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  • Crítica | X-Men 2

    Crítica | X-Men 2

    O início de X-Men 2 é eletrizante, e repete o monólogo que Xavier proferiu em X-Men: O Filme levemente modificado, apontando para as estrelas, mostrando que a ambição do filme mudou, assim como prestígio de Bryan Singer. A trama de fato começa na Casa Branca com o presidente dos EUA correndo perigo, ao ser facilmente invadido por um mutante. O Noturno de Alan Cumming é introduzido de maneira selvagem, agressiva e uma violência demoníaca, que combina com sua aparência, magnificada pela música repleta de elementos góticos. Em cinco minutos, Singer demonstra o que poderia ter sido feito em seu primeiro filme, caso tivesse mais dinheiro, e ainda faz a cena de abertura que melhor traduz o heroísmo e o escapismo dos quadrinhos até hoje.

    X-Men 2 não demora a mostrar seu protagonista, Wolverine (Hugh Jackman), achando o Lago Alkali, o lugar que deveria mostrar um pouco de sua origem. Também não há demora em apresentar os outros mutantes, mas claramente a idade pesa sobre Famke Janssen, que está claramente com idade demais para aparentar uma mulher de vinte e poucos anos, mas seu desempenho dramático surpreende. Singer e seus roteiristas eram mestres em por elementos a serem evoluídos, ao passo que não trabalhavam bem com sutilezas.

    O Xavier de Patrick Stewart é mais atuante, ele aparece em ação fora da mansão, e mesmo ao cometer atos antiéticos – quando manipula os pensamentos de pessoas inocentes que viram os seus alunos em ação – há um cuidado grande em mostra-lo como um grande mentor e ideal a ser seguido, ainda que algumas de suas ações sejam discutíveis.

    O roteiro tem bons momentos ao associar a origem de Logan, não resolvida em Alkali com o ataque na Casa Branca. Engraçado que Ororo/Tempestade (Halle Berry) deve uma certa submissão a Jean, e isso pouco se nota de tão sutil que é a cena de encontro com Kurt. Mesmo diante de clichês, como o fracasso com antigos alunos, o filme lida melhor com a carga dramática mais adulta, a exemplo da cena na casa dos Drake onde Bobby (Shawn Ashmore ) tem de ratificar que não escolheu nascer diferente, onde se resume bem a ideia do preconceito embutido na sociedade comum. Outra parte bem trabalhada se dá na cena da invasão da Mansão Xavier, que ocorre com pouco mais de 30 minutos de exibição, sendo esse o momento onde Wolverine pode ser o assassino sangue frio das HQs clássicas, escondendo o sangue nos corredores escuros das instalações.

    A figura de William Stryker (Bryan Cox) como vilão mistura elementos do chefe do projeto Arma X, que injetou adamantium em Wolverine com o personagem homônimo dos quadrinhos, que está em Deus Ama O Homem Mata, um pregador evangélico louco e intolerante. Ele usa os poderes de seu filho para seu próprio anseio maligno. Outro momento interessante e depois reutilizado em Logan, é a pressa em salvar o Professor X de se tornar uma arma de destruição em massa, referenciando ainda que de leve a famigerada saga Massacre.

    Claramente, Singer queria lidar com a Fênix nos filmes seguintes, pois há uma bela evolução de Jean Grey como personagem. Ela que antes só movimentava seringas com a mente agora é capaz de deter mísseis. A aproximação de Magneto com os alunos de Xavier faz uma bela referência as fases que o mestre do magnetismo se bandeou para o lado dos mocinhos, ainda que aqui fique bem claro que ele só se movimenta por interesse próprio. A união dessas forças gera bons momentos, como a cooperação em equipe bem coordenada por Singer, o brilho de Rebecca Romijin como espiã e alívio cômico (sua personalidade impressiona), e claro, as batalhas entre o casal Summers e os detentores do adamantium. O filme não é perfeito, existem algumas conversas complicadas, como a piegas fala entre Noturno e Mística, em que o rapaz a indaga sobre esconder a própria aparência. Esse ponto encontraria eco em X-Men: Primeira Classe, seja nos momentos bregas de demonstração dos poderes dos mutantes ou no clichê de orgulho mutante que Jennifer Lawrence profere.

