Tag: John Travolta

  • Crítica | A Rosa Venenosa

    Crítica | A Rosa Venenosa

    Filme de George Gallo, A Rosa Venenosa reúne elementos de um noir moderno ambientado no ano de 1978, apresentando seu protagonista Carson Phillips como um homem de muitos vícios e afeito a luxúrias. O personagem de John Travolta, um investigador particular de Los Angeles, se vê obrigado por um caso a mergulhar em um antigo problema pessoal que logo desemboca em uma trama de assassinatos e eventos estranhos.

    O filme reúne vários dos clichês do noir, protagonista mal encarado, anti-herói e sem perspectivas, que se vê abordado por uma mulher atraente pedindo um favor ao detetive, tudo isso situado em cenários sujos e uma missão envolvendo mágoas do passado repleta de ambiguidades.

    A tentativa de fortalecer a aura de suspense esbarra na falta de sutileza do filme. Gallo apresenta as curvas de suspense de maneira brusca. As atuações não ajudam, ainda que o maior problema claramente seja textual e não dramatúrgico. Os personagens são bidimensionais, fora Carson, o que se agrava pelo fato do elenco reunir nomes como Morgan Freeman, Robert Patrick, Famke Janssen, Brendan Fraser, Peter Stormare etc.

    As cenas de ação são genéricas e os vilões histriônicos, caricatos e nada convincentes. A persona do médico mau que Fraser faz parece uma paródia de vilão de filmes do 007, tom esse que não tem nada haver com o restante da atmosfera de A Rosa Venenosa. A ideia e intenção do filme é ótima, mas a execução é bastante problemática, falta estofo à realização tanto na direção quanto em roteiro, resultando em última análise em mais um filme com elementos do gênero policial que permeiam o horário sabatino do Super Cine na Rede Globo.

  • Crítica | O Justiceiro (2004)

    Crítica | O Justiceiro (2004)

    Jonathan Hensleigh tinha uma carreira solidificada como roteirista, seus trabalhos começaram na série o Jovem Indiana Jones, passando por filmes de ação relevantes, como Duro de Matar: A Vingança, O Santo, o escapista Jumanji e até Armageddon. Em 2004, coube a ele a direção que tentaria traduzir um dos ícones da Marvel para a nova fase de filmes de super heróis que viria.

    Parte das reclamações gerais em relação a esse filme incorrem na escolha de Thomas Jane (que na época assinava como ‘Tom Jane’) como intérprete de Frank Castle. No entanto, esse é o menor dos problemas do filme, já que o roteiro de Hensleigh e Michael France tropeça em eventos básicos. Castle é um policial comum, especialista em disfarces e que não guarda qualquer passado sombrio. Aliás, o sombrio passa longe desse filme, já que os cenários  e ambientação ocorrem numa ensolarada Miami, diferente demais da Nova York soturna onde se passam as histórias clássicas do vigilante criado por John Romita, Ross Andru e Gerry Conway. Do mesmo modo, não há passado como ex-combatente, tampouco força emocional na cena em que a família de Castle é assassinada.

    Após o massacre, Frank decide pôr em prática seu plano de vingança, mas toda a construção em volta de seus parcos inimigos soa quase infantil de tão mal construída. Até há uma tentativa de explorar um plano de fundo mais profundo para os opositores, como a homossexualidade não assumida do capanga Quentin Glass (Will Patton) ou a insegurança do chefão da máfia, Howard Saint (John Travolta). Os bons conceitos ao invés de serem desenvolvidos, são apenas sugeridos.

    Jane se sentiu tão injustiçado por ser encarado como culpado que mais de dez anos depois, tentou se reemplacar no personagem com Dirty Laundry, um curta violento e mal acabado que mesmo em seu caráter paupérrimo tinha mais de Justiceiro do que esse filme analisado. A realidade é que esta versão de vigilante tenta atirar para todos os lados, sem acertar ninguém. As falhas de sua concepção se assemelham demais a outros primos da época, como Demolidor: O Homem Sem Medo e Elektra, sendo esse talvez o mais equivocado dos três, já que mal parece um filme baseado em quadrinhos  e sim um exemplar genérico do cinema de ação que ia direto pro mercado de homevideo.

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  • Crítica | Carrie, a Estranha (1976)

    Crítica | Carrie, a Estranha (1976)

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    No clássico de Brian de Palma, o terror de Stephen King se inicia a partir da sexualidade efervescente típica da adolescência. A cena do banho que Sissy Spacek sofre mostram as curvas do corpo feminino movendo-se para uma direção de absoluta naturalidade, expondo-se a um evento comum como a menstruação, mas demonizado por sua personagem e pelo entorno familiar da mesma. Carrie A Estranha é um filme sobre violência, emocional e psicológica, movida contra uma garota que tem um comportamento inofensivo e vitimável, e que esconde em si um poder destrutivo escondido no recôndito de sua alma perturbada.

