Tag: Doug Liman

  • Crítica | Swingers: Curtindo a Noite

    Crítica | Swingers: Curtindo a Noite

    Swingers: Curtindo a Noite começa com uma conversa, entre Mike (Jon Favreau) e Rob (Ron Livingston), logo após uma apresentação musical que beira os três minutos, e a conversa tenta emular a casualidade dos filmes de Quentin Tarantino, embora seja uma formula bem mais barata, focada em trivialidades da vida jovem, e claro, também muito barato, produzido e escrito por Favreau e dirigido por Doug Liman, que também é o diretor de fotografia.

    A historia foca em Mike, que depois de se mudar para correr atrás de sua carreira de humorista, rompe com sua namorada e fica sem chão. Logo ele recebe a proposta de viajar com Trent (Vince Vaughn), para curtir em Las Vegas, a fim de esquecer os problemas de sua vida atual. O problema evidente é que eles não  tem muitos recursos para gastar em apostas.

    Mike e Trent são bem diferentes entre si, enquanto um é pilhado, nervoso e não consegue se divertir de maneira alguma, o outro é fanfarrão e sem qualquer chance de sucesso. Os personagens são bastante presos a arquétipos, incluindo os dois protagonistas e os periféricos, e no início os momentos mais dignos de notas são as brigas homéricas entre os dois personagens. Curiosamente Favreau ficaria marcado pelo papel de rabugento, seja em qual encarnação for, foi assim em Homem de Ferro e em Homem-Aranha: De Volta ao Lar, ou Eu Te Amo Cara.

    Swingers é um filme descompromissado, ele não tenta falar sobre temas pesados, profundos ou muito adultos, mas há alguns momentos bem estranhos na relação de Trent e Michael, o primeiro é quase um tutor do segundo, até interrompendo a relação sexual que travava só para saber se seu amigo estava bem (fez isso aliás mais de uma vez). Dentro da simplicidade da proposta, se vê o quão frágil pode ser a auto estima dos aspirantes a artistas que tenta entrar no showbusiness americano, e dos comentários metalingüísticos, esse certamente é o melhor, melhor inclusive que os diálogos engraçadinhos

    A tentativa de emular o cinema de Tarantino ou Martin Scorsese fica mais evidente com o decorrer do longa. Se percebe nas casas dos personagens pôsteres de Taxi Driver e Cães de Aluguel, depois é mostrada em uma cena em câmera lenta os personagens saindo em direção aos seus carros, como se a jornada rumo a farra fosse algo grandioso, como se houvesse algo realmente grandioso no caminho deles, mas o que se vê é mais um filme episódico, que tem alguns bons momentos, com câmera na mão, e um texto comprometido apenas em divertir e em mostrar um estilo de vida  desglamourizado, onde os fracassados terminam como fracassados e não conseguem grandes feitos, tal qual a maioria das pessoas é no seu dia a dia.

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  • Crítica | Na Mira do Atirador

    Crítica | Na Mira do Atirador

    Confesso que mesmo com o trailer instigante, não esperava muito de Na Mira do Atirador. Pensei por um momento que seria uma mera releitura de Por Um Fio, ótimo suspense dirigido por Joel Schumacher e estrelado por Colin Farrell, passado praticamente em um único local – a cabine telefônica onde o protagonista é mantido refém. Porém, o longa de Doug Liman se mostra um eficiente thriller de suspense, que não é nada estático. Pelo contrário, o filme tem momentos bem eletrizantes.

    Na trama, um atirador de elite e seu spotter (oficial que tem a missão de identificar e designar alvos, prover cobertura, além de fazer cálculos matemáticos para que o tiro saia perfeito) são enviados para investigar o que ocorreu em um oleoduto no Iraque. Após esperarem à distância por 22 horas, o atirador vai pessoalmente checar o que ocorreu com os corpos. Ao chegar no local, é alvejado por um outro sniper. Quando o spotter vai ao seu socorro, o atirador também o acerta e ele se refugia atrás de uma frágil muralha de tijolos. Porém, além do ferimento, ele nota que o inimigo acertou seu rádio de longa distância e sua garrafa de água. A partir daí, começa uma luta contra o tempo para sobreviver e um embate psicológico com seu algoz, uma vez que ele faz contato através de um rádio de curta distância.

