta gigante do entretenimento, já que foi o Dia dos Investidores da Disney, onde a “empresa do Mickey Mouse” apresenta para seus investidores seus projetos futuros. Foi uma maneira agradável de dizer que o seu dinheiro será empregado pesadamente em produções audaciosas para o público em geral, que envolve a Disney propriamente dita, a Pixar, Marvel e Lucasfilm com o universo de Star Wars.
De fato, o que se viu foi que a Disney investirá pesado no seu canal de streaming, o Disney+, demonstrando querer viver não só do passado, mas de um futuro bastante promissor. Inclusive, o evento aproveitou para mencionar o sucesso estrondoso do canal que já está próximo de bater a meta que estava prevista para daqui 4 anos.
Mas nem tudo são flores, uma vez que diversos projetos poderão sofrer cancelamentos ou mudanças em suas trajetórias. Falaremos isso em um texto mais específico.
Aqui nós acompanharemos o que vem por aí no mundo criado por George Lucas em Star Wars.
É inegável o sucesso de The Mandalorian, a série desenvolvida por Jon Favreau e Dave Filoni, que conta a história de um caçador de recompensa mandaloriano que, durante um serviço, resgata um bebê da mesma raça do mestre Yoda e que também é sensitivo na Força. As aventuras de “Mando” são leves, engraçadas, recheadas de ação, possuindo tudo que um velho fã de Star Wars quer. Importante dizer que a série foi o termômetro para diversas outras produções anunciadas.
ROGUE SQUADRON
Um dos anúncios mais importantes da noite foi o do tão aguardado novo filme de Star Wars: Rogue Squadron. Seguindo a linha de Rogue One e Solo, Rogue Squadron acompanhará o esquadrão de elite da aviação da Aliança Rebelde. A direção ficará a cargo de Patty Jenkins (Mulher-Maravilha), que disse que gostaria de fazer o maior filme sobre pilotos de guerra já feito. Rogue Squadron tem previsão para chegar aos cinemas em dezembro de 2023.
OBI-WAN KENOBI
Outro ponto alto da noite foi a confirmação oficial da produção da série de Obi-Wan Kenobi, ganhando título oficial, a confirmação do retorno de Ewan McGregor na pele do mestre Jedi, além do grande retorno de Hayden Christensen como Darth Vader. O seriado se passará 10 anos após os eventos de A Vingança dos Sith e, segundo a diretora Deborah Chow, a galáxia se tornou um lugar perigoso com a ascensão do Império e tem pessoas caçando cavaleiros Jedi. Obi-Wan precisará lidar com isso e ainda proteger o jovem Luke Skywalker.
AHSOKA
Após aparecer lindamente interpretada por Rosario Dawnson na segunda temporada de The Mandalorian, Ahsoka Tano ganhou uma série para chamar de sua. Assim como em Mandalorian, Ahsoka será capitaneada por Jon Favreau e Dave Filoni e trará novamente Dawson na pele da guerreira Jedi que deve continuar vasculhando a galáxia em busca de seu amigo Ezra Bridger e do Almirante Thrawn, desaparecidos ao final de Star Wars: Rebels.
RANGERS OF THE NEW REPUBLIC
Assim como Ahsoka, este outro derivado de The Mandalorian, também contará com a batuta de Favreau e Filoni e como o próprio nome já diz, mostrará os oficiais da Nova República. Em Mandalorian já vimos alguns deles pilotando X-Wings e colhendo informações em terra.
ANDOR
Andor é uma série que já está em estágio avançado de produção, tanto que foi divulgado um vídeo com cenas das filmagens e bastidores da produção. No vídeo, podemos perceber que é uma série que está investindo pesado em cenários, figurino e criaturas. Andor é sobre o personagem Cassian Andor, vivido por Diego Luna, que também assina a produção executiva da série. Andor foi o responsável por recrutar Jyn Erso para a Aliança Rebelde nos eventos de Rogue One: Uma História Star Wars.
LANDO
Lando Calrissian também ganhará sua própria série, mas não se sabe em qual momento ela se passará e nem se Donald Glover ou Billy Dee Williams, que fizeram o personagem nos cinemas, retornarão.
THE BAD BATCH
Se fôssemos traduzir esse nome, poderíamos dizer que um bad batch é um lote com defeito. A nova série animada de Star Wars teve seu primeiro trailer divulgado e se passará durante as Guerras Clônicas e talvez, logo após de A Vingança dos Sith. Bad Batch já teve um arco criado por George Lucas em Clone Wars. Segundo o criador, ele gostaria de explorar a ideia de que alguns dos clones fossem um pouco mais únicos que os outros, com habilidades um pouco mais especiais, formando assim uma unidade de forças especiais de batalha.
The Bad Batch teve seu primeiro trailer divulgado e o que se pode esperar é muita ação nessa série animada que será a substituta de Clone Wars.
VISIONS
Talvez o projeto mais diferente apresentado, Visions explorará o universo criado por George Lucas em curtas animados, sendo que, seu diferencial será a forte influência do anime japonês, com diversos especialistas envolvidos no projeto.
Para quem quiser pesquisar, num passado não muito distante, um trecho de uma animação japonesa de uma batalha espacial travada entre pilotos do Império e da Aliança Rebelde viralizou nas redes. Existe grandes chances de Visions ter nascido após esse vídeo.
THE ACOLYTE
Uma série com pegada de suspense e mistério, desenvolvida por Leslye Headland, responsável pelo ótimo Boneca Russa, e que acompanhará a época final da Alta República, com a ascensão dos poderes do Lado Sombrio. Poderemos ver muitos sabres de luz e diversos embates entre Jedi e Sith.
Também foi confirmado que Taika Waititi dirigirá um filme inédito, inesperado e único no universo da franquia. O cineasta que cuida dos filmes do Thor no Universo Cinemático Marvel, já dirigiu episódios de The Mandalorian.
E finalmente a primeira temporada de The Mandalorian chega ao fim, não sem anúncio de que ela retornará no final do ano de 2020. A expectativa em torno de Redemption era grande, especialmente porque caberia ao realizador Taika Waititi a direção desse capítulo. A trama começa imediatamente após ao plano do Mando de Pedro Pascal ter dado errado, com o acréscimo do Moff Gideon de Giancarlo Esposito chamando o grupo de anti heróis a ação.
As primeiras cenas dão conta de uma engraçada inteiração e discussão de troopers em bicicletas speeders, as mesmas vistas em O Retorno de Jedi. Eles tem armaduras deterioradas, sujas e surradas, como a dos rebeldes em Uma Nova Esperança, mostrando o declínio do que antes era um grande, numeroso e portentoso governo tirânico.
É incrível como em meio aos pouco mais de quarenta minutos de exibição ( o maior entre os oito) ao mesmo tempo que há muito drama, há também um clima leve e piadista. Jon Favreau acerta demais no roteiro e na escolha do seu condutor, seja na reutilização de IG-11, na exploração do passado do personagem-título de Pedro Pascal ou simplesmente nas piadas sobre a falta de pontaria dos artilheiros imperiais. Há um equilíbrio no que toca as referências aos fãs de uma maneira muito cuidadosa, diferente da total falta de sutileza dos filmes recentes, em especial A Ascensão Skywalker, mas um pouco de Han Solo – Uma Historia Star Warstambém.
Esse é obviamente um capítulo mais expositivo, que faz referências ao mito do Super Homem, a Moisés e até a Jesus Cristo. Toda a mística em volta do estiloso Boba Fett é finalmente justificada na cena em que o Corpo de Combate da elite mandaloriana aparece em massa ajuda a explicar toda a idolatria visual que as crianças e adolescentes tinham com o caçador de recompensas pós Império Contra Ataca – e também faz perguntar o motivo de terem transformado ele em um clone bobo, em Episodio 2- Ataque dos Clones – o encanto do pequeno Mando é exatamente o mesmo que o dos que compravam os bonecos da Kenner e achavam aquele personagem que emboscou Han Solo um sujeito sensacional.
As lutas que Waititi coloca em tela são secas, diretas e visualmente lindas. Quase todos os embates do seriados são de um apuro absurdo, mas essa em especial tem um peso diferenciado, pois há realmente um temor pelos personagens que foram apresentados, mesmo que nenhum deles seja exatamente o mocinho.
