Cabe destacar logo de início que este filme, dirigido por Shusuke Kaneko, foi lançado em junho de 2006, ou seja, é posterior à conclusão do mangá e anterior ao anime. É um ponto curioso, visto que, em muitos casos, as versões live action são produzidas após o mangá e anime. Isso poderia justificar as boas doses de originalidade deste filme.
Death Note conta a história de Light Yagami, um estudante japonês genial. Certo dia, ele encontra um misterioso caderno que pode matar qualquer pessoa, basta escrever o nome dela enquanto mentaliza seu rosto. Com esta ferramenta macabra, Light quer se tornar uma espécie de deus e limpar o mundo dos criminosos e pessoas ruins, subjugando-as de acordo com seu senso torto de justiça.
O genocídio se espalha pelo mundo, e a polícia se vê obrigada a pedir ajuda a L, um detetive anônimo que já solucionou casos complicados. A partir de então, Light tem um algoz de extrema inteligência e precisará tomar o máximo de cautela possível, caso contrário será descoberto.
Este filme conseguiu utilizar a essência da obra original, sendo fiel nos pontos principais ao mesmo tempo que modificou algumas coisas sem desvirtuá-la. Light consegue passar um ar de intelectual e psicopata de uma forma menos intensa que no anime, o que é positivo, caso contrario poderia soar um tanto caricato. Mérito para o ator Tatsuya Fugiwara, que anos antes protagonizou o mórbido Battle Royale (confira nossas análises do filme e do livro). Fugiwara conseguiu dosar suas emoções e ficou bem convincente, porém diferente do Light do anime. O mesmo podemos dizer de Kenichi Matsuyama, que deu vida a L. Ele manteve os trejeitos do personagem de forma menos exagerada, e funcionou bem. Sua aparência também remete ao original. O shinigami Ryuk é feito em computação gráfica de qualidade decente para a época, e o ator responsável por sua voz, Shido Nakamura, seria o mesmo do anime posteriormente. O Ryuk do filme é um pouco mais “humano” que na obra original, e por vezes fica pasmo com as atitudes de Light. Não que isso inexista no original, mas aqui ele demonstra um pouco mais de emoção.
Ao invés de seguir à risca a trama do mangá, o filme preferiu modificar algumas coisas. Por mais que o resultado leve ao que o original criou, os trâmites mudaram e ficou ótimo. O roteiro se valeu, inclusive, de algumas regras específicas do caderno para que Light executasse seu plano de forma brilhante e cruel. As principais artimanhas de Light e L estão ali, mas por vezes modificam alguns detalhes. Certos momentos carecem de mais detalhes e desenvolvimento, mas considerando que o tempo do filme é escasso, não há muito do que reclamar. O ritmo é muito bom e as duas horas passam rápido.
Diferente da versão americana de 2017, este filme pode ser uma boa porta de entrada para conhecer Death Note. A essência da obra original está aqui, e para quem não gosta de animações, esta versão em live action poderá suprir este obstáculo. A história termina em um ponto muito importante, deixando um belo gancho para a continuação, que sairia poucos meses depois, no mesmo ano.
Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Bernardo Mazzei, Bruno Gaspar, Caio Amorim e Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre a lista publicada no site sobre os piores filmes lançados em 2017 no Brasil.
Duração: 110 min. Edição: Caio Amorim Trilha Sonora: Flávio Vieira
Arte do Banner: Bruno Gaspar
Em mais um dia banal na escola, Light Yagami assiste a uma aula entediado. Olhando pela janela, vê um caderno preto caindo do céu. Ao sair da aula, vai conferir o objeto. Na capa está escrito “Death Note”, e nas instruções constam que, o humano que tiver seu nome escrito ali morrerá. Light, meio incrédulo, testa o caderno da morte e, para sua surpresa, ele funciona. A partir daí, Light deixa aflorar suas convicções tortas de justiça e se torna um verdadeiro genocida de criminosos.
E o caderno caiu do céu. Ironia, não?
Light faz questão de matar os criminosos na forma padrão do Death Note: ataque cardíaco. Isso fará com que o mundo saiba que existe alguém eliminando os criminosos. Em pouco tempo, o mundo batiza essa “força justiceira” de Kira, pronúncia japonesa para Killer (assassino), o que corrobora ainda mais a verdadeira natureza de Light.
Embriagado pelo poder, Yagami quer se tornar um deus, o ser supremo que julgará as pessoas e tornará o mundo melhor. Aí está a beleza de Death Note.