    Liman, conhecido pelo recente Feito na América (estrelado por Tom Cruise), e também por ótimos trabalhos como A Identidade Bourne, No Limite do Amanhã e outros, retorna aos filmes de menor orçamento e mais autorais que o consagraram, tais como Swingers e Vamos Nessa!. Em Na Mira do Atirador, o diretor faz um bom trabalho dando dinâmica em um filme que fica centrado praticamente o tempo todo em um único personagem, o spotter vivido por Aaron Taylor-Johnson. O diretor desenvolve bem o aspecto psicológico do protagonista, ainda que parte de seu background seja um pouco clichê, conforme percebemos com o desenrolar da trama escrita por Dwain Morrell. Ainda sobre o roteiro, em alguns momentos fica a sensação de que algumas situações são por demais esticadas como uma maneira de se preencher a metragem de 81 minutos, o que gera certa impaciência no espectador. Vencidos esses momentos, o filme engrena de forma vertiginosa até chegar a um surpreendente desfecho.

    No tocante às atuações, Aaron Taylor-Johnson (conhecido pelo grande público por seu trabalho nos dois Kick-AssAnimais Noturnos) fez um ótimo trabalho. O ator consegue transmitir toda a angústia do protagonista durante a terrível situação em que fica preso. John Cena atua pouco, pois seu personagem passa boa parte do filme inconsciente. Porém, nos momentos em que é exigido, consegue demonstrar boa habilidade dramática, sem parecer forçado ou afetado em nenhum momento. Já o trabalho vocal de Laith Nakli é excepcional, pois seu personagem consegue ser frio, ameaçador e ao mesmo tempo exibe uma falsa ternura que chega até a cativar o espectador em alguns momentos.

    Eficiente thriller de suspense, Na Mira do Atirador vale a pena ser visto. Longa que tinha tudo pra ser monótona, é uma grata surpresa e um ótimo passatempo para quem resolver assisti-lo.

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  • Crítica | Feito na América

    Crítica | Feito na América

    Tom Cruise é um dos poucos atores de Hollywood a manter a alcunha de astro. Destacado em uma época em que o nome era suficiente para resultar em uma boa bilheteria, independente da qualidade do filme, hoje sua carreira se mantém em produções de ação e aventura ou em tramas que envolvam ação física diretamente.

    Com a queda dos brucutus no meio da década de 90, e da ascendência de poucos atores do estilo em uma nova geração, Cruise se tornou uma espécie de ator misto, com uma boa qualidade técnica na interpretação quando possível (com direito a arroubos dramáticos), um charme que a idade ainda não destruiu, e uma dedicação intensa à cenas de ação, sempre desafiando a si mesmo como nas perigosas cenas da franquia Missão: Impossível.

    O ator retoma a parceria com Doug Liman, iniciada em 2014 no eficiente No Limite do Amanhã, para retratar uma história baseada em fatos reais que segue um estilo narrativo presente em diversas produções da última década: a trajetória de um personagem que utiliza as falhas e corrupções do sistema para benefício próprio. Para ficarmos em dois exemplos semelhantes: Steven Spielberg e a história de Frank Abagnale Jr em Prenda-Me se For Capaz. Martin Scorsese e seu Lobo de Wall Street. Obras que tem em comum personagens charmosos, corruptores, capazes de manipular a ordem de maneira quase indomável.

    Feito Na América segue a vertente contemporânea de explorar a década de 70 e 80 como uma nostalgia fetichista. Desde o logo da Universal que se transforma na vinheta antiga do estúdio à transposição cinematográfica dos conceitos analógicos, com defeitos causados pelas reproduções das fitas de vídeo, apresentando falhas propositais na imagem. Tudo é orquestrado para fornecer um registro de uma história antiga, destacando a personalidade de Barry Seal, um competente mas descontente piloto de aviões comerciais que realiza pequenas corrupções diárias, como vender charutos cubanos em território americano, e que não mede consequências quando oportunidades maiores batem em sua porta.

    Em uma época em que a Guerra Fria regia as tensões mundiais e os Estados Unidos tentavam evitar qualquer levante comunista na America Latina, Seal aceita a proposta de se tornar um agente da CIA em uma operação secreta, produzindo fotos aéreas de países com possíveis grupos comunistas. Pego em uma de suas viagens por traficantes, vislumbra a possibilidade de lucrar de ambos os lados, trabalhando tanto para o governo quanto para o famoso cartel de drogas de Medellin, na Colombia.

