Tag: Tom Cruise

  • Crítica | De Olhos Bem Fechados

    Crítica | De Olhos Bem Fechados

    Como se filma um pesadelo? Pergunte isso a David Lynch, e a resposta será um quarto mal iluminado com um homem vestido de coelho comendo biscoitos, sentado numa cadeira olhando para a parede e quase sem se mexer. Para Steven Spielberg, esse estado de devaneio sombrio que tanto nos perturba (e nos atrai) mora é na realidade das coisas, nos absurdos da vida real. Talvez De Olhos Bem Fechados, o mais belo dos suspenses dos anos 90, habite exatamente a zona cinzenta entre essas duas representações, e vai além, uma vez que explorar uma realidade inexplicável já faz parte dos deveres da sétima-arte. Quantos já não fizeram isso, seja numa verve mais comercial, ou numa inspiração mais cult, como sempre foi com Stanley Kubrick – e aqui não é diferente. Muito já se falou sobre seu último filme, o clássico que ele não chegou a ver a recepção na sua aguardada estreia. E no Oscar 2000, devido as polêmicas dos temas da obra, e a nudez masculina e feminina em várias cenas bastante eróticas, a Academia foi novamente puritana e não indicou em nenhuma categoria a última cria do mestre. Espanto? Mas é claro que não. Dane-se o Oscar, e vamos ao que interessa.

    O sarcasmo aqui com as relações é evidente, e se um dia Kubrick ouviu seus acusadores dizendo que ele era incapaz de ser sentimentalista em seus filmes, ele certamente pegou esse sentimentalismo e nos mostrou seu lado mais cruel, sombrio e interessante, possível, no mais mórbido e luxurioso dos pesadelos. Seguindo os passos do casal Bill e Alice Harford, tem-se aqui um conflito a respeito da fidelidade entre homem e mulher que, aos poucos, consome a paz e a vida social e privada de Bill, cada vez mais perdido a vagar nas ruas coloridas de Nova York até ser engolfado pelas trevas que, se o pouparem, é questão da mais pura sorte – como se o destino avisasse ao gato que sua curiosidade, só desta vez, não será em vão, e muito menos punitiva. A sensação de sermos voyeurs de uma história nunca foi tão aguda assim, ao passo de assistirmos personagens deliciosamente imperfeitos, vilões de si mesmos, numa espécie de purgatório cujas relações são fadadas ao mais completo fracasso. Como reverter esse quadro? Só escapando para, assim, voltar ao mesmo patamar de antes. Um purgatório, propriamente dito, num verdadeiro filme de terror cujo maior susto, e espanto, é conseguirmos nos reconhecer no simbolismo perturbador dessa obra-prima.

    Eis um tratado sobre o escondido, sobe o ocultismo e sem parecer ou soar didático a tanto. Se Ingmar Bergman mostrou o casamento como um abismo, seja na mesa, seja na cama, Kubrick viu a instituição matrimonial como algo surreal, repleto de segredos e absurdos metaforizados numa elite secreta cheia de rituais que envolvem suas senhas, seu sexo, e suas máscaras – exatamente como a maioria dos relacionamentos de verdade parecem ser após um tempinho, aos participantes. Tom Cruise e Nicole Kidman, casados na época, se recusavam a dar entrevistas antes da primeira exibição do filme, uma jogada de marketing para alavancar ainda mais a curiosidade de todos. Muito se falava, em especial, acerca de cenas pornográficas e a forte tensão sexual em torno da desconstrução filmada de um casamento, no início acima de qualquer suspeita, mas que gira em torno daquilo que fomenta os laços que podem unir duas pessoas: sexo, poder, e redenção. Kubrick nunca foi tão fundo nas engrenagens de um relacionamento, sendo que para o cineasta todo romance é hipócrita, cínico por natureza, e há sempre algo não dito por trás de olhares e falas bem intencionadas.

    É preciso fechar os olhos, e bem fechados, ele diz, para enxergar o óbvio, como um profeta é capaz de fazer. Stanley Kubrick conhecia bem a teoria da psicanálise, e se interessava pelos recônditos obscuros e enigmáticos da alma humana tanto quanto amava jogar xadrez, em seus sets de filmagem. Na Nova York dos anos 90, suas ruas bem iluminadas e suas festas e apartamentos de luxo be iluminados escondem, com o brilho, os mistérios do homem que nele habitam, e ao redor dele se escondem, no espectro (ir)real das coisas. Através de cenários normais, a iluminação teatral se faz necessária para tornar tudo artificial, de propósito, evidenciando assim as ilusões que o mundo urbano e falso-moralista dos homens aloja. Para Kubrick, tudo é uma grande perversão revestida de romance. Tudo é uma grande mentira, uma grande farsa visualmente deslumbrante!, gritam as imagens quentes e frias de De Olhos Bem Fechados, acompanhadas de uma trilha-sonora que, as vezes, dá o tom de um tenso ritual secreto, e noutra vez, poderia ser usada no divertido percurso de um circo dos horrores. De Oscar Wilde nos fica a máxima: “Dê ao homem uma máscara, e ele se tornará quem realmente é.” Kubrick pegou essa frase, e fez dela um dos seus melhores filmes. E isso nunca será pouca coisa.

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  • Crítica | A Cor do Dinheiro

    Crítica | A Cor do Dinheiro

    A Cor do Dinheiro precisa ilustrar em todos os dicionários a palavra Charme, bem ao lado do adjetivo, nas páginas da letra ‘C’. O filme de Martin Scorsese, sendo esse injustamente um dos seus menos famosos títulos entre mais de quarenta produzidos, tem início numa conversa de bar entre o garanhão Eddie Felson, um ex-campeão de sinuca encarnado aqui pelos eternos olhos azuis de Paul Newman, uma lenda que navegou por todas as eras de Hollywood, e uma moça fadada a cair na lábia irresistível do cara, entre um jogo e outro. Pouco tempo depois desse breve encontro boêmio palco de juras e promessas, estabelece-se rapidamente e de forma brilhante por Scorsese (e uma fantástica direção de arte) o fato de A Cor do Dinheiro ser um manifesto exato sobre o que o próprio título já nos anuncia, e de antemão.

    Ambientado por um realismo constante e basilar, se a palavra oficial de O Lobo de Wall Street foi “Fuck”, a palavra-chave aqui é outra: “Money”, e qual mais seria então? O que é o dinheiro (e até aonde você iria para ganhá-lo) é bem diferente do que ele pode significar para outra pessoa, e se essas perspectivas distintas acerca de meras notas de papel, e o seu verdadeiro valor na vida de alguém em sociedade são completamente democráticas nos Estados Unidos e no mundo capitalista, eis um dos filmes mais divertidos e inteligentes a respeito do que pode mover um homem de dentro pra fora, com a trama preferindo trilhar esse caminho que debater superficialidades e outros conceitos clichê nesse tema. Scorsese, mais cool e musical do que nunca, denuncia a superficialidade das relações aqui, e critica a cultura da posse e do custo financeiro vir antes do custo pessoal de cada um, discutindo entre mil e uma situações urbanas se todos realmente possuem um preço.

    É melhor ser, ou ter? Para o jogador Eddie, que apenas quer ser o mentor de Vincent, o jovem impulsivo e inconsequente que joga sinuca com a facilidade de quem bebe um copo d’água, a pergunta é mais complexa do que aparenta. Ele deseja ensiná-lo tudo, mostrar para o jovem e a sua namoradinha o valor do esporte, da competitividade e da juventude. Tom Cruise em 1986 ainda precisava se provar aos olhos de público e crítica, e faz do seu Vincent um moleque de fogo nos olhos e rebeldia pura; quase um James Dean de taco na mão, e esse é o conflito central no filme: Como que um ex-campeão naquilo que fez e faz consegue lidar com um pupilo de outra geração, de valores éticos e morais tão diferentes dos seus? Se em Cassino Scorsese construiu um panorama mais glamoroso mesmo sobre as tragédias que o dinheiro abundante acarreta em mãos erradas, aqui é exatamente o contrário, e quase tão prazeroso e reflexivo de se assistir quanto o épico dos anos 90, em Las Vegas.