A vilania de Gideon não é super exposta. O que se sabe é que ele era um governador imperial bastante agressivo em abordagem, que punha a mão na massa tal qual Tarkin, e que é claramente mais imponente que o General Hux ou Pryde, que são alguns dos opositores da mais nova trilogia. Há mais receio no que se fala sobre o cerco a Alderaan e a Noite das Mil Lágrimas do que o visto nas ações da Primeira Ordem como um todo, inclusive referenciando um momento de conflito tal qual ocorreu no Episódio IV com as tais Guerras Clônicas. Espera-se que jamais tentem filmar tais conflitos, pois certamente a feitoria desses não corresponderia a imaginário de quem gostou de The Mandalorian.
Todos os aspectos técnicos são ótimos, a fotografia ajuda a montar uma atmosfera de tristeza e melancolia, os personagens novos mesmo sem muito tempo fazem diferença, há para quem torcer e por quem se importar, os efeitos práticos são ótimos e por mais que haja na figura do Baby Yoda um resquício de ligação com a força – além de uma breve explicação sobre as habilidades de sua raça – não há uma condição de refém dos jedi ou da religiosidade que era comum na época da antiga república.
A segunda metade do season finale é carregada de emoção, de despedidas e sacrifícios dos personagens. A probabilidade disso tudo soar piegas era grande, mas é incrivelmente bem encaixado em todo o trama previamente estabelecido. Há muito cuidado em toda a produção de The Mandalorian, fato que faz preocupar ter um segundo ano, pois esse é tão auto suficiente, auto contido e foge tanto a histrionismos, sendo basicamente o maior acerto da Disney junto a Os Últimos Jedi, e o longa citado foi tão surrado ao longo do tempo, ao ponto de terem descreditado quase tudo que ocorreu nele no filme subseqüente. O que se espera é que Favreau e seus colegas de produção tenham tempo e não pressão para lidar com a historia e com todos os aspectos que rondam Mando e outros personagens. O que se viu até aqui é algo de beleza ímpar, um objeto cuidadoso e bonito.
Apesar do nome diferente, Um Duende em Nova York trata de elfos, e começa com uma apresentação do Papai Elfo, interpretado por Bob Newhart, falando a respeito dos três trabalhos que cabem aos seres dessa raça, que vem a ser: fazer sapatos a noite enquanto o sapateiro dorme, fazer biscoitos em árvores, e o emprego das elites, fabricar brinquedos no ateliê do Papai Noel. O especial infantil com roteiro de David Berenbaum tem uma apresentação animada, que mostra vários desses seres lidando com as festividades de natal.
No Brasil, convenciona chamar os seres pequenos de duendes ou gnomos, até para diferenciar o “elf” dos elfos de J.R.R. Tolkien em Senhor dos Anéis, seres poderosos e imortais, diferente dos quase pigmeus das fábricas do Papai Noel. Logo, aparece Buddy, um humano que nasce no Polo Norte e que é adotado por Noel logo cedo, e que é treinado para ser um elfo. Ele cresce e se torna o astro de comédia pastelão Will Ferrell, cujo humor escatológico o faz um não candidato a contos infantis, naturalmente, mas curiosamente, ele casa bem, principalmente por conta do dueto que faz com o narrador Papa.
Logo o paradigma do filme muda, quando Buddy é incumbido de procurar seu pai, Walter (James Caan), na cidade de Nova York, um homem de negócios importante que não tem tempo para ele e nem para ninguém. Nesse meio tempo, ele trata de andar pela metrópole, interpretando o perfeito idiota que normalmente faz, e o palco de seu novo emprego é perfeito cenário para esse teatro dele.
O fato de Buddy ser completamente alheio a tudo o faz parecer uma criança, sua alienação não o faz estranhar, por exemplo, o fato de andar com roupas élficas o tempo todo. As loucuras como as guerrs de bola de neve não o fazem estranhar, ao contrário, ele é especialista nesse tipo de conflitos. Por não entende ironia, sarcasmo ou qualquer coisa que o valha, o elfo simplesmente não tem capacidade de compreensão para perceber como funciona o rito do natal ensaiado nos shoppings, quando se fala que haverá um Papai Noel ele acredita que é O Original, e toda essa literalidade gera ótimos momentos no filme. A aproximação que o personagem central tem dos seus rivaliza com a magia da fantasia realista que se estabelece em torno dos personagens natalinos, e o modo como Favreau apresenta esses aspectos lúdicos são muito bonitos, contendo tudo o que Meu Papai é Noel tentou estabelecer ao longo dos seus múltiplos filmes, com pouquíssimo tempo de tela.
Tudo que envolve os momentos finais é bem bonito e grotesco em simultâneo, a variação entre o mágico e o escrachado funciona de maneira singular. Buddy alcançar seu intento, de ser um bom auxiliar da festa natalina, a sociedade lida bem com a realidade de que o Papai Noel existem e até os números musicais fazem sentido. Há alguns problemas com a computação gráfica, principalmente nas renas que fazem o trenó voar pela cidade símbolo dos EUA, mas o filme sabiamente não foca muito nelas, deixando com que Ferrell e seus colegas de elenco capturem a atenção das crianças e dos demais espectadores.
Um Duende em Nova York é quase como um anti Grinch, e curiosamente guarda bastante semelhanças com o humor ácido dos livretos do Dr. Seuss, embora seja mais para o público geral que os livros infantis do autor citado, e tenha um caráter mais generalista, mas ainda assim contém uma mensagem otimista bem bonita e que foge da ideia materialista do natal, mesmo com os presentes sendo um objeto bem importante de sua trama, mesmo sendo uma ode a glutonaria tipica das festas de fim de ano, mesmo sendo focado num personagem que claramente sofre de retardos mentais.
O recap do sétimo episódio de The Mandalorian – batizado com The Reckoning – é um bocado longo, resgatando momentos de personagens que pouco apareceram, e não só dos personagens de Carl Weaters ou Werner Herzog, como em um acerto de contas com os outsiders que ajudaram o caçador de recompensas que dá nome a série a compor toda a trama pensada pelo criador Jon Favreau. Esse talvez seja o mais sentimental entre os sete capítulos já apresentados até aqui.
A historia não tem rodeios, se mostra Greef Carga (Weaters) apresentando uma proposta de união, que talvez pusesse o Mando de Pedro Pascal em uma situação conveniente e sem conseqüências graves para si e para quem lhe é querido. É engraçado como essa situação proposta iguala o sujeito a condição de Han Solo em Império Contra-Ataca, incluindo aí até as altas chances dele rescindir os erros no futuro, independente até do que ocorrerá no Season Finale, exatamente como ocorreu com o coreliano em O Despertar de Força.
A partir daqui se falará mais diretamente da trama, se ao leitor incomodar ter contato com spoilers, é melhor parar de ler.
O retorno de personagens como a Cara Dune de Gina Carano já era esperado, até pelo recapitular ter um caráter meio de prólogo. A forma como cada um dos personagens é mostrado dá um bocado de ideia de como funciona a personalidade dos mesmos, ainda que não haja tanto temo para cada um deles mostrar o seu cotidiano, e um pouco de quem cada um é. Mandalorian tem muita sorte em apresentar pessoas carismáticas e fáceis de gerar empatia mesmo com pouco tempo para desenrolar sua historia e para desenrolar a vida desses mesmos personagens.
Nick Nolte e Taika Waititi também retornam, com seus Kuiill e IG-11 e a participação de ambos é carregada de sentimentalismo, mas nada que faça soar piegas. A valorização de um e a ressignificação do outro reforça a ideia de outsider que o seriado sempre carregou. Dirigido por Deborah Chow, esse é o capítulo mais frenético, pois as tentativas de negociação entre cliente, contratante e contratado são violentas, acompanhadas de tiroteios e cercos absurdos, evocando até o que sobrou do Império Galáctico, mas ainda sem grandes respostas para a trama. Impressiona como Favreau prende a atenção do espectador e do fã, sendo bem pouco ou nada explicito dentro dos trinta minutos de capítulo e dos créditos “pintados”, que relembram e avançam a historia.
Giancarlo Esposito faz um homem que parece imponente e uma autoridade seja lá do que for, mas há em sua persona um cuidado para manter ainda a aura de mistério, emulando poeticamente e também na trama toda suspeição de Mando, que não confia em ninguém e que vê seu fracasso possivelmente chegar exatamente quando pensa em agir como equipe. Há um misto de sensações ao perceber que falta apenas um capítulo para acabar The Mandalorian, pois além de desenrolar muitos mistérios, também há a sensação de que são poucos os momentos nessa jornada de oito capítulos, mas também há alívio, pois tal qual ocorreu recentemente com Watchmen, que também só deverá ter uma temporada (tomara), o fato de não haver uma grande extensão de historia a torna ainda mais única e especial, que tem suas qualidades positivas agravadas pelo largo uso de efeitos práticos ao invés do comum e exagerado uso de CGI.