    Em uma trama com poucos conflitos, o personagem de Cruise representa o desequilíbrio de certas políticas americanas. Ações desesperadas que hoje parecem cômicas pelo improvável, mas que foram levadas a sério em sua execução. Em cena, Seal parece invencível, um homem charmoso e com lábia suficiente para convencer qualquer um de sua habilidade em resolver problemas. Ele é capaz de enganar a CIA, trair traficantes, evitar o sistema judiciário, esconder pilhas e pilhas de dinheiro sem nenhum medo. A potência de Tom Cruise corrobora a favor da personagem, embora a ausência de conflitos retire os tons dramáticos da história. Trata-se de uma obra que segue a vertente do espetáculo. As cenas que exploram esse mundo as avessas são boas, trazendo um riso irônico no público devido ao absurdo.

    A direção de Liman e a edição ágil de Andrew Mondshein (A Múmia, Chocolate, Sexto Sentido) se contrapõe a estética oitentista, revelando que o filme possui um registro cinematográfico atual, com grande parte das informações apresentadas em cenas rápidas. Focado em excesso no entretenimento e no estilo estético oitentista (um brega que não é mais cafona, mas sim nostálgico), a trama tem fôlego curto, mesmo que Cruise esteja bem em cena, dando credibilidade ao personagem.

    Ainda que a história se revele divertida, mantém a impressão de que se trata de um filme-produto, focado na exploração de conceitos em alta no mercado, como o anti-herói que dribla o sistema, a estética do videoclipe de cenas com cortes rápidos e a nostalgia oitentista como uma fórmula que atrai o público. Funciona como uma produção para assistir sem culpa, porém, um filme que se perderá facilmente da memória em um curto período de tempo pela falta de originalidade.

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  • Crítica | A Identidade Bourne: Renascido em Perigo

    Crítica | A Identidade Bourne: Renascido em Perigo

    A Identidade Bourne

    Um homem de origem e nome desconhecidos é encontrado à deriva, navegando sozinho e próximo de morrer. Resgatado por um navio pesqueiro, o tal sujeito é tratado por Giancarlo (Orso Maria Guerrini), um homem que cuida de suas feridas, além de acolhê-lo, sem maiores delongas ou indagações, excluindo o fato de ter extraído do corpo do estranho uma bala. O personagem de Matt Damon demora a se encontrar no tempo e espaço, ainda mais quanto a sua própria identidade, uma vez que guarda consigo uma porção de carteiras falsas. O pouco que sabe é que possui capacidades sobre-humanas e habilidades de fuga e sobrevivência irreais para os padrões comuns.

    Baseado no livro de Robert Ludlum – que já havia sido adaptado em uma minissérie de TV protagonizada por Richard Chamberlain –, A Identidade Bourne: Renascido Em Perigo foi um exercício de escapismo com superespiões, ainda que seu caráter seja de uma realidade bem mais palpável e visceral do que observada em Missão Impossível e nos filmes clássicos de James Bond, inclusive influenciando a nova faceta em 007 – Cassino Royale, já com o novo intérprete.

    Apesar de não ser o ápice da cinessérie, o diretor Doug Liman consegue imprimir todas as características ímpares do personagem e de seus dramas já neste primeiro filme, estabelecendo sua confusão mental e a dificuldade de encontrar seu código ético e motivação para viver. O encontro casual que tem com a personagem Marie (Franka Potente) serve bem ao propósito de espelhar a sensação de extrema insegurança que assola o personagem-título, servindo quase a perfeição na montagem desse paradigma de busca pela normalidade do homem, em contraponto com a completa utopia vista nas mínimas atitudes dos outros personagens, com um grupo de vilões que beira a canastrice e caricatura. Artifícios que visam um inteligente comentário social, associando a paranoia dos Estados Unidos pós-11 de setembro a algo bobo e pueril, enquanto o homem comum – no caso, Bourne – tenta virar-se como dá.

    A busca por encontrar a si mesmo faz o herói se encarar como algo bem diferente do que sua nova moral estabelece como certo e errado. O contato com Conklin (Chirs Cooper) faz com que relembre as memorias suprimidas pelo superego, enxergando finalmente a faceta que sempre lhe foi comum, justificando o motivo que o fez tentar ser resgatado. Ao ser retirado das águas, o antigo Jason Bourne estava morto, e sua nova vida deveria começar a partir dali, cortando qualquer laço com os que o viam apenas como uma máquina de matar.