    A modernização do mito de Frankenstein de Mary Shelley beira a perfeição na relação parental entre William e Jason funcionam como condutores do mal, um maquiavélico e outro tolamente manipulado pelo ideal de um fanático, e o resultado final não poderia ser mais agressivo, em especial na vendetta que Magneto arquiteta rapidamente, demonstrando seu enorme poder mutante, rivalizando ele com sua capacidade intelectual e tenacidade. A forma como os heróis corrigem esses rumos soa um pouco apressada, mas conversa muitíssimo bem com o cânone dos quadrinhos, resultando num belíssimo filme de equipe onde o protagonismo é mais balanceado, mesmo que Jackman tenha muito mais brilho. Janssen é soberba quando exigida, em melhor forma até que Stewart, e seu sacrifício no final faz o ate então inexpressivo James Marsden brilhar. A direção de atores de Singer é exigida e tem muito êxito, exceção a Halle Berry, mais uma vez sub aproveitada.

    Singer claramente queria fechar a trilogia, mas se envolveu em Superman: O Retorno, e a Fox optou por não esperá-lo. Jamais saberemos quais eram seus planos à época para o terceiro filme, ainda que ele tenha retornado a franquia como produtor em Primeira Classe e diretor em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido e X-Men: Apocalipse. X-Men 2 entrou para história como um dos melhores filmes de quadrinhos, sendo talvez o melhor no quesito ação, contendo um bom trabalho de equipe, oposição aos heróis carismática e bem representada, sacrifícios e um belo gancho para futuras obras, que jamais seriam tão bem urdidas e construídas quanto essa, mesmo com os remendos no reboot da saga anos depois.

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  • Review | The Following – 2ª Temporada

    Review | The Following – 2ª Temporada

    the-following-2a-temporadaEm um extra que acompanha a segunda temporada de The Following, lançado somente em DVD no país, assistimos ao painel da série da Comic Con, famosa convenção realizada em San Diego, Califórnia. O autor Kevin Williason fala com empolgação sobre o segundo ano da série e a inevitável expansão dos argumentos iniciais com maior profundidade nas personagens centrais.

    A afirmação é certeira no quesito modificação estrutural de sua narrativa. O segundo ano da série realiza um salto temporal de um ano após o desenlace visto na primeira temporada. Ryan Hardy (Kevin Bacon) está mais saudável do que sua postura entorpecida do primeiro ano, quando um assassinato ritualístico em um metro, realizado à memória de Joe Carroll, o coloca de novo na paranoia pelo serial killer.

    Ao lado de Caroll, surge outro vilão e os desdobramentos dos argumentos explorados anteriormente. A adoração pelo serial killer é tamanha a ponto de surgir um novo grupo de apoio. Diferentemente de sua seita, o grupo forma uma família real. Embora Caroll reunisse seus súditos de maneira familiar, Lili Gray, de fato, compõe uma família assassina, adotando órfãos desajustados e com potencial assassino.

    A estrutura narrativa mantém a vertente policial, porém voltada ao divertimento e ao uso excessivo de reviravoltas. A criação de uma personagem tão combativa como Caroll é interessante mas inverossímil, diminuindo a potência destruidora do assassino serial que, como o público nota desde a publicidade desta temporada, não só está vivo após sua simulada morte como desenvolveu um plano mirabolante para corroborar seu falecimento e viver no interior sem ser reconhecido.

    Tentando sobreviver em um mundo que o considera morto, Caroll deixa a persona de assassino serial de lado para se revelar um psicopata além de seu método inicial. A configuração romântica dos assassinatos de Poe é deixada de lado ao compreender que sua missão era pouca para seu gigantesco carisma. A religião entra em cena como um argumento básico para levá-lo a liderança de uma seita religiosa, um grupo pré-disposto a aceitar um líder que conduza ações ideológicas.