Mais longo entre os capítulos, pelo menos até agora, o sexto episódio de The Mandalorian começa com Mando indo até uma base estelar num espaço não identificado, onde encontra Ranzar Malk (Mark Boone Júnior), lá ele é bem recebido, cumprimentado por um sujeito que parece ser seu amigo, apesar da frieza do personagem principal.
Até pelo nome do capítulo, The Prisioner, se percebe que toda a amistosidade é um despiste, ao menos dos outros caçadores de recompensa que estão na base, dando sinais de que a guilda que contratou Mando (Pedro Pascal)conseguiu passar sua mensagem para praticamente toda a galáxia. Também se pincela um pouco de como funciona a política da Nova República, embora só arranhe mesmo, ao falar de como funciona o policiamento na galáxia.
Uma força tarefa é montada, para uma missão secreta, uma tentativa de liberar um prisioneiro, numa base da república, e os “canalhas” apresentados se reúnem em torno desse objetivo. Essa configuração faz lembrar um pouco o mote de Rogue One, embora aqui não houvesse qualquer nobreza na causa, e sim apreço pelo dinheiro, como é comum entre mercenários. A questão moral e ética não é super valorizada.
O roteiro e as situações são bem simples, o desenrolar dos fatos é violento e cruel, o episódio é quase como um filme de prisão em miniatura e ambientado no universo de Star Wars, e Rick Famuyiwa faz uma direção bem econômica e competente, sobretudo nas cenas de ação, que mostram combates francos, dignos, emulando dessa vez a sujeira moral e física dos westerns spaghetti.
Famuyiwa também injeta elementos de filmes de assalto, incluindo aí uma reviravolta com os que trabalharam com Mando, mostrando que o jogo que ele exerce o faz estar por cima da cadeia alimentar, mostrando-o como um estrategista acima dos seus semelhantes, capaz de ardis inesperados.
Até aqui Jon Favreau consegue produzir uma série que até utiliza alguns bons clichês de Guerra Nas Estrelas, mas que não pesa a mão em questões envolvendo misticismo, e que acerta cada vez mais por mostrar confins distantes da galáxia, com o excelente pretexto de mostrar as tentativas de fugir e de viver em paz que o personagem-título faz.
O início de The Gunslinger é no espaço, com o Mando de Pedro Pascal e o bebê da raça de Yoda sendo perseguidos. O diretor Dave Filoni e o roteirista e produtor Jon Favreau conseguem nesse terminar de referenciar as boas marcas e clichês de Star Wars, mostrando até o mesmo tipo de mira mega analógica típica do esquadrão rebelde que atacou a Estrela da Morte em Uma Nova Esperança.
O repouso do mandaloriano em um planeta remoto, que inclui Peli Motto (Amy Sedaris) como uma de suas habitantes – junto a pequenos e atrapalhados dróides – tem um ar de filme de fantasia provinciano, variando entre o visto em Willow – Na Terra da Magia e os contos tolkianos de Tom Bombadil no livro A Sociedade do Anel, embora aqui não seja excessivo.
Esse episódio é um dos mais curtos, considerando que a maioria deles não passou de quarenta minutos. A meia hora quase cravada mal se vê passar, o ritmo é fluído, mas a realidade é que quase nada ocorre, além de uma leve perseguição entre caçadores de recompensa. Ming-Na Wen mesmo, a atriz que protagonizava Agentes da Shield tem uma participação como Fennec Shand, uma sniper atrás da recompensa pelo protagonista, e por mais que parecesse ter potencial, tem sua aparição incrivelmente encurtada, mais ainda que a personagem de Gina Carano em The Sanctuary.
Este é quase um episódio do meio, um momento de breve reflexão sobre a jornada do anti herói, que tenta se esgueirar pelos confins da galáxia, que lida com a traição comum entre os mercenários e que se vê as voltas com os cercos comuns aos canalhas de Guerra nas Estrelas. Fora isso, há pouco avanço, além da vontade do novo personagem Toro Calican (Jake Cannavale) de entrar para a tal Guilda (a organização que reúne os Bounty Hunter da galáxia), e o que se vê é isso, um predador tentando ser mais esperto que o outro, com as cabeças ficando a prêmio o tempo inteiro.
Filoni mais uma vez não faz um trabalho de direção tão assertivo, há pouco interferência dele enquanto realizador, o que é realmente uma pena, pois um sujeito que tem tanto conhecimento a respeito do cânone e do antigo universo expandido de Star Wars, se esperava uma participação um pouco mais aguda em seus episódios, e apesar desse e do Chapter One serem os que contém mais referencias visuais e espirituais com o antigo Universo Expandido, são também os mais genéricos em matéria de roteiro e de direção, mesmo com os fan services e com a inversão de valores dentro de Mos Eisley, que agora é comandada por um droide como bartender, enquanto no Episódio IV, o antigo chefe do bar proibia robôs.
Para o futuro, resta entender e saber quem é a figura misteriosa que aparece na cena pós crédito, e esperar que não seja a figura de Boba Fett, como boa parte dos fãs na internet teorizaram, uma vez que resgatar isso seria um péssimo retrocesso e referência a um dos momentos mais vergonhosos do material extra-audio visual.
Após três episódios bem distintos e desprovidos de qualquer caráter épico, The Mandalorian retorna para este The Sanctuary com um momento meio inédito para a série, com um prologo que remete a discussões bem distantes do que normalmente era discutido no seriado. O momento citado mostra o fundo de um pequeno lago, onde se veem crustáceos azuis, com aparência típica do camarão visto na Terra, em um momento que apesar de bem diferente do que se via até então, faz paralelos com outras adaptações para a televisão, incluindo ai o elogiado seriado de Damon Lindelof, Watchmen, que normalmente começa seus capítulos assim, com algo diferente do resto da historia.
O cotidiano dessas criaturas marinhas é interrompido pela ação dos humanoides do planeta onde a trama do capitulo dirigido pela atriz Bryce Dallas Howard – estreante em séries (fez alguns curtas, tele filmes e mini-series) , que é filha de Ron Howard, o mesmo que finalizou Han Solo: Uma Historia Star Wars – ocorre, e de certa forma, é um resumo de como conversará a trama principal, que mostra um lugar indefeso e até um pouco ermo daquele cenário político pós Império, sendo atacado por selvagens expansionistas.
O destino dos presentes no planeta e do caçador se cruzam por acaso, e o caçador se sente tão à vontade que até tira sua máscara, mas não mostra as feições de Pedro Pascal para as lentes das câmeras. Há uma clara influência visual de produções de fantasia grandiosas. Há bastante coincidências entre as ações e visuais dos invasores que tomam o vilarejo visitado pelo mandaloriano com os Uruk-hais de O Senhor dos Anéis, inclusive nas intenções não ditas por eles e pelos soldados de Sauron. Ali parece haver só selvageria e maniqueísmo.
Também se nota no roteiro de Jon Favreau uma vontade enorme de referenciar os clássicos filmes japoneses de samurai, principalmente Yojimbo, de Akira Kurosawa e o mangá Lobo Solitário, especialmente no que toca o Baby Yoda acompanhando o aventureiro. Lança-se mão de muitos clichês visuais e de arquétipos, neste que é até aqui o mais usual e raso dos episódios. As sutilezas são deixadas de lado para mostrar alguns personagens novos, introduzidos sem muita cerimônia, e que agem basicamente como mandam seus figurinos e visuais.
Em alguns momentos é impossível não achar que a inteiração entre os personagens é comandada por uma criança de sete anos, que faz uma brincadeira com seus bonecos. Essa sensação é um pouco aplacada pelo bem desempenho de Gina Carano, que faz Cara Dune, uma caçadora de recompensas que está no mesmo espaço que Mando, que interage com ele de maneira violenta mas depois é amistosa com o protagonista, como já se esperava alias.
Ao menos os combates são bem legais, a utilização dos artefatos imperiais é muito bem pensado, e mostram como os lugares carentes dão um novo significado aos esforços de guerra, além de mostrar a construção de novas resistências, para muito além do grupo de Leia e companhia mostra em O Despertar da Força.