    A paz alcançada no final mais se assemelha a um fantasioso prólogo, um evento entrópico na vida de um personagem que é bruto por natureza e que teria por regras o caos e a guerra, não só aventados nos sinais presentes no roteiro de W. Blake Herron e Toni Gilroy, mas também no modo com que Liman conduz as cenas, utilizando luz difusa e completamente destoante de todo o filme. Apesar de inferior em relação às sequências comandadas por Paul Greengrass, A Identidade Bourne consegue alcançar o status de um competente filme de ação, contendo cenas muito bem construídas e uma discussão filosófica madura, especialmente para uma exploitation de super espião.

  • Crítica | No Limite do Amanhã

    Crítica | No Limite do Amanhã

    Edge-of-Tomorrow-Poster

    A Terra foi invadida por alienígenas, os Mimics, que até o momento estão levando a melhor. O Tenente-coronel Bill Cage (Tom Cruise), assessor de imprensa do Exército, vê-se obrigado a juntar-se às Forças Armadas e ir para o front às vésperas de uma batalha decisiva. Sem saber o motivo, fica preso no tempo, acordando no quartel a cada vez que é morto em combate. Num de seus replays, conhece Rita Vrataski (Emily Blunt), agente das Forças Especiais famosa por sua participação decisiva na batalha anterior ao exterminar uma grande quantidade de aliens. E, a cada reboot, Cage acumula mais informações que o auxiliam a entender o que está acontecendo.

    O roteiro foi baseado no livro All you need is kill, de Hiroshi Sakurazaka, ainda sem tradução no Brasil. Apesar disso, é impossível não pensar em outras produções em que o protagonista revive o mesmo dia ou algo semelhante. Feitiço do Tempo é a lembrança mais óbvia, onde Phil (Bill Murray) acorda todos os dias no Dia da Marmota. Outra lembrança mais recente – e também mais similar em termos narrativos – é Contra o Tempo, em que Colter Stevens (Jack Gyllenhaal), acorda no corpo de um desconhecido e é obrigado a reviver os minutos que antecedem um acidente de trem causado por uma explosão, até que consiga localizar o autor do atentado.

    Enquanto em Feitiço do Tempo a repetição apenas acontece, sem qualquer preocupação em elucidar como ocorre e com uma motivação que pende para o aspecto sentimental, em Contra o Tempo a motivação é explicitada logo nos primeiros minutos, e ao final é explicado como isso ocorre. Sob esse aspecto, No Limite do Amanhã, dirigido por Doug Liman, é muito semelhante. Em outras perspectivas também, como não poderia deixar de ser, já que o fio condutor é similar. A cada restart, Cage aprende mais detalhes, consegue ir mais longe em suas incursões no campo de batalha, até que numa delas, ao contar a Rita sobre sua situação, ela lhe diz: “Venha me procurar quando acordar!”. E assim, ao encontrar Rita e Dr. Carter (Noah Taylor) pela manhã, finalmente descobre como e por que o dia reboota a cada vez que ele morre.

    Apesar da ideia já batida, o roteiro consegue segurar a onda e manter o ritmo do filme. Quando começa a ficar repetitiva e o público começa a achar que vai ser apenas mais do mesmo, um novo elemento é adicionado à trama, ou momentos de humor inevitáveis, causados pela repetição dos dias, dão aquele “respiro” merecido ao espectador. Felizmente, os roteiristas não erraram a mão e dosaram bem essas intervenções cômicas em que o principal alvo é o superior de Cage, Sargento Farell (Bill Paxton). O ritmo da narrativa se mantém, apesar de uma ou outra “barriga”, e consegue, auxiliado por uma boa montagem, manter a atenção do espectador do início ao fim.

    O elenco está ok, sem nenhuma performance extraordinária, mas todos estão bem entrosados e bem convincentes. Cruise sempre encarnando o bom-moço, desta vez possui alguns mínimos deslizes de caráter, coerentes com um militar acomodado em sua posição longe do front e capacidade nula de combate. Blunt se esforça como a agente motherfucker, já que seu porte físico é pouco condizente com sua fama – o exoesqueleto utilizado pelos soldados justifica, em parte, suas habilidades, mas não o suficiente. Os demais não se sobressaem, mas também não fazem feio.

    Boa fotografia, bons efeitos especiais, 3D dispensável. Enfim, diversão garantida, apesar do final meio Disney demais. Mas depois de aceitar o modo como o tempo estava sendo rebootado, acatar o happy end não demanda tanto esforço assim.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.