    Ao mesmo tempo que a série concerta problemas do ano anterior, melhorando a relação entre personagem, ela desenvolve outras situações críticas tão mal executadas como estas. Os erros e acertos se equilibram devido ao conflito maior, ainda centrado na perseguição de mocinho e bandido, porém a exploração da religiosidade beira a falta de criatividade temática. Ademais o grupo familiar de Gray é mais coeso e com maior base psicológica do que Caroll.

    O renascimento da personagem é, por si só, um clichê bobo que Williason realizou com competência em seus filmes de terror mas que, no gênero policial, é patético. Mais ousado seria explorar o séquito de Joe melhorando as falhas de seu plano em contraposição ao grupo de Gray. A série amplifica sua violência e destaca melhor os personagens centrais sem a visão maniqueísta de bem e mal, porém, para isso, desenvolve personagens de apoio para Hardy, como uma sobrinha formada na academia, além do suporte a Mike Weston auxiliando a credibilidade à caçada dos assassinos.

    Como na temporada anterior, o segundo ano é formado apenas por 16 episódios, um pedido de Kevin Bacon para não ficar longe da esposa Kyra Sedwick, a qual, na época, gravava a bem-sucedida The Closer. Talvez por um motivo um tanto egoísta, a produção de 16 episódios deu maior coesão para esta temporada que, mesmo entre erros e acertos, desenvolve uma boa progressão de expectativa e encerra mais um ciclo com um saldo mais positivo do que o ano anterior.

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  • Crítica | X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

    Crítica | X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido

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    A carreira de Bryan Singer se aproximava perigosamente da de seu contemporâneo Peter Jackson. Ambos tiveram um começo bom, com primeiros filmes de sucesso relativo, e que depois encabeçaram franquias de milhares de fãs, ainda que em X-Men, Singer dispusesse-se de muito (mas MUITO) menos orçamento do que Jackson angariou na trilogia O Senhor dos Anéis. Após ambos saírem de sua zona de conforto, insucessos vieram, já que King Kong, Um Olhar no Paraíso, Operação Valquíria e Jack, o Caçador de Gigantes não foram produções ruins necessariamente, mas ficaram muito aquém das expectativas dos estúdios. Em comum entre os dois estaria o retorno às franquias que os projetaram ao estrelato, mas diferentemente de seu igual, Singer logrou êxito ao falar dos seus conhecidos personagens, até porque sua vida pessoal o credencia a falar de excluídos. A segregação que sofreu por ser judeu e homossexual certamente é semelhante ao sofrimento mostrado em tela com a raça de homo superior caçada em 2023.

    O núcleo dos personagens “veteranos” é secundário, ainda que seja esta realidade a que origina o plot principal, pois como visto na publicação de Claremont e Byrne, o futuro dos mutantes e de seus simpatizantes é sombrio, com muitas referências visuais a Exterminador do Futuro de James Cameron  que por sua vez jamais assumiu a influência da história em sua obra. Kitty Pryde, personagem de Ellen Page, lidera um dos poucos grupos de resistência, e, por meio de uma mutação secundária (estigma adotado nas revistas X nos idos dos anos 2000), consegue transportar para um passado recente a consciência dos outros mutantes ao seu corpo. A Ninfa (ou Lince Negra), Robert Drake, o Homem de Gelo (Shawn Ashmore), e outros mutantes, vivem a fugir dos Sentinelas, até que recebem uma visita do que sobrou dos X-Men, Xavier, Magneto, Tempestade (Halle Berry) e, claro, Wolverine, interpretado por Hugh Jackman. O plano em conjunto é retornar ao passado através de Xavier para que este impeça Mística (Jennifer Lawrence) de assassinar Bolívar Trask, criador dos robôs caçadores. A saída do roteiro foi deveras inteligente, uma vez que a trama de Robert Kelly já havia sido descartada pelo próprio diretor, em 2000.