    A personificação de Carrie revela uma menina aterrorizada, oprimida por sua matriarca,  Margaret White (Piper Laurie), e maltratada pelas outras crianças, com alcunhas maldosas, apelando para a esquisitice de seus modos. Não demora a ser demonstrada a criação rígida que a menina recebe, através de uma religião extrema e recalcante de sua mãe, o que determina o motivo de seu backrground já se iniciar tão negativo.

    É curioso como em inúmeras cenas em que Carrie é enquadrada sozinha há uma aura avermelhada envolvendo a personagem, emulando a malignidade que lhe é conferida pelos olhares alheios. As cenas dela com sua mãe ocorrem quase sempre no escuro, nas trevas do desconhecimento e alienação, causando na adolescente um temor terrível, o receio de se relacionar com qualquer ser humano, já que toda e qualquer ação é encarada como pecaminosa e imunda, por sua mãe.

    A opressão que Carrie sofre encontra até paralelos atuais, já que grande parte dos fanáticos religiosos ainda buscam o completo isolamento ideológico e comportamental, especialmente quando seus dogmas e ideais são muito questionáveis. A razão dos poderes paranormais de Carrie ocorrerem não são explicitados em tela, até para manter o clima de mistério. Todas as manifestações destas “habilidades” são mostrados em momentos de extrema tensão da moça, pontuados pela música grave de Pino Donaggio, que aumenta e muito o suspense, medo e claro sensação de humilhação pelo qual passa a protagonista.

    A crueldade e intolerância típica do homem se manifesta de maneira ainda mais agressiva no período da puberdade, onde os padrões de politicamente correta ainda não se estabeleceram por completo. O tratamento hostil que a personagem recebe é retribuído ao modo que lhe cabe, impingindo os mesmos medos e horrores que couberam a antiga vítima. Carrie A Estranha só tem cenas de terror próximo do final, onde os que causaram mal a protagonista, sofrem a ira de uma inocente inviolada, que só buscava para si a aprovação de quem a rejeitava gratuitamente.

    O destino de Chris Hargensen (Nancy Allen) e seu namorado Billy (John Travolta) é ainda mais sombrio e particularmente violento, sofrendo o ataque direto da menina que não queria nada, além de ser considerada normal. Cada golpe psíquico que Carrie desfere, envolve um acorde agudo na música,mostrando que mesmo ao atacar seus “adversários”, há uma dor intrínseca terrível, causada pela repressão de sentimentos proveniente de sua mãe que do alto de sua hipocrisia, impede a si e aos outros de dar vazão aos prazeres mais básicos da humanidade. O epílogo mostra o quão temor do trauma após um choque, dessa vez enfocando em um dos agressores primários, invertendo a ordem de predação, além de aventar um final em nada otimista tão triste e trágico quanto a existência de Carrie em si.

  • Review | American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson – 1ª Temporada

    Review | American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson – 1ª Temporada

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    Na esteira do sucesso em forma de antologia de American Horror Story – também produzida por Ryan Murphy – e levando em consideração fatos marcantes da recente historiografia dos Estados Unidos, a primeira temporada de American Crime Story: O Povo Contra O.J. Simpson remonta a história de O J Simpson, com atuação há muito não vista nas performances de Cuba Gooding Jr.. A fotografia emula bons momentos do cinema, com a escuridão predominando no piloto, prevendo os defeitos de caráter dos personagens, e argumento que se desenvolve vagarosamente, cauteloso como os best-sellers policiais noir.

    Os dois showrunners tem uma curiosa carreira, trabalhando como produtores e/ou roteiristas de  Ed Wood, Grandes Olhos, Goosebumps e do conto de Stephen King para o cinema em 1408. Scott Alexander e Larry Karaszewski, apesar de ecléticos nos temas que abordam, sempre tiveram em comum nos seus trabalhos uma predileção pelo mistério, e o modo como escolheram contar sua história não poderia ser mais acertado, ao menos em patamares televisivos.

