Tag: Famke Janssen

  • Crítica | 007 Contra GoldenEye

    Crítica | 007 Contra GoldenEye

    007 Contra GoldenEye007 Contra GoldenEye é o primeiro filme de uma nova era do personagem — agora interpretado por Pierce Brosnan —, rompendo com o estilo anteriormente estabelecido por Timothy Dalton e inaugurando uma versão mais leve, mas também repleta de ação. A obra de Martin Cambpbell é marcante não só pela troca de ator  no papel do agente secreto, mas também pela abordagem pós Guerra Fria que ainda tem de lidar com essas questões novas.

    Na trama, o agente tem que impedir que o controle do poderoso satélite GoldenEye caia nas mãos dos inimigos britânicos, pois consegue causar pane em qualquer equipamento eletrônico do mundo. Os primeiros momentos do filme remontam ao conflito ocidental contra os soviéticos em uma base russa. A ação entre o protagonista e seu amigo Alec Trevelyan, o 006 vivido por Sean Bean, estabelece que a obra terá muitos momentos de ação com sequências viscerais que afastam a abordagem debochada da fase de Roger Moore, ainda que a personalidade do Bond de Brosnan tenha algumas similaridades com Moore.

    Essa versão rompe com quase tudo que foi estabelecido anteriormente. Desde a posição do chefe do MI-6, M agora é interpretada por Judi Dench, a Moneypenny vivida por Samantha Bond, restando apenas Desmond Llewelyn como Q, já bem veterano e em vias de se aposentar. Brosnan foi cogitado para substituir Moore após ter feito a série Remington Steele, mas teve que aguardar uma fase com Dalton à frente do personagem. Isso de certa forma foi uma boa escolha, pois ele adquiriu experiência com filmes de ação e amadureceu sua versão de herói de ação.

    Visualmente há uma grande diferença para os outros filmes, aqui o uso de efeitos especiais mais caros começa a ser utilizado, e marcas antigas como o caráter galanteador do personagem retornam, além de um claro cinismo por parte dos personagens periféricos. Se a Guerra Fria era repleta de maniqueísmos, aqui temos um roteiro que transita por lugares não tão comuns ao personagem, principalmente por conta do personagem de Bean que retorna nove anos após sua “morte”, como um anti-herói vingativo que usa a máscara do vilão e pretende discutir a ética do sistema.

    Os outros vilões são bastante peculiares e complicados. Por mais que haja semelhanças de Trevelyan com outros bons personagens como o Raoul Silva, de Javier Bardem, em 007: Operação Skyfall, a motivação é pouco desenvolvida. Outra personagem “estranha” é  Xenia Onatopp, de Famke Janssen, que apresenta um estereótipo complicado ao agir como uma ninfomaníaca e sociopata. Se a intenção era se distanciar do espectro do fantasma da Guerra Fria, não houve sucesso, pois se iguala a mulher russa a uma louca, naturalmente perversa e pervertida, um arquétipo xenófobo e tolo.

    Do pano de fundo, há momentos curiosos como 007 agindo sozinho boa parte do tempo, evitando instalações do MI-6, simulando uma espécie de início de carreira que seria retomada futuramente em 007: Cassino Royale. Os cenários também diferiam das fases Dalton e Moore, até mesmo o carro muda, saindo o famoso Aston Martin pela BMW Z3, obviamente com diversas melhorias, ainda que sub-utilizados.

    O filme perde fôlego ao se aproximar do final e a morte do vilão é baseada no clichê de queda, semelhante ao que aconteceu em Duro de Matar e Batman, fato que reforça a ideia de que James Bond geralmente retrata as manias e tendências culturais de sua época.

    007 Contra GoldenEye é um filme conhecido também por elementos externos ao cinema, especialmente por conta do jogo de tiro em primeira pessoa do console Nintendo 64, que ajudou a revitalizar a marca. Um bom início para Brosnan, que apresentou para o mundo uma versão sedutora do herói e trouxe de volta a Bondmania para uma nova era, ainda que tenha problemas de concepção severos e uma dificuldade de abandonar a exploração dos soviéticos como vilões, mesmo pós queda do Muro de Berlim e dissolução da União Soviética, e esse apego se arrastaria por quase toda a fase do novo intérprete.

  • Crítica | A Rosa Venenosa

    Crítica | A Rosa Venenosa

    Filme de George Gallo, A Rosa Venenosa reúne elementos de um noir moderno ambientado no ano de 1978, apresentando seu protagonista Carson Phillips como um homem de muitos vícios e afeito a luxúrias. O personagem de John Travolta, um investigador particular de Los Angeles, se vê obrigado por um caso a mergulhar em um antigo problema pessoal que logo desemboca em uma trama de assassinatos e eventos estranhos.

    O filme reúne vários dos clichês do noir, protagonista mal encarado, anti-herói e sem perspectivas, que se vê abordado por uma mulher atraente pedindo um favor ao detetive, tudo isso situado em cenários sujos e uma missão envolvendo mágoas do passado repleta de ambiguidades.

    A tentativa de fortalecer a aura de suspense esbarra na falta de sutileza do filme. Gallo apresenta as curvas de suspense de maneira brusca. As atuações não ajudam, ainda que o maior problema claramente seja textual e não dramatúrgico. Os personagens são bidimensionais, fora Carson, o que se agrava pelo fato do elenco reunir nomes como Morgan Freeman, Robert Patrick, Famke Janssen, Brendan Fraser, Peter Stormare etc.

    As cenas de ação são genéricas e os vilões histriônicos, caricatos e nada convincentes. A persona do médico mau que Fraser faz parece uma paródia de vilão de filmes do 007, tom esse que não tem nada haver com o restante da atmosfera de A Rosa Venenosa. A ideia e intenção do filme é ótima, mas a execução é bastante problemática, falta estofo à realização tanto na direção quanto em roteiro, resultando em última análise em mais um filme com elementos do gênero policial que permeiam o horário sabatino do Super Cine na Rede Globo.