    A intensidade e a violência de Scorsese sempre acham espaço no decorrer de uma história (a briga no bar, o stress na escada), nem que seja nos detalhes ou na iluminação vibrante avermelhada. Elas têm que explodir na tela, e isso não poderia ser melhor é claro, agindo não apenas como elemento de puro entretenimento. A Cor do Dinheiro, por mais charmoso e bem filmado que seja, alonga-se demais e tem aquela barriga narrativa típica dos filmes do mestre, tamanha sua paixão pelo Cinema e em contar histórias que, sobretudo, merecem ser registradas em sua longa filmografia. A já mencionada direção de arte aqui é essencial, exalando a cor verde e ressaltando conforme a necessidade o fato do dinheiro sempre estar ao redor, em pauta, nos olhos e nas veias de cada um, e o que isso causa nos caminhos de quem ostenta sua imaturidade e arrogância desmedidas na terra da ambição, do dinheiro de jogatina e dos wanna be – uma terra também chamada de Estados Unidos da América.

    https://www.youtube.com/watch?v=nkRNFatbHwE

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  • Crítica | Missão: Impossível – Efeito Fallout

    Crítica | Missão: Impossível – Efeito Fallout

    Tom Cruise deixou de ser um sujeito que só por estar em um filme é sinônimo de sucesso. A Múmia, Feito na América e Jack Reacher: Sem Retorno sofreram, seja com as duras críticas ou com um público aquém daquilo que o astro estava acostumado. Missão: Impossível talvez ainda seja exceção à regra, já que contém filmes de qualidade ímpar, e claro, uma boa aceitação por parte dos espectadores. O sexto volume, Missão: Impossível – Efeito Fallout consegue ser um objeto divertido, emocionante e com muitos predicados positivos.

    O filme tem ação e ritmo bastante frenéticos. O suspense é acertado demais e isso é muito mérito de Christopher McQuarrie, diretor e roteirista que já havia feito um trabalho sensacional em Missão: Impossível – Nação Secreta e também trabalhado com Cruise em Jack Reacher: Um Tiro, dois dos melhores filmes recentes do ator. A afinidade de McQuarrie e Cruise vêm de muito tempo, em 2008 com Operação Valquíria, quando o cineasta havia escrito o roteiro para o filme de Bryan Singer.

    O roteiro primoroso apresenta uma trama de espiões cheias de reviravoltas que faz lembrar muito os livros de Tom Clancy, como Caçada Ao Outubro Vermelho, ou ainda os romances de espionagem de John Le Carré. Apesar de ser bem mais sério e inteligente que os filmes recentes de ação, ele não se descuida da ação só porque tem seu texto bem trabalhado, ao contrário, as cenas de luta são muito bem coreografadas e a sagacidade de McQuarrie em filmá-las em detalhes é enorme.

    O aprofundamento dos sentimentos e preocupações de Ethan Hunt é igualmente bem feito. Os laços de lealdade fraternal com a sua equipe, como também seus enlaces românticos são explorados de uma maneira muito íntima e terna. Há tempo suficiente para desenvolver cada um desses aspectos. Além disso, este é um filme onde a equipe de salvamento é fundamental, e não só uma história de um homem perfeito que não precisa de ninguém para sobreviver, seguindo a linha do que já tem acontecido nos filmes mais recentes da série. Simon Pegg volta bem; Rebecca Ferguson, que atua num papel parecido com o último, desenvolvendo outras camadas; assim como o personagem de Alec Baldwin ganha maior importância nesta sequência. Até os personagens que aparecem pouco, como o Luther (Ving Rhames), aparecem bem.

    Henry Cavill também está muito bem no filme e convence como um agente que rivaliza com o herói, inclusive se mostrando melhor que ele em alguns momentos. O roteiro não exime o protagonista de ser mostrado como um homem falho, que sofre com o tempo que já se passou, aliás esse detalhe de torná-lo mais vulnerável o torna um personagem ainda mais crível, além de aproximá-lo do público, portanto, é ainda mais fácil ter empatia por ele.

    A saga Missão: Impossível ainda parece ter fôlego, e claramente, depende de seu astro para sobreviver, mas não faz sucesso só por isso, evidentemente, já que tem inúmeros aspectos técnicos positivos, desde a fotografia de Rob Hardy como a trilha sonora. Conseguir equilibrar bem as exigências comuns a uma produção grande como essa com a responsabilidade de fazer um filme minimamente autoral é extremamente difícil, e McQuarrie consegue de maneira magistral.

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  • VortCast 54 | Piores Filmes de 2017

    VortCast 54 | Piores Filmes de 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Bernardo Mazzei, Bruno GasparCaio Amorim Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre a lista publicada no site sobre os piores filmes lançados em 2017 no Brasil.

    Duração: 110 min.
    Edição: Caio Amorim
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

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    Brisa de Cultura

    Piores Filmes de 2017

    Lista Completa dos Piores Filmes de 2017
    Crítica Rei Arthur: A Lenda da Espada
    Crítica Boneco de Neve
    Crítica Internet: O Filme
    Crítica Death Note
    Crítica Transformers: O Último Cavaleiro
    Crítica A Torre Negra
    Crítica Emoji: O Filme
    Crítica Alien: Covenant
    Crítica Assassin’s Creed
    Crítica A Múmia

    Menções Honrosas

    Crítica Liga da Justiça
    Crítica Mulher-Maravilha
    Crítica Bright
    Crítica Homem-Aranha: De Volta ao Lar
    Crítica A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell
    Crítica O Jardim das Aflições
    Crítica Policia Federal: A Lei é Para Todos
    Crítica O Círculo

    Comentados na Edição

    VortCast 49 | Liga da Justiça
    VortCast 48 | O Que Estamos Lendo?
    VortCast 47 | Homem-Aranha e o Cinema
    VortCast 46 | Melhores Filmes de 2016
    VortCast 44 | Piores Filmes de 2016
    VortCast 30 | Steve McQueen, Diretor
    VortCast 19 | Ghost In The Shell
    Estrelas não garantem mais a venda de ingressos de filmes de Hollywood

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  • Crítica | Feito na América

    Crítica | Feito na América

    Tom Cruise é um dos poucos atores de Hollywood a manter a alcunha de astro. Destacado em uma época em que o nome era suficiente para resultar em uma boa bilheteria, independente da qualidade do filme, hoje sua carreira se mantém em produções de ação e aventura ou em tramas que envolvam ação física diretamente.

    Com a queda dos brucutus no meio da década de 90, e da ascendência de poucos atores do estilo em uma nova geração, Cruise se tornou uma espécie de ator misto, com uma boa qualidade técnica na interpretação quando possível (com direito a arroubos dramáticos), um charme que a idade ainda não destruiu, e uma dedicação intensa à cenas de ação, sempre desafiando a si mesmo como nas perigosas cenas da franquia Missão: Impossível.

    O ator retoma a parceria com Doug Liman, iniciada em 2014 no eficiente No Limite do Amanhã, para retratar uma história baseada em fatos reais que segue um estilo narrativo presente em diversas produções da última década: a trajetória de um personagem que utiliza as falhas e corrupções do sistema para benefício próprio. Para ficarmos em dois exemplos semelhantes: Steven Spielberg e a história de Frank Abagnale Jr em Prenda-Me se For Capaz. Martin Scorsese e seu Lobo de Wall Street. Obras que tem em comum personagens charmosos, corruptores, capazes de manipular a ordem de maneira quase indomável.

    Feito Na América segue a vertente contemporânea de explorar a década de 70 e 80 como uma nostalgia fetichista. Desde o logo da Universal que se transforma na vinheta antiga do estúdio à transposição cinematográfica dos conceitos analógicos, com defeitos causados pelas reproduções das fitas de vídeo, apresentando falhas propositais na imagem. Tudo é orquestrado para fornecer um registro de uma história antiga, destacando a personalidade de Barry Seal, um competente mas descontente piloto de aviões comerciais que realiza pequenas corrupções diárias, como vender charutos cubanos em território americano, e que não mede consequências quando oportunidades maiores batem em sua porta.