    Uma grande fonte de reclamações dos fãs relaciona-se à cronologia da franquia nos cinemas. Para todos os efeitos, o trabalho feito por Mathew Vaughn é sim um reboot que obviamente leva em consideração alguns pontos da história dos filmes de Singer. A Casa das Ideias sempre menciona que os quadrinhos Dias de Um Futuro Esquecido faz parte de uma realidade alternativa. Tais elementos podem ser encarados como problemas, mas para quem está acostumado a consumir quadrinhos mensais e tem de engolir novos recomeços a cada cinco anos, e claro, com conteúdos muito mais incongruentes, as concepções dentro do filme são de fácil digestão, até porque o foco maior é a continuação da trama inciada nos anos 60. Os dois grupos de mutantes liderados por Charles Xavier (James McAvoy) e Erik Lensher (Michael Fassbender) foram dissolvidos, e as causas dos eventos, muito ligadas ao aparentemente contido Bolívar Trask, são aos poucos mostradas em tela. Protagonizado pelo ótimo Peter Dinklage, Trask é um cientista que aparentemente busca a sobrevivência dos humanos, mas que impinge a muitos mutantes experimentos semelhantes aos que os nazistas realizavam com judeus. Obviamente, as experiências genéticas feitas por Trask causam ódio em Mística, que via seus iguais serem exterminados, o que a faz se transformar em uma autêntica máquina de matar suas cenas de ação são de um primor visual ímpar.

    O foco emocional é todo voltado à crise existencial de Xavier nos anos 70. O Professor X volta a andar graças a uma droga criada por seu então lacaio Hank McCoy (Nicholas Hoult), substância essa que reprime os poderes do Doutor, assim como seu ideal de querer mudar o status quo por meio do pacifismo. Ele é mostrado como um homem deprimido, resignado e desesperançoso, uma nuance pouco explorada nos quadrinhos, mas plenamente condizente com a época, visto que os anos 70 foram de muita decepção para os americanos, basta lembrarmos do Vietnã. Xavier quer interromper seus poderes por não aguentar mais ouvir em sua mente as vozes e as lamúrias das pessoas, além, é claro, de viver da culpa por ter perdido seus alunos e companheiros em lutas anteriores.

    Já Magneto também estava de mãos atadas, encarcerado, metros abaixo do Pentágono, acusado de um crime terrorista que não havia cometido. Sua fúria aumentou mais, a despeito até de sua postura mais calma quando reintroduzido. A ideologia presente nos primeiros discursos de Malcolm X torna-se ainda mais flagrante quando são analisadas as ações de seu passado em comparação com as de sua contraparte do futuro. Mas ambas as encarnações de Erik demonstram um poder magnânimo, algo que Singer ainda não podia mostrar antes nos filmes anteriores, talvez pela falta de verbas.

    Mesmo com tudo isso, os melhores momentos de Magneto são as discussões que envolvem Raven, Charles e ele, formando um triângulo amoroso/ideológico de cunho emocional e tocante, visto que todos se sentem traídos, até havendo razão em se sentirem assim. Dos embates o mais emocionante certamente é o primeiro encontro dos dois antigos amigos, precedendo uma sequência de ação das mais engraçadas, que, mesmo com o alívio cômico de Mercúrio (Evan Peters) — uma participação ótima —, consegue manter o tom emotivo e simbólico do que seria aquela amizade milenar e do quão ambos valorizariam um ao outro pela causa mutante.