  • Crítica | Crime Desorganizado (Made)

    Crítica | Crime Desorganizado (Made)

    É impossível começar a ver Crime Desorganizado e não lembrar do filme anterior da dupla de protagonistas, Jon Favreau e Vince Vaughn em Swingers– Curtindo a Noite, seja cena imediatamente após a abertura, que conta com uma montagem musical guiada por um clássico de Frank Sinatra. Aqui, o diretor e roteirista Favreau vive Bobby Ricigliano, e Vaughn é Ricky Slade, dois trambiqueiros, que são unidos por um laço de amizade e que ganham seu sustento num serviço de obras que simplesmente odeiam, por conta das constantes humilhações que sofrem.

    A outra parte do sustento de ambos vem de trambiques, ou do trabalho da mulher de Bobby, a bela Jessica (Famke Janssen), que trabalha como stripper, e ganha uns trocados fazendo lap dance, fato que bate de frente com a personalidade esquentadinha de seu marido, pois ele é ciumento e não suporta que os clientes toquem nela. A cena que mostra isso é engraçada, pois o expõe um fato óbvo, a mulher  certamente  se safaria sozinha, mas é atrapalhada e agravada a situação exatamente por sua cena patética de ciúmes. O roteiro que Favreau escreve tenta já no início mostrar que Bobby e Ricky não são os personagens de Swingers, mesmo com todas as semelhanças visuais e com a repetição do elenco.

    Bobby recebe uma ordem de seu superior, o empregador que o coloca nos trabalhos de construção civil, Max (Peter Falk), um sujeito poderoso, orgulhoso e que dá as missões que quer para quem lhe presta serviço. Ele pede ao protagonista para ir a Nova York fazer um serviço e ele não quer ir por conta de sua esposa e da filha dele, mas acaba aceitando quando vê a possibilidade de com o dinheiro do trabalho, começar um novo estilo de vida, onde o dinheiro das danças da esposa não são necessários.

    Crime Desorganizado é bem mais engraçado que Swingers, a demonstração do quanto a dupla é inábil, inútil e nada moldada para o crime é engraçada, assim como a tentativa dos dois de viver sobre uma normalidade. Há duas cenas que registram bem como os dois são péssimos no que fazem, a primeira é numa loja de cerâmica, onde Ricky fuma diante de uma criança, fala um monte de besteiras, como se estivesse em um bar quando o cenário é o extremo oposto disso, e a outra é quando ambos brigam ao esperar um contato, que vem a ser uma gangue de motoqueiros, depois de passar vergonha em uma briga que parece a de dois moleques, eles tem de ir de carona agarrados a cintura.

    Por mais cru e imaturo que o roteiro pareça – e sim, tem muitas fragilidades – se nota uma franca evolução por parte de Favreau, e sua direção é bem mais econômica e menos forçada que a de Liman por exemplo. Seu filme é claramente menos pretensioso que Swingers, mostra uma historia cotidiana, de um grupo de bandidos fracassados, não tratando os personagens como se fossem super preciosos, ou dignos de qualquer admiração, ao mesmo tempo que eles tem muita humanidade em cada um de  seus pequenos e grandes atos.

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  • Crítica | X-Men: O Confronto Final

    Crítica | X-Men: O Confronto Final

    O terceiro capítulo da franquia X-Men começa no passado, mostrando duas crianças que faziam parte do quinteto inicial de mutantes treinados por Charles Xavier e Magneto, em uma versão rejuvenescida Patrick Stewart e Ian McKellen terrivelmente animados e artificiais de um modo assustador. Sem saber, Brett Rattner condenaria seu filme e seria mais lembrado por esses erros crassos do que pela boa ação que em alguns momentos apresenta.

    X-Men: O Confronto Final parece a receita de um bolo que não deu certo, apela para uma questão densa em seu início, depois tem momentos de ação bem filmados em uma luta com Sentinelas, mas que não vale de nada, pois ocorria numa simulação dentro da Sala de Perigo – que mais parecia o holodech de Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, série que também tinha Stewart como líder dos heróis – e por mais infame que soe a insinuação de roubo de tecnologia do Capitão Picard para seu grupo de mutantes, certamente é algo menos desequilibrada do que a construção feita no começo deste filme.

    Uma versão de Hank McCoy é apresentada, e coitado de Kelsey Grammer, seu intérprete, que tem que agir como um macaco de circo, que lida com as questões do governo relacionadas aos mutantes, como secretário dessa pasta específica. Se as autoridades agem de modo bizarro, o núcleo escolar também, Scott (James Marsden) não superou o luto, mas Marie (Anna Paquin) não, ela age como uma adolescente em fúria, que involuiu de X-Men 2 para este. Mesmo a líder tática Tempestade é desequilibrada, parecendo mais uma criança, para desgosto de Halle Berry, que acreditava que teria um melhor papel nesse.

    Nada justifica a saída de Noturno do elenco (nem a presença de Fera) ou a participação de Ciclope, basicamente porque Marsden aceitou um papel no Superman: O Retorno de Bryan Singer e teve um conflito de agenda. No caso do primeiro, o motivo oficial dado era que Alan Cumming faria uma pequena participação, mas o processo de maquiagem era caro e demorado demais para utilizar em uma cena tão curta, mas o que mais se falou na época é que o público o confundiria com McCoy. No game oficial do filme, se afirma que Wagner abandonou os X-Men por não querer uma vida tão pouco pacífica quanto a de um X-Man. Se houvessem gasto algumas palavras nisso, certamente faria mais sentido.

    Há outra grave adaptação, os Morlocks são reduzidos a um grupo de mutantes que usam roupas da moda, tatuados e que adora fazer amostras gratuitas de seus poderes. O visual neo punk não combina sequer com Callisto (Dania Ramirez), mas piora demais com o restante. Todo o retorno ao Lago Alkali, onde ocorreu a ação do filme anterior é equivocada, primeiro pelo retorno de Jean, que traz uma Famke Janssem com cabelos maiores e mais bela, com uma crueldade primária e inexplicada. Dito assim esses momentos soam patéticos, mas certamente não chegam nem perto da vergonha alheia que a cena em si provoca no espectador mais atento. É tudo muito mal construído, mal orquestrado e ofende até o bom desempenho da personagem no outro episódio da franquia.

