Tag: Michael Fassbender

  • Crítica | X-Men: Fênix Negra

    Crítica | X-Men: Fênix Negra

    X-Men: Fênix Negra, dirigido por Simon Kimberg, é o quarto filme após retomada da franquia em X-Men: Primeira Classe, e seu início se dá com um monólogo sobre destino e evolução, emulando um pouco o que Patrick Stewart fez em X-Men: O Filme, só que agora dito pela Jean Grey  (Sophie Turner). Iniciado em 1975, com a infância trágica da narradora que foi acolhida por Charles Xavier (James McAvoy).

    A trama não demora a chegar em seu momento “atual”, no ano de 1992, numa missão dos X-Men no espaço. Xavier e seus  alunos surfam em uma enorme popularidade. A adulação aos mutantes e a discussão ética são bons pontos, mas pouco ou mal explorado. A passagem de tempo para alguns personagens é bastante confusa, Michael Fassbender (Magneto), McCAvoy e Nicholas Hoult (Fera) não tem em suas mutações desculpas para não envelhecer, como a Mística de Jennifer Lawrence (em algumas versões, Magneto também tem envelhecimento retardado, mas nada tão grave quanto aqui), e sinceramente esse passa longe de ser o maior pecado de Fênix Negra.

    As incongruências começam com o estranho salto de poder de Jean. Nos quadrinhos havia o impacto dela ser fraca no início, e repentinamente ganhando poderes e adquirindo onipotência após um encontro cósmico, no entanto, em X-Men: Apocalipse ela já demonstra um grande poder, portanto, há pouco impacto no crescimento da personagem. Há algumas piscadelas para o público, como uma rave da mutante Cristal, um easter egg simpático, mas que faz pouco volume no todo. O foco dramático é evidente e bem óbvio: o envaidecimento de Xavier. Ocorre que isso já foi plantado na versão de Matthew Vaughn mas inflada aqui, e esse pecado é apontado também nos quadrinhos. Dizer que o telepata pôs barreiras mentais em Jean nem pode ser considerado exposição de trama (os trailers deixam isso claro), mas daí a culpar Xavier por isso não faz sentido. Ora, nos filmes anteriores abre-se precedentes a todo momento, tanto no filme de 2011 quanto em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido: em um ele está em começo de carreira, no outro já é tão veterano que se aposenta e em ambos o líder mutante manipula memórias e pensamentos, mas lá não era problema.

    Os inimigos estrangeiros, também soam confusos. Não se explana nada sobre os D’Bari e nem se cria um mínimo suspense sobre eles, para quem não leu os quadrinhos soam como pura tolice. O roteiro não precisa ser expositivo mas com o pouco que se dá eles parecem apenas malfeitores genéricos, e não as criaturas que vão atrás da Fênix na história clássica, e ainda tem a problemática de subvalorizar Jessica Chastain, que aliás, contraria qualquer teoria anterior.

    Há bons conceitos como a comunidade de Magneto, uma espécie de pré-Genosha, mas seria muito mais legal se tivessem mostrado o desenvolvimento desta (mas vá lá, também não mostraram a guinada rumo a família de Erik no filme anterior). Outro boa ideia mal executada é o sentimento que predomina em Jean ser a rejeição, e não o medo. O fato dela não saber lidar com o poder e a maneira como os mutantes a enxergam como ameaça é um argumento inteligente, pois mostra como a educação que não é libertadora facilmente faz com que o perseguido se torne perseguidor, mas a ideia de ser acompanha por boas cenas de ação é desperdiçada por atuações repletas de frases de efeito, com um desfecho confuso, com pouca ou nenhuma razão factual para ser repleta de viradas morais. Os momentos finais de Fênix Negra são artificiais, mostrando uma nova configuração da escola e do futuro dos personagens, buscando uma aproximação com o que é visto em X-Men: O Filme. A boa construção de texto é escondida com rimas visuais oportunistas que só enganarão o espectador que estiver completamente desatento, se é que até esse abraçará essa obra, visto que é preciso memória e apego aos outros filmes. É uma pena uma franquia como essa termine de modo tão melancólico e vergonhoso, mesmo com possibilidades para um futuro fora do estúdio.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram | Spotify.

  • Crítica | Bastardos Inglórios

    Crítica | Bastardos Inglórios

    Você já viu filmes de guerra, mas nunca viu a Guerra (Segunda Guerra Mundial) segundo os olhos de Quentin Tarantino. Essa frase estava presente nas propagandas de Bastardos Inglorios, filme do diretor de Cães de Aluguel e Pulp Fiction, lançado em 2009, após o insucesso de Grindhouse, participações no seriados CSI, e obviamente, as duas partes de Kill Bill. Como sempre, o realizador usa de sua sutileza ultra-violenta que já vinha empregando em inúmeros outros trabalhos, e de referencias ao grande cinema de Hollywood, como John Ford e companhia, para mostrar um pastiche do que era o confronto dos aliados contra o Eixo, através de um pequeno grupo de exterminadores de nazistas.

    Os primeiros momentos da história mostram uma burocrática conversa inquisidora, que mistura o tédio de um diálogo em inglês entre o coronel Hans Landa, de Christoph Waltz, e o fazendeiro Lapadite (Denis Menóchet), e a tensão de uma família judia, escondida embaixo do assoalho, ao ter um encontro ainda que indireto com o chamado Caçador de Judeus, um predador que se considera um falcão atrás dos ratos (ou como um rato que pensa como esses outros ratos…), mas que aos poucos se demonstra mais parecido com uma cobra venenosa e sorrateira, capaz de pegar suas presas, mas também enganadora, como a serpente do Éden, que ludibriou Eva e Adão para que traíssem o criador. O paralelo que o oficial nazista faz na verdade leva em conta um rato, mas toda sua descrição tem mais a ver com o caráter traiçoeiro de réptil, além é claro dele apresentar características camaleônicas de disfarce de seus ideais.

    Os dois comportamentos obviamente tem algo em comum. Landa manda metralhar a sangue frio as crianças judias que estão escondidas, da mesma forma que os Bastards – escritos errados na grafia original, como Basterds – espancam um soldado do Fuhrer com um taco de baseball, que é empunhado por Donwtiz (Eli Roth), o Urso Judeu, um soldado folclórico e com uma alcunha única, feita para diferencia-lo dos homens comuns. Tal rivalidade pode ser encarado – de maneira errônea – como duas faces da mesma moeda, dois lados ideológicos postos em contraponto como se tivessem o mesmo grau de desprendimento da civilidade. Isso não poderia ser mais errado e contrário a realidade, já que são violências que não se equivalem, uma vez que um desses grupos representa o povo oprimido, mas que busca revidar essa violência contra os próprios opressores.

    As razões que os fazem agir assim são extremas, porque claramente não se combate uma força extremada com pacifismos ou tolerância. É de fato uma briga ideológica, onde quem não mostrar força simplesmente perece. De certa forma em seu roteiro, Tarantino utiliza os atos soviéticos do exército de Josef Stalin para exemplificar qual era o modo ideal de aniquilar os inimigos preconceituosos e intolerantes. É quase como se a boina de Aldo The Apache Raine fosse um tenente soviete em meio aos americanos bonzinhos, colocando pólvora em suas cabeças, tornando estes figuras capazes de se defenderem sem depender de apoios táticos ou manobras militares, escondendo isso através do sotaque forçado e falso que Brad Pitt emprega ao longo de todo o filme.

    Há uma clara referência do roteiro a resistência antifascista até na escolha da trilha musical. A música de Ennio Morricone remixada não tem as mesmas características líricas de Bella Ciao, mas segue como canção que também serve como hino contra o extremismo fascista, apesar da freqüência musical ser em sentido bem diferente ao seu ritmo, e curiosamente The Surrender – ou La Resa – pára assim que Donowitz desfere o primeiro golpe de bastão na cabeça do oficial nazista e isso não é à toa, quando a violência pragmática ocorre, a música inspiradora pacifista já não tem mais espaço.

    Na hora que Aldo marca um soldado alemão com o ferimento que se tornaria a cicatriz da suástica na testa – hábito este que sempre acompanharia os mensageiros – o diretor simplesmente abre mão das sutilezas que vinha alimentando, mostrando pleno domínio de sua arte, dando-se ao luxo de provocar seu público com elementos tão diferentes e em tão pouco tempo, conseguindo a proeza de mesmo com essas condições, fazer tudo soar harmônico.

    Emanuelle Mimieux, a dona de um cinema francês é abordada por um sujeito chato, um soldado alemão, vivido por Daniel Bruhll, que parece interessado por sua beleza, e que a cerca de maneira infeliz e inconveniente, ao ponto de faze-la se encontrar com Joseph Goebbels (Sylvester Groth), de maneira coercitiva, mas aos olhos dele, nada havia de errado. O filme nas suas entrelinhas se torna quase didático, ao mostrar o modo de operar de organizações fascistas, a violência e truculência é normalizada.

    É irônico como recai exatamente a Sossanna, com outra identidade, a oportunidade de estar em seu cinema todo o crème de la crème das forças alemãs num espaço fechado e festivo a eles, tudo muito perfeito, até a chegada do terror da moça, Landa. Mélanie Laurent consegue reunir em uma pequena expressão, de levantar lentamente seu pescoço até o seu detrator como uma expressão sutil de seu medo, receio e instinto de sobrevivência que a faz tentar soar fria, mesmo que esse equilíbrio seja tão difícil, ainda mais diante de toda a dubiedade de caráter do personagem de Waltz.

    Os cinquenta e três minutos de filme permitem não só explorar a agressividade típica da guerra, mas também diversos de seus frontes. A introdução do major Dieter Hellstrom (August Diehl) é quase tão cruel quanto a demonstração de Landa, embora ele não seja tão dúbio, mas somente um soldado que não se furta em causar agouro aos seus opositores. Toda a sequência no porão, envolvendo o ainda desconhecido Michael Fassbender em um papel curto porém importante torna-se engraçada, apesar da quantidade exorbitantes de mortes ocorridas. O riso é uma válvula de escape diante do nonsense e da caricatura que Tarantino traça, ainda que leve às tramas de traição e espionagem a um nível sério, o desfecho desses destinos é tratada como uma piada.

    A história proposta é capitular, mas ganha ares teatrais, com uma última parte parecida com os atos de teatro onde absolutamente todos os acontecimentos são resolvidos de maneira dramática, tragicômica e exagerada. Laurent veste vermelho, como uma dama da morte se maquia de forma propositalmente militar, riscando as bochechas com linhas semelhantes as de camuflagem. Toda a sequência no cinema soa tão atrativa que é quase doce, e a versão do cineasta para o fim de Hitler não poderia ser mais fantasioso e irônico.

    Apesar de quebrar paradigmas, Bastardos Inglórios não deixa seu personagem mais rico sair impune, as marcas que Landa tem em sua pele fazem parte da retribuição de Aldo e dos outros bastardos a todo mal impingido não só a eles mas a todo povo judeu. Sua nova casa e seu acordo ainda valeriam, mas sua aparência estaria marcada para todo o sempre, e toda e qualquer pessoa saberia quem foi e o que ele cometeu. A ideia de Tarantino era de estabelecer uma ode contra o comportamento nazifascista, com elementos  de discussão bastante adultos, sem deixar de soar divertido em última análise.

    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.

  • VortCast 54 | Piores Filmes de 2017

    VortCast 54 | Piores Filmes de 2017

    Bem-vindos a bordo. Flávio Vieira (@flaviopvieira), Filipe Pereira (@filipepereiral), Bernardo Mazzei, Bruno GasparCaio Amorim Rafael Moreira (@_rmc) se reúnem para comentar sobre a lista publicada no site sobre os piores filmes lançados em 2017 no Brasil.