Apesar de ter uma cara de “episodio filler”, The Sancturay tem muitos acertos, ao mostrar como pessoas comuns tem de lidar com o que restou das forças imperiais e como se lida com as milícias provenientes dos antigos tempos de guerra. The Mandalorian parece mesmo se dedicar a mostrar a vida dos marginalizados da galáxia, e nesse aspecto acerta demais, não só em abordagem textual como também no visual.
Mesmo que em alguns pontos este pareça um capítulo de Hercules ou Xena: A Princesa Guerreira, o que se vê da comunidade quase medieval coincide bem demais com bons episódios de Star Wars: Clone Wars, sobretudo os que se passavam nos planetas atacados pelos separatistas. Entender que Guerra nas Estrelas não é só Naboo, Coruscant, Tatooine e as instalações imperiais é importante, e por mais que houvessem viagens para Bespin e Hoth em O Império Contra Ataca, quase não se notava como eram aqueles lugares para o povão, uma vez que tudo girava em torno de dois ou três personagens, e a câmera de Irvin Kershner os acompanhava nessas andanças.
Os mais de trinta minutos de episódio tem sido pouco para explorar a pecha de emulação de produto western que Jon Favreau propõe em seu The Mandalorian de Deborah Chow já começa no espaço, a borda da nave de Mando, com o mesmo recebendo mais ordens de Greef Carga (Carl Weathers), para se dirigir até o cliente e finalmente entregar sua encomenda. No caminho, se percebe o risco e vasto cenário suburbano de Star Wars pós queda do Império de Palpatine, em uma observação contemplativa digna de Star Trek, que aliás, também tinha uma ideia de exploração de faroeste espacial tal qual a saga de George Lucas.
Antes de pousar o personagem de Pedro Pascal fala ao seu tripulante, o filhote verde cinquentenário que não mexa com os produtos da nave, afinal aquilo não é um brinquedo, possivelmente um paralelo do roteiro que iguala o alvo citado a pecha de action figure ou as pelúcias que certamente as empresas da Disney venderão baseadas nesse derivado da franquia, mas também é um lembrete de que essa é uma historia seria, sobre pessoas e eventos marginais.
Werner Herzog é imponente ate sem silêncio, seu personagem, sem nome parece um sujeito perigoso e autoritário mesmo com as breve aparições. Sua postura, apesar de não revelar muito de suas intenções, passado e ligações, faz o espectador pensar que ele ou tem ligação ou teve no passado com os imperiais, já que seus capangas usam uniformes de stormtroopers, e já que ele faz experiências com criaturas. O The Sin do subtítulo talvez converse com a questão que emula o Gabinete do Dr Caligari durante o capítulo, mas provavelmente essa pecha esconde outras intenções do personagem vilanesco.
Há mais cenas com a figura misteriosa (e mascarada) que dá ordens e ajuda o mandaloriano de Pascal, e nesse ponto se abre um bocado a questão mitológica do seriado, mostrando que o secretismo dos que restaram da Mandalorian é uma estratégia de força, poder e principalmente sobrevivência. É curioso, porque mesmo amarrando pontas soltas, como a perseguição ao seu passado, não é exatamente didática ou explicita, e a forma gradativa como os segredos se revelam favorecem o lado emocional da trama, que aliás, é muito mais explorada.
A busca por novos trabalhos busca preencher seu vazio, por não ter certezas sobre seu passado, uma versão pretérita de si onde era presa e não predador. Mesmo ao tentar fugir desta situação ele se vê refletindo, sobre quem era, sobre como foi e sobre a entrega que fez, enxergando no alvo um semelhante ao seu eu do passado. Comprometer os outros não parece ser uma enorme preocupação para ele, ao menos não tão grande quanto a de reaver o que havia entregue.
A ação do episodio beira a perfeição, ele é violento, os ataques são secos, a troca de tiros em espaços pequenos faz lembrar demais os combates nos saloons dos clássicos de Sergio Leone e Sergio Corbucci, cuja tensão mora pela possibilidade da morte do “herói” e pela pouca mobilidade que o ambiente claustrofóbico lhe causa.
Chow mistura bem demais elementos de inspirações básicas de Lucas para a franquia, é quase poética a mistura entre Os Sete Samurais e Sete Homens e Um Destino que é empregada, onde a amalgama não é voltada para a trama que se repete em ambas versões, mas sim nos dois estilos diferentes de contar a mesma historia. Clone Wars era pródiga em mostrar ações de caçadores de recompensa, mas ver os mercenários se combatendo aqui é algo único, o sonho de qualquer garoto que assistiu Império Contra Ataca e queria saber mais de Dengar, Boba Fett, Bossk e IG-88, com direito a exploração visual de novas armas novas e visores que não eram explorados quase desde Uma Nova Esperança.
O final do capítulo talvez seja o ponto mais baixo do episódio, apesar de não ser exatamente algo ruim, afinal, sobra tensão e momentos épicos. Até a apelação ao famigerado clichê de Deus Ex Machina, mas a ação mostrada é absurda, e mesmo que a ajuda que o herói recebe sendo de certa forma injustificada. Chow certamente conduz até aqui o melhor dos capítulos, não à toa, já que ela é bem acostumada ao formato de programas de televisão, equilibrando bem o revelar da mitologia, o espelho de expectativa de Mando com o bebê e claro o combate entre contrabandistas e caçadores de recompensa.
Após um início um pouco protocolar em The Mandalorian- Chapter One com Dave Filoni na direção, The Mandalorian retorna alguns poucos dias após seu primeiro capítulo, dessa vez comandado por Rick Famuyiwa, do recente Dope: Um Deslize Perigoso, o episódio parece ter mais personalidade, investe mais no humor e na graça, além de fazer o silêncio prevalecer, algo que não parece incomodo para o mandaloriano caçador de recompensas.
Imagino que quem está lendo esse texto viu o primeiro capítulo, então é natural que se fala de partes importantes da trama. Boa parte dos que assistiram o episódio passaram a crer que a criança encontrada poderia ser um clone do Mestre Yoda, ou o próprio pequeno, embora não haja qualquer indício disso, já que ele morreu em O Retorno de Jedi, e reapareceu como espírito da força em Os Último Jedi, e até onde se sabe, não há ressurreição no universo Star Wars. Até se brinca com a possibilidade do mesmo ter poderes, já que ele sai da cápsula babá e interage apontando para o personagem de Pedro Pascal, mas os mistérios em seu entorno não são apressados em se resolverem.
Famuyiwa usa e abusa do personagem novo. Mesmo sem utilidade o filhote acaba roubando a cena, por sua personalidade carismática e fofura. Toda a tentativa do personagem central em perseguir uma tribo de Jawas impressiona, não só pelo arrojo visual, que emula bem demais o início de Uma Nova Esperança. Os figurinos, os veículos, tudo é muito bonito para uma adaptação televisiva, e a armadura de Beskar realmente chama a atenção, já que está sempre em evidencia.
Há todo um caráter diferenciado nos episódios, aparentemente não há tanta preocupação em mostrar uma historia épica, e sim side historys do universo de Star Wars, momentos simples e ordinários, a riqueza está nele tendo que lidar como uma babá, ou recuperando artefatos para os jawas (em uma luta épica, diga-se) ou tendo que conviver com Kuiil (Kyle Pacek como dublê de corpo e Nick Nolte com voz e expressão) o ugnaught sentiano que o chama de Mando e que serve como guia para ele no planeta desconhecido.
A Disney continua sem resolver a problemática de o seriado não ser vinculado em países como o Brasil, que ainda não tem seu serviço de streaming (programado para chegar no segundo semestre de 2020 ao que tudo indica) e mesmo a possibilidade de outro serviço adotar as séries e filmes só deverá acontecer para o final do ano o início do próximo, desse modo, não há garantia de que haverá como assistir os mesmos sem lançar mão de downloads.
Enquanto isso a trama que Jon Favreau propõe tem um lento desenrolar, fato que torna tudo muito dúbio, pois ao mesmo tempo que não apresenta nada fora do ordinário, também ganha exatamente pelo predomínio do ocaso, fazendo todo o rico universo de Star Wars ter importância, fugindo da velha obsessão herdada de George Lucas de explorar os detalhes dos Skywalkers. Caso seja realmente a vontade de The Mandalorian só mostrar historias de personagens e raças alternativas, não há grandes problemas, ainda que os mistérios e sementes plantadas apontem para uma maior grandeza.