    O terceiro longa da série de mutantes não sabe que história contar, e erra em todos os campos que atua. A ideia da cura mutante deveria ser melhor trabalhada, de preferência por um diretor que não fosse especialista apenas em filmes de ação. Não há profundidade, drama ou qualquer grau de complexidade, apenas simplismo. A ideia do doutor Worthington é tão frágil que nem seu filho acredita nela, e aparentemente não é definitiva, visto a cena do xadrez que envolve Magneto no final, além disso, o máximo que se discute a respeito da controvérsia e da opinião pública mutante é que alguns são a favor e outros contra, nada mais é desenvolvido.

    A redução de personagens inclui até Magneto, que em troca de ter mais capangas capazes de falar frases de efeito, abre mão de sua companheira Mística após salvá-lo. O vilão está longe de ser um personagem bidimensional capaz de abandonar sua antiga e mais fiel amiga à toa. Rattner não parece ter conhecimento disso. Tudo que envolve o retorno dos amigos mutantes a casa da pequena Jean é de fato a parte mais podre desse bolo azedo. O fim do Professor X, a transmutação que faz com que Janssen pareça um boneco zumbi, o acolhimento de Magneto, as falas do Fanático, é tudo muito digno de risos, assim como Wolverine ajoelhado, chorando, consolado por Ororo, tudo pífio de um jeito que é impossível não se irritar.

    Lady Letal, Groxo e Dentes de Sabre são três exemplos de personagens introduzidos nos filmes de mutantes para protagonizar bons momentos de ação, mas cada um deles é bem justificado ao menos, ao contrário da montanha de mutantes vistos aqui. É uma sucessão de equívocos, que faz deste filme uma desconstrução de todo o legado que os filmes anteriores tinham, não havia mesmo como continuar a partir desse ponto e a solução que Matt Vaughn encontrou em X-Men: Primeira Classe foi criativa e inteligente.

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  • Crítica | X-Men 2

    Crítica | X-Men 2

    O início de X-Men 2 é eletrizante, e repete o monólogo que Xavier proferiu em X-Men: O Filme levemente modificado, apontando para as estrelas, mostrando que a ambição do filme mudou, assim como prestígio de Bryan Singer. A trama de fato começa na Casa Branca com o presidente dos EUA correndo perigo, ao ser facilmente invadido por um mutante. O Noturno de Alan Cumming é introduzido de maneira selvagem, agressiva e uma violência demoníaca, que combina com sua aparência, magnificada pela música repleta de elementos góticos. Em cinco minutos, Singer demonstra o que poderia ter sido feito em seu primeiro filme, caso tivesse mais dinheiro, e ainda faz a cena de abertura que melhor traduz o heroísmo e o escapismo dos quadrinhos até hoje.

    X-Men 2 não demora a mostrar seu protagonista, Wolverine (Hugh Jackman), achando o Lago Alkali, o lugar que deveria mostrar um pouco de sua origem. Também não há demora em apresentar os outros mutantes, mas claramente a idade pesa sobre Famke Janssen, que está claramente com idade demais para aparentar uma mulher de vinte e poucos anos, mas seu desempenho dramático surpreende. Singer e seus roteiristas eram mestres em por elementos a serem evoluídos, ao passo que não trabalhavam bem com sutilezas.

    O Xavier de Patrick Stewart é mais atuante, ele aparece em ação fora da mansão, e mesmo ao cometer atos antiéticos – quando manipula os pensamentos de pessoas inocentes que viram os seus alunos em ação – há um cuidado grande em mostra-lo como um grande mentor e ideal a ser seguido, ainda que algumas de suas ações sejam discutíveis.

    O roteiro tem bons momentos ao associar a origem de Logan, não resolvida em Alkali com o ataque na Casa Branca. Engraçado que Ororo/Tempestade (Halle Berry) deve uma certa submissão a Jean, e isso pouco se nota de tão sutil que é a cena de encontro com Kurt. Mesmo diante de clichês, como o fracasso com antigos alunos, o filme lida melhor com a carga dramática mais adulta, a exemplo da cena na casa dos Drake onde Bobby (Shawn Ashmore ) tem de ratificar que não escolheu nascer diferente, onde se resume bem a ideia do preconceito embutido na sociedade comum. Outra parte bem trabalhada se dá na cena da invasão da Mansão Xavier, que ocorre com pouco mais de 30 minutos de exibição, sendo esse o momento onde Wolverine pode ser o assassino sangue frio das HQs clássicas, escondendo o sangue nos corredores escuros das instalações.

    A figura de William Stryker (Bryan Cox) como vilão mistura elementos do chefe do projeto Arma X, que injetou adamantium em Wolverine com o personagem homônimo dos quadrinhos, que está em Deus Ama O Homem Mata, um pregador evangélico louco e intolerante. Ele usa os poderes de seu filho para seu próprio anseio maligno. Outro momento interessante e depois reutilizado em Logan, é a pressa em salvar o Professor X de se tornar uma arma de destruição em massa, referenciando ainda que de leve a famigerada saga Massacre.

    Claramente, Singer queria lidar com a Fênix nos filmes seguintes, pois há uma bela evolução de Jean Grey como personagem. Ela que antes só movimentava seringas com a mente agora é capaz de deter mísseis. A aproximação de Magneto com os alunos de Xavier faz uma bela referência as fases que o mestre do magnetismo se bandeou para o lado dos mocinhos, ainda que aqui fique bem claro que ele só se movimenta por interesse próprio. A união dessas forças gera bons momentos, como a cooperação em equipe bem coordenada por Singer, o brilho de Rebecca Romijin como espiã e alívio cômico (sua personalidade impressiona), e claro, as batalhas entre o casal Summers e os detentores do adamantium. O filme não é perfeito, existem algumas conversas complicadas, como a piegas fala entre Noturno e Mística, em que o rapaz a indaga sobre esconder a própria aparência. Esse ponto encontraria eco em X-Men: Primeira Classe, seja nos momentos bregas de demonstração dos poderes dos mutantes ou no clichê de orgulho mutante que Jennifer Lawrence profere.