    Duração: 110 min.
    Edição: Caio Amorim
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: 
    Bruno Gaspar

    Feed do Podcast

    Podcast na iTunes
    Feed Completo

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected].
    Facebook – Página e Grupo | Twitter Instagram.

    Acessem

    Brisa de Cultura

    Piores Filmes de 2017

    Lista Completa dos Piores Filmes de 2017
    Crítica Rei Arthur: A Lenda da Espada
    Crítica Boneco de Neve
    Crítica Internet: O Filme
    Crítica Death Note
    Crítica Transformers: O Último Cavaleiro
    Crítica A Torre Negra
    Crítica Emoji: O Filme
    Crítica Alien: Covenant
    Crítica Assassin’s Creed
    Crítica A Múmia

    Menções Honrosas

    Crítica Liga da Justiça
    Crítica Mulher-Maravilha
    Crítica Bright
    Crítica Homem-Aranha: De Volta ao Lar
    Crítica A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell
    Crítica O Jardim das Aflições
    Crítica Policia Federal: A Lei é Para Todos
    Crítica O Círculo

    Comentados na Edição

    VortCast 49 | Liga da Justiça
    VortCast 48 | O Que Estamos Lendo?
    VortCast 47 | Homem-Aranha e o Cinema
    VortCast 46 | Melhores Filmes de 2016
    VortCast 44 | Piores Filmes de 2016
    VortCast 30 | Steve McQueen, Diretor
    VortCast 19 | Ghost In The Shell
    Estrelas não garantem mais a venda de ingressos de filmes de Hollywood

    Avalie-nos na iTunes Store.

  • Crítica | Boneco de Neve

    Crítica | Boneco de Neve

    Adaptação do livro homônimo de Jo Nesbø, o novo produto de Tomas Alfredson é um thriller sobre um assassino serial, que começa de uma maneira onírica para depois dar vazão a uma narrativa pouco parecida com o que o diretor vinha fazendo. Boneco de Neve tem problemas sérios quanto ao caráter de sua história e a abordagem de suas pretensões ambiciosas.

    O elenco do filme é majoritariamente americano e inglês, contando com Michael Fassbender, Val Kilmer, J.K. Simmons, Toby Jones e Charlotte Gainsbourg. Após um epílogo mostrando um trauma na vida de um rapaz que assiste atônito sua mãe morrendo entendemos que toda a sequência inicial tinha por objetivo o choque, no entanto, o que se assiste é um momento extremamente constrangedor e sensacionalista.

    Não demora até chegar no presente da história, mostrando o policial e detetive Harry Hole (Fassbender) lidando com suas inseguranças e com a sua família em ruínas. Harry se afasta de seu filho adotivo, Oleg (Michael Yates) e de sua ex-companheira Rakel (Gainsbourg), restando a ele basicamente seus dias na delegacia, junto com sua parceira Katrine Bratt (Rebecca Ferguson) além de suas noites depressivas e solitárias. O personagem é tão anestesiado que até a visita de um simples dedetizador se torna um evento, tendo nessa interação um dos muitos problemas do filme, uma vez que o sujeito chega a atirar na direção do exterminador de pragas e o mesmo leva numa boa o ocorrido, sem nem reclamar por possivelmente ter corrido risco de morte.

    Os métodos utilizados pelo assassino em série são revelados de maneira bem rápida, tornando até o mistério em volta de identidade do mesmo em algo banal e óbvio. Não demora-se muito a intuir quem seria o sujeito por trás dos crimes misóginos, e a pergunta que fica é porque esse não foi um filme que se muniu das mesmas sutilezas de O Espião Que Sabia Demais e Deixa Ela Entrar. Para muito além de toda a boataria a respeito das falas de Alfredson após as críticas negativas que o filme recebeu, esse é claramente um produto de estúdio, se afastando demais do estigma de cinema autoral e isso se reflete até mesmo no uso bobo da computação gráfica, utilizado em cenas de assassinato dos homens que o assassino executou, normalmente com quadro absolutamente artificiais.

    Apesar dos recorrentes tropeços dramáticos, o filme possui alguns bons momentos. As paisagens brancas da Noruega como um todo são ótimas, as participações de Fassbender e Ferguson são bastante satisfatórias. Apesar dos problemas de roteiro, a direção de atores de Alfredson é excelente, mesmo que a maior parte do elenco estrelado esteja lá mais para engrossar o cachê do que dar vida aos personagens de Nesbø. O problema é que o filme parece mal pensado, os trechos de thriller soam bobos e argumento faz lembrar de episódios absolutamente nefastos do subgênero filme de serial killer, se assemelhando muito ao longa A Cela e Rios Sangrentos. Tentando fugir de qualquer trocadilho, Boneco de Neve parece uma colcha de retalhos, tentando unificar elementos que claramente não se misturam, para formar um monstro de Frankenstein equivocado na maioria de suas propostas.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | De Canção em Canção

    Crítica | De Canção em Canção

    O novo trabalho do cineasta Terrence Malick traz à tona um filme que lança mão de suas marcas enquanto diretor, mas que também se ocupa de buscar um diferencial narrativo de seus longas anteriores. Em De Canção em Canção (Song to Song), a história desenrola fatos sobre a cena musical em Austin, Texas. Nesse cenário, dois triângulos amorosos se cruzam, em mais uma elucubração sobre o estilo de vida típico do gênero musical e lema sexo, drogas e Rock and Roll.

    Os trabalhos de Malick dependem muito do ambiente de isolamento que as salas de cinema proporcionam, e seu último longa, Cavaleiro de Copas, foi pouco exibido no Brasil, uma vez que foi lançado direto para o mercado de homevideo/streaming, passando apenas em festivais pontuais. O núcleo explorado em De Canção em Canção envolve primeiramente Cook (Michael Fassbender) e o casal Fayer (Rooney Mara) e BV (Ryan Gosling). Posteriormente, Rhonda (Natalie Portman) é introduzida para expor então outro núcleo de relações a serem mescladas e exploradas.

    O conto sobre rockstars mira a contracultura e a vida sem maiores aprisionamentos morais, mas esbarra em uma construção do sexo um pouco conservadora, faltando inclusive cenas de nudez entre os entes, que são boêmios confessos. De certa forma, a câmera de Malick é bastante moralista ao mostrar as relações. As poucas cenas de sexo são insossas, referenciando (provavelmente) o quão deprimente e sem conteúdo podem ser os enlaces sentimentais dessas personagens. Ainda assim, o puritanismo não se justifica, mesmo nas cenas de sedução entre pessoas do mesmo sexo.

    O elenco está afiado, como normalmente se dá nos filmes de Malick, mas o destaque positivo é a entrega de corpo e alma de Bérénice Marlohe em sua personagem, Zoey. Em meio a tantas personagens que carecem de cor e carisma, sua vibração sobressai, tornando os ambientes acinzentados em aquarelas belas e repletas de vida.

    Apesar das belas cenas e do desempenho bom de seu elenco, Malick não consegue fugir de sua fórmula, parecendo este ser mais uma das continuações de Amor Pleno, o que por si só é uma pena, já que sua filmografia aumentou muito nos últimos anos, no entanto, parece se repetir em temas e narrativas recentemente, piorando bastante neste seu mais recente trabalho, que soa como auto-ajuda na maior parte dos momentos.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram, curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | Alien Covenant

    Crítica | Alien Covenant

    Na época em que foi lançado, Prometheus sofreu de um mal de identidade. Para muitos, era a prequel de Alien: O Oitavo Passageiro, já para seu diretor Ridley Scott e seu roteirista principal Damon Lindelof, seria um filme isolado, que poderia ter a ver com a franquia Alien, com promessas de se discutir um cunho religioso e filosófico que mirava 2001: Uma Odisseia no Espaço e entregava um terrível texto, semelhante a folhetins mal escritos. Após muitas críticas, sua continuação Alien Covenant aceitou a alcunha de sub-produto da saga, usando o prenome famoso, finalmente.

    A história conta a rotina da nave Covenant, que visa colonizar planetas e que tem a bordo dela o androide Walter (Michael Fassbender), que seria uma evolução do David inserido no filme anterior. Um acidente estranho faz perder grande parte da tripulação, como visto em outros tomos da cinessérie, e o comando recai sobre duas pessoas resignadas, Oram (Billy Kodrup) e a esposa do falecido ex-capitão, a imediata Daniels (Katherine Waterston). Novamente Scott apela para sobrenomes, para tirar a pessoalidade dos personagens, fazendo deles meras engrenagens para as grandes corporações.

    A questão primordial é a mudança de caráter da discussão, uma vez que se perdeu  por completo a ideia de se discutir a comercialização da guerra, como era típico no primeiro Alien e em Prometheus e o enfoque é na questão da criação, usando como avatar dessa discussão o antigo membro da tripulação focada no capítulo anterior, com David retornando ao seu papel de ente fora dos padrões comuns a humanidade. A discussão mais adulta presente no roteiro de John Logan e Dante Harper – por sua vez, com argumento de Jack Paglen e Michael Green – é relativa ao papel da divindade e a responsabilidade de quem cria vida, se aproveitando de um diálogo do próprio David com o personagem de Charlie Holloway em Prometheus, que começa ali um acirrado debate sobre devoção entre criador e criatura.

    Scott consegue resgatar a sensação de suspense que se perdeu em Aliens, Alien 3 e Alien: A Ressurreição, mas o roteiro pega por ser demasiado expositivo, como se fosse esse um contra-argumento às escolhas que o próprio cineasta e Lindelof fizeram no outro prequel. Os acontecimentos são tão previsíveis em especial na parte final que parecem até telegrafados em alguns pontos, em especial no combate entre os androides irmãos.

    No entanto a construção do suspense funciona bem, muito graças as relações dos personagens, que tem laços emocionais entre si e claro, pela obrigação profissional de cuidar dos colonos que estão repousando interior das capsulas de sobrevivência. A análise sobre a capacidade de criar vida e a possibilidade levantada ao final para a origem da criatura extraterrestre no título é condizente com o já citado no cânone da saga, driblando inclusive as invencionices de Prometheus, ainda que tenha sim suas licenças poéticas. O resgate do horror tem novas encarnações, e por mais que sejam diferentes, não são ofensivas ao fandom de Alien.

    Acompanhe-nos pelo Twitter e Instagram , curta a fanpage Vortex Cultural no Facebook, e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

  • Crítica | A Luz Entre Oceanos

    Crítica | A Luz Entre Oceanos

    Derek Cianfrance de certa forma decidiu abordar novamente o legado que a vida dos pais pesam sobre seus filhos, como seu último longa metragem, O Lugar Onde Tudo Termina, e agora em A Luz Entre Oceanos. Logo de inicio a quebra de narrativa de seus dois últimos trabalhos é notada pela atmosfera em que nos encontramos; não se trata mais da paisagem urbana que parecia ser tão confortável tanto em seu último filme como em Namorados para Sempre. Seu novo trabalho é ambientado na Austrália pós-primeira guerra, e apesar da estranheza, o diretor repete um maneirismo em filmar o protagonista andando enquanto a câmera o segue de costas assim, como seguia Ryan Gosling em seus filmes anteriores.

    Na trama, seguimos Tom (Michael Fassbender), um veterano da primeira guerra que se encontra desolado após quatro anos no campo de batalha e decide trabalhar no farol da ilha de Janus, próxima a cidade de Porto Patageuse. Ele se hospeda na casa dos Graysmark para embarcar em sua viagem para a ilha e acaba se apaixonando pela filha da família, Isabel (Alicia VikanderEx-Machina).