    Em uma época em que a Guerra Fria regia as tensões mundiais e os Estados Unidos tentavam evitar qualquer levante comunista na America Latina, Seal aceita a proposta de se tornar um agente da CIA em uma operação secreta, produzindo fotos aéreas de países com possíveis grupos comunistas. Pego em uma de suas viagens por traficantes, vislumbra a possibilidade de lucrar de ambos os lados, trabalhando tanto para o governo quanto para o famoso cartel de drogas de Medellin, na Colombia.

    Em uma trama com poucos conflitos, o personagem de Cruise representa o desequilíbrio de certas políticas americanas. Ações desesperadas que hoje parecem cômicas pelo improvável, mas que foram levadas a sério em sua execução. Em cena, Seal parece invencível, um homem charmoso e com lábia suficiente para convencer qualquer um de sua habilidade em resolver problemas. Ele é capaz de enganar a CIA, trair traficantes, evitar o sistema judiciário, esconder pilhas e pilhas de dinheiro sem nenhum medo. A potência de Tom Cruise corrobora a favor da personagem, embora a ausência de conflitos retire os tons dramáticos da história. Trata-se de uma obra que segue a vertente do espetáculo. As cenas que exploram esse mundo as avessas são boas, trazendo um riso irônico no público devido ao absurdo.

    A direção de Liman e a edição ágil de Andrew Mondshein (A Múmia, Chocolate, Sexto Sentido) se contrapõe a estética oitentista, revelando que o filme possui um registro cinematográfico atual, com grande parte das informações apresentadas em cenas rápidas. Focado em excesso no entretenimento e no estilo estético oitentista (um brega que não é mais cafona, mas sim nostálgico), a trama tem fôlego curto, mesmo que Cruise esteja bem em cena, dando credibilidade ao personagem.

    Ainda que a história se revele divertida, mantém a impressão de que se trata de um filme-produto, focado na exploração de conceitos em alta no mercado, como o anti-herói que dribla o sistema, a estética do videoclipe de cenas com cortes rápidos e a nostalgia oitentista como uma fórmula que atrai o público. Funciona como uma produção para assistir sem culpa, porém, um filme que se perderá facilmente da memória em um curto período de tempo pela falta de originalidade.

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  • Crítica | A Múmia (2017)

    Crítica | A Múmia (2017)

    A falta de produtos originais faz Hollywood requentar fórmulas antigas com uma tática falida, apresentando tais produtos ao público como se fosse algo novo. Dark Universe, da Universal Studios é apenas mais um expoente desse filão, assim como é o universo da Marvel, DC, Monstros Gigantes (com Godzilla e Kong), e claro, como eram os clássicos de Monstros da Universal. A Múmia, de Alex Kurtzman, é a gênese disso, e como ocorre com seus personagens, parece haver uma maldição sobre sua cabeça.

    A Múmia teve seu primeiro filme em 1932, protagonizado por Boris Karloff em seu papel menos inspirado até então. Nesse ponto, a nova versão é bem fiel, já que tem um Tom Cruise cansado e nada inspirado, na pele do cafajeste bonzinho Nicky Morton, um sujeito que atrás de enriquecer, acaba parando no território da antiga Mesopotâmia, atual Iraque. Lá, se demonstra uma amizade entre ele e Vail (Jake Johnson), além de uma rivalidade/affair com Jennifer (Anabelle Wallis), uma arqueóloga idealista, bastante diferente de Morton.

    No prólogo, é mostrada a origem da criatura, no caso, a princesa egípcia Ahmanet, executada pela (desperdiçada) Sofia Boutella. Essa construção é repleta de boas ideias, mas também se demonstra cheio de problemas de execução, com uma exploração pueril do viés de maldição via sedução, sem conseguir replicar sequer os bons momentos da versão de Stephen Sommers, em 1999, uma vez que esse jamais se aceita como um filme trash, levando-se a sério demais.

    Quanto aos aspectos técnicos, há muitos equívocos, a começar pela fotografia que abusa da neblina e escuridão, matando qualquer chance de susto ou pavor que poderia ocorrer através das aparições do monstros. Os efeitos também são fracos, em especial quando aparecem animais, as escalas de tamanhos são confusas, mostrando normalmente ratos tão grandes quanto gatos e besouros que tem tamanho menor que baratas. O roteiro segue na confusão, tendo entre argumentistas e roteiristas seis pessoas diferentes. Atira-se para todos os lados e pouco se acerta, em especial no tocante as motivações dos personagens, que variam entre a credulidade e o ceticismo muito facilmente.

    A base do filme abuso do maniqueísmo. Não faz sentido a luta do bem contra o mal que é pretendida e claramente o texto tenta alcançar algo que não há como atingir. A pretensão de estabelecer um novo universo a se explorar faz com que as fragilidades dramatúrgicas fiquem ainda mais evidentes, tornando até as participações de Russel Crowe como Henry Jekyll algo caricato e banal. Sua personalidade aliás é de qualidade risível, uma vez que varia entre exposições bobas e show-off de transmutação e discursos piegas e vazios sobre a dicotomia entre humanos e monstros.

    A solução final para a resolução da tal maldição soa tão esdrúxula quanto a vista no recente Esquadrão Suicida, já que grande parte dos poderes envolvendo a tal múmia não ocorreriam se a organização de Jekyll não intervisse como o fez. Apesar de mirar muito alto A Múmia é bastante aquém de seu potencial, servindo apenas como um pontapé muito capenga para a nova franquia do Dark Universe, não convencendo sequer no final que estabelece para si, repleto de contradições que só denigrem as poucas coisas boas levantadas na história.

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  • Crítica | Jack Reacher: Sem Retorno

    Crítica | Jack Reacher: Sem Retorno

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    Aproveitando o hype que Missão: Impossível – Nação Secreta teve, trazendo à tona o outro personagem ligado a espionagem que Tom Cruise executa, Jack Reacher Sem Retorno é uma fraca tentativa de continuar uma outra franquia com o astro de cinema, curiosamente produzido também por Paula Wagner, que antes era parceira de Cruise como cérebro de Missão: Impossível. No novo filme de Edward Zwick, Reacher retorna à base militar da Virgínia, a fim de convidar a comandante que conheceu por telefone para jantar, mas obviamente algo dá errado e ele se enfia em uma nova trama conspiratória.

    O começo do longa é repleto de clichês, com o antigo major agindo de modo silencioso enquanto a polícia o interroga sobre as pessoas que ele espancou em uma lanchonete do interior. A tal moça com quem Jack falava era Susan Turner (Cobie Smulders), uma militar de carreira que é injustamente presa, fato que faz o herói da jornada tentar trazer a luz a justiça que ele julga certa sobre ela.

    Logo, o casal está em liberdade e enfrentando todo o sistema de inteligência dos Estados Unidos, fazendo valer sua ligação e confiança mútua praticamente instantânea e injustificada. O roteiro de Zwick, Richard Wenk e Marshall Herskovitz soa infantil em suas manifestações, seja pela incapacidade de seus personagens em gerar nuances ou qualquer outro aspecto que faça a história valer a pena, ou pela tramoia conspiratória e rocambolesca.

    Se Jack Reacher: Um Tiro não era um filme primoroso, ao menos não era um exemplar tão genérico quanto este Sem Retorno. Reacher acaba por parecer mesmo uma versão menos inspirada de Jason Bourne neste volume dois, todas as rivalidades e embates tem cunho pessoal e os vilões não tem qualquer carisma ou justificativa para entrar e sair da história. A tentativa de gerar emoção no público através da personagem de Danika Yarosh é oportunista e improdutiva, uma vez que não há a menor ligação sentimental entre ela e o personagem título.

    A trama desinteressante é cortada por algumas cenas de ação legais, e como aspectos positivos há a força de Turner enquanto mulher empoderada e agente, além do lance jocoso das corridas somente de antebraço, que Cruise faz ao lado de Smulders acrescentando um pouco de humor involuntário ao filme de Zwick. A questão é que Jack Reacher: Sem Retorno não é uma comédia e causa estranhamento ao analisar a obra pregressa do diretor, mal deixando acreditar que o mesmo cineasta que havia executado O Último Samurai, Nova York Sitiada e o leve Amor e Outras Drogas tenha conseguido fazer uma continuação tão aquém do original e tão ausente de alma, substância ou conteúdo.