Havia muita expectativa em relação a série que Jon Favreau organizava no universo Star Wars, e já no piloto da primeira série live action derivada Guerra nas Estrelas, The Mandalorian não demora a mostrar ação, mirando as ações do personagem-titulo – interpretado por Pedro Pascal mas que não tem sua identidade e origem desenhadas em um planeta de neve, com ele entrando em uma cantina que faz lembrar demais a Mos Eisley de Tatooine, em uma dosagem bem interessante de referencias e fan service.
O piloto, chamado Chapter One é dirigido por Dave Filoni, o cowboy, produtor e showrunner de outros derivados da saga de George Lucas, em um sucesso indiscutível em Clone Wars, Rebels, um início promissor com Resistance e um enorme conhecimento sobre o antigo universo expandido (chamado de Legends) e o novo canônico. De destaque positivo e fora trama, há uma vinheta bem legal, que faz a luz passar por capacetes ou carapaças de personagens clássicos, um agrado aos fãs que não soa ofensivo para quem não é exatamente aficionado pela franquia.
Os mandalorianos tem detalhes de seus posicionamentos nas mesmas animações que Filoni conduziu, e em alguns livros e historias em quadrinhos antigas. Os personagens mais conhecidos entre eles curiosamente são dois não membros da “raça” os caçadores de recompensa Jango e Boba Fett. Os métodos do mandaloriano misterioso não são tão diferentes dos dois personagens citados, com a diferença de que ele realmente tem presença e é certeiro demais, ao contrário do jeito atabalhoado que ambos pereceram, em Ataque dos Clones e O Retorno de Jedi respectivamente. O povo de Mandalore é conhecido por ser pacifico, exceto alguns membros da elite, entre eles os que usam as tais armaduras cromadas, e os tempos pós queda imperial talvez expliquem o modo de agir do personagem de Pascal.
A ação do episódio é curiosa, pois é violenta, como se espera de um caçador de recompensas que vai atrás de seu alvo, e as brigas são francas, secas e se valem de uma anti artificialidade atroz. A mistura de figuras digitais e reais é bem encaixada, assim como o uso de efeitos digitais e práticos. A textura dos personagens é muito real, fato que facilita que os combates pareçam realistas.
Não há um grande desenrolar do panorama político da galáxia pós queda do Império, que é onde o seriado se coloca cronologicamente, mas observando bem se percebe que boa parte dos métodos mudaram. O mandaloriano ao capturar seus alvos, os congela em carbonita, e há de se lembrar que quando Han Solo é preso em O Império Contra Ataca, o foi para que testassem antes de prender ali Luke Skywalker, ou seja, das duas uma, ou ele assume riscos de maneira até um pouco irresponsável, ou essa prática se popularizou na galáxia muito distante.
Também se nota que há resquícios de mandatários imperiais, que envolvem pessoas do elenco bem famosas, como Werner Herzog, que faz o Cliente (ele é chamado somente dessa forma). Sua participação ainda é pequena, mas ele parece ser um sujeito imponente, poderoso e cruel, um vilão clássico mas que dá margem para mais nuances.
As outras participações, de Greef Carga (Carl Weathers) e IG-11 (Taika Waititi) são mais extensas dão mais margens para ou teorizar ou para protagonizar mais ação (caso do segundo, que aliás, impressiona no modo de mostrar a movimentação de um droide de ataque IG, que antes, só andava nos filmes, e só foi mostrado de fato atirando nas animações. Uma pena que boa parte desses momentos cruciais tenha sido mostrado nos materiais de divulgação. Já Carga não tem todo seus segredos revelados, mas parece ser um sujeito de grande importância, possivelmente ligado a um dos lados antagônicos da antiga guerra entre rebeldes e imperiais, e não só um sujeito neutro como normalmente são os bounty hunters.
The Mandalorian – Chapter One é curto, tem 38 minutos e a exibição dos outros episódios serão feitos em momentos da semana bem diferentes. A abordagem dramática impressiona por ser direta, revelando muita coisa, mas deixando muitos mistérios para serem desenvolvidos e desenrolados em momentos a frente, inclusive com uma piscada para o público bem legal. Não há apelo para muitas obviedades, mesmo que ainda tenha alguns clichês empregados, e é visualmente deslumbrante em cenários e nas interações entre os bonecos digitais, os fantasiados e personagens meramente humanos.
É impossível começar a ver Crime Desorganizado e não lembrar do filme anterior da dupla de protagonistas, Jon Favreau e Vince Vaughn em Swingers– Curtindo a Noite, seja cena imediatamente após a abertura, que conta com uma montagem musical guiada por um clássico de Frank Sinatra. Aqui, o diretor e roteirista Favreau vive Bobby Ricigliano, e Vaughn é Ricky Slade, dois trambiqueiros, que são unidos por um laço de amizade e que ganham seu sustento num serviço de obras que simplesmente odeiam, por conta das constantes humilhações que sofrem.
A outra parte do sustento de ambos vem de trambiques, ou do trabalho da mulher de Bobby, a bela Jessica (Famke Janssen), que trabalha como stripper, e ganha uns trocados fazendo lap dance, fato que bate de frente com a personalidade esquentadinha de seu marido, pois ele é ciumento e não suporta que os clientes toquem nela. A cena que mostra isso é engraçada, pois o expõe um fato óbvo, a mulher certamente se safaria sozinha, mas é atrapalhada e agravada a situação exatamente por sua cena patética de ciúmes. O roteiro que Favreau escreve tenta já no início mostrar que Bobby e Ricky não são os personagens de Swingers, mesmo com todas as semelhanças visuais e com a repetição do elenco.
Bobby recebe uma ordem de seu superior, o empregador que o coloca nos trabalhos de construção civil, Max (Peter Falk), um sujeito poderoso, orgulhoso e que dá as missões que quer para quem lhe presta serviço. Ele pede ao protagonista para ir a Nova York fazer um serviço e ele não quer ir por conta de sua esposa e da filha dele, mas acaba aceitando quando vê a possibilidade de com o dinheiro do trabalho, começar um novo estilo de vida, onde o dinheiro das danças da esposa não são necessários.
Crime Desorganizado é bem mais engraçado que Swingers, a demonstração do quanto a dupla é inábil, inútil e nada moldada para o crime é engraçada, assim como a tentativa dos dois de viver sobre uma normalidade. Há duas cenas que registram bem como os dois são péssimos no que fazem, a primeira é numa loja de cerâmica, onde Ricky fuma diante de uma criança, fala um monte de besteiras, como se estivesse em um bar quando o cenário é o extremo oposto disso, e a outra é quando ambos brigam ao esperar um contato, que vem a ser uma gangue de motoqueiros, depois de passar vergonha em uma briga que parece a de dois moleques, eles tem de ir de carona agarrados a cintura.
Por mais cru e imaturo que o roteiro pareça – e sim, tem muitas fragilidades – se nota uma franca evolução por parte de Favreau, e sua direção é bem mais econômica e menos forçada que a de Liman por exemplo. Seu filme é claramente menos pretensioso que Swingers, mostra uma historia cotidiana, de um grupo de bandidos fracassados, não tratando os personagens como se fossem super preciosos, ou dignos de qualquer admiração, ao mesmo tempo que eles tem muita humanidade em cada um de seus pequenos e grandes atos.
Swingers: Curtindo a Noite começa com uma conversa, entre Mike (Jon Favreau) e Rob (Ron Livingston), logo após uma apresentação musical que beira os três minutos, e a conversa tenta emular a casualidade dos filmes de Quentin Tarantino, embora seja uma formula bem mais barata, focada em trivialidades da vida jovem, e claro, também muito barato, produzido e escrito por Favreau e dirigido por Doug Liman, que também é o diretor de fotografia.
A historia foca em Mike, que depois de se mudar para correr atrás de sua carreira de humorista, rompe com sua namorada e fica sem chão. Logo ele recebe a proposta de viajar com Trent (Vince Vaughn), para curtir em Las Vegas, a fim de esquecer os problemas de sua vida atual. O problema evidente é que eles não tem muitos recursos para gastar em apostas.
Mike e Trent são bem diferentes entre si, enquanto um é pilhado, nervoso e não consegue se divertir de maneira alguma, o outro é fanfarrão e sem qualquer chance de sucesso. Os personagens são bastante presos a arquétipos, incluindo os dois protagonistas e os periféricos, e no início os momentos mais dignos de notas são as brigas homéricas entre os dois personagens. Curiosamente Favreau ficaria marcado pelo papel de rabugento, seja em qual encarnação for, foi assim em Homem de Ferro e em Homem-Aranha: De Volta ao Lar, ou Eu Te Amo Cara.