Light é um adolescente genial, um dos melhores estudantes do Japão. Ao receber o caderno, sente-se o Escolhido e utiliza sua incrível habilidade de raciocínio para criar uma sistemática de assassinatos sem que seja descoberto. Porém, ao longo dos 37 episódios da série, Light se mostra um tremendo psicopata frio e calculista, perdendo o senso de humanidade. Já vi diversas pessoas dizendo que, inconscientemente, torcia por Light, até pelo fato dele ser o protagonista e a série ter como foco suas artimanhas para nunca ser descoberto. Eu mesmo já me vi torcendo por ele. Isso porque assisti a série em quatro momentos distintos da minha vida, sendo a última muito recentemente. E aqui vem a genialidade do roteiro: desta vez, eu desprezei completamente o protagonista. Alguns detalhes de suas atitudes o torna desprezível, um verdadeiro monstro. E mais: em certo momento, ele está mais preocupado em matar as pessoas que estão no caminho dele do que eliminar os criminosos. E a forma calculista e sem humanidade que ele faz isso é assustadora.
A trama mostra um verdadeiro embate intelectual e silencioso entre Light e L, um grande detetive anônimo que já resolveu inúmeros casos dificílimos. L é uma espécie de trunfo da polícia, e será um dos personagens mais intrigantes da obra. Sua capacidade dedutiva é admirável, e as semelhanças com Light o torna a outra face da mesma moeda.
A aparição de Kira causou um enorme impacto no mundo. Também pudera, imagine uma entidade misteriosa matando criminosos por ataque cardíaco. Por um lado, muitas pessoas apoiam Kira, pois a taxa de crimes e guerras diminuíram drasticamente, sem contar a sensação de “justiça sendo feita”. Entretanto, ele tem o direito de matar pessoas a seu bel prazer, utilizando seu próprio julgamento? Poderia morrer algum inocente? Acompanhando as condutas de Light, fica difícil apoiar Kira, visto que várias mortes tem simplesmente objetivo de eliminar pessoas que o estão investigando. Percebe o debate que a obra traz?
A qualidade do roteiro se mantém alta durante quase toda a série, mas decai um pouco nos últimos 10 episódios. Apesar de várias conveniências de roteiro serem utilizadas nos finalmentes, grande parte delas são justificadas – e muito bem, por sinal. Essa é a grande sacada de Death Note. Os personagens fazem coisas esperando que o outro perceba e tome determinada atitude para, depois, chegar no que havia planejado. É um verdadeiro jogo de gato e rato elevado à enésima potência, quase uma Guerra Fria paranoica onde os personagens precisam deduzir e especular o próximo passo do outro.
Esta série animada foi baseada no mangá escrito por Tsugumi Ohba e ilustrado por Takeshi Obata. A qualidade altíssima da animação ficou a cargo do excelente estúdio Mad House. A trilha sonora também merece destaque, pois dão um clima perfeito às cenas. O ritmo de narrativa é excelente, principalmente nos momentos de raciocínio de Light e L, que são frenéticos.
Talvez você tenha ouvido falar sobre Death Note há anos. Talvez só ouviu falar após o lançamento do lastimável filme da Netflix. Afinal, vale a pena assistir ao anime? Sim, e muito. A obra, na maioria do tempo, é muito pé no chão, verossímil apesar dos exageros. Claro, existe o elemento sobrenatural do caderno e dos seus donos (Shinigami, ou Deus da Morte), mas é um thriller psicológico de primeira linha.
Nos últimos anos, a Netflix tem produzido diversos animes e longas de animação japonesa. Desta vez, o escopo foi um pouco diferente: fazer uma adaptação em live action do aclamado anime/mangá Death Note. Esta não é a primeira versão em carne e osso da obra, pois já existem alguns títulos produzidos em terras nipônicas. A versão da Netflix, de Adam Wingard, transporta a série para solo americano, mais especificamente Seattle, e faz diversas adaptações.
Para quem não conhece a obra original, Death Note conta a história de Light, um estudante genial que encontra o famigerado Death Note. Basta escrever o nome da pessoa e ter o rosto dela em mente para que ela morra de ataque cardíaco. Também é possível mudar a causa da morte. Mais tarde, descobrimos que o caderno pertence a Ryuk, um shinigami (“deus da morte”) que simplesmente jogou o Death Note na Terra para ver o que acontece. A partir daí, Light se torna um genocida anônimo de criminosos e o mundo lhe dá o nome de Kira (pronúncia japonesa para “killer”). Ao mesmo tempo que é temida por alguns, a entidade Kira é venerada por outros, sendo tratada como um verdadeiro Deus da Justiça. A polícia recebe a ajuda de L, um jovem detetive de extrema inteligência que já resolveu casos muito difíceis. Light e L passarão a ter uma batalha silenciosa, quase uma Guerra Fria em forma de embates de intelecto e dedução, cada um tentando prever o próximo passo do outro.
É impossível resumir a genialidade de Death Note em um parágrafo, e está longe de ser minha intenção. Assim como não é possível criar uma boa trama baseada na obra original em pouco mais de 100 minutos. Esse é o maior problema deste filme.