    O contraste entre as cores é quase inexistente caracterizada por tons pastéis bem diluídos em decorrência da alta carga suave porém sempre presente de luz na paleta em toda as cenas. A escolha do local a beira-mar também não parece ter sido ao acaso, pois remete de certa maneira com as ações voltam e refletem como um espelho o que ocorre durante o longa. O ponto mais interessante é como o filme quebra a própria narrativa dividindo-o em dois atos de maneira improvável. É uma surpresa e um respiro muito bem vindo em algo que parecia uma simples história de amor a lá Nicolas Sparks. Os mesmos tons de cores já citados vão ficando cada vez mais pesados e sombrios ao decorrer desse segundo ato, fotografados com maestria por Adam Arkapaw, que mesmo sendo dirigido em um romance parece a vontade capturando quase três histórias e sabendo dosar de diferentes cores ao faze-lo para reforçar andar de cada uma delas.

    O tom, aparentemente, genérico da história de amor existente na trama pode ter ocorrido por conta do trabalho ser uma adaptação do romance homônimo de M. L. Stedman. É praticamente desse ponto que encaramos toda a estranheza de imersão no trabalho do diretor, mas que no final das contas parece se encaixar perfeitamente com os temas que ele sempre vinha a trabalha.

    A Luz Entre Oceanos é um drama de peso com atuações convincentes. A satisfação é ainda maior quando você é enganado pelo primeiro ato e agradece por ter um segundo tão diferente.

    Texto de autoria de Halan Everson.

  • Crítica | Assassin’s Creed

    Crítica | Assassin’s Creed

    Havia uma grande expectativa em relação ao que Michael Fassbender poderia fazer a frente do papel principal de um dos games mais adorados dos últimos anos. A franquia Assassin’s Creed prometia ser uma adaptação com mais chances de dar certo do que Warcraft, Resident Evil, Max Payne e tantos outras franquias de vídeo games, uma vez que o enredo de seus jogos era rico, cheio de detalhes e nuances que poderiam gerar uma história próxima dessa excelência quando transportada para a sétima arte.

    Coube a Justin Kurzel, diretor de Macbeth – Ambição e Guerra a direção da adaptação. O filme baseado na obra shakespeariana não era à prova de críticas, ao contrário, tinha um sem número de defeitos, mas resgatava em si um visual arrebatador e performances dramatúrgicas muito bem engendradas tanto por Fassbender como por Marion Cotillard. Eis que o casal retorna a um filme de Kurzel, e executam papéis bastante genéricos para as ambições de uma transposição minimamente interessante do ponto de vista da fidelidade do jogo. Como no game de 2007, a introdução é curta e o personagem Aguilar / Callum Lynch (Fassbender) tem apenas uma breve explanação sobre o seu passado, tentando inclusive associar a sua infância as manobras comuns aos heróis que são a marca registrada dos jogos, mostrando o infante tentando saltar de um prédio alto em cima de uma bicicleta.

    Apesar do roteiro cansativo de Michael Lesslie, Adam Cooper e Bill Collage, a condução que Kurzel faz de seu filme tem altos e baixos. Alguns posicionamentos de câmera são muito bons, garantindo uma boa infiltração na intimidade dos personagens que normalmente não se vê em filmes de ação tão rasos quanto esses. O problema é a que a câmera peca em outros momentos cruciais, em especial nas cenas de ação, que são um ponto forte dentro dos games. Soa confusa a construção de lutas e das manobras de parkour, com uma fotografia que às vezes é obscurecida, fato que faz perder o grafismo dessas sequências.

    Toda a questão de teoria da conspiração e de espionagem é perdida através de personagens antagonistas que não possuem substância ou conteúdo. A trama que se desenrola é desinteressante, independente da linha temporal onde ela ocorre. Para quem não costuma jogar Assassin´s Creed as transições entre um período e outro soam confusas, e mesmo assim, nem mesmo esse aspecto é o mais terrível do roteiro.

    As atuações são histriônica e exageradas, os momentos que deveriam causar suspense no espectador simplesmente o entediam, até Jeremy Irons e Cotillard estão subaproveitados. Os efeitos visuais tampouco se destacam da mediocridade atual, sendo mal enquadrados dentro do filme, tendo como maior curiosidade a utilização por parte de Doutor Estranho, que se vale da estética dos games de maneira muito mais criativa que neste produto. Não será à toa qualquer fracasso de bilheteria ou de crítica, relativa a esta franquia, uma vez que o filme não é divertido, tampouco entretém ou estabelece um diálogo mais pessoal com os fãs dos jogos, o que de fato é uma pena, uma vez que havia muito potencial na produção.

  • Crítica | X-Men: Apocalipse

    Crítica | X-Men: Apocalipse

    x-men apocalipse posterA quarta empreitada de Bryan Singer na franquia dos mutantes da Marvel inicia-se um pouco atrapalhada, com a introdução ao personagem de En Sabah Nur, o primeiro mutante conhecido, que vivia no Egito como um deus, acompanhado de seus quatro cavaleiros, referência ao livro bíblico das revelações (Apocalipse). A sequência ocorrida no império egípcio, além de fraca, parece ter sido retirada das cenas adicionais de Deuses do Egito, mas logo recobra a sobriedade da franquia, quando remete a uma citação à abertura de X-Men: O Filme, também dirigido por Singer.

    X-Men: Apocalipse segue o rastro do início do reboot em X-Men Primeira Classe, retornando às origens da franquia, praticamente levando em conta somente os filmes que Singer fez parte do controle criativo, ainda que reinventando muito dos momentos clássicos. Já no início é mostrada uma luta na jaula, em muito semelhante à introdução do Wolverine, de Hugh Jackman no filme de 2000. Outro aspecto repetido é a importância do aprendizado, dessa vez usando Scott Summers, de Tye Sheridan, como a Vampira da vez, servindo ao arquétipo de orelha ao espectador como elemento novo desse universo já estabelecido.

    X-Men-Apocalipse

    Como já havia ocorrido em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, há uma exploração interessante para a discussão da discriminação, nesse caso utilizando o homo superior, ainda que a gravidade do conteúdo das discussões seja um pouco mais fraca. Os dois avatares principais dessa questão são a nova Ororo Munroe (Alexandra Shipp), uma ladra africana que está aprendendo a usar seus breves e pequenos poderes, se esgueirando pelos becos, e a tímida Jean Grey (Sophie Turner), que é vista com maus olhos até por seus colegas, graças às manifestações estranhas de seus poderes magnânimos – aspecto já demarcado em X-Men 2 e mal aproveitado no filme de Brett Rattner – e claro, pela atenção que ela recebia do Professor X (James McAvoy), que serve de mentor a ela e a muitos.

    Apesar de consumir um bom tempo com este novo elenco, fazendo funcionar muito bem a transição – que neste caso faz lembrar bastante o espírito de Star Wars: Despertar da Força –, o mesmo não se pode dizer dos membros antigos. Tanto a Mística de Jennifer Lawrence quanto o Magneto de Michael Fassbender se envolvem em tramas desnecessárias, com uma piora no caso da personagem feminina, que se torna uma figura digna de inspiração mas que não consegue sustentar esse ideal de lenda viva, mesmo que tal situação gere um argumento de dicotomia, desconstruindo a figura do herói idealizado.

    Nesse ínterim, é até esperado que um vilão que não tem qualquer carisma consiga dominar corações e mentes. A versão ressuscitada de En Sabah Nur (ou Apocalipse) ocorre após uma coincidência incômoda, quando faz despertar o personagem de Oscar Isaac em uma situação boba e que poderia ter ocorrida em qualquer momento da história, bastando somente que o artefato mágico recebesse luz solar, como aconteceu com a invasão de Moira MacTaggert (Rose Byrne).

    X-Men Apocalipse ciclope noturno jean grey

    Dentre os elementos irritantes da trama rivalizam a inteligência limitada de MacTaggert, que tanto nos quadrinhos quanto nos filmes anteriores havia se mostrado uma pessoa hábil e inteligente, enquanto neste revela apenas uma moça com bons contatos. Além disso, claro, o overacting terrível que Isaac desempenha, com direito a distorção de voz comparável aos efeitos usados por programas de entrevistas famosos a fim de esconder a identidade do interrogado. Apocalipse falha como figura de ódio e temor, especialmente quando recruta seus asseclas e exceto no trato com Magneto, convencendo-o não por força, mas por ideologia, se aproveitando da fragilidade de sua alma com a perda recente de sua nova tentativa de vivência normativa.

    Ao menos no quesito ação, Bryan Singer está afiado. A cena de aparição de Wolverine é interessante e ajuda a explicar o elo deste com Jean e Ciclope. A violência da curta cena arrebata o público, e não tem qualquer pudor em mostrar sangue, adrenalina e a fúria assassina do personagem selvagem, ainda que seja moderada, quase como uma reprise de X-Men 2.

    X-Men-Apocalipse magneto

    Apesar de ser um filme de equipe, a jornada heroica certamente é mais focada em Xavier, em uma superação do patamar de herói clássico, que também ajuda a construir a figura de orientador e mestre. Na mesma medida em que Lawrence e Fassbender não são exigidos pelo roteiro, o desempenho de McAvoy consegue sobressaltar, inclusive, a falta de inspiração costumeira de Nicholas Hoult como Fera, servindo como peça fundamental não só da obsessão do vilão – aliás, único aspecto justificável em seu grandiloquente plano master – como também da relação com os alunos, em especial com a jovem Jean.

    X-Men: Apocalipse é a prova cabal de que a proximidade entre lançamentos de filmes semelhantes pode denegrir o produto, em especial para o público geral, que pode, ao final da sessão, entrar em outra sala para assistir a Capitão America: Guerra Civil, mesmo que seu tema não tenha tanto a ver com o de seus concorrente. Os retcons e mudanças na concepção soam mais irritantes que no filme anterior dos mutantes, e mesmo a versão de Singer para o mito da Fênix é tímida e explorada fracamente, possivelmente sendo guardada para o futuro.

    A pieguice toma a construção da conclusão, sendo o desfecho mais fraco da cine-série, mas que não denigre a parte escapista e descompromissada do drama. Com momentos de ação de tirar o fôlego e apuro bem competente nos efeitos especiais, também possui uma quantidade exorbitante de fan service, que, ao menos, são entregues em momentos cabíveis, compondo um filme óbvio, mas não decepcionante.

  • Crítica | Steve Jobs

    Crítica | Steve Jobs

    poster

    1. “Vão te frustar quando tentar o seu melhor,
    2. Vão te frustar exatamente como disseram que iriam.
    3. Vão te frustar quando tentar ir pra casa,
    4. Vão te frustar quanto estiver na solidão…” 

    Versos de Rainy Day Women, de Bob Dylan (Blonde on Blonde).

    Danny Boyle adora gente desconectada. Curte jogar o peixe fora d’água e filmar o que acontece, na esteira do que o (um dos) fundador(es) da Apple acreditava ser: “Criatividade é conectar as coisas“. Seja numa Londres de zumbis ou numa índia de underdogs, a pegada de Boyle é primeiro entender o estranho, e depois, o ninho. O maior nome da tecnologia nos anos 2000 construiu seu próprio habitat, e foi demitido de sua própria empresa por ser indomável, nas palavras do próprio comitê da companhia. O cara era inflexível, consigo e com todos em sua coleira de disciplina e utopia graças a necessidade individual de mudar o contato entre as pessoas, mas Jobs não devia se olhar no espelho como ser humano (“Tô cercado de idiotas!”), e tampouco Boyle deve ter seus amiguinhos pra conversar, de igual pra igual. Daí fica fácil perceber como as intenções se casam em mais um filme hiper-cerebral sobre um ícone que não merecia ser reduzido a suas capacidades penianas, no caso de um ator pornô. Steve Jobs não vem do entender os pilares do mundo moderno, e sim incorpora as necessidades existenciais de um cara que não se sente parte deste mundo, e mesmo assim precisa aprimorá-lo já!