    A modernização do mito de Frankenstein de Mary Shelley beira a perfeição na relação parental entre William e Jason funcionam como condutores do mal, um maquiavélico e outro tolamente manipulado pelo ideal de um fanático, e o resultado final não poderia ser mais agressivo, em especial na vendetta que Magneto arquiteta rapidamente, demonstrando seu enorme poder mutante, rivalizando ele com sua capacidade intelectual e tenacidade. A forma como os heróis corrigem esses rumos soa um pouco apressada, mas conversa muitíssimo bem com o cânone dos quadrinhos, resultando num belíssimo filme de equipe onde o protagonismo é mais balanceado, mesmo que Jackman tenha muito mais brilho. Janssen é soberba quando exigida, em melhor forma até que Stewart, e seu sacrifício no final faz o ate então inexpressivo James Marsden brilhar. A direção de atores de Singer é exigida e tem muito êxito, exceção a Halle Berry, mais uma vez sub aproveitada.

    Singer claramente queria fechar a trilogia, mas se envolveu em Superman: O Retorno, e a Fox optou por não esperá-lo. Jamais saberemos quais eram seus planos à época para o terceiro filme, ainda que ele tenha retornado a franquia como produtor em Primeira Classe e diretor em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido e X-Men: Apocalipse. X-Men 2 entrou para história como um dos melhores filmes de quadrinhos, sendo talvez o melhor no quesito ação, contendo um bom trabalho de equipe, oposição aos heróis carismática e bem representada, sacrifícios e um belo gancho para futuras obras, que jamais seriam tão bem urdidas e construídas quanto essa, mesmo com os remendos no reboot da saga anos depois.

    https://www.youtube.com/watch?v=xF9FW5_yDxs

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  • Crítica | X-Men: O Filme

    Crítica | X-Men: O Filme

    O filme que ajudou a inaugurar o exploitation de heróis recentes começa com um monologo, acompanhado de uma abertura em CGI que explora a sinapse cerebral de uma pessoa com gene x. Enquanto emula o início de Clube da Luta, Patrick Stewart empresta sua voz para explicar uma das razões pelos quais ele e os seus são discriminados. Os próximos momentos de X-Men: O Filme de Bryan Singer mostram dois cenários, e a origem de dois mutantes, Erik Lensher e Anna Marie, Magneto e Vampira, e tanto para o vilão quanto para a futura heroína, o mesmo destino, pessoas comuns olhando para eles com olhos vis, claro, em momentos da historia bem distintos, um nos campos de concentração durante o holocausto e outro nos anos 2000.

    A cena imediatamente posterior é pouco sutil, há uma apresentação de Jean Grey (Famke Janssen), no senado, interrompida por Robert Kelly (Bruce Davison), um político que usa sua influência para denegrir os mutante. O conteúdo do debate e da discussão entre os antigos amigos, Erik e Charles Xavier é bem explicito, fruto claramente da falta de investimento da Fox que não contratou um roteirista mais gabaritado e não permitiu que esse filme lançasse mão de obviedades para compor seu quadro. Tal qual foi com Star Wars, não se acreditava no potencial deste. O roteiro de David Hayter (baseado no argumento de Tom DeSanto e Singer) é apressado, com dez minutos a maioria dos personagens clássicos já aparecem e dão o ar de sua graça.

    Hoje, discutir Hugh Jackman no papel de Wolverine parece loucura, mas na época houve muita discussão, pelo fato de Logan ser baixo e Jackman ter pouco menos de dois metro de altura, mas fora toda a artificialidade da apresentação e no cenário que ele usa para conseguir alguns trocados em lutas clandestinas de arena, seu desempenho faz lembrar sim os quadrinhos clássicos de Frank Miller. Essa estranheza gritante até faz sentido, esse é um mundo preconceituoso, e Singer como diretor judeus e homossexual tenta passar o espectador um pouco das sensações que tinha ao perceber como as pessoas comuns o viam. A mão é um pouco pesada, mas a mensagem é passada de maneira inteligente.

    Mesmo Anna Paquin não tendo um desempenho espetacular, a condição de orelha não é totalmente descartável, de todas as caracterizações forçadas, a dela é uma das mais tranquilas, e é difícil não achar no mínimo engraçados alguns pontos, como o esconderijo da irmandade de mutantes, que é estiloso, feito por Magneto com um arquitetura terrível e nada prática- com bolinhas de bater que rodam sem cordas e que caem quando o mestre de magnetismo sai – ou a base dos heróis, com letras X por todo lado, exposição das roupas pretas dos mesmos, e acesso livre para Wolverine. Há também de se lembrar que ainda não havia sido lançado Homem Aranha de Sam Raimi e Batman Begins de Chris Nolan, filmes de herói eram comuns na Dc com Superman 22 anos antes e a recém acabada franquia do Morcego, onde Batman & Robin tinha encerrado mal a saga 3 anos antes. Ha muitas criticas injustas ao que Singer fez, mas esse ajudaria a pavimentar o caminho da Marvel, a partir de 2008 e de todo o campo de super heróis, que resolvia misturar a fantasia com algo mais realista. Mais do que isso, universo Ultimate da Marvel, lançado em 2001 bebia muita da fonte aberta por este filme, retribuindo assim as referências aos quadrinhos invertendo a lógica de inspiração e inspirado.

    É louvável que o ponto de partida do filme já tenha em mente a maioria dos aspectos básicos de revistas de heróis. Mesmo Vampira fazendo as vezes de menina desprotegida que Kitty Pride e Jubileu foram nas HQs, mesmo com Wolverine sofrendo explicações sobre o colégio de super dotados, a gênese da luta dos alunos de Xavier já é totalmente explicada com menos de 30 minutos, e a duração de 104 minutos é bem utilizada. Os momentos de ação também são eletrizantes, a Mistica de Rebecca Romijin é deslumbrante não só por conta das curvas da atriz e da forte maquiagem, o efeito usado na sua transformação é sensacional e o uso que ela faz dos pés é algo seminal também.