  • Crítica | Missão: Impossível

    Crítica | Missão: Impossível

    mission-impossibleEm 1996, estourou nos cinemas a adaptação da série homônima da década de 60 e 70. Estrelado pelo super astro Tom Cruise e dirigido por Brian DePalma, Missão: Impossível foi um sucesso de bilheteria, mas foi totalmente execrado pelo elenco original da série, que detestou o tratamento dado aos personagens que interpretou e também o fato de o filme concentrar todas as atenções em Cruise em vez de focar na equipe, assim como o seriado fazia. Entretanto, este foi o início de uma das cinesséries de maior sucesso recente e uma das mais queridas do grande público.

    Na trama, a equipe liderada por Ethan Hunt (Cruise) e Jim Phelps (Jon Voight) é quase totalmente dizimada após uma emboscada em uma missão que visava recuperar um disco com a identidade de todos os agentes secretos ativos no mundo, com Hunt e a esposa de Jim Phelps sendo os únicos sobreviventes. Porém, Ethan acaba por ser acusado de ser um agente duplo que traiu a equipe e passa a ser perseguido pela própria agência. Só que Hunt junta um grupo de espiões renegados para poder rastrear e encontrar o verdadeiro responsável pela traição.

    Missão: Impossível foi escrito por roteiristas badalados. Sydney Pollack cunhou o esboço original que depois foi trabalhando por David Koepp, Steve Zaillian e Robert Towne. Brian DePalma quando assumiu, planejava um filme de orçamento em torno de 40 milhões de dólares com enfoque maior na espionagem. Entretanto, Tom Cruise (também produtor da película) pensou em uma obra mais voltada para ação e conseguiu uma verba de 80 milhões de dólares para gastar em sequências grandiosas. Porém, isso acabou resultando em um filme que não sabe exatamente o que é, uma vez que vive de freio de mão puxado. Nem descamba pra ação descarada e nem pra uma intrincada trama de espionagem à moda antiga. Esse problema prejudica o desenvolvimento do roteiro na tela, pois somos apresentados a situações que acabam se resolvendo de maneira genérica (exceto a cena do cofre da CIA) e a personagens que não têm personalidade alguma, ainda que sejam importantes dentro do plot.

    DePalma consegue imprimir sua marca em algumas sequências bem interessantes, principalmente nas de maior suspense. A já mencionada cena do cofre é uma aula do diretor sobre como fazer uma cena de tensão. Outro momento em que ele vai muito bem é na sequência final que acontece no trem bala. Toda a preparação e desenvolvimento da cena no interior dos vagões têm um quê de Alfred Hitchcock, sua declarada inspiração-mor. O único senão é que assistindo ao filme hoje, os efeitos especiais da parte exterior do trem, onde se desenvolve todo o clímax do filme, parecem datados e entregam a idade da película. Ainda assim, é uma ótima cena. DePalma filma como poucos as expressões faciais de seus atores, sempre com ênfase em seus olhares. Porém, o roteiro hesitante não permite que ele desenvolva bem os personagens e suas relações interpessoais.

    Em relação às atuações, Tom Cruise está carismático como sempre e defende seu Ethan Hunt com competência. Jon Voight segue a mesma linha interpretando Jim Phelps, mentor do personagem de Cruise. A linda Emmanuélle Béart não compromete, mas a sua personagem não gera apelo nenhum. Ving Rhames se sai bem como Luther e Jean Reno termina por fazer o papel de “europeu genérico”. Vale ainda o destaque da ponta não creditada de Emilio Estevez como membro da equipe dizimada de Cruise no início do filme.

    Mesmo não tendo envelhecido muito bem e sendo hesitante em se assumir como filme de espionagem ou de ação, Missão: Impossível é uma boa obra que possui qualidade superior a muitas que são lançadas e costumam ser bem elogiadas por crítica e público.

  • Crítica | Operação Valquíria

    Crítica | Operação Valquíria

    Operação Valquiria - poster

    A história universal da humanidade se baseia, na medida do possível, na identificação de fatos e acontecimentos históricos. Conjecturas e possibilidades não se encaixam nesta linha, ainda que certas ações possibilitem a reflexão sobre se os rumos da história se modificariam caso certos planos fossem adequadamente executados.

    Operação Valquíria suscita tais questionamentos ao apresentar um plano, de parte dos militares alemães, para assassinar Hitler. Um acontecimento real, dentre os mais de 15 ataques contra a vida do ditador, em uma versão cinematográfica dirigida por Bryan Singer e com Tom Cruise no elenco. A produção talvez seja o filme mais dissonante de Singer. A bilheteria foi aquém do esperado, e o tema, diferente da narrativa usual do diretor. Ainda que as críticas feitas à produção devessem ser reconsideradas.

    Em um apoio fiel aos fatos históricos, a trama resgata um momento luminoso na história alemã em um bom thriller de guerra. As primeiras cenas feitas em língua alemã demonstram a intenção de fidelidade histórica. Quando a língua é modificada para o inglês, o público compreende que se trata de uma liberdade cinematográfica devido à origem de seus atores. Uma estratégia interessante que explicita a visão cinematográfica do acontecimento, um fator linguístico que foge das línguas-mãe de cada país e é motivo de reclamações por parte de críticos e público.

    A narrativa enfoca o plano de assassinato de Hitler considerando que o público compreende as bases fundamentadas na história da Segunda Guerra Mundial. Os militares perdem a visão uníssona devido a um grupo dissidente contra as ações do Führer , criando uma resistência interna que decide uma maneira radical de encerrar o conflito e reestruturar o país após a morte do líder.

    O general Stauffenberg se torna o personagem chave do grupo para desenvolver uma estratégia efetiva para matar Hitler. Vindo do front da África, após uma explosão que lhe custou as mãos e um olho, a personagem interpretada por Tom Cruise reconhece que a condução desta guerra adquiriu contornos exagerados. Apoiando-se em um plano de contingência desenvolvido pelo próprio ditador, surge a Operação Valquíria, uma manobra criada para caso o líder fosse abatido ou surgisse um conflito interno de poder. Mesmo que o público reconheça de antemão que a operação foi um fracasso, e que estendeu por mais nove meses a guerra até o suicídio de Hitler, o roteiro de Christopher McQuarrie e Nathan Alexander sustenta o suspense e a tensão, como se a revelação deste fato não fosse importante, intensificando a conspiração dentro dos frontes internos.

    No papel central, Tom Cruise se destaca com um personagem enérgico mas ponderado, demonstrando que brilha como ator fora de seus personagens habituais de galãs. Além de sua participação, o elenco é formado por grandes atores que se sobressaem em poucos papéis principais, como Bill Nighy (perfeitamente caracterizado como Friedrich Olbricht), Tom WilkinsonTerence Stamp e Kenneth Branagh. A reconstrução de época ajuda a enfatizar um momento da história mundial que boa parte conhece apenas por narrativas. A câmera de Singer abrange o esplendor da visão alemã em câmeras panorâmicas, apresentando toda a pompa pela qual o nacionalismo alemão foi sustentado.

    A operação foi o último atentado registrado contra Hitler e dá margem para uma reflexão: se o plano fosse bem-sucedido, mudaria de forma eficiente a transição do pós-guerra? De qualquer maneira, a estratégia demonstra que a visão de uma Alemanha apoiando seu líder de maneira cega é inadequada, destacando um bonito momento histórico de resistência interna de um grupo, considerado traidor e executado como tal, mas hoje símbolo de resistência contra um legado negro da humanidade.

  • Crítica | Missão: Impossível – Nação Secreta

    Crítica | Missão: Impossível – Nação Secreta

    Missão Impossível - Nação Secreta - poster

    Após Missão: Impossível – Protocolo Fantasma, a carreira de Tom Cruise foi novamente consolidada, lhe garantindo a popularidade costumeira graças aos blockbusters, vertente primordial de sua filmografia. Em Missão: Impossível – Nação Secreta, o ator volta a trabalhar com o roteirista e diretor Christopher McQuarrie, cuja parceria foi iniciada em Operação Valquíria e com o qual estreitou laços em Jack Reacher – Um Tiro, adaptação da obra de Lee Child.