Swingers é um filme descompromissado, ele não tenta falar sobre temas pesados, profundos ou muito adultos, mas há alguns momentos bem estranhos na relação de Trent e Michael, o primeiro é quase um tutor do segundo, até interrompendo a relação sexual que travava só para saber se seu amigo estava bem (fez isso aliás mais de uma vez). Dentro da simplicidade da proposta, se vê o quão frágil pode ser a auto estima dos aspirantes a artistas que tenta entrar no showbusiness americano, e dos comentários metalingüísticos, esse certamente é o melhor, melhor inclusive que os diálogos engraçadinhos
A tentativa de emular o cinema de Tarantino ou Martin Scorsese fica mais evidente com o decorrer do longa. Se percebe nas casas dos personagens pôsteres de Taxi Driver e Cães de Aluguel, depois é mostrada em uma cena em câmera lenta os personagens saindo em direção aos seus carros, como se a jornada rumo a farra fosse algo grandioso, como se houvesse algo realmente grandioso no caminho deles, mas o que se vê é mais um filme episódico, que tem alguns bons momentos, com câmera na mão, e um texto comprometido apenas em divertir e em mostrar um estilo de vida desglamourizado, onde os fracassados terminam como fracassados e não conseguem grandes feitos, tal qual a maioria das pessoas é no seu dia a dia.
Em meio a crise criativa dos estúdios Disney, que só permite fazer continuações ou refilmagens de clássicos e franquias famosas, e a vontade desenfreada e crescente de superar a bilheteria dos filmes em mais de um bilhão, O Rei Leão de Jon Favreau chega finalmente aos cinemas, cercado de expectativas por se tratar de um dos símbolos da renascença da Disney, e um dos mais lembrados filmes de animação recentes. O início do filme não surpreende, até pelo marketing que desnecessariamente elucida todos os pontos positivos (e alguns negativos) dos blockbusters, para não deixar o público em duvida sobre ver ou não o filme.
Há um esforço hercúleo da produção em refilmar as cenas da antiga encarnação mas em um novo estilo, que por vezes soa só como engodo de tão boba que a imitação fica, com diferenças que tocam meramente a tentativa de parecer mais realistas. Os live action (ou remakes, no caso) recentes da Disney tem por regra uma exigência um bocado mesquinha e futil do público, que é a necessidade de ser igual ao original, e Favreau teve de lidar com isso, dada a reclamação por parte do fandom quando um rumor de que a música Be Prepared não estaria no filme – ela está, mas foi pasteurizada para não ofender plateias sensíveis a referencias ao nazismo – foi assim com ABela e a Fera de Bill Condon, um filme bem inferior a sua contra parte animada mas que fez muito dinheiro, e foi assim com Aladdinde Guy Ritchie em seus erros e acertos, sendo bem fracassado na hora de emular o Aladdin clássico e mais original ao abordar as ideias de seu diretor.
O estranho é que Favreau ja havia adaptado outro conto Disney, seu Mogli – O Menino Lobo tem diferenças enormes para animação, mas agora, se trata da refilmagem de sucesso com pouco mais de 20 anos de idade, e a escolha que funcionou um pouco no Livro da Selva, causa estranheza nesse. Quando os animais falam, há um estranhamento natural, não à toa foi esperta a escolha por manter a entrada como um número musical onde não há falas além do vocal de Circle of Life.
Os animais menores não são tão bizarros, ate porque a maioria deles é engraçado, sobretudo Zazu (John Oliver), Timão (Billy Eichner) e Pumba (Seth Rogen), mas os leões dentro dessa estética ultra realista não convencem muito dramaticamente, nem nas partes faladas e nem nas cantadas. James Earl Jones e Chiwetel Ejiofor não comprometem, mas também não encantam, ainda mais na comparação com Jones no passado e Jeremy Irons. O dublador do Simba jovem, JD McCrary , convence menos ainda, e a quantidade de informação em tela faz os primeiros números musicais parecerem estranhos e não fantásticos, como no original.
O quadro muda drasticamente quando o protagonista fica adulto, a emoção que falta nas partes iniciais e nas artimanhas de Scar sobram em graça e leveza quando entram em ação o Suricato e o Javali que adotam Simba, e quando o mesmo evolui e passa a ser dublado por Donald Glover há também um belo acréscimo. É no exilio que moram as maiores diferenças entre os filmes, há riqueza no oásis em que vivem, a fauna e flora são diversificadas e tudo faz mais sentido aqui, aliás, o panorama político do filme, por mais pueril que seja em essência faz mais sentido nesta versão do que na animação dos anos 90. Há mais preocupação em explicar a união de Scar e das hienas, há uma melhor ambientação do lugar que Timão e Pumba habitam, assim como é melhor explanado a forma de governo dos leões apesar da cadeia alimentar gritar que existe tirania ali, mas é na derrocada moral do reinado de Scar que mora a maior riqueza de roteiro de Jeff Nathanson . O fato de evitar o argumento deus ex machina de “a natureza não gosta do rei” como transparece no desenho antigo é uma escolha sábia.
A extensão de algumas músicas fazem resgatar um bocado da mágica típica dos filmes 2d da Disney, em especial as de Timão e Pumba e ao menos nesses trechos, o universo também se estende e faz sentido, pois no restante se percebe que Favreau é um cineasta preso a uma coleira, como um felino domado, em uma péssima analogia com o herói de seu filme. O Rei Leão é comum demais para ser um épico, esbarra em suas próprias fragilidades e na vontade de ser um hit repetitivo, acaba se preocupando tanto em não desagradar ninguém que soa mediano, um filme que não incomoda e tampouco inspira, seus números musicais são meras imitações dos originais de Elton John e Tim Rice, e outras transposições do clássico já foram feitas, como o musical da Broadway, que aliás, é muito mais repleto de vida que esta versão. Ao menos, há uma piscadela para o espectador e fã da saga de Simba, com He Lives In You, tocando ao subir dos créditos, música essa que abriu O Rei Leão 2: O Reino de Simba. Ao menos os membros da produção mostraram que se importam com as obras originais, tentando não soar ofensivos, mas também se mostrando como um belo modo da Disney engordar os bolsos de seus executivos, pura e simplesmente.
O 23º filme do universo compartilhado da Marvel começa no Novo México, mostrando alguns personagens lidando com uma nova figura, Quentin Beck (Jake Gylenhaal), que encarna um vigilante chamado Mysterio. Isso ocorre antes mesmo do logo da Marvel aparecer em tela, e demonstra que a prioridade de Homem-Aranha: Longe de Casa não é exatamente mostrar uma aventura do Cabeça de Teia, e sim prosseguir com a cinessérie iniciada no primeiro Homem de Ferro. Ao menos, Jon Watts conseguiu encaixar uma montagem engraçadíssima, repercutindo e resumindo os acontecimentos pós Vingadores: Ultimato, falando sobre as perdas e sobre os que retornaram após cinco anos.
O filme busca ser um desafogo, a bonança pós-tempestade, com a escola levando seus alunos para uma viagem pela Europa, onde convenientemente Beck está, e onde ocorrerão ataques massivos. Para o leitor mais atento, nesses momentos há boas referências a sagas e a personagens secundários, como aos vilões Homem-Hídrico, Magma e até a micro saga Crise de Identidade, quando Parker larga o manto do Aranha e passa a agir com outras alcunhas e uniformes.
A realidade é que o Cabeça de Teia sempre foi um herói mundano, a classificação de Amigão da Vizinhança transparece isso, mas a realidade que lhe cabe é outra neste universo do cinema, e isso também não é novidade diante do cânone nos quadrinhos. Uma das fases mais aclamadas do herói foi em Guerras Secretas quando ele fez uso da roupa preta que daria origem ao Venom, mas aqui ele quer ser só um adolescente, que busca dar vazão ao seu amor pela MJ de Zendaya, que aliás está muito bem, embora esse interesse mútuo entre ambos tenha sido bem pouco desenvolvido no primeiro filme e se assuma como algo fundamental e que sempre existiu. Talvez o fato dos dois terem sido desintegrados tenha feito a urgência aumentar, mas MJ sequer apareceu no ultimo Vingadores.