    Notável é o equilíbrio entre o pessoal, como a treta do gênio com sua filha, e o trabalho onde o gênio sai da lâmpada e faz acontecer, ao custo de perder o amigo, mas a piada, jamais… O filme é leve, ganhando nossa simpatia por esculpir uma selva complexa de forma tranquila e mastigada, tal o superior Margin Call faz com o mercado financeiro. Cosmos intrincados e decifrados numa tela de Cinema; distantes, ainda que avistados por uma lente de aumento onde tudo é de fato mais bonito, só que na ótica de Aaron Sorkin, conhecido por escrever diálogos destruidores no estilo pingue-pongue, a fórmula de mostrar uma personalidade cheia de camadas e mistério funciona no paralelo com a Apple, fundação egocêntrica feito criança que não quer dividir seus brinquedos, mas já começa a cansar, sem aquele frescor de A Rede Social e outros ensejos – aliás, o próprio Sorkin se trai aqui em vários momentos, percebendo que, quando a lógica de suas histórias começa a cansar, pula do exagero para a licença poética como no confronto de ideologias versus emoções, entre Jobs e sua assistente (Kate Winslet, melhor atuação do filme), num corredor abaixo de uma plateia louca por outra de suas épicas palestras.

    A figura de Jobs e o interesse que surge dela jamais o sugere ser um computador humano, Steve Hardware, mas vem do que fala, uma dialética que nutre o comportamento de quem vive ao redor de um assumido workaholic, a partir de uma atuação cirurgicamente precisa de Michael Fassbender, ironicamente fora das mãos de seu mentor, Steve McQueen (12 Anos de Escravidão). Na pele do ator, o homem e o gênio sente seu Q.I. em cada batimento daquilo que parece não bater em seu peito humanoide – é nos diálogos que Fassbender nos remete ao Zuckerberg de Jesse Eisenberg, em 2010, na forma seca, introvertida e objetiva que encaram as pessoas como conquistas, e não semelhantes. Um gênio sabe que é um gênio, mas talvez genialidade ande de mãos dadas com a humildade de não admiti-la. Bill Gates, Bob Dylan e Da Vinci não nos atraem pelos seus triunfos, mas pela coragem para erguê-los, no caso, o elixir da megalomania em suas veias. “Estamos aqui para fazer a diferença no universo, se não, porque estamos aqui?”, alegava Jobs. Como diria Carl Sagan: Humildade.

    Como diria a Globo: A gente vê por aqui. Um filme que sabe muito o que é, e ainda melhor: O que não pode ser. Boyle consegue nos passar o efeito unidimensional da história (pro bem e pro mal) combinando com o sentimento que temos diante de um potente notebook. Steve Jobs é isso, uma ferramenta para conhecermos os componentes de uma vida de lutas e batalhas em busca de um futuro visado por um homem que, feito Boyle e Sorkin, cineasta e escritor, sabia quem era e o que precisava fazer para chegar lá. São as decorrências do caminho até o “lá”, o El Dorado de Jobs (o reconhecimento (a duras penas) do público) que o filme aborda, e nos conduz de boa adentro dos corredores da Apple, apostando senão no carisma visionário do gênio de calça jeans para impedir o filme de ser frio tal suas invenções. O filme aposta mesmo é no caráter benéfico da tecnologia, como essa pode mudar o mundo, e acerta em cheio nisso, na abordagem direta em honrar a simetria do passado que traçou o amanhã, hoje vivido por todos nós.

    Fato é, positivo ou negativo, que a biografia moderna no molde americano já foi definida pelos méritos de A Rede Social, filme fruto de quem é visionário (David Fincher) e não de quem pensa ser (Boyle), o que não é mero detalhe, ok? Steve Jobs não será referência no futuro, mas o criador do iPad merecia um bom filme em torno do que seu nome representa, sugere e fez crescer, cultivando uma era de tecnologia e tal, mas não em torno de sua ambição. Falta a ousadia do cara no filme homônimo de sua vida, os próprios funcionários que trabalharam diretamente com ele eram intimidados pelo Corleone da Apple a cada dia. Talvez é o que faltou, aqui: Um verdadeiro gênio, exigindo o máximo de todos neste bom filme, previsivelmente certinho e correto até mesmo na edição, mas é claro, celebremente aquém das várias frases inspiradoras do crânio.

  • Crítica | Macbeth: Ambição e Guerra

    Crítica | Macbeth: Ambição e Guerra

    Macbeth 5

    Adaptado de modo bastante fiel, Macbeth: Ambição e Guerra tem seus méritos em conseguir transpor em tela uma versão do clássico de William Shakespeare, ainda que seus acertos não ocorram necessariamente graças à direção de Justin Kurzel, que faz um trabalho interessante organizando todos os bons fatores do longa, deixando claro o quanto a trama de glória e sangue é importante para o imaginário popular e o quão atual ela pode ser.

    Desde o começo da pré-produção, os holofotes estavam sobre a dupla de intérpretes destacando o militar e personagem-título interpretado por Michael Fassbender, enquanto Lady Macbeth é vivida por Marion Cotillard. Tais personificações beiram a perfeição, fator que rivaliza com a bela direção de arte e fotografia utilizando tons vermelhos como as características positivas do filme. A construção deste tripé – arte, atuações e fotografia – fazem de toda a poesia e lirismo do texto teatral algo belo, visto poucas vezes em adaptações de peças.

    A violência gráfica se faz presente, mostrando influências de Kurzel indo desde a filmografia de Mel Gibson enquanto diretor – principalmente em Coração Valente, na estética, e em A Paixão de Cristo, na emoção – além de fortificar os momentos canônicos do argumento original. O sangue se mistura com a ambição, resultando em uma amálgama que emula o drama até a atualidade, ainda que todos os méritos dessa atemporalidade fujam completamente ao trabalho do realizador, uma vez que Macbeth só foi refilmado graças ao bom texto do dramaturgo.

    Macbeth 2

    No entanto, a complexidade passa longe dos esforços dos produtores. A fidelidade, que normalmente é um aspecto elogiável neste tipo de fita, soa covarde e conservadora, uma vez que, do ponto de vista da história, pouco ou nada se acrescenta. O filme é monotônico, soando repetitivo graças à reverência exagerada da parte do cineasta.

    A despeito de suas muitas qualidades positivas, a produção perde atração graças ao ritmo complicado, não tão grave quanto em alguns de seus pares recentes, tanto nos dramas épicos, como em filmes históricos semelhantes na ambientação da Idade Média. A escolha por manter intactos os diálogos é comum a outros tantos filmes shakesperianos, e poucas vezes faz tanto sentido como neste. Mesmo com tanta verve e sentimento, falta um elo sentimental entre o espectador e a obra, mesmo com a bela apresentação de Sean Harris e seu McDuff, o que é uma pena, já que o filme gerava uma expectativa enorme em seu entorno, resultando em uma obra mediana.

  • Crítica | Frank

    Crítica | Frank

    Frank - Poster

    O romance O Homem Que Encarava Cabras, de Jon Ronson, demonstrava o gosto do autor pelo bizarro como vertente narrativa de suas histórias. Mais do que apreço a um estilo de escrita, Ronson viveu momentos peculiares ao ser integrante de uma banda que tinha como líder um homem com uma cabeça de papel machê. Com base nos escritos do próprio autor sobre este período, ao lado do roteirista Peter Straughan (O Espião Que Sabia Demais), o diretor Lenny Abrahamson lança este estranho filme de humor negro sobre a criatividade na arte.

    A história de Frank (Michael Fassbender) se baseia no alterego de Chris Sievey, um comediante britânico de meados de 70, criador deste personagem que aparecia em programas televisivos com a cabeça de papel machê e pelo qual conquistou aura cult ao realizar uma turnê com um show cômico que se dividia entre stand-up e performances musicais. Como diversos produtos artísticos baseados em fatos reais, o filme modificou a estrutura da personagem, transformando-a em um símbolo do bizarro, desassociando-a da biografia de Sievey, como se ganhasse vida própria.

    O narrador da história é Jon Burroughs (Domhnall Gleeson), um músico-compositor à procura de seu estilo próprio. Caminhando pela ruas da cidade, observa a população com esperança de encontrar a fagulha para compor um grande hit de sucesso. Em seu ponto de vista, a inspiração vinha de atos mundanos, e ele, diariamente, trabalha neste exercício de observação. A oportunidade de participar de uma banda surge literalmente à sua frente ao presenciar a tentativa de suicídio do tecladista da banda The Soronprfbs, oferecendo-se para o posto vago enquanto o tecladista oficial está em observação e repouso em um hospital.

    O líder da banda, Frank, é um homem com um passado desconhecido que se esconde dentro de uma grande cabeça feita de papel machê. Com documentos que lhe dão autorização legal para usá-la, a personagem se sente desconfortável com rostos humanos e escolhe uma aparência fixa – uma máscara que não retira nem mesmo ao tomar banho – para ser observado pelo mundo. O jovem tecladista sofre um breve estranhamento diante deste homem diferente, mas reconhece que por baixo da cabeça falsa, existe um artista verdadeiro e muito inspirado.

    Frank representa o artista extremamente excêntrico que acredita na música como fruição vinda de qualquer local. Sua banda é intencionalmente alternativa, produzindo um som próximo do noise rock com distorções exageradas, e um teremim que dá maior intensidade caótica à melodia. Nos vocais, as letras beiram o non sense, com frases poéticas misturadas a descrições e palavras não usuais da língua. É sua liderança que guia a banda e promove verdadeiros rituais de composição musical.

    Enquanto a banda permanece em local isolado para gravar um novo disco, o músico produz um diário eletrônico sobre o dia a dia com os colegas, e publica diversas gravações dos ensaios e dos malucos rituais de liberação inspiracional. Consequentemente, a banda e Frank se tornam populares na rede e são convidados a participar de um festival nos Estados Unidos.

    Se Frank apresenta o que há de mais estranho em uma personalidade, Burroughs deseja levar a banda a um novo patamar pop com canções acessíveis que lhe trariam um sucesso maior. Uma mudança estrutural suficiente para gerar atrito entre a equipe que considera o som experimental o ápice da musicalidade. Os problemas internos são frutos de objetivos diferentes de cada um, e Frank aceita as mudanças por conta da simpatia que tem pelo novo tecladista. De maneira passiva, o líder de cabeça de papel machê vai cedendo aos desejos musicais do garoto e vendo a banda implodir lentamente.

    O bizarro é tratado com naturalidade pelas personagens, mas causa estranhamento no público. Mesmo baseando-se parcialmente em uma história real, é a diferença extrema entre a costumeira realidade que nos faz refletir sobre a mensagem da obra. Um diálogo que usa o estranho como meio de demonstrar a impossibilidade de definir o que é o artístico, já que não há códigos de conduta ou vestimenta que automaticamente produzam bons artistas. A figura de Frank é carregada de um mistério que o público deseja descobrir para compreender suas motivações.

    O estranho se revela com maior fragilidade do que se pressupõe inicialmente. Aumenta a ambiguidade da personalidade forte enquanto usa a máscara, mas delicada quando humana. Uma história que transita em extremos para se revelar mais sutil do que parece e, pelo exagero cênico, ser capaz de se diferenciar de tantas outras obras recentes que se articulam sob a arte e a composição artística.