    Em história desenvolvida e roteirizada por McQuarrie, a produção segue a linha da narrativa anterior, equilibrada e bem ponderada entre ação e humor sutil. Nessa nova aventura, a força-tarefa Missão Impossível lida com as consequências da missão anterior, enquanto um membro senior da CIA (Alec Baldwin) deseja desativar a equipe, considerando-a secreta demais para a vertente política de transparência do governo. Enquanto a equipe sofre o abalo político, Ethan Hunt se torna alvo do grupo terrorista que investigava há mais de um ano, o Sindicato.

    Considerando uma franquia com quatro bons filmes, a nova trama tem base na estrutura do impossível, que confere estilo à série e leva-a a um novo patamar ao mostrar um grupo terrorista cuja função primordial é sabotar o IMF, bem como outros grupos secretos de espionagem – o Sindicato é uma organização criminosa à altura dos espiões mundiais. Desde sua divulgação, o enredo foi bem conduzido. O trailer, que apresenta a história e sintetiza a força da série em uma grande cena de ação – também presente em um dos posteres –, é apenas uma sequência de alto impacto que introduz a trama. Uma estratégia que esconde os grandes atos de ação desta aventura, cuja intenção é provar a importância da força-tarefa e de Ethan Hunt como um dos agentes ativos mais brilhantes da equipe e um dos personagens mais cativantes do cinema de ação. Em nenhum momento, Hunt trata suas desventuras como uma vingança pessoal, mas trabalha sempre com técnica para provar seu ponto de vista e destruir qualquer plano que o acuse de traidor.

    Como nas histórias anteriores, a ação conduz a trama em três grandes atos, enquanto a investigação é responsável por levar a equipe a pontos diferentes do globo e proporcionar belas cenas equilibradas, com tensão e drama. O primeiro ato, passado inteiramente dentro de um teatro durante uma apresentação de ópera, é um belo trabalho apurado de perfeição e composição narrativa. Sem nenhuma trilha sonora fora de cena, as canções do libreto proporcionam a tensão sonora necessária para as cenas, ampliando o conflito de Hunt tentando descobrir um assassino para evitar a morte de um político. Um ato que eleva a linguagem narrativa do filme.

    Explorando caminhos diferentes dos anteriores, essa quinta aventura segue a estrutura fundamentada mas distorcendo-a sempre quando possível. Se anteriormente os picos de ação necessitavam da habilidade física de Hunt e, consequentemente, da forma física de Cruise, um dos pontos atos de um segundo ato se desenvolve em uma cena submersa, e a respiração do agente é fundamental para a sua sobrevivência. A potência física é trocada por outro tipo de treino rigoroso, mais técnico e mental, modificando os clichês de ação e provando que há maneiras diferentes de criar tensão necessária para promover uma outra grande sequência, filmada de maneira excepcional.

    A composição do vilão líder do Sindicato, um grupo que espelha a IMF, se expande além de um terrorista com um plano de dominação mundial. Trata-se de um embate de inteligências: uma espécie de Moriarty que usa sua sagacidade e técnica a favor do crime ou daquilo que considera verdadeiro, ainda que sempre seja difícil compreender doutrinas diferentes. Solomon Lane (Sean Harris) foge da loucura de grandes vilões para realizar uma interpretação mais sutil, mantendo o aspecto assustador de frieza, sem afetação. Uma vertente que explicita a espionagem ligada à origem da série, que inclui a participação de uma personagem dúbia, Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), simultaneamente agente britânica e infiltrada no Sindicado. É ela que trabalha ao lado de Hunt, além de Benji.

    A personagem de Simon Pegg, presente a partir de Missão Impossível III, também merece destaque por sua evolução desde sua primeira aparição na franquia. Benji foi além do alívio cômico, se transformando em um ativo de campo em Protocolo Fantasma, e, nessa história, está envolvido diretamente na ação. Assim, sua personagem cresceu, adquiriu contornos dramáticos e maior presença em cena como um parceiro não-usual de Hunt, demonstrando bom entrosamento entre os personagens.

    O exagero do impossível está presente em cena, mas situado em momentos precisos, com atenção e qualidade. A câmera de McQuarrie demonstra talento e apuro para a ação, e compõe cenas ágeis e, ao mesmo tempo, esteticamente belas, como a luta de facas de Ilsa filmada em dois planos paralelos devido às sombras das personagens – um jogo semelhante ao de Sam Mendes no primeiro ato de 007 – Operação Skyfall. Nação Secreta rompe os contornos de uma série blockbuster para engrandecer sua história, entregando, além da vertente habitual – ação, queda e ascensão, tríade vista nos filmes anteriores, com uma linguagem própria de cada diretor –, um novo patamar narrativo que retoma a vertente de espionagem e aprofunda-a na política, dando margem a possíveis novas aventuras dentro de uma mitologia própria. Um grande filme de ação (possivelmente figurando na lista de melhores filmes de 2015) que evidencia o talento de Tom Cruise, e seu ainda evidente carisma, e aponta um futuro talentoso para McQuarrie na direção.

  • Crítica | Missão: Impossível – Protocolo Fantasma

    Crítica | Missão: Impossível – Protocolo Fantasma

    Missão Impossível 4 - Protocolo Fantasma

    O começo do ano 2000 foi bom para Tom Cruise devido ao sucesso de bilheteria e sua participação em filmes blockbuster, como a adaptação de Guerra dos Mundos de Steven Spielberg. Foi aproximadamente em 2005 que seu nome perdeu parte do status, graças a seus afastamento nas telas ao se dedicar ao casamento com Katie Holmes, um enlace lembrado pelo público nos pulos desenfreados no sofá de Oprah, fato que fez a mídia chamar-lhe de maluco para baixo. No ano seguinte, o nascimento da filha foi o centro de suas atenções e, ainda assim, o ator estrelou Missão: Impossível 3, seu último filme de grande sucesso.

    Em seguida, participou de longas-metragens interpretando personagens menores ou diferentes de seus heróis habituais: um congressista em Leões e Cordeiros, drama político de Robert Redford; Operação Valkyria como um militar que deseja acabar com os planos da Alemanha, e se destacou com muita maquiagem e pelo em Trovão Tropical. A produção Encontro Explosivo foi lançada para realocar o astro em seu papel de ação, um status que sempre foi constante em sua carreira, muitas vezes em detrimento do ator potencialmente talentoso em certos papéis. O filme foi um fracasso, marcou mais um passo ruim de sua carreira e parecia anunciar a morte de um dos últimos astros de Hollywood.

    O sucesso de Tom Cruise surgiu em uma época em que astros eram a grande estrela sem depender da qualidade. Mesmo filmes com uma bilheteria mais fraca alcançavam o esperado pelas produtoras. Um reflexo do mercado que hoje não mais se vê motivo pelo qual muitos outros colegas de profissão hoje estão em papeis secundários ou produções duvidosas, seja por opção ou por um mal gerenciamento da carreira que ainda os vê como astros acima de qualquer produção.

    Missão: Impossível – Protocolo Fantasma carregava a responsabilidade de demonstrar que o astro ainda era uma figura rentável na indústria, ao mesmo tempo que era um desafio para Brad Bird na direção. Até então, o diretor havia feito apenas grandes animações, como Gigantes de Ferro, Os Incríveis e Ratatouille. Como nas três histórias anteriores, a produção é coerente com sua temporalidade no quesito linguagem cinematográfica enquanto manter certa personalidade de seu diretor. O filme já está situado na era do realismo Bourne, porém, como a franquia permite cenas mirabolantes, o roteiro de Josh Appelbau e André Nemec preservam a coesão em grandes cenas impossíveis e ao mesmo tempo realistas, um paradoxo que parece impossível.