O tom de humor aumentou bastante e o elenco de “adolescentes” parece estar mais solto, embora o Ned de Jacob Batalon aparente ter envelhecido cinco anos. No entanto, esse grau de comédia influencia até o ritmo do longa, que faz questão de repetir muitas vezes as piadas, tornando ele mais jocoso e infantil até que o recente Shazam, que é assumidamente um filme para crianças. Certamente o filme não precisava interromper tanto sua história só para fazer troça, soando forçado na maioria das vezes.
O outro defeito terrível é que Peter não parece ter aprendido nada com as outras aventuras que sofreu. Mesmo sendo experimentado ele é muito mais engraçado como adolescente estudante do que como herói, ao utilizar o uniforme, ele trava e não é nada desenvolto e a todo momento parece não estar a vontade. Ora, ele enfrentou criaturas espaciais milenares, inclusive carregou a Manopla do Destino, mas ele não digeriu nada disto, ao contrário. Levando isso em conta, o fato dele tirar a máscara a todo momento nem irrita tanto, mesmo que fira bastante a ideia por trás do personagem. Se ele deixou de ser o garoto sem dinheiro, que passava necessidade e precisava ralar para ser um dos herdeiros de Tony Stark.
Em Homem-Aranha: De Volta Ao Lar se entende ele precisar de um mentor – ainda que o Homem de Ferro ocupar esse papel não faça quase nenhum sentido, já que ele nunca foi uma bússola moral – mas Longe de Casa não precisa se fundamentar tanto na instabilidade do herói, que recusa o fardo o tempo inteiro. Também não há muito sentido em manter a incógnita em relação a Mysterio não engana qualquer pessoa que tenha lido mais que 5 gibis do Aranha, a abordagem é obvia e extremamente expositiva, embora Gylenhaal faça salvar um bocado.
O elenco de apoio funciona bem, em especial Jon Favreau e Zendaya, que tem bastante bons momentos. Tom Holland claramente merecia ter um roteiro melhor, pois ele faz um Peter Parker interessante e inteligente, mas o filme exagera no caráter episódico, é divertido mas não parece ter muita alma, mesmo as piadas boas são deslocadas, diante disso o romance dos protagonista parece sem força e o drama soa fraco e totalmente deslocado. O Homem Aranha de Jon Watts não é nem o Amigão da Vizinhança de Stan Lee e Steve Ditko, nem o Homem-Aranha do Sam Raimi, nem o dos desenhos e nem o introduzido em Capitão America: Guerra Civil, Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato, e sim uma paródia de todos esses, uma amálgama de bons e péssimos elementos, com piores momentos dentro desse cerne, sendo mais uma vez refém da figura do mentor mesmo que ele não seja mais vivo, além do que tudo que toca a responsabilidade de Stark para com ele mostre uma nada sábia escolha de entregar nas mãos de um rapaz um sistema de monitoramento mundial, em mais uma demonstração de fragilidade no que foi pensado pelos roteiristas deste Longe de Casa e do futuro da Marvel nos cinemas.
The Orville é uma série produzida, idealizada e protagonizada por Seth MacFarlane, criador de Family Guy, American Dad e os filmes Tede Ted 2. Seu drama começa na Terra, em 2418 e acompanha o membro das forças de exploração da União de Planetas Ed Mercer, que encontra sua esposa Kelly (Adrianne Palicki) com um amante. Após esse trauma e um divórcio, ele assume o posto de capitão da Orville, que seria sua última chance de comandar uma nave da federação.
O protagonista assume a vaga um ano depois dos eventos iniciais, e o piloto do show é conduzido por Jon Favreau, que aliás é creditado sempre como consultor, por ter sido ele a inaugurar o estilo de episódios, com pitadas de humor e drama. Os elementos visuais são um bocado feios, em especial no que tange as naves, que parecem bem artificiais e isso é de certa forma justificado pelo ar cômico e (supostamente) de paródia
A insegurança da frota é enorme já que há pouco tempo o capitão passava por um trauma recente, e a situação se agrava quando Kelly assume o posto de número 2, a comandante imediatamente anterior ao capitão, aliás, é deixado claro que ela por culpa, usa sua influência para promover Ed, que mesmo com os defeitos, se mostra um bom mandante de tripulação. Tudo faz lembrar Jornada nas Estrelas, figurinos, uso de alienígenas com poucas diferenças físicas com humanos comuns, figurinos. A diferença básica é o uso de algumas raças como alívio cômico, entre elas os Moclan, com o tenente comandante Bortus (Peter Macon), e Gelatin, que tem em Yaphit (Norm MacDonald) um alienígena gosmento e gelatinoso, um membro da engenharia. A evolução dos dois os faz serem levados a sério, e muito, mas sua introdução é basicamente para fazer rir.
Para os fãs de Star Trek há uma bela piscadela, a função de médica fica para Claire Finn, interpretada por Penny Johnson Jerald que em Deep Space9 faz Kasidy Yates, uma personagem importante e recorrente. Seu papel aqui é carismático e divertido, aliás outros tantos que participaram das fases dos anos oitenta e noventa de Jornada, Brannon Braga dirige 4 dos onze episódios, Jonathan Frakes também capitaneia um episódio (aliás, num dos melhores dramas). Com ela, há uma aproximação da inteligência artificial Kayloniana Isaac, uma espécie conhecida por ser racista e que está na nave para estudar as raças biológicas menos evoluídos.
Esses conceitos são muito bem explorados, e são apresentados de maneira parcimoniosa, lida com questões envolvendo sexismo, vaidade de autoridades, ritos de raça alienígenas, desdém da raça humana mostrando que não são o topo da cadeira alimentar, além de ter uma trilha sonora hiper otimista, capturando um clima de aventura bem escapista.
Por mais que os roteiros sejam mais sérios, e MacFarlane seja um capitão mais contido, ele não consegue segurar suas tiradas irônicas, e nelas, ele acerta demais como ator, contrariando a pecha negativa que ficou após Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola, aliás, boa parte de seus amigos dos filmes que ele dirigiu aparecem brevemente, como Charlize Theron, Liam Neeson, e outros como Robert Picardo, o Doutor de Voyager, que faz o pai da carismática Alara Kitan (Halston Sage). Como não há anos de cronologia atrelados a Orville, a série pode brincar com episódios procedurais e monstros da semana, tal qual Jornada nas Estrelas A Série Clássica e seus derivados. Essa liberdade não ocorreu tão bem quanto Star Trek Discovery, mas é certo afirmar que essa primeira temporada de Orville é melhor pensada que a criada por Bryan Fuller.
Visualmente a série se vale demais de belíssimas maquiagens e efeitos práticos, típicos das series sci-fi da TV do entorno de 1990, ainda que atualizados, mas certamente seu diferencial são os roteiros, em Majority Rule (sétimo capítulo), onde a nave passa por um planeta de humanoides, que não tem capacidade de explorar o espaço e que tem por costume julgamentos populares onde todos tem o mesmo peso de voto, onde as pessoas condenáveis tem suas penas escolhidas em reality shows. Sem soar ofensivo, o programa fala bem sobre o julgamento sumario típico de redes sociais, sem utilizar chavões fáceis como anti lacração. A confusão feita pela população entre o conceito de opinião e conhecimento tem o mesmo espírito do longa de comédia Idiocracia, por discutir o senso comum com inteligência
É engraçado como o roteiro sempre se utiliza da aparência humana padrão para representar sociedades alienígenas, por motivos simples: é bem mais fácil fazer outros povos assim, e obviamente mais barato, unindo a isso o fato de que não é impossível que em uma galáxia infinita tenham povos tão parecidos. O outro aceno é que isso casa bem com o visto em Star Trek – TOS, que fazia isso obviamente por questões orçamentárias, e com as piores justificativas possíveis.
Há pequenos conceitos bem legais, como o advento da criação de matéria que tornou o dinheiro um artificio inútil, as pessoas se medem por reputação nesse momento, há também um charme na tentativa de replicar a métrica de series antigas de ficção, com ênfase claro em Star Trek/Jornada nas Estrelas, até no que tange a química do casal de protagonistas, que não ficam juntos exatamente por serem diferentes, independente da química deste casal, e isso é retomado entre Kelly e Ed, mas há de se lembrar que esse é apenas um dos aspectos explorados nesse ano.
The Orville tem argumentos bem maduros, em especial quando se dedica a discutir religiões. Há muito respeito por crenças comuns aos nossos dias e os paralelos são de extremo bom gosto e requinte, ao mesmo tempo em que a série reseta as possibilidades românticas mais óbvias, há também um alvorecer de novas civilizações, e explorar isso certamente é uma boa ideia, tudo a ver com o que Gene Ronddenberry pensou em sua franquia, e da forma como McFarlane faz é realmente muito bonito, singelo e reverencial.