  • Crítica | X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

    Crítica | X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

    x_men_days_of_future_past

    A carreira de Bryan Singer se aproximava perigosamente da de seu contemporâneo Peter Jackson. Ambos tiveram um começo bom, com primeiros filmes de sucesso relativo, e que depois encabeçaram franquias de milhares de fãs, ainda que em X-Men, Singer dispusesse-se de muito (mas MUITO) menos orçamento do que Jackson angariou na trilogia O Senhor dos Anéis. Após ambos saírem de sua zona de conforto, insucessos vieram, já que King Kong, Um Olhar no Paraíso, Operação Valquíria e Jack, o Caçador de Gigantes não foram produções ruins necessariamente, mas ficaram muito aquém das expectativas dos estúdios. Em comum entre os dois estaria o retorno às franquias que os projetaram ao estrelato, mas diferentemente de seu igual, Singer logrou êxito ao falar dos seus conhecidos personagens, até porque sua vida pessoal o credencia a falar de excluídos. A segregação que sofreu por ser judeu e homossexual certamente é semelhante ao sofrimento mostrado em tela com a raça de homo superior caçada em 2023.

    O núcleo dos personagens “veteranos” é secundário, ainda que seja esta realidade a que origina o plot principal, pois como visto na publicação de Claremont e Byrne, o futuro dos mutantes e de seus simpatizantes é sombrio, com muitas referências visuais a Exterminador do Futuro de James Cameron  que por sua vez jamais assumiu a influência da história em sua obra. Kitty Pryde, personagem de Ellen Page, lidera um dos poucos grupos de resistência, e, por meio de uma mutação secundária (estigma adotado nas revistas X nos idos dos anos 2000), consegue transportar para um passado recente a consciência dos outros mutantes ao seu corpo. A Ninfa (ou Lince Negra), Robert Drake, o Homem de Gelo (Shawn Ashmore), e outros mutantes, vivem a fugir dos Sentinelas, até que recebem uma visita do que sobrou dos X-Men, Xavier, Magneto, Tempestade (Halle Berry) e, claro, Wolverine, interpretado por Hugh Jackman. O plano em conjunto é retornar ao passado através de Xavier para que este impeça Mística (Jennifer Lawrence) de assassinar Bolívar Trask, criador dos robôs caçadores. A saída do roteiro foi deveras inteligente, uma vez que a trama de Robert Kelly já havia sido descartada pelo próprio diretor, em 2000.

    Uma grande fonte de reclamações dos fãs relaciona-se à cronologia da franquia nos cinemas. Para todos os efeitos, o trabalho feito por Mathew Vaughn é sim um reboot que obviamente leva em consideração alguns pontos da história dos filmes de Singer. A Casa das Ideias sempre menciona que os quadrinhos Dias de Um Futuro Esquecido faz parte de uma realidade alternativa. Tais elementos podem ser encarados como problemas, mas para quem está acostumado a consumir quadrinhos mensais e tem de engolir novos recomeços a cada cinco anos, e claro, com conteúdos muito mais incongruentes, as concepções dentro do filme são de fácil digestão, até porque o foco maior é a continuação da trama inciada nos anos 60. Os dois grupos de mutantes liderados por Charles Xavier (James McAvoy) e Erik Lensher (Michael Fassbender) foram dissolvidos, e as causas dos eventos, muito ligadas ao aparentemente contido Bolívar Trask, são aos poucos mostradas em tela. Protagonizado pelo ótimo Peter Dinklage, Trask é um cientista que aparentemente busca a sobrevivência dos humanos, mas que impinge a muitos mutantes experimentos semelhantes aos que os nazistas realizavam com judeus. Obviamente, as experiências genéticas feitas por Trask causam ódio em Mística, que via seus iguais serem exterminados, o que a faz se transformar em uma autêntica máquina de matar suas cenas de ação são de um primor visual ímpar.

    O foco emocional é todo voltado à crise existencial de Xavier nos anos 70. O Professor X volta a andar graças a uma droga criada por seu então lacaio Hank McCoy (Nicholas Hoult), substância essa que reprime os poderes do Doutor, assim como seu ideal de querer mudar o status quo por meio do pacifismo. Ele é mostrado como um homem deprimido, resignado e desesperançoso, uma nuance pouco explorada nos quadrinhos, mas plenamente condizente com a época, visto que os anos 70 foram de muita decepção para os americanos, basta lembrarmos do Vietnã. Xavier quer interromper seus poderes por não aguentar mais ouvir em sua mente as vozes e as lamúrias das pessoas, além, é claro, de viver da culpa por ter perdido seus alunos e companheiros em lutas anteriores.

    Já Magneto também estava de mãos atadas, encarcerado, metros abaixo do Pentágono, acusado de um crime terrorista que não havia cometido. Sua fúria aumentou mais, a despeito até de sua postura mais calma quando reintroduzido. A ideologia presente nos primeiros discursos de Malcolm X torna-se ainda mais flagrante quando são analisadas as ações de seu passado em comparação com as de sua contraparte do futuro. Mas ambas as encarnações de Erik demonstram um poder magnânimo, algo que Singer ainda não podia mostrar antes nos filmes anteriores, talvez pela falta de verbas.

    Mesmo com tudo isso, os melhores momentos de Magneto são as discussões que envolvem Raven, Charles e ele, formando um triângulo amoroso/ideológico de cunho emocional e tocante, visto que todos se sentem traídos, até havendo razão em se sentirem assim. Dos embates o mais emocionante certamente é o primeiro encontro dos dois antigos amigos, precedendo uma sequência de ação das mais engraçadas, que, mesmo com o alívio cômico de Mercúrio (Evan Peters) — uma participação ótima —, consegue manter o tom emotivo e simbólico do que seria aquela amizade milenar e do quão ambos valorizariam um ao outro pela causa mutante.

    Pela primeira vez, em todos os filmes dos mutantes, Wolverine não é o protagonista. Porém, sua importância é obviamente gigante, fazendo a ponte para o encontro dos protagonistas, uma escada na maior parte de sua inclusões como personagem. Tal escolha não impediu que Singer registrasse o Carcaju expondo suas nádegas, dando vazão a (mais) fantasias de leitores talvez a questão esteja no contrato de Jackman com a Fox. Iniciada em X-Men – Primeira Classe, a pecha de transformar os filmes da franquia X-Men em películas em que se divide o protagonismo é cada vez mais solidificada, assim como o enfoque da questão social, deixada de lado em X-3 e nos spin-offs. Os assuntos mais interessantes retratados nas grandes histórias de mutantes são estes, o paralelo com as ideologias, a discussão a respeito do preconceito e até aonde esta guerra pode ir.

  • Crítica | X-Men: Dias de um Futuro Esquecido

    Crítica | X-Men: Dias de um Futuro Esquecido

    X-Men-Days-of-Future-Past-Movie-Poster

    Cronologia é algo divertido, mas complicado. Acompanhar os mesmos personagens ao longo de várias histórias e ver acontecimentos com consequências futuras são muito legais, mas os problemas não demoram a surgir. Além da necessidade de tudo estar amarrado e fazer sentido, o vício dos autores em revisitar o passado, recontar origens, adicionar mais detalhes ao background, invariavelmente leva aos famigerados furos da história. Nesse sentido, os X-Men são a franquia cinematográfica que melhor representa a mídia original, os quadrinhos. O mais recente longa dos mutantes chegou com a ambiciosa proposta de conectar a trilogia original, os filmes solo de Wolverine e o reboot não assumido X-Men: Primeira Classe. Se teve sucesso ou não, depende de como se avalia.

    A história não pode ser chamada de adaptação, pois é apenas inspirada livremente na célebre hq oitentista Dias de um Futuro Esquecido, de Chris Claremont e John Byrne. Num futuro próximo, o mundo foi devastado pelos Sentinelas, robôs criados para caçar mutantes mas que acabaram se voltando contra toda a humanidade. Revemos algumas figuras da trilogia num grupo comandado por Xavier e Magneto que basicamente foge e se esconde para sobreviver. A última tentativa desesperada é um plano de enviar a consciência de  para o corpo dele em 1973, data em que Mística assassinou Bolívar Trask, o criador dos Sentinelas, e foi capturada. O DNA da mutante foi a chave para os robôs se tornarem invencíveis. Logan precisará reunir as versões mais jovens de Erik e Charles (X-Men – Primeira Classe) para ter alguma chance de mudar o passado e salvar o futuro.

    Havia a expectativa de que Dias de um Futuro Esquecido consertasse ou ao menos tentasse explicar as discrepâncias entre os capítulos anteriores. Nesse aspecto, não se pode negar que o filme falhou miseravelmente: não só deixou de explicar os furos, como ainda adicionou mais alguns. Kitty Pride (Ellen Page) surge com outro poder além de se tornar intangível: mandar a consciência dos outros de volta no tempo (como raios alguém descobre ter um poder desses?). Muito melhor seria apresentar isso como uma evolução dos poderes do próprio Xavier, ou usar o personagem Forge construindo uma máquina. Charles recuperou seu corpo explodido em X-Men – O Confronto Final, Logan recuperou as garras de adamantium perdidas em Wolverine – Imortal, e sem nenhuma menção a esse respeito. A impressão é de que o cenário apresentado era um futuro da linha temporal de Primeira Classe, que POR ACASO continha elementos que lembravam a trilogia original, confirmando assim duas realidades distintas – algo que os produtores nunca admitiram.

    Superada essa falha, o núcleo futurista funciona muito bem. O peso dramático de um mundo pós-apocalítico é sentido perfeitamente. Estes X-Men agem como uma experiente unidade paramilitar acostumada a táticas de guerrilha. As cenas de combate contra os Sentinelas são ótimas, violentas e fazem bom uso dos poderes de todos os mutantes envolvidos. Além dos velhos conhecidos Kitty, Tempestade, Homem de Gelo e Colossus (pra variar, mudo como uma estátua), vemos pela primeira vez no cinema Bishop, Apache, Blink e o brasileiro com cara de mexicano Mancha Solar. Além disso, é sempre ótimo ver atores do calibre de Ian McKellen e Patrick Stewart, ainda que rapidamente.

    Pois a maior parte do história se desenrola no passado, confirmando que o filme é, acima de tudo, uma continuação de Primeira Classe. E o salto de 10 anos se mostra brutal: Xavier caiu numa depressão extrema, fechou a escola e debandou os X-Men, dos quais vários morreram, vítimas das experiências de Trask (Peter Dinklage, discreto e eficiente). Apenas o Fera permanece ao seu lado. Magneto foi aprisionado após seu envolvimento na morte de JFK. Mística atua como uma terrorista solitária lutando pela causa mutante. Logan cai no meio disso, e, com toda a sua finesse, terá que reuni-los. Aqui entra o gancho para a divertida e pontual participação de Mercúrio, com Evan Peters carismático como o herói nunca conseguiu ser nas hqs. Nada de muito original e revolucionário ao retratar a supervelocidade, mas as duas percepções (a do próprio velocista e a dos outros) foram mostradas de forma muito interessante.

    Numa história com tantos personagens, era fundamental ter foco em alguns e (infelizmente) sacrificar outros. Uma pena que o Fera (Nicholas Hoult) seja apenas um assistente/guarda-costas/capanga do bem de Charles, mas o roteiro de Simon Kinberg, Jane Goldman e Matthew Vaughn alcança um louvável equilíbrio ao centralizar as atenções em quatro mutantes. Hugh Jackman naturalmente tem destaque como o fio condutor da trama, mas não é nem de longe um protagonista absoluto – o que não deixa de ser uma surpresa; Jennifer Lawrence tem a chance de aparecer bastante de cara limpa (o que não é surpresa nenhuma) numa sólida atuação, aproveitando a importância colocada em sua personagem; Michael Fassbender tem uma participação sensivelmente diminuída em relação ao filme anterior, que era quase um “Origens: Magneto”. Mas o cara é tão bom que não precisaria nem de cinco minutos para mostrar isso. Sempre na linha entre vilão e anti-herói, Erik é aquele que não faz concessões, segue firme em sua convicção e mantém alianças de acordo com a conveniência.