    Assim como o James Bond em Skyfall representava uma queda e reinvenção da personagem, o protocolo fantasma do título é instaurado após um ataque terrorista ao Kremlin, fortaleza russa, encerrando a força-tarefa Missão Impossível. Fora de um campo de restrições implicitamente anacrônicos, Ethan Hunt e sua equipe atuam para recuperar dados de diversos mísseis nucleares roubados durante a explosão. Interceptando a compra destes dados, a equipe segue em missão por diversos locais do globo – Rússia, Dubai e Índia – à procura do vilão terrorista. Cenários que não só engrandecem a trama visualmente como proporcionam grandes cenas de ação, como a insana escalada de Junt no lado externo do prédio Burj Khalifa, conhecido com o mais alto do mundo.

    No papel de Hunt, Tom Cruise continua sendo um grande símbolo. Demonstra não só seu antigo status de astro como também sua dedicação ao não utilizar nenhum dublê em suas cenas, trazendo mais autenticidade para a história. Bird, em seu primeiro filme live action, sabe trabalhar as cenas de ação tanto em seus picos máximos de tensão quanto aproveitando pequenos detalhes que trazem conflito à missão. Como destaque, a sensacional perseguição em meio a uma tempestade de areia em Dubai, claustrofóbica e tensa ao mesmo tempo, e que encerra o ato nesta cidade dos Emirados Árabes. Uma diferença das histórias anteriores é o tratamento dado às cenas de ação exageradas: a própria equipe assume o perigo e incredulidade diante de alguns atos de Hunt, como se soubessem que, diante de uma situação sem fugas, é necessário encontrar um caminho  mesmo que seja, aparentemente, impossível. O jogo de rir de si quebra o exagero que os filmes anteriores consideravam normal e reforça o teor realista – na medida do possível – da história.

    A nova trama alinha um novo personagem, William Brandt, parceiro que se iguala com Hunt como um espião bem treinado, além de retomar Simon Pegg como bom alívio cômico, bem composto para descontrair certas cenas sem destoar por completo do foco da ação, além de trazer uma participação de Ving Rhames como o parceiro Luther Stickell. A produção conseguiu 694.713.380 milhões na bilheteria mundial. Não só o maior retorno para a franquia – atualmente, Missão Impossível – Nação Secreta chegou a marca dos US$300.000.000 – como também uma das maiores bilheteiras da carreira de Cruise. Prova de que o astro conseguiu ser uma exceção no mercado, e manteve seu status de astro capaz de se reinventar no melhor que consegue fazer: sendo um astro de ação carismático, rentável e autêntico.

  • Crítica | Missão: Impossível 3

    Crítica | Missão: Impossível 3

    missão-impossível-iii

    Podemos dizer que, das franquias de filmes de espionagem em evidência, Missão: Impossível consegue ser mais distinta que suas rivais, quais sejam, a franquia de James Bond ou a de Jason Bourne. Enquanto os filmes do agente 007 e de Bourne seguem à risca um determinado padrão, o agente Ethan Hunt sempre se vê no meio de uma crise inesperada, não se preocupando tanto com as locações ou com as propagandas de produtos. Podemos dizer que é uma franquia que se arrisca mais e que, por tal motivo, o risco de fracasso é maior. Felizmente, o saldo da terceira obra tem sido positivo.

    Missão: Impossível 3 é bem diferente de seus antecessores por diversos motivos. Se o primeiro, de Brian de Palma, chega a ser um thriller psicológico inteligente com boas cenas de ação rodadas na Europa, o segundo de John Woo peca pelo excesso de cenas “impossíveis” que beiram o ridículo, dando muito mais atenção à ação do que à trama. A terceira aventura do agente Ethan Hunt (novamente vivido por Tom Cruise) é muito mais modesta que as anteriores. Porém, busca emular o primeiro filme e o resultado não é excelente, mas muito promissor, o que garantiu, pelo menos, mais dois filmes para a franquia: Missão Impossível: O Protocolo Fantasma e Missão Impossível: Nação Secreta.

    Por conta do “fracasso” do segundo filme (uma vez que parte do sucesso obtido foi por causa de uma MTV em evidência, do retorno triunfante do Metallica e da música Take A Look Around, do Limp Bizkit na trilha sonora), a franquia ficou estacionada por seis anos, tendo o seu retorno de forma tímida, e o melhor, humilde. Foi assim que o promissor diretor J. J. Abrams, que até então era conhecido apenas na televisão, entrou para o projeto e junto com seus parceiros Alex Kurtzman e Roberto Orci escreveu o roteiro do longa.

    Em que pese parte da história envolver a vida pessoal de Hunt, Abrams entregou um filme redondo, fazendo com que o agente, que estava aposentado, voltasse à ativa para resgatar uma de suas pupilas sequestrada por Owen Davian (Philip Seymour Hoffman), obrigando o agente a montar uma nova equipe. Assim, vemos o terceiro retorno do agente Luther (novamente vivido por Ving Rhames) e caras novas como, Declan (Jonathan Rhys Meyers), Zhen (Maggie Q) e o simpático Benji (Simon Pegg), carismático o bastante para conseguir sua presença nos dois filmes seguintes.

    O que incomoda, mas não atrapalha a experiência, é que a fita não é nem um pouco original. Como dito, o filme é humilde e se espelha (até demais) em outros conhecidos e bons filmes de espionagem. Podemos dizer que sua maior influência foi, sem dúvida, o ótimo Ronin, principalmente pelas reviravoltas na trama e o “famoso” Pé de Coelho, um artefato que é mencionado o tempo todo, mas em nenhum momento sabemos do que se trata, e nem o que é.

    Tom Cruise como sempre é um show à parte, e Philip Seymour Hoffman está ótimo no papel de antagonista. Seu Owen Davian é daqueles vilões extremamente inteligentes e frios, mas que chegam a perder o senso em momentos de ódio. E o time de coadjuvantes conquistou destaque. Rhames, Rhys Meyers, Q e Pegg trabalharam muito bem juntos. Um elenco com bastante química, sem dúvida.

    Missão: Impossível 3, pode não ser um filme perfeito, mas foi totalmente responsável por tirar a franquia da lama.

    Ah, e o que falar daquela sensacional cena de perseguição de helicópteros em meio aos (hoje tradicionais) flares de J.J. Abrams?

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Missão: Impossível 2

    Crítica | Missão: Impossível 2

    Missão Impossivel 2 - poster

    Após Missão: Impossível com uma narrativa de espionagem bem conduzida por Brian de Palma, Missão: Impossível 2 avança a um novo patamar com John Woo na direção, dando sequência a uma missão como base e explorando atos de ação bem realizados, um de seus grandes talentos.

    Distante de Hollywood há anos, essa produção foi a última do diretor a arrematar uma alta bilheteria e ser elogiada simultaneamente, suas produções seguintes em Hollywood, O Pagamento e Códigos de Guerra foram lançamento tímidos em relação a suas grandes obras como O Alvo e A Outra Face. Ao vermos um filme de Woo, é possível notar o quanto a indústria absorveu seu estilo. As cenas de ação filmadas com atenção, detalhes e coreografias se tornaram um produto além de seu estilo, ainda que suas cenas seja mais apuradas. Aliado a Tom Cruise, astro que sempre dispensa dublês nas cenas, o encontro foi significativo para produzir um grande filme de ação.

    A composição de Missão: Impossível formada por um grupo de inteligência cujas missões são focadas em sua dificuldade e em feitos impossíveis permitiu que cenas exageradas fossem aceitas com mais naturalidade e hoje, mesmo com o desgaste desse estilo com cenas que desafiam as leis da natureza, com introjeção do realismo brutal após Identidade Bourne, a história é funcional e coerente com a ambientação criada e a sensação de que, para a equipe, o difícil é ainda fácil de ser realizado.

    Nesta nova aventura, Ethan Hunt deve recuperar um vírus das mãos de um dissidente com o apoio de uma equipe formada por dois escolhidos e a ladra Nyah (Thandie Newton), que possui afinidade emotiva com o vilão Sean Ambrose (Dougray Scott). A ação do virus é tão devastadora que mata o hospedeiro após vinte horas, um dos motivos pelo qual ele deve ser recuperado imediatamente.