    O que se nota é que os conceitos e ideais estavam em estágio embrionário, fazendo assim justificado até o livre uso de arquétipos  nos personagens principais. Por mais que não tenham tanto espaço de tela quando Wolverine, são os dois mentores os melhor apresentados personagens. Enquanto Patrick Stewart inspira confiança, Ian McKellen é carismático e exibicionista. Toda a questão expositiva e exibicionista que apresenta tem sentido só por conta de seu desempenho, mesmo quando da show off de suas ideias, personalidade, poderes e habilidades de seus capangas. Ele precisa justificar isso, pois a exibição não é para o público, e sim para seu opositor politico, no caso, Kelly, que é seu prisioneiro. Essa exposição até conflita com alguns conceitos do filme, e claramente eles não são amadurecidos quanto deveriam, mas ainda assim há uma justificativa.

    O exemplo maior dessa fragilidade se vê na invasão fácil que Mística faz a escola, não há nenhuma segurança nem nesses tempos de paranoia e mesmo que isso já tenha ocorrido nos quadrinhos (aliás, o tempo todo), um filme que pretende ser realista precisa identificar isso como prioridade. Isso, unido a questão dos efeitos especiais serem fracos, faz a obra envelhecer mal. É absurdo como quando Singer era prolifico, não havia dinheiro, e hoje com ele em desgraça pessoal, há investimento em detrimento de péssimas historias.

    Falta em Hayter um trabalho mais acurado na adaptação dos roteiros dos quadrinhos, ainda que haja da parte do diretor claramente uma insistência em alguns momentos mais expositivos, no entanto o senso de urgência é grande, e até bem trabalhado, se não fosse tão acompanhado de conversas óbvias e não trabalhasse tanto mal os papeis de James Marsden e principalmente Halle Berry, que é completamente desperdiçada, certamente haveria maior êxito. Tal qual eram as reclamações de Chris Claremont quando roteirista dos Fabulosos X-Men, Tempestade não tem o destaque que merece, enquanto Logan é o centro das atenções, não surpreenderia se esse longa chama-se Wolverine e seus amigos.

    Alguns pequenos absurdos são bem charmosos, como o fato da pista de pouso e lançamento do jato Pássaro Negro ficar embaixo da quadra de basquete, mas dado a pouca verba, esse acaba mesmo sendo um evento engraçado. Dos aspectos técnicos, a música de Michael Kamen é bem icônica(ele aliás, também compôs a música tema do desenho de 1993), e a fotografia trabalha bem os elementos fantasiosos e o uso indiscriminado de CGI. É realmente uma pena o pouco orçamento, que influiu muito nos últimos atos, que careceram de una luta mais elaborada, sobrando apenas a breve batalha de Mistica e Wolverine como algo realmente bom.

    Cabe a Logan a pecha de heroi em sacrifício, o que vai para o combate final com o vilão e o que tenta resgatar a vida da mocinha, dando a Vampira seu poder, mas para cada um dos quatro X-Men há seu momento de brilho na Batalha de Manhattan, mesmo considerando estranho alguns pontos, como a batalha ser na Estátua da Liberdade. X-Men: O Filme está longe de ser perfeito, mas a despeito de todos os infortúnios que passou, certamente é uma bela obra, pavimenta bem a saga para mais filmes e para se tornar uma franquia, mas é auto contido ao ponto de soar bem como adaptação solo, capturando bem o espírito do grupo de alunos de Xavier, além de ter feito historia nos filmes de ação.

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  • Crítica | João e Maria: Caçadores de Bruxas

    Crítica | João e Maria: Caçadores de Bruxas

    João e Maria 1

    Na última década, o cinema tem explorado muito os contos escritos pelos Irmãos Grimm, responsáveis por Branca de Neve, Cinderela, João e Maria, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel e A Bela Adormecida, todos estes conhecidos por todo o planeta por conta das adaptações infantis de grande sucesso feitas pela Disney. Com o sucesso da Saga Crepúsculo e se aproveitando do fato de que todos os contos citados estão em domínio público, Hollywood resolveu reaproveitar o vasto material, trazendo um conceito um pouco diferente, mostrando ao espectador uma abordagem mais adulta, gótica e com teores de suspense.

    Assim como A Garota da Capa Vermelha (que adapta Chapeuzinho Vermelho), Alice (que adapta Alice No País das Maravilhas), Branca de Neve e o Caçador (que adapta Branca de Neve), Jack: O Caçador de Gigantes (que adapta João e o Pé de Feijão) e Malévola (que adapta A Bela Adormecida), João e Maria: Caçadores de Bruxas adapta, de maneira divertida, João e Maria, dois irmãos que, após passarem por um evento traumático, sendo sequestrados por uma bruxa, decidem dedicar suas vidas a caçá-las.

    Diferente das outras adaptações, a história de João (Jeremy Renner) e Maria (Gemma Arterton) que conhecemos é contada apenas nos 10 minutos iniciais do filme, dando mais espaço para a fase adulta do casal de irmãos e isso, talvez, tenha sido um erro, uma vez que não haveria problema se a infância deles fosse novamente retratada, já que o tempo de fita é muito curto, resultando em apenas um hora e vinte minutos de filme (sem contar os créditos), o que prejudicou, de certa forma, não só o desenvolvimento dos personagens, mas também o da história escrita pelo também diretor Tommy Wirkola .

    O desenrolar da trama é muito simples, sendo que, por conta de sua fama, os irmãos chegam a uma cidade com o intuito de investigar o desaparecimento de crianças, entrando em confronto direto com a bruxa Muriel, vivida por Famke Jansen. Como dito, os personagens são mal desenvolvidos e, dentre todas as bruxas que aparecem no longa, Muriel não chega a ser tão ameaçadora ou poderosa quanto parece. E o destaque, ironicamente, fica para as outras bruxas, todas bem distintas umas das outras, carregadas de maldade, com visuais lindos, porém grotescos e que, ainda assim, necessitam de algum pedaço de madeira para que possam voar. As bruxas siamesas ligadas pelas costas são fantásticas.