    Pela primeira vez, em todos os filmes dos mutantes, Wolverine não é o protagonista. Porém, sua importância é obviamente gigante, fazendo a ponte para o encontro dos protagonistas, uma escada na maior parte de sua inclusões como personagem. Tal escolha não impediu que Singer registrasse o Carcaju expondo suas nádegas, dando vazão a (mais) fantasias de leitores talvez a questão esteja no contrato de Jackman com a Fox. Iniciada em X-Men – Primeira Classe, a pecha de transformar os filmes da franquia X-Men em películas em que se divide o protagonismo é cada vez mais solidificada, assim como o enfoque da questão social, deixada de lado em X-3 e nos spin-offs. Os assuntos mais interessantes retratados nas grandes histórias de mutantes são estes, o paralelo com as ideologias, a discussão a respeito do preconceito e até aonde esta guerra pode ir.

  • Crítica | X-Men: Dias de um Futuro Esquecido

    Crítica | X-Men: Dias de um Futuro Esquecido

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    Cronologia é algo divertido, mas complicado. Acompanhar os mesmos personagens ao longo de várias histórias e ver acontecimentos com consequências futuras são muito legais, mas os problemas não demoram a surgir. Além da necessidade de tudo estar amarrado e fazer sentido, o vício dos autores em revisitar o passado, recontar origens, adicionar mais detalhes ao background, invariavelmente leva aos famigerados furos da história. Nesse sentido, os X-Men são a franquia cinematográfica que melhor representa a mídia original, os quadrinhos. O mais recente longa dos mutantes chegou com a ambiciosa proposta de conectar a trilogia original, os filmes solo de Wolverine e o reboot não assumido X-Men: Primeira Classe. Se teve sucesso ou não, depende de como se avalia.

    A história não pode ser chamada de adaptação, pois é apenas inspirada livremente na célebre hq oitentista Dias de um Futuro Esquecido, de Chris Claremont e John Byrne. Num futuro próximo, o mundo foi devastado pelos Sentinelas, robôs criados para caçar mutantes mas que acabaram se voltando contra toda a humanidade. Revemos algumas figuras da trilogia num grupo comandado por Xavier e Magneto que basicamente foge e se esconde para sobreviver. A última tentativa desesperada é um plano de enviar a consciência de  para o corpo dele em 1973, data em que Mística assassinou Bolívar Trask, o criador dos Sentinelas, e foi capturada. O DNA da mutante foi a chave para os robôs se tornarem invencíveis. Logan precisará reunir as versões mais jovens de Erik e Charles (X-Men – Primeira Classe) para ter alguma chance de mudar o passado e salvar o futuro.

    Havia a expectativa de que Dias de um Futuro Esquecido consertasse ou ao menos tentasse explicar as discrepâncias entre os capítulos anteriores. Nesse aspecto, não se pode negar que o filme falhou miseravelmente: não só deixou de explicar os furos, como ainda adicionou mais alguns. Kitty Pride (Ellen Page) surge com outro poder além de se tornar intangível: mandar a consciência dos outros de volta no tempo (como raios alguém descobre ter um poder desses?). Muito melhor seria apresentar isso como uma evolução dos poderes do próprio Xavier, ou usar o personagem Forge construindo uma máquina. Charles recuperou seu corpo explodido em X-Men – O Confronto Final, Logan recuperou as garras de adamantium perdidas em Wolverine – Imortal, e sem nenhuma menção a esse respeito. A impressão é de que o cenário apresentado era um futuro da linha temporal de Primeira Classe, que POR ACASO continha elementos que lembravam a trilogia original, confirmando assim duas realidades distintas – algo que os produtores nunca admitiram.

    Superada essa falha, o núcleo futurista funciona muito bem. O peso dramático de um mundo pós-apocalítico é sentido perfeitamente. Estes X-Men agem como uma experiente unidade paramilitar acostumada a táticas de guerrilha. As cenas de combate contra os Sentinelas são ótimas, violentas e fazem bom uso dos poderes de todos os mutantes envolvidos. Além dos velhos conhecidos Kitty, Tempestade, Homem de Gelo e Colossus (pra variar, mudo como uma estátua), vemos pela primeira vez no cinema Bishop, Apache, Blink e o brasileiro com cara de mexicano Mancha Solar. Além disso, é sempre ótimo ver atores do calibre de Ian McKellen e Patrick Stewart, ainda que rapidamente.