Desde o início, já fica claro que a intenção não foi recontar a história original, mas sim trazer algo baseado nas idéias. Não haveria tanto problema, pois a trama de Death Note pode ser facilmente adaptada para qualquer cultura, visto que os elementos puramente japoneses não são o ponto central. Entretanto, o resultado final não faz jus ao nome Death Note. O ponto forte da série é o embate entre Light e L, quase uma batalha intelecto-dedutiva paranoica. O filme passou longe de mostrar algo que chegue perto da grandiosidade do anime/mangá.
Não há grandes atuações, e o roteiro não ajuda. Vale destacar apenas a excelente atuação de voz de Willem Dafoe, que deu vida a Ryuk, talvez o único personagem realmente fiel à obra original.
Adaptações são válidas, porém é importante manter a essência da obra original. Aqui se iniciam os problemas, especialmente no protagonista, Light Turner (Nat Wolff). Na obra original, ele é o estudante mais inteligente do Japão e possui convicções questionáveis sobre justiça. Ao encontrar o famigerado caderno da morte, ele decide limpar o mundo dos criminosos e se tornar uma espécie de deus. Obviamente ele fará isso às escuras, pois sua decisão o torna um genocida. Ao longo do anime, ele faz pouquíssimas alianças, e sempre de forma extremamente cautelosa e metódica, como um psicopata inteligente faria.
No filme da Netflix, a forma de mostrar essa inteligência de Light é o simples fato de ele fazer trabalhos escolares em troca de dinheiro. Seria uma tentativa de mostrar que ele não é honesto, de que ele é uma “má pessoa”? OK, vamos relevar… por enquanto.
Outro ponto muito raso é a forma como ele inicia o uso do caderno. Já temos uma cena gore que traz o primeiro grande momento trash do filme. E pior, ele não usa o caderno em um criminoso! A segunda morte é digna da franquia Premonição. Desde o início, as formas de matar ganham muito destaque, e isso já demonstra um caminho ruim do filme. Na obra original, se você apenas escreve o nome da pessoa no Death Note, ela morrerá de ataque cardíaco em menos de um minuto. Isso, inclusive, permitia que Light otimizasse sua conduta genocida e escrevesse dezenas de nomes por dia para exterminar os criminosos e fazer sua “justiça”. Aqui, as formas de morte ganham um destaque desnecessário. O caderno possui várias regras, e isso é explorado de forma até interessante em alguns momentos, mas de resto, as coisas se desenrolam de maneira boba.
Até aqui, poderíamos tentar relevar as decisões errôneas do roteiro. Porém, o erro fatal está na forma com que Light inicia uma “parceria”. Ao invés de ser friamente calculada e meticulosa, ele revela o Death Note da forma mais simplória possível a Mia (Margaret Qualley), personagem análoga à Misa do anime/mangá, mas que não possui semelhança alguma de personalidade ou aparência. Aliás, a personalidade de Mia se aproxima mais do Light original do que o próprio Light Turner!
Importante falar sobre os outros personagens. Neste filme, o núcleo principal é bem reduzido, o que possibilitaria gastar menos tempo em desenvolver personagens e agilizar a trama. O problema é que tudo acontece de forma tão rápida, tão repentina e tão simplória que não há desenvolvimento satisfatório dos personagens, tampouco das motivações e trama.
Tudo isso se refletiu em L (Lakeith Stanfield), um dos personagens mais interessantes e queridos da obra original. Mudar sua etnia não traz problema algum. Mas em momento algum sentimos que ele é uma pessoa de extrema inteligência e raciocínio complexo. Além do que, ele tem um surto de fúria que se desloca totalmente do L original.
O resultado final é um filme que traz apenas algumas ideias de Death Note. Não houve tentativas de contar a história original, o que não seria um problema. Infelizmente, tivemos um filme corrido, raso, com poucos momentos realmente interessantes que remetem às ideias mirabolantes do anime/mangá. Mesmo fazendo inúmeras concessões, levando em conta que não é uma adaptação fiel, temos um filme lamentável. No final das contas, não conseguiram desenvolver nem os personagens, nem as motivações, nem a trama. Tudo é mostrado e resolvido de forma repentina e simples demais, indo na contramão da obra original. Se você não gostar do filme mas achar interessante a ideia do caderno e das investigações, corra trás da obra original que vale muito a pena. Este filme não faz jus a ela.
Um aspecto interessante da vertente virtual do atual mercado de entretenimento é a aproximação entre produtores e consumidores, sobretudo por meio das redes sociais. Os comentários lançado no Twitter de um autor de nosso agrado, por exemplo, tende a revelar traços desconhecidos de sua personalidade. Em especial, é interessante descobrir que, como nós, esses realizadores são também consumidores que admiram determinadas pessoas e se inspiram em determinadas obras. No mundo dos animes e mangás, é bastante comum que autores citem e comentem obras de terceiros, seja na mídia impressa, “oficialmente”, ou no meio digital, de modo mais pessoal.