    Há uma influência clara de True Detective no seriado, especialmente por exibir personagens de caráter plenamente discutível, e não julgá-los como vilões maniqueístas bobos. Mesmo a controversa figura de O.J. é registrada sob um prisma que garante uma enorme ambiguidade à questão. Os episódios iniciais tomam o cuidado de não fazer um juízo de valor barato, apresentando os argumentos a favor do atleta e também aqueles contra ele. O elenco é formado por artistas consagrados, como John Travolta fazendo Robert Shapiro, o advogado de litígio, e David Schwimmer como Robert Kardashian, com personificações bem semelhantes e reais.

    Mesmo com alguma semelhanças entre O Povo Contra O.J e a série de Pizzolato/Fukunaga, não há muito como comparar o clima de ambas, já que a iluminação e arte são bem diferentes, assim como Louisiana é o avesso da ensolarada Califórnia. O modo de contar o drama é mais comum e formulaico, ainda que seja quase tão inspirado quanto a série da HBO. Os detalhes históricos são belamente conduzidos, beirando a perfeição em sua força dramatúrgica e nos rumos tomados a partir da fuga de O.J., da amplificação da questão de sua cor e do argumento utilizado para desviar de si as acusações.

    Gooding Jr. trabalha muito bem as nuances éticas e sentimentais de seu personagem, apresentando as muitas facetas do mesmo homem, desde quando ele fingia nada ter feito, até a depressão que o tomou e o fez tentar se matar e depois fugir. Sua performance é muito boa, apesar de a trajetória de protagonismo não ser exclusivamente sua, uma vez que ele tem de dividir tela também com a equipe que tenta incriminá-lo, liderada por Marcia Clark (Sarah Paulson), e formada por Gil Garcetti (Bruce Greenwood), Bill Hodgman (Christian Clemenson) e Christopher Darden (Sterling K. Brown). É em Juice que os arroubos emocionais são mais frequentes e é de seu intérprete que é exigido mais, sem dúvida alguma. A questão ética e moral que envolve Simpson é delicada e mexe com os ânimos da comunidade até os dias de hoje, passadas mais de duas décadas.

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    A direção dos episódios normalmente é bastante tímida, ao menos após o piloto, comandado por Murphy. A maioria dos episódios é conduzida pelo experiente Anthony Hemingway. No entanto o capítulo que mais foge do escopo normalista é o quinto, Race Card, conduzido por John Singleton, o qual explora em essência o personagem de John Cochrane (Courtney B. Vance), advogado negro especializado em crimes de raça. Apesar de demonstrar uma realidade do apartheid nos Estados Unidos, as cenas em que seu personagem é enquadrado são muito didáticas. Neste segmento, todos os holofotes estão sobre o jurista, de modo justo obviamente. Bastante sensacionalista e simplista, o enfoque resulta em um covardia bastante caricata, mas, ainda assim, guardando grandes semelhanças com a apelação jurídica do caso.

    As partes vividas no tribunal usam de estilos diversos, desde edições modernas, com closes rápidos nos interrogados, até cenas bastante emotivas, dentro e fora do certame jurídico. Por ser este um caso público que envolve uma celebridade, a imprensa é cruel com os envolvidos, o que por si só já demonstra as facetas do circo midiático que se instalou, bem como o estado caótico da cidade.

    O programa sofre com problemas graves de ritmo ao se aproximar do último capítulo, mas ganha em emoção nas cenas do tribunal e na exploração dos graves acontecimentos que ocorrem com os envolvidos diretamente no caso. O desenrolar da relação de Darden e Clark reúne alguns momentos piegas e desnecessários, que, no entanto, ajudam a humanizar a trama, mostrando o que realmente importa dentro de toda a discussão, que é a humanidade e suas necessidades, torcendo até mesmo a realidade em prol dessas falhas de julgamento de valor, além de explorar o mal que alguns enfoques midiáticos podem fazer ao ser humano.

    O veredito é óbvio, e todos os dez episódios de O Povo Contra O.J. Simpson foram executados para tentar mostrar mais detalhes da história que primeiramente chocou um país, além de ter se valido de brechas no sistema para ludibriar a culpa factual que cabia a Juice. As nuances de comportamento registrados por Gooding Júnior são mais uma vez exigidas, tanto no alívio que ele tem ao sair da prisão e finalmente poder banhar-se em casa, no conforto de seu lar, quanto na rejeição que sente por seus antigos amigos, que sequer compareceram a sua festa, uma vez que não acreditavam nem nos rumos legais e nem em sua inocência contestada.

