Tag: Peter Falk

  • Crítica |  Os Maridos

    Crítica | Os Maridos

    Os Maridos é um libelo do cinema da Nova Hollywood, de John Cassavetes. Antes da mostrar o presente dos personagens, aparece uma gravação antiga com quatro amigos meia-idade, que se exibem a beira de uma piscina, bêbados, escondem barriga, fazem pose, mas não conseguem disfarçar uma certa decadência.

    São homens comuns, inseguros com sua aparência e brincalhões com os sinais de envelhecimento. Pouco tempo depois, os personagens estão em um funeral de um deles.

    A cerimônia de despedida se dá em absoluto silêncio, emulando o inesperado dessa perda. A morte do amigo reúne os três outros, em meio a uma sensação de depressão e trauma por conta da perda. Em crise, os três, personagens de Ben Gazzara, Peter Falk e Cassavetes se embebedam, jogam basquete como quando eram mais novos, e decidem viajar para fora do país sem suas famílias.

    O filme tem um espírito semelhante ao de Os Boas Vidas, filme de Federico Fellini de 1953, repleto de atitudes inconsequentes para personagens dessa idade. A percepção da perda de alguém especial faz fortalecer a sensação óbvia de que a vida é finita, e gera neles a necessidade de reviver seus melhores momentos, e em meio as noites de farras, eles pregam peças, agem como adolescentes, fazem traquinagens e demais situações típicas de jovens inconsequentes.

    Em meio a essa loucura, eles vão a uma quadra jogar basquete, a conveniência de um cenário fechado não serve só para fugirem do frio, mas também brinca com signos visuais, como quando a câmera corta a parte superior do lugar, deixando de fora do enquadro a cesta, simbolizando então a dificuldade que os personagens têm em enxergar seus próprios objetivos, vivendo então pelo mero acaso. Nem sequer a trajetória da bola tem registro visual, mesmo que o objetivo do jogo seja pontuar no aro, e em última análise, não importa a pontuação, nem plasticidade, um dos personagens inclusive diz que não quer jogar porque o esforço deles não tem recompensa, se demora muito a ter resultado dada a duração das partidas. Para o espectador nem o êxtase da bola ao cesto é dado. Na fala de um deles se nota o porquê de jogar basquete: eles precisavam suar, trocar o óleo sujo de suas vidas, transpirar todo álcool que beberam antes. O esporte é parte da catarse e da busca por essa nova identidade, mas obviamente a questão esportiva é subalterna, faz parte da busca por encontrar sentido em suas vidas vazias.

    Os Maridos resume bem como é a vida e rotina do homem comum, que não sabe exatamente quem é e que não consegue se encaixar no pensamento tradicional e conservador. Em meio a trajetória errática, bizarra e sem futuro,  os personagens demonstram o apreço pelos seus. Os padrões deste “novo” homem comum são egoístas o suficiente para externar as falhas de caráter expostas, e o filme não possui pudor em mostrar essas falhas humanas, resultando então em um bom retrato da vida suburbana do sujeito obediente ao modo de vida americano.

  • Crítica | Crime Desorganizado (Made)

    Crítica | Crime Desorganizado (Made)

    É impossível começar a ver Crime Desorganizado e não lembrar do filme anterior da dupla de protagonistas, Jon Favreau e Vince Vaughn em Swingers– Curtindo a Noite, seja cena imediatamente após a abertura, que conta com uma montagem musical guiada por um clássico de Frank Sinatra. Aqui, o diretor e roteirista Favreau vive Bobby Ricigliano, e Vaughn é Ricky Slade, dois trambiqueiros, que são unidos por um laço de amizade e que ganham seu sustento num serviço de obras que simplesmente odeiam, por conta das constantes humilhações que sofrem.

    A outra parte do sustento de ambos vem de trambiques, ou do trabalho da mulher de Bobby, a bela Jessica (Famke Janssen), que trabalha como stripper, e ganha uns trocados fazendo lap dance, fato que bate de frente com a personalidade esquentadinha de seu marido, pois ele é ciumento e não suporta que os clientes toquem nela. A cena que mostra isso é engraçada, pois o expõe um fato óbvo, a mulher  certamente  se safaria sozinha, mas é atrapalhada e agravada a situação exatamente por sua cena patética de ciúmes. O roteiro que Favreau escreve tenta já no início mostrar que Bobby e Ricky não são os personagens de Swingers, mesmo com todas as semelhanças visuais e com a repetição do elenco.

    Bobby recebe uma ordem de seu superior, o empregador que o coloca nos trabalhos de construção civil, Max (Peter Falk), um sujeito poderoso, orgulhoso e que dá as missões que quer para quem lhe presta serviço. Ele pede ao protagonista para ir a Nova York fazer um serviço e ele não quer ir por conta de sua esposa e da filha dele, mas acaba aceitando quando vê a possibilidade de com o dinheiro do trabalho, começar um novo estilo de vida, onde o dinheiro das danças da esposa não são necessários.

    Crime Desorganizado é bem mais engraçado que Swingers, a demonstração do quanto a dupla é inábil, inútil e nada moldada para o crime é engraçada, assim como a tentativa dos dois de viver sobre uma normalidade. Há duas cenas que registram bem como os dois são péssimos no que fazem, a primeira é numa loja de cerâmica, onde Ricky fuma diante de uma criança, fala um monte de besteiras, como se estivesse em um bar quando o cenário é o extremo oposto disso, e a outra é quando ambos brigam ao esperar um contato, que vem a ser uma gangue de motoqueiros, depois de passar vergonha em uma briga que parece a de dois moleques, eles tem de ir de carona agarrados a cintura.

    Por mais cru e imaturo que o roteiro pareça – e sim, tem muitas fragilidades – se nota uma franca evolução por parte de Favreau, e sua direção é bem mais econômica e menos forçada que a de Liman por exemplo. Seu filme é claramente menos pretensioso que Swingers, mostra uma historia cotidiana, de um grupo de bandidos fracassados, não tratando os personagens como se fossem super preciosos, ou dignos de qualquer admiração, ao mesmo tempo que eles tem muita humanidade em cada um de  seus pequenos e grandes atos.

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