    Um outro ponto bastante curioso, mas muito divertido é que João (responsável pelo lado cômico), por conta do consumo excessivo de doces na época em que estava encarcerado pela bruxa, sofre de diabetes e precisa aplicar sempre uma injeção de insulina. Inclusive, João é o único que tem uma trama paralela no longa, ao libertar da fogueira uma mulher do vilarejo que estava sendo acusada de bruxaria.

    O destaque fica para a parte técnica e artística, que desenvolveu um filme com bastante violência visual, sabendo trabalhar bastante a parte fotográfica, trazendo uma cidade medieval que elucida a tristeza pelo sumiço de suas crianças, se utilizando de cores frias, sem vida, numa época do ano que está sempre com o céu nublado, mas de qualquer forma, uma diversão para um dia frio e chuvoso.

    Texto de autoria de David Matheus Nunes.

  • Crítica | Busca Implacável 3

    Crítica | Busca Implacável 3

    Busca Implacável 3 - poster BR

    A busca pelo paradeiro da filha sequestrada em terras estrangeiras foi a trama que transformou o consagrado Liam Neeson em astro de ação. Naturalmente, o sucesso de Busca Implacável gerou uma sequência, inferior e carregada de exageros comuns em sequências que sempre tentam superar a história original. Após o lançamento desta segunda produção, Neeson deu prosseguimento ao seu potencial como ator de ação. Mais um filme sobre o preocupado pai familiar Bryan Mills seria inevitável. E mais: trilogias sempre são aceitas no mercado como uma espécie de obra maior dividida em partes e, dessa vez, Busca Implacável 3 poderia redimir a série da história anterior e apresentar um desfecho, ou mais uma situação limite para as personagens.

    Três anos atrás, o astro afirmava que não havia possibilidade de haver uma nova produção. Por fim, aceitou retornar ao papel com a condição de que nenhum sequestro fizesse parte da trama. Como na primeira história, Kim (Maggie Grace) está prestes a fazer aniversário, e o pai procura um presente para a garota. Desde as experiências traumáticas anteriores, Kim mantém uma relação unida com o pai, ainda que ele sempre veja-a como a pequena garotinha que um dia foi. Porém, adulta, morando na companhia de um namorado, a filha não precisa de proteção. A repetição do aniversário serve como um comparativo entre a passagem de tempo de uma história a outra.

    A mudança de paradigma é um dos pontos principais desta nova trama. Devidamente acusado pela morte de sua ex-esposa, Lenore (Famke Janssen), cabe ao ex-agente do governo fugir da polícia enquanto tenta provar sua inocência. Os papéis invertem-se e, em vez de caçar as pistas, a personagem deve desorientar seus perseguidores.

    A fluidez narrativa da primeira história ganha maior espaçamento temporal. Trata-se do filme mais longo da trilogia, e a trama desenvolve-se sem a urgência das anteriores. Bryan traça seu plano lentamente, primeiro informando a filha e os parceiros de suas intenções para, finalmente, entrar em ação direta com os prováveis responsáveis pelo assassinato de sua esposa. Há mais trama e menos ação, uma mudança que pode incomodar parte do público, mas  que é eficiente para equilibrar o enredo e superar o anterior.

    Neeson continua à vontade em sua nova composição de personagem, aproveitando seu porte físico. As cenas de ação foram realizadas sem nenhum dublê e mantêm as mesmas características das anteriores, com cenas rápidas prezando a melhor forma de neutralizar os inimigos. Há momentos de ação em uma quantidade suficiente para animar o público, e uma épica cena – que popularmente poderia ser definida como uma clássica cena massavéio – a qual somente filmes de ação poderiam nos proporcionar. É absurda, impactante e divertida.

    Mesmo com uma breve carreira na direção, com todos os filmes focados na ação, Oliver Megaton, que também realizou Busca Implacável 2, trabalha com competência estas cenas e entrega uma história que possui bons momentos de tensão e ação. Por tratar-se de uma história sempre atrelada a um ajuste de contas, torna-se evidente que pontas soltas e ameaças de vingança permanecem como futuras possibilidades. Feliz com o trabalho desta segunda continuação, Neeson já declarou que não descarta participar de mais uma sequência, demonstrando o quanto o ator deseja permanecer trilhando esta nova fase de brucutu badass.

  • Crítica | Busca Implacável

    Crítica | Busca Implacável

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    O filme de Pierre Morel (B-13 – 13° Distrito), com guião de Luc Besson e Robert Mark Kamen (roteirista também das franquias Carga Explosiva e Karatê Kid) começa com uma gravação em Super 8, remetendo a um passado um pouco diferente da realidade contemporânea de Bryan Neills (Liam Neeson). Sua atual situação era a de estar empregado num serviço mecânico e com poucas variantes, é rejeitado pela ex-esposa – o que é ainda mais doloroso se tratando de Famke Janssen. Na primeira oportunidade de ação, Bryan demonstra uma habilidade incomum, não antes avisada, e graças a isso encontra uma alternativa para consertar a ausência que exerceu na vida de sua filha, mas obviamente fracassa.

    A super-proteção que Bryan exerce sobre a filha logo é justificada com a viagem a Paris. A menina é raptada e o filme começa de verdade. O aposentado agente é forçado a voltar a ativa, mas ele é frio, calculista e nada enferrujado. Bryan ouve sucessivas vezes a gravação do antagonista desejando-lhe sorte – tudo para absorver a raiva e maximizá-la.

    A direção de Morel aliada a produção de Besson dá a obra o típico rótulo de action movie francês, com muito mais violência que os últimos exemplares americanos do gênero. As cenas de perseguição lembram muito a câmera na mão de Paul Greengrass nos filmes de Jason Bourne.

    -Estou aposentado, não morto! – Bryan não se sente como um homem velho, apesar do seu “retiro planejado”, quando o chamado à aventura vem, ele está pronto, suas habilidades não são somente o aprimoramento físico, mas também, talentos ligados a atuação, seu cuidado com as testemunhas é notório, restringindo o envolvimento destes a somente o necessário.