    Ao final desta primeira temporada de American Crime Story, são mostradas as pessoas envolvidas na história ao lado de seus intérpretes e a tradicional descrição do destino de cada uma delas, alertando ao público da necessidade de se denunciarem os abusos domésticos, independente do entorno, fazendo do programa a acusação maior contra a fragilidade dos conceitos que compõem a opinião pública do povo e do júri residente nos Estados Unidos da América, que conseguem favorecer até criminosos recorrentes. A qualidade desses últimos momentos faz o espectador se esquecer, inclusive, dos problemas de ritmo. Caso tivesse menos episódios, a série seria muito mais fluida, mas o resultado é um bom início para as antologias criminalistas de Ryan Murphy.

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  • Crítica | Temporada de Caça

    Crítica | Temporada de Caça

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    Um grande drama para um ator veterano é conseguir trabalhos quando a velhice se aproxima e a beleza vai rareando. As possibilidade de papel tendem a ficar escassas, fazendo muitos artistas entrarem para o filão dos filmes de ação, especialmente quando estes já protagonizaram tais fitas. Longe de ser um brucutu indiscutível, John Travolta teve seus bons (A Filha do GeneralA Outra Face) e maus (A Reconquista) momentos dentro do gênero e faz Emil Kovac, um ex-agente sérvio em busca de vingança  praticamente invertendo a máxima de Dupla Implacável, filme no qual era um americano em terras estrangeiras, para ser um europeu nos Apalaches.

    A outra ponta do certame é o ex-militar de nome sugestivo Benjamin Ford, interpretado por Robert De Niro, que, perto de seu companheiro, atua de forma sóbria. O forçado sotaque de Travolta remete às muitas nuances de Tony Ramos ao interpretar gringos em folhetins globais, além de exercer uma faceta muito soturna, sempre lançando mão de capuzes e capas para amedrontar quem puder. Os dois opositores são inversamente proporcionais, pois Kovac é frio e só pensa em ação, enquanto Ford é passional, além de esconder um pequeno drama familiar ligado a sua ausência como pai. No entanto, nem o seu treinamento prévio o faz ficar desconfiado ou estranhar a aproximação de um estrangeiro suspeito.

    São levados à tela, o tempo todo, signos que remetem à caça, já que havia uma temporada aberta e um estava caçando o outro. Kovac, com todo o seu comportamento invasivo, faz  uma entrevista com seu inimigo, e eles ficam se curtindo em um enorme diálogo, encarando-se mutuamente, como se algo especial fosse acontecer, ainda que qualquer possibilidade de suspense seja cortada pela clara inabilidade do diretor Mark Steven Johnson em criar tal aura; ao invés disso, mergulha-se no drama familiar de Benjamin. Este seria um filme de atores que se apoiaria no talento de Travolta e De Niro, mas o roteiro não colabora para tal.

    A fita até parece ir por um lado pouco usual, talvez até emotivo, mas tal tentativa é cortada pela ação que finalmente acontece em uma perseguição pela floresta. As escolhas de Johnson são corajosas, uma vez que ele não esconde o seu monstro, e aproxima-o do alvo, quebrando um paradigma que geralmente é respeitado. Mas fora isso, a sequência possui muitos problemas. O assassino balcânico mostra uma superioridade sobre o já combalido americano, que se vê em uma posição de frágil presa, desconstruindo o arquétipo de macho alfa que o ator costuma fazer. Há poucos momentos em que ele se recorda dos bons tempos, e mesmo quando estes parecem empolgar, são cortados por cenas sem alma ou conteúdo. O desmotivado soldado aposentado chega a fazer às vezes de Rambo e MacGyver, pondo para fora o seu instinto de sobrevivência, buscando forças internas para estar disposto para o duelo com Kovac.

    Há uma tentativa honesta e bem intencionada de mostrar uma história triste, de genocídio e irresponsabilidade por parte dos americanos, mas o que deveria ser tocante fica risível graças à completa falta de sutileza na abordagem da história. Kovac varia de personalidade, algumas vezes mostrando uma honradez irretocável, e em outras sendo um simples sociopata capaz de ameaçar até mesmo a família de seu inimigo, igualando-se àqueles que tanto criticou.

    O quadro político desenhado nos discursos de Ford é ruim, tão mal feitos quanto à sua tortura estúpida e à calvície mal coberta de Travolta. Mesmo os momentos em que se esperam apenas boas sequências de ação descompromissada, o gozo é cortado com cenas mal pensadas, executadas de modo vergonhoso para os atores. O filme todo é um enorme exercício de vergonha alheia, para os que têm uma carreira interessante, e de repetição para a já malfadada trajetória do realizador. O jogo de gato e rato tenta equilibrar o duelo, mas não o faz de modo interessante. O final é doce, ao contrário do resto do filme, mas é tão mal construído que faz sentido dentro da proposta apresentada nos longos 80 minutos de extensão da fita.