    Mas o coração da história é inegavelmente Charles Xavier. Pela primeira vez na franquia, os holofotes se concentram nele, e o resultado é sensacional. Quase sempre retratado como uma rocha inabalável, dessa vez ele atravessa uma crise de fé, e temos a noção do quanto isso afeta os mutantes e por consequência o mundo inteiro. Não é fácil ser bom, honesto, herói e líder, e acreditar na proposta otimista (e ingênua) da coexistência pacífica entre humanos e mutantes e ainda assim continuar lutando por ela, especialmente num mundo onde isso parece impossível. Outro ponto a ser aplaudido é a ausência de maniqueísmo no filme: as retaliações de lado a lado parecem inevitáveis e justificáveis; todos estão errados. E cabe a Charles manter o fardo de ser o certo, redimir Mística, perdoar Magneto e salvar os humanos que querem aniquilar sua raça. James McAvoy faz um trabalho espetacular.

    Os méritos desse acerto devem ser dados também a Bryan Singer. Ele mostra mais uma vez o quanto entende desse universo, e consegue enxergar aquilo que realmente importa nos X-Men. Não uma fidelidade total a uniformes ou a altura de personagens (inacreditável a essa altura do campeonato ainda existir quem questione o Wolverine de Jackman), mas conteúdo moral, social e filosófico que sempre foram o cerne das melhores histórias dos mutantes. Dias de um Futuro Esquecido é o tipo de filme imperfeito, mas com acertos tão gratificantes que os erros merecem ser perdoados. Como o próprio final indica, a postura do espectador deve ser curtir a homenagem à trilogia original, mas esquecê-la. Apreciar as próximas aventuras sem esquentar tanto a cabeça com a cronologia, algo que os leitores de quadrinhos já aprenderam (ou deveriam ter aprendido) há tempos.

    Texto de autoria de Jackson Good.

  • Crítica | O Conselheiro Do Crime

    Crítica | O Conselheiro Do Crime

    o conselheiro do crime - poster brasileiro

    O britânico Ridley Scott está no panteão de grandes diretores vivos. Porém, as melhores produções de sua carreira estão situadas em décadas passadas: sua estréia, Os Duelistas, adaptação de uma história de Joseph Conrad, ganhou o prêmio de Melhor Primeira Obra em Cannes. E suas duas seguintes produções, Alien – O Oitavo Passageiro e Blade Runner – O Caçador de Andróides são obras máximas da ficção científica. Três filmes que sustentam com muita solidez o sucesso do diretor.

    Scott ainda vive pela potência do passado, projetando na própria carreira a sombra de seu início. Até mesmo quando intentou um retorno às suas origens com outra ficção científica, Prometheus, teve uma recepção dividida entre público e crítica.

    Diante desta filmografia oscilante, o grande atrativo de O Conselheiro do Crime era o roteiro assinado por Corman McCarthy, considerado um dos maiores escritores americanos contemporâneos, e o elenco talentoso formado por Michael Fassbender, Javier Bardem, Brad Pitt e Penélope Cruz.

    A história entregue pelo escritor situa-se longe de sua prosa premiada. Mesmo que uma narrativa e um roteiro cinematográfico se aproximem em certas instâncias, há diferenças estruturais entre eles. Tem-se a ilusão de que um bom escritor é capaz de dominar todas as vertentes narrativas, mas poucos foram capazes de se destacar em todos os gêneros. No Brasil, Rubem Fonseca, em entrevistas, autodeclara-se um cineasta frustrado e seu roteiro de O Homem do Ano, baseado na obra de Patrícia Melo (diretamente influenciada pela obra de Fonseca), não se compara com o talento de prosador que possui. Exemplos que demonstram a disparidade entre estilos de texto distintos.

    O suspense é focado no conselheiro do título que investe no tráfico de drogas à procura de dinheiro fácil. Dentro deste ambiente hostil e desconhecido, o conselheiro se torna alvo fácil quando o comboio com narcóticos não chega ao local estabelecido.

    Sem evidenciar as intenções dos personagens, como se tentasse abordá-los com nuances elípticas, a história é disfuncional. Conduz o público de vazio a vazio, sem intriga, drama, suspense, sem elementos que se destaquem. A história reproduz eventuais componentes vistos em histórias do gênero: a droga produzida em ambientes pobres, o contraste luxuoso dos poderosos que retêm o dinheiro, e as iscas fáceis que decidem adentrar no perigoso negócio. Personagens tipificados e interpretados sem muita exigência pelo elenco.

    A falta de clareza narrativa produz uma frieza não-intencional. Ampliando a sensação de que nem mesmo o roteirista e, por consequência, os atores sabem das motivações dos personagens. E o que parecia ser uma história de erros se anula pela condução mal realizada.

  • [Idéias no Vórtice] O Cinema de Steve McQueen

    [Idéias no Vórtice] O Cinema de Steve McQueen

    Steve-McQueen

    Steven Rodney McQueen é londrino, mas seus pais vieram da ilha caribenha de Granada. A adolescência, vivenciada na região oeste da capital, teve como ponto marcante o tempo em que estudou em Drayton Manor High School, onde, segundo o próprio cineasta, teve uma experiência ruim quando obrigado a trabalhar nos ofícios de encanador e construtor. Essa fase era particularmente conturbada graças a uma leve dislexia que sofria e ao fato de usar tapa-olho em razão de um problema ocular. Mais tarde, estudou arte e design na Chelsea College of Art and Design e também em Goldsmiths College. Se interessou por cinema quando ingressou na Universidade de Londres. Suas influências declaradas incluem: Andy Warhol, Sergei Eisenstein, Dziga Vertov, Jean Vigo, Buster Keaton , Carl Theodor Dreyer , Robert Bresson, e Billy Wilder.

    Em 1993, McQueen apresenta um curta filmado em 16 milímetros em que dois homens negros (ele incluso como ator) se envolvem em um embate que transita entre a simples agressão e atração homoerótica. O diretor afirma que em Bear, filmado em preto e branco e apresentado no Royal College of Art, em Londres, a questão racial é secundária. O enfoque é no físico intenso, na tensão corporal e no equilíbrio entre sexualidade e agressividade, o que é revisitado mais tarde em Shame. A fita não possui sonorização, o que maximiza a imersão, torna o espectador ainda mais próximo da obra, recurso largamente usado em sua filmografia. Em Five Easy Pieces, de 1995, McQueen filma uma mulher em uma corda bamba e discorre sobre vulnerabilidade e força, temas semelhantes a Above My Head, do ano seguinte, que já se utilizava de experimentalismos para ilustrar a fragilidade humana e a persistência. O curta Deadpan, em que o diretor busca homenagear Buster Keaton, lhe rendeu um Prêmio Turner, e mais uma vez ele se vale do silêncio para causar uma experiência diferenciada no público. No decorrer dos anos, o realizador produziu outros filmes interessantes, como Charlotte (2004) e Static (2009).

    mcqueen-bear

    Hunger (Fome, no Brasil), o primeiro longa-metragem que McQueen dirigiu, é pródigo em diversos aspectos. Primeiro pela temática, que demonstra o engajamento do cineasta com causas políticas e sociais. Segundo pelos maneirismos típicos do cinema europeu contemporâneo, com cortes rápidos e bruscos e variadas oscilações na mixagem. Steve faz questão de mostrar em seu primeiro longa quase todos os seus predicados. Voluntarioso, demonstra o que sabe fazer em posse da câmera. Este filme seria também o início da parceria com o ator teuto-irlandês Michael Fassbender. Amicíssimo do diretor, Fassbender ajuda McQueen a demonstrar a decadência do físico (presente em Shame e 12 Anos de Escravidão, mas sobre outros avatares) por meio do jejum voluntário dos revolucionários, especialmente na figura de Bobby Sands. A ideia do cineasta é mostrar uma narrativa quase documental: há uma longa cena de diálogo envolvendo Sands e o Padre sobre a greve de fome que está prestes a realizar; são 17 minutos sem qualquer corte, oscilação ou movimento de câmera. O policial filmado no início mostra os punhos ensaguentados. Hesitante, representa a parcela do contingente autoritário não contente em aplicar a repressão. A política britânica, vista por McQueen, inclui os grupos rebeldes do exército do IRA, abarcando em sua crítica a esquerda contrária ao governo Thatcher. O braço forte da lei é absolutamente intransigente, duro e cruel com seus opositores e os presidiários são submetidos a humilhações.

    hunger

    Shame é iniciado com uma tomada sobre a cama de Brandon, que abre os olhos, suspira e claramente busca a naturalidade nos atos cotidianos, do ato de acordar e do fazer tarefas cotidianas. Nada em sua rotina é comum, em razão da parafilia que possui. Sua sexualidade é despertada de uma maneira agressiva, constante e nada saudável. A obsessão é encoberta por uma capa de normalidade difícil de sustentar, mas que, a duras penas, é mantida. A relação do herói falido com a irmã é curiosa, pois seus defeitos são inversamente proporcionais: a carência de Brandon é físico e ele tem dificuldades de se relacionar emocionalmente com outras pessoas. Com Sissy (Carey Mulligan) é obviamente o contrário: ela suplica pela presença de seu antigo par. Ambos são assombrados por algo marcante e traumatizante do passado e que os mantém afastados a priori e contraditoriamente também os faz unidos. O registro emulando um documentário retorna em Shame: a lente quase não se posiciona contra Brandon, somente o observa de longe praticando seus atos imorais.

    A expressão de quando quase se vê pego ao ter seu HD analisado é impagável. Brandon sofre para encarar a moça que quer namorar. Dócil e delicada, ela não consegue fazê-lo atingir o ápice. O psicanalista MD Magno, após revitalizar ideias freudianas, chega a uma conclusão, denominada pulsão da morte, que prega que haver deseja não-haver. Trocando em miúdos, seria o homem caçando o orgasmo absoluto a todo momento, e mesmo quando ele não mais consegue atingi-lo, utiliza-se de estimulantes pra continuar o círculo vicioso – a condição de Brandon é esta, o conceito em sua vida não poderia ser mais literal. A causa da parafilia não é explicitada, nem aventada, porém os momentos em que aproximam de uma discussão sobre o problema são quando o personagem assiste a desenhos, referência à infância e ao provável período do trauma. O torpor auto-induzido de Brandon é uma estratégia de fuga; ele não quer olhar para a própria realidade ou encarar os fatos de frente e nem quer lidar com a questão de Sissy, a princípio. Mesmo quase participando de uma segunda tragédia familiar, Brandon parece não ter mudado seus hábitos, dando indícios de que retornaria a seus pecados.

     ShameMcQueen

    François Truffaut escreveu certa vez que, enquanto primeiro e segundo filmes de um diretor são exercícios de auto-descoberta e aperfeiçoamento, o terceiro longa geralmente tem seu refinamento no conteúdo e na forma e por isso é o primeiro que é justo julgar como esforço cinematográfico válido. A carreira do diretor de Hunger e Shame é a prova disso, pois é em 12 Anos de Escravidão que McQueen finalmente atingiu a maturidade e conseguiu alcançar a atenção do grande público sem incomodar o conjunto de fãs que já havia conquistado. Ainda demonstrando um grande engajamento político, o roteiro, baseado na auto-biografia de Solomon Thurp, escancara uma realidade triste, que, apesar de ser supostamente superada, contém em seu plot um conjunto de situações muito semelhante com a realidade mundial atual, vide a segregação que parcela da população negra sofre, de forma velada ou não, nos quatro cantos do globo.