    A motivação e as habilidades de Bryan são parecidas com as de John Matrix (herói de Comando para Matar), mas muito de seu comportamento lembra o protagonista de Desejo de Matar, Paul Kersey, tanto no intuito de vingança e perseguição de seus inimigos, quanto na improvisação com objetos caseiros.

    Há até uma inteligência no roteiro, ainda que o foco não seja a discussão, o subtexto cita o tráfico de mulheres e a consequente prostituição das vítimas, além de envolvimento de ex-agentes corruptos, a abordagem aos temas não é suavizada, mas o que importa realmente é ver Bryan Neills em ação, invertendo o discurso presente em O Poderoso Chefão, considerando tudo pessoal.

  • Crítica | Wolverine: Imortal

    Crítica | Wolverine: Imortal

    The Wolverine (Wolverine Imortal)

    Após o desastroso X-Men Origens: Wolverine, de 2009, é natural que qualquer fã do mutante mais famoso dos quadrinhos ficasse com um pé atrás a respeito de um novo filme do personagem, mesmo que os primeiros boatos a seu respeito fossem de um projeto com um cineasta de renome, como Darren Aronofsky, que acabou não se concretizando (para alegria de uns e tristeza de outros).

    Porém, as notícias da adaptação do clássico arco de histórias de Chris Claremont e Frank Miller com Wolverine no Japão permitiram novas possibilidades e o diretor James Mangold acabou por entregar uma história que por mais que não envolva totalmente o espectador nem apresente nada de novo em relação ao protagonista, ao menos não ofende o fã dos quadrinhos, de cinema e qualquer pessoa com senso crítico, como a produção anterior.

    Na nova história, Logan (Hugh Jackman) decidiu abandonar de vez a vida de herói e passou a viver sozinho na selva. Deprimido, ele é rastreado pela jovem Yukio (Rila Fukushima), enviada a mando de seu pai adotivo, Yashida (Hal Yamanouchi), que foi salvo por Logan algumas décadas antes, na detonação da bomba atômica em Nagasaki (em uma bela sequência). Yashida a princípio deseja reencontrar Logan para se despedir de seu salvador (já que está em seu leito de morte), mas depois faz uma proposta: transferir seu fator de cura para ele, de forma que Logan possa, enfim, se tornar mortal e levar uma vida como uma pessoa qualquer. Logan recusa o convite, mas acaba infectado por Víbora (Svetlana Khodchenkova), uma mutante especializada em biologia que é também imune a venenos de todo tipo. Fragilizado, Logan precisa encontrar meios para proteger Mariko (Tao Okamoto), a neta de Yashida, que é alvo tanto da máfia japonesa Yakuza quanto de outros oponentes que surgirão no decorrer da história, um tanto quanto cansativa.

    A trama, apesar de simples, é problemática em várias maneiras. Primeiro ao abordar novamente a Yakuza e seus membros tatuados e especialistas em artes marciais. Acredito que esse clichê já foi suficientemente usado em filmes de ação demais nos anos 80 e 90 (aliás, outro clichê é exatamente este: será que todo oriental sabe lutar e manejar armas?). A tentativa de dar ao filme um tom realista ao adotar a máfia como vilã inicial até funcionaria caso isso se sustentasse ao longo da narrativa, mas após sermos apresentados a Víbora e ao Samurai de Prata, toda a sequência com a Yakuza parece perder o sentido. Segundo por adotar corretamente a postura de dar tempo para os personagens se desenvolverem nos dois primeiros atos, mas se esquecer totalmente disso no terceiro, que é inchado com sequências de luta longas demais e, de certa forma, desnecessárias. E terceiro ao transformar radicalmente as relações dos personagens entre si e suas motivações gratuitamente de acordo com cada situação de maneira preguiçosa, a fim de encaixar a trama com um trabalho menor, torcendo para que ninguém perceba a incongruência.

    Exemplos disso não faltam: Shingen é envenenado pela Víbora e sofre alucinadamente, para depois aparecer e lutar de igual para igual com Yukio e vencê-la. Ela que antes havia dito que ele lutava “para o gasto”. Depois de vencê-la, Shingen ainda luta ferozmente contra Wolverine, em uma tentativa de remeter a icônica luta dos quadrinhos, mas extremamente mal-executada, já que, de uma hora para outra, Wolverine solta uma frase de efeito e abandona a luta para, segundos depois, voltar e matar o vilão que nunca deixa nada passar. Harada (Will Yun Lee) também é outro que age em um padrão o filme todo para no final, tomar uma atitude totalmente descabida. Há também a excessiva aparição de Jean Grey (Famke Janssen) nos sonhos de Logan, na função de servir de guia e desnecessariamente explicar a plateia cada momento do filme e o estado psicológico do protagonista.

    Os pontos positivos do filme ficam nas cenas iniciais (como a do urso e o enfrentamento no bar) e nas de ação, durante o enterro de Yashida e, principalmente, no trem, rendendo algumas cenas engraçadas. São cenas que, apesar de faltar violência e sairmos com a impressão de que ninguém foi morto pelas garras de Logan, conseguem transmitir perigo e um senso de urgência, além de serem bem executadas de modo que consigamos acompanhar, passo a passo, onde cada personagem está em determinado momento e o que estão fazendo, o que muitas vezes não é feito por diretores atuais. Porém, a melhor parte do filme ainda é a cena pós-crédito, que liga diretamente o filme ao próximo filme da franquia, chamado “Dias de um Futuro Esquecido”, trazendo personagens e atores conhecidos do público em um momento empolgante.

    Ao final, fica a impressão de que talvez tenha chegado a hora de tanto Marvel quanto Fox (assim como Hugh Jackman) repensarem o que a superexposição do Wolverine pode causar no desgaste do personagem, já que o veremos novamente protagonizado a sequência do ótimo X-Men: Primeira Classe. Encerrar aqui este ciclo do herói a exemplo da trilogia Batman de Nolan/Bale, daria chance a outras pessoas retomarem o herói com outros olhos e revigorar a combalida franquia solo de “Wolverine” nas telonas.