O marco um da iniciativa da Marvel em realizar seu próprios filmes contou com um diretor de filmes independentes conhecido por atuar em comédias de gosto duvidoso. Vendo a obra de Jon Favreau nos dias atuais é difícil enxergar como estava sua carreira em 2008, e o começo de seu Homem de Ferro é igualmente diferenciado, nele Robert Downey Jr. tentava se reinventar como ator, no papel do milionário Tony Stark.
O chamado à aventura ocorre após um grupo terrorista interceptar o carro onde Stark era escoltado, para surpresa de poucos, pois o roteiro deixou claro em todo o seu percurso se tratar de uma viagem perigosa, mas o personagem subestimou por completo a situação, como é de praxe em seu comportamento. Já nesse momento se percebe o quão inconsequente e bon vivant é o personagem de Downey Jr., inclusive, deixando seu amigo Jim Rhodes (Terrence Howard) em uma enrascada.
Apesar da faceta engraçada e despreocupada, Tony é mostrado como um sujeito que não permite que as pessoas se aproximem demais, em um misto do que seria a personalidade do personagem criado nos anos 1960, embora tenha um pouco da personalidade de Bruce Wayne/Batman e da ironia de Dr. Stephen Strange, tanto que no filme Doutor Estranho, isso teve que ser de certa forma suprimido. A participação de Downey Jr. foi tão boa e icônica que influenciou até nas versões do herói nos quadrinhos.
Na parte oriental da trama, há alguns problemas, como estigmatização dos árabes como vilões do mundo, apesar de aqui isso ser bem tímido em comparação com outros tantos filmes de ação mais recentes ou do mesmo período, é como se esse fosse um dos últimos grandes filmes há ainda apelar para esse espectro, com o roteiro ainda tendo vergonha de ser assim, tanto que neste momento, ele tem um belo assistente, Yinsen, interpretado muito bem por Shaun Tob. Nos quadrinhos, ele é um dos mentores do futuro Homem de Ferro, mas é chinês (seu nome é Ho Yinsen), no entanto, até essa mudança é plenamente cabível dentro do filme.
Apesar de não ser perfeito, ele funciona como filme de origem bem diferente de outros como Superman, Batman e Homem-Aranha se tornando referência para contar histórias de outros filmes do Marvel Studios, apoiado ainda no equilíbrio entre drama, ação e humor, além do elenco afiado com seus personagens, não só Downey Jr. e Howard, mas também Gwynett Paltrow e Paul Bettany como Peppert Potts e o mordomo eletrônico Jarvis.
O que pesa contra o filme são os vilões. O Obadiah Stane de Jeff Bridges além de desperdiçar seu intérprete já parecia se tratar de um sujeito malvado desde sua primeira cena. O personagem de Faran Tahir também é maniqueísta, sendo somente um capanga ganancioso e inconsequente.
No entanto, as razões que fazem os vilões perseguirem Stark fazem muito sentido, principalmente por toda a trama envolvendo o mercado de armas. A ideia de não antecipar a trama envolvendo o Máquina de Guerra nesse filme foi inteligente, pois dá espaço para o herói ser desenvolvido sozinho, ainda que ele não tenha um antagonista à altura. A presença de Clark Gregg como Agente Coulson só ganha importância nos quarenta minutos finais, e o mistério que o envolve faz muito sentido, ainda mais quando é revelado.
Os aspectos visuais são bem trabalhados por Favreau, e sua duração é o suficiente para entreter e introduzir o vingador dourado como pontapé inicial desse universo. Ainda assim, o momento mais espirituoso ficou para o final, com Tony Stark assumindo publicamente a alcunha de Homem de Ferro, seguido logo depois pelo clássico Iron Man do Black Sabath, acompanhado de uma disposição de créditos bem estilizada, e claro, pela participação especial de Samuel L. Jackson, na cena pós-crédito, embrião do Universo Compartilhado da Marvel.
Quando anunciado pela Disney, que estaria refilmando um de seus clássicos de animação, Mogli – O Menino Lobo, de 1967, em uma versão live-action repleta de efeitos computadorizados e dirigida por Jon Favreau, poucos foram os que não tiveram ressalvas com a decisão do estúdio, afinal a animação clássica permanece bastante viva no imaginário das pessoas como um dos filmes mais queridos do estúdio, além de ser uma das grandes obras do estúdio nos anos 1960 ao lado de 101 Dálmatas – também adaptado em live-action em 1996.
Convém lembrar que a decisão de refilmar esses clássicos tem sido uma constante do estúdio Disney nos anos de 2010: Cinderela, de Kenneth Branagh, Malévola (releitura de A Bela Adormecida), de Robert Stromberg, e Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton. Apesar do sucesso de bilheteria, todos os filmes dividem opiniões da crítica, e por muitos soam como uma tentativa cínica de arrecadar dinheiro à custa da nostalgia de muitos. Mogli: O Menino Lobo, apesar de ter esse objetivo, felizmente é um desses exemplos de obra que, apesar de seus imperativos comerciais, pode ser repleto de originalidade, criatividade e paixão em sua realização.
A história do longa-metragem é uma adaptação de um dos contos do livro de Rudyard Kipling, O Livro da Selva (compre aqui), que traz a história de Mogli (Neel Sethi), uma criança que tem como protetora a pantera Bagheera (Ben Kingsley) e é criada por uma matilha de lobos após ter seu pai morto nas selvas da Índia. A história ganha novos contornos quando a selva indiana passa por um período de seca e todos os animais se reúnem em um pequeno vale, onde ainda se encontra água. Por conta disso, é evocada uma das leis da selva que obriga uma trégua temporária naquela região onde nenhum animal precisaria temer em se tornar uma presa de outro animal.
No entanto, a chegada do tigre Shere Khan (assustadoramente dublado pelo grande Idris Elba) coloca em risco a vida de Mogli, e Bagheera não vê outra escolha a não ser levar o menino de volta a uma aldeia de homens para que ele possa crescer em segurança. A partir de então, o filme ganha contornos de um “road movie“: a jornada de Mogli até a aldeia dos homens. Como nos típicos filmes de estrada, há um ponto de chegada pré-definido, no entanto não definitivo, já que a própria jornada do protagonista se torna mais relevante. A jornada é mais importante que a chegada, e a verdadeira finalidade das personagens.
Em sua jornada, Mogli se depara com vários animais, e cada um deles oferece ao protagonista um caminho diferente a ser traçado. Bagheera é marcado pela preocupação benevolente, prezando unicamente pela segurança de Mogli e deixá-lo entre os seus; Kaa (Scarlett Johansson) oferece um desfecho rápido através de seus olhos hipnotizantes e sedutores; por sua vez, Baloo (Bill Murray) entrega uma visão de mundo inicialmente escapista, mas que ao longo da trama se mostra repleto de ternura, enquanto o Rei Louie (Christopher Walken) surge como a demonstração da ganância e a ambição humana. Além disso, dentro da matilha de lobos, Akela (Giancarlo Esposito) e Raksha (Lupita Nyong’o) são as representações das figuras paterna e materna de Mogli.
Os efeitos visuais abrangem quase que exclusivamente não só todos os personagens -exceção feita a Sethi interpretando Mogli – mas também todo o ambiente do longa-metragem. O filme se mostra extremamente bem-sucedido nesse esplendor tecnológico, apesar de, em alguns momentos, o nível cair e deixar um pouco a desejar. O trabalho do diretor de fotografia Bill Pope ao lado de Favreau é consistente, evocando cenas belíssimas e dando um clima mais sombrio se comparado à animação de 1967, mas de maneira alguma deixa de ser um filme bem-humorado.
Diferente da animação clássica, Mogli: O Menino Lobo, conta apenas com dois números musicais, o já clássico The Bare Necessities, canção de Baloo e interpretado com a leveza de Murray; e I Wan’na Be Like You, em um belo bepop interpretado por Walken em sua personagem Rei Louie; e aos não-adeptos de musicais, importante dizer que ambas as canções interpretadas são dois grandes momentos do filme, não se tratando de casos que retirem o espectador da imersão do filme, mas muito pelo contrário.
No final das contas, Mogli: O Menino Lobo é um longa repleto de ternura, sensibilidade e intensidade. Curiosamente, um filme praticamente desprovido de seres humanos, mas repleto de humanidade.