    12-years-slave-mcqueen

    Steve McQueen atinge o auge de sua carreira com apenas três longas-metragens no currículo. Seu último filme ofuscou produções de temática parecida, como o bom O Mordomo da Casa Branca de Les Daniels, e além de ter em seus elementos o ativismo racial, apresenta também um refino na fotografia, direção e reconstituição de época. Os sentimentos vociferados pela sua inquieta lente são muitos e vão desde o comportamento passivo diante da exploração até a rebeldia justificada, muito bem construída na jornada que o personagem de Chewtel Ejiofor protagoniza

    A pouca idade – 45 anos a serem completados em 9 de Outubro de 2014 – garante a promessa de uma carreira ainda mais competente, possivelmente superada em breve, dada a sua juventude e clara evolução de película a película. Muito do artista em estado bruto ainda permanece na obra de McQueen, o que não precisa ser analisado como equívoco, mas como um modo visceral de encarar a arte. A impressão que fica é que suas realizações podem e devem melhorar, uma expectativa de crítica e público de que isso se concretize. Que seu olho clínico para as situações cotidianas prossiga tão atento e ainda mais refinado com o passar dos anos e das experiências que o diretor adquirirá com a execução de novas obras.

    Ouça nosso podcast sobre Steve McQueen.

  • VortCast 30 | Steve McQueen, Diretor

    VortCast 30 | Steve McQueen, Diretor

    vortcast30

    Bem-vindos à bordo. Nesta edição, Flávio Vieira (@flaviopvieira), Rafael Moreira (@_rmc), Nicholas Aoshi (@nicprade), Filipe Pereira e Mario Abbade (@fanaticc) se reúnem para um bate-papo sobre a carreira e filmografia do cineasta londrino, Steve McQueen, diretor de Fome, Shame e 12 Anos de Escravidão.

    Duração: 94 mins.
    Edição: Flávio Vieira
    Trilha Sonora: Flávio Vieira
    Arte do Banner: Bruno Gaspar

    Feed do Podcast

    Podcast na iTunes
    Feed Completo

    Contato

    Elogios, Críticas ou Sugestões: [email protected]
    Entre em nossa comunidade do facebook e Siga-nos no Twitter: @vortexcultural

    Comentados na edição

    Vídeo: Ai que delícia, cara (veja por sua conta e risco)
    Podcast: Agenda Cultural onde comentamos sobre Shame
    Texto: O Cinema de Steve McQueen

    Filmografia comentada

    Crítica Fome (Hunger), por Fábio Z. Candioto
    Crítica Shame, por Carlos Brito
    Crítica 12 Anos de Escravidão, por Filipe Pereira

  • Crítica | 12 Anos de Escravidão

    Crítica | 12 Anos de Escravidão

    12-years-a-slave-movie-poster

    A introdução que McQueen arquiteta é típica de sua filmografia, com nenhuma palavra por parte dos importantes personagens mas escancarando o conjunto de sensações que eles têm através das imagens. Solomon Northup (Chewtel Ejiofor) passa por formas diversas de escravidão, desde o simples plantio de cana até ganhar status e seguir o serviço de músico, como um negro livre das amarras que ainda prendiam seus irmãos. Solomon é obrigado a retornar ao estágio de cativo, perdendo o direito que conquistara para si legitimamente, e com isso, os conflitos que visavam o retorno a liberdade vieram, entre eles, a condescendência de alguns do escravizados. Um dos negros, Clemens, ao ser indagado sobre uma possível rebelião diz:

    “Somos negros, nascidos e criados escravos. Os negros não têm estômago para lutar.”

    A mercantilização das vidas é mostrada de forma emocional, com uma rasgante separação de uma mãe e suas duas crianças… Solomon toca seu violino na tentativa de desviar a atenção da separação, mais tarde recebe o nome de Platt, é comprado por Mister Ford (Benedict Cumberbatch) e volta gradativamente a resignar-se e aceitar o chicote. Ele próprio vê Platt como uma outra personalidade, a que aceita os maus tratos a fim de sobreviver mesmo sabendo o quanto isto é injusto.

    McQueen flagra as consequências da rebeldia, mostrando o personagem preso com uma corda no pescoço por longos momentos, após uma discussão com um dos mestres brancos. Mesmo estando “certo” ele é mantido suspenso, sofrendo por seu ato de desobediência, para aqueles que exploravam seus préstimos, sua vida prosseguia sendo inferior, mesmo para aqueles que este considerava benevolentes.

    Edwin Epps, o novo mestre de Platts é imprevisível, e atuação tresloucada de Michael Fassbender grifa ainda mais esse aspecto. A religiosidade, algumas vezes ligada a esperança de dias melhores, é muito presente na vida dos homens brancos, e os motiva de forma diferente, Ford prefere tratar a todos da forma mais suave possível enquanto a rigidez de Epps é dita como prevista nas páginas sagradas da Bíblia, o realizador utiliza a filosofia religiosa para demonstrar diferentes pontos de vista relativos ao convívio com o diferente.

    Patts, uma das escravas “preferidas” de Epps interpretada por Lupita Nyong’o, é mostrada com as costas inflamadas e sangrando graças a uma sessão de chibatadas de seu mestre: esta parte constitui em si uma cena forte e bastante chocante, não só pelo grafismo do sofrimento, mas também pelas injustas razões do castigo. O espanto para o público infelizmente não é o mesmo para os personagens, acostumados a atos selvagens como aquele. O escravocrata faz questão de humilhá-la e tortura Solomon mentalmente, tentando coagi-lo, por perceber que ele tem um pouco mais de liberdade de pensamento que os outros negros servis.

    Quando o golpe finalmente é resolvido, os cabelos de Solomon são grisalhos, suas feições mudaram, estão mais duras, ele está marcado como nunca, mas ao ver os seus novamente, sua reação é de desabar em lágrimas em frente àqueles que tanto buscava, e seus constantes pedidos de desculpas são prontamente recusados. Mais tarde, ele se tornaria um ativo crítico abolicionista, mesmo sem ter sucesso nos tribunais contra seus agressores. O roteiro adaptado de John Ridley é competente demais em mostrar os muitos momentos da trajetória de Northup, sem fazer concessões e sem saídas politicamente corretas, pois expõe uma realidade dura e cruel sem dar ao povo retratado um papel estereotipado de vítima. A direção de Steve McQueen é ainda mais madura do que a apresentada no ótimo Shame, o que demonstra uma ótima evolução por parte do diretor, especialmente em tocar em temas tão delicados quanto os abordados na sua ainda breve filmografia.

    Ouça nosso podcast sobre Steve McQueen.

  • Crítica | Fome

    Crítica | Fome

    82 - Hunger

    Estreia do diretor britânico Steve McQueen, Hunger (Fome) se passa na prisão de  Maze, onde os prisioneiros condenados por participar de ações terroristas do IRA eram levados. A história se passa em torno de Bobby Sands, (Michael Fassbender) um combatente do exército republicano irlandês, que lidera um movimento a fim de conseguir o status de “prisioneiro político” ao invés de prisioneiro comum, o que o governo da então primeira-ministra Margaret Thatcher se recusa a fazer.

    Mais do que um filme político, Hunger evita todos os clichês e se foca somente nos detalhes e nas características comuns de cada um dos personagens do filme, sejam os detentos, sejam os guardas. Tentando ao máximo fugir da panfletagem, McQueen consegue desenvolver uma narrativa onde importa mais discutir as motivações por trás dos atos daqueles guerrilheiros do que qualquer outra coisa.

    Usando uma estética da violência para se estabelecer o padrão das relações naquele ambiente, o filme não poupa o espectador de uma brutalidade crua e fria, mas que provavelmente choca mais os habitantes de outro país do que do Brasil, onde já estamos habituados ao tratamento desumano de nossos presídios, o que desumaniza também a sociedade e seus agentes do micro-poder responsáveis pela manutenção deste ciclo. As sequências mostrando o cotidiano paranoico de um guarda da prisão ao olhar minunciosamente o carro e sua rua, procurando por ameaças antes de ir trabalhar, mostra como a violência infligida ao outro sempre acaba por violentar também seu executor. Outra sequência também de tirar o folego é quando o batalhão de choque é chamado para conter uma revolta dos prisioneiros. Extremamente bem filmada, a cena consegue passar um realismo e uma ferocidade raras no cinema.

    Porém, sabiamente, Hunger não se limita a somente mostrar a violência. Há outros condutores de relacionamento. Depois de estabelecida a dinâmica do presídio, McQueen se volta para estabelecer as motivações por trás dos guerrilheiros do IRA. Vindos de uma Belfast onde todos se conhecem e frequentaram as mesmas igrejas, escolas e lugares públicos, Sands encontra-se com um Padre, onde explica sua próxima ação a fim de minar a credibilidade dos britânicos: uma greve de fome iniciada em sequência, com intervalos de dias entre os prisioneiros, onde ficaria impossível monitorar todos. Em um belíssimo plano-sequência de 16 minutos, o Padre Dominic Moran (Liam Cunningham) tenta, em vão, convencer Sands da loucura que seria impor aos amigos e família tal sofrimento. Mas Sands, em uma argumentação extremamente convincente e elaborada, fruto de uma imensa reflexão e ideologia beirando o fanatismo, se mostra irredutível.

    O terceiro ato é a consumação da greve de fome, onde somos forçados a ver agora um ato de uma violência auto-infligida de Sands em si mesmo, onde ele mostra ao mesmo tempo que é dono de seu corpo, e o sofrimento físico causado pelos britânicos naquele período de encarceramento não representam nada. A entrega de Fassbender ao papel também merece destaque, já que o ator, que já era magro, precisou emagrecer ainda mais 16 quilos a fim de gravar as cenas finais, onde Sands agoniza. Ele morre, junto de outros companheiros. O governo britânico não dá o status de prisioneiros políticos ao grupo, mas concede outras melhorias a fim de acabar com a greve e a pressão internacional. Se ao menos Sands não consegue seu objetivo principal, consegue, ao doar sua vida a uma causa, transformar seu corpo e sofrimento em panfleto político e expor ao mundo o que estavam passando, expondo também o autoritarismo dos anos Thatcher.

    Hunger se mostra então um filme sobre violência, das mais diversas formas, usadas pelos mais diversos pretextos, e como ela pode ser usada como forma de discurso. O principal mérito do filme, no entanto, é não se deixar cair em melodramas, ao executar com perfeição as cenas dramáticas com uma tonalidade séria, sem músicas que forcem o choro, que tentem exagerar ou mesmo diminuir o nosso sofrimento ao testemunhar tais atos. Dessa forma, é um filme corajoso, frio, e que nos tira do nosso lugar comum com uma brutalidade necessária para nos chacoalhar nesses tempos tão cínicos e insensíveis a dor do outro e a dor altruísta.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

    Ouça nosso podcast sobre Steve McQueen.

  • Crítica | Prometheus

    Crítica | Prometheus

    Prometheus

    Tudo começou quando Ridley Scott e James Cameron, no início dos anos 2000, resolveram fazer uma quinta produção da franquia Alien. A ideia até então seria um prequel para a famosa franquia que teve seu primeiro filme lançado em 1979 (Alien – O Oitavo Passageiro). Quando do desenvolvimento de Alien Vs. Predador, em 2003, o projeto havia sido colocado na geladeira e apenas retomado em 2009, quando o diretor resolveu dar continuidade a ele. Finalmente em 2012 temos contato com Prometheus, um filme que foi bastante esperado pelos fãs do gênero ficção científica.

    Em 2089, os arqueólogos Elizabeth Shaw (Noomi Rapace) e Charlie Holloway (Logan Marshall-Green) descobrem um mapa estelar através de vestígios de antigas civilizações desconexas umas das outras. Eles acreditam que o mapa estelar os levaria para o planeta em que residem os chamados “Engenheiros”, seres responsáveis pela criação da raça humana. Com o apoio de Peter Weyland (Guy Pearce), o CEO da Weyland Corporation, a expedição científica é patrocinada e enviada em direção à lua LV-223.