    O equilíbrio entre trama e cenas de ação é feito cuidadosamente. Mesmo que as cenas de ação se destaquem pela composição, há um bom enredo articulado na recuperação do vírus, sem parecer apenas apoio para a ação. Woo tem apuro nas filmagens das cenas de ação e demonstra porque seu estilo foi replicado por outros cineastas. Sua câmera lenta não é selecionada somente em momentos chave da luta para maior impacto. Mas sim escolhidos para destacar tanto detalhes cênicos quanto explicitar cenas em um recurso narrativo próprio. Como exemplo, o primeiro encontro de Hunt e Nyan merece destaque. Em cena situada na Espanha, em um show de dança espanhola, as personagens se observam em lados opostos do palco enquanto os dançarinos transitam em outro plano da cena. A câmera lenta registra a fluidez da dança simultaneamente aos olhares e flertes trocados um pelo outros. A sequência é retomada quando Hunt persegue a moça em uma corrida de carros que termina com uma derrapada-balé em sincronia. Mesmo beirando o impossível, a linguagem da cena demonstra a mesma intenção anterior, uma espécie de dança metálica entre carros mantendo a sincronia das personagens.

    O diretor tem habilidade para transformar cenas em signos visuais internos coerentes com seu estilo de filmagem. Faz da violência uma estética que dentro de sua brutalidade produz beleza. Não a toa, o ato final da história é o grande embate entre Hunt e Ambrose. Divido em pequenos atos, a cena atinge o ápice da história. Inicialmente, em uma excepcional fuga de motocicletas para a luta corporal. Em um breve deserto perto de um penhasco, as maquinas automotivas distantes uma da outra parecem duelar como um western contemporâneo quando avançam e, finalmente, mocinho e vilão lutam no braço. Hunt se divide entre uma luta física rápida e agil – antecipando a vertente realista – e o balé coreografado aumenta o impacto em momentos específicos ampliando a tensão e dando fluidez a luta destacando-a em pontuais momentos em câmera lenta. Diante do exagero extremo, o momento final da batalha chega no ápice do impossível, mas até este momento, sabemos que a tônica da produção é um viés misto de realidade e ficção e aceitamos o exagero.

    Com grande fôlego, Woo elevou a série ao inserir sua ação característica, expandindo-se além da narrativa de espionagem e compondo um grandioso trabalho cinematográfico de ação.

  • Crítica | No Limite do Amanhã

    Crítica | No Limite do Amanhã

    Edge-of-Tomorrow-Poster

    A Terra foi invadida por alienígenas, os Mimics, que até o momento estão levando a melhor. O Tenente-coronel Bill Cage (Tom Cruise), assessor de imprensa do Exército, vê-se obrigado a juntar-se às Forças Armadas e ir para o front às vésperas de uma batalha decisiva. Sem saber o motivo, fica preso no tempo, acordando no quartel a cada vez que é morto em combate. Num de seus replays, conhece Rita Vrataski (Emily Blunt), agente das Forças Especiais famosa por sua participação decisiva na batalha anterior ao exterminar uma grande quantidade de aliens. E, a cada reboot, Cage acumula mais informações que o auxiliam a entender o que está acontecendo.

    O roteiro foi baseado no livro All you need is kill, de Hiroshi Sakurazaka, ainda sem tradução no Brasil. Apesar disso, é impossível não pensar em outras produções em que o protagonista revive o mesmo dia ou algo semelhante. Feitiço do Tempo é a lembrança mais óbvia, onde Phil (Bill Murray) acorda todos os dias no Dia da Marmota. Outra lembrança mais recente – e também mais similar em termos narrativos – é Contra o Tempo, em que Colter Stevens (Jack Gyllenhaal), acorda no corpo de um desconhecido e é obrigado a reviver os minutos que antecedem um acidente de trem causado por uma explosão, até que consiga localizar o autor do atentado.

    Enquanto em Feitiço do Tempo a repetição apenas acontece, sem qualquer preocupação em elucidar como ocorre e com uma motivação que pende para o aspecto sentimental, em Contra o Tempo a motivação é explicitada logo nos primeiros minutos, e ao final é explicado como isso ocorre. Sob esse aspecto, No Limite do Amanhã, dirigido por Doug Liman, é muito semelhante. Em outras perspectivas também, como não poderia deixar de ser, já que o fio condutor é similar. A cada restart, Cage aprende mais detalhes, consegue ir mais longe em suas incursões no campo de batalha, até que numa delas, ao contar a Rita sobre sua situação, ela lhe diz: “Venha me procurar quando acordar!”. E assim, ao encontrar Rita e Dr. Carter (Noah Taylor) pela manhã, finalmente descobre como e por que o dia reboota a cada vez que ele morre.

    Apesar da ideia já batida, o roteiro consegue segurar a onda e manter o ritmo do filme. Quando começa a ficar repetitiva e o público começa a achar que vai ser apenas mais do mesmo, um novo elemento é adicionado à trama, ou momentos de humor inevitáveis, causados pela repetição dos dias, dão aquele “respiro” merecido ao espectador. Felizmente, os roteiristas não erraram a mão e dosaram bem essas intervenções cômicas em que o principal alvo é o superior de Cage, Sargento Farell (Bill Paxton). O ritmo da narrativa se mantém, apesar de uma ou outra “barriga”, e consegue, auxiliado por uma boa montagem, manter a atenção do espectador do início ao fim.

    O elenco está ok, sem nenhuma performance extraordinária, mas todos estão bem entrosados e bem convincentes. Cruise sempre encarnando o bom-moço, desta vez possui alguns mínimos deslizes de caráter, coerentes com um militar acomodado em sua posição longe do front e capacidade nula de combate. Blunt se esforça como a agente motherfucker, já que seu porte físico é pouco condizente com sua fama – o exoesqueleto utilizado pelos soldados justifica, em parte, suas habilidades, mas não o suficiente. Os demais não se sobressaem, mas também não fazem feio.

    Boa fotografia, bons efeitos especiais, 3D dispensável. Enfim, diversão garantida, apesar do final meio Disney demais. Mas depois de aceitar o modo como o tempo estava sendo rebootado, acatar o happy end não demanda tanto esforço assim.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Oblivion

    Crítica | Oblivion

    Mesmo não sendo o suprassumo do gênero, este é um filme de sci-fi para fãs de sci-fi. Não só pela história em si – felizmente, não apenas um mundo pós-apocalíptico como pretexto para cenas de ação -, mas também pela infinidade de referências a outras obras de ficção científica que fãs mais aficionados certamente se divertirão identificando. E a quantidade de referências chega a ser, ao mesmo tempo, qualidade e defeito, já que em vários momentos faz o espectador “sair” do filme ao tentar lembrar a qual obra remete aquela cena, diálogo ou cenário. Numa contagem rápida e rasteira, há referências a oito filmes, sendo Wall-E e 2001 – Uma odisseia no espaço as mais óbvias – algumas das demais é preferível não citar, pois configuraria spoiler.

    O roteiro foi baseado numa graphic novel homônima do próprio Joseph Kosinski, com desenhos de Arvid Nelson. E, assim como em seu filme anterior – Tron: o legado – Kosinski apresenta ao espectador um ambiente visualmente interessante, bem menos grandioso mas totalmente condizente com a realidade do futuro não muito distante em que se passa a história. A “casa” acima das nuvens em que vivem Jack Harper (Tom Cruise) e sua parceira, Victoria (Andrea Riseborough), com seu visual clean e asséptico – em branco e prata, além de muitas transparências – faz o contraponto na medida com o ambiente inóspito da “superfície”.

    Interessante notar que os personagens também refletem essa dicotomia. Enquanto Vika parece fazer parte da residência – tão arrumada e estéril, sem nenhum fio de cabelo fora do lugar – Harper parece deslocado ali dentro, menos à vontade do que quando exposto à poeira da superfície devastada. Em vários momentos, o comportamento de Vika – condicionado, irredutível, robótico até – faz pairar uma dúvida sobre sua humanidade. Em contrapartida, apesar dos trejeitos de Ethan Hunt, Harper é nitidamente mais “gente como a gente”, saudoso do planeta que conhecia antes do ataque alienígena. Completam a galeria de personagens Beech (Morgan Freeman) e Sykes (Nikolaj Coster-Waldau, o Príncipe Jaime de Game of Thrones).