O aclamado novelista Ryohgo Narita, autor dos sucessos Baccano! e Durarara!! é um exemplo apropriado, não apenas por comentar regularmente séries que acompanha, como Fate/Zero e Bleach, em seu Twitter (@ryohgo_narita), mas principalmente por ir um pouco além em sua apreciação, deixando de ser um mero consumidor para tornar-se criador. Em suma, Narita, além de idealizador de seus próprios títulos, é também um autor de fanfics (fan fiction, ficção de fãs), ou seja, alguém que escreve estórias se apropriando de outro universo ficcional, podendo ou não usar personagens já estabelecidos. Entretanto, por ser um autor de renome – embora a qualidade de seus contos, poucas vezes encontrada nesse tipo de escrito, não deva ser ignorada –, Narita consegue o que para a maioria dos fãs é um mero sonho: publicar oficialmente essas estórias. Suas light novels Toaru Jihanki no Fanfare, que se passa no amplo cenário da franquia To Aru Majutsu No Index, e Spirits Are Forever With You, uma side-story do sucesso mundial Bleach, receberam elogios, apoio e colaboração dos criadores originais, Kazuma Kamachi e Kubo Tite, respectivamente, e alcançaram o feito de serem canonizadas, ou seja, tornarem-se parte oficial desses universos. E este é apenas um entre inúmeros casos. O notório novelista Nisio Isin (NisiOisiN) foi igualmente feliz ao publicar, em 2006, Death Note – Another Note: O Caso dos Assassinatos em Los Angeles, intrigante história ambientada no realístico mundo de um dos mais populares mangás da década passada, Death Note, de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata.
Narrado em forma de notas por Mihael Keehl, o Mello, um dos mais importantes personagens da por muitos odiada segunda fase da história original, o livro consiste num relato informal sobre um evento citado uma única vez pelos idealizadores de Death Note. Embasado na afirmação feita no segundo volume do mangá por Naomi Misora, agente reformada do FBI que protagoniza uma das mais interessantes passagens do roteiro de Ohba, que diz já ter trabalhado com o misterioso L, o maior detetive do mundo, anos antes do maníaco Kira começar a agir (informação aparentemente irrelevante, esquecida ou simplesmente relevado por muitos leitores), o autor criar um thriller policial nos moldes clássicos, desafiador e imprevisível, destrinchando o caso em que L e Misora trabalharam juntos para deter o metódico serial killer conhecido como Beyond Birthday, o Caso dos Assassinatos em Los Angeles.
A premissa, extraída de uma minúscula brecha deixada no material original, já demonstra a criatividade e habilidade textual de Nisio Isin, atestada a cada frase e parágrafo de (quase) todo o livro. Deixando de lado os ostensivos diálogos de muitas camadas, que perduram por páginas a fio e caracterizam seus maiores sucessos, com destaque para a série Monogatari (da qual já forma adaptados televisivamente os volumes de Bakemonogatari e Nisemonogatari, tendo Kizumonogatari sido anunciado como longa-metragem com previsão de estreia ainda para 2012), nesta obra temos um Isin bastante descritivo, que se certifica de expor em detalhes os cenários e ocorridos, soltando pistas para que, como em qualquer bom livro detetivesco, o leitor reúna em sua mente as peças do quebra-cabeça e, caso capaz, desvende-o antes do término das 173 páginas que compõem o romance.
Engenhoso nos assassinatos e cenas de crimes, o autor desenvolve um sagaz e obscuro jogo intelectual entre o assassino e os detetives, esporadicamente aliviado por pitadas de humor negro e sarcasmo do onisciente narrador, e diálogos afiadíssimos, quase embates verbais entre dupla, ou melhor, trio de personagens que preenche a narração. Deixando-nos cientes das regras e perto das respostas (mas nunca perto o bastante) o romance se mantém interessante até a conclusão. Mas, infelizmente, apenas até a conclusão do caso em si, sucedida por um verborrágico e desnecessário epílogo, que destoa por completo do restante deste belo suspense.
Embora não seja impecável, Death Note: Another Note – O Caso dos Assassinatosem Los Angeles é, em meio a tantas iniciativas infelizes que infestam os mundos do cinema e dos quadrinhos, um excelente prelúdio do mangá, recomendado a todos os seus fãs. Com um preço nada amigável (R$ 29,90), o livro foi lançado em nossas terras pela Editora JBC. E mesmo que a edição não faça valer o valor exibido na capa, o conteúdo certamente o faz.