    Pois a maior parte do história se desenrola no passado, confirmando que o filme é, acima de tudo, uma continuação de Primeira Classe. E o salto de 10 anos se mostra brutal: Xavier caiu numa depressão extrema, fechou a escola e debandou os X-Men, dos quais vários morreram, vítimas das experiências de Trask (Peter Dinklage, discreto e eficiente). Apenas o Fera permanece ao seu lado. Magneto foi aprisionado após seu envolvimento na morte de JFK. Mística atua como uma terrorista solitária lutando pela causa mutante. Logan cai no meio disso, e, com toda a sua finesse, terá que reuni-los. Aqui entra o gancho para a divertida e pontual participação de Mercúrio, com Evan Peters carismático como o herói nunca conseguiu ser nas hqs. Nada de muito original e revolucionário ao retratar a supervelocidade, mas as duas percepções (a do próprio velocista e a dos outros) foram mostradas de forma muito interessante.

    Numa história com tantos personagens, era fundamental ter foco em alguns e (infelizmente) sacrificar outros. Uma pena que o Fera (Nicholas Hoult) seja apenas um assistente/guarda-costas/capanga do bem de Charles, mas o roteiro de Simon Kinberg, Jane Goldman e Matthew Vaughn alcança um louvável equilíbrio ao centralizar as atenções em quatro mutantes. Hugh Jackman naturalmente tem destaque como o fio condutor da trama, mas não é nem de longe um protagonista absoluto – o que não deixa de ser uma surpresa; Jennifer Lawrence tem a chance de aparecer bastante de cara limpa (o que não é surpresa nenhuma) numa sólida atuação, aproveitando a importância colocada em sua personagem; Michael Fassbender tem uma participação sensivelmente diminuída em relação ao filme anterior, que era quase um “Origens: Magneto”. Mas o cara é tão bom que não precisaria nem de cinco minutos para mostrar isso. Sempre na linha entre vilão e anti-herói, Erik é aquele que não faz concessões, segue firme em sua convicção e mantém alianças de acordo com a conveniência.

    Mas o coração da história é inegavelmente Charles Xavier. Pela primeira vez na franquia, os holofotes se concentram nele, e o resultado é sensacional. Quase sempre retratado como uma rocha inabalável, dessa vez ele atravessa uma crise de fé, e temos a noção do quanto isso afeta os mutantes e por consequência o mundo inteiro. Não é fácil ser bom, honesto, herói e líder, e acreditar na proposta otimista (e ingênua) da coexistência pacífica entre humanos e mutantes e ainda assim continuar lutando por ela, especialmente num mundo onde isso parece impossível. Outro ponto a ser aplaudido é a ausência de maniqueísmo no filme: as retaliações de lado a lado parecem inevitáveis e justificáveis; todos estão errados. E cabe a Charles manter o fardo de ser o certo, redimir Mística, perdoar Magneto e salvar os humanos que querem aniquilar sua raça. James McAvoy faz um trabalho espetacular.

    Os méritos desse acerto devem ser dados também a Bryan Singer. Ele mostra mais uma vez o quanto entende desse universo, e consegue enxergar aquilo que realmente importa nos X-Men. Não uma fidelidade total a uniformes ou a altura de personagens (inacreditável a essa altura do campeonato ainda existir quem questione o Wolverine de Jackman), mas conteúdo moral, social e filosófico que sempre foram o cerne das melhores histórias dos mutantes. Dias de um Futuro Esquecido é o tipo de filme imperfeito, mas com acertos tão gratificantes que os erros merecem ser perdoados. Como o próprio final indica, a postura do espectador deve ser curtir a homenagem à trilogia original, mas esquecê-la. Apreciar as próximas aventuras sem esquentar tanto a cabeça com a cronologia, algo que os leitores de quadrinhos já aprenderam (ou deveriam ter aprendido) há tempos.

    Texto de autoria de Jackson Good.