    A primeira meia hora do filme é bastante lenta, com vários trechos que, se suprimidos, não fariam falta – inclusive a introdução inicial com narração em off, já que Harper repete toda a história para Julia Kusakova (Olga Kurylenko) após resgatá-la. Além disso, várias cenas contemplativas, embora agradavelmente embaladas por Led Zeppelin, poderiam ser encurtadas sem prejuízo algum. Ao contrário, certamente o ritmo da narrativa se beneficiaria, evitando tantas “barrigas” durante o filme. É nítida a intenção do roteirista/diretor de apresentar detalhes do universo do filme e de seus personagens. Porém isso poderia ter sido feito não necessariamente de uma maneira mais dinâmica, mas certamente mais enxuta. O ritmo da trama parece se ajustar após esses 30 minutos iniciais, conseguindo mesclar bem as cenas de ação e as de questionamento e/ou explanação dos eventos. Infelizmente, as várias perguntas, tanto de Harper quanto do espectador, vão se acumulando no decorrer do filme e o roteiro tenta respondê-las nos 20 minutos finais. O clímax não fica bem resolvido, explicações são dadas às pressas e de forma explícita – o que, de certa forma, presume que o espectador seria incapaz de perceber detalhes -, reafirmando a falta de consistência narrativa.

    A premissa é boa, os personagens são bons, o filme é visualmente impressionante, os efeitos especiais são bem feitos, abundantes mas pouco invasivos, a trama tem algumas reviravoltas interessantes. Pena que o roteiro não consiga amarrar isso tudo de uma forma melhor. Tem-se a impressão de que há muitas boas ideias, mas alguma falta de maturidade ao organizá-las. Mas também há indícios de que Kosinski está no caminho certo, se continuar evoluindo desse modo.

    Texto de autoria de Cristine Tellier.

  • Crítica | Jack Reacher: Um Tiro

    Crítica | Jack Reacher: Um Tiro

    jack reacher - o ultimo tiro - poster brasileiro

    O escritor britânico Lee Child conseguiu uma interessante façanha ao compor Jack Reacher, personagem principal de uma série de livros de sucesso mundial. Suas características apontam para um típico herói de filmes de ação, em que músculos são mais importantes que um raciocínio lógico. Mas sua inteligência investigativa, próxima das narrativas de suspense, aprofunda a personagem.

    O romance Um Tiro foi a escolha certa para ser um cartão de visitas a quem desconhece a personagem. A história apresenta com precisão o protagonista, sendo um bom ponto de partida aos leitores. Na trama, um homem é preso após realizar um atentado que vitimou cinco pessoas. Alegando inocência, o atirador pede a presença do desconhecido Jack Reacher na cidade.

    Ciente das diferenças entre literatura e cinema, Christopher McQuarrie, que também dirige o longa, trabalha em um roteiro em que as primeiras cenas são realizadas sem nenhum diálogo, valendo-se apenas da trilha sonora e de sua potência dramática. Uma maneira eficiente de apresentar a parte inicial da narrativa sem precisar de muito tempo excessivo, focando mais tempo no que surge a partir da personagem central e nos desdobramentos de sua investigação.

    Tom Cruise funciona como Jack Reacher, sendo uma representação perfeita daquela vista nos romances de Child (embora antes de assistir a produção minha descrença era alta). Tem o rigor físico que compreende o uso da violência e a habilidade investigativa e dedutiva de um bom investigador analítico. Além de ser excelente na execução de cenas de ação, feitas, normalmente, sem uso de dublês.

    Consciente dos clichês que se repetem no gênero, a produção é capaz de colocar em cena um personagem que situa-se a frente do previsível, desmascarando a saída mais fácil, ao mesmo tempo que consegue sustentar a progressão do suspense.

    Cabe mencionar que Um Tiro foi o primeiro romance que li de Child, deixando-me impressionado com sua narrativa popular e bem articulada. O que me motivou a escrever um artigo sobre esta interessante personagem que é Jack Reacher.

  • Você conhece Jack Reacher?

    Você conhece Jack Reacher?

    Criado no final da década de 90 pelo autor Lee Child, o militar Jack Reacher não gosta da alcunha de herói, normalmente atribuída a ele. Nascido em uma base militar em Berlim, formado na Academia Militar em West Point, Reacher serviu durante 14 anos na polícia militar, onde fez parte da 110º Unidade Especial de Investigações, formada para cuidar de casos difíceis envolvendo membros do exército dos Estados Unidos.

    A descrição da personagem pode trazer ao leitor uma proximidade com outro famoso herói fictício. Assim como Jack Bauer, da série 24 Horas, Reacher se dedicou a uma carreira para defender os Estados Unidos e, como Bauer, escolheu viver à margem para evitar o sistema em que outrora acreditava.

    Descrito nos romances como um homem de quase dois metros, porte físico natural e cabelos loiro escuros, a aproximação fica mais evidente: tanto Reacher quanto Jack Bauer representam um estilo de herói americano. O militar que distorce a lei para regê-la. A vantagem de Reacher é que, sendo personagem de diversas histórias, tem uma personalidade melhor delineada do que Bauer, mais direto e plano.

    Ao mesmo tempo em que uma adaptação será lançada no cinema, com Tom Cruise no papel, a Bertrand Brasil lança Alerta Final, quarta obra de Child no país, e relança a obra que originou o filme, Um Tiro, com nova capa. Uma oportunidade para conhecer este interessante personagem.

    A adaptação cinematográfica revela a potência de Jack Reacher. Embora não tão conhecido no país, seus livros atingem altas vendas no exterior, consagrando-se na categoria Best seller. Engana-se quem pensa que tal status faz das obras uma leitura simples e rasteira. Além da complexidade da personagem central, desenvolvida livro após livro, Child é capaz de engendrar uma narrativa policial que tanto explora a investigação do crime como destaca as habilidades da formação de sua personagem.

    Mais do que um lobo solitário, Reacher é um personagem sensível que, pela culpa do que realizou no passado, evita a alcunha de herói. Tem consciência da violência que pode desencadear. Além da natural força bruta, tem o agudo raciocínio de um detetive.

    O filme Jack Reacher, que estreia no Brasil em 11 de janeiro do ano que vem, tem como trama a história de um atirador de Indiana, preso após alvejar cinco pessoas aleatoriamente. Seu único pedido é que chamem Reacher para ajudá-lo no caso. Somente com esse pequeno argumento, Child parte de uma investigação bem conduzida, sem deixar de lado a ação, e apresenta uma intrincada rede de relações que justificam por que os cinco tiros foram disparados daquela maneira. A narrativa cinematográfica do autor permite que, já na leitura do romance, se criem cenários com riqueza de detalhes.

    Tom Cruise personifica Reacher na adaptação. Embora não tendo a mesma descrição, Cruise reconquistou seu prestígio como ator de ação em Missão Impossível 4: Protocolo Fantasma e tem no currículo boas interpretações, sendo possível que consiga compor a personagem com a angústia necessária para ser mais do que um simples herói de ação.

    Já no livro Alerta Final, situado em outro momento cronológico, Reacher vive solitário  quando um ex-militar à sua procura é assassinado. É o ponto de partida para que novamente a personagem saia de seu conforto e descubra quem são os responsáveis por procurá-lo quando deseja ficar em paz.

    Em uma época em que os heróis humanizados se tornaram padrão, um bom elemento que dá mais dramaticidade à personalidade, Jack Reacher precisa ser conhecido como um excelente exemplo deste tipo de herói desencantado que, ao lado da narrativa de Child, bem amarrada e construída, se destaca além de sua intenção de mero entretenimento.

    Os livros de Jack Reacher podem ser comprados aqui e abaixo você confere o trailer da adaptação.

  • Agenda Cultural 14 | Tarantino e um Exílio Francês

    Agenda Cultural 14 | Tarantino e um Exílio Francês

    Agenda Cultural agora também dentro da vertente ‘moda’. Felipe Morcelli (@multiversodc) do site Multiverso DC se reúne a Flávio Vieira (@flaviopvieira) e Mario Abbade (@fanaticc) para discutir as tendências da moda que regem o mundo dos super heróis. De quebra você ganha uma aula sobre Tarantino e o ‘way of life’ dos Stones e seus excessos.

    Duração: 53 min.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira

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