    Texto de autoria de Fábio Z. Candioto.

  • Crítica | Busca Implacável 2

    Crítica | Busca Implacável 2

    Liam Neeson não é um ator novato. Há mais de 30 anos ele dá vida a personagens em Hollywood e o faz com bastante propriedade, diga-se de passagem. Desde 2000, entretanto, podemos dizer que os holofotes tem se virado muito mais brilhantes para ele. No curriculum, o inglês tem o orgulho de ostentar nomes muito poderosos. Nas telonas, nesses últimos 12 anos, o cara já viveu Qui-Gon Jinn, Ra’s Al Ghul e até o soberano do Olimpo, Zeus.

    O papel mais importante de sua carreira recente, entretanto, foi o não tão renomado Bryan Mills, protagonista do filme Busca Implacável (“Taken”, no título original). O fodalhão agente da CIA aposentado foi o personagem central de um filme que chegou bem quietinho aos cinemas mas causou um frisson em sua desesperada busca pela filha, sequestrada por uma rede internacional de prostituição e tráfico humano. Até 2008, ano em que o filme foi lançado, Neeson nunca havia demonstrado tamanha aptidão para representar um astro de um thriller de ação como fez naquele filme. Foi uma grata surpresa.

    Protagonista de uma das frases mais empolgantes do cinema deste século, o ator chegou a ilustrar, também, um meme relativamente espalhado através da comunidade 9gagger do planeta (você talvez não saiba o que é o 9gag, mas certamente já viu alguma pérola de lá traduzida na sua timeline do facebook). A célebre citação figura entre uma das minhas preferidas do cinema dos últimos anos (dos últimos anos!):

    “I don’t know who you are. I don’t know what you want. If you are looking for ransom, I can tell you I don’t have money. But what I do have are a very particular set of skills; skills I have acquired over a very long career. Skills that make me a nightmare for people like you. If you let my daughter go now, that’ll be the end of it. I will not look for you, I will not pursue you. But if you don’t, I will look for you, I will find you, and I will kill you.”

    O filme foi um sucesso tão grande e inesperado ao redor do mundo, que obviamente não passaria sem uma continuação. Em 2012, chegou as salas de cinemas Busca Implacável 2.

    Na sequência do thriller de ação de 2008, Bryan Mills precisa enfrentar o pai de um dos homens que ele executou no primeiro filme e que trama uma vingança contra ele. Em busca de retaliação pela trilha de cadáveres que o ex-agente havia deixado no primeiro filme, o pai de Marko sequestra ele e a esposa. Enfrentando uma grande quantidade dos homens do albanês Murad, Mills precisa evitar que a filha seja também sequestrada e salvar a ex-esposa das garras do inescrupuloso pai colérico.

    O personagem de Neeson continua brilhante, sereno e estrategista, três das características que garantiram o sucesso do primeiro filme. Todo o restante do elenco, entretanto, começa mal e decai fortemente no decorrer da trama. A bela Maggie Grace (Emili Warnock no “horrível/terrível/não veja” Sequestro no Espaço) vive novamente a filha de Mills, que foi sequestrada no primeiro filme e que parece ter superado bem o trauma gerado pelos efeitos de seu violento sequestro. Famke Janssen (a Jean Grey da trilogia X-men) interpreta a ex-exposa do agente Mills mas não convence, como não havia convencido na primeira vez que interpretou a personagem.

    O ritmo do filme segue mais ou menos a pegada do primeiro, mas desta vez ele demora um pouquinho mais para acelerar. Dividindo um pouco genericamente, eu diria que enquanto Taken demora uns 20% do tempo para acelerar, Taken 2 leva 50% do tempo na tela para ganhar ritmo e tornar-se propriamente um filme de ação. Mesmo quando entramos na parte mais porradeira do filme, ainda, ele perde em adrenalina para a primeira obra, o que prejudica um pouco a avaliação geral do filme.

    O roteiro das duas produções é, também, bastante distinto. Enquanto a primeira filmagem ocupa-se unicamente em mostrar o personagem principal em sua “Busca Implacável”  (sacou, sacou?!) pela filha, o segundo mostra um Bryan Mills não tão infalível e que envolve, vejam só, a própria filha em sua escapada do cativeiro. Há, sim, alguns momentos muito interessantes que mostram o quanto o agente é um gênio e como consegue reagir inacreditavelmente diante situações de crise, mas a trama se sairia muito melhor com o personagem salvando o dia sozinho novamente.

    Existem situações pontuais da trama que mostram uma certa incoerência com a construção do personagem principal feita no primeiro filme, e estas questões fazem deste um filme muito abaixo do primeiro. Isso sem falar das falhas grosseiras como, por exemplo, o agente disparar sua pistola uma quantidade impossível de vezes com o mesmo cartucho de projéteis. Há uma ceninha de luta desarmada no final que também é totalmente desnecessária e fora do comportamento padrão deste que foi um dos personagens originais mais impressionantes que vi nos últimos anos.

    A sequência de Busca Implacável só está nas salas hoje graças ao sucesso inesperado do primeiro filme e por isso não acho descabida a óbvia comparação com o primeiro título. Maggie Grace trabalha melhor no primeiro filme, quando é apenas uma vítima dos acontecimentos que precisa ser salva pelo personagem principal. Em alguns momentos da trama, ela chega a trabalhar como uma parceira do pai em sequências que, apesar de serem até bem filmadas pelo diretor Olivier Megaton, desviam-se bastante do que emplacou o sucesso do primeiro filme.

    Não é a primeira vez que Megaton (que tem o pseudônimo mais sem sentido que eu já vi na vida, seu nome de batismo é Olivier Fontana) recebe uma continuação forçada pela indústria para dirigir. Ele é o diretor do fraco Carga Explosiva 3, e já deveria ter aprendido a lição. Hollywood precisa aprender a deixar seus sucessos em paz. Infelizmente, ao que tudo indica, a continuação de Busca Implacável virá até as telonas, mas já não posso mais afirmar com tanta certeza que irei conferi-la no cinema.