    A fome insaciável do ser humano por conhecimento e os questionamentos sobre nossa existência é o ponto de partida que o filme nos traz. Prometeu, na mitologia grega, foi um Titã que defendeu a humanidade, roubando o fogo dos deuses e entregando-os aos mortais. Em sanção a esse feito, Zeus o acorrentou a uma pedra, onde teria seu fígado comido por uma águia todos os dias por toda a eternidade. Temos aqui a figura do ser humano colocando as mãos em um conhecimento divino, que não deveria ter chegado nem perto (segundo a vontade dos referidos deuses). No filme, temos a presença de uma expedição que quer se encontrar com seus criadores para que eles nos respondam sobre as questões mais elementares da nossa existência.

    O filme de Ridley Scott é claramente inspirada nas obras Eram os Deuses Astronautas (Erich von Däniken) e Nas Montanhas da Loucura (H.P. Lovecraft). Enquanto no primeiro, o autor teoriza sobre a possibilidade de que seres do espaço visitavam a Terra na época das antigas civilizações e eram considerados deuses por estas, no segundo temos uma a influência do terror que provém do desconhecido.  Ambas as influências misturadas formam uma ideia que gera muitas possibilidades, porém no roteiro de Prometheus, infelizmente, acabam se perdendo a partir de pouco antes da metade do filme. Tentou-se criar um clima de tensão o qual foi sendo desconstruído por uma série de situações não convincentes e que, algumas vezes, beiravam o cômico.

    Criador e criatura. A necessidade de se perguntar do por quê de sua existência e tentar enfrentar o “pai”, que o abandonou. Em um momento do filme é facilmente visível o rosto de um Engenheiro que evidencia seu desconforto, sem precisar expressar em palavras, ao perceber que humanos haviam chegado até ali e isso não era certo. O mesmo Engenheiro menospreza o andróide, percebendo que sua criação também queria ser criadora de uma forma de vida. Tal como Zeus, os Engenheiros também queriam penalizar os humanos por suas transgressões.

    Existencialismo, espiritualismo e criacionismo são apenas alguns dos muitos temas que são levantados pelo filme ao longo de toda sua extensão. Porém, essas discussões que poderiam ter sido exploradas de uma maneira mais profunda, dando um peso excepcional para a narrativa, acabam apenas sendo arranhadas sob a ponta de um iceberg. Por outro lado, tal fato também é responsável pela abertura de dezenas de discussões entre os espectadores. John Spaihts e Damon Lindelof, roteiristas do filme, nos entregam apenas um ponto de partida para um universo sombrio onde algo de errado aconteceu e nossos criadores mudaram de ideia quanto a seus “filhos”.

    O ponto em que Prometheus mais peca acaba sendo no desenvolvimento dos seus personagens. Ao contrário do que foi feito em “Alien – O Oitavo Passageiro” – e é o único ponto em que é justo comparar com a franquia, pois ambos os filmes são completamente desconexos um do outro e possuem propostas completamente diferentes, apesar de fazerem parte do mesmo universo – em que os personagens da tripulação da Nostromo eram carismáticos e conseguiam fazer com que o espectador simpatizasse com eles, em Prometheus tal relação resta mal sucedida. Toda a tripulação da nave, com a exceção do capitão Janek (Idris Elba, que infelizmente possui poucos momentos na trama) e o androide David, (interpretado por Michael Fassbender) não conseguem criar empatia com o espectador. Infelizmente o excelente elenco, contando com a forte presença de Charlize Theron por exemplo, é sub-aproveitado por um roteiro raso e com personagens mal explorados.

    David é de longe o maior destaque do filme, evidenciando cada vez mais a excelência na atuação de Fassbender, que tem feito uma excelente carreira nos cinemas. Nesse filme, nos proporciona uma atuação a níveis robóticos. Seu destaque se dá também ao inserir em diversos momentos do filme a discussão sobre a consciência robótica. Assim como temos os seres humanos contrapondo às figuras dos “Engenheiros”, temos os androides contrapondo aos seres humanos, pois foram criados por estes. Em cenas diversas, o espectador se questiona até que ponto o robô estava obedecendo às ordens de seus chefes e até que ponto ele conseguia manipular as pessoas a sua volta com o intuito de atingir suas próprias vontades.

    A qualidade gráfica de “Prometheus” é excepcional. A filmagem inteiramente em 3D mesclada com os efeitos especiais bem desenvolvidos deram como resultado imagens que impressionam, resultado este atingido anteriormente em filmes como Avatar (de James Cameron) e A Invenção de Hugo Cabret (de Martin Scorsese). Com certeza um dos grandes pontos altos por apresentar as capacidades impressionantes da tecnologia 3D, ao contrário dos péssimos exemplos que encontramos nos cinemas, os quais infelizmente ainda são maioria do catálogo.

    Enfim, por mais que tenha tido uma série de problemas de narrativa que acabaram incomodando muitas pessoas uma certeza que temos é que o filme conseguiu criar questionamentos e teorizações frente a uma comunidade de fãs de ficção científica e, principalmente, para os fãs da franquia Alien. Várias e várias especulações são feitas diariamente em fóruns e artigos sobre as relações com o universo de Alien e, inclusive, sobre toda a simbologia que o filme carrega. No fim das contas, Ridley Scott conseguiu o sucesso e isso é um mérito para o filme.

    “Prometheus” deve ser assistido sem a pretensão de ser uma revolução nos filmes de ficção cietífica. Para as pessoas que gostam de “nitpicking” (ou ficar “procurando pêlo em ovo”, em outras palavras),  é perfeito.  Com certeza vão se divertir muito olhando as mil referências aos antigos concept arts de H.R. Giger, ao propósito de criação do clássico Alien que conhecemos, de quem são os misteriosos Space Jockeys, citações bíblicas (O nome da Lua do filme é LV-223, depois deem uma olhada em Levítico 22:3 para entenderem do que estou falando) e, inclusive, referências a Jesus Cristo que possivelmente foi um “Engenheiro”. Enfim, Prometheus é o suficiente para valer a pena o ingresso do cinema e uma diversão despretensiosa.

    Texto de autoria de Pedro Lobato.

    – Texto de autoria de Pedro Lobato.

  • Crítica | Shame

    Crítica | Shame

    O mundo de Brandon Sullivan (Michael Fassbender, espetacular) é vazio. Sem cores e esmaecido. Ele acorda, pega o metrô, trabalha, volta para casa e vai a bares à noite. Cada uma dessas ações, entretanto, é pontuada inteiramente por um fator: sexo. O personagem – protagonista de Shame, novo filme do cineasta Steve McQueen – possui um distúrbio que os psicanalistas atualmente classificam como hipersexualidade ou transtorno hipersexual.

    Por conta disso, Brandon é um sujeito, já a beira dos 40 anos, que se entope com pornografia, sexo virtual, relações com prostitutas e casos de apenas uma noite. Partindo de uma análise superficial, poderíamos questionar qual o problema em se gostar tanto de sexo.

    E Esse é um dos pontos fundamentais abordados pelo filme.

    Brandon não gosta de sexo. É obsecado por ele.

    Torna-se tão cego por isso que não consegue perceber que o mundo ao seu redor simplesmente não existe. Trabalha de forma burocrática, é incapaz de se relacionar ou se apaixonar por qualquer pessoa ou coisa. Brandon, na verdade, está doente.

    Ao longo do filme, é possível notar vários sinais do quão isolado e imerso em seu vício ele se tornou. O computador que usa no trabalho está repleto de pornografia – o que lhe rende uma advertência de seu chefe. Costuma se masturbar no próprio banheiro do local onde trabalha e também em casa. Passa boa parte do dia tendo encontros com prostitutas e se masturbando diante de bate-papos na internet. Isso sem falar na quantidade colossal de revistas pornô que guarda nos armários de casa.

    Antes de tudo, nada de puritanismos. Qualquer uma das atividades descritas acima é perfeitamente aceitável e normal. O problema é quando as mesmas se tornam uma obsessão e único ponto focal de uma vida inteira.

    E é justamente o que acontece com Brandon, que parece estar alheio – ou mesmo se está consciente parece não se importar – com os problemas que isso lhe causa. No entanto, dois fatos primordiais farão com que ele abra os olhos para essa realidade.

    O primeiro é a chegada de sua irmã, Sissy (Carrey Mulligan, ótima), que passará a morar com ele. Mesmo perdida e emocionalmente instável, ela consegue ter uma maior ligação com se lado emocional. E tenta transferir essa conexão para o irmão, que a rejeita de forma agressiva. Ao negar Sissy, Brando na verdade nega suas emoções. A barreira emocional criada por ele por meio da devoção ao seu vício em sexo não permite qualquer tipo de sentimento.

    Num dado momento, ele assiste a irmã – que é cantora – se apresentar num bar sofisticado em Manhattan. Ela canta uma versão lenta e melancólica de “New Yor, New York”. As aspirações da letra, as figuras evocadas por seus versos e a interpretação emocional fazem com que uma lágrima caia de seu rosto. Raro momento de concessão às emoções.

    Posteriormente, quando a própria irmã cede a uma relação de uma noite com uma pessoa próxima ao irmão, percebemos a tensão sexual que existe entre Brandon e Sissy.

    O outro fator fundamental da trama está no quase relacionamento que ele mantém com a colega de trabalho Marianne (Nicole Beharie, em boa interpretação). A aproximação dela será o grande ponto de inflexão do filme.

    Durante uma cena num restaurante – que até provoca alguns risos involuntários – vemos que Brandon é absolutamente avesso a uma relação mais séria. Justamente o contrário do que Marianne deseja.

    Surge um impasse.

    Mesmo assim, ambos sentem-se atraídos um pelo outro. Fatalmente partem para consumar o ato. E é justamente o que acontece nesse trecho que vai jogar a trama numa direção mais aguda. O predador sexual – diante de uma mulher que demonstra ter a capacidade de expressar sentimentos verdadeiros por ele – falha em seu próprio campo de batalha.

    O que se segue é uma sessão de catarse do protagonista em busca de liberação sexual sem limites. Isso o leva a ser espancado por um namorado ofendido, passar parte da madrugada numa boate gay e terminar a madrugada num ménage com desconhecidas. Tudo isso quase ao preço da perda de uma pessoa especial.

    O final do personagem é aberto. Ele terá aprendido sua lição? Não saberemos. Para ilustrar essa incerteza, o diretor usa no fim uma situação explorada logo no início do filme, no metrô.

    Steve McQueen é primoroso ao retratar o estado de vazio emocional e existencial experimentado pelo personagem. Sua casa, seu trabalho. Todos os ambientes, enfim, são retratados com uma fotografia fria e inóspita. Não há espaço para emoções no mundo de Brandon.

    Nas cenas de casa, há uma predominância de tons brancos e cinzas. O trabalho e os bares frequentados pelo personagem são dominados por tonalidades de cinza e também por sombras. O único momento no qual outra cor – o amarelo quente – prevalece é justamente durante o ménage, quando o protagonista está em seu auge, colocando suas frustrações para fora.

    Quanto ao tempo, o roteiro é direto. Não há idas e vindas na história.

    As tomadas são longas. O diretor se demora em várias delas, registrando com cuidado as expressões faciais e corporais dos atores. Há uma exploração consciente da horizontalidade da tela.

    Aliás, para retratar o distúrbio psicológico do protagonista, em vários momentos McQueen coloca a figura de Fassbender exatamente no canto da tela, o que transmite uma sensação de falta de adequação e isolamento em relação ao mundo que o cerca.

    Num dado momento de uma das viagens do metrô, entretanto, é possível ver que o diretor se mostra otimista com relação ao futuro de Brandon e também com um possível controle de sua compulsão.

    Atrás dele, numa das paredes do trem, há uma quadro com a frase “Improving. Don’t stop”. Traduzindo: “Melhorando. Não pare”. Será?

    Jamais saberemos.

    Texto de autoria de Carlos Brito.

    Ouça nosso podcast sobre Steve McQueen.